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# Capítulo 1 - Bem-vindo ao Silêncio
A poeira levantava sob as rodas do carro enquanto Draco seguia pela estrada estreita que cortava os campos secos. O rádio estava desligado há horas, e o silêncio no carro começava a incomodar. Era raro para ele ficar em silêncio. Draco sempre foi falante, alguém que puxava conversa com desconhecidos na fila do mercado ou comentava sobre o tempo com o entregador. Mas naquela estrada deserta, ele só conseguia pensar em como a nova cidade parecia... vazia.
A mudança para **StarHills**, uma cidade remota no interior, tinha sido por necessidade. Após anos em meio ao caos das grandes metrópoles, Draco queria paz. A casa que comprara fora uma barganha, espaçosa, mas isolada. As vizinhas mais próximas ficavam a centenas de metros, e o centro da cidade era um aglomerado de prédios baixos e decadentes. A primeira impressão, ao chegar, não foi exatamente animadora, mas ele sabia que precisava dar uma chance. Era isso ou enlouquecer em sua antiga rotina.
Depois de horas na estrada, Draco finalmente estacionou em frente à sua nova casa. A construção era modesta, pintada com uma cor neutra já desgastada pelo tempo. Não era luxuosa, mas era sua. Enquanto descarregava as caixas do carro, notou um homem parado ao lado da cerca que dividia os terrenos. Ele parecia estar observando, imóvel, quase como uma estátua.
— Ei! — Draco chamou, com um sorriso. — Vizinho?
O homem se aproximou devagar. Era mais velho, tinha um braço mecânico que refletia o sol da tarde. Sua expressão era impassível, mas não hostil.
— Stu. Moro na casa ao lado. — A voz dele era rouca e econômica, como se economizasse palavras. — Precisar de algo, só chamar.
Draco riu, tentando quebrar a rigidez.
— Ótimo! Meu nome é Draco. Vou precisar de umas dicas sobre a cidade... ou talvez uma dose de café.
Stu não respondeu imediatamente, apenas olhou por cima do ombro na direção de sua casa.
— Cuidado à noite. Aqui fica bem... quieto.
Antes que Draco pudesse perguntar o que ele queria dizer com aquilo, Stu se virou e foi embora. Intrigado, Draco continuou descarregando suas coisas, pensando que talvez o vizinho fosse apenas reservado.
Nos dias seguintes, Draco tentou explorar a região. A cidade era pequena, com ruas pouco movimentadas e lojas que pareciam ter parado no tempo. Ele conheceu alguns moradores no mercado, mas as conversas eram breves, quase como se as pessoas evitassem criar laços. Aquilo o deixou desconfortável. Ele, que sempre foi sociável, sentia uma barreira invisível que o isolava.
Em uma dessas saídas, viu Stu novamente, desta vez com suas duas filhas, duas garotas de aparência peculiar que costumavam brincar no quintal à noite. As meninas pareciam alheias ao peso da atmosfera da cidade, rindo e correndo no gramado enquanto o sol se punha.
Stu o cumprimentou com um aceno breve.
— Como está se adaptando?
— É... tranquilo demais para o meu gosto — respondeu Draco, rindo sem graça. — A cidade sempre foi assim?
Stu hesitou por um momento.
— Sempre foi diferente. Principalmente depois do calor.
Draco não entendeu bem a referência, mas não teve coragem de perguntar. Stu parecia sempre medir suas palavras.
Na sexta-feira daquela semana, tudo mudou. Draco estava terminando de organizar os móveis quando o som estridente de uma sirene ecoou pela vizinhança. Ele correu para a varanda e viu uma luz vermelha piscando no céu distante, perto da prefeitura da cidade. Um alerta de emergência.
Ligou a TV, onde um jornalista falava com uma urgência fria:
> "Autoridades pedem que todos permaneçam em casa. O calor extremo está provocando incêndios espontâneos em algumas regiões. Além disso, há relatos de... comportamentos anômalos em indivíduos. Não abram suas portas para estranhos, mesmo que pareçam necessitados."
Draco desligou a TV, tentando processar a informação. Ele olhou pela janela e viu Stu parado em frente à cerca, observando sua casa.
— Você ouviu? — Draco gritou, saindo pela porta.
— Ouvi. Vai ser difícil daqui pra frente.
Stu deu alguns passos em direção a Draco, o rosto sombrio.
— Não importa o que ouça, o que veja, não abra a porta. Nem todo mundo que parece humano... é.
Draco sentiu o estômago afundar.
— Do que você está falando?
Stu não respondeu. Ele apenas virou e voltou para sua casa, trancando a porta.
A primeira noite da quarentena foi sufocante. Draco olhava pela janela, o mundo do lado de fora parecia quieto demais. As temperaturas haviam despencado, e o silêncio absoluto era perturbador. Ele tentou distrair a mente ligando o rádio, mas tudo o que encontrou foram ruídos estáticos. Sentiu-se mais sozinho do que nunca, perdido em uma casa desconhecida, em um lugar que parecia cada vez mais hostil.
À meia-noite, ouviu algo. Um som de passos na varanda. Ele congelou, o coração batendo descontroladamente. Olhou pela janela lateral e viu uma figura, alta e magra, parada diante da porta. Parecia um homem comum, mas havia algo de errado em seus movimentos, como se estivesse se ajustando, aprendendo a andar.
A figura bateu na porta.
— Por favor... Me deixe entrar. Está muito frio.
A voz era grave, mas tinha um tom vazio, quase mecânico. Draco ficou paralisado, lembrando do aviso de Stu.
A batida ficou mais insistente, o som ecoando pela casa. Draco se afastou, respirando pesado, enquanto a voz do lado de fora continuava.
— Só um minuto... Está muito frio aqui fora.
Draco se jogou no sofá, abraçando os joelhos, rezando para que a figura fosse embora. Depois de alguns minutos, o som cessou. Quando criou coragem para olhar pela janela, a varanda estava vazia.
Naquela noite, Draco não conseguiu dormir.
Os dias em Starhills haviam começado de forma tranquila, mas agora ele sentia que algo muito errado estava acontecendo. Não era apenas o calor mortal ou o isolamento. Algo mais profundo, mais obscuro, pairava sobre a cidade.
E Draco sabia que aquilo era só o começo.

Merliny_Swtzet on Chapter 1 Sun 05 Jan 2025 04:47AM UTC
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sanrioboy_jay on Chapter 1 Mon 06 Jan 2025 01:23AM UTC
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henriettaa (Guest) on Chapter 1 Sat 11 Jan 2025 05:36AM UTC
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sanrioboy_jay on Chapter 1 Sun 12 Jan 2025 12:45AM UTC
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NatNat_the_CatCat on Chapter 1 Sat 14 Jun 2025 11:15AM UTC
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