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Quando Ela Me Deixou

Summary:

Mickey do futuro conta a história de como ele perdeu a ex pra um alienígena viajante espaço-temporal no que parece ser um desabafo. Alguns ressentimentos se revelam.

Notes:

(See the end of the work for notes.)

Work Text:

Eu me lembro de quando ela me deixou. Eu estava apavorado, esperava sentir o alívio pela minha vida estar a salvo. Num ato ainda de desespero, por conforto, me joguei aos pés dela, abraçado, tentando me acalmar do que seria o primeiro dia agitado de uma fase da minha vida que se estendeu por muito tempo.

Tive muito tempo para pensar sobre o que aconteceu naquela noite, e em todas as outras que se seguiram depois. Porém foi ali onde tudo começou, quando a minha namorada na época – Rose o nome dela – levou três segundos para me abandonar no chão rua, sentando, sozinho. Eu literalmente estava aos seus pés tremendo de medo, logo após dizer que tinha que cuidar ''desse idiota'' (no caso, eu). Ela só levou três segundos para mudar de ideia e ir na direção de um homem estranho, e... simplesmente desapareceu. Assim. Sem mais nem menos.

Não se deu sequer ao trabalho de me explicar nada antes, falou nada, fez nada. Ela apenas foi correndo na direção do primeiro cara que ofereceu uma viagem a ela. E...

Sumiu no ar.

Mas essa não é a história completa, e nem é sobre ela. Não dessa vez. É sobre tudo que aconteceu depois.

Eu me lembro de quando vi uma nave alienígena pela primeira vez. E do alien que veio junto com ela. Ela não parecia com uma nave e nem ele um alienígena. O que fez tudo ser ainda mais difícil de entender o que tinha acontecido naquela noite. A nave se parecia com uma daquelas cabines policiais antigas, e o alienígena era parecido com um ser humano na casa dos trinta anos. Tudo que precisou foi ele dizer algo sobre a nave viajar no tempo ou sei lá.

Foi assim que vi minha ex sumir por um ano, e eu tinha sido o último a estar na presença dela.

Sem testemunhas, além do tal alienígena que sumiu junto com ela.

Já pode imaginar como ficou a minha vida depois disso, né?

Depois que a nave foi embora, eu fiquei uns minutos sentado no chão, sem saber o que fazer, ainda me recuperando do choque que tinha sido ser devorado por uma lata de lixo e passar horas preso ali dentro. Uma lata de lixo tentou me matar e fizeram uma cópia de plástico de mim que tomou o meu lugar nesse meio-tempo. Quando consegui sair, sabe deus como, eu vi Rose me deixar e desaparecer bem diante dos meus olhos.
E não consegui fazer nada. Não consegui reagir.

Só fiquei parado no escuro a vendo sair da minha vida como se fosse nada.

Algumas horas mais tarde, voltei pra casa ainda tentando digerir o que tinha acontecido naquele dia, cansado. Foi quando a mãe da minha ex me ligou perguntando por ela, depois do dia completamente insano que a gente passou, com manequins assassinando gente na rua como se fosse nada e Jackie – o nome dela – tinha visto tudo de perto, achei que contar a verdade sobre o que tinha acontecido com a filha dela seria a coisa menos estranha do dia. Porém a mais assustadora de todas, por isso, não contei.

Em vez disso, resolvi esperar.

Como ela não deu sinal no dia seguinte, nós acionamos a polícia. Três dias depois, estava claro que ela estava desaparecida.

O celular dela dava fora de área, as mensagens de texto não chegavam.

Continuei esperando.

Não importava o quanto a polícia procurasse, eles não conseguiam achar pistas do paradeiro dela. Enquanto via Jackie adoecer de desespero temendo o pior, também sentindo o peso de ter sido o último a vê-la e não ter conseguido a impedir, perguntar, ir atrás... Qualquer coisa mesmo, também tive que aguentar a polícia passando a me considerar como principal suspeito pelo sumiço de Rose. Na época, não entendi bem o significado deles terem ido justamente em mim, o cara negro namorando uma branca platinada, isso só fui descobrir anos depois. Na verdade, eles já tinham decidido que eu tinha assassinado ela.

Continuei esperando.

Nós ficamos nisso por um ano até que um dia, ela simplesmente voltou, do mesmo jeito que tinha desaparecido: entrou por uma porta como se fosse nada. Depois de cinco interrogatórios e uma jackie já acreditando na minha culpa, ela voltou.

Rose não voltou sozinha, voltou naquele dia em que supostamente os humanos estariam fazendo o primeiro contado oficial com alienígenas. Ela veio em grande estilo, é claro.

Mas isso eu só fui descobrir de noite, bem por acaso quando vi pela varanda do apartamento que morava na época, o tal do cara andando pela rua, entrar na nave dele e sumir. Ele estava sozinho. E foi assim que eu descobri que ela tinha voltado.

Fui correndo pra casa de Jackie, obviamente. E foi aquela confusão toda, por mais que eu tivesse passado por um dos piores anos da minha vida, por mais que tivesse passado um ano inteiro esperando por ela... Na hora do reencontro, a única coisa que eu senti ao voltar a ver aquele rosto foi raiva, debochei chamando ela e o cara de namorados. Ih, a situação foi realmente uma doideira só. Lembro que numa dessas vezes que chamei o alienígena de ''namorado'' dela, ela disse que ele era ''algo mais importante do que isso''.

Falando assim, até parece que ainda guardo rancor dela e da situação toda, mas é que esse é o tipo de coisa que só percebi mesmo o absurdo, muito tempo depois, e falar isso tudo em voz alta ainda é estranho pra mim.

Enfim, perguntei se ela iria ficar, mesmo sabendo a resposta, eu queria estar errado, sabe? Todos aqueles pensamentos auto sabotadores que produzi durante o último ano tinham que estar errados. Porque se meus pensamentos e dos outros não estivessem errados, o erro seria eu. Eu que seria o errado, eu que teria sido o insuficiente, o menos. Um cachorro de lata, como alguém disse uma vez. Então, eu tive que perguntar. E ela...? Ela nem conseguiu responder. Ela mal sustentou o olhar. Assim que a confusão alienígena acabasse, ela iria embora e partiria pra próxima, e pra próxima.

Eu continuei esperando.

Depois daquele dia, ela foi e voltou várias vezes em intervalos de tempo espaçados. Ela meio que não quis terminar oficialmente e eu também evitava o assunto. O nosso relacionamento se estendeu por tanto tempo nessas idas e vindas que chegou num ponto que não fazia mais sentido. Fiquei no limbo de saber que ela nem gostava mais de mim porém ainda ser o ''namorado'' dela, eu tentei superar, tentei a ''reconquistar'' passando a viajar com ela por um tempo – já que não dava pra me distanciar das aventuras sem perder Rose no processo... de novo. Como sabia que ela não iria ceder, eu resolvi ceder. Fui junto.

Durante as viagens com o cara alienígena e ela, entendi tudo aquilo que eu não era. Eu não tinha as viagens interespaciais. E, acima de tudo, consegui ver que o apelo que tudo aquilo tinha e representava. Não dava pra continuar nessa corrida. Sabe o porquê? Porque não importava se eu ia conseguir alcançar o cara ou não, porque ela já não gostava mais de mim fazia muito tempo e ela já tava na dele antes que eu me desse conta. Não adiantava ficar nessa corrida porque não era uma competição, nem pra ela e nem pra ele, era só pra mim. Apenas comecei a correr pra não ser deixado pra trás, abandonado.

Acho que ela só tava com pena mesmo de terminar comigo.

Foi aí que resolvi tornar mais fácil, arranjei uma desculpa pra não voltar a entrar na nave, juntei o útil ao agradável. Fiz isso por mim, e não por ela. Eu precisei pensar numa desculpa pra justificar pra eu mesmo parar de estar com ela.

Ela entendeu o que eu quis dizer quando escolhi ficar.

Dessa vez, era eu quem tinha escolhido ficar. Uma decisão pensada.

Eu decidi parar de esperar.

É claro que aquele dia nem foi, de longe, o último dia que vi um alienígena ou ela, mas isso é outra história que não vem ao caso.

- E qual era o nome desse tal alienígena, mesmo? – pergunta a mulher sentada em uma cadeirinha com a placa ''Me conte uma história, que não vou te julgar'' ao seu lado. Ela tinha um certo ar de elegância e superioridade tanto no modo de se vestir quanto no de falar.
- Doutor. – respondo – Valeu por me escutar. – digo me levantando pra ir embora.
- Disponha. É uma história e tanto que você tem aí.

Começo a ir embora, até que paro e volto.

- Aliás, não lembro de te ver por aqui, na UNIT, esqueci de perguntar teu nome. Como se chama?
- É simples, – ela deu um sorriso simpático – eu sou Missy. Diga alguma coisa legal.

Notes:

Essa foi a primeira fanfic que consegui terminar de escrever esse ano. Obrigada pelo desafio s2.
Ps: a dor de corno de "Pense em mim" pareceu se encaixar como uma luva pra situação do Mickey.