Chapter Text
{Goku Black}
Vislumbrei minha alma desaparecer. Essa vidência ocorreu somente uma vez, talvez porque a neguei no primeiro momento. Um temível mal-estar se apossou de mim, e minha mente implorou para que eu desistisse daquele plano amedrontador durante os meses em que lutei contra o saiyajin. Repentinamente, Gowasu apareceu diante de mim, dizendo para que eu desistisse daquela loucura e pedisse perdão pelos meus pecados para que, assim, minha alma fosse poupada. Não acredito em destino e tampouco em coincidências, conquanto minha razão entrou em colapso pelos sentimentos que se desencadearam em meu ser.
Aceitei a proposta conforme meu coração e razão pronunciavam em uníssono para que eu não desperdiçasse aquela oportunidade única. Zamasu tentou me matar, contudo minha contraparte sabia perfeitamente que não poderia me derrotar, apesar de ser imortal. E eu não usei todo o meu poder para abatê-lo; na realidade, não tinha a intenção de machucá-lo, e dessa forma ele escapou através do anel do tempo.
Roguei pelo perdão de Zeno-Sama e dos humanos, conforme ele me orientou. Soou tão humilhante. Litígios ocuparam meus pensamentos; no entanto, de alguma maneira, realizei o desejo do senhor supremo. E a razão por não estar definitivamente quebrado por desafiar meu orgulho foi um repentino "eu o perdoo" ecoar dentre as proclamações dos humanos a respeito de minha punição. O que levou a principal vítima de meus pecados a me oferecer uma segunda chance? Son Goku, o peso em seu olhar contradiz sua compaixão.
A pedido do mestre Gowasu, fui preso em outra dimensão e em um planeta aparentemente desabitado. Ele me informou que havia um casebre em áreas montanhosas no qual teria os recursos necessários para minha sobrevivência. Não consegui dizer uma palavra e tampouco olhar em seus olhos por simplesmente não sentir nada naquele instante em que fui tratado mais como um filho do que um penitente.
Eu sentia falta da violência. Sede do martírio humano e das demais raças medíocres que coexistem na imensidão. Uma parte de mim sangrava por aceitar tais termos. E hoje percebo que ainda desconheço a verdadeira paz. Então, fui eu quem estava errado em tomar severas atitudes?
Os anos passaram, e sobreviver não foi complicado. Cultivei hortaliças, legumes e verduras. Vez ou outra pescava nas redondezas ou caçava javalis. Reformei a casa e reparei alguns danos na cisterna.
Aventurei-me por vales, bosques, cavernas, florestas e ilhas. Encontrei animais exóticos e criaturas mitológicas. Adentrei em ruínas antigas, encontrei livros e diários estranhamente conservados com desenhos e informações sobre botânica, agricultura, pecuária e astronomia. Uma raça denominada elfos habitou esse planeta há séculos. Sua cultura era muito peculiar. Controlavam a magia deste mundo de maneira tão exacerbada que o planeta começou a morrer. Um deus, no qual eles não nomeiam e tampouco descrevem sua aparência, eliminou mais de dois terços da população como um aviso para com seus excessos. Os sobreviventes aboliram o uso da magia e tentaram recomeçar, porém ainda assim foram castigados por esse deus porque simplesmente o desejou.
Deuses da Destruição deveriam apenas estabelecer um equilíbrio no universo no qual foram designados. E o senhor supremo deveria ter uma mentalidade estável. Todavia, o poder corrompe a maioria dos seres em quaisquer hierarquias. Zeno-Sama não passa de uma criança tola. Deuses da destruição subjugam os mais fracos por não atenderem a seus caprichos. Por que somente eu sou considerado o louco?
Somos miseráveis com tendências destrutivas, colocando-nos em um pedestal de ilusões temporárias perdidas no pesar da consciência. Sinto-me similar a essas entidades. O quão decadente eu me tornei ou estaria exagerando? Gradualmente tenho meditado para me encontrar, porém minha mente continua desfocada. A sensação de estar afundando em um profundo oceano aumenta minha angústia. A solidão me obriga a estar somente comigo. E tudo o que vejo em mim é um oceano me chamando para as profundezas de uma noite sem fim. E estou me apaixonando por seu silêncio.
Meu querido, por mais que eu usufrua de suas células, sinto que nunca seria o suficiente para estar verdadeiramente unido a você. Roubar seu corpo trouxe-me o privilégio de estar conectado com toda a sua essência. Em teoria parecia correto, mas na prática é diferente do que eu poderia prever. E com o tempo minha mente entrou em perturbação. Não saberia explicar e acredito que não haverá respostas para distinguir o que me tornei. Menosprezo completamente a alma obscura que se escondia em uma falsa soberania, ou seja, Zamasu deixou de existir em mim há anos.
Perdi completamente a noção de tempo. Nos anos em que peregrinei neste planeta, apenas busquei por uma única voz. Diga-me, Senhor, a quem eu pertenço? Diga-me que ainda sou seu... Diga-me que não estou sozinho neste mundo. Preenchi meu vazio através de minhas meditações, mas abriu minhas feridas. A dor penetra cada vez mais fundo, e meu coração se alinha à violência.
Respiro profundamente o ar cortante da manhã e ouço os ventos sussurrarem delicadamente em meus ouvidos. Nuvens copadas sobressaem sobre as montanhas e caem formosamente sobre a vegetação, enaltecendo a palidez do dia. Respingos d’água continuam a cair gradativamente, alumiando as flores abatidas. Relâmpagos caem próximos dentre os rugidos de um dragão que sobrevoa majestosamente sob o nevoeiro. E por uma fração de segundos sinto meu coração violento se acalmar.
Avistei uma figura caminhando em minha direção. A princípio acreditei estar sofrendo por um delírio recorrente. Sua voz soou nitidamente em meus ouvidos e estremeceu meu coração. Afastei-me constrangido com a cadeia de emoções que apunhalavam meu interior; não queria acreditar que ele estava diante de mim. Senti sua mão sobre meu braço e o forçar para trás, obrigando-me a encarar aquele rosto que vislumbro apenas em minha loucura. E após um breve silêncio, Son Goku soou firme: "Black, precisamos conversar."
