Chapter Text
Não é possível
Eiji cursava o quarto semestre em Fotografia, o que significa que ele estava literalmente no meio de seu curso, faltava pouco mais de um ano para que terminasse a faculdade, isso se ele conseguisse passar. Tudo bem, estava exagerando, Eiji havia zerado o projeto de fotojornalismo, não por falta de esforço, era esforçado, talvez até demais, acontece que ele nem chegou a fazer. Pegou um atestado de dois meses por conta de uma lesão no tornozelo, tendo aulas a distância durante esse período, havia acabado de retornar às atividades normais de sua vida, o que incluía aulas presenciais, sabia que precisaria refazer uma matéria ou outra, mas no fundo esperava que pelo menos incluíssem seu nome no projeto, que era unicamente presencial. Eiji sabia que chorar para Ibe, seu professor, não o daria pontos sem esforço, mas não imaginava que a solução que o mesmo tomaria fosse o encaixar em um projeto de outro curso, simplesmente porque precisavam de um fotógrafo.
Só pode ser brincadeira
Entenda Eiji, existem vários cursos em sua universidade, todos que de certa forma se interligam, Fotografia, Jornalismo, Produção Editorial, Direito, Advocacia, entre estes e outros, a tão temida Criminologia, nada contra o curso, alguns pontos contra os alunos.
Em uma universidade pequena, com uma só turma para cada curso, alguns burburinhos vão e vem, vários desses se direcionavam à classe de Criminologia, suas fontes eram diversas, de alguns professores sobre o quão intensos e difíceis de prender a atenção eram, de alunos sobre agirem como uma espécie de gangue de rua, e de Ibe, sobre ouvir dizer que Max foi o único professor que “aguentou”. Eiji odiava julgar alguém baseado no que outras pessoas diziam, mas seria mentira dizer que, dessa vez, ele preferia não precisar ter uma opinião própria.
— Por que criminologia? — Eiji quase tropeçava tentando acompanhar o passo lento de Ibe, que o guiava pelos corredores exageradamente grandes e vazios da universidade.
— São os únicos que não terminaram o projeto desse semestre. — Ibe parecia quase tão perdido quanto Eiji, lendo as placas em cima de todas as portas que passavam.
— Por que não posso fazer um projeto sozinho?
— Porque eles precisam de um fotógrafo. — Disse estreitando os olhos, tentando ler uma placa no fim do corredor. — Achei! — apontou para a segunda porta em seu campo de vista, havia uma única palavra escrita em cima, no meio de vários desenhos que Eiji mal conseguia identificar, Criminologia.
— Não acredito que ‘tá me jogando aos lobos.
— Vai sobreviver, são só quinze dias. — Ibe deu três toques na porta enquanto Eiji apertava freneticamente a alça de sua mochila. Não demorou para que a maçaneta girasse e em seguida a porta se abrisse dando vista a um homem de mais de 1,80, seu porte parecia mais de um soldado do que de um professor, Eiji o reconheceu como Max Lobo, amigo de Ibe e professor de criminologia, o mesmo já cobriu algumas de suas aulas na falta de algum professor, isso quando professores ainda faziam revezamento de turmas, seus poucos fios grisalhos denunciavam a chegada de seus quarenta anos.
— Shunichi! — o mais alto rapidamente saiu da sala de aula para abraçar Ibe, que retribuiu.
— Max! Parece que faz séculos que eu não te vejo pessoalmente — Ibe se afastou colocando uma das mãos no ombro do professor.
— Uma semana, Ibe! — Max disse com um sorriso que se estendia em seu rosto.
— Você deve se lembrar, esse é Eiji —
— O fotógrafo! — Uma voz quase estridente, mas não exatamente fina, surgiu de trás de Max. Um jovem com os cabelos tingidos de rosa-choque, com a raiz preta, em uma espécie de mullet se aproximou, inesperadamente puxando Eiji para dentro da sala, mentalmente, o mesmo praguejava para Ibe enquanto o professor acenava, assistindo o jovem ser arrastado para dentro. Não tinha mais volta, Eiji se virou novamente para o jovem que o puxava até o fundo da sala, onde aparentemente todos os — pouquíssimos — alunos estavam reunidos em um círculo. Esquisito.
— Eu trouxe o fotógrafo! — O garoto de cabelo rosa-choque o adentrou ao círculo fazendo dois dos alunos comemorarem, Eiji não teve tempo de olhá-los nos olhos, uma vez que sua atenção foi tomada para o centro do círculo.
— Não sabia que aceitavam crianças na faculdade. — Sentado em cima de uma mesa, no exato meio, com cabelos dourados que quase, quase cobriam penetrantes olhos verdes cor de jade, aquele que, se fossem realmente uma gangue, deveria ser o líder.
— Olha quem fala. — Eiji retrucou — Devo ser mais velho que você.
O garoto abriu um sorriso engraçado, inesperado.
— Qual é seu nome? — Perguntou pulando da mesa, ficando de pé no centro do círculo, de frente para si.
— Eiji Okumura. E o seu?
— Ash Lynx. — Cruzou os braços. — Então vai fazer o projeto com a gente?
— Aparentemente sim.
— E você sabe do que se trata?
— Não.
— É uma reportagem, Eiji.
— Sobre o que? — Eiji assistiu todo o grupo se entreolhar, para o loiro finalmente dar de ombros.
— Vocês não sabem?
— A gente ainda não pensou em um tema. — Foi a vez de outro aluno falar, um de cabelo castanho claro, usando uma jaqueta jeans, encostado na mesa em que Ash anteriormente estava sentado. Analisando agora, tinham seis alunos, bem menos que em sua sala, todos eles aparentavam ter entre dezoito e vinte anos, exceto por um mais baixo, que Eiji diria ter uns dezesseis anos.
— Estão com o projeto atrasado e ainda nem começaram?
— Culpa do Ash, nada agrada ele. — Disse o de cabelo rosa-choque, se sentando em uma das mesas, a mesma de onde Ash havia levantado minutos atrás.
— Você negou todas as minhas sugestões só porque “dava trabalho demais”, Shorter!
Shorter
— Você só quer arrumar confusão, só sugere tema polêmico.
Ash revirou os olhos. — Tem alguma sugestão? Max disse que não precisa especificamente envolver um crime, seria bom se envolvesse, mas dessa vez não precisa. — Os olhos penetrantes voltaram a encarar os olhos “grandes e expressivos” de Eiji, o que era quase intimidador e ao mesmo tempo viciante.
— E se fizéssemos algo sobre a própria universidade? — deu de ombros tímido. — Talvez sobre o que ela era antes e coisa assim, quer dizer, esse prédio é antigo e a universidade relativamente nova.
— Não vai rolar, eu sugeri a mesma co —
— Eu gosto. — Ash cortou Shorter.
— Que?!
— Você disse pra gente fazer sobre as pessoas da faculdade ou sei-lá-que merda, não sobre a faculdade em si. Eu gostei da ideia do Eiji, o que vocês acham? — Ash sorriu para Shorter, aquele mesmo sorriso engraçado, quase como se não combinasse com seu rosto, era um sorriso genuíno, leve e engraçado. Shorter pareceu revirar os olhos sorrindo de volta logo em seguida.
— Por mim o que vocês decidirem, ‘tá decidido. — O mais baixo finalmente falou algo. Ele brincava com um iô-iô, encostado na parede da sala, tinha cabelo preto curto, bem curto.
— Vamo investigar esse presídio. — Shorter concordou se levantando da mesa.
O sorriso no rosto de Ash aumentou mais ainda, dessa vez ele se direcionou para Eiji, por motivo que ele não entendia.
— Decidido.
