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# Capítulo 1 - Bem-vindo ao Silêncio
A poeira levantava sob as rodas do carro enquanto Draco seguia pela estrada estreita que cortava os campos secos. O rádio estava desligado há horas, e o silêncio no carro começava a incomodar. Era raro para ele ficar em silêncio. Draco sempre foi falante, alguém que puxava conversa com desconhecidos na fila do mercado ou comentava sobre o tempo com o entregador. Mas naquela estrada deserta, ele só conseguia pensar em como a nova cidade parecia... vazia.
A mudança para **StarHills**, uma cidade remota no interior, tinha sido por necessidade. Após anos em meio ao caos das grandes metrópoles, Draco queria paz. A casa que comprara fora uma barganha, espaçosa, mas isolada. As vizinhas mais próximas ficavam a centenas de metros, e o centro da cidade era um aglomerado de prédios baixos e decadentes. A primeira impressão, ao chegar, não foi exatamente animadora, mas ele sabia que precisava dar uma chance. Era isso ou enlouquecer em sua antiga rotina.
Depois de horas na estrada, Draco finalmente estacionou em frente à sua nova casa. A construção era modesta, pintada com uma cor neutra já desgastada pelo tempo. Não era luxuosa, mas era sua. Enquanto descarregava as caixas do carro, notou um homem parado ao lado da cerca que dividia os terrenos. Ele parecia estar observando, imóvel, quase como uma estátua.
— Ei! — Draco chamou, com um sorriso. — Vizinho?
O homem se aproximou devagar. Era mais velho, tinha um braço mecânico que refletia o sol da tarde. Sua expressão era impassível, mas não hostil.
— Stu. Moro na casa ao lado. — A voz dele era rouca e econômica, como se economizasse palavras. — Precisar de algo, só chamar.
Draco riu, tentando quebrar a rigidez.
— Ótimo! Meu nome é Draco. Vou precisar de umas dicas sobre a cidade... ou talvez uma dose de café.
Stu não respondeu imediatamente, apenas olhou por cima do ombro na direção de sua casa.
— Cuidado à noite. Aqui fica bem... quieto.
Antes que Draco pudesse perguntar o que ele queria dizer com aquilo, Stu se virou e foi embora. Intrigado, Draco continuou descarregando suas coisas, pensando que talvez o vizinho fosse apenas reservado.
Nos dias seguintes, Draco tentou explorar a região. A cidade era pequena, com ruas pouco movimentadas e lojas que pareciam ter parado no tempo. Ele conheceu alguns moradores no mercado, mas as conversas eram breves, quase como se as pessoas evitassem criar laços. Aquilo o deixou desconfortável. Ele, que sempre foi sociável, sentia uma barreira invisível que o isolava.
Em uma dessas saídas, viu Stu novamente, desta vez com suas duas filhas, duas garotas de aparência peculiar que costumavam brincar no quintal à noite. As meninas pareciam alheias ao peso da atmosfera da cidade, rindo e correndo no gramado enquanto o sol se punha.
Stu o cumprimentou com um aceno breve.
— Como está se adaptando?
— É... tranquilo demais para o meu gosto — respondeu Draco, rindo sem graça. — A cidade sempre foi assim?
Stu hesitou por um momento.
— Sempre foi diferente. Principalmente depois do calor.
Draco não entendeu bem a referência, mas não teve coragem de perguntar. Stu parecia sempre medir suas palavras.
Na sexta-feira daquela semana, tudo mudou. Draco estava terminando de organizar os móveis quando o som estridente de uma sirene ecoou pela vizinhança. Ele correu para a varanda e viu uma luz vermelha piscando no céu distante, perto da prefeitura da cidade. Um alerta de emergência.
Ligou a TV, onde um jornalista falava com uma urgência fria:
> "Autoridades pedem que todos permaneçam em casa. O calor extremo está provocando incêndios espontâneos em algumas regiões. Além disso, há relatos de... comportamentos anômalos em indivíduos. Não abram suas portas para estranhos, mesmo que pareçam necessitados."
Draco desligou a TV, tentando processar a informação. Ele olhou pela janela e viu Stu parado em frente à cerca, observando sua casa.
— Você ouviu? — Draco gritou, saindo pela porta.
— Ouvi. Vai ser difícil daqui pra frente.
Stu deu alguns passos em direção a Draco, o rosto sombrio.
— Não importa o que ouça, o que veja, não abra a porta. Nem todo mundo que parece humano... é.
Draco sentiu o estômago afundar.
— Do que você está falando?
Stu não respondeu. Ele apenas virou e voltou para sua casa, trancando a porta.
A primeira noite da quarentena foi sufocante. Draco olhava pela janela, o mundo do lado de fora parecia quieto demais. As temperaturas haviam despencado, e o silêncio absoluto era perturbador. Ele tentou distrair a mente ligando o rádio, mas tudo o que encontrou foram ruídos estáticos. Sentiu-se mais sozinho do que nunca, perdido em uma casa desconhecida, em um lugar que parecia cada vez mais hostil.
À meia-noite, ouviu algo. Um som de passos na varanda. Ele congelou, o coração batendo descontroladamente. Olhou pela janela lateral e viu uma figura, alta e magra, parada diante da porta. Parecia um homem comum, mas havia algo de errado em seus movimentos, como se estivesse se ajustando, aprendendo a andar.
A figura bateu na porta.
— Por favor... Me deixe entrar. Está muito frio.
A voz era grave, mas tinha um tom vazio, quase mecânico. Draco ficou paralisado, lembrando do aviso de Stu.
A batida ficou mais insistente, o som ecoando pela casa. Draco se afastou, respirando pesado, enquanto a voz do lado de fora continuava.
— Só um minuto... Está muito frio aqui fora.
Draco se jogou no sofá, abraçando os joelhos, rezando para que a figura fosse embora. Depois de alguns minutos, o som cessou. Quando criou coragem para olhar pela janela, a varanda estava vazia.
Naquela noite, Draco não conseguiu dormir.
Os dias em Starhills haviam começado de forma tranquila, mas agora ele sentia que algo muito errado estava acontecendo. Não era apenas o calor mortal ou o isolamento. Algo mais profundo, mais obscuro, pairava sobre a cidade.
E Draco sabia que aquilo era só o começo.
Chapter 2: 2- Ecos do medo
Notes:
Me pergunto se um dia eu irei desenhar isso
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2# ecos do medo.
A manhã seguinte começou com o eco do noticiário que vinha da TV. Draco estava na cozinha, segurando uma caneca de café frio enquanto o âncora explicava, com uma expressão pesada, novas diretrizes para identificar as criaturas:
> "Boa tarde, cidadãos. Temos atualizações cruciais sobre a crise que assola nosso país. Relatórios indicam que as criaturas, que até agora chamaremos de ‘cópias’, possuem características que podem facilitar sua identificação:
> 1. **Aparência**: Algumas cópias parecem absurdamente assustadoras, enquanto outras são tão perfeitas que chegam a ser desconcertantes.
> 2. **Dentes**: Em cópias perfeitas, os dentes são brancos demais, alinhados de forma anormal. Este é o único método confiável no momento.
> 3. **Tons de voz**: Não confiem em tons de voz ou na personalidade apresentada. As cópias são excelentes imitadores e reproduzem padrões humanos com assustadora precisão.
> Lembre-se: não baixe a guarda. Se escondam, lutem e se ajudem. Voltaremos com mais informações assim que possível."
Draco desligou a TV, tentando acalmar os pensamentos que pulsavam em sua cabeça. Ele se lembrou do som insistente na porta na noite passada e sentiu o estômago afundar. Não tinha dúvidas de que aquela coisa não era humana. Pegou o celular e gravou as informações do noticiário, repetindo baixinho para si mesmo: *“Aparência... dentes... não confie na voz.”*
A luz do sol parecia mais fraca naquele dia, como se estivesse prestes a se apagar a qualquer momento. Draco olhou pela janela da sala e viu um pequeno grupo de adolescentes conversando no canto da rua. Eram três, rindo e falando animadamente, parecendo completamente alheios à situação caótica ao redor.
Ele observou, desconfiado. Por que estavam tão tranquilos? E por que ninguém os chamava para dentro?
Conforme o dia avançava, o sol começou a se pôr mais cedo do que o normal. Algo estava errado, Draco podia sentir. Os adolescentes foram se afastando lentamente, suas vozes se dissipando no ar à medida que desapareciam entre as casas. Draco sacudiu a cabeça e tentou afastar a sensação de que deveria ter feito algo.
"Não é problema meu," murmurou para si mesmo. Era melhor cuidar do que realmente importava: seus mantimentos estavam acabando, e precisava planejar como sobreviver pelos próximos dias.
Enquanto Draco verificava o estoque na despensa – que estava cada vez mais escasso – o som da campainha ecoou pela casa. O coração dele acelerou. Lembrou-se da noite passada e sentiu o suor escorrer pela testa. Pegou um facão que mantinha na gaveta da cozinha e foi até a porta.
Olhando pelo olho mágico, viu uma garotinha. Era Bonnie, a filha mais nova de Stu. Ela olhava diretamente para a porta, com olhos grandes e brilhantes.
— Por favor, senhor Draco, posso usar seu telefone? — pediu, a voz baixa e carregada de inocência. — As crianças já foram embora e quero ligar para o meu pai.
Draco hesitou, tentando lembrar o que o jornal dissera sobre como identificar as criaturas. Ele respirou fundo e decidiu conversar mais com Bonnie antes de abrir a porta.
— Bonnie, você mora aqui há quanto tempo?
— Desde que nasci, senhor. Papai disse que o senhor chegou essa semana, né?
— E quem é sua irmã? Como ela se chama?
— Janet. Está dormindo, acho.
As respostas faziam sentido. Mesmo assim, Draco sentiu-se desconfortável. Ligou para Stu imediatamente. Quando o vizinho atendeu, Draco foi direto:
— Sua filha está aqui. Disse que quer ir para casa.
Stu apareceu em menos de cinco minutos. Ele pegou Bonnie no colo, agradecendo a Draco, mas sem sorrir.
— Obrigado. Não é bom ela sair de casa sozinha. — Stu olhou para o céu, que já estava escuro demais para aquela hora. — Você ouviu falar dos homens da ONU que estiveram aqui?
— Não muito. Vi no jornal que as coisas estão piorando, mas nada sobre isso.
Stu suspirou, colocando Bonnie no carro antes de continuar.
— Estiveram aqui semana passada. Montaram uma cabana na entrada da cidade. Aparentemente, para "observar e ajudar". Mas é só fachada. Eles não confiam em ninguém e provavelmente só querem manter o controle.
Ele fez uma pausa e olhou diretamente nos olhos de Draco.
— Algumas pessoas precisam de ajuda, Draco. Mas escolha com cuidado quem vai ajudar. Nem todos são o que parecem.
Antes que Draco pudesse perguntar mais, Stu se despediu, fechando a porta do carro e dirigindo-se para casa.
Já era noite quando Draco finalmente terminou de organizar o que restava de seus mantimentos. Estava claro que precisaria racionar, mas a ideia de sair para buscar comida era aterrorizante. Ele passou os olhos pela sala e pela cozinha, tentando se convencer de que estava seguro.
Foi até a janela da cozinha para fechar as cortinas quando viu algo que fez seu sangue gelar.
Havia uma figura parada no quintal, na direção da floresta. Era anormalmente alta, com os ombros largos e braços que pareciam mais longos que o normal. A pouca luz dificultava ver detalhes, mas a silhueta era suficiente para fazê-lo recuar lentamente.
O homem – ou o que quer que fosse – não se mexia. Ele apenas estava ali, como uma sombra, observando.
Draco sentiu o coração martelar no peito. Pegou o facão e segurou firme, mas a figura começou a se mover antes que ele pudesse fazer algo. De forma lenta e quase mecânica, ela entrou na mata, desaparecendo entre as árvores.
O silêncio voltou. Draco ficou paralisado por alguns minutos, incapaz de processar o que acabara de ver. Quando finalmente conseguiu se mover, trancou todas as portas e janelas e apagou as luzes.
Sentado no escuro, ele se perguntou quantas daquelas coisas estavam lá fora... e quanto tempo ele conseguiria sobreviver.
Chapter 3: 3-Um hóspede inesperado
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# Capítulo 3 - Um Hóspede Inesperado
Draco ainda estava na cozinha, sentado na penumbra, com o facão em mãos. O choque do que vira no quintal ainda reverberava em sua mente. O homem — ou o que parecia ser um homem — tinha proporções impossíveis. Seu movimento lento e a maneira como desaparecera na floresta o deixaram perturbado.
Ele se perguntou como o mundo havia se transformado tão rapidamente em um pesadelo. Há uma semana, ele ainda estava tentando fazer amigos, planejando explorar os arredores. Agora, estava trancado em casa, questionando se qualquer pessoa que cruzasse seu caminho era realmente humana.
O som da campainha ecoou de repente, rasgando o silêncio como uma faca. Draco sentiu o estômago se contrair em uma onda de pânico. *De novo não...*
Levantou-se lentamente, com as pernas tremendo, e foi até a porta. Apertando o facão contra o peito, olhou pelo olho mágico, já se preparando para lutar. O que viu, no entanto, não foi o que esperava.
Um homem de meia-idade estava parado ali. Era alto e magro, com roupas elegantes, mas sujas e rasgadas. Ele tinha o rosto cansado, marcado por linhas de expressão que revelavam sua idade e o desgaste das últimas semanas. Carregava uma bengala em uma das mãos e uma mochila nas costas.
Draco ficou imóvel, observando cada detalhe. O homem não parecia uma ameaça imediata, mas Draco já não confiava mais em ninguém.
— Quem é você? — perguntou, agressivo, do lado de dentro da porta.
O homem levantou a cabeça e respondeu, com uma voz firme, mas rouca:
— Meu nome é Byron. Estou viajando há dias e... preciso de ajuda.
Draco manteve o tom desconfiado.
— Isso não explica por que está batendo na minha porta. Não percebeu que as pessoas não abrem mais para ninguém?
Byron soltou um suspiro e apoiou-se na bengala.
— Não posso culpá-lo por isso. As coisas estão ruins lá fora... — Ele fez uma pausa, como se estivesse buscando as palavras certas. — Olha, eu só preciso de um lugar para descansar. Tenho mantimentos. Não quero nada de graça.
Draco estreitou os olhos, ainda analisando cada detalhe pelo olho mágico.
— Por que não está em uma das casas de resgate?
O rosto de Byron endureceu por um instante antes de relaxar.
— Fui expulso. Não sou exatamente fácil de lidar. Minha personalidade forte, sabe como é. — Ele deu um sorriso sem humor. — Não vi minha filha há semanas. Não sei nem se ela está viva. Estou... cansado.
Aquelas palavras pesaram em Draco. Ele ainda hesitava, mas algo na maneira como Byron falava parecia genuíno. O homem não implorava, apenas pedia com a dignidade que ainda conseguia manter.
Draco respirou fundo, tentando convencer a si mesmo de que estava tomando a decisão certa.
— Está bem — disse, destrancando a porta, mas sem abrir totalmente. — Você pode ficar. Mas vai seguir as minhas regras.
Byron assentiu, visivelmente aliviado.
— Obrigado. Não vou esquecer disso.
Draco abriu a porta apenas o suficiente para que Byron entrasse. O homem limpou os pés no tapete de entrada, como se aquele gesto comum ainda tivesse algum significado no caos que os cercava.
— Você vai ficar no quarto de visitas. Se eu notar qualquer coisa estranha, qualquer coisa mesmo, não vou hesitar em tomar uma atitude. — A voz de Draco era firme, deixando claro que não haveria segundas chances.
Byron levantou a mão em sinal de rendição.
— Combinado.
Draco o guiou pela casa, mantendo sempre uma distância segura. Mostrou onde ficava o quarto de visitas, uma pequena sala com uma cama de solteiro e um armário vazio.
— O banheiro fica no corredor. Use o que precisar, mas não toque em mais nada da casa.
Byron olhou para Draco com um semblante cansado, mas grato.
— Entendido. Obrigado pela gentileza. Não é todo dia que encontramos alguém disposto a ajudar.
O homem entrou no quarto, tirou a mochila das costas e a deixou ao lado da cama. Sentou-se com um suspiro, parecendo aliviado por finalmente poder descansar.
Draco observou por alguns segundos antes de sair, ainda questionando se havia feito a coisa certa. Trancou a porta do quarto e foi direto para o seu próprio.
Deitado na cama, Draco olhava para o teto, o facão ainda ao seu lado. Ele tentava entender por que havia deixado Byron entrar. Era compaixão? Ou um desejo desesperado de ter companhia, mesmo que fosse de um estranho?
O som do vento lá fora o fez estremecer. Lembrou-se da figura que vira no quintal e sentiu um arrepio subir pela espinha. O mundo estava mais perigoso do que jamais imaginara, e agora ele tinha um desconhecido em sua casa.
Fechou a porta do quarto à chave, mas sabia que isso não o protegeria se algo realmente desse errado.
Enquanto o silêncio envolvia a casa, Draco se perguntou se Byron era realmente quem dizia ser... ou se havia acabado de convidar um perigo ainda maior para dentro de sua vida.
Chapter 4: Revelações e dilema.
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# Capítulo 4 - Revelações e Dilemas
Draco despertou com um som abafado de batidas na porta de seu quarto. Seu coração disparou por um instante, mas logo se lembrou do facão ao lado da cama. Sentou-se rapidamente, tentando entender o que estava acontecendo.
— Bom dia, Draco! — disse uma voz do outro lado da porta. Era Byron, o hóspede que ele quase esquecera em sua primeira noite de sono decente desde que o caos começara.
— O que foi? — Draco respondeu, a voz ainda rouca de sono.
— Tem algo importante na TV sobre os grupos de resgate. Ah, e seu vizinho deixou um bilhete pra você. Ele também deixou duas garotinhas aqui.
Antes que Draco pudesse processar essa última informação, ouviu uma voz infantil e animada.
— Bom dia, senhor Draco! — Bonnie, a filha mais nova de Stu, falou com entusiasmo.
Draco saltou da cama, ainda vestindo apenas um short e sua camisa de banda de rock desbotada, e abriu a porta de supetão.
Byron estava parado ali, com o bilhete de Stu em mãos, enquanto Bonnie sorria e segurava o braço da irmã, Janet, que tinha uma expressão visivelmente abatida.
— O que está acontecendo? — Draco perguntou, confuso e alarmado, enquanto olhava para as três figuras diante de sua porta.
Byron ergueu o bilhete.
— Leia isso depois. Primeiro, você precisa ver o noticiário.
Na sala de estar, Byron ligou a TV enquanto Draco guiava as meninas para o sofá. Janet sentou-se, quieta, enquanto Bonnie, alheia à tensão, brincava com a barra da camisa de Draco.
A tela da TV exibia uma transmissão urgente. A repórter Lola, com expressão grave, olhou diretamente para a câmera, sua voz carregada de tensão.
> “Novas informações confirmadas pelas autoridades apontam que essas criaturas não são humanas. Elas são extraterrestres que emergem de túneis subterrâneos espalhados por várias regiões.”
As palavras pareceram congelar o ar na sala. Draco prendeu a respiração enquanto Lola continuava:
> “Além dos dentes perfeitamente alinhados e das vozes imitadoras, um novo método de identificação foi descoberto: as criaturas têm uma grande quantidade de terra sob as unhas. Essa terra é característica de seus túneis e está presente mesmo nas cópias perfeitas.”
A repórter pausou, olhando para a câmera com uma seriedade que fazia cada palavra parecer um aviso direto.
> “Essas criaturas não matam imediatamente. Elas se alimentam do medo. Gostam de brincar com as vítimas antes de caçá-las. É essencial não confiar em ninguém, mesmo que pareçam normais.”
A transmissão mudou para imagens de tendas de resgate montadas nas regiões mais afetadas.
> “As tendas de resgate agora estão funcionando em áreas específicas. Nesses locais, sobreviventes podem encontrar mantimentos e informações. Reforçamos, no entanto, que o perigo persiste mesmo nesses refúgios.”
A repórter encerrou com uma frase que parecia tanto uma oração quanto um apelo:
> “Que Deus nos guarde.”
Quando a TV voltou ao silêncio, Draco se afundou no sofá, tentando organizar os pensamentos.
Draco virou-se para Janet, que parecia estar à beira das lágrimas.
— Onde está o Stu? — ele perguntou.
A garota mordeu o lábio, tentando segurar a voz trêmula.
— Ele... Ele foi buscar mantimentos. Não temos mais nada em casa. Ele disse que voltaria logo, mas... — Janet respirou fundo, lutando contra as lágrimas. — Ele pediu para cuidarmos uma da outra.
Byron, em um gesto inesperado de empatia, colocou a mão na cabeça da garota, acariciando seu cabelo de maneira reconfortante.
— Seu pai vai voltar — ele disse, com firmeza. — Ele parece ser o tipo de homem que cumpre o que promete.
Bonnie, por outro lado, parecia alheia à tensão. Ela puxava o cordão no pescoço de Draco, brincando como se a situação fosse apenas mais um dia normal. Draco forçou um sorriso para a menina, tentando esconder sua preocupação.
Draco olhou ao redor. Sua casa, que antes era apenas sua, agora abrigava três pessoas além dele: um homem misterioso e duas crianças que dependiam de seu vizinho ausente. O estoque de comida na despensa já era limitado antes, e agora parecia ainda mais insuficiente.
Ele se levantou e foi até a cozinha, deixando os outros na sala por um momento. Precisava pensar. Encostado no balcão, ele abriu o bilhete deixado por Stu:
> *Draco, sei que é pedir muito, mas preciso que cuide delas enquanto estou fora. Não vou demorar, mas se algo acontecer comigo... elas precisam de você. Obrigado por tudo. Stu.*
As palavras pesaram sobre ele como uma âncora. Draco nunca quis ser responsável por ninguém. Não estava certo de que podia sequer proteger a si mesmo, quanto mais um estranho e duas crianças.
Enquanto tentava decidir o que fazer, foi até a janela da cozinha e espiou por entre as cortinas. Lá fora, a noite parecia mais escura do que nunca. Ele podia jurar que algo se movia na linha da floresta, mas a escuridão tornou impossível distinguir qualquer detalhe.
Ele respirou fundo.
— Três pessoas. Pouca comida. E uma coisa lá fora esperando... — murmurou para si mesmo.
Fechou as cortinas rapidamente, tentando ignorar a sensação de que estava sendo observado.
Ao voltar para a sala, viu Bonnie sorrindo para ele, ainda inocente ao caos ao redor. Janet mantinha o olhar fixo no chão, e Byron estava sentado calmamente, como se estivesse esperando por instruções.
Draco sabia que a responsabilidade recaía sobre ele agora.
— Vamos sobreviver... de alguma forma. — ele disse baixinho, mais para si mesmo do que para os outros.
Mas no fundo, ele não tinha certeza se acreditava nisso.
Chapter 5: Dois dias de silêncio.
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# Capítulo 5 - Dois Dias de Silêncio
Dois dias haviam se passado desde que Stu partiu, e a ausência de notícias pesava no ar da casa. Draco começava a perder a paciência com o constante estado de alerta, o choro de Janet e o comportamento imprevisível de Byron. A cada hora que passava, a pressão parecia aumentar.
As noites eram as mais difíceis. Criaturas continuavam rondando a casa, batendo suavemente nas janelas ou arranhando a porta, como se testassem a paciência e coragem de quem estivesse lá dentro. A cada som, Draco agarrava o facão e se posicionava perto da porta, respirando com dificuldade enquanto tentava escutar.
Certa vez, por volta das três da manhã, uma voz familiar sussurrou do lado de fora:
— Draco... sou eu... o Stu. Abra a porta.
Ele sabia que não era Stu. A voz era perfeita, mas a entonação tinha algo de errado, algo que o deixava enjoado. Ficou ali, imóvel, até que a voz desapareceu, deixando apenas o silêncio opressor.
Durante o dia, Draco tentava manter a rotina para as meninas. Bonnie, sempre animada, estava ficando entediada de ficar dentro de casa. Ela ficava olhando pela janela e, mais de uma vez, insistiu para ir brincar lá fora.
— Por favor, senhor Draco! Só por cinco minutinhos! — dizia ela, puxando a barra da camisa dele.
— Bonnie, é perigoso — explicou, se ajoelhando para falar diretamente com ela. — Lá fora não é mais como antes. Essas coisas... elas parecem gente, mas não são.
Bonnie cruzou os braços, fazendo um bico.
— Mas eu sei como identificar, você me ensinou!
— Mesmo assim, você não vai sair — respondeu Draco, tentando ser firme, mas gentil.
Janet, por outro lado, estava cada vez mais retraída. Passava horas quieta, com os joelhos abraçados no sofá. Ela chorava baixinho à noite, mas tentava esconder para não incomodar Draco. Ele percebeu isso e, durante uma dessas noites, sentou-se ao lado dela.
— Seu pai ainda está vivo, Janet — disse, a voz calma. — Ele é esperto e sabia o que estava fazendo quando saiu. Ele vai voltar.
Janet ergueu os olhos marejados para ele.
— E se ele não voltar?
Draco suspirou, sem saber exatamente o que dizer.
— Ele pediu para você ser forte, certo? Então é isso que você vai fazer. Você vai ser forte até ele voltar.
Ela assentiu lentamente, enxugando as lágrimas.
Enquanto Draco fazia o possível para manter as meninas calmas, Byron começava a mostrar outra faceta. Nos primeiros dias, ele havia sido prestativo, ajudando a organizar os mantimentos e até se voluntariando para vigiar a casa à noite. Mas agora, passava cada vez mais tempo trancado no quarto de visitas.
Quando saía, parecia irritado e mal-humorado, reclamando de quase tudo.
— Essa casa parece uma creche — resmungou uma vez, depois de ouvir Janet chorando. — Não tem como alguém descansar com esse barulho.
Draco tentou manter a calma, mas a irritação estava crescendo.
— Ela é só uma criança, Byron. Está assustada.
— Todos estamos assustados, mas isso não dá licença para incomodar os outros — retrucou, antes de voltar para o quarto e bater a porta.
Aquele comportamento estava começando a afetar as meninas. Janet parecia ainda mais nervosa, e Bonnie começou a evitar passar perto do quarto de Byron.
A comida também era uma preocupação crescente. Os mantimentos estavam acabando mais rápido do que Draco gostaria. Ele começou a racionar as refeições, dividindo pequenas porções para que durassem o máximo possível.
Naquela tarde, enquanto dividia as poucas latas de feijão que restavam, Byron apareceu na cozinha, cruzando os braços.
— Isso é tudo? — perguntou, olhando com desdém para o prato que Draco colocou na mesa.
— É o que temos — respondeu Draco, sem paciência.
— Talvez se parássemos de alimentar todo mundo como se fosse um hotel, sobraria mais para quem realmente está ajudando.
Draco fechou os olhos por um momento, tentando conter a raiva.
— Ninguém aqui pediu para estar nessa situação, Byron. Estamos todos no mesmo barco.
Byron bufou, pegou seu prato e voltou para o quarto, batendo a porta atrás de si.
Draco sentia o peso da responsabilidade crescendo a cada dia. Ele não apenas precisava proteger as meninas e lidar com Byron, mas também garantir que todos tivessem comida e segurança.
Naquela noite, enquanto colocava Bonnie e Janet para dormir no sofá — agora transformado em um pequeno canto seguro para elas —, Bonnie segurou sua mão e sussurrou:
— Você acha que o papai vai voltar?
Draco olhou para ela, forçando um sorriso.
— Ele vai voltar, Bonnie. Só precisamos continuar sendo fortes, como ele pediu.
Bonnie deu um sorriso pequeno e fechou os olhos. Draco ficou sentado ali por mais alguns minutos, observando as duas meninas dormirem, enquanto a lua iluminava fracamente a sala.
Ele sabia que o desafio não era apenas sobreviver. Era manter a esperança viva, mesmo quando tudo ao redor parecia desmoronar.
Chapter 6: 6-Esperança?
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# Capítulo 6 - Chegada de Edgar
Draco dormira pela primeira vez em dois dias enquanto fazia vigia no sofá da sala. O facão estava firme em sua mão, mas a exaustão o havia vencido. A pressão de manter tudo sob controle – a segurança, as meninas, o estoque de comida, e até mesmo lidar com o temperamento instável de Byron – estava lentamente o desgastando.
Ele havia começado a questionar como Byron, antes prestativo, agora se tornara alguém quase insuportável. O que estava acontecendo com ele? Ou talvez fosse Draco que estivesse perdendo a paciência.
Foi o som de batidas na porta que o arrancou de seus pensamentos turvos. Ele sentiu o coração acelerar e apertou a faca mais forte enquanto levantava, os músculos doloridos. Ainda com os olhos pesados de sono, espiou pelo olho mágico e viu algo que não esperava: Stu.
A visão de seu vizinho fez uma onda de alívio percorrer seu corpo, mas o alívio logo foi substituído pela cautela. Stu estava acompanhado de um jovem alto, que aparentava estar na mesma faixa de idade de Draco. Ele tinha cabelo undercut com uma franja longa assimétrica que cobria parte de seu rosto, um cachecol volumoso cobrindo a boca e o nariz, piercings nas orelhas e luvas nas mãos. Ambos carregavam mochilas grandes e pesadas, além de algumas bolsas menores.
Ao fundo, Draco viu o carro de Stu estacionado – um detalhe que trouxe uma confirmação vital: aquele realmente era Stu.
— Stu! — Draco chamou, ainda com um tom hesitante.
Stu levantou a mão em cumprimento, a expressão cansada mas aliviada.
— Sou eu, Draco. Abra a porta.
Antes que Draco pudesse responder, Bonnie, que estava dormindo no sofá, ouviu a voz do pai e acordou imediatamente.
— Papai?! Papai! — Ela sacudiu Janet, que despertou com lágrimas brotando antes mesmo de abrir os olhos completamente.
— É o papai, Janet! Ele voltou!
As duas correram para junto de Draco, a euforia delas interrompendo completamente qualquer raciocínio que ele pudesse ter.
— Esperem! Calma! — Draco tentou controlar a situação, mas Bonnie já puxava sua camisa.
— Por favor, abra a porta, senhor Draco! É o papai!
Sentindo-se pressionado e sem controle da situação, Draco finalmente girou a chave e abriu a porta. Stu entrou imediatamente, sendo recebido pelas meninas com gritos e abraços apertados. Bonnie praticamente se jogou no pescoço dele, enquanto Janet, entre lágrimas, o abraçou pela cintura.
Stu ajoelhou-se para abraçá-las, beijando a testa de cada uma.
— Eu disse que voltaria, não disse? Vocês foram fortes? — Sua voz era grave, mas cheia de ternura.
As meninas assentiram enquanto choravam e riam ao mesmo tempo.
Draco olhou para o jovem que o acompanhava. Ele entrou em silêncio, observando a cena com uma expressão neutra, que Draco não conseguiu interpretar. Metade do rosto dele estava coberta pelo cachecol, e seus olhos escuros eram quase inexpressivos.
— Quem é você? — Draco perguntou, ainda em alerta.
O jovem apenas inclinou a cabeça em cumprimento e depois desviou o olhar, sem dizer nada.
Stu, percebendo o desconforto de Draco, se levantou e colocou as mochilas no chão.
— Draco, precisamos conversar. Pode me dar um minuto?
Draco assentiu, ainda intrigado com o jovem misterioso.
— Meninas, fiquem aqui. Eu já volto.
Stu chamou o jovem com um gesto, e os dois seguiram Draco para a cozinha.
Assim que chegaram à cozinha, Stu pousou as mãos pesadas sobre a mesa e respirou fundo.
— Draco, a situação lá fora está muito pior do que imaginávamos. — Ele começou, a voz séria. — Essas criaturas... elas estão se adaptando. Agora elas andam até de manhã.
Draco arregalou os olhos.
— De manhã? Mas o sol...
— Não faz diferença para elas. O calor ainda é mortal para nós, mas elas se escondem melhor agora. — Stu fez uma pausa, esfregando a testa. — Além disso, as tendas de resgate... — Ele balançou a cabeça. — Não são mais seguras.
— O que aconteceu com as tendas? — Draco perguntou, a voz baixa, temendo a resposta.
— Viraram campos de batalha — Stu respondeu. — Os próprios humanos estão se matando por comida e abrigo. Não dá pra confiar em ninguém lá.
Houve um silêncio pesado antes que Stu gesticulasse para o jovem ao seu lado.
— Esse é Edgar. Ele me salvou em uma dessas tendas.
Edgar acenou com a cabeça, mas continuou em silêncio.
— Salvou? — Draco perguntou, cruzando os braços.
Stu assentiu.
— Eu quase fui morto por um grupo que queria roubar minha mochila. Edgar estava lá e... bem, digamos que ele sabe se defender.
Draco olhou para Edgar, que estava parado com uma postura calma, quase indiferente.
— Ele cursava enfermagem antes de tudo isso começar — continuou Stu. — É esperto e sabe cuidar de ferimentos. Nós precisamos dele, Draco.
Edgar finalmente falou, sua voz abafada pelo cachecol:
— Não sou muito de conversa, mas sei ser útil.
Draco observou o jovem com atenção. Ele não parecia ameaçador, mas também não parecia confiável. Havia algo no olhar dele – um vazio ou um cansaço – que Draco não conseguia decifrar.
— Ele precisa ficar aqui — disse Stu. — Não posso levá-lo para minha casa. É muito arriscado com as meninas lá.
Draco bufou, esfregando o rosto com as mãos.
— Mais uma pessoa... Já estamos quase sem comida.
Stu colocou a mão no ombro de Draco, o olhar firme.
— Eu trouxe mantimentos. Dá pra gente dividir por um tempo.
Draco olhou para Edgar novamente, que apenas o encarava com sua expressão neutra. Ele suspirou, resignado.
— Tudo bem. Ele pode ficar. Mas, como todo mundo aqui, segue as minhas regras.
Edgar deu de ombros, como se a situação fosse irrelevante para ele.
— Sem problemas.
Stu pareceu aliviado e apertou o ombro de Draco antes de se afastar.
— Obrigado, Draco. Você está fazendo mais do que deveria, e eu não vou esquecer isso.
Draco não respondeu, apenas olhou para a porta da cozinha, onde sabia que Bonnie e Janet estavam esperando. Sua casa, que antes parecia um lugar isolado, agora estava cheia. E ele sabia que, com cada pessoa a mais, os riscos só aumentavam.
Chapter 7: 7- Paranoia de byron
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# Capítulo 7 - Despedidas e Confrontos
A manhã trouxe uma atmosfera pesada. Stu se aproximou de Draco, enquanto as meninas brincavam no canto da sala. Sua expressão era séria, o que fez Draco imediatamente ficar atento.
— Draco, vou pedir mais um favor — começou Stu.
— Mais um? — Draco arqueou a sobrancelha, cruzando os braços.
Stu respirou fundo, lançando um olhar breve para Edgar, que estava encostado na parede, observando tudo em silêncio.
— Eu e Edgar vamos verificar se minha casa já está segura. Se tudo estiver em ordem, vamos levar as meninas de volta.
Draco olhou para as meninas, que estavam alheias à conversa. Janet estava ajudando Bonnie a desenhar algo no chão com um pedaço de giz que encontraram.
— E se não estiver seguro? — perguntou Draco.
Stu colocou uma mão firme no ombro de Draco.
— Se não estiver, volto pra cá. Mas se estiver... bom, minha casa tem mais recursos pra manter elas seguras. E, convenhamos, você já tem muita coisa pra lidar aqui.
Draco hesitou, mas acabou assentindo.
— Tudo bem. Mas você sabe que vai ser difícil explicar isso pra elas.
— Eu confio em você, Draco.
Stu deu um leve sorriso, mas seus olhos revelavam preocupação. Ele virou-se para as meninas e, ao dizer que precisava sair, Janet e Bonnie imediatamente protestaram.
— Não, papai! Não vai! — Bonnie agarrou a perna de Stu, enquanto Janet ficava em pé, as mãos cerradas ao lado do corpo.
— Por favor, pai! Deixa a gente ir junto! — implorou Janet, a voz embargada.
Draco suspirou e se ajoelhou para ficar na altura delas.
— Meninas, escutem... o pai de vocês precisa ir com o Edgar pra ter certeza de que tudo está seguro. Ele vai voltar logo, prometo.
— Mas e se ele não voltar? — Janet perguntou, as lágrimas escorrendo.
Stu abaixou-se e abraçou as duas, falando com um tom firme e carinhoso:
— Eu vou voltar. Vocês foram fortes até agora, não foram? Quero que continuem assim.
Bonnie soluçou, mas finalmente soltou a perna do pai. Janet, mesmo relutante, enxugou as lágrimas e assentiu, segurando firme a mão da irmã.
Stu e Edgar saíram pela porta, deixando Draco com as meninas. Ele observou os dois caminharem pelo quintal e atravessarem a estrada, desaparecendo na direção da casa de Stu.
Demorou mais do que Draco esperava, mas finalmente viu os dois retornarem. Stu abriu a porta com uma expressão que misturava alívio e exaustão.
— Está tudo seguro. Vou levar as meninas pra casa.
Bonnie imediatamente correu para o pai, abraçando-o com força. Janet, com os olhos ainda brilhando de emoção, se aproximou com passos mais contidos, mas igualmente aliviada.
— Qualquer coisa, você sabe o que fazer — disse Stu, virando-se para Draco. — Se algo acontecer, desligue e ligue a luz da varanda. Vou fazer o mesmo aqui se algo der errado.
Draco assentiu, sentindo um peso no peito ao ver as meninas saírem. Stu pegou Bonnie no colo e segurou a mão de Janet, caminhando com elas para o outro lado da estrada.
Edgar, que estava ao lado de Stu o tempo todo, não disse nada. Quando Stu saiu com as meninas, ele deu alguns passos em direção a Draco, parando ao lado dele.
Os dois se encararam por alguns segundos, como se tentassem entender o que cada um estava pensando. Antes que qualquer palavra fosse dita, a porta do quarto de Byron se abriu com força.
— Esse cara! Esse desgraçado! — gritou Byron, saindo com a bengala na mão e apontando agressivamente para Edgar.
Draco virou-se, confuso.
— Byron, que diabos você está fazendo?
Byron ignorou Draco completamente e focou toda sua raiva em Edgar.
— Ele é um deles! Um desses malditos demônios! Vai nos matar enquanto dormimos!
Edgar, que até então estava com os braços cruzados e uma postura relaxada, inclinou a cabeça levemente, observando Byron com curiosidade.
— É um prazer também te conhecer, Byron — disse Edgar, com um tom de deboche tão sutil que parecia fazer Byron ficar ainda mais irritado.
— Não brinque comigo, garoto! — gritou Byron, agitando a bengala. — Eu conheço o tipo de gente como você! Sempre fingindo ser amigo, até que cravam as garras!
— Byron, chega! — Draco interveio, segurando o braço do homem. — Você nem sabe do que está falando!
— Não sei? — Byron virou-se para Draco, com o rosto vermelho de raiva. — Esse garoto vai nos matar! Você vai ver! Você não sabe nada sobre ele, mas está deixando ele andar por aí como se fosse um de nós!
Edgar, com uma calma quase irritante, caminhou até Byron, parando a poucos passos dele. Sua altura e presença pareciam intimidar o homem, mas Byron continuou encarando-o com fúria.
— Se eu fosse um desses “demônios”, você já estaria morto — disse Edgar, ainda com a voz baixa e controlada.
Byron ficou em silêncio por um segundo, antes de explodir novamente.
— Draco, faça alguma coisa! Expulse ele daqui! Não vou ficar sob o mesmo teto que esse... esse traidor!
Draco sentiu a pressão aumentar. Byron estava descontrolado, e Edgar parecia estar provocando propositalmente.
— Byron, vai pro quarto. Agora! — Draco finalmente gritou, apontando para a porta.
— Você está cometendo um erro, Draco. Um erro mortal. — Byron recuou lentamente, lançando um olhar de desprezo para Edgar antes de entrar no quarto e bater a porta com força.
O silêncio pairou por alguns segundos.
— Ele sempre foi assim? — Edgar perguntou, cruzando os braços novamente.
— Não — Draco suspirou, passando a mão pelo cabelo. — Ele estava bem quando chegou. Mas agora...
Edgar deu de ombros.
— Pessoas reagem de formas diferentes ao medo. Ele escolheu surtar.
Draco olhou para Edgar, tentando decidir se ele era tão indiferente quanto parecia, ou se aquela calma escondia algo mais.
— Se quiser provar que ele está errado sobre você, vai ter que me ajudar a manter essa casa funcionando. Entendido?
Edgar assentiu.
— Justo.
Draco sabia que precisava manter todos juntos, mas sentia que as tensões dentro da casa só estavam começando a crescer.
Chapter 8: 8-conversa na cozinha
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# Capítulo 8 - Revelações e Alívio
Edgar tirou a mochila das costas e a colocou sobre a mesa da cozinha. Draco, que ainda estava tentando processar toda a confusão causada por Byron, observou enquanto Edgar abria o zíper.
— Tenho mantimentos suficientes para aliviar sua preocupação por um tempo — disse Edgar, casualmente.
Ele começou a retirar enlatados e organizá-los sobre a mesa. Draco arregalou os olhos ao ver a quantidade de comida.
— Também trouxe água. — Edgar apontou para as sacolas que haviam ficado no canto da sala, próximas à porta.
O alívio que tomou conta de Draco foi imediato. Ele não tinha percebido o quanto a constante preocupação com comida o estava sobrecarregando. Agora, com essa quantidade inesperada, ele sentiu como se pudesse respirar novamente.
— Isso vai ajudar muito, Edgar. Obrigado.
Edgar deu de ombros, um pequeno sorriso brincando no canto de seus lábios.
— Vamos arrumar isso antes que o Byron volte pra reclamar que a gente ocupa muito espaço.
Draco riu, balançando a cabeça enquanto pegava algumas latas para organizar na despensa.
Enquanto arrumavam os mantimentos, Edgar quebrou o silêncio.
— Você é novo na cidade, não é? Nunca te vi por aqui antes.
— Sou — respondeu Draco. — Cheguei faz pouco tempo. Na verdade, tudo isso começou na minha primeira semana aqui.
Edgar soltou um pequeno assobio, balançando a cabeça com um sorriso de canto.
— Nossa, que bela festa de boas-vindas.
Draco riu, finalmente relaxando um pouco.
— Pois é, né? Se eu soubesse que seria assim, teria escolhido outra cidade.
Edgar começou a contar sobre si mesmo enquanto empilhava algumas garrafas de água.
— Eu moro aqui desde que era criança. Estava fazendo faculdade na cidade grande, mas tirei o fim de semana pra visitar minha família.
Draco ergueu uma sobrancelha, olhando para Edgar com um meio sorriso.
— Então você também não teve muita sorte, né?
Edgar deu de ombros, com um ar despreocupado.
— Parece que estamos no mesmo barco, amigo.
Os dois riram juntos, e por um momento, a tensão que dominava a casa pareceu diminuir. Eles se entreolharam, ambos com um pequeno sorriso. Draco desviou o olhar primeiro, pegando mais uma lata para colocar no armário. Edgar, porém, olhou para a porta da cozinha e franziu a testa.
Edgar levantou um pouco a cortina da janela da porta, e seus olhos se arregalaram brevemente antes de recuar.
— Que diabos é isso? — ele murmurou, mantendo a voz baixa.
Draco se aproximou, curioso. Ele já sabia do que Edgar estava falando.
— Ah, isso. — Draco apontou com o queixo para a criatura parada do lado de fora, quase imóvel. — Está aí faz dias. Todo dia ela aparece e fica olhando pra porta.
Edgar olhou para Draco, que agora estava ao seu lado, espiando pela fresta.
— Isso não te preocupa? — perguntou Edgar, tentando entender a aparente calma de Draco.
— Claro que preocupa — respondeu Draco, com um tom tão direto e sincero que quase soou cômico.
Edgar segurou uma risada, mas o nervosismo estava estampado em seus olhos enquanto ele observava a criatura novamente.
— Eu já vi isso antes. — Edgar se afastou da janela e foi até sua mochila, abrindo um dos bolsos menores.
De lá, ele tirou um caderno com capa preta, decorado com adesivos de bandas de rock que Draco reconheceu imediatamente.
— Gosto das bandas — comentou Draco, apontando para o caderno.
Edgar deu um sorriso pequeno, mas abriu o caderno rapidamente, folheando as páginas até encontrar o que procurava. Ele mostrou a Draco um desenho detalhado, praticamente idêntico à criatura que estava do lado de fora.
— É isso aí. — Edgar apontou para o desenho. — Essa criatura é cega. Usa o olfato e audição pra se guiar.
Draco franziu a testa, interessado.
— Cega? E por que está parada aqui?
— Provavelmente está perdida. Elas geralmente atacam em grupo, mas essa deve ter se separado do resto.
Draco analisou o caderno, percebendo que havia muito mais anotações. Na página seguinte, outro desenho mostrava uma criatura diferente, com informações detalhadas escritas ao lado.
— Você que fez tudo isso? — Draco perguntou, curioso.
Edgar pareceu hesitar por um momento, um pouco envergonhado, mas acabou assentindo.
— Fiquei preso no shopping da cidade por um tempo. Não tinha muito o que fazer, então comecei a estudar as criaturas que apareciam por lá.
Draco folheou mais algumas páginas, impressionado.
— Uau. Stu disse que você era útil, mas isso aqui... — Ele ergueu o caderno. — Isso é muito mais do que eu esperava.
Edgar deu um sorriso meio envergonhado, desviando o olhar.
— Só faço o que posso pra sobreviver.
Depois de terminar de organizar os mantimentos, Draco sentiu o peso do cansaço cair sobre ele como uma avalanche. Ele se espreguiçou, bocejando.
— Acho que vou dormir. — Ele olhou para Edgar. — Você dorme no sofá. Sem sair da casa, sem abrir a porta pra ninguém.
— Entendido, chefe. — Edgar respondeu com um tom divertido, sentando-se no sofá enquanto Draco terminava de ajeitar algumas coisas.
Draco hesitou por um momento, mas finalmente deu boa noite.
— Boa noite, Edgar.
— Boa noite, Draco.
Draco foi para o quarto, sentindo-se um pouco mais seguro do que antes. Edgar, com seu caderno cheio de informações, parecia ser mais útil do que ele imaginava. Mas a imagem daquela criatura do lado de fora ainda pairava em sua mente enquanto ele se deitava, tentando não pensar no que poderia acontecer na manhã seguinte.
Chapter 9: 9-Briga
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# Capítulo 9 - O Confronto Noturno
Draco foi arrancado do sono profundo por gritos e o som de luta vindo da sala. O coração dele disparou enquanto instintivamente pegava a faca que mantinha ao lado da cama. Ele correu pelo corredor, os gritos ficando cada vez mais altos. Quando entrou na sala, a cena diante de seus olhos era tão absurda quanto alarmante.
Byron estava em cima de Edgar, que ainda estava deitado no sofá, segurando os braços de Byron firmemente. Uma faca brilhava na mão do homem mais velho, apontada diretamente para Edgar, que parecia mais irritado do que assustado.
— Solte-me, seu desgraçado! — gritava Byron, enquanto lutava contra o aperto de Edgar.
— Dá pra parar com isso? — Edgar respondeu, com uma calma quase insuportável. — Você vai acordar todo mundo.
Byron ignorou completamente e continuou a lutar, tentando empurrar a faca contra Edgar, que segurava seu pulso com firmeza e o outro braço de Byron com a outra mão. Draco, ainda atordoado, gritou:
— Mas que diabos está acontecendo aqui?!
Edgar virou a cabeça na direção de Draco, sem soltar Byron.
— Ah, finalmente. Seu amigo aqui decidiu que seria divertido me apunhalar enquanto eu dormia.
— Você é um demônio! — Byron rugiu, a voz cheia de ódio. — Eu estou salvando todos nós! Esse maldito vai nos matar!
Draco largou a faca sobre a mesa e correu para puxar Byron de cima de Edgar.
— Para com isso, Byron! Você perdeu a cabeça?!
Com um esforço considerável, Draco conseguiu afastar Byron, que lutou por um momento antes de finalmente ceder, ainda ofegante e segurando a faca. Edgar sentou-se no sofá, se espreguiçando como se nada tivesse acontecido.
— Graças a Deus — disse Edgar, o sarcasmo gotejando de sua voz. — Já estava começando a ficar desconfortável.
— Você não vê? — Byron apontou a faca para Edgar, o olhar enlouquecido. — Esse desgraçado é um deles! Ele vai nos matar enquanto dormimos!
Draco passou as mãos pelo cabelo, tentando não explodir.
— Byron, ele não é um deles. Ele salvou Stu! Ele trouxe comida! Ele está ajudando!
— É tudo um disfarce! — gritou Byron, a raiva crescendo novamente. — Eles são assim! Enganam você, fingem ser seus amigos, e quando você menos espera...
Byron avançou, mas desta vez não em Draco – ele correu direto para Edgar, a faca em punho.
— Byron, para! — Draco gritou, mas Byron não ouviu.
Edgar desviou do ataque com um movimento rápido e fluido, como se estivesse acostumado com esse tipo de coisa. Mas a faca passou perto o suficiente para deixar um corte na bochecha dele. Edgar colocou a mão sobre o ferimento, franzindo a testa com uma expressão confusa, mas ainda neutra.
— Agora você tá me irritando — disse Edgar, calmamente, enquanto olhava para o sangue em seus dedos.
Draco perdeu completamente a paciência.
— Chega! — ele gritou, a voz tão alta que até Byron parou por um momento. — Byron, dá essa porcaria dessa faca agora!
Byron recuou, ofegante, mas ainda segurando a faca.
— Ele é um deles... — Byron murmurou, os olhos ainda fixos em Edgar. — Ele é um deles...
Draco avançou, puxando a faca da mão de Byron antes que ele pudesse reagir.
— Você perdeu a noção do que está fazendo, Byron! — Draco gritou, apontando para ele. — Ele podia ter te matado agora mesmo, mas não fez nada. Quem é o problema aqui?
Byron ficou em silêncio, mas sua expressão ainda era de puro ódio.
Edgar, do sofá, limpou a bochecha com o polegar e olhou para o sangue.
— Ótimo, meu primeiro souvenir desse lugar. — Ele deu um pequeno sorriso debochado, mas havia uma dureza em seu tom que Draco notou.
Draco apontou para Byron novamente.
— Vai pro seu quarto. Agora. Antes que eu perca completamente a paciência com você.
— Mas... — Byron começou, mas Draco o interrompeu.
— Eu disse *vai*!
Byron ficou parado por um momento, tremendo de raiva, mas finalmente recuou. Ele lançou um último olhar de ódio para Edgar antes de se virar e ir para o quarto, batendo a porta com tanta força que o som ecoou pela casa.
Draco respirou fundo, tentando se acalmar enquanto Edgar ainda estava sentado no sofá, esfregando o corte na bochecha.
— Isso foi divertido — comentou Edgar, com um tom seco. — A melhor parte foi quando ele tentou me esfaquear.
— Você está bem? — perguntou Draco, ignorando o sarcasmo.
Edgar deu de ombros.
— É só um arranhão. Nada que eu não possa lidar.
Draco sentou-se em uma cadeira próxima, esfregando o rosto com as mãos.
— Desculpa por isso. Byron está fora de controle.
— Ele tem medo. É normal — disse Edgar, encostando-se no sofá. — Medo deixa as pessoas loucas. Algumas choram. Outras gritam. Outras... tentam esfaquear você.
Draco olhou para Edgar, tentando entender como ele conseguia ser tão indiferente.
— E você? Não sente medo?
Edgar sorriu de lado, quase desafiador.
— Claro que sinto. Mas não adianta demonstrar, né?
Draco ficou em silêncio, pensando na situação absurda em que estavam. Edgar parecia tão seguro de si, mas havia algo nele que Draco ainda não conseguia decifrar.
— Vai descansar. Já foi o bastante por hoje — disse Draco, finalmente se levantando. — Vou tentar limpar isso.
— Você manda, chefe. — Edgar respondeu, jogando-se no sofá como se nada tivesse acontecido.
Draco foi para a cozinha buscar algo para tratar o ferimento, mas sabia que aquele confronto era só o começo de problemas maiores. O medo, afinal, não era apenas uma arma das criaturas lá fora. Ele estava corroendo todos dentro daquela casa.
Chapter 10: 10-Boa noite
Notes:
Mas sem punpun :(
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# Capítulo 10 - Uma Nova Arrumação
Draco estava voltando da cozinha com um pequeno kit improvisado para cuidar do corte de Edgar quando parou no corredor. Seu olhar pousou em Byron, que estava parcialmente escondido, espiando pela fresta da porta do quarto.
Byron observava Edgar com um olhar assustador e ameaçador. Draco sentiu um frio na espinha. Byron parecia estar em um estado de paranoia que só piorava, e Draco percebeu que talvez não fosse seguro deixar Edgar sozinho na sala.
Com isso em mente, Draco entrou na sala com um ar casual, escondendo a preocupação.
— Edgar, vem comigo. Quero falar com você no meu quarto.
Edgar, que estava deitado no sofá com os braços atrás da cabeça, ergueu uma sobrancelha.
— Uau, já? Nem vai me pagar um jantar antes?
Draco parou por um segundo, pego de surpresa pela brincadeira. Ele riu, um riso genuíno que não sentia há dias, mas logo percebeu que estava corando.
— Cala a boca e vem logo.
Edgar deu um sorriso satisfeito e se levantou, seguindo Draco pelo corredor.
Ao entrar no quarto, Edgar parou e olhou ao redor, claramente impressionado.
— Uau... Este lugar grita “Draco” — comentou ele, com um tom de admiração genuína.
Draco fechou a porta, lançando um olhar para Edgar, que continuava explorando o ambiente com os olhos. O quarto de Draco, que até então ficara escondido no meio do caos, era uma extensão óbvia de sua personalidade.
As paredes eram decoradas com pôsteres de bandas de rock, algumas das quais Edgar reconheceu imediatamente. Uma guitarra estava apoiada em um canto, ao lado de um terrário vazio. Uma prateleira carregada de livros de ficção científica e contos medievais ocupava boa parte de uma das paredes, e no canto oposto havia uma TV com um toca-discos ao lado, cercado por discos espalhados.
— Cara, você tem bom gosto. — Edgar se aproximou do toca-discos, os olhos brilhando. — Eu estava procurando um desses faz tempo, mas é quase impossível encontrar agora.
Draco deu um sorriso pequeno, ainda um pouco constrangido.
— Esse aqui era do meu pai. Peguei antes de me mudar.
Edgar olhou para Draco, seus olhos suaves por um momento.
— Boa escolha. Não só pelo valor, mas porque... bom, é algo que vale a pena preservar.
Draco assentiu, sentindo-se um pouco mais relaxado.
— Quer ouvir alguma coisa? — perguntou ele, apontando para os discos espalhados pelo chão.
Edgar deu de ombros, ainda com um sorriso.
— Se não incomodar.
Draco pegou um dos discos, colocou no toca-discos e ajustou a agulha. Logo, o som de uma guitarra suave e melancólica preencheu o quarto. Edgar se sentou no puff próximo à cama, ainda admirando o espaço ao redor.
— Sabe, você não parece o tipo de cara que se preocupa com decoração — comentou Edgar, cruzando os braços.
Draco deu de ombros, sentando-se na beira da cama.
— Acho que as coisas mudaram tão rápido que nem tive tempo de mostrar quem eu sou, sabe?
Edgar assentiu, inclinando-se um pouco para frente.
— Eu entendo. É difícil lembrar quem você era quando o mundo fica tão... caótico.
Por um momento, o quarto ficou em silêncio, exceto pelo som do disco tocando.
Draco quebrou o silêncio, apontando para o puff onde Edgar estava sentado.
— Tá confortável aí?
Edgar riu, ajustando-se no puff.
— Já dormi em lugares bem piores. Isso aqui é um cinco estrelas comparado ao chão de um shopping cheio de criaturas.
Draco deu uma risada, mas havia algo na maneira como Edgar falou que o fez sentir uma pontada de empatia.
— Deve ter sido difícil... ficar preso no shopping.
— Foi. — Edgar deu de ombros, mas evitou olhar diretamente para Draco. — Mas você se adapta, sabe? É isso ou morrer.
Draco ficou em silêncio, sentindo a seriedade do momento. Ele queria perguntar mais, mas também não queria pressionar Edgar.
— Você... sente falta de alguém? — Draco perguntou, hesitante.
Edgar levantou os olhos, claramente pego de surpresa pela pergunta.
— Sinto falta de tudo. — Ele deu um sorriso pequeno e triste. — Mas, principalmente, da vida normal.
Draco assentiu, entendendo exatamente o que Edgar queria dizer.
— Bom, pelo menos temos isso aqui. — Ele apontou para o quarto ao redor. — É um pedaço do que eu era, mesmo que tudo esteja de cabeça para baixo agora.
Edgar sorriu, e os dois ficaram em silêncio novamente, mas desta vez o silêncio parecia mais confortável.
O som do disco foi interrompido quando Edgar olhou para a janela e franziu a testa.
— Draco, você fechou bem essa janela?
Draco olhou para a janela com uma expressão confusa.
— Sim. Por quê?
Edgar se levantou e puxou um pouco da cortina, apenas o suficiente para espiar lá fora. Ele recuou imediatamente, com um pequeno susto.
— Droga.
— O que foi? — Draco perguntou, indo até a janela.
Os dois espiaram pela fresta, e lá estava ela: a mesma criatura que Draco vinha vendo todos os dias. Ela estava imóvel, mas claramente ciente da presença deles.
— Então... isso não te preocupa? — Edgar perguntou, com uma voz cheia de sarcasmo.
— Claro que preocupa — respondeu Draco, no mesmo tom que usara antes.
Edgar engoliu uma risada, mas seu olhar permaneceu fixo na criatura.
— Já te disse que isso parece perdido, né? Elas raramente andam sozinhas.
— É, e isso deveria me fazer sentir melhor?
Edgar voltou para o puff, mas parecia mais sério agora. Ele pegou o caderno novamente, folheou algumas páginas e balançou a cabeça.
— Fique de olho nela. Se ela não for embora em alguns dias, talvez tenhamos que lidar com isso.
Draco assentiu, mas o comentário o deixou tenso.
Draco terminou de ajustar o disco e desligou o toca-discos. Ele olhou para Edgar, que estava deitado no puff com os braços cruzados atrás da cabeça.
— Se precisar de alguma coisa, só me avisa — disse Draco.
— Pode deixar. — Edgar sorriu, fechando os olhos.
Draco se deitou na cama, sentindo a tensão lentamente se dissipar enquanto a exaustão o dominava.
— Boa noite, Edgar.
— Boa noite, Draco.
E assim, o quarto caiu em silêncio, com ambos tentando encontrar algum tipo de paz em um mundo cada vez mais caótico.
Chapter 11: 11-Começo de algo
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# Capítulo 11 - Começo de Dia com Caos
Draco acordou com os primeiros raios de sol filtrando pelas frestas da janela. Ele se espreguiçou na cama, soltando um suspiro pesado, sentindo o peso da exaustão ainda em seus músculos. Quando virou a cabeça, viu Edgar ainda dormindo no puff.
Edgar estava de lado, respirando suavemente, os cabelos bagunçados cobrindo parte do rosto. O corte na bochecha ainda tinha um pouco de sangue seco, mas parecia não incomodá-lo. Draco observou as roupas de Edgar por um momento: uma camisa preta com estampa de um jogo, que Draco reconheceu vagamente, e calças jeans rasgadas – os rasgos pareciam maiores do que deveriam ser originalmente, evidenciando o desgaste das peças.
Enquanto Edgar dormia, a blusa levantou ligeiramente, revelando uma pequena parte de uma tatuagem grande no torso. Draco tentou identificar o que era, mas a posição de Edgar não deixava claro. Ele rapidamente desviou o olhar quando Edgar começou a se mexer.
Edgar bocejou e se sentou no puff, esticando os braços acima da cabeça e soltando um grunhido preguiçoso.
— Bom dia pra você também — comentou Draco, rindo.
Edgar ajeitou o cachecol ao redor do rosto, cobrindo novamente a boca e o nariz.
— Bom dia. Dormiu bem ou ficou acordado pensando no monstro da janela?
Draco balançou a cabeça, ainda sorrindo.
— Tentei não pensar muito nisso. Você?
— Dormi como um bebê. — Edgar deu um sorriso pequeno e ficou de pé. — Tem café nessa casa ou vamos começar o dia na base da paranoia?
Draco riu.
— Vamos ver o que dá pra fazer.
Na cozinha, Draco começou a preparar algo simples para o café da manhã. Ele estava racionando a comida, mas decidiu que, com o estoque renovado, poderia ceder um pouco mais. Edgar se encostou na bancada, observando Draco cortar pão e aquecer um pouco de água.
— Isso é o que chamam de luxo agora? — Edgar perguntou, com um sorriso de canto.
— Bem-vindo ao apocalipse. Aqui só tem pão duro e café solúvel.
Edgar riu baixinho e começou a ajudar a organizar as canecas.
Enquanto os dois montavam a mesa improvisada, Byron entrou na cozinha, sua presença imediatamente trazendo tensão ao ambiente. Ele olhou para Edgar com um olhar penetrante, claramente desconfiado.
— Então você está escondendo ele agora, é? — disparou Byron, apontando para Draco.
Draco revirou os olhos.
— Byron, já começamos com isso de novo?
— Não confio nele! — Byron continuou, ignorando a irritação de Draco. — Você viu o que ele fez ontem à noite. É claro que ele vai acabar matando todos nós.
Edgar suspirou, cruzando os braços e encostando-se na parede.
— Velho, você não cansa desse papo?
Byron apontou o dedo para Edgar, a raiva evidente.
— Você é um demônio! Eu sei disso! Só estou esperando o momento em que você vai mostrar suas verdadeiras intenções.
Draco, cansado da situação, pegou a porção de comida de Byron e colocou na mesa.
— Come logo, Byron. Talvez um pouco de comida te faça parar de falar besteira.
Byron pegou o prato, ainda olhando para Edgar como se ele fosse explodir a qualquer momento.
— Eu não vou baixar a guarda. Estou te avisando, Draco. Esse garoto vai acabar com todos nós.
Edgar, fingindo ignorar, sentou-se à mesa ao lado de Draco e começou a comer.
— Sabe — disse Edgar, casualmente, enquanto mastigava —, talvez ele tenha algum problema mental.
Draco ergueu uma sobrancelha, tentando conter uma risada.
— Tipo o quê?
Edgar inclinou a cabeça, como se estivesse avaliando Byron.
— Paranoia extrema? Ou talvez alguma forma de delírio. Ele é mais velho, pode ser algo neurológico.
— Estou ouvindo vocês! — gritou Byron, apontando o garfo para Edgar.
— Que bom — respondeu Edgar, sem se alterar. — Qual é a sua idade, Byron? Já teve algum problema de saúde? Diabetes, hipertensão, algo assim?
Byron ficou vermelho de raiva.
— Eu não vou responder nada pra você, seu... seu demônio!
Edgar suspirou, apoiando o queixo na mão.
— Tá vendo? Nem pra cooperar ele serve.
Draco, não aguentando mais, bateu a mão na mesa, chamando a atenção de ambos.
— Já chega! Byron, você vai parar de acusar o Edgar sem provas. E você, Edgar, para de provocar ele.
— Só estou analisando o paciente — murmurou Edgar, com um tom de falsa inocência.
— Chega! — Draco repetiu, a voz mais firme.
O silêncio finalmente caiu na cozinha. Byron terminou de comer rapidamente e saiu, ainda murmurando coisas sobre demônios e conspirações.
Edgar olhou para Draco e deu um sorriso pequeno.
— Ele realmente não gosta de mim, hein?
— Ele não gosta de ninguém — respondeu Draco, cansado.
Os dois ficaram em silêncio por um momento antes de Edgar mudar de assunto.
— Então... o que a gente faz agora?
Draco suspirou, apoiando os cotovelos na mesa.
— Sobrevive.
Edgar riu, mas havia algo de sério em seu olhar enquanto encarava Draco.
— Justo.
O resto da manhã foi silencioso, mas o ambiente parecia um pouco mais leve sem Byron na sala. Draco sabia que precisaria lidar com o velho novamente em breve, mas, por enquanto, aproveitou o momento de paz ao lado de Edgar.
Chapter 12: 12-Visita supresa
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# Capítulo 12 - Visitante à Porta
O som da batida na porta quebrou o silêncio pesado da casa. Draco e Edgar se entreolharam instantaneamente, a tensão entre eles se tornando palpável.
— Você ouviu isso, né? — perguntou Edgar, com a voz baixa, já pegando o cabo de uma vassoura que estava encostado em um canto da cozinha.
Draco assentiu e pegou sua faca, segurando-a com firmeza enquanto ambos caminhavam em direção à porta. Cada passo parecia mais pesado, como se o chão estivesse conspirando contra eles.
Ao chegar à porta, Draco se inclinou para olhar pelo olho mágico. Do lado de fora, viu uma mulher ruiva baixa, aparentando ter pouco mais de 20 anos. Ela estava com as roupas sujas e os cabelos desgrenhados, e lágrimas escorriam pelo rosto.
— Por favor... — disse a mulher, a voz trêmula. — Por favor, me ajudem.
Draco hesitou, a mão já se aproximando da maçaneta.
— Quem é você? — ele perguntou, tentando soar firme, mas a compaixão era audível em sua voz.
— Meu nome é Bea — respondeu ela, soluçando. — Eu... minha casa foi atacada. Eu consegui fugir, mas... — Ela começou a chorar mais alto. — Por favor, eu não sei mais o que fazer. Eu só preciso de um lugar seguro!
Draco sentiu o peito apertar. A história dela parecia genuína, e ele sabia como era estar desesperado por ajuda. Sua mão alcançou a maçaneta, mas, antes que pudesse girá-la, Edgar segurou seu pulso.
— Espera. — A voz de Edgar era firme, mas não alta.
— O que foi? Ela precisa de ajuda! — Draco respondeu, confuso, olhando para Edgar.
Edgar olhou pelo olho mágico por um breve instante antes de se virar para Draco.
— Pergunta por que as unhas dela estão cheias de terra.
Draco franziu a testa.
— O quê?
— Faz o que eu tô dizendo — insistiu Edgar, os olhos fixos na porta.
Draco respirou fundo e, hesitante, perguntou:
— Bea... por que suas unhas estão sujas de terra?
Do outro lado da porta, a mulher ficou em silêncio por um momento. Quando respondeu, sua voz parecia diferente, mais grave.
— Eu... eu... estava me escondendo! Eu cavei... uma toca para me proteger.
Draco arregalou os olhos, finalmente percebendo o detalhe que Edgar havia notado. As unhas dela estavam imundas, cobertas por uma camada espessa de terra.
— Não abre essa porta. — Edgar falou de forma definitiva, colocando-se entre Draco e a entrada.
A expressão de Bea mudou completamente. O choro parou de repente, e uma risada rouca e distorcida ecoou do outro lado.
— Deixe-me entrar, Draco. — A voz dela agora era gutural, quase animalesca.
A porta balançou violentamente quando Bea começou a bater nela com força.
— Abra a porta! — ela rugiu, a voz alternando entre o tom grave e um choramingo assustadoramente infantil. — Por favor, eu só quero ajuda!
Draco deu um passo para trás, o coração disparado. Edgar puxou-o pelos ombros, colocando-se à frente.
— Fica atrás de mim — disse Edgar, segurando o cabo de vassoura com as duas mãos, pronto para atacar se fosse necessário.
A criatura continuava a bater na porta, cada golpe ressoando como um trovão na casa.
— Você não vai entrar — disse Edgar, sua voz baixa mas firme.
O som de batidas diminuiu, e a voz do outro lado voltou a soar frágil, quase chorosa.
— Por favor... eu só estou com medo.
Draco tentou falar, mas Edgar levantou a mão, interrompendo-o.
— Não responde. É isso que elas querem.
Por alguns minutos, a criatura continuou a murmurar e bater ocasionalmente, mas, eventualmente, tudo ficou em silêncio.
Edgar respirou fundo, abaixando o cabo de vassoura.
— Acho que ela foi embora.
— Foi embora mesmo? — Draco perguntou, ainda tremendo.
Edgar não respondeu imediatamente. Ele foi até a janela da sala e levantou a cortina levemente para espiar. Draco o seguiu, olhando para a escuridão do lado de fora.
Foi então que Edgar congelou.
— Droga.
— O que foi agora? — Draco perguntou, o pânico crescendo em sua voz.
Edgar fechou a cortina rapidamente e se virou para Draco, sua expressão mais séria do que nunca.
— Lembra da criatura que você me mostrou, aquela que fica aqui todo dia?
— Sim...
— Ela não estava perdida. — Edgar esfregou a nuca, claramente incomodado. — O grupo dela tá aqui. Eles estavam esperando a chance de alguém abrir a porta.
Draco sentiu um calafrio percorrer sua espinha.
— Como você sabe?
— Vi pelo menos quatro deles lá fora. Estão escondidos, mas não muito bem. — Edgar suspirou, pegando o caderno da mochila. — É isso que elas fazem. Isolam a vítima, cercam, e aí atacam em massa.
Draco passou as mãos pelo cabelo longo, tentando processar o que acabara de ouvir.
— Então... estamos cercados?
Edgar fechou o caderno, colocando-o de lado.
— Mais ou menos. Elas não vão entrar à força se não precisarem. O truque é não dar nenhuma abertura.
Os dois ficaram em silêncio por um momento, o som do vento do lado de fora parecendo mais ameaçador do que nunca.
— Obrigado... por não me deixar abrir a porta — disse Draco, finalmente.
Edgar deu um sorriso pequeno, mas cansado.
— Sem problemas. Além disso, o apocalipse é chato sem você por perto.
Draco riu nervosamente, sentindo um pouco do peso em seus ombros diminuir.
Mais tarde, os dois se sentaram na sala, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Draco olhou para Edgar, que estava examinando o caderno novamente, e sentiu uma onda de gratidão. Ele não sabia como teria lidado com aquela situação sozinho.
— Você acha que elas vão tentar de novo? — Draco perguntou.
— Com certeza — respondeu Edgar, sem levantar os olhos do caderno. — Mas agora sabemos o que esperar.
Draco assentiu, sentindo o medo ainda presente, mas agora acompanhado de uma determinação renovada. Eles estavam cercados, mas não vencidos. Ainda não.
Chapter 13: 13-se conhecendo
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# Capítulo 13 - Confissões e Novas Ameaças
O silêncio na sala era quase palpável, quebrado apenas pelo som leve do vento lá fora. Edgar fechou o caderno e o colocou de lado, mas seu olhar permaneceu em Draco.
Draco, ainda tenso pela tentativa de invasão, estava com os braços cruzados, olhando para o chão, perdido em pensamentos.
Edgar se levantou do sofá e sentou-se ao lado de Draco na mesa, apoiando o rosto em uma das mãos enquanto o observava.
— E aí, Draco... o que você fazia antes disso tudo? — perguntou Edgar, a voz suave mas curiosa. — Quero dizer, pelo o que você estava lutando? Quais eram os seus sonhos?
Draco piscou, saindo de seus devaneios. A pergunta parecia ter vindo de lugar nenhum, mas ao mesmo tempo, ele percebeu que nunca haviam falado sobre isso.
Ele suspirou, apoiando a cabeça na mesa, o que o fez relaxar um pouco, mesmo que o peso do momento ainda estivesse presente. Olhou de lado para Edgar, que continuava esperando, os olhos fixos nele.
— Antes disso tudo? — Draco começou, a voz quase um murmúrio. — Eu... eu tinha acabado de me mudar pra cá. Estava tentando começar de novo.
Edgar assentiu, encorajando-o a continuar.
— Eu tinha uma banda famosa na cidade grande — Draco continuou, esboçando um sorriso nostálgico. — A gente não é era muito famoso, mas éramos bons tocamos em vários clubes, festas e eventos grandes.
— Você tocava o quê? — Edgar perguntou, genuinamente interessado.
— Guitarra. E às vezes eu cantava. — Draco deu uma risada curta. — Me achava o máximo.
Edgar riu também, o som leve ajudando a aliviar o clima.
— E o que aconteceu com a banda?
— A vida aconteceu. — Draco deu de ombros. — Cada um foi pra um lado. Decidi tentar a vida como compositor e cantor solo. Até fiz faculdade de música.
— Uau. — Edgar apoiou o queixo na mão. — Você realmente é dedicado.
Draco deu um sorriso pequeno, mas havia tristeza em seu olhar.
— Antes de vir pra cá, eu estava terminando meu TCC. Faltava tão pouco... Mas a vida na cidade grande estava me consumindo. Meus pais, meus irmãos, eles ainda estão lá. Eu espero que estejam bem.
Edgar ficou em silêncio por um momento, absorvendo tudo o que Draco havia compartilhado.
— E por que veio pra cá? — perguntou, finalmente.
— Precisava de um recomeço. — Draco olhou para a mesa, a voz mais baixa. — A cidade grande era barulhenta demais, estressante demais. Aqui parecia o lugar perfeito pra tentar algo novo.
— E então o apocalipse começou. — Edgar completou com um sorriso irônico.
Draco deu uma risada curta.
— É, que jeito de começar de novo, né?
— E o que mais? — Edgar perguntou, inclinando-se ligeiramente.
— Ah... tinha meu lagarto. — Draco sorriu ao lembrar. — Adotei ele quando era mais novo. Não consegui trazê-lo pra cá antes de tudo isso. Espero que meus irmãos tenha cuidado bem dele.
— Qual era o nome dele?
— Spike.
Edgar sorriu.
— Nome perfeito pra um lagarto.
Draco riu também, olhando para Edgar.
— E você? Antes disso tudo?
— Nada tão impressionante quanto você. — Edgar deu de ombros. — Faculdade de enfermagem, lembra? Meu objetivo era só sobreviver aos estudos.
— Você tá sendo modesto — disse Draco, o sorriso ainda no rosto.
Edgar balançou a cabeça, mas havia um brilho em seus olhos enquanto olhava para Draco.
— Sabe, eu gostaria de ter te conhecido antes disso tudo.
Draco ficou surpreso por um momento, mas o sorriso em seu rosto se alargou.
— Eu sinto o mesmo.
Os dois se encararam por alguns segundos, um silêncio confortável pairando entre eles. Parecia que, por um instante, o mundo lá fora não existia.
O som estridente do telefone fixo quebrou o momento. Draco se levantou rapidamente, ainda um pouco atordoado.
— Deve ser o Stu. — Ele foi até o aparelho e atendeu.
— Draco? — A voz de Stu estava baixa e apressada.
— Sou eu. O que aconteceu?
— As coisas estão piorando. — Stu respirou fundo antes de continuar. — Descobrimos que essas criaturas... estão aprendendo a abrir coisas. Portas, janelas, até armários. Não sei como, mas estão ficando mais espertas.
Draco sentiu o estômago revirar.
— Você tá dizendo que...
— Quero que você tranque absolutamente tudo. Faça barricadas onde puder. Não confie nem nas travas mais seguras.
Draco olhou para Edgar, que estava sentado à mesa, atento à conversa.
— Tá bom. Vou fazer isso agora.
— E Draco... — Stu fez uma pausa. — Fica de olho. Elas não desistem fácil.
O telefone ficou mudo, e Draco colocou o aparelho de volta no gancho. Ele respirou fundo, tentando processar a informação.
— Más notícias? — Edgar perguntou.
Draco assentiu, explicando rapidamente o que Stu havia dito. Edgar suspirou, pegando o caderno novamente.
— Então, o jogo ficou ainda mais complicado.
— Vamos começar a reforçar as coisas agora — disse Draco, já se levantando.
Edgar se levantou também, os dois trocando um olhar sério.
— Não vamos deixar essas coisas entrarem. — Edgar sorriu de lado. — Afinal, ainda quero ouvir mais histórias da sua banda de garagem.
Draco sorriu, apesar do medo crescente.
— E eu quero saber como você se safou no shopping.
Com essa promessa mútua, os dois começaram a trabalhar, prontos para enfrentar o que viesse a seguir.
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# Capítulo 14 - A Traição de Byron
Draco e Edgar estavam concentrados na tarefa de montar as barricadas pela casa, seguindo o alerta de Stu. Eles haviam empurrado móveis pesados para perto das portas e estavam improvisando proteções para as janelas com pedaços de madeira e ferramentas encontradas no armário de mantimentos.
Edgar, que estava usando força para ajustar uma tábua em uma janela, virou-se para Draco com um sorriso cansado.
— Não é exatamente o tipo de treino que eu gosto, mas é melhor do que morrer.
Draco riu levemente enquanto segurava uma outra tábua para pregar na porta da cozinha.
— Você deveria tentar olhar pelo lado positivo. Estamos fortalecendo o braço.
— Ótimo, porque é só isso que eu tenho de bom no momento. — Edgar piscou, ajustando o cachecol em volta do rosto.
Eles riram baixinho, o clima quase descontraído, mas a paz foi interrompida por um som inesperado.
O barulho de passos.
Draco virou-se instintivamente, mas antes que pudesse reagir, viu Byron avançar com um martelo em mãos, os olhos ardendo de raiva.
— É agora, seu desgraçado! — gritou Byron, levantando o martelo em direção à cabeça de Edgar.
— Cuidado! — Draco gritou, assustado.
Edgar percebeu o movimento no último segundo e se jogou para o lado, caindo em cima de Draco para escapar do golpe. O martelo passou no ar com um som estridente, batendo com força contra o chão de madeira.
— Que porra é essa, Byron?! — Draco gritou, sua voz cheia de raiva e choque.
Edgar levantou-se rapidamente, rindo como se tudo fosse uma piada.
— Você tem que ser mais rápido que isso, vovô. Mas já que está com um martelo na mão, que tal nos ajudar a montar as barricadas?
Byron ficou ainda mais furioso, o rosto vermelho como uma pimenta.
— Acha que isso é brincadeira, moleque?! Eu sei o que você é!
Ele levantou o martelo novamente, mas desta vez seu alvo parecia ser tanto Edgar quanto Draco.
— Byron, para! — Draco tentou intervir, mas o martelo passou perto demais de seu rosto, o som cortando o ar.
Antes que o golpe pudesse atingi-lo, Edgar se moveu rapidamente, colocando o braço na frente de Draco para bloquear o ataque. O martelo acertou em cheio o antebraço de Edgar, o som do impacto ecoando pela sala.
Draco arregalou os olhos, o coração disparado.
— Edgar!
Edgar, no entanto, permaneceu imóvel, como se nada tivesse acontecido. O cabelo bagunçado e o cachecol cobriam a maior parte de seu rosto, mas Draco viu um brilho irritado em seus olhos.
— Ok, agora chega. — A voz de Edgar era fria, quase ameaçadora.
Ele agarrou o martelo com a mão livre e empurrou Byron com brutalidade para longe, fazendo Byron recuar alguns passos.
— Em vez de ficar tentando matar o seu próprio time, que tal usar esse martelo pra ajudar nas barricadas, hein?
Byron hesitou, mas não atacou novamente.
— Você pode me enganar, moleque, mas eu sei a verdade. Eu sei o que você é.
— Sim, Byron, eu sou um cara que está tentando salvar sua bunda. — Edgar apontou para uma pilha de tábuas encostadas na parede. — Agora, pega essas tábuas e monta alguma coisa útil antes que as criaturas do lado de fora venham te agradecer por me atrapalhar.
Byron olhou para Edgar com uma expressão de puro ódio, mas, depois de alguns segundos, começou a resmungar enquanto se afastava.
— Isso ainda não acabou...
Draco deixou escapar um suspiro aliviado, mas seu olhar imediatamente foi para Edgar.
— Você tá bem? Ele te acertou!
Edgar olhou para o braço onde o martelo havia batido. Uma mancha roxa já estava começando a aparecer, mas ele apenas deu de ombros.
— Não foi tão ruim. Eu já passei por coisas piores.
— Edgar, isso não é normal. — Draco se aproximou, olhando mais de perto para o ferimento. — Você deveria pelo menos colocar gelo nisso.
Edgar ergueu uma sobrancelha, dando um sorriso de lado.
— Vai ter que me carregar até o freezer, então.
Draco revirou os olhos, mas não conseguiu evitar um pequeno sorriso.
— Você é impossível.
— Só estou tentando manter o clima leve, chefe. — Edgar piscou para ele e voltou a trabalhar na barricada como se nada tivesse acontecido.
Enquanto terminavam de reforçar as janelas e portas, Draco não conseguia tirar a cena da cabeça. O ataque de Byron não apenas o assustara, mas também levantara uma questão perturbadora: até onde o velho estava disposto a ir com sua paranoia?
Edgar, por outro lado, parecia lidar com tudo de maneira surpreendentemente calma. Mesmo com o braço machucado, ele continuava trabalhando, movendo móveis e pregando tábuas sem demonstrar sinais de dor.
— Você deveria descansar — Draco comentou, enquanto Edgar ajustava uma cadeira para bloquear a entrada da cozinha.
— Descansar é coisa de quem não tem criaturas tentando entrar pela porta da frente. — Edgar sorriu, mas Draco podia ver o cansaço em seus olhos.
Draco suspirou, encostando-se na parede por um momento.
— Isso tudo... está me enlouquecendo.
— Você não está sozinho nessa, Draco. — Edgar parou o que estava fazendo e olhou para ele. — Eu sinto o mesmo. Mas, se a gente surtar agora, estamos ferrados.
Os dois se encararam por alguns segundos, o silêncio entre eles carregado, mas estranhamente reconfortante.
Finalmente, Edgar deu um sorriso pequeno.
— Vamos terminar isso. Não quero que o Byron use o martelo pra outra coisa que não seja se proteger.
Draco riu baixinho, balançando a cabeça.
— Você é uma peça, Edgar.
— E você ainda precisa melhorar nas barricadas, então acho que nos equilibramos.
O trabalho continuou, mas a tensão entre eles parecia ter se transformado em algo mais forte – uma determinação compartilhada de que, acontecesse o que acontecesse, eles cuidariam um do outro.
Chapter 15
Notes:
Eu tô sem criatividade para nome :(
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# Capítulo 15 - Agradecimentos e Culpa
Draco e Edgar terminaram de montar as barricadas pouco antes de anoitecer. O cansaço estava estampado no rosto de ambos, mas havia uma leve sensação de alívio por terem reforçado as defesas. Byron, por sua vez, observava à distância, como se estivesse esperando outra oportunidade para agir.
Agora, sentados à mesa, Draco serviu uma refeição simples com o que tinha disponível. Ele ainda estava racionando, mas tentou deixar a comida um pouco mais substancial após o dia caótico.
Enquanto comiam, Draco percebeu que Edgar olhava repetidamente para o braço que fora atingido pelo martelo. O hematoma estava mais feio do que ele havia imaginado: a área estava inchada, e o roxo profundo parecia se espalhar. Edgar mantinha a expressão tranquila, mas era evidente que o ferimento o incomodava.
Byron, sentado do outro lado da mesa, parecia satisfeito. Ele mastigava lentamente, lançando olhares discretos para Edgar, como se estivesse orgulhoso do estrago que havia feito. Draco apertou os lábios, tentando conter a raiva crescente.
Ele olhou para o braço de Edgar novamente, lembrando-se do som do impacto do martelo. Se não fosse por Edgar, aquele golpe teria acertado seu rosto. A ideia de como isso poderia ter terminado o deixou nauseado.
Draco sentiu um nó na garganta. Desde que Edgar chegara, Byron não parava de atacá-lo, tanto verbal quanto fisicamente. E Draco, embora estivesse do lado de Edgar, sentia que não tinha feito o suficiente para proteger o jovem.
Quando estava prestes a dizer algo, Byron se levantou da mesa sem uma palavra, levando o prato vazio. Ele murmurou algo inaudível enquanto saía da sala, mas Draco ignorou.
### Um Gesto de Cuidados
Edgar observou Byron sair com um olhar levemente divertido, mas cansado. Assim que ele sumiu pelo corredor, Edgar empurrou a cadeira para trás e foi até a geladeira.
— O que você tá fazendo? — perguntou Draco, ainda tenso.
— Pegando gelo. — Edgar abriu o freezer, tirando alguns cubos e colocando-os em um pano de cozinha. Ele voltou para sua mochila e pegou uma bandana preta cheia de estampas de caveiras. — Não vou deixar esse braço virar um acessório permanente de Halloween.
Draco assistiu enquanto Edgar improvisava uma compressa e usava a bandana para fazer uma pequena imobilização no antebraço.
— Pronto. Não é a solução mais profissional, mas vai funcionar. — Edgar ergueu o braço com a compressa, tentando parecer despreocupado.
Draco abriu a boca para falar, mas Edgar levantou a mão boa, interrompendo-o.
— Se vai pedir desculpas, já vou avisando: não precisa.
— Mas, Edgar...
— Não, sério. — Edgar o encarou, os olhos firmes, mas não duros. — Você não tem culpa de nada disso, Draco.
Draco abaixou o olhar para a mesa, sentindo a culpa pesar ainda mais em seus ombros.
— Eu deveria ter feito algo antes. Desde que você chegou, o Byron não para de te chamar de demônio. Eu devia ter controlado isso.
Edgar suspirou e puxou uma cadeira para se sentar novamente, apoiando o braço machucado na mesa.
— Quem devia pedir desculpas é aquele velhote. — Edgar deu uma risada curta e sem humor. — Você viu o que ele fez hoje. Se aquele martelo tivesse acertado você...
Draco sentiu um calafrio ao lembrar.
— Eu estaria ferrado.
— Mais do que ferrado. Ele teria destruído seu rosto. — Edgar apontou para o próprio rosto com a mão boa. — E isso é algo que não dá pra consertar com gelo.
Draco soltou um riso nervoso, mas ainda parecia abatido.
— Sério, Edgar. Eu devia ter impedido isso antes de chegar a esse ponto.
Edgar inclinou-se para frente, apoiando o queixo na mão enquanto olhava para Draco.
— Você não pode controlar o que ele pensa. Byron tá surtado. Não importa o que você diga ou faça, ele vai continuar achando que sou algum tipo de demônio.
Draco ficou em silêncio por um momento, mas finalmente levantou o olhar para Edgar.
— Mesmo assim, eu sinto muito.
Edgar sorriu de lado, balançando a cabeça.
— Tá bom. Desculpas aceitas, chefe. Mas só com uma condição.
— Qual?
— Da próxima vez que o Byron tentar me atacar, você me deixa lidar com ele. — Edgar piscou, a voz carregada de sarcasmo. — Prometo não usar o martelo dele contra ele mesmo... muito.
Draco soltou uma risada curta, o peso no peito aliviando um pouco.
— Você é impossível, sabia?
— Eu prefiro o termo “indispensável”. — Edgar inclinou-se para trás na cadeira, os olhos brilhando com humor.
### Reflexão e Conexão
A conversa continuou por mais alguns minutos, os dois trocando histórias e tentando afastar o peso da situação em que estavam. Apesar do cansaço, Draco sentiu que aquele momento era necessário.
Edgar olhou para o braço novamente, examinando o hematoma.
— Vai ficar bonito. Talvez até um pouco de roxo com amarelo... bem artístico.
— Você não sente dor? — Draco perguntou, genuinamente curioso.
— Claro que sinto. — Edgar deu de ombros. — Mas não sou do tipo que fica reclamando. Além disso, é melhor eu estar focado nas barricadas do que no meu braço.
Draco observou Edgar por um momento, admirando a resiliência dele.
— Você é realmente algo, Edgar.
Edgar ergueu uma sobrancelha, o sorriso brincando nos lábios.
— E você só percebeu agora?
Os dois riram, e Draco sentiu, talvez pela primeira vez desde o início do caos, que estava realmente seguro. Mesmo com todas as dificuldades, Edgar fazia ele acreditar que podiam superar qualquer coisa.
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# Capítulo 16 - Noite de Febre
Draco e Edgar estavam deitados em seus respectivos lugares, tentando descansar após o longo e tenso dia. Draco estava na cama, enquanto Edgar se ajeitava no puff, tentando encontrar uma posição confortável.
O silêncio da noite era pesado, mas não absoluto. Draco começou a perceber o som suave de Edgar se remexendo constantemente. Ele virou-se para olhar o amigo e notou que Edgar estava deitado de lado, segurando o braço machucado com a mão boa.
Mesmo à meia-luz, Draco viu Edgar fechar os olhos com força, a mandíbula tensa enquanto mordia os lábios para não fazer barulho. A dor estava evidente, mesmo que Edgar tentasse esconder.
Draco sentou-se na cama, preocupado.
— Edgar, você tá bem?
Edgar abriu os olhos semicerrados, sua expressão cansada e embargada.
— Tô bem... volta a dormir, Draco. — A voz de Edgar era baixa, quase um sussurro, mas cheia de um esforço evidente para soar casual.
Draco, no entanto, não comprou a desculpa. Levantou-se rapidamente e foi até Edgar, ajoelhando-se ao lado dele.
— Deixa eu ver.
Antes que Edgar pudesse protestar, Draco colocou a mão na testa dele.
— Meu Deus, Edgar, você tá pegando fogo! — Draco exclamou, o tom de voz deixando clara sua preocupação.
Edgar piscou lentamente, como se estivesse tentando entender as palavras de Draco.
— Tá tudo bem... — murmurou, a voz arrastada pela febre. — Provavelmente só uma infecção... nada demais.
— Infecção?! — Draco arregalou os olhos, ainda mais alarmado.
Edgar suspirou, os olhos semicerrados enquanto explicava com dificuldade:
— Mesmo sem um corte... o impacto pode causar microabrasões... bactérias entram... golpe deve ter acertado alguma membrana...
Draco balançou a cabeça, frustrado.
— Você tá literalmente descrevendo uma infecção e tá me dizendo que tá tudo bem?!
— Porque tá... — Edgar tentou sorrir, mas a dor estava clara em sua expressão.
Draco franziu a testa, determinado.
— Não, não tá. Deita na cama.
Edgar negou com um movimento lento da cabeça.
— Não precisa. Fica aí. Você precisa dormir.
Draco respirou fundo, tentando manter a paciência.
— Você é impossível.
Antes que Edgar pudesse dizer mais alguma coisa, Draco o pegou no colo como se fosse uma princesa.
— O que... — Edgar tentou protestar, os olhos arregalados em surpresa.
— Fica quieto. — Draco respondeu, firme, mas ainda com um tom cuidadoso.
Edgar estava mole demais pela febre para resistir. Ele suspirou, resignado, enquanto Draco o carregava até a cama.
— Você tá aproveitando muito isso, hein? — Edgar murmurou, a voz carregada de um humor cansado.
— Cala a boca. — Draco respondeu, tentando esconder o pequeno sorriso que apareceu em seu rosto.
Ele colocou Edgar de um lado da cama e o ajeitou com cuidado, cobrindo-o com o cobertor.
— Fica aí. Não se mexe. — Draco disse, com um tom de comando.
Edgar deu um sorriso pequeno, mas os olhos já estavam fechando de novo.
Draco foi até a cozinha, pegando uma bacia e enchendo-a com água gelada. Ele encontrou um pano limpo e o mergulhou na água antes de torcê-lo levemente. Enquanto estava na cozinha, parou por um momento e olhou para a janela.
Ele puxou a cortina levemente e observou a escuridão lá fora. As criaturas que antes pareciam sempre espreitar não estavam lá. O vazio era quase mais inquietante do que vê-las.
— Elas estão esperando. — Draco murmurou para si mesmo, fechando a cortina com cuidado antes de voltar ao quarto.
Quando entrou, Edgar ainda estava deitado, respirando de forma pesada. Draco aproximou-se da cama e colocou o pano úmido na testa dele. Edgar fez uma careta breve com o choque do frio, mas relaxou logo em seguida.
— Isso deve ajudar um pouco. — Draco disse, mais para si mesmo do que para Edgar.
Edgar abriu os olhos lentamente, observando Draco.
— Você é muito gentil pra alguém que vive com um maluco que quer te matar e criaturas à espreita.
Draco bufou, mas havia um sorriso em seu rosto.
— E você fala demais pra alguém com febre.
Edgar sorriu de lado, os olhos já começando a fechar novamente.
— Obrigado, Draco.
— Vai dormir, Edgar.
Draco sentou-se ao lado da cama, observando Edgar adormecer. Ele sabia que a febre era um sinal de algo mais sério, mas, por enquanto, estava determinado a manter Edgar confortável e seguro.
Enquanto o som da respiração de Edgar se tornava mais constante, Draco olhou para a barricada na porta e para a janela coberta, sentindo o peso de tudo o que estava acontecendo.
— Vamos superar isso. — murmurou para si mesmo, enquanto continuava vigilante ao lado do amigo.
Chapter 17
Notes:
(See the end of the chapter for notes.)
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# Capítulo 17 - O Bilhete de Edgar
Draco acordou com a luz suave da manhã entrando pela janela. Ele se espreguiçou, mas o movimento foi interrompido por uma sensação de inquietação. Algo estava errado. Ele olhou para o lado e viu que o lugar onde Edgar havia dormido na noite anterior estava vazio.
— Edgar? — chamou, a voz ainda rouca de sono.
Não houve resposta. Draco sentiu um calafrio percorrer sua espinha enquanto seu olhar se fixava em algo sobre o puff: o caderno de Edgar e um bilhete dobrado ao lado.
Ele se levantou apressadamente, pegou o bilhete e começou a ler.
> *“Draco, não surta, tá? Eu fui procurar mantimentos médicos. Usei os últimos de suas coisas pra fazer uma nova bandagem e não quero gastar mais nada. Prometo que volto antes do entardecer. Se, por algum motivo, eu não voltar no tempo planejado, deixei meu caderno pra você. Ele tem informações que podem te ajudar a se localizar com os monstros e a entender como lidar com eles.
>
> Não se preocupe. Eu dou um jeito. Tchau por enquanto.
>
> Edgar.”*
A música baixa tocando no toca-discos chamou a atenção de Draco. Ele se virou e percebeu que Edgar havia ligado o aparelho antes de sair. "Party Number 1", do Arctic Monkeys, tocava suavemente no fundo, preenchendo o quarto com uma melodia melancólica.
Draco terminou de ler o bilhete, sentindo o coração bater mais rápido.
— Droga, Edgar! — Ele murmurou, sua mente já cheia de cenários terríveis.
Edgar estava machucado, com o braço ferido, e agora estava lá fora, sozinho, no meio de um mundo cheio de criaturas esperando para atacar qualquer deslize.
Ele saiu do quarto apressado, quase tropeçando enquanto corria para a sala, na esperança desesperada de que Edgar ainda estivesse lá.
— Por favor, esteja aqui, Edgar... — ele implorou mentalmente.
Mas quando chegou à sala, tudo o que encontrou foi Byron, sentado confortavelmente no sofá, assistindo à TV com um sorriso satisfeito.
— Finalmente! — exclamou Byron, nem se dando ao trabalho de olhar para Draco. — O demônio foi embora. Agora estamos seguros.
Draco parou por um momento, tentando processar as palavras de Byron. Mas logo a raiva subiu à superfície.
— Você só pode estar brincando. — Draco caminhou até Byron, a voz subindo a cada palavra. — Edgar saiu, machucado, no meio do caos, e tudo o que você consegue pensar é nessa sua paranoia maluca?!
Byron deu de ombros, ainda sem tirar os olhos da TV.
— Eu avisei que ele era perigoso. Se ele foi embora, melhor pra nós.
— Melhor pra nós? — Draco gritou, o tom cheio de incredulidade. — Você quase esmagou o braço dele com um martelo, e ele ainda assim salvou a porra da minha vida! Agora ele tá lá fora, correndo risco, e você... você não dá a mínima!
Byron finalmente olhou para Draco, sua expressão de tédio mudando para desdém.
— Ele fez isso porque queria te enganar. Demônios fazem isso. Ele não ia durar muito tempo aqui de qualquer jeito.
— Você é inacreditável. — Draco balançou a cabeça, dando um passo para trás.
Ele queria gritar mais, discutir até fazer Byron entender o quanto Edgar era importante. Mas ao olhar nos olhos de Byron, ele percebeu algo que o desarmou completamente: Byron não se importava. Ele nunca se importou.
— Sabe de uma coisa? — Draco disse, a voz mais fria agora. — Não vou perder mais meu tempo tentando falar com você.
Byron deu de ombros novamente e voltou sua atenção para a TV.
Draco virou-se e foi para a cozinha, o caderno de Edgar ainda em suas mãos.
Sentado à mesa da cozinha, Draco abriu o caderno com cuidado. Ele sabia que Edgar o havia deixado como uma ferramenta, um guia, mas não pôde evitar se sentir como se estivesse invadindo algo pessoal.
As primeiras páginas eram cheias de anotações detalhadas sobre as criaturas: desenhos de cada tipo, comportamentos observados, estratégias de sobrevivência. Edgar tinha uma mão firme e criativa, e seus esboços eram impressionantemente precisos.
Mas ao virar mais páginas, Draco encontrou algo que o fez parar. Entre as anotações, havia desenhos aleatórios de paisagens e lugares. Um shopping abandonado, uma praça com árvores retorcidas, uma loja de discos coberta de poeira. Todos detalhados com um talento que Draco não sabia que Edgar possuía.
E então ele encontrou algumas páginas que pareciam diários. Pequenos parágrafos escritos em caligrafia rápida, descrevendo pensamentos e sentimentos:
> *“Hoje fiquei preso no shopping. As criaturas estavam por toda parte, mas consegui me esconder. Engraçado como o silêncio pode ser tão ensurdecedor.”*
> *“Conheci Stu. Ele parece confiável, mas, sinceramente, quem é confiável nesse mundo agora? Talvez eu devesse continuar sozinho...”*
> *“Draco é diferente. Não sei exatamente como, mas ele é. Parece alguém que ainda acredita, mesmo quando tudo está desmoronando.”*
Draco sentiu um nó na garganta ao ler a última frase. Ele continuou virando as páginas, admirando os desenhos e as palavras de Edgar.
— Como seria... se tivéssemos nos conhecido em outras circunstâncias? — murmurou Draco para si mesmo, pensando em como a vida poderia ter sido diferente.
Mas o som suave da música ainda ecoava em seus ouvidos, e a realidade do bilhete de Edgar voltou a assombrá-lo.
Ele fechou o caderno com cuidado e olhou para a porta da frente. Edgar tinha prometido voltar antes do entardecer, mas cada minuto que passava fazia Draco se preocupar ainda mais.
Ele respirou fundo, tentando controlar a ansiedade.
— Volta logo, Edgar... por favor. — Draco murmurou, encarando a porta como se pudesse trazê-lo de volta apenas com a força de sua vontade.
Notes:
Me desculpa :/
Chapter Text
# Capítulo 19 - Segredos Revelados
A sala estava tensa após Edgar explicar as novas habilidades das criaturas. Draco sentia a gravidade da situação pesar sobre ele, enquanto Byron, sentado ao lado, parecia completamente alheio a qualquer ameaça externa. Ele estava fixado em algo completamente diferente: Edgar.
— Isso é ridículo! — Byron gritou, apontando para Edgar com a bengala. — Ele é um demônio, e você está cego, Draco. A magia dele te enfeitiçou!
Draco suspirou, já exausto das acusações paranoicas de Byron.
— Byron, pelo amor de Deus, para com isso. Você não cansa de repetir as mesmas besteiras?
— Besteiras? — Byron se levantou, os olhos brilhando com uma mistura de raiva e fanatismo. — É claro que você acha que é besteira. Ele já te controlou! Não vê as provas?
Edgar, sentado no sofá, ergueu uma sobrancelha, claramente achando tudo aquilo ridículo.
— Isso vai ser bom... — murmurou sarcasticamente, cruzando os braços.
Byron começou a listar o que considerava evidências inegáveis.
— Ele usa essas luvas pretas o tempo todo. Quem mais faz isso além de alguém que está escondendo algo? — Byron apontou para as mãos de Edgar.
— É pra proteger as minhas mãos do frio, gênio — respondeu Edgar, rolando os olhos.
— E o cachecol! — continuou Byron, ignorando Edgar. — Ele cobre a boca e o nariz o tempo inteiro! Quem ele pensa que engana?
— Eu gosto do estilo. É crime agora? — Edgar disse, agora franzindo a testa.
— E o cabelo! — Byron gritou, aproximando-se de Edgar. — Ele cobre metade do rosto. Tá escondendo o quê, hein?
Draco começou a perder a paciência.
— Byron, chega! Você está exagerando!
Mas Byron não parou. Ele se aproximou de Edgar com passos rápidos, e antes que qualquer um dos dois pudesse reagir, Byron agarrou o cabelo de Edgar, puxando-o para trás e revelando o lado de seu rosto que ele sempre escondia.
Edgar ficou congelado por um segundo, o choque e a raiva brilhando em seus olhos. Draco também ficou paralisado, seu olhar imediatamente indo para a cicatriz que cruzava o olho de Edgar. Era uma cicatriz grande, irregular, que parecia antiga. O olho de Edgar desse lado era opaco, quase sem vida, diferente do outro, que era vibrante e atento.
Por um momento, tudo ficou em silêncio.
Edgar, com uma força súbita, empurrou Byron para trás, fazendo o velho quase tropeçar.
— Nunca mais toque em mim! — Edgar gritou, a voz carregada de raiva e humilhação.
Byron caiu sentado em uma cadeira, ofegante, mas com um sorriso vitorioso.
— Eu sabia... você está escondendo o que realmente é.
Edgar lançou um olhar mortal para Byron, um olhar que parecia prometer que aquilo não seria esquecido. Sem dizer mais nada, ele saiu andando rápido em direção à cozinha.
Draco, ainda atordoado, virou-se para Byron.
— Você tá louco? Qual o seu problema?!
— Meu problema? — Byron riu, um som seco e desagradável. — Agora você viu. Ele está escondendo quem é de verdade.
— Ele tem uma cicatriz, Byron! Só isso! — Draco gritou, apontando para o velho. — Você não tem ideia do que ele passou, e isso não te dá o direito de humilhar ele assim!
Byron deu de ombros, como se nada tivesse acontecido.
— Só estou dizendo o que todo mundo já devia saber.
Draco balançou a cabeça, a raiva borbulhando em seu peito.
— Sabe de uma coisa? Você não é só um velho paranoico. Você é cruel.
Draco virou-se, ignorando os murmúrios de Byron, e foi até a cozinha.
Na cozinha, Draco encontrou Edgar sentado no chão, encostado na parede, com o rosto parcialmente coberto pelas mãos. Ele parecia menor, como se todo o sarcasmo e confiança tivessem sido arrancados dele.
Draco sentou-se ao lado dele, mas manteve uma distância respeitosa.
— Você tá bem? — perguntou, a voz suave.
Edgar não olhou para ele.
— Tô. — Ele ajustou a franja com a mão boa, tentando cobrir ainda mais o lado do rosto com a cicatriz. — Só... só me deixa aqui.
Draco ficou em silêncio por um momento antes de responder.
— Não vou fazer isso.
Edgar finalmente virou-se para olhar Draco, mas não conseguiu sustentar o olhar.
— Você viu, né? — Sua voz era mais baixa, cheia de uma vulnerabilidade que Draco nunca havia percebido antes.
— Vi. — Draco respondeu, sincero, mas sem julgamento.
Edgar abaixou a cabeça, rindo amargamente.
— Aposto que foi horrível.
Draco balançou a cabeça.
— Não foi.
Edgar levantou o olhar, surpreso.
— É sério. Não foi horrível. — Draco deu um sorriso pequeno, tentando aliviar o clima. — Foi só... você.
Edgar piscou, claramente pego de surpresa pela resposta.
— Eu odeio ele... — Edgar murmurou, com os punhos cerrados. — Odeio como ele me faz sentir... como se eu fosse... menos.
— Ele não importa — disse Draco, a voz firme. — O que importa é que você tá aqui. Comigo.
Edgar desviou o olhar, mas Draco viu um pequeno sorriso se formando nos lábios dele.
— Você fala umas coisas...
— Só tô dizendo a verdade.
Os dois ficaram em silêncio por um tempo, mas desta vez o silêncio era mais confortável. Draco sabia que Edgar ainda estava machucado, não só fisicamente, mas também emocionalmente. Ainda assim, ele sentiu que o vínculo entre eles estava mais forte do que nunca.
— Obrigado, Draco — Edgar disse finalmente, a voz baixa mas sincera.
— Sempre. — Draco respondeu, dando um sorriso pequeno.
Apesar do caos lá fora e da tensão dentro da casa, naquele momento, eles sabiam que podiam contar um com o outro.
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# Capítulo 19 - Segredos Revelados
A sala estava tensa após Edgar explicar as novas habilidades das criaturas. Draco sentia a gravidade da situação pesar sobre ele, enquanto Byron, sentado ao lado, parecia completamente alheio a qualquer ameaça externa. Ele estava fixado em algo completamente diferente: Edgar.
— Isso é ridículo! — Byron gritou, apontando para Edgar com a bengala. — Ele é um demônio, e você está cego, Draco. A magia dele te enfeitiçou!
Draco suspirou, já exausto das acusações paranoicas de Byron.
— Byron, pelo amor de Deus, para com isso. Você não cansa de repetir as mesmas besteiras?
— Besteiras? — Byron se levantou, os olhos brilhando com uma mistura de raiva e fanatismo. — É claro que você acha que é besteira. Ele já te controlou! Não vê as provas?
Edgar, sentado no sofá, ergueu uma sobrancelha, claramente achando tudo aquilo ridículo.
— Isso vai ser bom... — murmurou sarcasticamente, cruzando os braços.
Byron começou a listar o que considerava evidências inegáveis.
— Ele usa essas luvas pretas o tempo todo. Quem mais faz isso além de alguém que está escondendo algo? — Byron apontou para as mãos de Edgar.
— É pra proteger as minhas mãos do frio, gênio — respondeu Edgar, rolando os olhos.
— E o cachecol! — continuou Byron, ignorando Edgar. — Ele cobre a boca e o nariz o tempo inteiro! Quem ele pensa que engana?
— Eu gosto do estilo. É crime agora? — Edgar disse, agora franzindo a testa.
— E o cabelo! — Byron gritou, aproximando-se de Edgar. — Ele cobre metade do rosto. Tá escondendo o quê, hein?
Draco começou a perder a paciência.
— Byron, chega! Você está exagerando!
Mas Byron não parou. Ele se aproximou de Edgar com passos rápidos, e antes que qualquer um dos dois pudesse reagir, Byron agarrou o cabelo de Edgar, puxando-o para trás e revelando o lado de seu rosto que ele sempre escondia.
Edgar ficou congelado por um segundo, o choque e a raiva brilhando em seus olhos. Draco também ficou paralisado, seu olhar imediatamente indo para a cicatriz que cruzava o olho de Edgar. Era uma cicatriz grande, irregular, que parecia antiga. O olho de Edgar desse lado era opaco, quase sem vida, diferente do outro, que era vibrante e atento.
Por um momento, tudo ficou em silêncio.
Edgar, com uma força súbita, empurrou Byron para trás, fazendo o velho quase tropeçar.
— Nunca mais toque em mim! — Edgar gritou, a voz carregada de raiva e humilhação.
Byron caiu sentado em uma cadeira, ofegante, mas com um sorriso vitorioso.
— Eu sabia... você está escondendo o que realmente é.
Edgar lançou um olhar mortal para Byron, um olhar que parecia prometer que aquilo não seria esquecido. Sem dizer mais nada, ele saiu andando rápido em direção à cozinha.
Draco, ainda atordoado, virou-se para Byron.
— Você tá louco? Qual o seu problema?!
— Meu problema? — Byron riu, um som seco e desagradável. — Agora você viu. Ele está escondendo quem é de verdade.
— Ele tem uma cicatriz, Byron! Só isso! — Draco gritou, apontando para o velho. — Você não tem ideia do que ele passou, e isso não te dá o direito de humilhar ele assim!
Byron deu de ombros, como se nada tivesse acontecido.
— Só estou dizendo o que todo mundo já devia saber.
Draco balançou a cabeça, a raiva borbulhando em seu peito.
— Sabe de uma coisa? Você não é só um velho paranoico. Você é cruel.
Draco virou-se, ignorando os murmúrios de Byron, e foi até a cozinha.
Na cozinha, Draco encontrou Edgar sentado no chão, encostado na parede, com o rosto parcialmente coberto pelas mãos. Ele parecia menor, como se todo o sarcasmo e confiança tivessem sido arrancados dele.
Draco sentou-se ao lado dele, mas manteve uma distância respeitosa.
— Você tá bem? — perguntou, a voz suave.
Edgar não olhou para ele.
— Tô. — Ele ajustou a franja com a mão boa, tentando cobrir ainda mais o lado do rosto com a cicatriz. — Só... só me deixa aqui.
Draco ficou em silêncio por um momento antes de responder.
— Não vou fazer isso.
Edgar finalmente virou-se para olhar Draco, mas não conseguiu sustentar o olhar.
— Você viu, né? — Sua voz era mais baixa, cheia de uma vulnerabilidade que Draco nunca havia percebido antes.
— Vi. — Draco respondeu, sincero, mas sem julgamento.
Edgar abaixou a cabeça, rindo amargamente.
— Aposto que foi horrível.
Draco balançou a cabeça.
— Não foi.
Edgar levantou o olhar, surpreso.
— É sério. Não foi horrível. — Draco deu um sorriso pequeno, tentando aliviar o clima. — Foi só... você.
Edgar piscou, claramente pego de surpresa pela resposta.
— Eu odeio ele... — Edgar murmurou, com os punhos cerrados. — Odeio como ele me faz sentir... como se eu fosse... menos.
— Ele não importa — disse Draco, a voz firme. — O que importa é que você tá aqui. Comigo.
Edgar desviou o olhar, mas Draco viu um pequeno sorriso se formando nos lábios dele.
— Você fala umas coisas...
— Só tô dizendo a verdade.
Os dois ficaram em silêncio por um tempo, mas desta vez o silêncio era mais confortável. Draco sabia que Edgar ainda estava machucado, não só fisicamente, mas também emocionalmente. Ainda assim, ele sentiu que o vínculo entre eles estava mais forte do que nunca.
— Obrigado, Draco — Edgar disse finalmente, a voz baixa mas sincera.
— Sempre. — Draco respondeu, dando um sorriso pequeno.
Apesar do caos lá fora e da tensão dentro da casa, naquele momento, eles sabiam que podiam contar um com o outro.
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# Capítulo 20 - Um Momento de Paz
Depois do tumulto com Byron e a conversa na cozinha, Draco e Edgar subiram para o quarto. O ambiente estava carregado, mas Draco tentou aliviar a tensão ligando o toca-discos. Ele escolheu algo mais tranquilo, uma música com acordes suaves que preenchiam o espaço sem sobrecarregar os sentidos.
Edgar estava sentado na cama, mexendo na mochila que trouxera. Draco, por outro lado, estava em pé, encostado na parede, observando o amigo com um olhar curioso.
— Então — Draco começou, cruzando os braços —, como foi lá fora?
Edgar olhou para ele, o cansaço visível, mas um pequeno sorriso surgiu em seus lábios.
— Caótico, como sempre. — Ele puxou uma garrafa de água da mochila e tomou um gole antes de continuar. — Fui direto ao Stu. Ele tava preocupado porque vocês não atenderam o telefone quando ele tentou ligar.
— A luz caiu antes que eu conseguisse atender.
— Sim, ele imaginou isso. — Edgar deu de ombros. — De qualquer forma, ele me ajudou a pegar alguns mantimentos médicos e... — Ele fez uma pausa, puxando algo da mochila. — Trouxe isso pra você.
Edgar segurava um livro em mãos, a capa desgastada mas ainda legível. Draco se aproximou, curioso, e Edgar entregou o objeto para ele.
Era um livro de ficção científica, do mesmo estilo que Draco adorava. A capa mostrava um réptil gigante devastando uma cidade futurista.
— Eu vi isso na casa de Stu. Ele tinha umas coisas largadas por lá, e achei que era sua cara.
Draco pegou o livro com cuidado, como se fosse algo precioso.
— Cara, obrigado. — Ele abriu a primeira página, admirando o cheiro antigo do papel. — Eu adorava coisas assim. Histórias sobre monstros, o fim do mundo...
— Engraçado, né? — Edgar disse, rindo suavemente enquanto se jogava na cama. — Essas histórias quase acertaram como tudo terminaria. Só erraram na parte de quem seria o monstro.
Draco sorriu, mas o comentário de Edgar o deixou pensativo. Ele colocou o livro na prateleira, ao lado dos outros.
— Às vezes eu penso nisso — disse Draco, sentando-se na beirada da cama. — Como as coisas seriam se isso aqui fosse só... uma história.
Edgar ergueu uma sobrancelha, apoiando-se no cotovelo.
— Tipo, se fosse só ficção?
— É. — Draco deu de ombros. — A gente ia terminar tudo com um final feliz.
— Você acha? — Edgar perguntou, sorrindo de lado. — Acho que, com nosso azar, seria um final aberto.
Os dois riram juntos, o som leve e sincero.
A música no toca-discos mudou para algo mais animado, mas ainda com um tom suave. Edgar se levantou da cama, esticando o braço bom em direção a Draco.
— Vamos lá, chefe.
Draco o olhou, confuso.
— O quê?
— Dançar. — Edgar balançou a mão, insistindo.
Draco riu, balançando a cabeça.
— Você tá maluco.
— Ah, vamos, Draco. — Edgar sorriu, aquele sorriso desafiador que ele sempre usava. — A gente acabou de sobreviver a mais um dia. Merecemos isso.
Draco hesitou, mas finalmente pegou a mão de Edgar e se levantou. Eles começaram a se mover no pequeno espaço do quarto, de maneira desajeitada no início, mas logo o riso tomou conta dos dois.
— Você é péssimo nisso — Edgar comentou, rindo enquanto girava Draco de forma desajeitada.
— Você também não tá muito melhor, sabia? — Draco retrucou, mas estava sorrindo.
O momento era leve, uma pausa rara no caos do mundo lá fora. Eles se permitiram esquecer, mesmo que por alguns minutos, as criaturas, Byron, e o constante medo que os acompanhava.
Depois de alguns minutos, a música diminuiu e os dois pararam, rindo enquanto voltavam para a cama.
— Acho que a gente fez a terra tremer com nossas habilidades incríveis de dança — disse Edgar, jogando-se de costas na cama.
— Ou talvez as criaturas tenham se assustado e decidido ir embora. — Draco respondeu, deitando-se ao lado de Edgar.
Os dois ficaram em silêncio, deitados lado a lado, olhando para o teto. Draco virou-se para Edgar, observando o perfil dele à luz suave do abajur. Edgar percebeu o olhar e virou-se também, os olhos encontrando os de Draco.
— O que foi? — Edgar perguntou, um sorriso pequeno nos lábios.
— Nada. — Draco respondeu, mas ele não desviou o olhar.
Os dois ficaram assim por um tempo, o silêncio preenchido apenas pelo som distante do disco girando no toca-discos.
Edgar ajeitou a franja, cobrindo mais o lado do rosto com a cicatriz. Draco estendeu a mão, hesitante, e puxou levemente a franja para o lado, revelando o rosto de Edgar novamente.
— Não precisa esconder. — Draco disse, sua voz baixa, mas cheia de sinceridade.
Edgar piscou, surpreso, mas não afastou a mão de Draco.
— Você é impossível, sabia? — Edgar murmurou, o tom suave, quase carinhoso.
Draco sorriu.
— E você fala demais.
Os dois riram baixinho, a conexão entre eles mais forte do que nunca. Mesmo com o mundo desmoronando ao redor, naquele momento, nada mais importava.
Chapter 21
Notes:
Oi desculpa a demora aconteceu umas merdas comigo eu me perdi por completo mas acho que me achei dnv e estou bem agr :)
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Draco e Edgar ainda estavam deitados na cama, o silêncio entre eles carregado de algo que nenhum dos dois conseguia descrever. Era como se o peso do mundo lá fora tivesse desaparecido, deixando apenas os dois em um espaço onde tudo parecia seguro, familiar, e... estranho.
Draco, deitado de lado, olhava para Edgar. Edgar, por sua vez, estava virado para ele, os olhos fixos nos de Draco. As palavras pareciam desnecessárias, pois a tensão entre eles falava mais alto.
Draco notou a franja de Edgar caindo novamente sobre o lado da cicatriz, mas não disse nada desta vez. Ele apenas observava, sentindo o ambiente ficar cada vez mais íntimo.
Edgar respirou fundo, os olhos semicerrados, e se inclinou ligeiramente para frente, como se quisesse dizer algo. Draco fez o mesmo, quase sem perceber. A distância entre eles diminuía, lenta, mas inevitável.
Os dois estavam tão perto que Draco conseguia sentir o calor que emanava de Edgar, e Edgar notou a respiração um pouco mais rápida de Draco.
Mas então, um som abrupto cortou o momento: uma batida forte na porta.
Draco e Edgar imediatamente desviaram os olhares, como se tivessem sido pegos em algo que não deviam fazer.
— Quem será agora? — Draco murmurou, levantando-se rapidamente, ainda tentando disfarçar o constrangimento.
Edgar ficou sentado, abraçando o travesseiro, e olhou para a porta com raiva.
— Aposto que é o Byron com alguma coisa estúpida pra dizer.
Draco saiu do quarto e abriu a porta, encontrando Byron com uma expressão zangada.
— Tem uma mulher na porta! — Byron anunciou, cruzando os braços.
Draco franziu a testa, imediatamente ficando em alerta.
— O quê?
— Ela tá pedindo ajuda! — Byron continuou, mas havia algo na voz dele que Draco reconheceu: ele estava encantado.
Draco virou-se para Edgar, que já estava de pé, claramente em alerta.
— Vamos ver isso. — Draco disse, sério, enquanto Edgar seguia atrás dele.
Chegando à entrada, Draco olhou pelo olho mágico. Do lado de fora, havia uma mulher alta, com cabelos rosa desgrenhados, roupas rasgadas e sujas. Apesar de sua aparência desgastada, ela era bonita, com traços marcantes e um ar confiante que parecia deslocado naquela situação.
— Meu nome é Melody — disse a mulher, a voz audível mesmo do outro lado da porta. — Por favor, me deixem entrar. Só preciso de um lugar seguro por hoje.
Byron, que estava ao lado, praticamente saltava de ansiedade.
— Vamos, abram a porta! Ela tá claramente precisando de ajuda.
Draco olhou para Edgar, que cruzou os braços, a expressão séria.
— Não gosto disso. — Edgar disse, baixo o suficiente para que apenas Draco ouvisse.
— Por quê? — Draco perguntou, surpreso.
— Tem algo nela que não parece certo. — Edgar franziu a testa, olhando novamente para o olho mágico. — Não sei explicar, mas... não confio nela.
Draco hesitou. Ele também sentia uma pontada de dúvida, mas Byron estava insistindo tanto que parecia difícil dizer não.
— Não podemos simplesmente deixá-la lá fora — disse Draco, finalmente.
Edgar revirou os olhos, mas cedeu.
— Tudo bem, mas se der errado, não diga que eu não avisei.
Draco abriu a porta, deixando Melody entrar. Ela sorriu agradecida, mas havia algo em seus olhos que fez Edgar apertar os punhos.
Melody sentou-se no sofá enquanto Byron corria para buscar um cobertor para ela.
— Obrigada. De verdade. — Melody disse, sua voz suave e controlada. — Faz dias que estou vagando por aí. Quase perdi a esperança de encontrar pessoas decentes.
Draco sentou-se em uma cadeira próxima, ouvindo atentamente enquanto Melody contava sua trajetória.
— Fui separada do meu grupo quando as criaturas nos cercaram. Todos se espalharam, e eu... bom, consegui sobreviver.
Enquanto isso, Edgar encostava-se à parede, os braços cruzados, observando a mulher com olhos desconfiados.
Havia algo na maneira como ela falava, como gesticulava, que o irritava profundamente. Melody parecia metida, sua voz carregada de uma autoconfiança que não combinava com alguém que supostamente estava vagando sozinha no meio do apocalipse.
E o pior, na opinião de Edgar, era que ela parecia estar direcionando toda a atenção para Draco.
Ela ria de forma exagerada das coisas que Draco dizia, inclinava-se ligeiramente na direção dele enquanto falava, e mexia nos cabelos como se tentasse se destacar.
Draco, por sua vez, parecia educado, mas um pouco desconfortável. Ele não estava acostumado a tanta atenção, ainda mais em uma situação como aquela.
Edgar sentiu uma irritação crescendo no peito, algo que ele não conseguia explicar. Ele tentava ignorar, mas cada risada falsa de Melody parecia amplificar sua frustração.
— Então, Draco... — Melody disse, virando-se completamente para ele. — Você sempre foi tão prestativo assim?
Draco riu nervosamente, mas antes que pudesse responder, Edgar finalmente interveio.
— Bom saber que você tá se sentindo confortável já, hein? — Edgar disse, sua voz carregada de sarcasmo.
Melody virou-se para Edgar, arqueando uma sobrancelha.
— Algum problema?
— Não. Só acho engraçado como algumas pessoas sabem exatamente como manipular uma situação.
O clima na sala mudou imediatamente. Melody pareceu ofendida, mas Edgar não parecia se importar. Ele olhou para Draco, que estava visivelmente desconfortável, e suspirou.
— Vou pro meu quarto. Me chamem se alguma coisa der errado. — Edgar disse, virando-se e saindo antes que alguém pudesse responder.
Draco ficou dividido entre seguir Edgar ou continuar ouvindo Melody. Ele sabia que algo estava errado, mas não conseguia decidir o que fazer.
Chapter 22: 22-desconfiança e reflexões
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Draco estava sentado na cadeira da sala, Melody ao seu lado no sofá. Ela parecia ter se estabelecido confortavelmente, com a postura relaxada e o olhar atento. Enquanto falava, ela colocou uma mão leve sobre o braço de Draco, o gesto sendo tanto casual quanto calculado.
— Seu amigo... — Melody começou, referindo-se a Edgar. — Ele é sempre assim?
Draco parou por um momento, pegando-se pensando na pergunta mais do que deveria.
Até agora, ele havia visto Edgar de três formas distintas. Havia o Edgar do primeiro dia, quando Stu o trouxe para a casa: calmo, útil e um tanto reservado, sem se destacar muito. Depois, havia o Edgar sarcástico e debochado, que parecia ter uma resposta pronta para qualquer situação – a persona que ele usava com Byron, e até mesmo com Draco, em algumas ocasiões.
Mas havia também outra versão, mais sutil, que Edgar parecia mostrar apenas quando estavam sozinhos. Era uma versão mais vulnerável, mais honesta, que Draco tinha dificuldade de descrever, mas que sentia ser a mais real de todas.
Antes que pudesse formular uma resposta completa, Byron apareceu na sala, carregando uma xícara de café que tremia em suas mãos.
— Aqui, Melody. — Byron disse, com um sorriso ansioso. Ele entregou a xícara para ela, claramente encantado com a nova presença.
— Obrigada, Byron. — Melody aceitou o café com um sorriso que fez Byron quase suspirar.
Draco observou a interação com uma pontada de desconforto, mas não disse nada. Melody começou a falar sobre si mesma, com Byron atento a cada palavra.
— Eu vivia em uma cidade pequena antes de tudo isso — começou ela, soprando o café. — Tinha um emprego normal, amigos... aquela vida pacata que você nunca pensa que vai acabar.
— E como você acabou sozinha? — Byron perguntou, inclinando-se para frente como se fosse absorver cada palavra.
— Meu grupo... — Melody fez uma pausa dramática, olhando para o café. — Eles foram atacados. Não sobrou ninguém além de mim.
Byron murmurou algo compassivo, mas Draco permaneceu calado, observando-a. Ele não podia negar que havia algo sobre Melody que o deixava intrigado, mas também desconfiado.
Enquanto isso, no quarto, Edgar estava sentado à mesa, folheando as páginas do caderno de anotações sobre as criaturas. Ele sabia que Draco havia deixado o caderno ali, e agora estava usando-o como distração enquanto tentava organizar seus pensamentos.
Ele procurava algo, qualquer coisa, que pudesse confirmar sua desconfiança sobre Melody. No entanto, até agora, não havia nenhuma evidência concreta de que ela fosse uma criatura.
Mas isso não significava que ela fosse confiável.
Edgar já havia encontrado pessoas assim antes. Traidores, oportunistas que entravam em grupos pedindo ajuda apenas para roubar tudo na primeira oportunidade. Ele reconhecia os sinais – a maneira como Melody falava, como se tentasse manipular a atenção para si mesma. A maneira como ela tocou Draco, tentando criar uma conexão superficial.
Ele fechou o caderno com força, sentindo uma irritação crescente.
— Ela pode não ser uma criatura, mas algo nela não tá certo. — Edgar murmurou para si mesmo.
Ele sabia que precisava observar com cuidado. Se Melody fosse o que ele suspeitava, ela revelaria suas verdadeiras intenções em breve.
De volta à sala, Melody continuava a falar, sua voz preenchendo o espaço com histórias que, na opinião de Draco, soavam boas demais para serem verdade.
— E você, Draco? — Melody perguntou, virando-se para ele com um sorriso. — Como era sua vida antes de tudo isso?
Draco hesitou, ainda tentando entender a pergunta anterior sobre Edgar. Ele abriu a boca para responder, mas antes que pudesse dizer algo, ouviu o som de passos descendo a escada.
Edgar apareceu no topo da escada, os olhos fixos em Melody com uma expressão indecifrável.
— Tô interrompendo algo? — Edgar perguntou, cruzando os braços enquanto se encostava no corrimão.
Melody deu um sorriso pequeno, mas não respondeu. Byron, por outro lado, olhou para Edgar com desdém.
— Você sempre interrompe.
Draco olhou entre os dois, sentindo a tensão crescer. Ele sabia que aquela noite seria longa, e algo lhe dizia que Melody seria o centro de tudo.
Chapter 23: 23 - Tensão no Ar
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Edgar desceu os últimos degraus da escada com passos firmes, sua expressão carregada de sarcasmo. Ele olhou diretamente para Byron, que parecia pronto para explodir de raiva a qualquer momento.
— Byron, me diz uma coisa — Edgar começou, sua voz carregada de um tom ácido. — Você é sempre tão paranoico ou isso é um talento especial que você guarda só pra mim?
A provocação foi como gasolina jogada no fogo. Byron ficou de pé abruptamente, os olhos brilhando de raiva.
— Escuta aqui, seu... — Byron começou, mas Draco se colocou entre eles imediatamente, erguendo as mãos em um gesto de apaziguamento.
— Já chega, Byron. — Draco disse, tentando manter a calma.
— Ele é um monstro! — Byron gritou, apontando para Edgar. — Ele vai matar todos nós! E você, Draco, vai deixar isso acontecer porque tá cego por esse... esse... demônio!
Draco sentiu o estômago revirar. Ele se virou para Edgar, que estava de punhos cerrados, mas permaneceu em silêncio, embora sua expressão falasse por si só. Draco sabia que Edgar estava lutando para se controlar.
Foi então que Draco percebeu algo: Melody, sentada no sofá, estava sorrindo. Um sorriso pequeno, quase imperceptível, mas que enviou um calafrio pela espinha de Draco.
— Byron, chega. — Draco repetiu, a voz mais firme agora. — É um absurdo você continuar tratando o Edgar assim. Ele salvou minha vida, lembra disso?
— Claro que ele salvou. — Byron rebateu, rindo com desprezo. — Porque é assim que os demônios funcionam. Eles ganham sua confiança antes de te destruir.
Edgar deu uma risada curta, cheia de ironia, mas permaneceu calado. Ele desviou o olhar para Melody, que agora estava olhando diretamente para o braço de Edgar com curiosidade.
— O que aconteceu com você? — Melody perguntou, apontando para o braço enfaixado de Edgar.
Edgar lançou um olhar cortante para ela, claramente irritado.
— Cai de escada. — Ele respondeu com um tom tão seco e grosseiro que até Draco piscou de surpresa.
Melody piscou, mas o sorriso nunca desapareceu completamente de seu rosto.
Byron, no entanto, explodiu novamente.
— Tá vendo? Até ele sabe que tá escondendo alguma coisa! — Byron avançou na direção de Edgar, mas Draco o segurou novamente.
— Você perdeu a cabeça, Byron! — Draco gritou, segurando o velho pelos ombros. — Vai pro seu quarto ou se acalma, mas para com isso agora!
Byron resmungou algo incompreensível, mas finalmente recuou, embora ainda lançasse olhares de ódio para Edgar.
Com Byron afastado, o silêncio na sala ficou pesado. Melody aproveitou a pausa para chamar a atenção de volta para si.
— Bom... e onde eu vou dormir? — ela perguntou, sua voz doce contrastando com o clima tenso.
Draco olhou para ela, confuso por um momento, mas Melody continuou:
— Quero dizer, no sofá, certo? Só que... eu precisaria de travesseiros. Faz dias que não consigo dormir direito, e eu tô exausta.
Draco abriu a boca para responder, mas Edgar o interrompeu, soltando uma risada baixa e sarcástica.
— Claro, vamos te arrumar uns travesseiros. Talvez até um serviço de quarto. Quem sabe?
Melody olhou para Edgar, arqueando uma sobrancelha.
— Não sabia que sarcasmo era sua única língua.
— Ah, é a minha favorita. — Edgar respondeu, sorrindo de lado, mas o olhar dele ainda era afiado.
Draco suspirou, passando a mão pelo cabelo.
— Tudo bem. Vou buscar algumas coisas pra você, Melody.
Ele começou a se mover em direção às escadas, mas parou e olhou para Edgar.
— Você pode ajudar a organizar o sofá?
Edgar cruzou os braços, mas assentiu, relutante.
— Claro, chefe.
Enquanto Draco subia as escadas, o silêncio entre Melody e Edgar ficou quase insuportável. Edgar permaneceu encostado na parede, observando cada movimento dela, como se estivesse esperando por algo. Melody, por sua vez, parecia completamente à vontade, como se soubesse que estava no controle da situação.
Quando Draco voltou com os travesseiros, Edgar não conseguiu esconder a irritação em seu rosto. Algo na maneira como Melody agia, como manipulava a situação, estava o incomodando mais do que ele gostaria de admitir.
E o fato de ela parecer tão interessada em Draco só tornava tudo pior.
Chapter 24: 24 - A Verdade Revelada
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Draco voltou à sala com os travesseiros nas mãos. Melody estava relaxada no sofá, ajeitando-se confortavelmente com o cobertor que Byron havia dado.
— Boa noite, meninos — disse ela com um sorriso doce.
Draco respondeu educadamente:
— Boa noite, Melody.
Edgar, que estava encostado na parede com os braços cruzados, simplesmente a ignorou, lançando um último olhar desconfiado antes de seguir Draco para o quarto.
Quando chegaram ao quarto, Draco fechou a porta e suspirou. Ele se virou para Edgar, que já estava jogando a mochila em um canto, claramente incomodado.
— Tá tudo bem? — Draco perguntou, sentando-se na beira da cama.
Edgar balançou a cabeça, franzindo a testa.
— Não. Não tá. Tem algo errado com aquela mulher, Draco.
— Edgar... — Draco começou, mas Edgar ergueu a mão, interrompendo-o.
— Escuta, eu sei que posso parecer paranoico, mas já vi gente como ela antes. O jeito como ela fala, como se faz de vítima... e agora ela tá deitada no sofá como se fosse dona da casa.
Draco observou Edgar por um momento, percebendo o quanto ele estava preocupado. Ele se levantou e colocou uma mão no ombro de Edgar.
— Eu acredito em você. — A voz de Draco era firme, mas gentil. — Se você acha que tem algo errado, eu confio no seu instinto.
Edgar olhou para ele, surpreso pela resposta.
— Sério?
— Sim. — Draco deu um pequeno sorriso. — Mas, por enquanto, vamos ficar de olho. Não precisamos agir ainda.
Edgar suspirou, assentindo lentamente.
— Só espero que isso não vire mais um problema.
Antes de se deitar, Edgar hesitou por um momento, olhando para Draco com uma expressão estranha.
— Draco, posso te perguntar uma coisa?
— Claro.
— Você acha que... — Edgar desviou o olhar, como se fosse difícil falar. — Você acha que o Byron tá certo sobre mim?
Draco franziu a testa, surpreso com a pergunta.
— Edgar, claro que não.
— Mas ele continua dizendo... — Edgar suspirou, os olhos cheios de algo que Draco não reconhecia: uma esperança tímida. — Eu não sou... não sou um monstro, certo?
Draco deu um passo à frente, colocando as mãos nos ombros de Edgar.
— Não, Edgar. Você não é um monstro. Você é uma das pessoas mais corajosas e humanas que eu conheço.
Edgar ficou em silêncio, mas o alívio em seu rosto era palpável.
— Obrigado.
Os dois conversaram mais um pouco, suas vozes baixas misturando-se ao som suave do vento lá fora. Eventualmente, o cansaço os venceu, e eles adormeceram conversando.
Horas depois, Edgar acordou abruptamente ao ouvir um barulho vindo da cozinha. Ele olhou para Draco, que ainda dormia profundamente, e se levantou sem fazer barulho, pegando sua faca antes de sair do quarto.
Chegando à cozinha, ele encontrou Melody mexendo nos suprimentos. Uma mochila estava aberta no balcão, já cheia de comida e mantimentos.
— O que você tá fazendo? — Edgar perguntou, sua voz baixa mas afiada.
Melody se virou, a expressão culpada desaparecendo rapidamente para ser substituída por um sorriso doce.
— Eu só... estava pegando algo pra comer.
— Não parece que você tá só pegando algo pra comer. — Edgar deu um passo à frente, apontando para a mochila. — Isso é roubo.
Melody bufou, largando o que estava segurando.
— Ah, vai me denunciar? Olha pra você. Quem vai acreditar em um cara como você?
A tensão cresceu rapidamente. Edgar avançou e tentou pegar a mochila, mas Melody a puxou de volta. Os dois começaram uma briga corporal, o barulho de coisas caindo ecoando pela casa.
Edgar conseguiu agarrar a mochila, mas antes que pudesse falar, Byron apareceu na cozinha.
— O que tá acontecendo aqui?! — Byron gritou, vendo Melody deitada no chão e Edgar segurando a mochila.
Melody, rápida, colocou a mão no braço machucado e começou a fingir que estava ferida.
— Ele... ele me machucou! — disse ela, a voz cheia de falsa dor.
Edgar se virou, chocado.
— O quê?! Isso é mentira!
Mas Byron não ouviu. Ele pegou uma faca do balcão e avançou para Edgar.
— Eu sabia! Eu sabia que você era um monstro!
Byron empurrou Edgar contra a mesa, segurando a faca contra o pescoço dele. Edgar usou o braço bom para tentar afastar Byron, mas o esforço era limitado.
A lâmina da faca arranhava a pele do pescoço de Edgar, deixando um filete de sangue enquanto Byron gritava:
— Você nunca devia ter entrado nesta casa! Eu vou acabar com você antes que você acabe com a gente!
Edgar, com a respiração pesada, tentava se defender, mas a força de Byron era surpreendente.
— Para com isso, Byron! — Edgar gritou, mas sua voz foi abafada pelos gritos de Melody fingindo chorar no fundo.
Draco acordou com o barulho e, ao perceber que Edgar não estava ao seu lado, saiu correndo do quarto.
Ele chegou à cozinha e congelou ao ver a cena: Melody chorando teatralmente, Edgar encurralado contra a mesa com Byron segurando uma faca em seu pescoço.
— O que tá acontecendo aqui?! — Draco gritou, entrando na cozinha.
Melody olhou para ele, as lágrimas falsas escorrendo pelo rosto.
— Draco, ele me atacou! Eu só tava tentando pegar algo pra comer!
Draco olhou para Edgar, que estava tentando afastar Byron com dificuldade.
— Isso é mentira, Draco! — Edgar gritou, sua voz carregada de frustração. — Ela tava saqueando os mantimentos!
Draco viu o sangue no pescoço de Edgar e o olhar de ódio nos olhos de Byron. Ele sabia que precisava agir rápido antes que algo pior acontecesse.
— Byron, larga a faca! — Draco gritou, avançando para intervir.
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Byron pressionava a faca contra o pescoço de Edgar, suas mãos tremendo de raiva, mas firmes o suficiente para manter Edgar sob controle. Com a outra mão, ele segurou brutalmente o cabelo de Edgar, puxando sua cabeça para trás e forçando-o a encarar Draco.
— Você não vai interferir desta vez, Draco. — A voz de Byron era grave, carregada de ódio. — Eu vou acabar com esse demônio de uma vez por todas.
Draco deu um passo à frente, os olhos arregalados de preocupação.
— Byron, solta ele! Você tá completamente fora de si!
Edgar estava lutando para respirar, o cansaço evidente em seu rosto. Seu braço machucado latejava de dor, e ele sentia o corpo pesado após a briga anterior com Melody. Ainda assim, sua expressão era de puro desdém enquanto olhava para Byron.
— E você acha que eu sou o monstro aqui... — Edgar murmurou, a voz fraca mas carregada de ironia.
— Cala a boca! — Byron gritou, pressionando a faca com mais força.
Edgar sentiu o fio da lâmina cortar levemente sua pele, mas ele manteve o olhar fixo em Byron.
Enquanto isso, Melody, aproveitando o caos, discretamente pegou a mochila cheia de mantimentos e a empurrou para baixo do sofá, escondendo-a de vista.
— Você não vê, Draco? — Byron continuou, sua voz mais alta e cheia de fanatismo. — Ele vai nos destruir! Eu sabia desde o começo, e agora você vai ver que eu estava certo.
Edgar sabia que não podia aguentar muito mais tempo. Ele reuniu o que restava de sua força e, com um movimento rápido, pisou com força no pé de Byron.
— Ah, seu desgraçado! — Byron gritou, recuando um passo, a dor evidente em seu rosto.
Ele perdeu o equilíbrio momentaneamente, mas em sua raiva, jogou Edgar com força para longe. Edgar bateu contra o chão com um som abafado, escorregando até parar aos pés de Draco.
Draco imediatamente se ajoelhou, segurando Edgar pelos ombros.
— Você tá bem? — Draco perguntou, sua voz carregada de preocupação.
Edgar olhou para ele, os olhos exaustos mas ainda cheios de determinação.
— Não vou mentir... já tive dias melhores.
Draco o ajudou a se levantar rapidamente e, sem hesitar, colocou-se entre Edgar e Byron.
— Acabou, Byron. — Draco disse, sua voz firme e cortante. — Você não vai encostar nele de novo.
Byron, ainda segurando a faca, bufou de raiva.
— Você tá protegendo ele? Depois de tudo o que ele fez?
— Ele não fez nada! — Draco gritou, o tom cheio de convicção. — Você tá se deixando consumir por uma paranoia absurda!
Enquanto Draco e Byron discutiam, Melody começou a chorar alto, sua voz carregada de emoção falsa.
— Eu só queria um lugar seguro... — disse ela, soluçando dramaticamente. — Mas ele me atacou! Ele ia me machucar!
Draco virou-se para ela, confuso.
— Do que você tá falando?
— Ela tá mentindo. — Edgar disse, sua voz ainda fraca, mas firme. — Eu peguei ela roubando os suprimentos. Foi por isso que ela inventou isso tudo.
Melody olhou para Draco, lágrimas escorrendo pelo rosto, como se estivesse genuinamente ferida.
— Você vai acreditar nele? Ele é um monstro! Olha o que ele fez comigo!
— Você é boa em fingir, eu te dou isso. — Edgar retrucou, cruzando os braços e se apoiando em Draco para não cair.
Byron, agora completamente tomado pela raiva, apontou a faca para Edgar novamente.
— Eu sabia! Você é o problema aqui. Você sempre foi!
Draco sentiu a frustração crescer. Ele olhou para Melody, depois para Byron, e finalmente para Edgar. Ele sabia que precisava resolver aquilo antes que alguém realmente se machucasse.
Draco deu um passo à frente, colocando-se completamente entre Byron e Edgar.
— Eu não vou deixar você machucar ele, Byron. — A voz de Draco era baixa, mas cheia de determinação.
Byron parecia hesitar por um momento, mas Melody continuou a chorar, alimentando sua paranoia.
— Draco, eu não posso confiar em você enquanto você estiver do lado desse... desse monstro! — Byron gritou.
— E eu não posso confiar em você enquanto você continua agindo como um lunático! — Draco respondeu, sua paciência finalmente acabando.
A tensão na sala era palpável, mas Draco sabia que, de alguma forma, precisaria resolver aquilo. E rápido.
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A tensão na cozinha era sufocante. Byron, ainda segurando a faca, apontava para Edgar como se estivesse pronto para atacar novamente. Melody, ao lado, fazia questão de continuar fingindo que estava ferida, soluçando baixinho.
— Se não podemos matá-lo, então pelo menos temos que expulsá-lo! — gritou Byron, sua voz cheia de ódio. — Esse moleque só traz problema!
Draco respirou fundo, tentando conter a raiva que crescia dentro dele. Ele deu um passo à frente, ficando ao lado de Edgar.
— Expulsá-lo? — Draco perguntou, sua voz fria e carregada de sarcasmo. — Sério, Byron? Você quer expulsar a única pessoa nessa casa que realmente tá fazendo alguma coisa pra nos manter vivos?
Byron estreitou os olhos, confuso, enquanto Draco continuava:
— Quem é que sai pra repor os mantimentos? Quem é que se arrisca lá fora enquanto você fica aqui sentado, reclamando e atacando ele?
Edgar, ao lado, ficou em silêncio, mas havia algo no olhar dele – talvez surpresa ou gratidão – enquanto observava Draco o defender.
— Você, Byron? — Draco continuou, dando um passo mais perto. — Você não faz nada além de causar problemas. Você machucou o Edgar, ameaçou ele com uma faca, e agora quer se passar por herói?
— Ele é um demônio! — Byron retrucou, sua voz mais fraca agora, mas ainda teimosa.
— Ele é mais humano do que você! — Draco gritou, sua paciência finalmente se esgotando.
Melody, aproveitando o momento, tentou intervir.
— Draco, eu só acho que... talvez seja melhor pra todos nós...
Draco virou-se para ela, o olhar cortante.
— Melhor pra todos nós? Você acha que roubar nossos mantimentos e mentir sobre o Edgar é melhor pra todos nós?
Melody ficou em silêncio, as lágrimas desaparecendo de repente.
Byron, no entanto, não recuou. Ele apertou a faca com mais força e deu um passo em direção a Edgar.
— Não importa o que você ache, Draco. Eu vou fazer o que é melhor pra todos nós. E o melhor é acabar com esse demônio agora!
Ele levantou a faca, mirando Edgar. Antes que pudesse fazer qualquer movimento, Draco agiu.
Com um movimento rápido, ele deu um jab forte na cabeça de Byron. O golpe foi preciso, e Byron caiu no chão, desmaiado, a faca deslizando de sua mão.
O silêncio que se seguiu foi esmagador. Melody olhou para Draco, assustada, enquanto Edgar se apoiava na parede, surpreso mas claramente aliviado.
Draco, ainda respirando fundo pelo esforço, virou-se para Melody, apontando para ela com um olhar ameaçador.
— Mais alguém aqui quer expulsar o Edgar?
Melody balançou a cabeça rapidamente, recuando um passo, a expressão dela cheia de medo.
Edgar, ainda processando tudo o que havia acontecido, colocou uma mão no ombro de Draco.
— Obrigado. — Edgar disse, a voz baixa mas cheia de gratidão.
Draco virou-se para ele, sua expressão suavizando por um momento.
— Ninguém vai te machucar enquanto eu estiver aqui.
Depois de alguns segundos de silêncio, Draco olhou para Melody e Edgar com um tom autoritário que ele raramente usava.
— Agora os dois vão pra sala. Sentem no sofá. E me contem exatamente o que aconteceu.
A ordem foi clara, e mesmo Melody, que tentava manter sua compostura, obedeceu sem questionar. Edgar, ainda intrigado com o tom de Draco, apenas assentiu e seguiu para a sala.
Draco ficou na cozinha por um momento, olhando para o corpo desmaiado de Byron. Ele sabia que havia cruzado uma linha, mas também sabia que não tinha escolha.
Quando finalmente entrou na sala, encontrou Melody e Edgar sentados no sofá, ambos quietos e aparentemente tensos. Ele cruzou os braços, olhando para eles com um olhar sério.
— Agora, vamos resolver isso de uma vez por todas. — Draco disse, sua voz firme e autoritária.
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Draco entrou na sala, os olhos fixos em Melody e Edgar, que estavam sentados no sofá. A tensão era palpável. Assim que ele abriu a boca para pedir explicações, ambos começaram a falar ao mesmo tempo, suas vozes embolando e tornando impossível entender qualquer coisa.
— Um de cada vez! — Draco gritou, sua voz cortando o caos.
O silêncio caiu imediatamente, e tanto Melody quanto Edgar o olharam assustados. Melody foi a primeira a falar, adotando um tom ofendido enquanto ajustava o cobertor ao redor dos ombros.
— Eu só fui pegar algo pra comer na cozinha, e ele apareceu lá... — Ela fez uma pausa, a voz tremendo levemente, como se estivesse segurando as lágrimas. — E começou a me assediar.
Edgar ficou de pé instantaneamente, a indignação evidente em seu rosto.
— O quê?! — Ele exclamou, olhando para ela como se ela tivesse perdido completamente a cabeça. — Isso é uma mentira nojenta!
Melody começou a chorar, cobrindo o rosto com as mãos.
— Você não entende, Draco. Isso me deu gatilho. Me fez lembrar de coisas horríveis que já aconteceram comigo. Ele queria... — Sua voz se quebrou, e ela soluçou teatralmente. — Ele queria fazer coisas obscenas comigo. Contra a minha vontade!
Draco arregalou os olhos, chocado tanto com a acusação quanto com a reação de Edgar, que parecia dividido entre o nojo e a fúria.
— Você tá brincando, né? — Edgar perguntou, a voz carregada de descrença e raiva. — Eu nunca faria isso! Desde o momento em que você pisou nessa casa, eu disse que não confiava em você. E agora você quer dizer que *eu* fiz isso? Que eu, o cara que literalmente te pegou roubando mantimentos, de repente virou um predador?
Draco estreitou os olhos, a mente trabalhando rápido enquanto observava os dois. Desde o momento em que Melody havia entrado, Edgar estava desconfiado. Ele nunca havia demonstrado interesse em Melody, e muito menos um comportamento como o que ela estava acusando.
— Você acha mesmo que alguém vai acreditar nessa sua historinha? — Edgar continuou, o tom cheio de desgosto. — É óbvio que você tá mentindo.
— Eu não estou mentindo! — Melody gritou, olhando para Draco com lágrimas nos olhos. — Você não vê, Draco? Ele tá tentando me silenciar porque sabe que eu tô falando a verdade.
Draco passou a mão pelo cabelo, tentando processar tudo. Ele sabia que Edgar não faria algo assim. Tudo na acusação de Melody parecia fabricado, especialmente considerando o que Edgar havia dito sobre ela momentos antes.
— Desde que você chegou aqui, Edgar disse que não confiava em você — Draco disse, sua voz baixa mas firme. Ele olhou diretamente para Melody. — E agora você quer que eu acredite que ele, a mesma pessoa que sempre te evitou, fez algo assim?
Melody parou de chorar por um momento, o olhar dela mudando sutilmente antes de voltar ao papel de vítima.
— Draco, eu sei que é difícil aceitar, mas...
— Não. — Draco levantou a mão, interrompendo-a. — Eu não acredito nessa mentira.
Edgar soltou um suspiro pesado, claramente aliviado, mas ainda irritado.
— Obrigado. — Ele olhou para Draco antes de se virar para Melody. — E já que você quer saber o que realmente aconteceu, eu vou contar.
Ele se sentou de volta no sofá, ainda encarando Melody com um olhar frio.
— Eu acordei de madrugada porque ouvi um barulho na cozinha. Quando cheguei lá, você tava enchendo uma mochila com os nossos mantimentos. Quando eu tentei pegar a mochila, você começou a gritar e fingir que tava machucada.
— Isso é mentira! — Melody gritou, sua voz cheia de indignação teatral.
— Sério? — Edgar arqueou uma sobrancelha. — Então por que sua mochila tava cheia de comida? Por que você tava na cozinha, *sozinha*, no meio da noite?
Melody hesitou, mas logo voltou a chorar, apontando para Edgar.
— Ele tá tentando me incriminar, Draco! Você não vê? Ele tá distorcendo tudo!
Os dois começaram a discutir novamente, suas vozes subindo cada vez mais.
— Eu vi você roubando! — Edgar exclamou, apontando para ela. — Você tá tentando sair como a vítima, mas todo mundo aqui sabe que você não é nada disso!
— Você é um monstro! — Melody gritou de volta, as lágrimas agora claramente forçadas. — Um psicopata!
Draco deu um passo à frente, levantando a voz novamente.
— Chega!
Os dois se calaram instantaneamente, olhando para ele. Draco olhou para Melody, depois para Edgar, e por fim respirou fundo, tentando se acalmar.
— Isso não vai se resolver com gritos. — Ele disse, a voz mais controlada agora. — Melody, se você tá falando a verdade, prova. Mostra a mochila.
Melody empalideceu por um momento, mas rapidamente tentou se recompor.
— Eu não tenho nada a provar! — Ela retrucou.
— Então você não tem nada a esconder, certo? — Edgar rebateu, cruzando os braços.
Draco observou Melody atentamente. Ele sabia que a próxima ação dela diria muito sobre o que realmente estava acontecendo. A sala ficou em silêncio novamente, a tensão aumentando com cada segundo que passava.
Chapter 28: 28 - Uma Verdade Dolorosa
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A tensão na sala era quase palpável. Melody parecia encurralada, seus olhos se movendo entre Draco e Edgar. Sua expressão era uma mistura de indignação e pânico enquanto ela tentava manter o controle da situação.
— Vocês estão sendo machistas! — Melody finalmente gritou, sua voz embargada. — Não acreditam em mim só porque sou mulher?
Draco cruzou os braços, os olhos firmes sobre ela.
— Não tem nada a ver com isso, Melody. — Ele respondeu, a voz séria. — Se você não tem nada a esconder, mostra a mochila.
Edgar permaneceu em silêncio, mas seu olhar determinado não vacilava, pressionando-a ainda mais. Melody hesitou, visivelmente nervosa.
— Tudo bem! — Ela finalmente admitiu, soltando um suspiro pesado. — Eu ia roubar.
Draco e Edgar trocaram um olhar, mas continuaram em silêncio, esperando que ela continuasse.
— Mas... — Melody respirou fundo, as palavras saindo rápidas e nervosas. — Eu só ia fazer isso porque eu tenho medo. Medo de acabar sem nada. Se vocês me expulsassem, eu precisava de alguma coisa pra sobreviver lá fora!
Ela olhou para ambos, sua expressão finalmente mostrando algo genuíno.
— Eu sei como isso parece, mas... eu vi grupos desmoronarem antes. Sempre acontece. Sempre tem brigas, traições, e no final... todo mundo acaba morto ou sozinho. Eu só estava tentando me proteger.
Draco olhou para Edgar, como se pedisse a opinião dele sobre o que fazer. Edgar respirou fundo, fechando os olhos por um momento antes de falar.
— Eu entendo. — Edgar disse finalmente, sua voz baixa mas carregada de sinceridade.
Draco o olhou, surpreso, mas Edgar continuou:
— É assustador estar lá fora. Criaturas te caçando, outros humanos querendo te roubar ou pior... Eu sei como é isso. Quando eu estava preso no shopping, eu me sentia assim. Como se não pudesse confiar em ninguém, como se estivesse sempre sozinho.
Ele se aproximou de Melody, olhando diretamente nos olhos dela.
— Então eu entendo por que você fez o que fez. Mas isso não significa que está tudo bem.
Melody olhou para ele, lágrimas começando a escorrer por seu rosto.
— Me desculpem... de verdade. Eu não queria que chegasse a isso.
Edgar assentiu, cruzando os braços.
— O grupo não vai se dividir. Não agora. — Ele disse com firmeza. — Mas, se você quer ficar aqui, precisa se comprometer. Sem mentiras, sem roubo. Ser parte do grupo significa que todo mundo tem que confiar uns nos outros.
Melody assentiu rapidamente, sua voz tremendo enquanto falava.
— Eu prometo. Eu vou me comportar. Eu... eu só quero uma chance.
Draco observou a cena com uma mistura de alívio e orgulho. Ele sabia que Edgar tinha todos os motivos para exigir que Melody fosse embora, mas, em vez disso, ele escolheu estender uma mão.
Draco finalmente interveio, sua voz calma mas autoritária.
— Certo. Você pode ficar, mas com condições.
Melody limpou as lágrimas, assentindo vigorosamente.
— Claro, o que for necessário.
— Primeiro: a mochila vai ficar comigo. — Draco apontou para a mochila ainda nas mãos de Edgar. — Não é porque vamos te dar uma segunda chance que vamos ignorar o que aconteceu.
Melody assentiu, parecendo aliviada.
— Tudo bem.
— Segundo: não vamos comentar sobre isso com o Byron. — Draco continuou, cruzando os braços. — Ele vai achar que tudo foi culpa do Edgar, e isso só vai piorar as coisas.
— O que vamos dizer? — Melody perguntou, preocupada.
— Você vai acordá-lo e fingir que ele caiu sozinho. — Draco respondeu, com um pequeno sorriso de lado. — Pergunte se ele tá bem e aja como se nada tivesse acontecido.
Melody riu nervosamente, mas assentiu.
— Certo.
— E amanhã de manhã, você vai subir para um dos quartos do andar de cima. — Draco disse. — Aqui embaixo já tem problemas demais.
— Combinado. — Melody respondeu, sua voz carregada de alívio.
Edgar pegou a mochila de Melody e a entregou para Draco.
— Vou subir com você. — Edgar disse, sua voz baixa mas decidida.
Draco assentiu, e os dois caminharam juntos para o quarto, deixando Melody na sala para lidar com Byron.
Quando chegaram ao quarto, Edgar jogou-se no puff, soltando um suspiro pesado.
— Isso foi... intenso.
Draco riu baixinho, sentando-se na beira da cama.
— Você lidou bem. — Ele disse, olhando para Edgar com um sorriso pequeno. — Eu tô orgulhoso de você.
Edgar deu de ombros, mas havia um brilho em seus olhos.
— Alguém tinha que ser a voz da razão, né?
Os dois riram suavemente, o alívio finalmente tomando conta do ambiente enquanto a noite se acalmava novamente.
Chapter 29: 29 - Feridas à Mostra
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O riso suave que ecoava no quarto foi interrompido por algo que chamou a atenção de Draco. Ele abaixou os olhos e viu uma pequena linha de sangue escorrendo pelo pescoço de Edgar, resultado do arranhão deixado pela faca de Byron.
Draco imediatamente levantou-se e foi até Edgar, ajoelhando-se na frente dele sem pensar duas vezes.
— Espera aí... você tá sangrando. — A preocupação em sua voz era evidente.
Edgar, pego de surpresa pela aproximação repentina, arregalou os olhos e corou ligeiramente.
— O quê? Não é nada, sério. — Ele tentou recuar, mas Draco já havia colocado uma mão firme em seu ombro para mantê-lo no lugar.
Draco passou o polegar pelo sangue escorrendo, examinando o arranhão com cuidado. Não parecia ser profundo, mas era um corte grande e irritado. Ele inclinou a cabeça de Edgar levemente, levantando o queixo para conseguir uma visão melhor do ferimento.
— Não foi profundo, mas deixou um arranhado grande. — Draco disse, a voz baixa enquanto se concentrava na ferida.
Edgar ficou imóvel, a proximidade deixando-o visivelmente desconfortável. Ele desviou os olhos, tentando evitar o olhar atento de Draco.
— Tá doendo? — Draco perguntou finalmente, seus olhos encontrando os de Edgar por um breve momento.
Foi então que Draco percebeu o quão perto estava de Edgar, praticamente invadindo o espaço pessoal dele. Um rubor subiu ao seu rosto, e ele rapidamente desviou o olhar, afastando-se um pouco.
— A gente precisa cuidar disso. — Draco murmurou, tentando esconder a vergonha em sua voz.
Edgar, percebendo o desconforto de Draco, tentou aliviar a tensão com uma brincadeira.
— Parece que eu tô apanhando por todo mundo nessa casa. — Ele disse, dando um sorriso de canto, embora o desconforto ainda estivesse evidente em seu olhar.
Draco olhou para Edgar novamente, e desta vez percebeu o quão machucado ele realmente estava. O braço ruim de Edgar, ainda envolto em ataduras, lembrava o impacto do martelo de Byron. Agora havia o corte no pescoço, além dos pequenos arranhões espalhados por seu corpo, marcas da última expedição para buscar suprimentos.
Edgar parecia carregar cada uma dessas feridas como se fossem marcas de responsabilidade, e Draco sentiu uma pontada de culpa.
— Você é o único que tá se machucando aqui. — Draco comentou, a voz mais baixa.
Edgar deu de ombros, mas quando percebeu que Draco continuava a observá-lo, desviou o olhar. Ele ajeitou a franja com a mão boa, puxando-a ainda mais sobre o lado do rosto com a cicatriz.
— Tá me encarando demais, chefe. — Edgar brincou, tentando quebrar o clima enquanto evitava olhar diretamente para Draco.
Draco suspirou e colocou uma mão no ombro de Edgar novamente, mais suavemente desta vez.
— Fica quieto. Eu só quero te ajudar.
Edgar assentiu silenciosamente, permitindo que Draco fizesse o que fosse necessário. Mesmo com o desconforto, havia algo na expressão de Draco – um cuidado genuíno – que Edgar não conseguia ignorar.
Enquanto Draco buscava algo para limpar o corte, Edgar observou-o de relance, tentando entender por que, mesmo machucado, estar ali com Draco parecia aliviar um pouco do peso que carregava.
Chapter 30
Notes:
Como atrasei atualização postarei mais do que 10 nessa frequência 💋
Chapter Text
Draco abriu a maleta de primeiros socorros que Edgar lhe entregou, insistindo em cuidar dos machucados do amigo, mesmo sabendo que Edgar tinha experiência em enfermagem antes do apocalipse. Edgar revirou os olhos, mas cedeu.
— Tá bom, chefe. Vou deixar você brincar de enfermeiro. — Ele brincou, tentando esconder o desconforto com humor.
— Não tô brincando. — Draco respondeu com um sorriso de canto, pegando gaze e antisséptico. — Agora fica quieto e deixa eu fazer isso direito.
Edgar se sentou no puff, inclinando o pescoço para dar acesso ao corte. Draco se aproximou, cuidadosamente limpando o arranhado enquanto Edgar o observava em silêncio.
Edgar, distraído pelo toque leve de Draco, acabou desviando o olhar para ele. Pela primeira vez, notou os detalhes que raramente prestava atenção.
Os cabelos ruivos de Draco eram longos, ondulados e rebeldes, caindo de maneira despreocupada ao redor de seu rosto. Edgar achava aquilo tão... bonito. Ele não sabia por que nunca havia reparado antes, mas a luz suave do abajur fazia os fios brilharem de uma forma especial.
O piercing na sobrancelha esquerda de Draco chamava a atenção, dando a ele um ar de rebeldia que contrastava com o cuidado meticuloso que ele demonstrava ao limpar o ferimento. E a barba rala que começava a aparecer dava a Draco um charme casual, como alguém que não se importava em parecer perfeito, mas ainda assim era impossível de ignorar.
Edgar percebeu que estava perdido nesses pensamentos, observando Draco com mais intensidade do que deveria. Ele piscou rapidamente, afastando a sensação estranha, mas não conseguiu evitar sentir o rosto esquentar levemente.
— Pronto. — Draco disse, interrompendo os pensamentos de Edgar.
Edgar piscou de novo, confuso.
— O quê?
— Eu terminei o curativo. — Draco respondeu, levantando-se e guardando os materiais. — Ficou bom?
Edgar se levantou lentamente e olhou para o espelho que havia no canto do quarto. Ele analisou o curativo no pescoço, que consistia em gaze bem enrolada e presa com fita adesiva. Era funcional, mas Edgar não conseguiu evitar um sorriso irônico ao ver o reflexo.
— Parece que eu saí de um filme de múmia. — Edgar comentou, ajustando o curativo levemente com a mão boa.
Draco riu baixinho, cruzando os braços enquanto observava Edgar.
— Bom, pelo menos você não tá sangrando mais.
Edgar olhou para Draco pelo reflexo do espelho e sorriu, um sorriso pequeno, mas genuíno.
— Valeu, Draco. De verdade.
Draco apenas assentiu, tentando esconder a satisfação que sentiu ao ouvir o agradecimento.
Edgar suspirou e se virou para o puff, jogando-se sobre ele com um movimento cansado.
— Acho que vou dormir um pouco. — Ele murmurou, virando-se para a parede.
— Boa ideia. — Draco respondeu enquanto começava a arrumar sua cama.
Enquanto Draco se ocupava, Edgar ficou em silêncio, perdido em pensamentos. Ele olhou para a parede, os dedos mexendo distraidamente em um fio solto do puff.
Desde o início do apocalipse, ele nunca havia se sentido confortável com sua aparência. As feridas e cicatrizes que acumulou ao longo do tempo só pioraram isso. Ele se lembrava de como era antes: confiante, energético, com uma postura que exalava controle.
Agora, tudo o que ele via no espelho era um estranho. O braço ruim, a cicatriz no rosto que ele sempre escondia com a franja, o curativo improvisado no pescoço... tudo parecia gritar que ele era diferente. Estranho. Ele entendia, de certa forma, por que Byron o via como um monstro.
Ele suspirou novamente, fechando os olhos por um momento. Mas então, ele se lembrou de algo.
Draco.
O jeito como Draco olhou para ele enquanto fazia o curativo. Não havia julgamento naquele olhar. Só havia cuidado, algo que Edgar não estava acostumado a receber.
Ele sorriu para si mesmo, um sorriso pequeno e melancólico.
— Talvez... nem tudo esteja perdido. — Edgar murmurou baixinho antes de fechar os olhos, tentando deixar o cansaço levá-lo para o sono.
Draco, que ainda estava arrumando sua cama, olhou para Edgar por um momento, percebendo a calma que havia tomado conta do quarto. Ele sorriu de leve, satisfeito por saber que Edgar finalmente poderia descansar um pouco, mesmo que o mundo lá fora continuasse um caos.
Chapter 31: 31 - Na Escuridão
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Draco acordou com um som que parecia ecoar pela casa. Ele abriu os olhos rapidamente, sentindo o coração bater acelerado. Ele olhou para o puff onde Edgar deveria estar dormindo, mas, mais uma vez, estava vazio.
— De novo não... — Draco murmurou, passando a mão pelo rosto.
Ele se levantou, pegando a faca debaixo do travesseiro e descendo as escadas. A casa parecia diferente – o ar estava mais frio, e o silêncio era esmagador. Algo não estava certo.
Quando Draco chegou ao último degrau, ele viu a porta da entrada aberta. A escuridão da noite parecia invadir a casa, trazendo consigo uma sensação de perigo iminente.
Uma onda de pânico percorreu sua espinha, e ele engoliu em seco.
— Não... — ele sussurrou, sua voz quase inaudível.
No chão, um rastro de sangue levava até o sofá onde Melody deveria estar dormindo. O lençol estava empapado de sangue, rasgado por garras enormes. Draco notou pequenos pedaços de algo que pareciam ser restos mortais espalhados no chão, e o horror começou a tomar conta dele.
Pegadas não humanas, grandes e deformadas, seguiam até a cozinha.
Draco respirou fundo, tentando controlar o pânico que crescia dentro dele. Ele seguiu o rastro, cada passo mais difícil do que o anterior. Quando chegou à cozinha, a visão o fez recuar um passo, quase tropeçando.
Byron estava lá, escondido atrás de uma mesa virada. Ele estava mutilado, sem as pernas e com apenas um braço, mas ainda vivo, com os olhos arregalados de puro terror.
Byron ergueu o dedo trêmulo aos lábios, sinalizando silêncio, enquanto seus lábios moviam-se sem emitir som.
Draco olhou para a porta da cozinha e viu Edgar. Ele estava parado, olhando para fora, imóvel como uma estátua.
— Edgar? — Draco chamou, sua voz baixa mas cheia de pânico.
Ele se aproximou rapidamente, pegando a mão de Edgar para tentar puxá-lo de volta para o esconderijo. Mas quando Edgar virou o rosto, Draco congelou.
O rosto que o encarava não era humano. A boca de Edgar estava rasgada até as orelhas, os dentes grandes e irregulares, parecendo facas. Seus olhos eram completamente negros, brilhando na escuridão.
A criatura sorriu para Draco, e então começou a rir – uma risada gutural e distorcida que ecoava na mente de Draco como uma sirene.
Draco recuou, suas pernas tremendo.
— Não... você não é ele...
A criatura deu um passo na direção de Draco, sua risada ficando mais alta e ameaçadora.
Draco acordou de repente, ofegante e coberto de suor. Ele sentiu mãos em seus ombros e ouviu uma voz familiar.
— Draco! Ei, tá tudo bem? — Edgar estava em cima dele, segurando-o pelos ombros e balançando levemente.
Draco piscou várias vezes, tentando entender onde estava. O quarto estava escuro, mas o rosto de Edgar era humano novamente, cheio de preocupação.
— Você tava gritando... — Edgar continuou, a voz suave mas carregada de preocupação. — E parecia apavorado. O que aconteceu?
Draco levou alguns segundos para responder, ainda tentando afastar a sensação do pesadelo.
— Foi só... só um sonho. — Ele disse finalmente, a voz ainda tremendo.
Edgar o observou por um momento, claramente não convencido, mas assentiu.
— Bom, parecia mais um pesadelo daqueles. — Ele sentou-se no puff novamente, mas não tirava os olhos de Draco. — Se quiser falar sobre isso... tô aqui, tá?
Draco respirou fundo, tentando acalmar os batimentos acelerados. Ele olhou para Edgar, que agora parecia mais humano e mais real do que nunca.
— Obrigado. — Draco murmurou, sentindo-se estranhamente grato pela presença de Edgar, mesmo depois de um sonho tão perturbador.
Edgar deu um pequeno sorriso de lado.
— Não se preocupa, chefe. Ninguém aqui vai te deixar sozinho.
Draco tentou sorrir de volta, mas o pesadelo ainda pairava sobre ele, como uma sombra difícil de dissipar. Ele sabia que a realidade era diferente, mas a sensação de perigo não desaparecia tão facilmente.
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Draco ainda estava sentado na cama, tentando afastar os resquícios do pesadelo, quando Edgar se levantou do puff. Sem dizer nada, ele pegou a mão de Draco, seus dedos firmes, mas gentis.
— Levanta. — Edgar disse, sua voz baixa, mas com um tom suave.
Draco franziu a testa, confuso, mas fez o que Edgar pediu.
— O que você tá fazendo? — Draco perguntou, enquanto Edgar o guiava para longe da cama.
— Dá espaço. — Edgar respondeu, sem explicar mais nada.
Antes que Draco pudesse perguntar novamente, Edgar se sentou na cama e deitou-se confortavelmente, ajeitando-se contra os travesseiros. Ele olhou para Draco, que estava parado no meio do quarto, ainda mais confuso.
— Tá me olhando por quê? — Edgar brincou, com um pequeno sorriso. — Vou dormir aqui hoje.
— O quê? Por quê? — Draco perguntou, sua voz cheia de incredulidade.
— Porque quando eu era pequeno, também tinha pesadelos assim. — Edgar respondeu, virando-se levemente para encarar Draco. — E, naquela época, minha mãe ou meu irmão sempre ficavam comigo. Funcionava. Então... vou tentar o mesmo com você.
Draco sentiu o rosto esquentar, mas não conseguiu formular uma resposta. Edgar estendeu a mão novamente, segurando a de Draco e levantando-a levemente.
— Tá vendo? — Edgar disse, apontando para os dedos de Draco. — Você ainda tá tremendo.
Draco olhou para sua própria mão, surpreso ao perceber que Edgar estava certo. Ele respirou fundo, mas o tremor continuava.
— Agora vem. — Edgar puxou levemente a mão de Draco. — Deita.
Draco hesitou por um momento, mas acabou cedendo, deitando-se ao lado de Edgar. Ele se sentiu um pouco desconfortável no início, mas a presença de Edgar tinha algo reconfortante, algo que o fazia se sentir menos sozinho.
— Agora tenta dormir. — Edgar disse, a voz tranquila.
Draco fechou os olhos, mas cada vez que fazia isso, sua mente era inundada por pensamentos sombrios. Fragmentos do sonho voltavam como flashes, e a ideia de que era apenas questão de tempo até todos estarem mortos parecia real demais.
Ele se remexeu na cama, tentando afastar os pensamentos, mas nada parecia funcionar.
De repente, Draco sentiu algo que o surpreendeu. A mão de Edgar pousou em sua cabeça, os dedos movendo-se suavemente por seus cabelos em um cafuné.
Draco abriu os olhos e virou a cabeça levemente, vendo Edgar deitado ao lado dele. Edgar bocejou, seus olhos semicerrados pelo sono, mas ele continuou o movimento com os dedos.
— Dorme, chefe. — Edgar murmurou, a voz embargada de sono. — Tô aqui.
Draco sentiu uma onda de calma começar a tomar conta dele. Era um gesto simples, mas carregado de cuidado, algo que ele não esperava, mas de que claramente precisava.
Ele fechou os olhos novamente, e dessa vez, os pensamentos sombrios começaram a se dissipar, substituídos pelo som suave da respiração de Edgar e o toque reconfortante de sua mão.
Por um momento, Draco percebeu que, mesmo no meio de um mundo caótico e cheio de perigos, havia pequenos momentos como aquele que faziam tudo parecer suportável.
Chapter 33: 33 - A Alvorada do Caos
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O quarto de Draco estava mergulhado em um silêncio confortável quando a porta foi aberta bruscamente, acordando ambos com um susto. Draco sentou-se rapidamente, os olhos arregalados, enquanto Edgar, em um movimento reflexivo, pegou a faca e puxou Draco para mais perto, protegendo-o.
Mas assim que Edgar percebeu quem estava na porta, ele soltou Draco imediatamente, guardando a faca com um ar de constrangimento.
— Melody? — Draco perguntou, ainda recuperando o fôlego. — O que tá acontecendo?
Melody estava parada na porta, os olhos arregalados, como se tivesse visto um fantasma. Ela olhou para os dois, ainda deitados na cama, e sua expressão mudou para uma mistura de surpresa e confusão.
— Vocês dois... dormem juntos? Na cama? — Melody perguntou, a voz cheia de incredulidade.
Draco e Edgar se entreolharam, ambos claramente pegos de surpresa pela pergunta. Antes que pudessem responder, outra figura apareceu no corredor.
— Stu?! — Draco exclamou, reconhecendo o homem imediatamente.
Stu entrou no quarto, o rosto sério e preocupado.
— Não temos tempo pra isso agora. — Ele disse, a voz firme. — Precisamos sair daqui. Rápido.
Draco franziu a testa, sentindo o pânico começar a subir novamente.
— O que tá acontecendo?
Stu olhou diretamente para Draco e Edgar, sua expressão grave.
— Tem um exército de criaturas lá fora. Elas invadiram minha casa. Eu tive que fugir. Vocês precisam pegar tudo o que é de vocês e se preparar pra sair. Agora.
O quarto caiu em um silêncio tenso enquanto Draco e Edgar processavam a informação.
— Já catei tudo que é meu. — Melody disse, apressada. — Vou ajudar o Byron e as meninas com os mantimentos.
Ela passou por Stu rapidamente, deixando o quarto.
Stu olhou para Edgar, o olhar firme e sério.
— Edgar, pega suas coisas. Quero falar com você em particular.
O tom de Stu era autoritário, sem deixar espaço para questionamentos, o que fez Draco erguer uma sobrancelha em surpresa.
Edgar assentiu lentamente, sem dizer nada, e começou a recolher suas coisas.
Enquanto Edgar guardava seus pertences, Draco não conseguiu segurar a curiosidade.
— Por que Stu quer falar com você em particular? — Draco perguntou, a voz cheia de preocupação.
Edgar deu de ombros, tentando parecer indiferente.
— Não sei. Talvez ele queira me agradecer por ter ajudado a salvar a pele dele antes.
Mas Draco não estava convencido.
— Edgar, isso não parece só um agradecimento. Ele tá sério demais.
— Relaxa, chefe. — Edgar disse, tentando aliviar a tensão. — A gente tem coisas mais importantes pra se preocupar agora. Tipo sair daqui vivos.
Draco suspirou, mas decidiu não pressionar mais. Eles tinham que se concentrar em sair dali o mais rápido possível.
Quando Edgar terminou de guardar suas coisas, ele seguiu Stu para o corredor, deixando Draco no quarto. Eles caminharam até o fundo da casa, onde poderiam conversar sem serem ouvidos.
Stu virou-se para Edgar, cruzando os braços.
— Edgar, eu sei que você não gosta de seguir regras, mas agora preciso que você me escute com atenção.
Edgar arqueou uma sobrancelha, curioso.
— Tá bom, manda.
Stu olhou em volta, certificando-se de que ninguém estava por perto antes de continuar.
— Essas criaturas lá fora... elas estão se organizando. De uma forma que a gente nunca viu antes. E parece que alguém, ou algo, está liderando elas.
Edgar franziu a testa, tentando processar o que Stu estava dizendo.
— Tá dizendo que elas têm um líder agora?
— É o que parece. — Stu respondeu, a voz grave. — E esse líder... tá atrás de algo. Ou alguém.
Edgar ficou em silêncio por um momento, a gravidade da situação finalmente caindo sobre ele.
— E você acha que eu sei alguma coisa sobre isso?
Stu assentiu.
— Acho que você pode ser a chave pra gente entender o que tá acontecendo.
Edgar respirou fundo, sentindo o peso das palavras de Stu. Ele sabia que aquilo não ia ser fácil, mas se realmente era parte de algo maior, precisava estar preparado.
— Certo. Vou fazer o que puder.
Stu assentiu novamente, satisfeito com a resposta de Edgar.
— Vamos sair daqui. Juntos. E descobrir o que diabos tá acontecendo.
Os dois voltaram para o interior da casa, prontos para enfrentar o que quer que estivesse esperando por eles lá fora.
Chapter 34: 34 - Despedidas
Notes:
(See the end of the chapter for notes.)
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Edgar entrou no quarto e encontrou Draco olhando fixamente para o toca-discos. Ele se aproximou, percebendo o que Draco estava pensando.
— Você quer levar isso, né? — Edgar perguntou com um sorriso.
Draco suspirou.
— Queria, mas... não sei se dá.
Edgar foi até o toca-discos, pegando o disco que eles sempre ouviam juntos. Ele colocou o vinil na bolsa de Draco com um sorriso conspiratório.
— Ninguém precisa saber. — Edgar piscou para Draco, que não conseguiu evitar sorrir em resposta.
Draco observou enquanto Edgar vestia sua manta preta, algo que ele usava sempre que estavam prontos para sair.
— Com isso, você parece que saiu direto de um filme. — Draco comentou, tentando aliviar a tensão crescente.
Edgar riu e caminhou até Draco, parando bem na frente dele. Sem aviso, Edgar segurou as laterais do rosto de Draco e inclinou-se para frente, deixando um beijo suave em sua testa.
Draco ficou congelado, os olhos arregalados enquanto Edgar se afastava e saía do quarto sem dizer nada.
— O que foi isso? — Draco perguntou em voz alta, mas Edgar já estava descendo as escadas.
Percebendo que precisava se apressar, Draco pegou suas coisas e correu atrás dele.
Na sala, Stu já havia reunido todos. Melody segurava Bonnie no colo, enquanto Janet estava ao seu lado, segurando firme a mão de Melody. Byron estava ao lado de Stu, com uma expressão de impaciência.
— Vamos entrar no carro rápido. — Stu disse, sua voz firme enquanto olhava para todos. — Está na frente da casa. Precisamos ser rápidos e silenciosos.
A tensão no ar era palpável. Cada um dos presentes podia sentir o perigo lá fora, como se as criaturas estivessem esperando pelo menor sinal para atacar.
Draco estava nervoso, seu coração batendo rápido no peito. Sentindo isso, Edgar discretamente pegou a mão de Draco, apertando-a levemente. Draco olhou para ele, surpreso, mas Edgar manteve os olhos fixos em Stu, como se nada estivesse acontecendo.
— Vamos nos preparar. — Stu disse, abrindo a porta.
Melody foi a primeira a correr, carregando Bonnie, com Janet logo atrás. Elas se lançaram para o banco de trás do carro. Byron correu para o banco da frente, sentando-se ao lado de Stu.
Draco e Edgar foram os últimos. Edgar ajudou Draco a entrar no carro rapidamente, fechando a porta atrás dele. Draco olhou para Edgar, confuso.
— Edgar, entra! — Draco gritou, mas antes que pudesse fazer algo, Edgar fechou a porta.
Stu ativou o trinco imediatamente, e o carro começou a se mover.
— Não! — Draco começou a bater na janela, o pânico tomando conta. — Edgar, entra no carro!
Edgar ficou parado do lado de fora, olhando para Draco com um olhar triste. Ele desviou o olhar, puxando o capuz da manta preta sobre a cabeça.
Stu acelerou, as criaturas começando a se agitar ao redor do carro. Melody tapou os olhos das meninas, tentando protegê-las do horror do lado de fora.
— Isso é desumano! — Melody gritou, desesperada.
Draco continuou a bater na janela, as lágrimas começando a escorrer pelo seu rosto.
— Para o carro, Stu! Ele ainda tá lá fora! — Draco gritou, sua voz cheia de desespero enquanto forçava a porta.
Stu, com o olhar fixo na estrada, ignorou os gritos de Draco.
— Não podemos parar. Se pararmos, todos morreremos. — Ele disse, a voz firme, mas carregada de peso.
Byron, no banco da frente, sorriu satisfeito, como se finalmente tivesse se livrado de um fardo.
Draco não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Ele continuou a gritar, o som misturado com os gritos das criaturas lá fora.
— Edgar! — Draco gritou, sua voz falhando enquanto o carro se afastava.
Edgar olhou para o carro uma última vez antes de desaparecer na escuridão, a imagem de sua figura coberta pela manta preta sendo a última coisa que Draco viu antes das lágrimas nublarem sua visão.
Notes:
É aqui que encerramos nossa primeira temporada até semana que vem com os primeiros capítulos da 2 temporada:)
Chapter 35: Capítulo 35 - Silêncio na Estrada
Notes:
Oi oi voltei após um tempo, vou tenta posta tudo nesse mês, eu tava passando por coisas difíceis mas agora eu to muito bem, nossa passei por uma grande novela mexicana, irei transformar isso em uma fanfic de south park depois, pois caralho que confusões eu me meti, mas agora eu to muito feliz e com o amor da minha vida, eu estava tentando transformar essa história em um quadrinho até ano que vem termino ele, agora essa história eu pretendo termina esse mês
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O carro corria pela estrada, o motor rugindo enquanto Stu forçava o veículo a seguir em frente, deixando as criaturas para trás. No interior do carro, o silêncio era esmagador. Apenas o som abafado do choro de Draco e os soluços ocasionais de Bonnie quebravam a quietude.
Melody continuava a segurar as meninas, tentando mantê-las calmas, mas até mesmo ela parecia abalada. Byron, sentado no banco da frente, olhava para fora da janela, um leve sorriso de satisfação ainda curvando seus lábios.
Draco, por outro lado, estava um caos. Ele apertava os punhos, as unhas cravando nas palmas das mãos enquanto tentava processar o que havia acontecido. Edgar, seu parceiro, seu aliado, tinha ficado para trás. E agora, ele estava sozinho, enfrentando aquelas criaturas.
— Por que... — Draco começou, sua voz tremendo e arrasta pelo choro e lamento. Ele olhou para Stu, a raiva, o ódio e a dor misturando-se em seus olhos. — Por que você fez isso? Por que deixou ele lá?
Draco falava de maneira agressiva quase avançando no banco da frente mas Melody estica seu braço colocando na frente dele obrigando ele recua Stu não desviou o olhar da estrada, mas sua voz estava pesada quando respondeu:
— Não tínhamos escolha, Draco. Se tivéssemos parado, todos nós estaríamos mortos agora.
Draco balançou a cabeça, incapaz de aceitar a justificativa.
— Ele não precisava ficar! Ele podia ter entrado no carro, nós podíamos ter dado um jeito!
— Ele escolheu ficar. — Stu disse firme.
Draco sentiu uma onda de desespero e impotência. Ele se recusava em acredita nessas palavras de Stu Edgar havia prometido em sair dessas juntos, Draco sente seu coração aperta e sua respiração fica densa e desesperada ele olhou para suas mãos, ainda trêmulas, tentando encontrar uma maneira de lidar com aquilo, ele leva as mãos até o cabelo puxando eles enquanto lagrimas teimavam a cair
Melody, percebendo o estado de Draco, retirou Bonnie de seu colo e passou ela para Janet , Melody se aproximou mais de Draco
— Draco... ele fez isso para nos proteger. — Ela disse suavemente, olhando para ele. — Edgar sabia que aquelas criaturas estavam atrás de nós. Ele ficou para garantir que tivéssemos uma chance.
— Como você ousar me dizer isso?— Draco perguntou, sua voz cheia de rancor
Melody recuou arregalando os olhos enquanto Draco continuava
—Melody saber que o Edgar ficou para a gente estar aqui não me faz sentir melhor, se você se sente melhor por isso é porque você é uma egoísta que só pensa em sua própria sobrevivência...—
A voz de Draco de agressiva foi se perdendo ao choro por lembra de todos os momentos que Edgar havia o salvado.
—Eu preferia morrer do que perde ele assim.
Ele fala com ódio olhando para Melody, Melody engole a seco e hesita antes de fala
— Eu pelo menos não irei fazer desse sacrifício dele ser em vão.—
Draco sentiu um nó se formar em sua garganta. Ele não queria acreditar que Edgar tivesse se sacrificado deliberadamente. Ele não podia aceitar isso.
— Ele vai voltar. — Draco disse, mais para si mesmo do que para os outros. — Ele sempre volta.
Melody não respondeu. Ela apenas pegou Bonnie de volta e voltou sua atenção para as irmãs deixando Draco em sua crise.
Após horas o carro continuava seu caminho pela estrada o céu claro e escuro ao mesmo tempo fazendo todos perderem noção do tempo, Draco ainda se agarrando à esperança de que Edgar de alguma forma sobreviveria, olhou para o retrovisor, como se esperasse vê-lo correndo atrás do carro, seguro e ileso.
Mas tudo o que ele viu foi alguns corpos e carros largados pela estrada.
— Ele vai voltar... — Draco repetiu, fechando os olhos enquanto as lágrimas caíam silenciosamente.
Dentro de si, ele sabia que precisava ser forte, não só por si mesmo, mas pelos outros no carro. Mas a dor da perda de Edgar era insuportável, e ele não sabia quanto tempo conseguiria manter a esperança viva quando o único refúgio dele havia ido embora.
A estrada parecia se estender infinitamente à frente, e com cada quilômetro que passava, a ausência de Edgar parecia mais real, mais definitiva.
Mas Draco se recusava a desistir. Ele se agarrava à esperança era a última coisa que o mantinha de pé, prometendo a si mesmo que faria de tudo para reencontrar Edgar, não importava o que custasse.
Chapter 36: Capítulo 36 - Lembranças e Lágrimas
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O peso do que havia acontecido finalmente levou Draco ao limite, e, após horas chorando silenciosamente no banco de trás do carro, ele acabou caindo no sono. Seu descanso, porém, foi preenchido por lembranças vívidas de Edgar, momentos compartilhados que agora pareciam tão distantes.
Em seu sonho, ele viu Edgar sorrindo enquanto colocava o disco no toca-discos, os dois rindo juntos ao som da música que sempre ouviam. Ele se lembrou do toque leve de Edgar em seu ombro, das brincadeiras sarcásticas que sempre o faziam sorrir, e, finalmente, do beijo suave na testa que Edgar lhe deu aquele gesto simples, mas cheio de significado, ecoava em sua mente como um adeus que ele não queria aceitar.
Draco foi despertado abruptamente pelo som dos freios do carro. Ele abriu os olhos lentamente, o rosto ainda úmido de lágrimas, e viu que Stu estava ajudando todos a descerem do carro. Quando Stu se aproximou para ajudar Draco, ele apenas olhou para o homem com uma fúria contida e recusou a mão estendida, saindo do carro sozinho.
Melody, ao lado de Stu, trocou um olhar preocupado com ele, mas não disse nada. A tensão entre Draco e Stu era palpável, mas ninguém queria aumentar o conflito naquele momento.
Stu guiou o grupo até um celeiro abandonado, explicando que eles ficariam ali por um tempo, pelo menos até encontrarem um lugar seguro para se estabelecerem. O celeiro era velho, mas oferecia abrigo. Cada um escolheu um canto para se acomodar, tentando encontrar um pouco de paz em meio ao caos.
Draco, ainda devastado, se sentou no chão ao lado de alguns blocos de feno, tentando controlar as lágrimas que ameaçavam cair novamente. Ele respirou fundo várias vezes, mas o peso no peito não diminuía.
Bonnie, que até então estava próxima de Melody, se aproximou silenciosamente de Draco. Sem dizer nada, ela se sentou ao lado dele, suas pequenas pernas balançando enquanto olhava para o chão.
— Eu também gostava do Edgar. — Ela disse baixinho, quebrando o silêncio.
Draco olhou para ela, surpreso pela sinceridade de sua voz.
— Ele salvou o meu pai. — Bonnie continuou, seus olhos grandes e inocentes fixos em Draco. — Quando ele foi na nossa casa, ele brincou comigo de boneca. Eu tava com medo, mas ele me fez rir... ele disse que tudo ia ficar bem.
Draco sentiu o nó em sua garganta apertar, e as lágrimas, que ele tentava desesperadamente conter, começaram a escorrer pelo seu rosto. Ele não conseguiu mais segurar e desabou, chorando novamente.
Bonnie, vendo o sofrimento de Draco, o abraçou, envolvendo-o com seus pequenos braços. Ela começou a chorar também, suas lágrimas misturando-se com as de Draco enquanto os dois se confortavam mutuamente, unidos pela dor da perda.
O som dos dois chorando juntos ecoou suavemente pelo celeiro, um lamento compartilhado que parecia expressar tudo o que palavras não podiam dizer. Melody, observando de longe, sentiu o coração apertar ao ver Bonnie e Draco tão vulneráveis, mas sabia que aquele momento era necessário.
Stu, por outro lado, olhou para baixo, a culpa evidente em sua expressão. Ele sabia que, apesar de suas decisões serem para proteger o grupo, havia consequências emocionais que ele não podia evitar.
Enquanto as lágrimas continuavam a cair, Draco sentiu um pequeno conforto. Bonnie estava ali, oferecendo o consolo que ele precisava, e, por um momento, ele não se sentiu tão sozinho. Mesmo em meio à escuridão, havia uma pequena luz, um laço que o ajudava a lida com a dor que era insuportável.
Chapter 37: Capítulo 37 - A Ira e o Legado
Notes:
Caralho eu tenho que para de posta coisas de madrugada T-T
Chapter Text
Stu observou Draco e Bonnie de longe, seu peito se apertando com a cena de vulnerabilidade compartilhada. Ele respirou fundo, tentando acalmar a própria mente. Melody, se aproxima de Stu timidamente e finalmente quebrou o silêncio.
— Stu... — Ela começou, hesitante. — O Edgar... ele realmente morreu? — ela diz como se estivesse perguntando um segredo
Stu olhou para ela, seu rosto impassível, mas seus olhos carregavam um peso enorme, algo que ele não poderia conta.
— Edgar sabe o que faz. — Ele respondeu simplesmente ele leva a mão até a cabeça da garota bagunçando o cabelo dela, antes de se afastar e caminhar até Draco e Bonnie, deixando uma Melody apreensiva encarando suas costas.
Stu hesitou por um momento antes de se agachar ao lado de Draco e Bonnie. Bonnie olhou para ele com olhos grandes e molhados, enquanto Draco o encarava com uma raiva contida, segurando as lágrimas que ainda escorriam pelo rosto.
— Draco... — Stu começou, a voz baixa mas neutra. — Sei que você e Edgar criaram um laço...
Ele pegou Bonnie no colo, a menina apertando os braços ao redor do pescoço do pai. Stu então colocou a mão no bolso e tirou algo pequeno, estendendo para Draco.
— Edgar pediu pra te entregar isso.
Draco pegou o objeto com mãos trêmulas. Era um pequeno bilhete dobrado. Ao reconhecê-lo, uma fúria começou a crescer dentro dele. Ele percebeu que Stu e Edgar haviam planejado aquilo. Stu sabia que Edgar ficaria para trás e simplesmente o deixou fazer isso.
Sem dizer uma palavra, Stu se levantou e saiu com Bonnie, deixando Draco sozinho com o bilhete. Com o coração batendo descompassado, Draco abriu o bilhete, as lágrimas voltando a encher seus olhos enquanto lia as palavras de Edgar.
*Draco,
Sei que tudo pode parece confuso agora, mas por favor cuida deles por mim, cuida de você por mim. Confio em você. Não deixa a esperança morrer. Eu vou volta para você.
– E.*
Draco apertou o bilhete contra o peito, a dor e a raiva se misturando em um grito primal que ecoou pelo celeiro. Ele se levantou abruptamente, seus olhos brilhando com uma fúria incontida.
Byron, que estava deitado em blocos de feno, ergueu-se com um olhar irritado.
— Ah, para com esse drama! — Byron gritou. — Edgar era um monstro! Ele teria nos levado à morte se tivesse ficado.
Draco, com o corpo tremendo de raiva, não conseguiu se conter. Ele avançou em direção a Byron e o socou com força, o impacto fazendo Byron cair no chão. Byron gemeu de dor, mas Draco não parou, gritando enquanto se inclinava sobre ele.
— Cale a boca! — Draco gritou, sua voz cheia de dor e fúria. — Você não sabe nada! Ele salvou a todos nós! Ele salvou você! ERA PARA VOCÊ TER FICADO NO LUGAR DELE.
Melody rapidamente cobriu os olhos de Janet, ao lado, observava em choque, incapaz de se mover.
Stu rapidamente voltou correndo ao ouvir a confusão, e viu Draco em cima de Byron, prestes a atacá-lo novamente. Ele se apressou colcando Bonnie no chão que correu até melody, Stu segurou Draco pelos ombros, puxando-o para trás com força.
— Draco, para! — Stu gritou, tentando contê-lo.
Draco lutava contra o aperto de Stu, mas a tristeza e o cansaço finalmente o alcançaram, drenando sua força. Ele parou de lutar e começou a chorar, os soluços tomando conta de seu corpo.
Stu segurou Draco com firmeza, tentando acalmá-lo enquanto a tensão no celeiro diminuía. Melody ainda mantinha Bonnie protegida, e Janet finalmente saiu do estado de choque, Byron que se levantava e limpava o sangue do rosto, cospe no chão do lado de draco e fala.
— Você vai acaba se matando assim, você está enloquecendo desde aquele monstro pisou naquela casa...—Stu fala firme cortando Byron
— Byron vá se deita em outro local.— Byron tenta abri a boca pra discutir mas Stu olha para ele com raiva, Byron revira os olhos e se retira.
Draco, sem forças para continuar, desabou nos braços de Stu, as lágrimas escorrendo livremente.
— Eu só... eu só queria ele de volta... — Draco murmurou entre os soluços, sua voz cheia de desespero.
Stu apertou o ombro de Draco, o peso da situação evidente em seus olhos. Ele sabia que não havia palavras que pudessem aliviar a dor de Draco naquele momento, mas pelo menos, ele podia estar ali, segurando-o, enquanto a tempestade de emoções passava.
Chapter 38: Capítulo 38 - Alimentação e Descobertas
Notes:
Bem último q vou posta agora, quando eu acordar provavelmente postarei o restante
Chapter Text
Um tempo após o ocorrido quando a situação se acalmou o grupo se reuniu no centro do celeiro, onde Stu havia montado uma pequena fogueira improvisada. As chamas lançavam sombras dançantes pelas paredes de madeira, era tão escuro, o local passava uma insegurança criando um ambiente quase surreal. Melody distribuiu o que restava dos mantimentos, tentando garantir que todos tivessem algo para comer.
Draco, no entanto, estava sentado em um canto, com uma lata intocada ao seu lado. Ele encarava o chão, sua mente distante, afogada na tristeza. A perda de Edgar parecia pesar mais a cada minuto, sugando sua vontade de participar de qualquer coisa.
Melody, percebendo o estado de Draco, sentiu a responsabilidade de acalmar o grupo cair sobre seus ombros. Ela olhou ao redor, vendo as expressões tensas de todos. As meninas de Stu estavam abraçadas ao pai, que tentava distraí-las com histórias, embora sua voz carregasse uma tensão evidente.
— Vamos lá, gente. — Melody disse, tentando soar mais otimista do que realmente se sentia. — Precisamos comer algo. Não vamos conseguir pensar direito se estivermos com fome, precisamos nos alimentar qualquer fraqueza nesse tempo irá ser fatal.
Ela olhou para Draco, com um olhar suave, mas firme.
— Draco, você precisa comer. Edgar não ia querer te ver assim.
Draco levantou os olhos lentamente, encontrando o olhar de Melody, Melody se assustar um pouco com a raiva carregada no olhar e ela se pergunta se foi boa ideia tenta fazer algo. Draco sabia que ela estava certa, mas a dor no peito parecia esmagadora demais. Mesmo relutante, ele pegou a lata e começou a comer lentamente, sem realmente sentir o gosto de nada sem falar absolutamente nada Melody sem graça fala com uma animação que parecia mais nervoso.
— eeh isso ai Draco fico feliz por você entender— ela se afasta voltando para fogueira rapidamente
Byron, sentado perto da fogueira, olhava para Draco com uma expressão irritada. Ele bufou, cruzando os braços.
— Grande líder você tá sendo, hein? — Byron disse, a voz cheia de sarcasmo. — Não consegue nem cuidar de si mesmo.
Stu, que estava tentando manter as meninas calmas, lançou um olhar severo para Byron.
— Chega, Byron. Não estamos aqui para brigar entre nós.
— É fácil falar, né? — Byron retrucou. — Mas alguém tem que dizer a verdade. Se continuarmos assim, não vamos durar muito.
Melody já cansada das discussões do clima terrível das perdas por conta desse inferno que estava na Terra ela se levanta e junto disso levanta seu tom de voz repreendendo os meninos.
— Isso não ajuda em nada, Byron. Estamos todos fazendo o melhor que podemos, Meu deus gente vocês não percebe a situação que estamos? Não podemos briga! é a gente contra aquelas criaturas la fora se a gente começa a discutir nos tornaremos alvos fáceis caramba.— ela dizia gesticulando e batendo um pé.
Byron resmungou, mas se calou, virando-se para o lado e pegando sua propria lata. A tensão no celeiro permaneceu, mas pelo menos a discussão havia sido interrompida.
Depois de forçarem-se a comer um pouco, o grupo começou a se espalhar novamente, cada um lidando com a situação à sua maneira. Draco, ainda sentindo-se abalado, voltou para o canto onde havia deixado suas coisas. Ele abriu a mala, procurando algo que pudesse distraí-lo do peso em seu peito.
Foi então que ele encontrou algo que não esperava.
No fundo da mala, estava o caderno de anotações de Edgar. Draco puxou-o lentamente, seus dedos tremendo levemente enquanto folheava as páginas. Edgar deveria ter deixado quando guardou o disco draco forçava sua visão nas páginas, obcaderno estava cheio de desenhos, anotações sobre as criaturas, e até alguns pensamentos pessoais de Edgar a luz da fogueira dando vislumbres de alguns detalhes.
Uma nota em particular chamou sua atenção:
*“Se algo acontecer comigo, espero que isso te ajude. Draco, sei que você vai cuidar de todos. Sempre confiamos um no outro, e sei que você vai continuar lutando.”*
As lágrimas voltaram aos olhos de Draco enquanto ele segurava o caderno contra o peito. A dor ainda estava lá, mas, de alguma forma, o caderno de Edgar parecia trazer um pouco de conforto. Era como se uma parte de Edgar ainda estivesse com ele, guiando-o, mesmo à distância.
O silêncio do celeiro foi quebrado por um som distante, um ruído baixo que parecia vir da floresta ao redor. Stu imediatamente ficou em alerta, colocando-se de pé e olhando para a direção de onde o som vinha.
— Fiquem quietos. — Stu sussurrou, seus olhos fixos na escuridão além das portas do celeiro.
O som foi ficando mais alto, um farfalhar constante que indicava que algo, ou várias coisas, estavam se aproximando.
Draco guardou rapidamente o caderno de Edgar e se juntou a Stu, a faca em mãos. Melody apagou a fogueira e pegou as meninas e as levou para um canto mais seguro escondidas atrás do feno, enquanto Byron, embora relutante, também se preparava para o que viesse.
— Temos que nos preparar. — Stu disse, a voz firme e sussurrada — Seja o que for, não podemos deixar que nos peguem de surpresa.
Draco sentiu o coração acelerar, o som cada vez ficava mais alto o chão tremia junto, todos se entre olhavam entrando em modo alerta total
Chapter 39: Apenas um desenho em homenagem a primeira temporada
Notes:
Apenas um rascunho em homenagem a primeira temporada
Merliny_Swtzet on Chapter 1 Sun 05 Jan 2025 04:47AM UTC
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Merliny_Swtzet on Chapter 21 Wed 05 Mar 2025 03:00AM UTC
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Merliny_Swtzet on Chapter 23 Wed 05 Mar 2025 03:14AM UTC
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pandeelote (Guest) on Chapter 34 Tue 04 Mar 2025 04:09PM UTC
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Merliny_Swtzet on Chapter 34 Wed 05 Mar 2025 04:01AM UTC
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winibyeo on Chapter 34 Wed 19 Mar 2025 11:42PM UTC
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Yuyukihh (Guest) on Chapter 34 Wed 14 May 2025 08:47PM UTC
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Merliny_Swtzet on Chapter 34 Sat 24 May 2025 06:38PM UTC
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sanrioboy_jay on Chapter 34 Mon 13 Oct 2025 06:06AM UTC
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Merliny_Swtzet on Chapter 34 Mon 13 Oct 2025 08:54AM UTC
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Yuyukihh (Guest) on Chapter 34 Wed 24 Sep 2025 12:28AM UTC
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sanrioboy_jay on Chapter 34 Mon 13 Oct 2025 06:06AM UTC
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Merliny_Swtzet on Chapter 38 Mon 13 Oct 2025 09:13AM UTC
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Merliny_Swtzet on Chapter 39 Tue 14 Oct 2025 02:05AM UTC
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Yuyukihh (Guest) on Chapter 39 Tue 14 Oct 2025 09:18PM UTC
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