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I can turn blue into something beautiful (beautiful like you)

Summary:

5 vezes em que o Andrew escondeu seu sorriso de todos + 1 em que ele se permitiu mostrá-lo a Neil.

Notes:

FELIZ AMIGO OCULTO!!
Era para isso ser uma oneshot, mas se transformou num monstrinho de seis capítulos que eu não consegui finalizar a tempo da entrega dos presentes. Perdão!
Mas não se preocupe, os próximos caps. já estão a caminho e eu vou escrever essa história até o fim. Portando, ligue a notificação dela se quiser acompanhar :)

Alex, espero muito que você goste <3

Chapter 1

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

— Você tá roubando, não é possível! — Nicky exclamou assim que a carta final de Andrew caiu por cima das outras, oficializando mais uma vitória para ele.

Aaron fez seu drama jogando suas cartas restantes para o alto, xingando o irmão num murmúrio. Nicky continuou seu show batendo a cabeça na mesa ao lamentar o total de cinco derrotas consecutivas no UNO, indignado por todas terem sido graças ao primo. Andrew soprou a fumaça do seu segundo cigarro da noite para fora com satisfação. Lançou um olhar furtivo a Neil e o viu sorrir levianamente.

— Como alguém pode ter tanta sorte? — Nicky choramingou contra o tampo da escrivaninha.

— Sorte é o caralho, você tá de trapaça com certeza! — Aaron acusou Andrew, que mal dignou um olhar para o irmão, dando uma tragada no cigarro. — Com você! — Ele apontou o dedo para Neil.

Andrew viu o sorriso do ruivo se entortando ao que ele dava de ombros sem desviar a atenção da tarefa de recolher as cartas.

— Eu não sei de nada.

Aaron bufou em resposta, se levantando.

— Eu desisto.

— Covarde — Andrew acusou.

Seu irmão lhe deu as costas e estendeu o braço para lhe mostrar o dedo do meio, caminhando em direção a cozinha. Nicky murmurou algo sobre banheiro e se arrastou até lá pelo que Andrew contou como a quarta vez na última hora – os drinks cor de rosa de Allison no meio da cena do crime.

Enfim sozinhos na janela, Andrew e Neil trocaram um olhar cúmplice antes de Andrew erguer a bunda do peitoril apenas o suficiente para Neil recolher as cartas escondidas debaixo dela e juntá-las ao baralho.

— Mentiroso — Andrew soltou.

— Trapaceiro — Neil devolveu.

A operação durou exatos cinco segundos, e quando Aaron voltou até lá com uma long neck em mãos, foi como se nada tivesse acontecido. Sem rastros, sem trapaça.

Andrew sustentou a mirada de Neil, que o encarava com seus olhos intensos, encarcerando a atenção dele dentre as ondulações das variadas tonalidades de azul que encapsulavam, enquanto os dedos ágeis não deixaram de embaralhar as cartas do jogo.

— Matt não gosta de marcas de cigarro na janela.

Contrariado, Andrew arrastou os olhos até Aaron, que fitava a mão do gêmeo apagando a bituca no peitoril. Andrew a esmagou com mais força por tempo o suficiente para que a marca ficasse bem evidente, sem desafixar o olhar do irmão. Aaron revirou os olhos e se contentou em deixar para lá, dando uma golada em sua cerveja.

Quando Andrew se voltou para Neil, ele já estava distraído com a gargalhada feminina que atravessou o quarto. Não era do interesse do loiro qual brincadeira entediante os veteranos estavam fazendo, mas o fato do som estridente ter saído de Renee o fez dar uma olhada.

Já era madrugada e, àquela altura da noite de jogos, ninguém mais estava ligado o suficiente para se dedicar a uma partida séria de alguma coisa. Então, enquanto Matt e Dan se acabavam de rir, emaranhados no chão jogando Quem Sou Eu?, as outras duas meninas disputavam no Mario Kart do sofá, com os primos e Neil jogando UNO nas escrivaninhas e Kevin encolhido num canto com a cara enfiada num cubo mágico que ele nunca iria resolver.

Desde que todos haviam jogado uma incessante e quase interminável partida de Risk – que teria durado, no máximo, duas horas se a maioria deles não agisse como animais selvagens em caça –, Kevin tinha lidado com a sua patética derrota da maneira que sempre fazia: sendo um idiota. Ele se isolou do resto das Raposas, se recolhendo a sua insignificância, ao passo que a equipe Minyard-Walker dominou o mundo e acabou com a raça de todos os outros times. Isso, é claro, depois de Day apontar detalhadamente as falhas que Nicky cometeu como sua dupla. Nicky, por sua vez, não questionou nenhuma delas, apenas derramou uma golada do Pink Panther patenteado de Reynolds garganta a baixo a cada uma.

Naquele momento, Andrew observou, os veteranos haviam se agrupado ao fazerem uma dinâmica estúpida onde Matt pressionava os braços cruzados de cada um contra seus próprios peitos, o que aparentemente os fazia gargalhar.

— É divertido — comentou Renee ainda risonha, voltando a respirar normalmente.

— Minha vez! — Allison tomou o lugar dela, deitando no chão.

Andrew não foi pago para estar lá.

Sério.

Ele não recebeu uma sequer recompensa em dinheiro. Ou em cigarros. Nem mesmo em doces. Mas Neil – maldito Neil – usava a presença de Andrew em ocasiões que nem aquela como carta de troca para o que quer que Andrew quisesse dele – como um jogo íntimo e secreto que pertencia apenas ao dois.

Desde que as Raposas se reuniram e passaram a noite em um só quarto, depois de voltarem do pesadelo que foi Baltimore, numa rara ocasião de união fora da quadra, o que era para ser um evento isolado se tornou uma espécie de tradição. Pelo menos uma vez ao mês, o time passou a se encontrar no quarto de Matt e Aaron, antes pertencente a Neil, a fim de realizar alguma atividade banal e medíocre em grupo. Noites de filmes, noites de jogos, noites temáticas, sempre terminando no mesmo cenário: os nove caindo no sono, esparramados no chão forrado em lençóis de um espaço pequeno demais para acomodar a todos.

Tentativas falhas de parecerem pessoas normais e ajustadas.

Para Andrew, o mais irritante era a forma com que tudo acontecia. A maioria agia despretensiosamente sobre as noites, como se a equipe realmente se unisse mensalmente de forma natural para "curtir junto". Como se, caso uma Raposa não quisesse fazer parte, não fosse sofrer forte retaliação e pressão psicológica até que mudasse de ideia.

Kevin que o diga. Sem ninguém para acompanha-lo, seus treinos noturnos estavam fora de cogitação quando haviam encontros orgânicos como aquele.

Uma grande perda de tempo, era o que Andrew tinha a dizer a Neil sobre isso. Não que adiantasse, a resposta de Josten era sempre a mesma, não importando a insistência:

— Raramente te vejo entediado quando estamos lá. — Ele dava de ombros e ainda tinha a audácia de parecer achar graça.

Andrew o odiava.

Ele suspeitava que Aaron e Renee compartilhavam da opinião de Neil, ainda mais nas noites em que Andrew escolhia o filme, sem ligar para a opinião do resto, ou usava o raciocínio rápido a seu favor em jogos de estratégia. Mas eles eram espertos o suficiente para ficarem quietos sobre o assunto. Diferente de Neil, é claro.

Neil era um imbecil. Um imbecil por escolha.

E Andrew era um imbecil ainda maior por comparecer a todas as noites atípicas só para ter o deslumbre de um novo fragmento de Neil Josten em troca, mesmo achando que lhe seria concedido de qualquer maneira, eventualmente.

Em defesa de Andrew, Nicky sempre comprava chocolates para a ocasião. E irritar Kevin com filmes repletos de incoerências históricas era muito melhor do que assisti-lo quicar uma bola numa quadra vazia por horas a fio.

Mas em momentos como aquele, no qual a risada esganiçada de Allison rasgava seus tímpanos e a animação de Dan para ser a próxima a ser esmagada lhe causava enjoo, Andrew questionava quanto realmente valiam as verdades de Neil.

Talvez ele cobrasse um boquete em troca daquela noite.

— Pra que isso? — Neil perguntou.

— É uma brincadeira pra descobrir a verdadeira risada das pessoas. — Matt gesticulava animado. — Aprendi com os meus priminhos no Natal.

Se as janelas dos dormitórios não tivessem telas de proteção pregadas a elas, Andrew teria se jogado da mais próxima. Parecia um destino mais agradável do que fazer parte daquilo.

Enquanto a única possibilidade de realizar esse desejo era na sua imaginação, ele apenas se levantou e foi até a geladeira. Infelizmente não longe o suficiente para deixar de ouvir a conversa.

— É assim: a pessoa deita e cruza os braços sobre o peito...

Andrew abriu a geladeira e procurou algo interessante em meio às sobras de comida, garrafas de cerveja e as caixas de leite de amêndoas de Aaron.

O lembrete de que o bebezão do seu irmão era intolerante a lactose quase o fez querer sorrir.

— Aí você pede pra ela forçar uma risada e então aperta os braços dela contra o peito. Sem muita força, claro...

Andrew agarrou o pacote meio vazio de M&M’s que encontrou no fundo da última prateleira e bateu a porta da geladeira com força.

— A pessoa vai sentir uma vontade incontrolável de rir e soltar uma gargalhada super genuína.

Neil piscou para Matt, apático. Houve um segundo de silêncio em que Andrew leu na expressão dele que Neil achou aquilo tão estúpido quanto ele.

— Hm — foi o que disse, fazendo uma pausa. — Por quê?

— Não faço ideia — Matt respondeu seriamente.

Então ele e as meninas começaram a rir, ainda mais abobalhados que o normal pela quantidade de Pink Panthers ingeridos até aquele momento. Andrew piscou lentamente e se recostou no balcão, dando as costas a eles ao encher a boca de M&M’s vermelhos, fantasiando que o pigmento era feito com o sangue de cada um.

Ele ouviu um arquejo e não precisou se virar para saber que saiu da boca de Nicky.

— Me dá um pouquinho aí! — Andrew afastou a embalagem do doce quando o primo tentou pegá-la, lançando um olhar enviesado de aborrecimento. Nicky transformou a súplica numa lamúria. — Vai, Andrew! Você só come os vermelhinhos, deixa eu comer os outros!

Ainda olhando para ele, Andrew virou o pacote na boca, derramando nela todos os M&M’s que restavam. Nicky bufou e foi para longe. Logo sua atenção estava na atividade extremamente inovadora e interessante dos veteranos. Depois de Dan, Nicky se candidatou a fazer parte da palhaçada, trocando de lugar com Matt após terminar de danificar a audição de Andrew com as suas risadas.

Ele mal percebeu a aproximação de Renee, mas ela fez barulho ao arrastar o banco alto da ilha de mármore, sentando-se atrás de Andrew.

— Não quer participar?

Andrew se virou de lado para poder olhá-la nos olhos, as bochechas infladas pelo tanto de chocolate que ele mastigava com esforço. Renee o contemplou por um momento, divertida, e então sorriu, apoiando a cabeça numa das mãos para assistir aos outros. Andrew soube que ela entendeu sua resposta.

— Quer tentar, Aaron? — Matt propôs.

Um breve silêncio cobriu a sala.

Andrew já havia notado que uma aproximação entre Boyd e seu irmão aconteceu com todos aqueles meses sendo colegas de quarto, passada a estranheza das primeiras semanas de adaptação. Conversas sobre as namoradas, ajuda com as aulas, uma melhor harmonia dentro da quadra... Andrew não sabia – e não ligava o suficiente para descobrir – se aquelas interações do cotidiano constituíam uma amizade entre eles, mas era notável que o convívio dos dois tornou recorrente atitudes como a de Matt incluir Aaron daquele jeito.

Andrew olhou para o irmão e viu sua hesitação na lentidão em que engoliu o gole de cerveja. Aaron olhou para o gêmeo de relance antes de deixar a long neck de lado e se levantar.

Andrew com certeza cobraria um boquete em troca daquela noite.

Ele deixou o cômodo e foi ao banheiro, dizendo a si mesmo que sua bexiga cheia era a única razão. Depois de mijar, Andrew voltou, fingindo que a gargalhada de Aaron não tinha sido mais alta do que o jato de água da pia e que o som não tinha lhe transmitido nem um pingo de satisfação.

Nicky estava insistindo para que Kevin tentasse também quando Andrew retomou o seu lugar na janela. Kevin fazia com as sobrancelhas o franzimento característico da carranca que ele e o treinador compartilhavam, por mais que negassem as acusações do fato infinitamente. Seu cubo mágico já havia sido jogado de lado, apesar da sua acidez permanecer presente. Nicky o puxava pelos braços e Kevin se debatia ao tentar se soltar.

O mau humor acentuado dele se devia não apenas a lamentável derrota no Risk, mas também ao seu luto pela vodca ter sido toda usada por Alisson ao fazer seu drink muito doce, muito leve e muito rosa – um terror ao paladar mimizento de Kevin.

— Vocês só tão prolongando a noite com essa palhaçada, é claro que isso não é real. — Andrew ouviu Day dizendo enquanto tirava um cigarro do maço. — A partir do momento que vocês sabem o objetivo da brincadeira, vocês reagem de acordo com ele, como uma profecia autorrealizável — ele continuou, ignorando o couro de desaforos das Raposas.

Andrew tateou os bolsos a procura do isqueiro, mas só o achou quando Neil apareceu na sua frente, recostando na escrivaninha com o objeto em mãos. Eles se fitaram ao que Andrew inclinou o cigarro pendurado nos lábios na direção de Neil, que deu luz a ele no mesmo instante. Andrew tragou com gosto e soltou toda a fumaça no rosto do outro. Neil mal piscou, a lateral dos lábios repuxando para os lados.

— Sem fumaça do lado de dentro — ele fez com a boca, sem emitir som.

— Foda-se — Andrew fez com a sua, procedendo com outro trago.

Neil apoiou uma das pernas no tampo da mesa, sentando de lado. Andrew liberou a fumaça em direção a janela dessa vez, mesmo sabendo que nenhum dos patetas estava verificando-o. Todos estavam investidos em Kevin. Em provar que ele estava errado.

Quando Andrew olhou de volta para dentro, Kevin estava deitado com os braços na posição indicada por Matt, mas ainda de boca aberta para protestar, como a natureza do seu ser mandava. O tempo todo.

— Cara, pra funcionar você precisa relaxar.

— Eu tô relaxado — rebateu Day.

— Não tá, não — Neil contestou.

Kevin o fuzilou de lá do chão, os cristais esverdeados em seu olhar acendendo.

— Por que você não fica na sua!?

Neil lançou para Andrew um olhar convencido, levantando a sobrancelha, como se dissesse “Viu?”

— Será que você consegue baixar a guarda por cinco segundinhos? — Dan perguntou, incisiva.

Kevin grunhiu e espantou para longe a unha que Allison usava para tentar desfazer a ruga da sua testa franzida. Fechou os olhos, respirou fundo, e deu o comando para Matt começar. Todos assistiram com expectativa.

Três sólidos segundos sem sentir nada foram o bastante para que Kevin reabrisse sua boca grande e voltasse a cuspir sua prepotência na cara dos outros.

— Eu falei que essa merda não é de verdade, vocês-

O som que o interrompeu saiu dele mesmo. Lufadas de ar brandas no início, que precederam o barulho mais surpreendente que já saiu de dentro de Kevin Day. Era diferente da sua risada alcoolizada, que deixava seu corpo mole e soava boba, com um subtom melancólico. Também diferia da sua risada sarcástica, da qual fazia escorrer pelos lábios o veneno que guardava debaixo da língua. E era ainda mais distinta da sua risada midiática, uma melodia tão ensaiada quanto uma peça de teatro, mas convincente o suficiente para os ouvidos do público.

Escalou de algo semelhante a uma pessoa asfixiada em busca de ar para o que parecia uma série de soluços agudos, espaçados por gritinhos mais agudos ainda.
Kevin empurrou Matt para longe e se apoiou nos cotovelos, tentando recuperar a compostura com o cenho mais franzido do que nunca. Respirando forte, ele deu uma olhada tensa em volta.

O cigarro de Andrew tinha parado no meio do caminho para a sua boca, tal como a cerveja de Aaron. O queixo de Nicky estava caído. Renee cobria seu sorriso enorme com a mão. Allison e Dan tinham os olhos arregalados e Matt o semblante em completo choque. As sobrancelhas de Neil haviam subido quase até a linha do seu cabelo.

— KEVIN, VOCÊ RI QUE NEM UMA CRIANÇA! — Nicky rasgou o silêncio.

Foi o que abriu portas para o resto das Raposas desatarem a rir. Allison caiu para trás enquanto Dan batia palmas ao cair por cima dela. Matt permaneceu atônito, como se tivesse visto um fantasma. Kevin encarou o chão, mortificado, as bochechas pintadas de rosa ao som dos contínuos gritos de Nicky.

Andrew expirou, voltando a fumar. Diante do jeito que a sala rapidamente se tornou um caos absoluto, Neil parecia estar se divertindo quando disse:

— Ele soa como um limpador de vidro.

A fumaça saiu pelo nariz de Andrew, denunciando a lufada forte de ar que ele soltou. Neil tinha falado num alemão baixo para ninguém mais ouvir. Ele encarou o loiro de maneira sorridente quando percebeu que o havia feito achar graça. Andrew balançou a cabeça e evitou seu olhar, o que só serviu para deixar Neil ainda mais satisfeito.

Após Kevin fugir para o banheiro, resmungando na força do ódio respostas a todas as piadas a respeito da sua risada limpa-vidros, Neil se ofereceu para ser o próximo, e último, na brincadeira tonta de Matt, causando reações calorosas nos veteranos. Ele pousou o isqueiro na mão de Andrew, prolongando o movimento com uma olhada final, e se afastou para se juntar ao bando de patetas.

Com a palma da mão formigando, Andrew apertou o isqueiro até os dedos ficarem brancos e se voltou para o céu escuro a fim de terminar seu cigarro.

Maldito Ruivo. Maldito Coelho. Maldito Abram.

Ninguém jamais escutaria Andrew admitir aquilo em palavras, nem mesmo em sua própria mente, mas o coração idiota dele retumbou contra o seu peito no ritmo do riso enérgico que saiu de Neil. Os seus lábios idiotas tremeram ao se contraírem num sorriso afetado. E a sua consciência idiota sabia com uma certeza nauseantemente absoluta que nada, nada, que Neil se pusesse a oferecer a ele como recompensa chegaria aos pés de lhe fazer sentir tanto quanto o som da sua risada era capaz.

Mas Andrew ainda não abriria mão daquele boquete.

Notes:

Comentários, críticas e risadas são sempre bem vindos!!
Essa foi a minha primeira vez escrevendo aqui e um retorno para a minha escrita num geral, que estava inativa por MESES, então, me desculpem qualquer coisa.

Obrigado a diva Adm do @aftgopinions e ao Bow, que me deram uma ajudinha e um incentivo nessa. E obrigado Lyra pelo nome do drink!!

Meu twitter

Chapter 2

Notes:

FELIZ ANO NOVO!!
Vou estar atualizando essa história PELO MENOS uma vez por semana, então fiquem atentos. Esse capítulo é um pouco mais curto que o anterior, mas prometo que sua ternura compensa a diferença.

Espero que gostem :)

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Na manhã seguinte, Andrew foi acordado ridiculamente cedo pela movimentação na sala. Ele não demorou a cair no sono quando se deitou, espremido entre Neil e o encosto do sofá em que dormiram, mas abriu os olhos várias vezes ao longo da noite. Quando Nicky levantou para fazer xixi. E quando Matt soltou um ronco que fez o chão tremer. E também quando Allison começou a espirrar que nem um Chihuahua, fungando o nariz por todo o percurso das camas improvisadas até o banheiro. No momento em que finalmente achou que entraria num estágio mais tranquilo do sono, Andrew sentiu Neil levantar, saindo dos seus braços. Em poucos minutos ele estava de volta, as costas encaixadas no peito de Andrew, mas sua respiração agitada denunciou que Neil não havia dormido novamente.

Andrew não fez nada por um tempo, permanecendo imóvel. Quando ficou claro que Neil não sossegaria, ele revirou seus olhos semicerrados e remelentos e murmurou, a voz rouca:

— Para de ficar encarando os outros dormindo, seu esquisito.

Neil virou a cabeça para trás a fim de olhar Andrew de soslaio.

— Não vou voltar a dormir, já despertei.

— Perceptível — Andrew resmungou, fechando os olhos.

O relógio biológico de Neil o tornava quase incapaz de acordar depois das 7h da manhã. Andrew se cansava só de imaginar. Podia não atingir um sono profundo com frequência, mas preferia ficar rolando na cama entre breves cochilos, até sua bexiga implorar por libertação, do que levantar antes das 11h num sábado.

Andrew optaria por ser estrangulado com arame farpado em vez disso.

Ele notou Neil girando o corpo no estofado compacto do sofá e alinhando seus rostos. Perto, ele inspirava e expirava o ar bem na cara de Andrew.

— Eu falei pra parar — disse, aborrecido. Conseguia sentir sob sua pele o queimar do olhar irritantemente suave de Neil.

— Não tô encarando os outros, tô encarando você.

Andrew já havia mencionado que era cedo?

Sim, de manhã cedo.

De manhã cedo, num sábado comum, sem jogos ou treinos ou viagens ou qualquer outro compromisso de merda. Os raios solares que invadiam o quarto dentre as cortinas esvoaçantes das janelas ainda eram brandos. Com certeza não passava das 8h da manhã.

Cedo. Cedo demais para que Neil estivesse sendo um pé na bunda bocudo que baforava palavras espertinhas e enchia a porra do saco de Andrew.

Se bem que Neil sempre enchia a porra do saco de Andrew.

Lembrar que ele permitia Josten a encher a porra do seu saco só serviu para irritá-lo ainda mais.

Andrew cerrou os dentes com força, desejando ser capaz de esmagar o crânio de Neil com eles e mastiga-lo até que virasse pó. Em vez disso, ele disse:

— Seu hálito fede.

— Ainda não escovei os dentes.

O cérebro sonolento de Andrew estava decidindo de qual nome feio chamaria Neil quando ele sentiu aquele mau hálito quente sendo soprado no seu nariz. Andrew meteu a mão na cara do ruivo e o empurrou para longe, o fuzilando com um olhar assassino. Neil se agarrou ao braço do sofá para não cair, metade do corpo se desequilibrando em direção ao chão. Ele voltou para cima e se estabilizou, rindo.

Rindo. O filho da puta tinha a audácia de rir.

— Sai daqui antes que eu cometa um crime silencioso e fatal — Andrew sibilou entredentes.

— E pra onde é que eu deveria ir? — Neil curvou a boca num sorriso torto, os olhos bem atentos às feições mortais do loiro.

— Pra casa do caralho. Pra puta que o pariu. Pro inferno.

Neil fez uma careta pensativa, fingindo considerar.

— Hm, já estive lá, é quente demais nessa época do ano.

Dessa vez, Andrew o empurrou com força o suficiente para que caísse no chão. Com um arfar de surpresa, Neil se estatelou sobre as pernas de Nicky, que tomou um susto com o baque repentino. Minyard se ajeitou no assento então livre, deitando de costas e espaçando as pernas. Cobriu os olhos com o antebraço, fingindo que não ouvia Neil sussurrando desculpas ao seu primo.

Ele pediu por isso, não deveria ter ficado surpreso.

Andrew identificou um Neil ofegante se apoiar no sofá, sem encostá-lo, e prontamente o ignorou. Não sabia qual era a da obsessão estranha que Josten tinha por vê-lo com raiva, mas não proporcionaria mais essa satisfação a ele.

— Vai se foder — Neil disse, sem muita força nas palavras. Era possível ouvir o sorriso em seus lábios. Ele se movimentou novamente e o peso extra sobre o acolchoado sumiu. — Acho que vou sair pra correr — disse então, a voz soando mais longe, mas ainda baixa.

— Não ligo — devolveu Andrew, num tom supostamente neutro.

— Volto em uma hora — Neil concluiu, o desconsiderando.

Andrew apertou a mão em um punho, imaginando a garganta de Neil dentro dele. Ele só permitiu que os músculos relaxassem quando ouviu a porta do dormitório se fechando com cuidado, quase completamente silenciosa.

Tomou um susto totalmente indesejado quando a voz de Nicky preencheu seus ouvidos.

— Eu sei que você não gosta que fale, mas vocês são uma graça discutindo assim, sabia?

Andrew não dirigiu o olhar ao primo, apenas jogou uma almofada cegamente na direção dele, querendo que fosse uma pedra. Pelo ruído que Nicky soltou, ele soube que o havia acertado.

Esse era o maior problema na vida de Andrew em dado momento: ter que lidar com vários idiotas simultaneamente. Às vezes ele suportava um, sozinho, mas ter que aturar todos aqueles imbecis de uma só vez o aproximava cada dia mais de um diagnóstico de hipertensão.

Bee havia dito a ele que ter permitido a participação de Neil em sua vida – e ter lutado por ela – fora um ato de autocuidado. E que conceder a permanência de Neil em sua vida – e zelar por ela – era um ato diário de autocuidado.

Andrew só via aquilo como uma passagem sem escalas rumo a um infarto fulminante antes dos 30 anos.

— Discordo — ela contrapôs naquele dia, sorrindo após ouvir o que ele respondeu. — Se você enfartar ainda novo, provavelmente a culpa vai ser do cigarro.

Bee era péssima com piadas.

No fundo, Andrew sabia – era uma pílula difícil de engolir, mas ele tinha plena consciência – que a entrada de Neil em sua vida, tal como a enxurrada de dúvidas, confusões e mudanças que ela trouxe, proporcionou a ele o luxo de ter como seu maior problema a convivência com um bando de idiotas. De ter um motivo para estar numa sala repleta deles, tendo como único objetivo a vitória em um jogo de tabuleiro. De poder ouvir seu irmão dar uma risada sincera a um cômodo de distância, sem precisar de muito esforço para que isso fosse possível.

Andrew já não acreditava em arrependimentos há um bom tempo, mas, desde que Neil havia chegado, ele passou a ter contato com uma nova e conflituosa emoção: a gratidão. Andrew preferia sentir todo o estresse, toda a raiva e toda a irritação que fosse, a voltar àquele estado de apatia absoluta que nublava sua mente de forma constante antes de Neil lhe provar ser alguém real.

Neil Josten era o sentimento de estar no topo de um prédio de mil andares, de viajar em um avião a milhares de metros de altitude. Exceto que ele não acelerava os batimentos cardíacos de Andrew através do medo, e sim através de sensações muito maiores, mais poderosas e melhores que aquela. Deveria ser assustador, e muitas vezes foi, ao menos no início, mas Neil tirava os pés de Andrew do chão de maneira inexplicavelmente segura e confortável, que o fazia querer voar, perseguir o sentimento. O fazia querer.

Andrew era grato por isso, ainda que não tivesse consciência do quanto.

Como se pudesse sentir a mente de Minyard ruminando sobre ele, Neil se esgueirou para dentro do quarto novamente, um tanto menos silencioso do que antes por estar calçando seus tênis de corrida. Aqueles pedaços de borracha em processo de decomposição, que irritavam o nariz de Andrew e lhe provocavam o desejo gritante de atear fogo neles quando Neil não estivesse olhando. Ou, ainda melhor, quando Neil estivesse olhando.

Àquela altura do relacionamento deles, Andrew já havia conseguido se livrar de boa parte do armário desagradável e mequetrefe de Neil. Mas os tênis de corrida surrados, cuja sujeira entranhara-se permanentemente dente as fibras do tecido, Josten não abria mão.

Por enquanto.

Andrew desencostou o antebraço dos olhos e deu uma olhadela em Neil, que havia se aproximado do sofá, à procura do telefone.

— Vê se coloca alguma coisa no estômago antes de ir — falou ao ruivo. Neil era um adulto responsável pela própria vida, de fato, mas Andrew sabia bem que ele também era estúpido e negligente quanto a sua saúde. — Não vou sair na rua te procurando só pra te achar desmaiado numa esquina qualquer.

Seu coelho sequer reagiu, focado na busca pelo celular – os dois haviam acordado que ele não sairia de casa sem o aparelho, sob hipótese alguma. Andrew observou, por mais tempo do que deveria, os lábios dele se franzirem num biquinho de concentração do qual Neil não tinha ideia que fazia em momentos como aquele.

A voz de Minyard soou um pouco mais suave quando disse:

— Tá no outro quarto.

— Não-

— Na gaveta da sua mesa, onde você esqueceu de pegar ontem.

Neil parou e olhou para o teto, a boca paralisada no biquinho pensante.

— Certo — murmurou, pronto para sair de novo.

Ele se deteve quando viu Andrew levantando o braço e indicando com o dedo para que se aproximasse. Neil se inclinou sobre o outro, bico já desfeito, e piscou os cílios alaranjados diante dele, em espera. Andrew mal havia aberto a boca para questioná-lo quando Neil adiantou sua resposta:

— Sim.

Andrew entranhou os dedos no cabelo macio da nuca dele e o puxou para um beijo. Foi um toque simples, um pressionar brando de lábios quentes que durou menos do que era da vontade de ambos. Por mais que o resto das Raposas estivesse dormindo – pelo menos esperavam que sim –, nenhum dos dois gostava de ter plateia. Neil então ergueu o queixo e beijou a testa de Andrew com ternura, fazendo-o dar um puxão nos cachos ruivos, numa repreenda que nem ele mesmo acreditou.

Neil pairou cara a cara com Andrew, como se fosse beijá-lo uma vez mais.

— Seu hálito fede — disse, em vez disso.

O rosto de Andrew caiu no que ele desferiu um peteleco na orelha de Neil.

— Eu nem abri a boca.

— Agora abriu. — Josten forçou uma careta.

Andrew segurou a cabeça dele com as duas mãos e baforou com vontade em seu nariz. Neil se afastou com uma careta de verdade, ainda que estivesse sorrindo. Ele pisou cuidadosamente por entre os corpos deitados e passou pela bancada da cozinha, pegando uma banana e sacudindo-a na direção de Andrew antes de sair pela porta.

Sentindo suas orelhas esquentarem estupidamente, Andrew levantou o lençol que o cobria até que tampasse toda e qualquer extensão da sua pele. Ele passou a mão pela boca numa tentativa falha de forçar seus lábios a deixarem de assumir o formato de um sorriso. Estava mole demais. Suave além do ponto. Precisava tomar jeito, tinha uma postura e uma reputação a serem mantidas.

Com a sombra do beijo de Neil aquecendo sua testa, Andrew distensionou o bastante para ser puxado de volta ao sono leve.

Notes:

Comentários, críticas e risadas são sempre bem vindos!!

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