Chapter 1: Conversa
Chapter Text
Neil Josten deixou seu cigarro queimar até o filtro sem dar uma única tragada. Ele não queria a nicotina; Ele queria a fumaça acre que o lembrava de sua mãe. Se inalasse lentamente, quase podia sentir o fantasma da gasolina e do fogo. Era revoltante e reconfortante ao mesmo tempo, ele sentiu um calafrio em sua espinha. O tremor percorreu todo seu corpo até a ponta dos dedos, derrubando um pouco de cinzas. As cinzas caíram na arquibancada, no espaço entre seus sapatos, sendo levada pelo vento.
Ele olhou para o céu, mas as estrelas estavam ofuscadas pelo brilho das luzes do estádio. Ele se perguntou – não pela primeira vez – se sua mãe estaria o observando. Ele esperava que não. Ela iria espancá-lo e voltaria para o inferno se o visse sentado deprimido como estava. Seu corpo ficou tenso com o barulho de passos antes mesmo de identificar a figura que se aproximava.
Era um garoto do time adversário, com o uniforme azul escuro e dourado dos Belk. O suor ainda colava a camisa ao corpo dele, e seu cabelo preto tingido de azul escuro brilhava sob a luz fraca. O corte era longo, os fios caindo até os ombros de um jeito meio desgrenhado, mas que parecia intencional. Ele tinha piercings na sobrancelha, na orelha e dois simétricos nos cantos da boca. Os olhos eram castanhos orientais, Neil se lembrava dele, um defensor, conseguiu o bloquear algumas vezes, mas não parecia estar no seu melhor dia. Nas suas costas tinha escrito Chaiyuang.
Ele avaliava Neil com uma expressão meio cansada, talvez, mas não hostil, o que fez Neil relaxar um pouco, mas não muito, qualquer um podia esconder quem realmente é, usando uma expressão diferente.
— Cê jogou bem pra caramba.
A voz dele era meio rouca, como se tivesse gritado demais durante o jogo ou passado tempo demais falando. Neil o observou por um instante, procurando por qualquer sinal de zombaria, mas não encontrou nada além de honestidade casual.
— Valeu — responde, não tinha motivo para mentir ou negar.
hesito por um segundo antes de acrescentar:
— Você também.
O garoto riu sem graça e balançou a cabeça, passando a mão pelos cabelos úmidos de suor.
— Não precisa repetir o elogio por educação — disse ele, com um meio sorriso que revelava um lampejo de dente afiado sob o piercing no canto da boca. — Joguei que nem uma merda hoje.
Neil não discordou. Ele lembrava do garoto errando um passe fácil no segundo tempo e quase levando uma bola direto na cara no final do jogo, além de se afastar as vezes de alguns jogadores adversários e mancar.
— Seu time ganhou — Neil apontou, levantando uma sobrancelha.
— Meu time ganhou — ele repetiu, parecendo amargo. Ele se sentou no degrau ao lado de Neil, mas deixou uma distância entre eles, como se não quisesse invadir seu espaço. — Mas não por minha causa.
Neil ficou em silêncio por um momento, observando o garoto de canto de olho. Ele parecia exausto, não só fisicamente, mas de um jeito mais profundo, um desgaste que Neil reconhecia bem.
— Você errou umas jogadas — Neil admitiu, sem rodeios.
O garoto bufou uma risada curta.
— Nossa, obrigado. Quase não percebi.
Neil deu de ombros.
— Mas continuou jogando.
O garoto virou a cabeça para encará-lo.
— E daí?
Neil apertou os dedos ao redor do cigarro, a brasa queimando devagar.
— E daí que tem gente que teria desistido.
O garoto ficou calado por um instante, os olhos fixos em Neil como se estivesse tentando entender por que diabos ele estava dizendo aquilo. Então desviou o olhar e suspirou.
— Qual seu nome? — o garoto perguntou, quebrando o silêncio.
Neil hesitou por um segundo antes de responder:
— Neil.
O garoto assentiu devagar.
— Sou Niranjan
— Isso é.…?
— Tailandês, me chame só de Niran pra ficar mais fácil. Enfim Neil tanto faz, se eu continuei jogando ou não — murmurou. — Esses vão ser meus últimos jogos
Neil olhou para ele de lado.
— Porquê?
Niran mexeu distraidamente em um fio solto na manga do uniforme.
— Não sou bom o suficiente para ser chamado por um time de faculdade, e minha família com certeza não vai pagar uma.
Ele disse isso sem emoção, mas Neil percebeu a tensão em sua mandíbula, o aperto inconsciente que ele deu na manga da camisa, puxando o tecido entre os dedos.
— Mas aí — Jesse continuou lançando um olhar breve para Neil e um quase sorriso — cê talvez ganhe uma bolsa pra uma facul legal.
Neil não respondeu imediatamente, a última coisa que Neil precisava era de uma Bolsa, ele precisava de um lugar onde pudesse continuar escondido como sua mãe lhe ensinou, apesar da vontade de continuar jogando fosse avassaladora.
Ao invés de responder, Neil mudou de assunto.
— Você estava mancando no jogo — disse, casualmente, observando a reação de Niran.
Funcionou.
Os olhos castanhos dele se arregalaram por um segundo antes que ele recuperasse o controle da expressão, mas já era tarde demais. Seus ombros se enrijeceram, e ele abaixou rapidamente as mangas da camisa, cobrindo os pulsos.
— Não é nada — disse ele, tentando soar despreocupado. — Foi só um descuido. Exy é um jogo violento, né?
A justificativa veio rápida demais, e Neil reconheceu a maneira como Niran evitava seu olhar. Mas não era problema seu.
Niran se levantou antes que Neil pudesse responder, limpando as mãos na lateral da calça do uniforme.
— Enfim, foi mal encher o saco. Vou nessa.
Ele começou a descer os degraus, então virou a cabeça para trás e acenou com um gesto curto.
— Boa sorte, Neil.
Neil apenas observou enquanto Niran se afastava, o azul escuro de seu cabelo se misturando à escuridão do estádio agora de futebol. Ele não disse nada. Não perguntou mais nada. Não era problema seu.
Mas ainda assim, ficou ali sentado por mais alguns minutos, olhando para o lugar onde Niran havia estado, até que o som dos últimos passos desaparecesse na noite. Neil pensa em qual foi a última vez que teve uma conversa assim com alguém, uma conversa normal que ele não queria tirar nada de alguém e nem o contrário, uma conversa que ele pensava menos em cada palavra que dizia. Uma porta abriu-se, grunhindo atrás dele, o espantando de seus pensamentos. Neil puxou seus pertences para mais perto, ao seu lado, e olhou para trás. O treinador Hernandez fechou a porta do vestiário e sentou-se ao lado de Neil.
Chapter 2: home sweet home
Summary:
O jogo acabou, Niran volta para casa e para sua bela familia, com o peso de um papel de inscrição para Palmetto, para ser uma Raposa.
Notes:
Nos próximos quatro ou cinco capitulos contarão um pouco da vida de Niran, eu faria um capitulo só com tudo mas achei muito grande.
Além disso dessa forma garanto a postagem das próximas semanas.
obrigada por lerem.
boa leitura
(See the end of the chapter for more notes.)
Chapter Text
O vento frio da noite soprava contra sua pele, levantando os cabelos que caíam sobre seus ombros. As ruas ficavam silenciosas em silêncio hora, os postes lançando sombras longas e distorcidas pelo asfalto gasto. Belk nunca fora um lugar acolhedor para ele. Não tinha lembranças boas daquela cidade, só cicatrizes, muitas delas. Niran mancava e estremecia de dor pela surra que levou no dia anterior de Paul. A surra que custou seu jogo. sem perceber Niran roda seu piercing da boca com a mão distraidamente.
O papel em sua bolsa pesava mais a cada passo. uma promessa de algo diferente, de liberdade.
Ele não sabia ao certo se queria chamar assim. A liberdade era algo inalcançável, uma ideia abstrata demais para alguém como ele - um imigrante- uma ideia que sempre foi tirada. Mas, fosse o que fosse, poderia levá-lo para longe. Para longe da sua família adotiva, para longe de Maddie e os amantes dela que gostavam mais dele do que dela, para longe de Paul e de suas superstições e seus punhos fortes, longe de Jonathan. Principalmente para longe de Jonathan e seus olhares persistentes, suas brincadeiras cruéis, seu sorriso perfeito e podre.
Ele estava há 8 anos com os Miller, e eles deram a ele, uma casa, hematomas, comida, abuso, educação, traumas, medos, a maior parte das coisas ruins não eram muita novidade para ele, não era como se sua vida antes dos Miller fosse um mar calmo de flores. Mas ele estava ali, afinal seu nome significa eterno, sempre ali, algo eterno se molda para permanecer presente, sua mãe e seus irmãos o ensinaram a ser flexíveis. mas ele e se ele tinha vontade de ir embora, seria muita ousadia da parte dele? Provavelmente não, sua mãe ja teria lhe batido por não ter saido antes de um lugar que deu errado. Mas Niran sempre teve um grande desejo idiota por pertencer.
Um vento forte atinge sua pele por baixo da luva, Niran proucura o problema e acha, um rasgo pequeno, mas desfiando. Ele teria que comprar mais linhas logo, suas linhas de costura estavam acabandoe duas de suas agulhas estavam ficando enferrujadas ele só tinha mais uma agora. distraido Niran se assuta um pouco quando um traficante chamado Allan, estava parado escorado em um muro fumando alguma coisa o chama e se aproxima, gesticulando para Niran enquanto diz calmamente. — E ai Niran, alguma boa pra hoje? Tenho uma aqui que você vai gostar. —
Niran vira para Allan. Allan era um conhecido, um bom traficante que aceitava fiado, e sempre oferecia algo para ele, algo que o deixaria mais feliz ou ao menos relaxado, e de brinde o faria ficar na rua por mais tempo, e claro, Allan conseguia algumas roupas de outros traficantes para Niran costurar, fazia Niran ser mais ou menos protegido na área e dava um pouco de dinheiro. Mas o telefone vibra em seu bolso, e interrompeu seu belo plano de ficar mais tempo na rua, Paul está pedindo para ele voltar para casa logo. Ele tinha que obedecer, ao menos se não quiser se machucar mais.
Demora mais dez minutos para chegar em casa, e durante todo e tempo sua pele coça, os pulsos de baixo das figerless gloves ardiam. Niran nunca entendeu por que seus pulsos coçavam tanto, não que ele não quisesse, mas seus pulsos eram imaculados de qualquer linha de corte, seria um abuso e um desrespeito a sua mãe e ao seus irmãos morrer de proposito por não aguentar uma situação dificil,então por mais dificil que fosse, Niran nunca fez nada que pudesse o levar a morte proposital, honestamente seus pulsos só ganharam as marcas de algemas, que Jonathan e os amantes de Maddie gostam de usar, mas hoje Paul está em casa então os amantes dela não estariam lá. mas Jonathan vai.
Niran mordisca nervoso o piercing na lateral da boca enquanto anda, ele subiu os degraus da varanda devagar, sentindo a madeira velha ranger sob seus pés. A luz da sala estava acesa, e ele podia ver sombras se passando através da cortina. Sua respiração estava irregular, e seu corpo ainda doia do jogo, mas demorar só iria pirar. Ele girou a maçaneta e entrou. O cheiro familiar de cigarro barato e cerveja velha atingiu seu nariz imediatamente misturado ao perfume caro e extremamente doce que Maddie usava e Jonathan que seguiu o pessimo gosto da mãe. A TV estava ligada em algum programa de esportes, mas ninguém parecia realmente assistindo. Maddie estava jogando no sofá, uma garrafa meio vazia na mão, os olhos meio fechados. Ela nem se deu ao trabalho de olhar para ele. Ele tirou os sapatos e fechou a porta atrás de si sem fazer barulho, Maddie odiava barulhos vindo dele. Paul não estava ali. Isso era bom, talvez, se ele fosse direto para o quarto, não desse tempo para ninguém notar sua presença, e Paul com certeza estava bêbado e esqueceria o que queria com ele. Mas ele nem chegou ao pé da escada antes de ouvir a voz de Paul. Bem atras de si.
— Onde diabos você estava? —
Niran parou, os músculos se enrijecendo instintivamente. Não adiantava responder que estava no jogo. Paulo sabia disso. Ele sabia e não se importava. Porque a pergunta nunca foi sobre onde Niranjan esteve, mas sim sobre o fato de que ele demorou mais do que Paul estava disposto a aceitar hoje. Lentamente, ele se virou. Paul estava de pé na sala de estar, segurando uma garrafa pela metade na mão, os olhos vermelhos de bebida. Ele era um homem grande, de ombros largos e braços fortes, e Niranjan conhecia a força de cada centímetro daquele corpo, porque não queria, mas porque passou anos sentindo o impacto dele contra sua pele.
— Tinha jogo hoje — Niran disse, a voz mais neutra que conseguiu.
Paul riu, curto e sem humor. — E daí? Você acha que isso te dá permissão pra sair e voltar a hora que quiser? — Ele deu um passo à frente. — Pra onde foi depois do jogo?
Ele poderia mentir. Dizer que ficou com o tempo. Que foi comemorar . Ou dizer a verdade, que estava vindo para casa. Mas Paul não acreditaria. Paulo nunca acreditou. Então ele ficou em silêncio.
Paul ri descrente. — Ah, então você acha que pode me ignorar agora? — Sua voz baixou, mas isso só se tornou mais perigoso. — Acha que pode sair por aí sem prestar contas pra quem te deu um teto, te deu comida, te deu tudo? —
Niran continuou calado. Não havia resposta certa. Paul encontraria um motivo de qualquer maneira.
Uma garrafa voou antes que Niranjan pudesse reagir. O vidro caiu seu ombro com força antes de cair no chão e se estilhaçar em pedaços. Ele cambaleou para trás, sentindo a dor se espalhar, mas não teve tempo de reagir antes que Paul o agarrasse pela gola do moletom e o puxasse para frente.
— Você é um ingrato, imigrante de merda.—
O primeiro soco veio rápido porem sem mira nenhuma, pegando-o na lateral do rosto e não atingindo por pouco o piercing na sombrancelha. talvez não tenha sido a melhor das ideias ter um piercing ali. Ainda sim a cabeça de Niran girou com o impacto, e ele sentiu seu cérebro balançar. Mas ele já sabia o que fazer. Não reajir. Não chorar. Não gritar. Não lutar, se moldar. Isso só durava mais tempo se ele lutasse. Paulo o empurrou contra a parede,e o segundo soco foi para o estômago. O ar saiu de seus pulmões em um choque doloroso, e ele dobrou o corpo instintivamente, os joelhos fraquejando. O terceiro soco o acertou na costela. O quarto, no rosto de novo. Legal, seu piercing cortou seus lábios e sua gengiva. Niran caiu de joelhos no chão. Sua respiração era rasa e trêmula, e seu corpo já começava a protestar contra cada novo golpe, que caía em cima ou perto dos golpes da noite anterior.
— Eu devia te jogar de volta pra rua — Paul cuspiu. — Mas o governo paga bem por manter você aqui.—
Ele jogou o pé e chutou Niran no peito, jogando-o para trás. O impacto fez sua cabeça bater contra o chão, dessa vez atingiu o piercing na sombrancelha e pontos pretos dançaram em sua visão. A dor era um velho conhecido. Não o assustava mais. Paul agarra seu cabelo e o força a ficar de joelhos olhando diretamente para ele
— Acha que pode sair por aí e fazer o que quiser? — Paul falou, e a voz de Paul atingir o fundo de sua cabeça, que envia uma pontada de tontura. — Você não é ninguém sem mim e sem essa casa, ouviu?
Ele ouviu. 24 horas atrás ele teria acreditado. Mas dessa vez ele não acreditou nisso.
Não mais.
Quando Paul finalmente soltou, Niran caiu em uma bola, engasgando em uma respiração dolorosa. Seu corpo tremia. Seus ouvidos zuniam. Seus pulsos queimavam. Mas ele manteve os olhos no chão, esperando o próximo golpe. Mas Paul apenas cuspiu no chão ao lado dele e se afastou, murmurando algo sobre "ingrato de merda" enquanto pegava outra cerveja na geladeira.
Niran ficou ali por um momento, sentindo a dor latejante em cada parte do seu corpo. Ele sabia que não poderia ficar ali por muito tempo. Sabia que tinha que se levantar, se arrastar para o quarto e fingir que estava tudo bem, talvez ele conseguisse costurar um pouco. Levantando o olhar para o topo da escada viu Jonathan, sorrindo para ele, e segurando um par de algemas com uma mão e acenando com a outra.
Merda
Notes:
um pouco de contexto
fingerless gloves
https://pin.it/3bJ4xSiybPiercing simetrico de Niran
https://pin.it/424Pq734Vpiercing na sombrancelha
https://pin.it/69MuUksts
Chapter 3: my dear brother
Summary:
jonathan realmente se empenha em quebrar Niran o maximo que pode.
esse cap tem GATILHOS do começo ao fim, se for sensivel não leia
Notes:
esse cap tem muitos gatilhos.
se for sensivel NÃO LEIA
Chapter Text
Niranjan sentiu os músculos do seu corpo gritarem quando tentou se mexer.
A dor irradiava do estômago até as costelas, pulsando com cada respiração. Ele queria ficar ali e se fundir ao chão até desaparecer, mas a física ainda não permitia, assim como não permitia que um buraco negro aparecesse e sugasse Jonathan, e o universo não permitiria que Niran apenas ficasse no quarto costurando ou desenhando. então Jonathan ainda estava ali. No topo da escada.
O sorriso no rosto de Jonathan era um aviso. Ele não precisava dizer nada. Niran já sabia.
Sua noite estava longe de acabar.
Jonathan se encostou no corrimão saboreando o momento.
— O que foi maninho? — Ele perguntou, a voz leve, quase divertida. — Cansado?
Niran fechou os olhos por um segundo, respirando fundo. Não ajudou. A linha invisível da algema em seu pulso queimou, ardendo sob a pele, como fazia sempre que ele via Jonathan
Ele queria arrancar as fingerless gloves, queria coçar até a pele abrir, até que o fogo parasse de arder. Mas não adiantaria. A marca sempre estaria lá. Sempre ali para lembrá-lo de que ele pertencia àquela casa.
Ficava pior quando ouvia Jonathan o chamar de irmão. Jonathan não era seu irmão, nem nunca seria.
Ele engoliu em seco e colocou as mãos no chão para se levantar, cada movimento enviando ondas de dor pelo seu corpo. Seus joelhos tremiam quando ele finalmente ficou de pé. O gosto de sangue ainda estava em sua boca.
Ele não olhou para Paul, que brigava com um juiz que passava na tv. Não olhou para Maddie. Não olhou para nada além dos degraus à sua frente.
Subir.
Um pé depois do outro.
Não pense.
Jonathan estalou a língua.
— Vamos, Nira. Não me faça esperar não temos a noite toda.
O apelido saiu doce demais dos lábios dele. Um veneno disfarçado de carinho. Niran queria vomitar. Mas, em vez disso, continuou subindo. Um degrau de cada vez. Porque ele sabia o que acontecia se ele não obedecesse.
O som da TV na sala ficou distante, abafado pelo martelar do próprio coração em seus ouvidos. O moletom pesado parecia grudar na pele, quente e sufocante, mas ele não ousou tirá-lo. Jonathan caminhava na frente dele, os passos lentos o forçando a andar devagar também, como se quisesse prolongar a tensão. Ele sempre fazia isso.
O quarto ficava no final do corredor. Pequeno, apertado, uma caixa sem ventilação que nunca parecia ter ar suficiente, não era um espaço seu, nunca fora. Tudo ali parecia emprestado, e podia ser tirado dele a qualquer momento. Uma cama estreita de colchão fino. Um armário velho com uma porta quebrada. Uma mesa riscada onde ele fazia trabalhos e deveres para vender na escola, algumas costuras, pelo desgaste da mesa desenhar ali em cima era quase impossivel e uma unica pequena janela que sempre emperrava e deixava o ar frio entrar no inverno como único meio de ventilação. Ele não chamava de "seu quarto" há muito tempo. Era só o lugar onde dormia quando Jonathan deixava. Nada ali era dele de verdade. Nem mesmo o corpo que ele habitava.
Jonathan empurrou a porta e entrou primeiro, porque claro que entrou primeiro, esperou Niran passar e fechou a porta atrás de si devagar, sem pressa, trancando a porta com uma chave que ele levaria embora depois que terminasse.
O quarto ainda cheirava a poeira, mofo e pomada de arnica das pancadas da semana passada, e a cama estava bagunçada do jeito que Niran deixou antes de sair para o jogo.
— Você fez merda hoje, Nira. — Jonathan usou o apelido de novo, aquele tom arrastado e insuportável.
Niran ficou parado perto da porta, os ombros tensos.
— Não fiz nada.
— Você demorou. — Jonathan falou, o tom casual, como se estivesse irritado com alguém que chegou tarde para um jantar. — Sabe que eu odeio te esperar, não sabe.
O ar parecia mais pesado dentro do quarto. Niran não olhou para ele, fixando o olhar em um ponto qualquer do chão, onde um de seus cadarços estava desamarrado.
— Eu sei. — Sua voz saiu baixa, seca.
Jonathan riu. Um som baixo, cheio de diversão falsa...ou verdadeira, Jonathan provavelmente estava se divertindo. Ele ouviu passos lentos se aproximando, o rangido leve do chão de madeira. E derrepente Jonathan estava na sua frente, perto demais. O cheiro dele—o perfume doce misturado ao amargor do cigarro—invadiu seu nariz e trouxe com ele memórias que ele queria enterrar.
Niran ficou onde estava, mas sua respiração acelerou. Seu corpo ainda doía dos golpes de Paul, e ele sabia que Jonathan não se importava com isso.
— Acha que pode simplesmente sair por aí e fazer o que quiser?
— Não...me desculpe. — Sua voz saiu baixa assim como seu olhar.
A linha invisível da algema em seu pulso queimava mais forte, até seu osso estava doendo agora. Os olhos de Niran se fixaram na parede atrás de Jonathan.
— O senhor Paul já cuidou disso — ele disse, tentando manter a voz neutra.
— Ah, eu sei. — Jonathan deu mais um passo, inclinando a cabeça. — Mas você sabe que não é o bastante.
Ele levantou a mão, e reprimir o instinto de recuar foi mais difícil do que devia.
Mas Jonathan não bateu nele.
Não ainda.
Em vez disso, Jonathan passou a mão pelo ombro dele, descendo devagar pelo seu braço. Niran enrijeceu sob o toque, o estômago revirando, mas não se afastou. Ele sabia que se afastar só fazia Jonathan insistir mais. Seus dedos voltaram para cima e deslizaram o zíper para baixo, puxando o resto do moletom para baixo com um movimento lento, o deixando só com a regata de baixo. As luvas sem dedos cobriam quase toda a pele visível do antebraço.
— Ainda usando essas porcarias? — o humor de Jonathan virou dando lugar a raiva e puxou a outra luva, jogando-a no chão sem cuidado. Ah, dai vem o rasgado da luva. — Porquê? Quer esconder alguma coisa?
Niran queria dizer sim. Mas a palavra não saiu.
Jonathan segurou seu pulso com força, pressionando a pele sensível. Niran estremeceu e cerrou os dentes, o olhar fixo na parede.
O contorno da linha vermelha fantasma que queimava sob sua pele.
A algema invisível que Jonathan colocara nele há oito anos e que Niran nunca conseguiu arrancar.
Jonathan sorriu.
— Sempre tão sensível.
O estômago de Niranjan revirou.
Jonathan pressionou o polegar ali, bem sobre a marca, e Niran se encolheu, engolindo um suspiro. Não era real. Não era nada além de memória. Mas ainda queimava.
Jonathan pressionou um pouco mais forte antes de finalmente soltar sua manga e se afastar. Mas não muito. Ele nunca se afastava muito.
— Eu poderia contar para Paul — ele disse, casualmente. — Sobre esse seu jeitinho de sair por aí se achando livre.
A ameaça pairou no ar. Paul não sabia de tudo. Paul sabia de muitas coisas, mas não de todas. Se soubesse, talvez Niran já estivesse morto.
Jonathan estalou a língua contra o céu da boca.
— Mas eu sou um cara legal, então não vou fazer isso.
Mentiroso.
Jonathan deu mais um passo para frente, e Niran finalmente cedeu um passo para trás.
— Você vai ser bonzinho pra mim hoje, Niran?
Seus músculos travaram. Ele não respondeu. Não precisava.
Jonathan sorriu mais largo, sabendo que já tinha sua resposta.
Niran fechou os olhos por um segundo, preparando-se para a dor, para o toque, para a sensação de ser quebrado mais uma vez. O toque dos lábios de Jonathan contra os seus foi leve, mas Niran sentiu como se tivesse sido marcado a ferro quente. Seu corpo se enrijeceu no mesmo instante, cada músculo travando, cada célula gritando para que ele se afastasse. O gosto de vape de menta invadiu sua boca, o cheiro doce forte do perfume de Jonathan preenchendo seus sentidos. Era sufocante. Era familiar.
Jonathan não o beijou com pressa. Não forçou nada. Apenas encostou seus lábios, uma provocação silenciosa, um lembrete de que poderia fazer muito mais se quisesse.
E ele queria.
— Você fica tão tenso. — Jonathan murmurou contra sua boca, o tom quase carinhoso. Ele deslizou os dedos pelo rosto de Niran traçando sua mandíbula. — Como se não gostasse.
Niran não respondeu. Ele sabia que qualquer resposta só pioraria as coisas.
Jonathan riu, puxando-o pela cintura, aproximando seus corpos. Niran não resistiu, porque resistir nunca ajudava.
— Eu poderia ser pior, sabia? — Jonathan sussurrou em seu ouvido. — Você deveria me agradecer.
A raiva subiu pela garganta de Niranjan, espessa e amarga como bile. Ele queria gritar, queria empurrá-lo, queria dizer que Jonathan não passava de um parasita nojento.
— Agradeça — diz em um tom firme — agradeça seu irmão por ser bom com você. —
Toda vez que era obrigado a chamar um verme como Jonathan de irmão Niran sentia cinco facas sendo cravadas em seu peito e se retorçendo, e a raiva devorando o medo e o nojo que sentia. A boca de Niran se abre, mas é preciso que ele tente três vezes antes de algum som sair
— O-obri...obriga-do, Jonathan. —
— Não, não, assim não, “obrigado meu irmão”, vamos tente —
filho de uma puta
— obri-gado, m-meu irmão —
— Muito bem. Mas você tá tremendo, porquê? — A voz de Jonathan era suave, quase provocativa.
Niran não respondeu. Não podia. Jonathan provavelmente acahav que era de medo, não de raiva.
Jonathan segurou seu queixo com firmeza, obrigando-o a manter o olhar.
— Engraçado, né? — Jonathan continuou, um sorriso puxando o canto dos lábios. — O jeito que você sempre age como se sua vida fosse sua.
Ele inclinou a cabeça para o lado, como se esperasse uma resposta. Niranjan fechou as mãos ao lado do corpo, os dedos se cravando na própria pele. Ele sentia a linha invisível da algema em seu pulso apertando mais, queimando por baixo da pele, se enrolando nele como um lembrete cruel.
— O que foi? — Jonathan sussurrou, aproximando-se mais uma vez, o nariz roçando um no outro. — Você parece… assustado.
Niran quis cuspir na cara dele. Quis gritar. Quis bater nele até aquele sorriso sumir, mostrar quem estava assustado.
Mas ele sabia que nada disso funcionaria.
Não funcionou antes.
Não funcionaria agora.
Jonathan soltou seu rosto, mas sua presença ainda estava ali, pairando sobre Niranjan como uma sombra sufocante.
— Melhor você se comportar. — Ele disse, casualmente, como se estivessem falando sobre o clima. — Você sabe como as coisas ficam ruins quando você não coopera.
Jonathan beijou seu maxilar, sua pele, o canto de sua boca, seu pescoço e de novo. Testando. Brincando. Chupando. Deixando marcas como sempre.
Niran manteve os braços soltos ao lado do corpo, os punhos cerrados, as unhas cravando em sua palma. Sentindo de novo a raiva sair e voltar em forma de nojo e medo.
Ele deu um passo para trás, pegou a jaqueta na cadeira e jogou-a sobre o ombro.
— Vou deixar você descansar. — Ele sorriu. — Você vai precisar.
Jonathan abriu a porta e pegou a chave, mas antes de sair, olhou para trás.
— Boa noite, Nira.
A porta se fechou atrás dele.
E Niranjan ficou ali, parado, o coração batendo tão forte que doía.
O gosto do beijo de Jonathan ainda estava em seus lábios.
Ele esfregou a manga do moletom na boca, mesmo com a possibilidade de machucar com o piercing. como se pudesse apagá-lo. Como se pudesse apagar tudo.
Mas a sensação continuava ali. Ele se jogou na cama, encolhendo-se contra a parede, tentando controlar a respiração. Seu corpo tremia, cada parte dele doía, mas nada era pior do que o vazio que se espalhava por dentro. Seu peito se apertou ainda mais quando lembrou que tinha que sair para tomar banho.
Chapter 4: relaxing bath
Summary:
TEM GATILHOS.
niran tenta tomar um banho. é mais dificil do que parece
o pov do Niran acaba depois do proximo cap, e entramos na programação normal
Notes:
alguem sabe em que estado Palmetto fica?
Chapter Text
O cheiro de Jonathan ficou em Niranjan mesmo depois que ele saiu do quarto. Era como se tivesse grudado na sua pele, entranhado nos seus poros, sufocante e pegajoso. Ele se sentia sujo. Mais do que sujo.
Ele queria vomitar.
Ficou ali por um tempo, parado no meio do quarto, tentando recuperar o fôlego, tentando fazer seu coração desacelerar. Jonathan já tinha ido embora, já tinha conseguido o que queria, já tinha deixado suas marcas. Mas a sensação ainda estava lá.
O quarto parecia menor. Mais apertado.
Ele precisava sair dali. A ideia de atravessar o corredor, de se expor de novo naquela casa, mas ele não tinha escolha. Ele precisava de um banho.
Só a ideia de água quente escorrendo pelo seu corpo fazia seu estômago se contorcer, porque ele sabia que não era suficiente. Sabia que poderia esfregar a pele até sangrar e ainda sentiria Jonathan em cada centímetro. Mas ele precisava tentar.
Com passos cuidadosos, ele abriu a porta e espiou o corredor.
A casa estava silenciosa. Paul provavelmente já tinha apagado em alguma poltrona, e Maddie… Bem, Maddie não se importava. O banheiro ficava no fim do corredor. Parecia muito mais longe do que realmente era.
Ele força as pernas a se moverem.
Cada passo fazia seus músculos protestarem, as dores da surra de Paul voltando com força total. Ele não percebeu o quanto doía antes—ou talvez tivesse percebido, mas outras coisas eram mais urgentes. Ele abriu a porta do banheiro sem fazer barulho e trancou-a atrás de si. A primeira coisa que fez foi encarar o espelho.
E se arrependeu imediatamente.
O garoto que olhava para ele de volta não parecia real.
Os cabelos pretos e azul-escuros estavam bagunçados, algumas mechas caindo sobre seus olhos. Sua pele estava pálida, exceto pelas marcas vermelhas e arroxeadas no rosto e no pescoço. Os olhos castanhos estavam fundos, exaustos, vazios, sua boca estava meio irritada na área do piercing.
Ele parecia um fantasma.
Ou talvez algo pior.
Ele desviou o olhar e começou a tirar a roupa. Primeiro a camisa, que ficou presa por um momento porque seus braços doíam demais para puxá-la com força. Depois as calças, os tênis, as meias.
Quando ficou só com a roupa de baixo, hesitou.
Suas mãos tremiam.
Olhando para seu próprio corpo, tudo que via eram marcas.
Os hematomas das surras de Paul. Os arranhões de velhas brigas. As manchas roxas nos pulsos, nos braços, no quadril—marcas que não eram só de Paul.
Patético.
A única coisa menos patética em seu corpo era sua tatuagem, um 7 bem em cima do seu coração, logo em baixo era seguida por um 6, em baixo um 5, outro 5, então 4, 3, 2 e 1. A tatuagem acabava logo acima da pelvis e para Niran aquilo era a única coisa que era belo em seu corpo.
Niran ficou parado no meio do banheiro, as roupas jogadas no chão ao seu redor, a pele exposta e arrepiada sob a luz fria. Ele não conseguia se mover.
Ele queria entrar no chuveiro. Ele precisava entrar no chuveiro.
Mas seu corpo não obedecia.
Seus olhos caíram para a última peça de roupa que ainda usava, o tecido fino e incômodo contra sua pele. Ele deveria tirá-la. Só isso. Só um último passo.
Mas suas mãos tremiam quando tentou puxá-la para baixo.
Ele não conseguia.
A repulsa subiu como um enjoo, um gosto amargo em sua boca. Sua respiração ficou curta, como se o ar ao redor tivesse se tornado mais denso, como se a gravidade estivesse contra ele.
Ele sentiu náusea.
Sentiu nojo.
Não conseguia ficar no próprio corpo sem sentir repulsa.
Engolindo em seco, ele se forçou a respirar fundo.
Inspira. Expira.
Isso não significa nada.
Isso não muda nada. O corpo era dele, aquilo era dele, seu membro era dele.
Mas as palavras não ajudavam.
Não quando Paul o moldava com os punhos. Não quando Jonathan o marcava com toques que deixavam cicatrizes invisíveis. Não quando sua própria pele era um campo de batalha onde ele sempre perdia.
Mas ele estava sozinho. Não havia ninguém ali. Ninguém olhando. Ninguém esperando nada dele. Mas ele ainda não conseguia.
Não conseguia ficar no próprio corpo sem sentir repulsa.
Seu estômago se revirou, e ele segurou a borda da pia com força, os nós dos dedos ficando brancos. Ele queria rasgar sua pele e sair de dentro dela. Queria encontrar um jeito de se separar da carne e dos ossos, de abandonar esse corpo que nunca pareceu seu, que sempre foi tomado por mãos que não eram suas.
Seu reflexo ainda estava lá no espelho, um lembrete cruel de tudo que ele odiava. Seu próprio corpo era um campo de batalha. Cada marca era uma prova de que ele não era uma pessoa, e sim um pedaço de carne moldado pelos outros.
Ele queria sair dali.
Longe de Paul.
Longe de Maddie.
Longe de Jonathan.
Ele respirou fundo, forçando as mãos a se moverem. Puxou a cueca devagar, como se precisasse de tempo para se convencer a continuar. Quando finalmente a tirou, seu peito subia e descia rápido demais, como se tivesse acabado de correr quilômetros.
Ele não olhou para si mesmo.
Abaixou a tampa do vaso e se sentou, dobrando-se para frente, os braços envolvendo o próprio corpo.
Os olhos ardiam.
Mas ele não choraria.
Não chorava mais.
Ele só precisava respirar. Precisava organizar os pensamentos, precisava decidir o que fazer.
O papel de contrato estava lá no quarto, esperando por ele.
A oportunidade de sair de Belk.
Niran fechou os olhos.
Ele não podia hesitar mais.
Levante.Não pense. Não olhe. Só entre no chuveiro.
A água gelada atingiu a pele de Niran como um tapa.
Ele prendeu a respiração, os músculos se contraindo no mesmo instante. O frio cortante deslizou por seu corpo, arrepiando cada centímetro, afundando fundo em seus ossos.
Ele odiava água fria.
Paul nunca deixava que ele usasse água quente. Dizia que era desperdício, que ele não precisava, que a casa não era um hotel. Se alguma vez Niran tentasse, a punição vinha rápido demais—e sempre piorava com o tempo.
Ele pegou o sabonete e esfregou os braços, os ombros, o peito, com força demais. Sua pele avermelhou, e ele continuou. Como se pudesse apagar tudo. Como se pudesse arrancar a sensação da pele. Como se pudesse apagar os últimos oito anos.
Mas nada mudava.
Nada nunca mudava.
Patético.
Sai. Sai. Sai.
O sabonete escorregou de suas mãos trêmulas e caiu no chão do box, mas ele nem se importou.
Não importava quantas vezes ele repetisse o movimento.
O cheiro ainda estava lá.
A sensação ainda estava lá.
Jonathan ainda estava lá.
O estômago revirou. Ele se inclinou para frente, apoiando uma mão na parede gelada. Respirou fundo, tentando ignorar a náusea, tentando ignorar tudo.
Mas era impossível.
O peito subia e descia em respirações curtas, os olhos ardiam, a garganta estava fechada. O gosto amargo na boca se espalhou, e antes que pudesse se segurar, ele se dobrou para frente e vomitou.
A bile desceu pelo ralo, levada pela água fria.
Seu corpo tremia. Sua cabeça girava.
Ele se apoiou na parede, sentindo o azulejo gelado contra a testa, e fechou os olhos.
Só mais um minuto.
Só mais um segundo.
Depois, ele sairia do banho. Se vestiria. Voltaria para o quarto. Fingiria que nada aconteceu.
Como sempre fazia.
Chapter 5: the way to freedom
Summary:
Niran se forma; Jonathan tortura nosso bebe; niran foge, niran quer muito ir para palmetto; flashback e um pouco do passado de Niran: niran esta livre.
TEM GATILHOS
TEM GATILHOS
Notes:
esse cap foi o maior que eu ja escrevi na minha vida e eu não quero repetir tal feito tão cedo ou tão tarde.
tem coisa pra caramba, mas no proximo capitulo voltamos para o Pov do Neil e voltamos a seguir o livro.
bjs. ate
TEM GATILHOS
Chapter Text
Niranjan estava sozinho.
Isso não deveria ser novidade. Desde que chegou na casa dos Miller, ele sempre esteve sozinho. Mas naquele momento, cercado por colegas que abraçavam seus pais, tiravam fotos com irmãos mais novos, recebiam buquês de flores e palavras de orgulho, a solidão parecia diferente.
Ela pesava nos ombros dele.
Seus piercings formigavam levemente quando ele fechou a boca com força. O metal frio contra sua pele era uma sensação familiar—um lembrete de que isso era dele. Maddie odiava, Paul dizia que era "coisa de vagabundo", Jonathan... Jonathan tinha outros comentários. Mas eles não podiam tirá-los dele.
Os piercings eram sua escolha assim como as tatuagens. Algo que ele decidiu, algo que ele quis.
O diploma? O diploma era outra coisa.
Ele passou a língua pelos anéis na boca, um tique inconsciente enquanto observava as famílias se reunindo para fotos. Seu peito apertou ao ver uma mãe ajustando a beca do filho, os olhos brilhando de orgulho. Um pai puxando o filho para um abraço desajeitado.
Uma vida que nunca foi dele.
Seus piercings e as tatuagens foram as únicas coisas que ele conseguiu moldar no próprio corpo sem que alguém decidisse por ele. Mas o resto? O resto sempre foi determinado pelos outros.
Os Miller moldaram cada pedaço dele com palavras, com ordens, com violência.
Mas agora, segurando o diploma, ele tinha algo que eles não podiam tocar. Algo que podia significar um novo começo—se ele encontrasse uma saída. Ele apertou o diploma entre os dedos, sentindo a textura do papel grosso, a tinta fresca com seu nome impresso. Não significava nada. Não importava. Mas, ao mesmo tempo, era a única coisa que ele tinha.
O metal dos piercings pressionou levemente sua pele quando ele cerrou os dentes, os olhos fixos na saída do ginásio.
Do outro lado do ginásio, um grupo de amigos tirava fotos, rindo alto. Um garoto foi puxado para um abraço pelos pais enquanto sua irmãzinha gritava animada. Uma mãe chorava enquanto arrumava a beca do filho.
Ele desviou o olhar.
A formatura não significava nada para os Miller. Eles não se deram ao trabalho de vir—não que Niranjan tivesse contado a eles. Maddie provavelmente estava ocupada com um novo amante virtual , Paul devia estar vendo algum documentário idiota sobre teorias da conspiração, e Jonathan… Jonathan sabia que hoje era sua formatura.
E, ainda assim, não veio.
Deveria ser um alívio.
Mas, de alguma forma, era só outra confirmação de algo que ele já sabia: ninguém se importava.
Ele deixou escapar uma risada curta e sem humor. O que ele esperava? Que Paul fingisse ser um pai orgulhoso por um dia? Que Maddie o puxasse para uma foto falsa e postasse nas redes sociais com uma legenda de apoio? Que Jonathan…
Não. Ele não queria pensar nisso.
Em outra vida, em um mundo onde sua história não tivesse sido roubada antes mesmo que ele pudesse vivê-la, sua família estaria aqui.
Se seu pai não tivesse morrido de fome e estresse.
Se sua mãe e seus irmãos tivessem sobrevivido a viagem para o mexico, depois de 7 países.
Se sua mãe e seu ultimo irmão não tivessem morrido tão perto da fronteira com os Estados Unidos.
Se ele não tivesse sido entregue ao sistema e jogado na casa dos Miller, como se fosse apenas um pedaço quebrado que ninguém queria.
Se as coisas tivessem sido diferentes, ele estaria no Mexico ou na Grecia ou Turquia a agora. Se formando ao lado de amigos que conheceu naquele país e pode ficar, com sua família na plateia, sorrindo e aplaudindo. Sua mãe teria ajeitado sua beca e chorado. Seus irmãos mais velhos teriam rido da sua cara e dito para ele não estragar as fotos, as mais novas pulariam em cima dele e pediriam para colocar o chapeu, e claro que ele deixaria.
Mas essa vida nunca existiu para ele.
Essa versão de Niranjan morreu no mesmo dia em que ele entrou naquele deserto. Não, essa versão morreu quando ele chegou com vida aos Estados Unidos.
O nome dele significa "sem forma".
Algo sem forma sempre se molda ao que o rodeia.
Então, Niranjan inspirou fundo e engoliu o nó na garganta. Apertou o diploma com mais força. Forçou os ombros a relaxarem.
Ele não precisava deles. Nunca precisou.
Com um último olhar para os colegas que ainda comemoravam, ele virou as costas e saiu do ginásio.
Niranjan sabia que algo estava errado no momento em que abriu a porta de casa.
A casa estava silenciosa, mas não do jeito confortável—do jeito sufocante, do jeito que fazia sua pele arrepiar. Ele fechou a porta devagar, segurando o diploma com uma das mãos, o outro punho fechado ao lado do corpo.
Subiu as escadas sem fazer barulho.
Seu quarto estava escuro quando ele abriu a porta, mas ele soube que não estava sozinho antes mesmo de acender a luz.
Jonathan já estava lá.
— Aí está você.
A voz dele era suave, arrastada no canto da boca. Quando Niranjan ligou a luz, Jonathan já estava se levantando da cama, abrindo aquele sorriso preguiçoso que sempre fazia algo revirar no estômago de Niranjan.
Ele não respondeu. Só ficou parado ali, na porta, os dedos apertando o papel grosso do diploma.
Jonathan cruzou o quarto em passos lentos, sem pressa, até estar perto o suficiente para tocar Niranjan. E então ele o fez.
Um abraço.
Os braços de Jonathan ao redor dele, puxando-o para perto, apertando seu corpo contra o dele. O cheiro de cigarro e colônia barata invadiu seus sentidos, um cheiro que Niranjan queria esquecer, mas que estava impregnado na sua pele, no seu quarto, na casa inteira.
Ele ficou imóvel. Não empurrou Jonathan, mas também não retribuiu.
— Parabéns, garoto. Você conseguiu.
A voz dele estava baixa, quente contra sua pele.
Isso não é real.
Isso não é carinho.
Isso é Jonathan.
Jonathan se afastou, mas manteve as mãos nos ombros de Niranjan. Ele olhou para o diploma, e então para os piercings na boca de Niranjan, o sorriso se alargando um pouco.
— Sinto muito por não ter ido, sabia? Mas a gente pode comemorar agora. Só nós dois.
Só nós dois.
Niranjan sentiu o gosto metálico dos piercings quando pressionou a língua contra um deles.
Jonathan estava certo de que Niran não diria não.
Quando Jonathan arrancou as luvas de suas mãos e as jogou longe, niran sentiu a insegurança subir em sua garganta no momento em que .
— Você ainda insiste nisso? — Jonathan riu baixo, balançando a cabeça como se estivesse lidando com uma criança teimosa. — Você sabe que eu odeio quando você esconde isso de mim.
Niran fechou os punhos com força, os dedos contraindo no ar vazio onde as luvas deveriam estar. O ar parecia mais pesado, mais sufocante, como se o toque invisível das algemas ainda queimasse seu pulso.
Jonathan sabia, e adorava esfregar isso na cara dele
O silêncio se estendeu entre eles, mas Jonathan não parecia incomodado. Pelo contrário—ele gostava de esperar, gostava de ver Niran se segurando, gostava da tensão no ar.
— Você não vai dizer nada? — Jonathan inclinou a cabeça, os olhos escuros fixos nos dele. — A gente vai comemorar ou não?
Niran não respondeu. Ele só queria pegar as malditas luvas e sair dali.
Mas Jonathan estava entre ele e a porta. Como sempre.
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Niran não se mexeu até ouvir o clique suave da porta se fechando.
A respiração dele estava irregular, entrecortada por soluços silenciosos que ele odiava. Odiava a fraqueza, odiava o nó na garganta. Mas, mais do que tudo, odiava as algemas prendendo seus pulsos à cabeceira da cama.
Jonathan não as abriu.
Claro que não.
Ele nunca abria.
Niran puxou os braços automaticamente, mesmo sabendo que não adiantava. O metal gelado raspou contra sua pele, pressionando a marca que já existia ali. A marca que nunca sumia, que foi esculpida nele, fazendo parte de quem ele era.
Jonathan sabia exatamente o que fazia.
Niran fechou os olhos, tentando controlar a respiração, mas tudo que conseguiu foi sentir o peso do próprio corpo nu contra o colchão, a umidade quente das lágrimas escorrendo pelo rosto e seu corpo pegajoso de suor e esperma.
Ele queria sair dali.
Mas não podia.
Não enquanto Jonathan não decidisse que era o suficiente.
O pânico bateu com força.
Ele tentou respirar fundo, tentou se acalmar, mas o desespero já tinha tomado conta. A sensação do metal frio e apertado em seus pulsos era insuportável.
Ele precisava sair dali.
Seu peito subia e descia rápido demais, e tudo ao redor parecia menor, mais apertado. O ar no quarto ficou pesado, sufocante, como se estivesse sendo engolido por um espaço que se fechava ao redor dele.
Não. Não. NÃO.
Ele puxou os braços com força, tentando se libertar. O som do metal rangendo contra a cabeceira da cama ecoou pelo quarto, misturado à sua respiração descontrolada.
As algemas não cederam.
Elas nunca cediam.
Mas Niran continuou tentando, puxando com mais força, sentindo a pele dos pulsos arder, rasgar. O metal cortava sua pele, a dor aguda se misturando ao terror que girava em sua cabeça.
Ele não se importava.
Ele só queria sair.
Seus soluços ficaram mais altos, engasgados, o gosto de sangue. Seus piercings doíam de tanto que sua mandíbula estava tensa.
Ele não queria estar ali.
Ele precisava sair dali.
Seu voo para Palmetto era hoje, ou amanhã, dependendo de que horas eram. Ele precisava sair, ele tinha que ir embora
Sua força se esvai e o medo congela seu peito quando percebeu o que tinha feito.
Jonathan odiava quando ele fazia barulho.
O quarto estava escuro e sufocante, e o silêncio que se seguiu ao seu grito era ensurdecedor.
Se Jonathan tivesse ouvido...
Se ele estivesse voltando agora...
O pânico subiu como um veneno queimando em suas veias.
— Não... não, não, não...
Ele fechou os olhos com força, tentando se encolher, tentando desaparecer. Mas as algemas estavam ali, firmes contra sua pele, prendendo-o no lugar.
Niranjan soube no instante em que ouviu os passos no corredor.
Pesados. Rápidos. Determinados.
Jonathan ouviu.
Seu peito apertou de uma forma sufocante. Seu corpo inteiro ficou tenso, como se pudesse se encolher o suficiente para desaparecer na cama. Mas ele não podia. Ele estava preso.
O silêncio antes da tempestade.
Então, a porta se abriu.
Os olhos dele estavam escuros, duros. O sorriso preguiçoso e as palavras suaves de antes não estavam mais lá. No lugar, havia algo afiado, algo que fazia o estômago de Niran revirar.
— O que você fez?
A voz de Jonathan era baixa e calma. Mas ele sabia melhor. Ele sabia o que vinha depois dessa calma. Ele puxou os pulsos de novo, uma última tentativa inútil de se afastar, mas o metal mordeu ainda mais fundo sua pele.
Jonathan viu. Jonathan sempre via.
O olhar dele pousou nos pulsos machucados, no sangue fresco escorrendo. Ele trincou a mandíbula e fechou a porta atrás de si com um clique que soou como uma sentença.
— Você nunca aprende, não é irmãozinho?
Niran prendeu a respiração.
Ele sabia o que vinha agora.
E não havia nada que ele pudesse fazer para impedir.
Jonathan chegou perto, e pegou em suas mãos analisando o sangue escorrendo, os pulsos machucados, cada dedo. E então
crack
A dor explodiu como fogo em sua mão.
Niran abriu a boca para gritar, mas se forçou a virar o rosto e enterrar o som no travesseiro. Não faça barulho. Não faça barulho.
Mas ele não conseguiu segurar o soluço sufocado que escapou quando Jonathan pressionou o dedo que acabou de quebrar.
Dor. Tão afiada que fazia seu estômago revirar, que fazia tudo girar.
Ele tentou puxar a mão, mas não havia para onde ir. O metal das algemas cortava seus pulsos enquanto ele se debatia, enquanto seu corpo implorava para fugir, mas ele estava preso. Niran não era estranho a ter seus dedos quebrados por Jonathan, mas Niran nunca foi muito adepto a dor.
Jonathan suspirou, quase como se estivesse desapontado.
— Eu não queria fazer isso, sabe? — sua voz era baixa, quase gentil, mas Niran conhecia aquela gentileza fria e cruel.
Os dedos de Jonathan deslizaram por sua pele ensopada de suor antes de apertar de novo o osso quebrado.
Dor.
Niran arfou, o grito morrendo contra o travesseiro. Lágrimas escorriam por seu rosto, sua respiração vinha em soluços entrecortados, o peito apertado em puro pânico e agonia.
Jonathan inclinou a cabeça, observando-o como se estivesse esperando algo.
— Agora você aprendeu?
A voz dele era doce. Doce como veneno.
Jonathan passou a mão devagar pelo cabelo de Niranjan, os dedos deslizando com um carinho quase terno. O contraste entre o toque gentil e a dor pulsante no dedo quebrado fazia o estômago de Niranjan se revirar.
— Shhh... vai passar. Logo tudo vai ficar bem. — A voz de Jonathan era um sussurro suave, quase reconfortante. Quase.
— Você sempre faz isso, não é? — Jonathan continuou, sem parar de acariciar seus cabelos. — A gente estava se divertindo. Comemorando. Mas você tinha que estragar tudo.
Seu peito subia e descia em respirações curtas, tentando controlar os soluços presos em sua garganta. Jonathan estava se divertindo, Niran sentia dor o rasgando por dentro.
— Eu tento ser bom pra você, Niran. Eu tento tanto. Mas você sempre encontra um jeito de me forçar a fazer essas coisas.
Os dedos de Jonathan deslizaram até sua nuca, apertando um pouco mais forte.
Niran sentiu náusea subir.
Era sempre culpa dele. Sempre.
— Você entende isso, não entende?
Jonathan esperava uma resposta. Ele exigia uma resposta.
Niran fechou os olhos com força. Seu corpo doía. Sua mão queimava. Ele não queria responder.
Mas ele sabia que precisava.
Ele sabia o que acontecia quando não respondia.
Então, ele sussurrou, com a voz embargada:
— Sim.
Jonathan sorriu contra seus cabelos e deu um beijo suave em sua testa.
— Bom garoto.
Jonathan se coloca em baixo de Niran. Os pulsos ainda estavam presos, o metal frio mordendo sua pele machucada. O sangue seco começava a coçar, mas ele não se mexia. Ele chorava em silêncio, o rosto enterrado no peito de Jonathan. Não porque queria, mas porque Jonathan forçava.
Os dedos dele estavam enfiados em seu cabelo, segurando firme, mantendo-o ali. A outra mão traçava círculos lentos em suas costas, um gesto quase carinhoso.
— Você precisa aprender, Niran. — A voz de Jonathan era baixa, paciente. — Precisa parar de se machucar desse jeito.
Ele pressionou a cabeça de Niran contra seu peito, abafando seus soluços.
— Eu estou aqui pra cuidar de você. Você sabe disso, né?
Niran não respondeu.
Jonathan suspirou e apertou mais forte.
— Eu só quero o melhor pra você. Mas você precisa me deixar ajudar.
Usando sua única forma de tentar soltar suas mãos com a garganta apertada, ele engoliu em seco junto com todo o veneno que tinha entalado na garganta e forçou sua voz a sair diferente—mais doce, mais delicada, mais fofa.
— Por favor, irmãozinho… me solta?
Jonathan ficou em silêncio por um momento.
Os dedos dele se apertaram nos cabelos de Niran, puxando sua cabeça para trás, forçando-o a olhar para ele. O sorriso que surgiu no rosto de Jonathan era preguiçoso, satisfeito.
— Ah, Niran… — Ele passou os dedos pelo rosto de Niran limpando uma lágrima que escorria. — Assim você quase me convence.
Niran tentou segurar a respiração, tentou não tremer.
Jonathan riu baixinho, balançando a cabeça.
— Quase.
Então ele soltou o cabelo de Niran e se levantou, mas não destrancou as algemas.
— Seja um bom garoto e fica aí mais um pouquinho, tá? — Ele piscou, como se estivessem apenas brincando.
Niran não respondeu. Apenas observou enquanto Jonathan saía do quarto, deixando-o ali, preso, sozinho.
Niran odiava ficar sozinho, mesmo nos momentos dificeis ele tinha um irmão pressionando suas costas ou o abraçando, o aperto bruto de sua mãe em sua camisa ou cabelo, ele confiava naquelas pessoas e naquela proximidade, tudo aqui era doloroso, doloroso e sozinho.
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A fome se instalou como um nó apertado no estômago de Niranjan. Ele fechou os olhos, respirando fundo para ignorá-la, mas o ronco traiçoeiro de seu estômago ecoou no quarto escuro.
Que bela formatura.
Preso. Sozinho. Com fome.
Ele não tinha dinheiro para ir ao baile. O pouco que conseguia na escola falsificando notas, assinaturas e fazendo trabalhos para os outros não podia ser desperdiçado em algo tão supérfluo. Ele precisava desse dinheiro para sair de Belk.
Então não foi. E, por não ter ido, também não comeu nada.
Agora, horas depois, ainda algemado, sentia seu corpo se tornar cada vez mais fraco. O cansaço pesava em seus ossos, a dor no pulso e no dedo quebrado pulsava em sincronia com sua respiração, e a fome ardia em seu estômago vazio.
Niranjan ficou imóvel por alguns instantes, respirando fundo para conter a dor e a exaustão. Seus braços doíam. Seu estômago doía. Tudo doía.
Então ele lembrou.
O grampo.
A adrenalina tomou conta de seu corpo desgastado. Ele quase não acreditou por um momento, mas sabia que ele estava ali—preso em sua roupa, onde sempre deixava. Pequeno, discreto, mas agora sua única chance.
Com dedos trêmulos, ele começou a se contorcer, tentando alcançar o grampo. Os movimentos eram difíceis. Suas mãos estavam dormentes, os pulsos ardiam com os cortes das algemas, e o esforço fez uma nova onda de dor explodir pelo seu dedo quebrado, mas dane-se o dedo, ele precisava ir embora. Ele não sabe que horas são e não pode se dar ao luxo de perder o vôo.
Ele prendeu a respiração e continuou.
Demorou. Pareceu uma eternidade. Mas ele conseguiu.
O metal frio do grampo deslizou entre seus dedos suados. Ele o segurou firme, reunindo o pouco de força que lhe restava.
Agora, ele só precisava abrir a fechadura.
O grampo escorregava em seus dedos suados enquanto Niranjan lutava contra a fechadura. Mãos tremendo, pulso latejando, respiração curta. Ele não podia errar. Não podia perder tempo.
Então, com um clique seco, uma das algemas se abriu.
Ele mordeu o lábio, sentindo a pressão metálica se soltar do pulso com a mão com o dedo quebrado. Mas não havia tempo para abrir a outra.
Jonathan poderia voltar a qualquer momento.
Niran se sentou, sentindo os músculos protestarem com o movimento brusco. Puxa a mochila que estava jogada num canto do quarto e, sem hesitar, esvaziou seu conteúdo inteiro na cama. Cadernos e livros não importavam agora.
Roupas. As poucas que tinha. Ele as enfiou na mochila com dor e dificuldade sem se preocupar em dobrá-las. junto também alguns pedaços de tecido, suas linhas restantes junto com sua ultima agulha.
E colocou uma blusa larga e um moletom surrado e grande por cima, e uma calça larga, qualquer coisa que ele pudesse colocar usando uma única mão.
Seus documentos. Essenciais. Ele não poderia fugir sem eles.
Ele estendeu a mão para a pequena caixa onde guardava seus pertences mais importantes. Seus dedos deslizaram sobre a superfície gasta antes de pegá-la. Dentro, uma única foto—desbotada, amassada, mas ainda ali. Ele com sua família. Sua família de verdade. Junto da foto um bloquinho de notas surrado de capa mole com uma palmeira e folhas mais moles e finas, mas era importante.
O peito apertou, mas ele não tinha tempo para nostalgia.
Pegou o pequeno kit de primeiros socorros improvisado, as bandagens amassadas e o vidro quase vazio de antisséptico, remédios de dor e de dormir, soro, agulha e linha para pontos e um frasquinho com whisky que conseguiu roubar um dia de Paul. Ia precisar disso.
O dinheiro. Cada nota que conseguiu juntar, cada centavo que economizou com cuidado. E por fim seu caderno de desenho, junto com seus lápis. Tudo o que tinha estava ali. Não era muito, mas era sua única chance.
Ele fechou a mochila e a jogou sobre os ombros.
O coração batia rápido. O pulso machucado ainda estava algemado, mas ele lidaria com isso depois.
Ele olhou para a porta.
Era agora ou nunca.
A porta não era uma opção.
Niranjan sabia disso.
Se saísse pelo corredor, arriscaria encontrar Jonathan. Arriscaria encontrar Paul. Arriscaria nunca mais sair.
Seus olhos correram pelo quarto, até encontrarem a janela. Finalmente essa maldita janela emperrada ia servir para alguma coisa útil. Era o segundo andar. Mas isso não importava. Niran ajustou a mochila no ombro e caminhou até a janela. Cada passo era um desafio. Seu corpo estava moído de dor, o pulso algemado latejava, a mão quebrada mal segurava peso, mas ele não podia parar agora.
O vento frio da noite soprou contra seu rosto, bagunçando os fios azuis de seu cabelo e fazendo seus piercings esfriarem contra sua pele.
O coração batia forte.
Sem hesitar, ele jogou a mochila primeiro. O som abafado dela batendo contra o chão fez seu estômago revirar, mas ele não tinha tempo para hesitação.
Com uma respiração profunda, ele segurou a borda da janela e se puxou para cima.
A dor foi instantânea.
Seu pulso machucado protestou. Seu dedo quebrado latejou violentamente. Por um segundo, Niran achou que não conseguiria.
Mas ele não podia parar.
Ele se contorceu, ignorando o pânico em seu peito, forçando seu corpo para frente até metade de si estar do lado de fora.
A rua parecia mais longe do que deveria.
Se caísse errado, podia se machucar. Mas isso não importava.
Porque se ficasse…
Se ficasse, Jonathan o encontraria.
Se ficasse, ele nunca sairia dali.
Com um último impulso, Niran se jogou para frente.
O ar cortou sua pele. O impacto foi brusco. Sua perna bateu contra o chão com força, e um choque de dor subiu pelo seu tornozelo.
Ele engoliu um grito, pressionando os dentes contra os lábios. Precisava se mexer. Precisava ir.
Ele pegou a mochila do chão e saiu mancando pelo beco. Sem olhar para trás.
Correr. Correr. Correr.
Seus pés batiam contra o asfalto com força, cada passo ecoando em seus ossos, cada batida do coração parecendo uma contagem regressiva.
Ele já tinha fugido.
Ele já tinha feito isso.
Não havia mais volta. Nunca mais.
O ar frio queimava sua garganta. O mundo ao seu redor parecia tremer enquanto sua visão escurecia nas bordas. Pontos pretos dançavam em sua vista. Sua respiração vinha curta e irregular. Seu tornozelo doía. Seu pulso ardia. Mas ele não podia parar.
Ele não ia parar.
A estrada principal estava à frente. Ele só precisava chegar lá. Se afastar dali.
Se conseguisse chegar até a rodoviária, tudo ficaria bem.
Se conseguisse pegar um ônibus para o aeroporto, estaria a um passo da liberdade.
Wymack já havia mandado sua passagem.
Era a única coisa que ele sabia com certeza. O técnico dos Foxes prometeu um lugar, um time, por pior que eles fosse, prometeu liberdade.
E Niran ,queria.
Queria mais do que tudo.
Então ele correu.
Mesmo quando sua perna ameaçou falhar. Mesmo quando seu peito queimou. Mesmo quando seus pulmões pareciam implorar por descanso.
Ele correu.
Porque se ele parasse agora…
Não haveria mais Niranjan para continuar.
Ele sabia que estava péssimo.
As pessoas olhavam quando ele passava. Algumas disfarçavam, outras encaravam abertamente. Mas ninguém fazia nada.
Claro que não.
Ninguém quer problemas.
Niran não sabia se isso era bom ou ruim.
O vento cortava sua pele, fazendo seu corpo tremer dentro do moletom velho, largo e sujo. As marcas de Jonathan estavam ali, visíveis—roxeadas, vermelhas, algumas quase pretas.
Ele não se importava.
Não agora.
O pulso sangrava, estava encharcado de sangue sob a luva. Na outra mão o dedo quebrado latejava, uma dor afiada que subia por seu braço toda vez que ele mexia a mão, e a algema balançando.
A terra grudava no suor em seu rosto, se misturava ao sal das lágrimas secas. Mas ele não chorava mais.
Ele não podia se dar ao luxo de chorar agora.
Seus pés arrastavam pelo asfalto. O estômago roncava. O mundo parecia rodar.
Mas ali, no final da rua, ele viu.
A rodoviária.
E, com isso, a chance de ir embora.
A rodoviária estava logo ali.
Tão perto que era quase cruel.
Cada passo parecia mais difícil que o último. O mundo oscilava ao seu redor, os pontos pretos na visão aumentando. Ele estava exausto. Com fome. Com dor.
E seu dedo…
Estava horrível.
O inchaço era grotesco, a pele tensa e avermelhada, quase arroxeada ao redor da fratura. Ele não precisava de um médico para saber que aquilo não era bom.
Ele podia resolver no caminho ou até lá em Palmetto.
Ele puxou a mochila contra o corpo com a mão boa, escondendo parcialmente o pulso ensanguentado e o dedo deformado. Seu corpo inteiro tremia de frio e tensão, mas ele seguiu em frente.
Passou pelas portas automáticas e foi recebido pelo barulho de conversas, anúncios no alto-falante e o cheiro de comida barata. O ar ali dentro estava quente, abafado.
Seus joelhos quase cederam.
Mas ele continuou andando.
Niran precisava pegar a passagem.
A rodoviária era um caos organizado.
Pessoas se espalhavam pelo saguão, algumas apressadas, outras largadas em bancos desconfortáveis, esperando suas partidas. O cheiro de café velho e comida gordurosa flutuava no ar.
Niran estava fora de lugar ali.
Ele sabia disso. E todos ao redor sabiam também.
Sentia os olhares sobre si—alguns rápidos, outros demorados. Uma atendente do balcão olhou duas vezes para seu pulso ensanguentado antes de desviar o olhar, como se tivesse decidido que não era problema dela.
Ótimo.
Melhor assim.
Se ninguém se importava, ninguém faria perguntas.
Ele manteve a cabeça baixa, puxando a manga suja da camisa para cobrir o máximo possível do pulso machucado. O dedo quebrado latejava com tanta força que parecia pulsar. O inchaço tinha piorado. O mínimo movimento fazia ondas de dor subirem pelo braço.
Ele não podia pensar nisso agora.
Não quando ainda precisava pegar a passagem.
A mochila parecia mais pesada a cada passo enquanto ele se aproximava do guichê. Seu estômago roncou—ele ignorou. Seu corpo inteiro doía—ele ignorou.
Ele precisava chegar ao areporto, chegar até o avião. Precisava chegar até Wymack.
Ajeitou a mochila no ombro e se aproximou do balcão.
— Preciso de uma passagem — sua voz saiu rouca, cansada.
A mulher atrás do balcão olhou para ele com suspeita, os olhos demorando um segundo a mais em seu rosto inchado, no sangue seco na luva, na sujeira grudada em sua pele.
— Para onde?
— Aeroporto — ele respondeu sem hesitar.
Seus dedos se fecharam ao redor da alça da mochila, apertando o tecido com força. Ela não podia fazer perguntas. Não podia negar.
A mulher soltou um suspiro e digitou algo no computador.
Cada segundo parecia um século.
— O próximo ônibus sai em trinta minutos — ela disse por fim. — Isso dá tempo para você comprar algo para comer ou ir ao banheiro.
Niran piscou, confuso.
Ela não deveria se importar.
Mas ela disse aquilo de propósito.
Como se estivesse lhe dando uma escolha.
Seu peito apertou, e ele balançou a cabeça.
— Só a passagem.
A mulher hesitou, mas pegou o bilhete e deslizou pelo balcão.
— Boa viagem — ela disse, como se soubesse que ele não voltaria.
Niran pegou o bilhete com dedos trêmulos e se afastou.
Agora só restava esperar.
E não ser visto.
Niran se sentou perto do ponto de embarque do seu ônibus, mas com os olhos vidrados na entrada da rodoviária, existiam outras entradas, mas de Paul ou Jonathan fossem ali, era por aquela entrada que iam chegar.
O coração de Niran parou.
O tempo inteiro ele tinha se preparado para isso.
Ele sabia que eles viriam.
Sabia que Paul era paranoico demais para simplesmente deixar passar. Sabia que Jonathan não o deixaria ir.
Mas ver os dois entrando na rodoviária, agora, tão perto, fez sua respiração travar no peito.
Jonathan parecia calmo. Isso era um problema. Paul, por outro lado, olhava ao redor com raiva, os ombros tensos, a mandíbula travada.
Niran engoliu em seco.
Faltavam cinco minutos para o ônibus sair.
Cinco minutos.
Cinco malditos minutos.
Se conseguisse subir naquele ônibus, tudo acabaria.
Se conseguisse sair daquela rodoviária sem que eles o vissem, nunca mais teria que vê-los de novo.
Mas ele estava parado ali.
Bem no campo de visão deles.
Jonathan ergueu a cabeça, o olhar passando pela multidão, varrendo o lugar.
E então parou.
Os olhos de Jonathan encontraram os dele.
O coração de Niran disparou como um tambor furioso.
Seu corpo inteiro gritou para correr.
Mas correr não era uma opção.
Se corresse, chamaria atenção. Se corresse, confirmaria que era ele. Se corresse, Paul o pegaria.
Então ele fez a única coisa que podia fazer.
Ele se levantou.
Pegou a mochila com a mão boa e virou de costas, começando a andar. Sem pressa. Sem desespero.
Cada célula do seu corpo queria sair correndo.
Mas ele forçou as pernas a se moverem com calma.
Fingiu que não sentia o olhar de Jonathan queimando suas costas.
Faltavam quatro minutos.
O ônibus já estava estacionado na plataforma.
Se ele conseguisse atravessar o saguão, tudo acabaria.
Mas então Paul gritou seu nome.
E o mundo desabou.
O grito de Paul ficou para trás, engolido pelo barulho da rodoviária.
Niran correu. E entrou na àrea de alimentação.
Cortou entre mesas, bandejas e cadeiras na área de alimentação, o cheiro de gordura e café azedo se misturando.
Seu coração batia como uma sirene no peito.
Três minutos.
Ele se enfiou entre dois grupos de pessoas, se abaixando um pouco, usando os corpos, mesas, crianças malucas como cobertura. Se esgueirou pelo lado oposto, tentando dar a volta pela lateral do saguão.
Se conseguisse contornar…
Se conseguisse chegar nos portões…
Dois minutos.
Então alguém trombou com ele.
A dor foi instantânea.
O braço machucado foi jogado contra uma quina de mesa ou cotovelo—ele nem viu. Só sentiu.
O mundo escureceu.
A dor explodiu em sua visão como fogos de artifício. O dedo quebrado pareceu dobrar de tamanho ainda mais, e ele soltou um som preso, afogado, como um soluço.
Niran perdeu um tempo valioso jogado ali no chão
Mas ele não tinha tempo.
Não agora.
Um minuto e cinquenta.
Ele cravou os dentes no lábio, sentindo os piercings frios contra a pele, e correu.
Correu como nunca correu antes.
Como se a própria vida estivesse em jogo.
Porque estava.
As vozes atrás dele se misturavam ao som da rodoviária—chamadas de ônibus, conversas, barulho de malas arrastadas pelo chão. Mas ele só ouvia o próprio coração martelando nos ouvidos.
Ele correu entre as mesas da área de alimentação, desviando de cadeiras e pessoas, ignorando os protestos irritados de quem ele empurrava no caminho.
O sangue quente e pegajoso de seu pulso escorria por dentro da manga suja. Seu dedo quebrado latejava.
Mas ele não parou.
Não podia parar.
O letreiro eletrônico brilhou acima da plataforma.
Última chamada para Atlanta.
50 segundos.
Ele viu o ônibus.
Viu a porta aberta.
Viu sua única chance.
E então ouviu seu nome.
— Niran!
Jonathan.
Perto.
Muito perto.
A adrenalina explodiu em suas veias.
Niran forçou seu corpo a correr mais rápido.
Ele chegou na plataforma no exato momento em que o motorista estava prestes a fechar a porta.
Niran saltou para dentro do ônibus.
Seus pulmões queimavam. Sua visão oscilava.
Mas ele conseguiu.
Ele conseguiu.
As portas se fecharam atrás dele. Niran escuta um baque logo depois na porta, mas o motorista já estava saindo.
E, pela primeira vez em oito anos, Niran estava livre.
Niran estava ofegante, o peito subindo e descendo rapidamente, o coração batendo contra suas costelas como se tentasse fugir também.
Mas ele não desviou o olhar.
Jonathan estava parado na plataforma, olhando diretamente para ele.
Seu rosto estava calmo—calmo demais.
Mas Niran conhecia aquele olhar.
Frio.
A última ameaça silenciosa.
"Isso não acabou."
Mas para Niran, acabou sim.
Seu corpo estava fraco, tremendo. Ele não sabia como ainda tinha forças, mas ele tinha.
E usou para erguer a mão.
Para mostrar o dedo do meio.
Jonathan não reagiu.
Ele só ficou ali, observando, vendo Niran escapar de suas mãos.
O ônibus virou a esquina, e Jonathan desapareceu da sua vista.
Ele queria sorrir.
Queria sentir vitória.
Mas tudo que sentia era dor.
E uma liberdade que parecia boa demais para ser verdade.
Niran pulou.
O toque no ombro foi como um choque, um puxão súbito para a realidade.
Por um segundo, seu instinto gritou para correr de novo.
Mas ele não tinha mais para onde correr.
O ônibus já estava em movimento.
O comissário, um homem de meia-idade com um uniforme simples, olhava para ele com preocupação.
— Você está bem, filho? — a voz dele não era dura, nem brava. Só preocupada.
Niran percebeu que ainda estava escorado contra a porta, trêmulo, sujo, sangrando.
Sua mão boa ainda estava mostrando o dedo do meio.
Ele engoliu em seco.
— Eu tô bem. — Sua voz saiu fraca. Quase inaudível.
O comissário não pareceu convencido.
— Por favor, sente-se em um assento.
—Tá, desculpe senhor.
Foi quando Niran percebeu que suas pernas estavam fracas.
Cada músculo do seu corpo protestava. Cada pedaço de si ainda sentia a adrenalina queimando, mas a exaustão vinha como uma maré alta.
Ele se afastou da porta, cambaleando até um assento livre, e sem ninguém do lado no fundo do ônibus.
Assim que sentou, todo seu corpo desmoronou.
O ônibus seguia em frente.
Belk ficava para trás.
E, pela primeira vez, Niran não precisava olhar para trás.
Niran queria rir.
Queria rir até chorar, até seus pulmões queimarem, até não sobrar mais nada dentro dele além da certeza de que ele saiu.
Ele foi embora.
E agora, ele ia para Palmetto.
Para a porra de uma faculdade.
Para jogar porra de Exy.
Que legal.
Ele ainda não conseguia acreditar.
A algema ainda presa no pulso pesava, o metal frio apertando sua pele já machucada. Ele deveria ter tirado aquilo antes de entrar no ônibus, mas não tinha tido tempo.
Não tinha mais tempo para nada.
Não ia dar brechas para Jonathan e Paul o encontrarem de novo.
Niran respirou fundo, tentando manter a cabeça firme. Uma coisa de cada vez.
Seus dedos tremiam enquanto ele puxava a algema ainda presa na outra mão.
A dor foi instantânea.
Seu pulso já estava inchado, a pele ao redor do metal marcada e arroxeada. Ele teve que morder o lábio para não gritar enquanto forçava a trava com o grampo.
O estalo foi quase inaudível, mas o alívio veio como uma onda.
A algema caiu no chão com um ruído metálico.
Ele não perdeu tempo.
O dedo quebrado era o próximo problema.
Niran olhou para ele e prendeu a respiração.
O inchaço tinha piorado, a pele ao redor já ganhava um tom esverdeado-amarelado, e havia pus saindo de um corte próximo à unha.
Ótimo.
Ele olhou para seu pequeno kit de primeiros socorros—improvisado e patético.
Não tinha nada para um dedo quebrado, mas ele já lidou com piores.
Ele tirou a luva encharcada de sangue da sua melhor mão, agradecendo a um Deus que não acreditava pelo sangue ter parado de escorrer.
Pegando o pequeno frasco de antisséptico, ele jogou metade do líquido no ferimento.
A dor foi como uma faca atravessando sua pele.
Queimou.
Ardeu.
Seus pulmões prenderam um grito, e ele mordeu o tecido da camisa para se conter.
Limpando o excesso de sangue com um de seus retalhos limpos e embrulhou o pulso com gaze o mais firme que conseguiu.
A dor latejava.
Mas ele continuou.
Fez o mesmo com a outra mão, embora fosse mais difícil.
Cada toque no dedo quebrado era uma tortura.
Cada movimento parecia fogo passando por sua pele.
Mas ele conseguiu improvisar uma tala.
Nada perfeito, mas o suficiente para sobreviver até Palmetto.
Até Wymack.
Até estar longe de Belk.
Ele fechou os olhos, respirando fundo.
O ônibus seguia em frente.
E ele também.
Niran não sabia quando, mas seu corpo simplesmente desligou.
O cansaço o engoliu inteiro.
Seus músculos relaxaram, seus olhos pesaram, e o mundo ao seu redor se dissolveu em um turbilhão indistinto de sons e movimentos.
Então ele sonhou.
Tailândia.
O sol quente, iluminando as casas modestas e as estradas de terra batida. Trabalhando nas fabricas de roupa Niran raramente podia aproveitar o tempo do lado de fora
O cheiro do arroz recém-colhido misturava-se com o perfume de ervas e especiarias vindas da cozinha de sua mãe.
Ele era pequeno novamente.
Sua mãe ainda ria, leve e feliz enquanto mexia a panela, jogando um olhar carinhoso para ele e seus irmãos, que corriam pelo quintal de terra batida.
Seu pai estava sentado na varanda, observando os 5 com um sorriso paciente, tragando um cigarro sem pressa.
Ele não precisava de palavras para mostrar o quanto os amava.
Niran sentia isso.
Sentia nos olhos ternos de sua mãe, nos braços protetores de seu pai, no jeito que Preecha o empurrava e, logo depois, o puxava de volta para brincar.
Em como Arun o levantava nas costas, as meninas menores davam comidinha de folha e mato para eles, e eram obrigados a fingir que estava uma delicia
Segurança.
Calor.
Família.
Então o céu escureceu.
A terra tremeu sob seus pés.
O cheiro de comida quente foi substituído pelo cheiro de fumaça e medo.
Sua mãe gritava.
Seus irmãos tossiam e corriam, alguns sendo puxados pelo braço.
Seu pai corria para segurá-los.
O calor virou fogo.
O fogo virou escuridão.
E então Niran acordou com um solavanco, ofegante, o coração batendo como se quisesse sair de seu peito.
O ônibus seguia seu caminho, a paisagem passando rápido demais pela janela.
Ele não estava na Tailândia.
Não estava em casa.
E nunca mais estaria.
O ônibus dá um último solavanco antes de parar na frente do aeroporto. Ele já estava de pé, prestes a descer, com a mochila pendurada em um ombro e o corpo inteiro doendo, quando a mão do comissário segurou seu antebraço com delicadeza.
Foi um toque leve, sem força, sem a intenção de segurá-lo de verdade.
Mas Niran ficou tenso.
Os nós de seus dedos se apertaram em torno da alça da mochila, seu coração martelando no peito.
O homem não parecia desconfiado, não parecia uma ameaça.
Seu rosto mostrava algo que Niran não conseguia lembrar a última vez que viu direcionado a ele.
Preocupação.
— Garoto, você precisa de ajuda? Posso chamar alguém para você? — A voz do comissário era calma, baixa, quase hesitante.
Como se já esperasse um "não".
Mas não havia julgamento em seus olhos. Nenhuma exigência. Nenhum olhar faminto. A sinceridade do homem machucou. Era isso, então? Esse era o semblante de alguém preocupado? Seus olhos se encheram de umidade antes que ele pudesse evitar. Seu queixo endureceu. A garganta se apertou. Ele queria rir, queria chorar, queria vomitar. Niran abriu a boca, fechou. Abriu de novo.
— Eu... — Sua voz saiu falha. Fraca.
Ele odiou isso.
Engoliu em seco e forçou um sorriso, torcendo para que parecesse convincente.
— Eu tô bem. Só uma noite difícil.
O comissário não pareceu convencido.
Mas não pressionou.
Ele apenas suspirou, assentiu levemente, e tirou algo do bolso.
Uma barra de chocolate.
— Aqui. Você parece precisar.
Niran olhou para o doce como se fosse um objeto estranho, algo que não sabia como reagir.
Comida, dada sem exigências.
Sem segundas intenções.
Sem troca.
Seu estômago doeu.
Seus dedos hesitaram antes de pegá-lo.
— Obrigado — murmurou.
O comissário só deu um aceno de cabeça, mas seu olhar permaneceu em Niran até que ele finalmente se movesse. Quando saiu do ônibus, sentindo o peso daquela barra de chocolate em sua mão, ele percebeu.
Ele realmente saiu.
Não havia mais uma casa para onde voltar. Não havia mais algemas. Não havia mais Jonathan. Não havia mais Paul.
Ele estava sozinho.
O sentimento o pegou de surpresa.
Ele deveria estar aliviado.
Mas enquanto caminhava pelo aeroporto, a multidão se movendo ao seu redor como um oceano de estranhos sem rosto, algo dentro dele recuou.
Uma parte pequena, insignificante, mas real.
Porque ele já esteve aqui antes.
Não aqui, no sentido literal.
Mas nesse espaço mental.
Sozinho.
Completamente, verdadeiramente sozinho.
A última vez que sentiu essa sensação de desolação, esse buraco cavernoso dentro do peito, foi dentro de um caminhão quente, abafado e sem ar.
Pressionado contra corpos magros, ossudos, sujos, todos eles tremendo de fome e sede, esperando por algo que nunca chegava.
Esperando para viver.
Ou esperando para morrer.
Ele se lembrava do cheiro.
Suor velho, urina, fezes.
Do som de sussurros e choros abafados.
Do toque do corpo fraco e febril de seu irmão contra o dele, os dois apertados um contra o outro, fingindo.
Fingindo que a respiração rasa de sua mãe ainda estava ali.
Fingindo que ela não estava ficando fria.
Fingindo que ela ia acordar.
Mas no fundo, eles sabiam.
Sabiam desde o momento em que ela parou de se mover.
Desde o momento em que seus sussurros de conforto desapareceram.
Sabiam, mas não aceitaram.
Porque aceitar significava soltá-la.
E eles não soltaram.
Não até a porta do caminhão abrir, a luz do sol banhar aquela caixa de metal como se fosse um chamado divino, e mãos ásperas arrancarem sua mãe dos braços deles como se ela fosse nada.
Nada além de um corpo morto.
Nada além de algo para se livrar.
No dia seguinte, ele acordou e fingiu que seu irmão ainda estava dormindo. Fingiu que ele ia acordar a qualquer momento. Que tudo ia ficar bem. Que eles ainda tinham uma chance. Mas os minutos viraram horas. E o corpo dele só ficava mais frio. O peito só subia e descia na mente de Niran, porque na vida real ele estava parado. Os olhos abertos, vazios, sem alma. E Niran não conseguia fechá-los. Seria aceitar que agora ele estava sozinho. Que ele tinha perdido tudo.
Mas agora ele tinha algo. Uma faculdade, um time de exy a beira da falência, um bando de colegas desconjuntados e fodidos que ele não conhecia, Niran tinha alguma coisa, mesmo que não fosse muita coisa.
Niran se olhou no espelho do banheiro do aeroporto.
Seus olhos estavam vermelhos, fundos. O rosto pálido e manchado de sujeira. O piercing pontudo na sobrancelha pegava a luz fria do banheiro, um pequeno brilho metálico em meio ao caos.
Ele parecia um fantasma.
Mas fantasmas não precisavam se preocupar com a polícia.
Ele, sim.
Niran abriu sua mochila e colocou as maiores luvas que tinha, escondendo os pulsos cobertos de ataduras improvisadas. A mão ferida latejou quando ele ajustou os dedos dentro do tecido, mas pelo menos agora não estava visível.
Por último, trocou a calça suja por uma que ainda parecia minimamente decente. Algo que não desse a ninguém um motivo para olhar para ele duas vezes.
Com pesar Niran também se livra do frasco com whisky, nem ferrando que ele ia ser pego em um detector de metais.
Lavou o rosto e se olhou de novo, deplorável, porem melhor que um miserável.
Ele precisava ser invisível.
O menino que saiu correndo da rodoviária algemado e sangrando não existia mais.
Agora ele era só mais um garoto qualquer pegando um voo.
Com uma última olhada no espelho, Niran respirou fundo.
Então abaixou a cabeça e saiu do banheiro, misturando-se à multidão.
Niran manteve o rosto virado para a janela enquanto o avião acelerava na pista.
Seus dedos tremiam sobre as luvas.
O coração batia forte demais, rápido demais.
E quando as rodas do avião finalmente deixaram o chão—quando ele finalmente partiu—algo dentro dele desmoronou.
Ele saiu.
Ele foi embora.
Ele nunca mais voltaria para aquela casa.
Nunca mais veria Paul.
Nunca mais sentiria o olhar de Jonathan queimando em cima dele.
Nunca mais teria que fingir que estava tudo bem quando nunca esteve.
O peito de Niran apertou. Ele mordeu o lábio, tentando segurar, mas a primeira lágrima escapou.
E então outra.
E outra.
E quando percebeu, estava chorando de verdade.
Sem ruído, sem soluço, só lágrimas escorrendo pelo rosto, se acumulando no queixo, caindo no moletom.
As luzes da cidade ficavam menores e menores lá embaixo.
Ele as observou desaparecerem.
E chorou.
Chapter 6: Arriving in Palmetto
Summary:
Neil e Niran chegam em Palmetto e Aaron (Andrew) os busca.
Notes:
Fiquei bem animada e não me contive. isso deve ser um novo recod para mim e possivelmente vou postar mais ainda hoje e no decorrer da semana.
Vai ter bastante coisa igual ao livro ja que agora voltamos a acompanhar os livros, então houveram umas partes de copia e cola principalmente no final.
Todos os direitos da obra vão para Nora.
Chapter Text
Fazia muito tempo que Neil havia perdido a conta de quantos aeroportos ele havia visto. Seja qual for o número, era insano e ele nunca ficara confortável neles.
Havia muitas pessoas o vigiando e voar com passaporte falso era sempre arriscado. Ele herdara as conexões de sua mãe, depois de sua morte, então sabia que o trabalho era bem feito, mas seu coração batia mais rápido cada vez que alguém pedia para verificar seus documentos.
Ele nunca havia estado no aeroporto Sky Harbor ou da Carolina do Sul, mas havia algo familiar em seu ritmo frenético. Ele ficou ao lado do portão norte por quase um minuto depois que todos os outros passageiros do seu voo saíram para seus destinos. A multidão rodando em torno dele parecia à mistura habitual: turistas, empresários e estudantes indo para casa no final do semestre. Ele não esperava ver alguém que o reconheceria, como nunca tinha ido à Carolina do Sul, mas não custava checar antes.
Finalmente, ele seguiu em frente por um corredor até as escadas de desembarque. À tarde de sexta-feira significava que o pequeno corredor estava lotado, encontrar a carona que o treinador Wymack o prometera foi mais fácil do que Neil esperava. Foi o olhar certeiro de seu companheiro de equipe que captou o olhar de Neil quase certo para ele. Era um dos gêmeos. A julgar pelo olhar calmo em seu rosto, Neil fez sua aposta, não seria Andrew.
Aaron Minyard era frequentemente referido como "o normal" dos dois, embora isso fosse geralmente seguido por um debate sobre se ele poderia ou não ser saldavel por compartilha genes com Andrew. Neil atravessou a sala para encontrá-lo. Neil tinha sido o jogador mais baixo no time dos Cães Selvagens de Millport, mas agora ele era um pouco mais alto que Aaron. O conjunto todo preto que Aaron usava não o fez parecer mais alto, e Neil se perguntava como ele conseguia vestindo mangas compridas em maio. Neil sentiu calor só de olha-lo.
Mas Aaron não estava sozinho, do seu lado só que meio escorado na pilastra estava o garoto que falou com ele no seu último jogo em Millport, Niranjan se ele se lembrava corretamente. Embora fosse um trabalho bem complicado reconhecer o garoto agora, olhos fundo e vermelhos, a pele em volta do piercing irritada, algumas marcas vermelhas e roxas no pescoço e embora o moletom dois números maior junto com as luvas fizessem um excelente trabalho em esconder a maioria das coisas, a dor e a tensão obvia em sua postura junto com um volume maior que o normal em um dos dedos da luva eram coisas impossíveis de se ignorar, mas não impossíveis de não serem mencionadas. Nijiran parecia perdido entre olhar a movimentação de pessoas e encarar Aaron com um quase desgosto
Aaron por incrível que pareçia, estava carregando nas costas uma mochila meio velha e desgastada, não que ele tivesse muito local de fala com sua própria bolsa esportiva, mas eu tinha certeza que aquela mochila era de Niranjan não de Aaron.
– Neil –, disse Aaron em vez de oi, e apontou: – Precisa que eu leve sua bagagem também?.
Nem morto
– Não. É só isso.
Neil pegou a alça da bolsa esportiva pendurando-a no ombro. O saco era pequeno o suficiente para ser uma bagagem de mão, e grande o suficiente para carregar tudo que Neil tinha.
– Eu disse que podia carregar minha mochila, você que pegou de mim.
Aaron ignorou prontamente o comentario e partiu. Neil o seguiu através do portão de vidro deslizante em uma tarde de verão quente.
– Então no fim você realmente conseguiu uma bolsa pra faculdade, devia considerar uma carreira de médium.
Niranjan diz tentando puxar um assunto, para se distrair da dor ou para preencher o silencio entre um conhecido, não sabia. Mas parecia rude deixar a frase no ar então digo.
– E você foi bom o suficiente para ser chamado por um time de faculdade, talvez não devesse desvalorizar tanto seu jogo. – E isso termina a conversa, principalmente por que chegamos na rua, então não pareceu forçado.
Uma pequena multidão esperava no semáforo, na faixa de pedestre, mas Aaron os empurrou e seguiu em frente. Um barulho de freios grunhiu quando um táxi freou a um centímetro do corpo de Aaron, que pareceu não notar, mais interessado em acender um cigarro entre seus lábios. Ele prestou ainda menos atenção nos xingamentos que o motorista gritou para ele. Neil fez um gesto de desculpa ao taxista e correu para alcançá-lo, bem diferente de Niranjan que permanecia pacientemente esperando o semáforo fechar, provavelmente não conseguia correr para se juntar a nós na pequena tentativa de suicídio de Aaron.
Um elegante carro preto estava no estacionamento. Neil não sabia muito sobre carros em geral, mas sabia que aquele carro deveria ser caro. Ele pensou por um momento que deveria haver um carro menor fora de vista, atrás dele, mas Aaron destrancou o carro com um botão em seu chaveiro.
– Bagagem no porta-malas –, disse ele, colocando a mochila de Niranjan lá dentro e abrindo a porta do motorista e sentando-se de lado no assento para fumar.
Neil obedientemente colocou a mochila no porta-malas antes de subir no assento do passageiro. Aaron não foi a nenhum lugar até fumar seu cigarro pela metade e um pouco depois disso aguardando Niranjan chegar até o carro e entrar bem atrás do assento de Andrew e só então ele entrou no carro e fechou a porta.
Um giro da chave na ignição fez o motor zumbir, e Aaron olhou para Neil novamente. A sombra de um sorriso puxava um canto de sua boca, era uma expressão decididamente hostil.
–É um belo carro. – diz Niran, parece ser uma boa coisa a se dizer porque a expressão hostil relaxa um pouco antes de voltar ao lugar.
– Neil Josten e Niranjan Chaiyuang –, ele disse novamente, soava como um teste. – Aqui para o verão, hem?
– Sim.
Neil responde sozinho, Niran parece feliz em olhar pela janela enquanto fica o mais imóvel possível, Aaron ligou o ar-condicionado no máximo e manobrou o carro no sentido inverso.
– Então somos seis. Mas vocês dois vão ficar com o treinador.
O treinador Wymack advertiu Neil sobre o primo de Andrew e Aaron, Nicholas estaria na cidade, mas a soma inda não batia. Neil sabia quem era aquela quinta pessoa. Ele não queria acreditar, mesmo sabendo que esperava por isso. Kevin havia sido colado ao lado de Andrew desde sua transferência. Ainda assim, Neil tinha que ter certeza.
– Kevin vai ficar no campus? – Perguntou ele.
– Onde o nosso estádio estiver Kevin vai estar. Ele não vive sem isso. – respondeu Aaron com ironia.
– Não acho que Kevin esteja aqui por causa do estádio –, supôs Neil
Aaron não respondeu.
– Kevin Day? Está no time também? – pergunta estranha já que todos com o mínimo de interesse em exy sabia que Kevin Day foi transferido para Palmetto.
Aaron ri – Você assina com um time e você nem de preocupa em saber onde se meteu?
Niran desvia os olhos e diz, – Eu estava ocupado com outras coisas, não tive tempo de fazer uma fixa de cada um.
Foi uma curta viagem até a saída do estacionamento, Aaron deu dinheiro para a senhora do guichê. Pisou no acelerador assim que a cancela levantou para deixa-los sair. Uma buzina de carro soou para eles, em advertência, enquanto cortavam diretamente no trânsito, Neil discretamente apertou seu cito de segurança. Aaron não notou ou não se importou. Quando estavam na estrada, ele lançou um olhar no canto do olho para Neil.
– Diferente do desavisado ali atrás que assinou os papeis na mesma hora, ouvi que você não se deu bem com Kevin no mês passado.
– Ninguém me avisou que ele estaria lá –, respondeu Neil, observando o cenário correndo fora da janela. – Talvez você me desculpe por não ter reagido bem.
– Talvez não. Eu não acredito no perdão, e não fui eu quem você ofendeu. É a segunda vez que um recruta liga o foda-se para ele. Se fosse possível fazê-lo morder essa arrogância, seu orgulho teria sido destruído. Em vez disso, ele está perdendo a fé na inteligência dos atletas do ensino médio.
– Tenho certeza de que Andrew teve motivos para recusar o mesmo que eu.
– Você disse que não era bom o suficiente, mas está aqui, de qualquer jeito.
– Você acha que um verão de treinamento vai fazer muita diferença?
– Não –, responde Neil. – Foi muito difícil dizer não.
– Treinador sempre sabe o que dizer, hen? Torna as coisas mais difíceis para o resto de nós. Nem Millport deveria ter dado uma chance a você.
Neil deu de ombros.
– Millport é pequena demais para se preocupar com experiência. Eu não tinha nada a perder tentando e eles nada a ganhar me rejeitando. Era uma questão de estar no lugar certo no momento certo, eu acho.
– Você acredita em destino?
Neil ouviu o leve desprezo na voz de Aaron. – Não, e você?
– Boa sorte, então –, Aaron desejou, ignorando aquela pergunta de retorno.
E Niran de novo estava sendo feliz olhando a paisagem passar pela janela, mas era notável que estava prestando atenção em nossa conversa. E principalmente no aperto que deu na porta e no cinto de segurança.
– Somente no tipo ruim de “sorte”.
– Estamos lisonjeados por sua opinião sobre nós, é claro.
Aaron girou o volante, deslizando o carro de uma pista para a outra sem se preocupar em verificar o tráfego em torno. Buzinas ecoaram atrás deles. Neil espiou no espelho retrovisor enquanto os carros desviavam, evitando bater neles.
– É um carro muito bom para ser destruído –, disse ele, intencionalmente.
– Não tenho medo de morrer –, replicou Aaron enquanto o carro seguia em zig-zag pela estrada de quatro pistas até uma rampa de saída. – Se você for medroso não seve para nossa equipe.
– Não ter medo de morrer e jogar sua vida fora por uma idiotice não são a mesma coisa – Niranjan fala, mas sem olhar para nós.
– Estamos falando de um esporte, não de uma luta até morte. – digo em concordância.
– Dá no mesmo –, disse Aaron. – Você vai jogar numa equipe da Primeira Divisão, com Kevin no seu time, as pessoas estão sempre dispostas a sangrar por ele. Suponho que você deva ter visto nos noticiários.
– Já vi –, assentiu Neil.
Aaron gesticulou com os dedos, como se isso provasse seu ponto de vista. Neil deveria dizer que ele estava errado, mas deixou passar, enquanto olhava Niranjan balançando a cabeça em negação.
Kevin Day e seu irmão adotivo Riko Moriyama foram aclamados como os filhos do Exy. A mãe de Kevin, Kayleigh Day, e o tio de Riko, Tetsuji Moriyama, criaram o esporte há trinta anos, enquanto Kayleigh estudava no exterior, em Fukui no Japão. O que começou como uma experiência se espalhou do campus para as equipes de rua locais e, em seguida, atravessou o oceano para o resto do mundo. Kayleigh trouxera para casa com ela, na Irlanda, depois de concluir a sua licenciatura. Os Estados Unidos aderiram logo depois.
Kevin e Riko foram criados no Exy. Kevin e Riko tinham raquetes personalizadas, embora o gigantesco estádio Castelo Evermore, em Edgar Allen, o primeiro estádio NCAA de Exy nos Estados Unidos, fosse um pouco mais dos planos. Após o acidente de carro fatal de Kayleigh, Tetsuji adotou Kevin, mas o novo treinador dos Corvos não teve tempo para cuidar dos filhos. Riko e Kevin passaram todos seus anos letivos em Evermore com os Corvos e foram considerados mascotes, não oficiais, da equipe. Quando eles não estavam sendo treinados por Tetsuji, eram treinados por uma equipe, professores eram levados até o local para que eles não tivessem que deixar o estádio para ir à escola
Kevin e Riko cresceram na frente das câmeras, mas o Exy era sempre o pano de fundo e sempre juntos. Até Kevin ser transferido para Palmetto State, ele e Riko nunca tinham sido vistos separados.
Sua infância não convencional levara muitos a se preocupar com o seu bem-estar psicológico, mas também alimentou uma obsessão furiosa sobre a dupla. Riko e Kevin eram os rostos dos Corvos. Para muitos, eles eram considerados o futuro do Exy.
Em dezembro passado, Riko e Kevin desapareceram dos olhares públicos por semanas. Quando o campeonato de primavera começou, em janeiro, nenhum dos dois estava na formação titular dos Corvos. No final de janeiro, foi quando Tetsuji Moriyama abordou o tema em uma coletiva de imprensa, a notícia fora um golpe cruel para os fãs de Exy em todos os lugares: Kevin Day tinha quebrado sua mão em uma viagem em quanto esquiava. De acordo com Tetsuji, Kevin e Riko estavam devastados demais para encarar os Corvos e seus fãs, na época.
No dia seguinte, o treinador Wymack disse à imprensa que Kevin estava se recuperando na Carolina do Sul. Ouvir que Kevin nunca mais jogaria era ruim; descobrir que ele estava saindo dos Corvos foi ainda pior para seus fãs obsessivos. Se Kevin fosse relegado ao banco como treinador assistente, pelo menos ele deveria emprestar seu prestígio e conhecimento ao time local. Os fãs tomaram isso como uma ofensa à sua amada equipe, mas a maioria das pessoas supôs que ele seria transferido de volta assim que sua mão estivesse curada novamente. Exceto Kevin Day, que assinou com as Raposas em março – não como treinador, mas como um atacante.
Seus fãs passaram de sentir coração partido a se sentir traídos.
Palmetto State suportou o peso do ódio desde então. A universidade e o estádio tinham sido vandalizados mais de uma dúzia de vezes e houvera muitas brigas no campus. E só pioraria quando a temporada começasse e as pessoas vissem Kevin usando as cores das Raposas. Neil não estava ansioso para entrar no meio dessa bagunça.
O apartamento onde Wymack vivia ficava a vinte minutos de carro do aeroporto. O estacionamento estava praticamente vazio, uma vez que já era meio dia em um dia de trabalho, mas havia três pessoas esperando na calçada.
Chapter 7: Wymack's house
Summary:
está no título
Notes:
Eu realmente estou inspirada hoje.
Estou escrevendo e postando, talvez tenha mais capitulos hoje.
Chapter Text
Aaron foi o primeiro a sair e apontou o chaveiro na traseira do carro. Neil ouviu a fechadura estalar quando Niranjan saiu do carro. Aaron foi encontrar-se com os outros no meio-fio enquanto Neil pegava sua bolsa no porta-malas e a mochila de Niran, que estava do seu lado com a mão estendida para a bolsa. Neil colocou sua bolsa sobre seu ombro, relaxando um pouco com o peso familiar e endireitou o corpo antes de dar a mochila para Niranjan.
Os gêmeos estavam de pé em ambos os lados de Kevin, vestidos de forma idêntica, mas facilmente distinguíveis pelos olhares em seus rostos. Aaron parecia aborrecido agora, tendo cumprido sua tarefa em trazer Neil até lá. Andrew estava sorrindo, mas Neil sabia que sua alegria não significava uma reação agradável. Ele estava sorrindo quando esmagou uma raquete no estômago de Neil. Neil vê pela visão periférica a rosto de Niranjan se contrair em confusão e pender ligeiramente para o lado enquanto olhava para os gêmeos, Niran viu algo que Neil ainda não tinha visto.
Nicholas Hemmick foi o único que pareceu genuinamente feliz por ver os dois ali, ele saiu da calçada para se aproximar. Neil se alegrou com a distração, já que o impediu de olhar para Kevin e pensar muito no que Niran talvez tenha visto, e aceitou prontamente a mão oferecida por Nicholas.
– Ei –, disse o garoto, usando seu aperto de mão para puxar Neil ao meio-fio. – Bem-vindos à Carolina do Sul. Voaram bem?
– Sim, voei bem.
– Eu sou Nicky.– Nicky deu um último aperto na mão de Neil antes de soltá-la e ir em direção a Niranjan. – Sou primo de Andrew e Aaron, o incrível defensor. – Mas Aaron interrompe Nicky de repetir o cumprimento com Niran, puxando do-o para trás, Nicky parecia querer interrogar o motivo de não poder chegar perto de niranjan, mas uma olhada para Aaron o silenciou.
Neil olhou para ele e para os gêmeos. Os gêmeos eram claros, Nicky era escuro, com cabelos negros, olhos castanhos escuros e pele dois tons mais escuros para estar bronzeado. Ele também era um pouco mais alto que eles.
– De sangue?
– Não nos parecemos, certo? Puxei a minha mãe. Meu pai "salvou-a" do México durante uma viagem de missionário. – Ele revirou os olhos, então apontou um polegar para os outros. – Você já os conheceu, certo? Aaron, Andrew, Kevin? O treinador deveria estar aqui para deixar você entrar, mas ele teve que ir até o estádio rapidinho. O CRE o chamou para uma reunião, provavelmente sobre o porquê nós não anunciamos nossos substitutos ainda. Enquanto isso vocês ficam conosco, temos as chaves do treinador. Suas coisas estão no porta-malas?
– Não, é só isso –, disse Neil, recebendo um aceno de concordância de Niran que agora estava do seu lado.
Nicky arqueou uma sobrancelha e olhou para os outros.
– Eles tem só uma bolsa. Eu gostaria de viajar assim, droga, se eu não fosse tão materialista.
– Materialista é só o começo –, insinuou Aaron.
Nicky sorriu e agarrou o ombro de Neil, o guiando em direção ao portão da frente.
– É aqui que o treinador mora –, disse ele, desnecessariamente.
– Ele ganha todo o dinheiro, então consegue viver em um lugar como este, enquanto os pobres de nós dormem em sofás.
– Vocês tem um carro extravagante para alguém que pensa que é pobre –, disse Neil.
– É por causa dele que somos pobres –, replicou Nicky, secamente.
– A mãe do Aaron comprou para nós com dinheiro do seguro de vida –, explicou Andrew. – Não é nenhuma surpresa ela ter morrido para valer alguma coisa.
– Calma –, disse Nicky, mas ele estava olhando para Aaron quando disse isso.
– Calmo. Calmo. – Andrew ergueu as mãos encolhendo os ombros descuidado. – Por que se preocupar? É um mundo cruel, não é? Vocês não estariam aqui se não fosse.
–Não acho o mundo cruel, as pessoas são cruéis e viver com elas é mais cruel ainda. – Niranjan se pronuncia, assustando um pouco Kevin, que parecia ter se esquecido completamente que havia uma outra pessoa comigo.
– Ah, é verdade. – Andrew termina, e eles entraram no elevador até o sétimo andar, em silêncio. Neil observou os números cintilarem acima da porta, para não olhar o reflexo de Kevin. A preocupação por estar tão distante do chão era distração suficiente. Ele preferia ficar o mais próximo do térreo para que pudesse fugir facilmente, se necessário. Saltar pela janela, estava definitivamente fora de questão. Ele fez uma nota mental para encontrar todas as saídas de emergências.
E Niranjan continua olhando estranho para os gêmeos, mas dessa vez Andrew nota e o encara de volta, Niran cotinua olhando até as portas de abrirem.
O apartamento de Wymack era o número 724. Eles se agruparam ao redor da porta para que Aaron tirasse a chave do bolso. Levou duas tentativas para lembrar qual bolso estava. Neil não notou quando ele a encontrou e destrancou a porta. Estava ocupado demais olhando os bolsos das calças de Aaron. Estavam muito planas para esconder um maço de cigarros, mas Neil tinha visto Aaron guardar antes de atravessar a rua no aeroporto, era isso que Niran estava olhando?
– Aqui está, Neil –, disse Nicky, e Neil forçou seu olhar para a porta aberta.
Nicky fez um gesto para que ele entrasse.
– Lar doce lar, se é que alguma coisa envolvendo o treinador possa ser chamada de doce.
Neil sabia desde abril que dormiria no sofá do treinador Wymack por algumas semanas. Ele sabia, nos dias depois da visita de Wymack que seria desconfortável. Ele ainda não estava preparado para o modo como seu estômago se agitava dentro dele agora. Ele estava sozinho desde que sua mãe morrera, e o último homem com quem morou fora seu pai. Como deixaria Wymack trancar a porta todas as noites com os dois sob o mesmo teto? Ele não poderia dormir ali; Cada vez que Wymack respirasse, Neil acordaria se perguntando quem estaria atrás dele. Talvez ele devesse voltar e ficar em um hotel, mas como explicaria isso a Wymack? Teria que explicar? Wymack achava que os pais de Neil eram abusivos, então, talvez ele entendesse a relutância de Neil.
Ele não esperava travar desse jeito, hesitou por muito tempo. Niran deve ter sentido a hesitação de Neil, porque entrou e deu um 360 com os braços ligeiramente abertos ao redor de si mesmo como se testasse o ar do lugar, tornando a situação menos constrangedora para Neil, enquanto chamava atenção para si mesmo. Neil é grato. Nicky, Aaron e Kevin entram acompanhando Niran.
Mas Neil ficou imóvel até que Andrew se aproximou esperando Neil se mover novamente. Andrew sorria, seu olhar pálido era intenso. Neil encontrou seus olhos por um momento e soube que seria pior ficar ali com eles do que cruzar aquela porta. Ele descobriria, mas não ali e não agora, não com Andrew e Kevin como testemunhas.
Neil atravessou a porta e andou pelo corredor. A primeira porta abriu para a sala de estar, onde Neil dormiria. O sofá que Wymack tinha dito estava limpo, até mesmo tinha um bilhete para ele, dizendo que os cobertores estavam na gaveta da mesa de café. Era o único lugar da sala que estava limpo, todo o resto estava coberto de papelada e canecas de café vazias. O cinzeiro transbordando cinzas em abundância.
Do nada Neil se lembra que eles são em dois, logo Neil ia dividir o sofá com Niranjan. Talvez ele devesse mesmo alugar um quarto de hotel.
Neil estava do outro lado da sala pronto para olhar pela janela quando Nicky falou do outro lado da sala, mais perto de Niran, mas com o caminho novamente interrompido por Andrew que estava entre Nicky e Niran de um jeito casual mais ainda um obstáculo. Honestamente era óbvio que Andrew tinha notado e Neil também, mas como diabos mais ninguém notou a luva com um dos dedos inchados, mesmo com a luva dava para notar.
– O que foi aquilo?
O sangue de Neil transformou-se em lama. Não foram as palavras que Nicky tinha dito, mas o idioma que ele usou.
O alemão era a segunda língua de Neil, graças há três anos vividos na Áustria, Alemanha e Suíça. Ele lembrava mais da Europa do que queria; a maior parte do tempo havia sido uma confusão. Ele sabia que o gosto de sangue em sua boca era apenas sua imaginação, mas foi o suficientemente para sufocá-lo. Ele podia sentir seu batimento cardíaco em cada centímetro de sua pele, indo tão rápido que o fez tremer da cabeça aos pés.
Como eles souberam que ele falava alemão?
Neil rapidamente pensou em fugir, mas Aaron respondeu, então, Neil percebeu que Nicky não estava falando com ele. Não, eles estavam falando sobre ele, sem a intenção de que ele entendesse.
Neil forçou a se mover, terminando sua ida até a janela. Ele empurrou as cortinas e colocou as mãos no vidro, precisando de algo para se apoiar enquanto seu coração tentava volta ao ritmo normal.
– Acho que ele estava saboreando o momento –, respondeu Aaron.
– Não –, refutou Nicky, se voltando totalmente para Aaron depois de desistir de chegar perto de Niran, que estava estudando por cima três pilhas de papéis – Isso foi a reação de brigar ou cair fora. – O que diabos você disse a ele, Andrew?
Neil olhou para eles. Nicky não estava olhando para Andrew, talvez já sabendo que não receberia uma resposta, mas estavam observando Neil do outro lado da sala. Quando Neil se virou, Nicky deu um sorriso brilhante e voltou para o inglês.
– Que tal um passeio?
Neil pensou em dizer alguma coisa, mas já era tarde de mais.
– Claro.
Andrew estalou os dedos perto de Niran para chamar a atenção do outro garoto e o fazer acompanhar o grupo.
Não havia muito para ver. Um banheiro em frete a cozinha, e os quartos ficavam no final do corredor. Wymack havia transformado o segundo quarto em um escritório. Diferente das paredes da sala, as do escritório estava coberta com artigos de jornal, fotos de equipes, calendários desatualizados e diversos certificados. Duas estantes alinhadas na parede, uma cheia de livros de Exy, a outra uma mistura de tudo, de guias de viagem à literatura clássica. A escrivaninha de Wymack estava enterrada em papéis, não havia nem um centímetro de madeira visível, e os arquivos de Neil estavam no topo, talvez os de Niran estivessem logo em baixo. Em um canto estava um frasco com prescrição medica que fazia peso. Nicky pegou a garrafa com um som triunfante e torceu a tampa.
– Isso não é seu –, advertiu Neil.
– Analgésicos – disse Nicky, ignorando aquela acusação implícita. – Treinador quebrou o quadril alguns anos atrás, sabia? Foi assim que conheceu a Abby. Ela era sua terapeuta, e ele conseguiu o emprego para ela, aqui. A equipe ainda está dividida meio a meio sobre se eles estão ou não transando. Andrew se recusa a votar, o que significa que você e Niran tem que entrar em um consenso para o desempate. Queremos saber o mais rápido possível. Tenho dinheiro envolvido nisso.
Ele apertou algumas pílulas na palma da mão, enroscou a tampa e pôs a garrafa de volta. Neil olhou para ver o que os outros achavam disto, mas Andrew, Kevin e Niran tinham desaparecido. Somente Aaron permaneceu, e pareceu não se importar.
– Você vai conhecer Abby esta noite no jantar –, disse Nicky, enfiando os comprimidos no bolso. – Nós temos algumas horas, então talvez possamos levá-lo ao estádio e deixá-lo dar uma olhada. Nós estamos em numero suficiente para uma partida agora.O Kevin provavelmente está se mijando de entusiasmo.
– Duvido – disse Neil, pensando na expressão fria de Kevin.
– Kevin não se entusiasma –, concordou Aaron, – mas como Exy é a única coisa que interessa, ninguém mais do que ele quer ver você em quadra.
A resposta de Neil ficou presa em algum lugar em sua garganta enquanto processava isso. Era a mesma coisa que Aaron dissera no carro, quase, exceto que Aaron soava apático, agora tinha sido desdenhoso. Entre essa súbita mudança de atitude, o maço de cigarros desaparecido e os trajes parecidos, Neil estava começando a adivinhar o que estava acontecendo. Estas eram apenas coisas pequenas, mas Neil tinha aprendido a sobreviver com base em detalhes sutis.
– Não é difícil jogar com ele? – ele perguntou, mudando o que estava prestes a dizer. – Quero dizer, com ele sendo um campeão.
– Tecnicamente, ainda não jogamos com ele –, corrigiu Nicky. – Ele só começou a treinar com nós no mês passado. Se ele for qualquer coisa no time é mais como um treinador assistente, você vai ter um ano terrível. – Apesar das palavras sinistras, Nicky parecia engraçado. – Mas vale a pena.
– Vale a pena briga também? – perguntou Neil. – Como aquela de duas semanas atrás, Aaron disse que ficou fora de controle. Quantas pessoas ficaram feridas nisso dessa vez?
Houve uma pequena pausa enquanto Aaron pensava, e por um momento Neil achou que tinha imaginado coisas. Então Aaron respondeu: – Onze.
Era a resposta certa; Neil tinha lido sobre a briga em uma manchete. Mas Aaron e ele não tiveram essa conversa no carro, e Aaron deveria saber disso.
Tardiamente, Neil se lembrou da acusação irritada de Nicky na sala de estar: "O que diabos você disse a ele, Andrew?" Neil tinha sido enganado, Nicky não estava se referindo a primeira reunião em Millport, mas sobre o passeio de carro do aeroporto. Não foi Aaron que o apanhou do aeroporto. Neil estava irritado com o truque e aliviado por ter percebido, teria cautela com ambos. Então Neil se lembrou dos olhares estranhos que Niran lançou para os gêmeos assim que os viu juntos medindo de cima a baixo, depois no elevador aquela brincadeira de encarar, Neil achou de era desconfiança e por um lado era, mas Niran havia descoberto primeiro que ele, Niran sacou o jogo assim que viu os dois irmãos juntos.
Andrew não era alegre naturalmente; sua felicidade era induzida por drogas e regulada judicialmente. Dois anos atrás, quatro homens atacaram Nicky fora de uma boate. Andrew estava em seu direito de defender Nicky, mas quase matou os quatro. Os tribunais acharam que sua violência era uma ação bruta e tentaram condena-lo. Seus advogados chegaram a um acordo: Andrew passaria algum tempo em terapia intensiva, assistiria a aconselhamento semanal e tomaria medicação.
Depois de três anos, ele seria liberado de sua medicação, tempo suficiente para seu progresso ser avaliado. A sobriedade em qualquer momento antes disso era uma violação de sua liberdade condicional. Se a enfermeira da equipe, a psiquiatra atual de Andrew, ou o psiquiatra do time que conseguiu a liberdade condicional, suspeitassem que Andrew não seguisse as regras, eles poderiam pedir uma análise de urina, se Andrew fosse flagrado seria condenado.
Andrew só teria de aguentar até a primavera, mas aparentemente não pode esperar tanto tempo. Neil não podia acreditar que Andrew chegaria a arriscar a sobriedade quando as consequências eram tão exorbitantes. Ele se perguntou se sua chegada teria a ver com isso, se Andrew queria conhecer seu novo companheiro de equipe sem uma mente confusa, ou se Andrew simplesmente odiava gastar suas férias de verão drogado.
Como se fosse um sinal, Andrew apareceu na entrada com uma garrafa de whisky em uma mão com um sorriso meio divertido meio maniaco no rosto com Kevin e Niran logo atrás.
– Sucesso.
– Pronto, Neil? – perguntou Nicky. – Provavelmente devemos batiza-lo antes que o treinador apareça.
– Para quê? – Neil apontou para o whisky. – Por acaso vai ser uma tentativa de assalto?
– Talvez, vai nos dedurar para o treinador? – indagou Andrew, parecendo entretido pelo parecer. – Tudo isso só para jogar na equipe. Eu realmente pensei que você fosse uma Raposa.
– Não –, disse Neil, – mas eu te pergunto, por que você não está medicado?
Houve uma agitação no silêncio assustador. O único que não reagiu foi Andrew; Até Kevin pareceu surpreso. Nicky foi o primeiro a se pronunciar, mas voltou ao Alemão para perguntar a Aaron: – Estou louco? Eu acabei de ver isso acontecer?
– Não olhe para mim –, respondeu Aaron.
– Prefiro uma resposta em Inglês –, interrompeu Neil.
Andrew ri, – Está atrasado, o senhor desavisado descobriu primeiro que você, talvez ele seja melhor nisso, mas... – Andrew colocou um dedo no canto de sua boca e a arrastou ao longo de seus lábios apagando seu sorriso.
– Isso parece como uma acusação, ele foi mais legal ao falar, mas aja como se tivesse mentido para você.
– A omissão é a maneira mais fácil de mentir –, disse Neil. – Você poderia me corrigir?
– Poderia, mas não –, respondeu Andrew. – Imagine por si mesmo.
– Tudo bem. – Ele bateu dois dedos em sua testa, copiando a saudação zombeteira de Andrew na primeira reunião. – Mais sorte da próxima vez.
– Ah – disse Andrew. – Ah, você realmente mostrou-se relevante. Por um minuto, pelo menos. Desmascarado por duas pessoas, acho que a diversão acabou, isso nunca aconteceu.
– Não mexa comigo.
– Ou o que?
Houve um estalar quando alguém tocou a maçaneta, na porta da frente. O sorriso de Andrew reapareceu em um piscar de olhos, brilhante e vago. Ele se virou para Kevin, e Kevin se moveu ao mesmo tempo. O whisky desapareceu em algum lugar entre eles em um movimento hábil.
– Oi Treinador –, cumprimentou Andrew, sobre ombro.
– Você tem alguma ideia do quanto eu odeio chegar em minha casa e encontrar você no meu apartamento?
Andrew ergueu as mãos vazias num gesto inocente que ninguém acreditou e entrou no corredor. Aaron e Kevin foram atrás dele, presumivelmente com o álcool escondido entre seus corpos, deixando Nicky, Neil e Niran no escritório.
Wymack avaliou Neil e Niran e assentiu com a cabeça. – Vejo que vocês estão bem. Eu tinha certeza que a condução de Nicky te mataria.
Niran responde – Ele não dirige tão mal assim, não foi difícil ficar vivo.
Neil discordava da afirmação, mas ficou quieto.
– Não há sobrevivência pior que a direção desse idiota –, disse Wymack. – Há apenas caixão aberto ou fechado.
– Ei, ei –, interrompeu Nicky. – Isso não é justo.
– A vida não é justa, idiota, supere isso. O que ainda faz aqui?
– Indo embora –, respondeu Andrew. – Adeus, N e N também vem?
– Indo para onde? – perguntou Wymack, olhando desconfiado.
– Jesus! Treinador, que tipo de pessoas você acha que somos? – Indagou Nicky.
– Você quer mesmo que eu responda?
– Vamos levá-lo ao estádio –, respondeu Aaron. – Depois o levaremos até Abby, você não vai precisa dele, não é?
– Pegue isso –, disse Wymack, e Neil agarrou o molho de chaves que foi jogado.
Havia dois anéis juntos, duas chaves em um, e três no outro. – A chave grande é para quando o portão da frente fechar à noite. Essa pequena é do apartamento. As outras são para o estádio: porta da frente, sala de equipamentos e portão da quadra. Kevin tem um chaveiro parecido, peça a ele que te mostre qual serve pra qual, você e Niran podem dividir essa até eu fazer outra. Espero que vocês façam bom uso delas como ele faz.
– Obrigado –, ofereceu Neil, apertando as chaves o suficiente. – Ele podia sentir os dentes cavando na palma da sua mão. Sentia-se mais firme com elas em sua mão. Não importava onde ele dormiria ou quais os truques Andrew estivessem tramando. Havia um estádio ali e ele tinha permissão para jogar nele. – Eu vou.
– Eu tô bem dividindo a chave com o Neil, quer dizer, se ele quiser também.
– Por mim tudo bem, mas talvez fosse melhor se tivesse uma própria.
Niran entendeu o recado e acena com a cabeça.
Chapter 8: chat with wymack
Summary:
Niran é mais esperto do que parece, ele não gosta da ideia de ter que ser cuidado por Abby.
Notes:
não posso dizer que estou muito confiante nesse cap. mas ainda sim estou postando por pura ansiedade. talvez ele mude mais para frente.
Chapter Text
– Um flagrante de favoritismo, treinador –, protestou Andrew.
– Se você fosse ao estádio por vontade própria, talvez lhe desse uma –, argumentou Wymack. – Não vejo isso acontecendo nesta vida nem na próxima, então cale a boca e use a de Kevin.
– Ah, alegria, alegria –, disse Andrew. – Meu rosto alegre apareceu agora. Podemos ir?
– Fora – disse Wymack, e Andrew desapareceu. Kevin e Aaron o seguiram. Quando Nicky saia na porta do escritório, Wymack pôs uma mão em seu caminho para detê-lo.
– Não se atreva a traumatizá-lo em seu primeiro dia aqui. Nicky olhou de Wymack para Neil e Niran.
– Vocês não estão traumatizados, estão?
– Ainda não.
Depois de um momento se debatendo, Neil tirou a bolsa do ombro. O pensamento de deixá-la para trás fez sua pele arrepiar, considerando o que estava escondido dentro dela, mas ele não confiava nas intenções de Andrew. Neil não sabia por que Andrew estava sóbrio ou porque escolhera apanha-lo no aeroporto, quando Wymack confiou tal responsabilidade a Nicky, ele não achava que Andrew tivesse terminado seu joguinho. Neil confiava mais em Wymack e Niran do que em Andrew, no momento, e ele esperava não ter cometido um erro. Bem, não que Niran tivesse em condições de fazer alguma coisa, mas de qualquer maneira até agora o garoto tem sido de ajuda para Neil, então merece o benefício da dúvida.
– Você tem algum lugar seguro, para esconder isso? – perguntou ele.
– Há espaço na sala –, respondeu Wymack.
Neil olhou para Nicky, imaginando se ele estaria curioso o suficiente para tentar pegar, Niran não pegaria disso tinha certeza. Ele nunca havia se afastado de sua bolsa, a menos que estivesse trancada em algum lugar, geralmente em seu armário no estádio de Millport.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Wymack deu a Nicky um olhar impaciente.
– Por que ainda está aqui? Para fora.
– Grosso –, disse Nicky, passando por Wymack e desapareceu no corredor.
– Eu vou colocar minha mochila na sala. – Niran diz antes de andar para o corredor.
– Depois volte, preciso falar com você.
Niran dá um aceno antes de sumir.
Wymack voltou a olhar para Neil.
– Seguro tipo um cofre?
Neil nunca tivera sido decifrado facilmente antes, ele nunca deixara a situação ficar fora de seu controle. Durante as fugas, sua mãe sempre permanecia no controle, criando as histórias perfeitas e escolhendo as coisas ideais para ajudá-los. Neil tinha atrapalhado as coisas com sua mudança para Millport, mas ele poderia ir embora a qualquer momento se não gostasse do rumo que as coisas estivessem tomando. Ele realmente queria ficar, e iria, o quanto pudesse suportar.
– É tudo que eu tenho –, acrescentou ele finalmente.
Wymack fez sinal para que Neil saísse do seu caminho. Neil observou enquanto ele destrancou a gaveta inferior em sua mesa.
Estava cheio de arquivos, mas Wymack os puxou para fora e os empilhou no chão. A pilha inclinou-se logo que ele a soltou, papéis e pastas escorregando em todos os sentidos. Wymack nem parecia notar, ocupado procurando uma pequena chave em seu chaveiro.
– Isso vai resolver temporariamente –, disse Wymack. – Quando você se mudar para o dormitório, vai ter que descobrir outro lugar.
Ele ofereceu a chave. Neil olhou para ele, para a mesa, para a pilha de papéis. Abriu a boca, fechou, e tentou novamente. Ele só conseguiu: – Por quê?
Ele pegou a chave antes que Wymack se cansasse de esperar.
– Melhor se apressar antes que Andrew mande alguém procurando por você –, aconselhou Wymack.
Neil engoliu o resto de sua pergunta em favor de enfiar sua bolsa na gaveta. Enfiou tudo no espaço apertado. Felizmente, a maioria do que estava no saco eram roupas. Neil apertou a gaveta e a trancou.
Ele tentou devolver a chave, mas Wymack deu-lhe um olhar de compaixão.
– Por que diabos eu iria querer isso? – Indagou Wymack. – Devolva quando for para o alojamento.
Neil fixou o olhar na chave em sua mão.
Talvez Neil não dormisse essa noite, e talvez passasse as próximas duas semanas acordando toda vez que Wymack roncasse um pouco mais alto, mas talvez Neil realmente estivesse bem ali no momento.
– Obrigado –, disse ele.
– Vá em frente.
Neil saiu do escritório, na sala Niran estava sentado no sofá olhando para o chão mas se levantou quando viu Neil. Niran estava... dando privacidade e Neil? O apartamento era pequeno, mas no tom que ele e Wymack estavam usando Niran não deve ter escutado praticamente nada, então Niran não sabia onde sua bolsa estava, nem que a chave estava com Neil, Niran não saberia onde começar a procurar caso quisesse pegar a bolsa. Neil sentiu que estava perigosamente perto de confiar em Niran.
Niran passa por Neil e entra no escritório de wymack. Os outros tinham deixado à porta da frente aberta e esperavam por ele no corredor.
Pov Niran
Entro devagar no escritório imaginando por que Wymack precisa falar comigo, será que Paul ligou me mandando de volta pra casa? Não, impossível, não contei para ninguém onde estava indo, Paul não sabe nem que eu fui recrutado. Meu pulso volta a arder, e isso me lembra da dor latejante do meu dedo quebrado. Toda a coisa de pessoas novas, nomes, informações, laços familiares, lugar novo, me fez momentaneamente esquecer da dor.
Para tirar isso da minha cabeça olho para o escritório todo e noto uma pilha de papéis caídos desordenados, aqueles papeis não estavam ali antes, e nenhum dos outros montes foram mexidos, talvez estivessem guardados em uma gaveta, Neil saiu sem a bolsa, talvez a bolsa esteja na gaveta onde os papeis estavam.
Wymack me olha de cima em baixo.
– Alguma coisa alem do seu dedo está quebrado?
Niran fica tenso, como ele sabia? Niran tentou ser discreto, não mostrar dor e disfarçar a mão. Seu choque deve ter aparecido em seu rosto por que Wymack suspira.
– Garoto um dos seus dedos está duas vezes o tamanho que devia estar, voce tem marcas roxas e vermelhas por todo o pescoço e outras coisas que eu realmente não preciso mencionar, então eu repito a pergunta, você tem alguma outra coisa quebrada?
– Não, se eu tivesse eu saberia.
– Bom. – Wymack diz antes de pegar o telefone e digitar alguma coisa, e olhar de volta para Niran com algo próximo de preocupação– você vai direto para casa da enfermeira do time, ela vai ajudar você com esse dedo e qualquer outra coisa.
Niran dá um passo para trás, alguém vai mexer na mão dele, ver seu corpo e tocar nele, ver de perto o quão fraco e covarde ele é? Nem pensar seu dedo ia se curar sozinho assim como seu corpo.
– Não precisa, vai melhorar sozinho, eu vou ficar bem, daqui a pouco eu posso jogar de novo.
Wymack penteia o cabelo para trás.
– Ainda bem que não é você que decide quando você volta a jogar, se não ver a enfermeira, se não tratar esse dedo e qualquer outro ferimento eu rasgo seu contrato, não posso manter você se não se cuidar.
Niran acena com a cabeça rapidamente, ele não podia ter seu contrato rasgado, não podia voltar para Belk, se o preço para ficar fosse esse ele ficaria.
Wymack então olha com... carinho para Niran e a voz fica mais baixa
– Olha garoto, você tem todo o direito de estar assustado e confuso, mas Abby não vai fazer nenhum mal a você, e você vai precisar aprender a confiar nela sempre que precisar de alguma coisa.
Aquele olhar, o tom de voz, calmo, meio protetor, que fazia Niran querer se desarmar e chorar por que o fazia querer confiar. Como confiou quando Jonathan usou esse mesmo tom com ele. Fraco.
Niran abaixa a cabeça e murmura um tudo bem e sai do escritório com a cabeça baixa e o coração martelando no peito. Os outros tinham deixado à porta da frente aberta, mas nada indicava que estivessem ali a pouco tempo.
Chapter 9: pequenas mudanças
Chapter Text
Então... relendo a história fiquei com uma impressão que Niran não tinha uma personalidade alem de Pobre Coitado. Por isso decidi acrescentar mais algumas coisas nos capitulos anteriores.
São algumas frases, palavras diferentes ou modificadas. eu sei que é um saco, mas se vocês pudessem ler de novo, por que apesar de ser pouca coisa, la na frente vai ser muito importante, e tambem pra voces não se perderem.
para terem uma noção eu fiz uma tatuagem no Niran e aumentei o numero de irmãos, acrescentei alguns Hobbies.
são coisas importantes que vão impactar muito o personagem
Chapter 10: private car tour
Summary:
Andrew e Niran batem um papo.
Niran pode dar respostas dignas de um babaca.
Chapter Text
Demorou até Niran descer, mas todos esperaram pacientemente Andrew decidir não esperar mais. Não parecia uma ocorrência comum Andrew esperar por alguém se a maneira como Aaron batia o pé impaciente e olhava para Andrew ou Nicky perguntava quando iam ir logo apenas para ser parado com uma olhada feia, fosse uma indicação.
Andrew em algum momento pega o telefone e da uma pequena risada misturada com um bufo e uma torção de boca enquanto olha para a tela.
Mas depois de demorados 7 minutos Niran chega e finalmente vamos ao estádio.
Neil avistou o Estádio Foxhole muito antes de chegarem ao estacionamento. Construído para acomodar sessenta e cinco mil torcedores, eles o colocaram nos arredores do campus, onde poderia se destacar entre os pequenos edifícios próximos. A pintura o destacava ainda mais: paredes de um branco ofuscante e laranja brilhante de mais principalmente para Neil, mas Niran parecia absolutamente encantado e maravilhado com as cores. Uma gigantesca pata de raposa pintada em cada uma das quatro paredes externas. Neil perguntou-se quanto custara à universidade para construir e o quanto lamentaram o investimento, considerando o retorno miserável das Raposas.
e para Eles passaram por quatro vagas de estacionamento antes de chegarem a uma quinta. Havia alguns carros lá, provavelmente do pessoal da manutenção ou estudantes da escola de verão, mas nenhum estava estacionado na calçada mais próxima ao estádio. O estádio estava cercado por uma cerca de arame. Portões foram colocados ao longo da cerca para controlar a multidão em noite de jogo, e todos eles foram acorrentados e fechados.
Neil foi até a cerca e olhou fixamente através dela, para o terreno.
Estava deserto agora, os barracões de lembrancinhas e barracas de comida abririam quando a temporada começasse, ele podia imaginar como seria em alguns meses. Isso fez com que todos os pelos de seu corpo ficassem em pé e seus batimentos cardíacos ecoassem em seu ouvido, soava como uma bola de Exy rebatendo na parede da quadra.
Nicky bateu uma mão no ombro de Neil.
– A equipe vai adorar você –, prometeu ele.
Neil entrelaçou os dedos através dos laços metálicos e desejou poder quebrar a cerca.
– Me deixe entrar.
– Vamos – disse Nicky, e o guiou pela cerca.
Antes que andassem muito, Neil escuta Andrew que ainda estava no carro.
–Cuidem-se vocês.
–Você não vem com a gente? – Nicky pergunta confuso.
–Nosso querido treinador me pediu para eu levar o querido novato para ver Abby antes de qualquer coisa, você sabe coisas urgentes. De qualquer forma, não façam merda. – Andrew olhava fixamente para Neil na última sentença. Antes de sair levando o asfalto junto com o carro.
–Por que o Niran ia precisar ver Abby tão cedo, íamos lá mais tarde de qualquer maneira. – Nicky diz enquanto volta a me guiar pela cerca.
Então ele realmente não notou em momento algum como Niran estava machucado e nem com um dedo quebrado.
Pov Niran
Andrew Minyard era menor do que eu imaginava.
— Você sempre dirige como se estivesse em fuga? — perguntei, só pra quebrar o silêncio. — Achei que era só para intimidar os novatos na primeira vez.
Ele não respondeu. Só virou um pouco os olhos na minha direção, depois de volta pra estrada.
O carro virou uma curva e eu tive que segurar o banco com a mão boa. O dedo quebrado latejou. Eu mordi o lábio. Não ia dar o gosto de nenhum estranho ver minha dor atoa.
— Por que não contou que estava com o dedo quebrado? — ele perguntou de repente, a voz baixa, quase desinteressada.
— Não era muito importante, posso resolver antes dos treinos começarem. Alem disso como você soube?
— É óbvio.
— Nicky, Aaron e Kevin não notaram. — A dor no dedo parecia piorar toda vez que eu lembrava que ele tinha notado. Que ele tinha me notado.
— Essa luva tá machucando mais ainda o dedo, está apertando do jeito errado. — Andrew disse de repente, sem tirar os olhos da estrada.
Eu virei a cabeça devagar na direção dele.
— Uau, Sherlock. Já pensou em virar médico?
— Está piorando a dor, por que não tira?
Silêncio. Eu podia sentir ele ainda me observando com o canto dos olhos, esperando mais.
— Está quente, porque não tira as braçadeiras?
Silêncio. Absoluto.
Ele não olhou pra mim. Nem franziu a testa. Só continuou dirigindo. Mas eu vi. O maxilar dele travou. Um pequeno sinal de irritação, sutil.
— Exatamente.
Ele não respondeu. Só aumentou um pouco a velocidade, não o suficiente pra ser perigoso — só o suficiente pra me lembrar quem estava no controle.
Beleza. Toquei num nervo.
Eu me encostei no banco como se isso fosse uma vitória. Pequena, mas minha.
Andrew não falou mais nada. Nem me olhou.
Abigail Winfield morava em uma casa de um andar, aproximadamente cinco minutos do campus.
Abby estava do lado de fora com braços cruzados, expressão firme, mas com um toque de preocupação que me incomodou mais do que deveria. Eu não queria ninguém olhando pra mim desse jeito. Como se eu fosse um passarinho ferido que merecesse cuidados.
Andrew estacionou sem dizer nada. O carro mal parou e ele já estava destravando as portas.
— Vai me escoltar até a porta ou isso não tá incluso no pacote babá? — murmurei.
Ele nem olhou.
— Desce.
Levantei uma sobrancelha, mas abri a porta mesmo assim. O ar fresco bateu no meu rosto e eu saí do carro com cuidado, protegendo a mão. Abby desceu um degrau da varanda e veio até mim. O que me fez querer voltar para o carro com Andrew. Havia preocupação de mais naquele olhar.
— Niran, certo?
— O próprio. Frágil o bastante pra precisar de um motorista particular de graça.
Ela soltou um suspiro curto, mas os olhos suavizaram quando pousaram na minha mão enluvada.
— Entra. Vamos dar uma olhada nisso.
Assenti, mas virei para olhar Andrew. Ele ainda estava no carro, agora com um cigarro no canto da boca, mas nem aceso estava. Só parado ali, entre os lábios, como um acessório.
— Valeu pela carona — falei, só pra dizer algo.
Ele respondeu com um leve movimento de queixo. Um gesto quase imperceptível. E então... foi embora.
O carro sumiu na rua como se eu nunca tivesse estado lá dentro.
E pela primeira vez, naquele dia todo... eu me senti deixado pra trás.
Abby tocou meu ombro com leveza.
— Vamos cuidar de você.
Engoli seco. Assenti. E entrei.
Chapter 11: dear
Summary:
Abby cuida de Niran.
Niran quer ser querido.
Chapter Text
Entrei na casa da Abby com passos medidos, como se o chão pudesse me trair. Tudo acolhedor demais. Me incomodava.
Ela indicou o sofá com um gesto suave. Eu obedeci sem dizer nada, sentando devagar, protegendo a mão. Ela não perguntava com palavras, mas seus olhos faziam perguntas demais.
— Posso dar uma olhada? — ela disse, agachando-se à minha frente.
Engoli em seco.
— Tá tudo bem — murmurei. — Já tá sarando.
Ok, definitivamente não foi minha melhor mentira. Já que aquele dedo estava claramente muito fudido.
Ela olhou direto nos meus olhos. Um olhar que não era duro, nem invasivo. Era... gentil. E esse tipo de gentileza era pior. Uma gentileza que criava raiz no meu peito. Mais difícil de desviar.
— A luva não está ajudando, Niran. Preciso ver o que tem por baixo.
Minhas costas enrijeceram.
— Não.
Foi automático. Rápido. Seco.
Ela não recuou, mas também não insistiu. Esperou.
— Por quê? — perguntou, depois de um segundo longo demais.
Olhei pra baixo. Pro chão. Pra minha perna. Pra qualquer lugar que não fosse ela.
— Eu só... não gosto. — Minha voz saiu baixa. — Eu não gosto que encostem. — Não nas minhas mãos, não onde podem ver aquela aberração nos meus pulsos, não na única coisa que possibilitava eu segurar uma agulha, um bastão de Exy ou um lápis.
Ela suavizou a postura, como se até respirar com força pudesse me afastar.
— Tudo bem. A gente pode ir devagar. Só me mostra o que conseguir, no seu tempo.
Mordi a parte interna da bochecha.
Devagar, com mãos que tremiam levemente — não pela dor, mas pelo que vinha junto dela — fui puxando a luva. Primeiro a ponta dos dedos. Depois o resto.
A carne do meu dedo estava inchado, arroxeada, torta, e a bolha de pus aumentou desde a última vez que vi. Mas foi o pulso que fez Abby prender a respiração.
A cicatriz encrustada ali — fina, escura, afundada na pele — marcava com precisão onde as algemas tinham ficado por tempo demais, estavam com sangue seco e algumas crostas.
— Alguém te prendeu — sussurrou ela, sem tentar esconder o choque.
Meus olhos dispararam pra ela, afiados.
— Não pergunta.
Ela balançou a cabeça.
— Não vou.
Eu acreditei. Não sei por quê. Só... acreditei.
Ela assentiu, devagar. Não tocou no pulso. Só alcançou a mão ferida e, como prometido, foi devagar.
Eu tremi quando ela encostou. E minha respiração aumentou.
Meus dedos tremiam. Eu odiava isso. Odiava ser tocado. Odiava quando as pessoas achavam que cuidar era a mesma coisa que invadir.
— Não vou forçar — disse, e se ajoelhou na minha frente, colocando o estojo no chão entre nós. — Mas se me deixar ajudar, eu prometo não te machucar.
Eu olhei pra ela. Pros olhos gentis, mas atentos. Não tinha pena ali. Tinha cuidado. Respeito.
Ainda assim, minha garganta se fechou.
Ela começou a mexer no meu dedo com mãos firmes e leves, o tipo de toque que parecia conhecer limites. Mesmo assim, meu corpo inteiro ficou tenso. Eu não sabia relaxar. Especialmente quando alguém estava encostando em mim.
— Vai precisar de imobilização. Não parece quebrado em vários lugares, mas está feio — ela disse baixinho, concentrada.
Assenti com a cabeça, sem dizer nada. Eu estava focado demais em manter a respiração constante, em não puxar a mão de volta, em não fugir.
Abby não dizia muito. Só trabalhava com precisão, os olhos abaixados, os gestos seguros.
E, de repente, ela falou:
— Obrigada por deixar eu te ajudar, querido.
Meu peito travou.
Querido.
O jeito que ela disse… simples, natural, como se fosse só uma palavra carinhosa. Como se ela realmente me visse.
Querido.
Pela primeira vez, a palavra não veio acompanhada de um olhar nojento, de uma mão na minha perna, de uma promessa podre sussurrada na orelha.
Eu não sabia o que fazer com aquilo.
Minhas entranhas se reviraram, não de nojo, mas de estranhesa.
— Eu... — comecei, mas minha voz morreu. O que eu ia dizer? Que ela não podia me chamar assim? Que não podia me tratar com gentileza porque isso me confundia?
Ela ergueu os olhos e esperou.
Eu desviei o olhar. Encarei a cortina, a janela, qualquer coisa.
— Não precisa me chamar assim.
— De quê?
— “Querido.”
— Você quer que eu pare de te chamar de querido?
A pergunta ficou no ar.
E eu… fiquei em silêncio.
Queria?
Eu podia dizer que sim. Dizer que me dava gatilho, que me lembrava de coisas que eu não queria lembrar, que era só mais uma palavra podre usada por gente podre. Eu podia dizer que me irritava. Que não precisava disso. Que era só um nome.
Mas nenhuma dessas coisas era verdade.
O problema era que queria.
Queria que ela continuasse. Queria ser querido. Mesmo que fosse mentira. Mesmo que fosse só por hoje.
Mesmo que, no fundo, uma parte de mim sussurrasse que ela podia estar fingindo, sendo gentil por obrigação.
Ainda assim...
Eu queria.
Queria desesperadamente.
Queria acreditar naquela mentira bonita.
— Não — respondi baixo. Quase não reconheci minha própria voz. — Não para de me chamar assim.
Ela sorriu. Não aquele sorriso forçado, mas um pequeno, quente, que parecia entender tudo o que eu não disse.
— Tudo bem, querido.
E eu fechei os olhos por um segundo. Só pra guardar aquele som.
Só pra fingir, só por um instante, que aquilo era verdade.
Chapter 12: dear part. 2
Chapter Text
Abby terminou de ajustar o curativo e soltou minha mão com gentileza, como se ainda estivesse cuidando de algo frágil. Ela se levantou com um estalo leve nos joelhos e suspirou com um sorriso.
— Agora vou terminar o almoço antes que os outros cheguem.
Ela disse isso como se fosse a coisa mais normal do mundo — os outros — como se eu fizesse parte de algo.
Assenti, ainda meio quieto, mas as palavras saíram antes que eu pudesse pensar direito:
— Posso ajudar, se quiser.
Ela parou na porta da cozinha, me olhando por cima do ombro. Não surpresa, mas com aquele olhar de quem analisa o que não foi dito.
— Não precisa, querido. Você pode tomar um banho, descansar um pouco. Parece que não dorme há uma semana.
Eu ri. Um som pequeno, meio seco.
Ela arqueou a sobrancelha, mas não comentou. Só esperou que eu me mexesse. Eu quase fui, mas então me virei, hesitante.
— Minha mochila ficou na casa do Wymack. Só tô com a roupa do corpo.
Abby assentiu de leve, como se já tivesse previsto isso.
— Tem toalhas limpas no banheiro do corredor, use a mesma roupa, e troque depois.
A naturalidade com que ela disse aquilo me deixou desconcertado. Não olhou com pena, nem fez parecer que estava me fazendo um favor. Só… ofereceu.
Como se eu merecesse aquilo.
— Tá. Valeu — falei, desviando o olhar.
Ela assentiu, como se isso bastasse.
E eu fui, com passos lentos, como quem caminha dentro de um sonho — um sonho onde alguém te chama de querido e te deixa existir, só existir, sem pedir nada em troca.
O banheiro era pequeno, mas limpo. Cheirava a sabonete de lavanda e toalhas secas. O espelho embaçado pela umidade anterior devolvia meu reflexo com um certo pudor — como se ele também tivesse vergonha de mim.
Fechei a porta, travei, encostei as costas nela.
A luz era suave, mas ainda assim demais.
Meus dedos tremeram quando fui tirar a luva. Era sempre assim. Aquela hesitação automática, como se meu corpo tivesse medo de ser visto por mim mesmo.
Ok, sem pensamentos, vamos logo com isso.
Saí do banheiro com passos lentos, a toalha apertada contra o corpo, como se pudesse me proteger de mim mesmo. O chão frio debaixo dos pés molhados, os cabelos pingando, o corpo encharcado de vergonha — mais do que de água.
O corredor parecia longo demais. Silencioso demais. Cada som do meu próprio andar parecia alto. Quase uma denúncia.
Abby não estava à vista, graças a Deus. A porta do quarto de hóspedes estava entreaberta, como ela tinha deixado antes. Entrei sem acender a luz.
Fechei a porta devagar. Me encostei nela.
E deslizei até o chão.
Ali, no escuro, com os ombros curvados e os braços envolvendo as pernas, eu tentei respirar.
Mas o enjoo ainda estava lá. O gosto amargo ainda na boca. O peso no peito ainda crescendo, comprimindo minhas costelas como se quisesse me esmagar.
Era só uma reação do corpo, eu repetia pra mim mesmo. Um impulso involuntário. Biológico.
Mas não importava.
Não importava porque no meu corpo tudo era memória. Tudo era resquício. Tudo era um campo minado.
Eu me sentia sujo. Usado. Traído.
E era por mim.
A toalha estava úmida demais, mas eu não me mexia. Estava frio. Mas também não me mexia.
Se eu me levantasse agora, talvez chorasse.
Se eu chorasse, talvez quebrasse alguma coisa.
E eu já estava quebrado o suficiente.
A única coisa que ecoava na minha cabeça era o nome que Abby tinha dito mais cedo. Querido.
Querido.
Como se eu fosse alguém que merecesse cuidado.
Mas eu sabia que ela estava errada. Que aquilo não era verdade. Que não podia ser.
Porque ninguém chama algo como eu de querido.
Mas Abby chamava, e eu era um troxa por acreditar tão rápido
Quando consegui levantar, minhas pernas pareciam feitas de papel molhado.
A luz fraca do quarto iluminava a cama arrumada,
Minha mochila estava na casa do Wymack. E eu não ia usar nada que não fosse meu.
Voltei pro banheiro, onde tinha deixado a calça jeans e a camiseta amassadas no canto. Estavam meio úmidas, mas suportáveis. Vesti a cueca e a calça devagar, com nojo ainda pulsando nas veias. A camiseta grudou um pouco no peito molhado, mas me senti aliviado com a familiaridade desconfortável dela. E o moletom deixava tudo mais quente, porém confortável.
Me sentei na beirada da cama pra calçar as meias.
E quando fui procurar a luva, lembrei.
Ela estava destruída. Encharcada. Quase rasgando na costura.
E, no fundo, eu sabia que Andrew tinha razão: ela machucava mais o dedo do que ajudava, mesmo que abby tivesse ajudado.
Mas sem ela…
Sem ela, o pulso ficava exposto. A marca também.
Engoli seco. Enfiei a mão dentro da manga da camiseta, puxando até cobrir o máximo possível. Mas sabia que não adiantava.
Ia ter que pedir.
Só por hoje.
Uma luva emprestada.
Desci devagar, sentindo cada degrau como se fosse um teste. Minha mão direita estava enfiada na manga até o meio do antebraço, pressionando o pano contra a cicatriz no pulso como se isso fosse o suficiente pra apagar a existência dela.
A cozinha cheirava a algo quente e familiar — alho e tomate. O cheiro me atingiu como um abraço que eu não sabia se queria.
Abby estava de costas, mexendo alguma coisa numa panela, cantarolando baixinho uma melodia que eu não reconheci.
Me aproximei até que ela notasse. Não falei. Só parei ali, meio torto, meio tímido. E ela virou de leve, abrindo um sorriso tranquilo.
— Ah, você tá de volta. Se sente melhor, querido?
Pausa. Meu estômago apertou. Ainda era estranho ouvir. Mas não doía. Não ainda.
— Tô — respondi. A voz saiu baixa. — Mas minha mochila tá com o Wymack.
— Ah, é mesmo — ela disse, tirando a panela do fogo com calma. — Ele vai vir aqui logo, quer que eu ligue pra ele depois?
Balancei a cabeça, desviando o olhar.
— Não precisa. Só... você tem uma luva?
Ela piscou.
— Uma luva?
— De pano. Qualquer uma — acrescentei rápido. — Só… a minha molhou.
Não era mentira. Mas não era a verdade toda também.
Abby olhou pra minha mão escondida na manga. O olhar dela não era de pena. Era de quem sabia que tinha mais ali, mas não ia forçar.
— Posso te arrumar uma — disse. — Vai ficar um pouco grande, talvez, mas deve servir por hoje.
Assenti, o rosto queimando. Não sabia se era vergonha ou outra coisa.
Ela saiu, deixando o cheiro de comida e uma sensação de… segurança?
Eu encostei na bancada. O balcão era frio debaixo do braço nu. O chão de azulejo gelado na sola dos pés pelas meias finas.
E tudo parecia tão absurdamente normal.
Quando ela voltou, me estendeu uma luva, de algodão verde-claro.
— Pode usar essa, querido. Tá limpa, prometo. Serve?
Peguei com cuidado.
— Serve sim… obrigada.
— Não tem de quê. Agora, quer comer alguma coisa antes que os meninos cheguem?
— Não, eu to bem.
— então se sente no sofá, pode deitar se quiser.
Obedeço, e não percebo o quão esgotado estou até que relaxo um pouco. Em alguns minutos adormeço.
Chapter 13: Almoço
Notes:
perdão pelo sumiço, a escola é realmente um inferno
Chapter Text
Nicky estacionou no meio fio, já que havia dois carros na entrada quando chegaram. A porta da frente estava destrancada, então eles entraram sem bater e foram recebidos pelo cheiro de alho e molho de tomate.
O treinador Wymack e Abigail estavam na cozinha. Wymack resmungava enquanto cavava a gaveta de talheres, e Abigail o ignorava enquanto mexia algo no fogão. O treinador enxergou as Raposas e apontou um dedo para Nicky.
– Hemmick, venha aqui e seja útil uma vez nessa sua vida sarnenta. Arrume a mesa.
– AAHHWW, treinador, – Nicky reclamou enquanto Abigail se virou. – Por que você sempre tem que me escolher? Você já começou. Por que não termina?
– Cale boca e comesse a trabalhar. E fale baixo, tem gente dormindo.
– Vocês dois não conseguem se comportar nem quando temos convidados, e uma pessoa dormindo? – perguntou Abigail, deixando de lado a colher e saindo para cumprimentá-los.
Wymack examinou o grupo com uma olhada
– Não vejo nenhum convidado. Neil é uma Raposa. Ele não receberá nenhum tratamento especial apenas por ser seu primeiro dia. Não quero que ele pense que essa equipe é tudo menos disfuncional, ou junho será uma dura realidade.
– David? Cale a boca e veja se os legumes não estão fervendo demais. Kevin, veja o pão que está no forno. Nicky, mesa. Aaron, o ajude. Andrew Joseph Minyard é melhor que isso não seja o que eu acho que é. – Ela tenta pegar o whisky, mas Andrew riu e se afastou da porta.
Abigail pareceu que iria atrás dele no corredor, mas Neil estava em seu caminho. Ele se afastou de um lado para deixá-la passar, mas ela se conformou em dar um olhar assassino para Nicky.
– O que eu deveria fazer? – indagou Nicky, evitando o olhar enquanto os três se separavam em suas respectivas tarefas. – Tirar isso dele? Nem no inferno.
Abigail o ignorou para cumprimentar Neil.
– Então você é o Neil, eu já conheci o Niran. Eu sou Abby. Sou a enfermeira da equipe e proprietária temporária desse imóvel. Eles não estão te incomodando demais, estão?
– Não se preocupe –, falou Andrew, de perto da porta. – Na verdade, vai demorar um pouco para acabar com ele, eu acho. Me dê até agosto, talvez.
– Atreva-se a nos dar uma repetição do ano passado...
– Então, Bee estará aqui juntando as peças –, Andrew a interrompeu, reaparecendo na entrada ao lado de Neil. – Ele havia perdido o whisky ao longo do caminho, e estendeu as mãos vazias para ela em um gesto reconfortante. – Ela se saiu tão bem com Matt, não foi? Neil não vai ser nem uma luzinha no radar dela. Você a convidou, não foi?
– Eu a convidei, mas ela recusou. Ela achou que iria tornar as coisas um pouco estranhas.
– As coisas não são nada estranhas, exceto quando Andrew e Nicky estão por perto –, disse o treinador.
Andrew nem sequer tentou defender sua honra, mas olhou para Neil.
– Bee é uma psiquiatra. Ela costumava trabalhar no centro de detenção juvenil, mas agora está aqui. Ela lida com casos realmente sérios no campus: suicidas, psicopatas em ascensão, esse tipo de coisa. Isso faz dela a nossa manipuladora chefe. Você vai conhecê-la em agosto.
– Eu tenho? – perguntou Neil.
– É obrigatório, uma vez por semestre para os atletas –, confirmou Abby. – A primeira reunião é uma entrevista casual só para conhecê-la e descobrir onde fica seu escritório. A segunda sessão é na primavera. Claro, você é livre para visitá-la a qualquer momento, se quiser, ela vai falar mais sobre a programação enquanto você estiver lá. Serviços de aconselhamento estão incluídos no seu currículo escolar, então você pode fazer bom uso dele.
– Betsy é ótima –, disse Nicky. – Você vai adorar ela.
Neil duvidou, mas deixou de lado por enquanto.
–Niran está aqui?
– Ah sim claro está dormindo no sofá. Você faria a gentileza de acordá-lo para comer?
Entro na sala e vejo no sofá um embrulho ocupando metade do sofá, o que era meio impressionante já que Niran era uns 5 cm mais alto que Neil. Tinha o capuz do moleton levantado e a testa tocando o joelho, e afundando entre as almofadas como se quisesse sumir dentro delas. Com uma das mãos enluvada sob a bochecha, o rosto meio escondido pelos cabelos escuros. Neil se aproxima e balança o ombro de Niran.
E em um segundo Niran já estava do outro lado do sofá, encolhido num canto, olhos arregalados como se eu tivesse puxado uma arma. Respirava rápido. Muito rápido. A mão com a luva cobria o peito, a outra se agarrava ao braço do sofá com força demais.
— Oi — ele murmurou, voz fina, o corpo ainda tenso como corda esticada demais.
— Oi, Abby disse que o almoço está pronto, ela pediu para te chamar — digo, tentando parecer o mais normal possível. Ele assentiu, devagar. Mas ainda estava encolhido, mas aos poucos os olhos dele piscaram uma vez, mais devagar. O queixo caiu só um pouco, como se ele tivesse largado alguma tensão invisível. O aperto nos dedos afrouxou no braço do sofá. Ele não disse nada, mas respirou fundo.
Aquilo era estranho para mim.
Niran não conhecia Abby a menos de uma hora e meia. Era só uma frase. Só um nome. "A Abby pediu." Mas era como se bastasse. Como se a palavra "Abby" significasse que não havia perigo ali para Niran.
Andrew entra na sala nesse momento olhando para Niran depois fixamente para mim, e sorrido enquanto perguntava de um jeito levemente ameaçador se estava tudo bem.
Niran passou a mão no rosto de novo, tentando acordar direito. A pele dele, morena e suada, tinha marcas do tecido do sofá, e os cabelos estavam uma bagunça. A luva esquisita ainda cobria a mão esquerda. Estava todo desalinhado.
— Tudo bem, me assustei atoa, vamos comer. —
Os tres voltaram a cozinha com Andrew se metendo claramente entre Niran e Neil. Neil sentou-se à mesa o mais longe que pode dos assentos de Kevin e Andrew, mas do lado de Niran.
Nicky perguntou rapidamente se estava tudo bem com Niran, ao que o mesmo respondeu que sim. A conversa morreu quando todos sentaram e serviram-se, mas recomeçou enquanto pegavam pedaços de lasanha. Neil fez o melhor que pôde para ficar de fora, mais interessado em ver a forma como eles interagiam.
De vez em quando a mesa se separava quando Kevin e Wymack conversavam sobre os treinos de primavera e recrutamento em outras escolas, e Nicky falava com outra metade da mesa sobre fofocas, filmes e celebridades que Neil não conhecia, mas Niran parecia estar realmente se esforçando para participar, mesmo que fosse só para manter Nicky falando. Andrew se dividia em assistir Kevin e Wymack, e olhar para as mãos enluvadas de Niran, mas não contribuiu em nada para nenhuma das duas conversas. Em vez disso, zumbiu para si mesmo e empurrou sua comida no canto do seu prato.
Passava das dez quando Wymack decidiu que era hora de ir, Niran e Neil partiram com ele. Neil agradeceu mentalmente por não estar sozinho para entrar no carro com Wymack. Andrew era louco, mas Neil tinha uma desconfiança enraizada de homens velhos o suficiente para ser seu pai. Ele passou todo o passeio congelado e silencioso no banco do passageiro. Talvez Wymack tivesse notado sua tensão, pois enquanto falava com Niran sobre não ousar tocar em um bastão de exy enquanto o dedo não se curasse, e Niran resmungando sobre não querer ficar no banco, Wymack não se dirigiu a Neil em momento algum até chegarem ao apartamento.
Quando Wymack fechou e trancou a porta da frente, perguntou: – Eles vão ser um problema?
Neil sacudiu a cabeça discretamente dando mais espaço entre eles e disse: – Vou descobrir.
–Não tive tempo o suficiente com nenhum deles para descobrir. – Por parte de Niran
– Eles não entendem os limites –, disse Wymack. – Se eles cruzarem uma linha e vocês não poderem fazê-los recuar, venham até mim. Entendeu? Eu não tenho controle sobre Andrew, mas Kevin deve a vida a mim, posso chegar a Andrew através dele.
Neil acenou com a cabeça e Niran deu um joia com a mão boa enquanto pegava a mochila e sumia no banheiro. Neil desceu o corredor para pegar sua bolsa na escrivaninha de Wymack. Tinha ficado trancado o dia todo, mas ele a descarregou no sofá de qualquer jeito para verificar suas coisas. Passou a mão sobre o fichário no fundo da sua bolsa, seu coração acelerou. Ele queria certificar de que tudo estava lá, mas Wymack estava observando da porta.
– Você planeja usar as mesmas seis roupas outra vez este ano? – perguntou Wymack.
– Oito –, corrigiu Neil, – e sim.
– Algum problema com isso? Tenho quase a mesma quantidade de roupas. – Niran diz aparecendo com a roupa trocada e com as luvas diferentes.
Wymack arqueou uma sobrancelha para os dois, mas não forçou a barra. – Lavanderia é no porão. Detergente no armário do banheiro debaixo da pia, use o que vocês precisarem e pegue o que quiserem na cozinha. Vão me irritar mais agindo como um gato de rua arisco do que quando comer a última tigela de cereal.
Um belo coro de duas pessoas soou um – Sim, treinador.
– Eu tenho uma papelada para rever. Esta bem?
– Vou dar uma corrida –, avisou Neil.
–Ah, você vai sair? – Niran parecia meio decepcionado.
– Algum problema com isso.
– Não, claro que não – Niran desviou o olhar para o sofá – Mas se encontrar alguma coisa aberta, pode me trazer um refrigerante, qualquer um serve.
Aceno com a cabeça, e Niran remexe a mochila até colocar uma nota de dez dólares na minha mão. E depois deitar no sofá.
Neil colocou sua calça de corrida em um lado e separou sua calça e camisa de dormir sob o sofá para mais tarde. Trocou-se no banheiro e foi em torno de Wymack para trancar sua bolsa novamente.
Wymack nem sequer levantou os olhos dos papéis que estava examinando, embora ele tenha resmungado o que poderia ter sido um “adeus” quando Neil saiu novamente. E um “tchau” sonolento de Niran, Neil trancou a porta atrás dele, enterrando as chaves no fundo de seu bolso, e foi descendo pelas escadas.
Ele não sabia onde estava ou para onde estava indo, mas estava tudo bem. Se ele desse uma direção a seus pés, eles o levariam correndo por todo seu passado, e ele ficaria feliz em deixar tudo para trás.
Chapter 14: cap 14- parte 1
Notes:
(See the end of the chapter for notes.)
Chapter Text
Neil e Niran passaram a manhã seguinte explorando o campus memorizando cada canto, embora Niran parecia querer gravar cada canto do lugar como se não acreditasse que estava ali e que se fosse embora teria tudo gravado. Neil podia entender um pouco do sentimento, ele também estava com dificuldade em acreditar que realmente estava em uma universidade, e que iria jogar exy com um time de verdade, por pior que seja o time, e as pessoas nele. Neil não acha ruim estar com Niran, o garoto não falava muito mas o suficiente para que Neil não esquecesse que ele estava ali, e não esperava que Neil respondesse ou participasse ativamente e estava feliz com Neil balançando a cabeça em concordância, ou falando sim e ahan esporadicos, Niran parecia gostar de ser ouvido sem interrupção.
Quando teve certeza de que conhecia tudo a sua volta e Niran estava satisfeito, deixou o terreno da escola para uma longa corrida. Niran voltou para o apartamento de Wymack se despedindo de neil com um sorriso. Então Neil teve uma hora para se exercitar e almoçar com Niran, antes de se encontrar com os outros no estádio, Niran o acompanhou mesmo que Neil indo cedo o suficiente para chegar com muita antecedência. niran ficou encantado com a parte interna do estádio por tempo suficiente para Neil se trocar em privado, e mostrar as coisas para Niran. Mesmo que Niran ainda estivesse proibido de jogar.
Quando os outros chegaram, Neil já os esperava na quadra, e Niran na arquibancada. Ele observou Kevin empurrar Andrew em direção ao gol. Andrew ria de algo, mas Neil não pode ouvir o que Kevin dizia a ele. Aaron e Nicky espalharam bolas na primeira e quarta linha marcadas no chão, Nicky rolou duas para Neil, que as espalhou ao seu redor, no meio da quadra.
Eles começaram com exercícios, alguns dos quais Neil já havia praticado no dia anterior. Os exercícios aumentaram gradualmente em dificuldade, Neil fez uma cara feia cada vez que Andrew defendia seus lançamentos de bola. Ele se sentia aliviado por nem Aaron e muito menos Nicky terem marcado, mas Kevin havia acertado quase um terço de seus lançamentos. Era um showzinho meia boca do ex-campeão nacional, mas, também foi intensamente humilhante, uma vez que Kevin crescera jogando como canhoto. Vê-lo encarar Andrew como destro era suficientemente ousado; vê-lo pontuar era surreal.
De vez em quando Neil desviava o olhar para a arquibancada, e via Niran prestando fixamente atenção no treino. Devia ser horrível assistir, mas não poder participar do treino. Mas Niran parecia absolutamente encantado, os vendo jogar, Niran chegava para frente toda vez que Andrew rebatia uma bola desnecessariamente para o outro lado da quadra, quando Kevin fazia um gol bonito. Niran não parecia estar triste ou invejoso, muito pelo contrário.
Kevin os expulsou da quadra em uma pausa para beber água, depois de uma hora e meia de treino, mas em vez de seguir os defensores e Neil para o vestiário, ele ficou com Andrew para continuar a praticar.
Neil o observou sobre o ombro.
– Eu o vi primeiro –, disse Nicky.
– Pensei que tivesse o Erik –, disse Neil.
– Eu sei, mas Kevin está na lista – respondeu Nicky. Quando Neil franziu a testa, Nicky explicou. – É uma lista de celebridades com as quais queremos fazer sexo. Kevin é o meu número três.
Niran aparece no vestiário, mas para quando vê os outros conversando.
– Como é que ninguém perde contra as Raposas tendo Andrew no gol?
– Ele é bom, não é? Mas, Andrew ficou de fora a maior parte do ano passado. – Nicky deu de ombros. – O treinador não precisava de um terceiro goleiro quando assinou com a gente, então Andrew esquentou o banco de reserva até novembro. Então o CRE ameaçou revogar nosso status de Primeira divisão e despedir o treinado se o time não começasse a ganhar mais vezes. O treinador subornou Andrew a salvar nossa pele com uma boa garrafa de álcool.
– Subornou? – Ecoou Neil.
– Andrew é talentoso – disse Nicky novamente, – mas ele não se importa se ganhamos ou perdemos. Se quiser que ele se importe, dê a ele algum incentivo.
– Ele não pode jogar assim, sem se importar.
– Agora você tá parecendo o Kevin. Você vai descobrir da forma mais difícil, igual ao Kevin. Ele deu a Andrew uma baita dor de cabeça nesta primavera. – Nicky falava caminhando para o vestiário.
Aaron foi à frente deles para o bebedouro, e Nicky apoiou-se contra a parede olhando para Neil.
– Andrew ficou sem jogar por um mês inteiro, e disse que quebraria os próprios dedos se o treinador o fizesse jogar com Kevin de novo.
O pensamento de Andrew destruindo voluntariamente seu talento fez o coração de Neil apertar.
– Mas ele está jogando agora.
Nicky tomou alguns goles rápidos no bebedouro, assim que Aaron saiu da frente e, passou uma mão sob sua boca.
– Só por causa de Kevin. Kevin voltou a jogar com destro, e Andrew não estava muito atrás dele. Até então, eles estavam brigando como cão e gato. Agora olhe bem. Eles praticamente trocam pulseirinhas da amizade, e eu nem se quer conseguiria enfiar um pé de cabra entre eles, se minha vida dependesse disso.
– Mas, por quê? – indagou Neil. – Andrew odeia a obsessão de Kevin por Exy.
– No dia que fizer algum sentido para você, me avise –, disse Nicky movendo-se para que Neil pudesse tomar água. – Eu desisti de tentar entender tudo isso há semanas atrás. Você pode perguntar, mas duvido que te respondam. Já que estou aqui, quer um conselho? Pare de olhando tanto para Kevin. Você está me fazendo temer por sua vida.
– O que você quer dizer?
– Andrew é assustadoramente possessivo. Ele me socou quando eu disse que Kevin era um desperdício por ser hetero. – Nicky apontou para seu rosto, provavelmente onde Andrew o socou. – Então, vou paquerar alvos mais seguros até Andrew se cansar dele. Isso significa você e Niran, Matt já foi fisgado e eu não me odeio o suficiente para tentar algo com Seth. Parabéns.
– Como você consegue baixar o nível dos assuntos? – indagou Aaron.
– Que? – perguntou Nicky. – Ele disse que não curte, então vai precisar de um empurrãozinho, do Niran eu não sei ainda.
Eu não preciso de um empurrão –, respondeu Neil. – Estou bem, sozinho.
– Sério, você não está entediado de ficar só na mãozinha?
– Estou cheio dessa conversa –, protestou Neil. – Dessa e de cada futura variação desse tipo. Nicky, não tenho problemas com a sua sexualidade, mas estou aqui para jogar. Tudo que eu quero de qualquer um de vocês é o melhor que possam me dar na quadra.
A porta da quadra se abriu de repente quando Andrew apareceu. Ele os varreu com olhos arregalados, como se estivesse surpreso de vê-los todos ali.
– Kevin quer saber por que estão demorando tanto. Se perderam?
– Nicky está planejando estuprar o Neil – disse Aaron. – Há algumas falhas no plano, então ele precisa resolver isso primeiro, mas ele vai chegar lá, mais cedo ou mais tarde.
– Você é um idiota –, disse Nicky enquanto se dirigia para a porta.
– Uau, Nicky, – disse Andrew. – Você começou cedo.
– Você vai realmente me culpar?
Nicky olhou para Neil enquanto falava isso. Ele só desviou os olhos de Andrew por um segundo, mas foi o suficiente para Andrew se atirar sobre ele. Andrew agarrou a camisa de Nicky com uma mão, o empurrando contra a parede. Nicky gemeu com o impacto, mas não fez qualquer movimento para empurrá-lo de volta quando Andrew inclinou-se contra ele. Niran entra ainda mais na sala, ficando interessado. Neil olhou de Nicky para Aaron, mas Aaron pareceu indiferente e sem surpresa pela violência repentina. Neil olhou para Andrew e esperou para ver como isso acabaria.
– Ei, Nicky, – disse Andrew em um sussurro alemão. – Não toque nele, você entendeu?
– Você sabe que eu nunca o machucaria. Mas se ele disser que sim...
– Eu disse NÃO.
– Então Niran ainda está em jogo? Porque misericórdia, você é ganancioso –, disse Nicky. – Você já tem o Kevin, por que...?
Não foi uma coisa boa a se dizer porque a menção de Niran pareceu deixar Andrew ainda mais irritado. E Nick ficou em silêncio, Neil olha fixamente a pequena faca que Andrew tinha pressionada contra a camisa de Nicky. De onde ele a tirou, Neil não sabia, mas ele se recusou a pensar que Andrew a usasse na quadra por baixo de seu uniforme. Deveria haver alguma regra sobre isso. A última coisa que Neil queria era que Andrew apunhalasse alguém no meio de uma partida. As Raposas seriam banidas da liga em um instante.
Então Niran entra no vestiario – Kevin perguntou se vocês pretendem votar ainda ho...– Niran olha para Nicky e Andrew, depois para Aaron e eu – Eu aviso que vocês vão demorar?
– Shh, Nicky, shh –, disse Andrew, como se estivesse acalmando uma criança birrenta. – Por que a cara triste? Vai ficar tudo bem.
–Se você esfaquear ele, não somos expulsos da liga? – Niran pergunta como se estivesse tudo bem, e nada estivesse acontecendo.
Sim eles seriam, mas Neil não estava pensando nisso agora. Andrew estava sorrindo como se não tivesse uma ponta de faca deslizando entre as costelas de Nicky, e não era porque ele estava brincando. Neil sabia que Andrew queria dizer. Se Nicky desse um suspiro errado, Andrew cortaria seus pulmões em cubos, e as consequências que se danem.
Neil indagou-se, se o remédio de Andrew o deixaria sofrer, ou se riria no funeral de Nicky, também. Então se perguntou se Andrew agiria da mesma forma estando sóbrio. Seria a psicose de Andrew ou seu remédio? Ele estava dopado demais para entender o que estava fazendo, ou seu remédio só adicionara um sorriso e a violência estava enraizada nele?
Neil olhou para Aaron, esperando que ele interferisse. Aaron estava tenso, mas quieto enquanto olhava para a faca de Andrew.
Neil deu-lhe mais um segundo, mas não podia esperar Aaron para sempre. Ele não sabia o que Andrew acabaria fazendo e, não queria descobrir.
– Ei – Neil interviu, olhando para Andrew. – É o suficiente.
– Calado –, disse Nicky em inglês, apenas mais alto do que um sopro
de ar. – Calma, está tudo bem.
– Ei –, disse Neil novamente o ignorando, mas não sabia o que dizer
Questionar a sanidade de Andrew ou chamar sua atenção terminaria com Nicky no hospital. Ele não fingiria aceitar as investidas de Nicky apenas para tranquilizar Andrew. O que Neil precisava era de uma distração, algo mais importante para Andrew do que Nicky.
Só havia uma coisa que Neil sabia. Uma pessoa, sim. Mas antes que Neil pudesse abrir a boca a voz de Niran que sai.
–Não querendo interromper esse alegre momento, mas Kevin vai ficar insuportavel se vocês demorarem mais, não? – Indagou ele. – Depois continuem de onde pararam.
Andrew olhou para Niran como se nada tivesse acontecido, e Niran olhou de volta como se de fato nada estivesse acontecendo.
– Ah, você está certo. Que esperto da sua parte. Vamos, ou isso nunca vai acabar.
Andrew soltou Nicky e afastou-se. Sua faca desaparecera em sua armadura antes de chegar à porta. Aaron apertou o ombro de Nicky e saiu. Nicky parecia abalado enquanto olhava para os gêmeos, Niran olhou Nicky de cima a baixo por um tempo e perguntou se estava tudo bem. Mas Nicky se recompôs com um sorriso.
– Está tudo certo. – disse Nicky quando a porta se fechou atrás de seus primos.
– Você não parece bem, quer beber mais água ou coisa do tipo, posso inventar alguma coisa para o Kevin.
– Ei, tá tudo bem. Sério.
Niran inclina a cabeça e faz cara de confuso – Você não se importa em seu primo colocar uma faca no seu peito? Ele é seu primo, devia se importar
Isso pareceu deixar Nicky fora de orbita.
Neil pegou o braço de Nicky e o puxou.
– Não deixe ele simplesmente ir embora em situações como esta.
Nicky olhou os dois e os considerou por um momento, seu sorriso desaparecendo em
algo pequeno e cansado.
– Ah, vocês vão fazer isso ser tão difícil. Olhe. – disse ele, puxando Neil em direção à porta. – Andrew é meio maluco. Seu limite não é o limite dele, você nunca irá fazê-lo entender o que ele fez de errado. Além disso, você nunca fará ele se importar. Então, fique fora do caminho dele.
– Eu não estou falando dele, ele tem os limites dele e cuida deles, porque voce não cuida dos seus limites, você tem que ter algum.
– Foi minha culpa. – Nicky abriu a porta e esperou que Neil e Niran o seguisse. – Eu disse o que não deveria e tive o que merecia.
–Sabe, meu pai adotivo me batia quando eu falava alguma coisa que ele não gostava, aparentemente eu merecia. – Nicky tentou disfarçar seu choque, dizendo que não era a mesma coisa, mas Niran interrompeu – não faça valer isso só para mim, seu idiota estupido.
E niran fira as costas e vai se sentar na arquibancada. Deixando um Nicky meio chocado meio emocionado parado ao lado de Neil.
Neil não podia exigir melhores explicações, então foi na frente a caminho do pátio interno. Neil olhou primeiro para Andrew, que estava correndo para a linha da meia área, e depois para Kevin, que estava de pé no logotipo de pata de raposa no centro da quadra.
Aaron estava na porta de acrílico, à espera de Nicky e Neil, e os três entraram juntos na quadra. Kevin mal esperou que eles parassem ao seu lado, e os dividiu com um movimento de dedos.
– Aaron fica comigo, Nicky e Andrew ficam com a criança. Disputa de dois times com um gol livre.
– Não sou criança – refutou Neil. – Você é apenas um ano mais velho do que eu.
Dois, na verdade, mas ele não diria que mentiu sobre seu aniversário e sua idade. Kevin ignorou isso, mas Nicky falou: – Andrew não deveria estar com você e Aaron? Assim Neil pode praticar tiros no gol.
Kevin pareceu entediado com a sugestão.
– Se eu achasse que ele chegaria ao gol, eu teria formado assim.
– Palavras agressivas. – disse Nicky, sorrindo para Neil. – Vamos, garoto.
Havia apenas cinco, mas eles montaram como se tivessem duas equipes completas: Neil e Kevin na linha do centro da quadra, Nicky no primeiro-quarto atrás de Neil, e Aaron no quarto-quarto atrás de Kevin. Andrew atuou como um negociante no jogo, do seu lugar no gol, lançou a bola até o outro lado da quadra. Um segundo, Neil ouviu o estalar da raquete de Andrew, ele começou a se mexer subindo a quadra antes que Aaron aparecesse e fechasse seu caminho.
Kevin deveria ter feito o mesmo, subir a quadra para marcar Nicky, mas havia ficado parado na linha da meia área. Aaron também recuou e deixou Neil passar. Neil não pensou nisso, e pegou a bola no ar. Ele só a manteve por dois segundos antes de Kevin aparecer do nada. Kevin bateu sua raquete com tanta força que a bola foi para um lado e raquete de Neil voou para outro. Neil xingou a dor aguda que esfaqueou seus braços.
– Continue contando – disse Kevin, antes de ir atrás da bola.
Neil arrastou-se até sua raquete e correu atrás dele, mas Kevin tinha uma boa vantagem. Nicky tentou afastar Kevin, mas ele havia marcado um ponto alguns segundos depois. Andrew se apoiava em sua raquete ao invés de proteger o gol. Ele olhou sobre ombro quando a área do gol se iluminou em vermelho, mas de forma alguma esboçou qualquer reação, alem de uma breve olhada para a arquibancada onde Niran estava olhando boquiaberto, e Andrew solta um bufo.
– Você poderia pelo menos tentar – disse Kevin.
Andrew pensou, então disse: – Poderia não é? Talvez da próxima vez!
Notes:
eu sei, parei do nada. Mas me deu preguiça de escrever o resto e queria postar o cap logo entt, até a proxima
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