Chapter Text
A noite estava silenciosa. A única luz se originava dos postes, espaçados demais para iluminar toda a rua de forma uniforme, dando-lhe um ar solitário nesse horário, quando quase todos buscavam o conforto de seus lares, na esperança de um momento de descanso depois de mais um dia de repetições e interações exaustivas. Com algumas exceções.
Jeong Yunho era uma delas. Caminhava tranquilamente por ruas e vielas, sem um destino específico. Seus olhos apenas focavam no caminho à sua frente, seus arredores não importando. Quem sabe, outro dia, ele notaria mais detalhes em seu percurso. Como as estrelas brilhavam sobre si, como as luzes provenientes dos edifícios diferiam uma da outra, mostrando a singularidade de cada morador, mesmo que seus prédios fossem repetições infinitas de concreto, ou até mesmo nas escassas pessoas que se aventuravam em um período que não agradava a todos.
Hoje, entretanto, ele tinha um trabalho a cumprir, que dependia inteiramente dele. Não podia se deixar levar por distrações, mínimas que fossem. Ou pior, tentações. Era importante manter sua mente focada.
Qualquer um que passasse por ele, não encararia sua figura por mais de um minuto, julgando-o como alguém desinteressante que apenas voltava tardiamente de um trabalho qualquer. Sua vestimenta tinha tal propósito. Um sobretudo preto, quase camuflado pelo breu noturno, calças e botas de mesma cor, facilmente seria confundido com uma sombra que escapou de seu dono. Nunca imaginariam o que carregava em seus bolsos, muito menos o que lhe compelia a andar com tanta certeza e confiança.
Antes de sair de casa, ele checara cada pertence, se certificando de que não esquecera nada. Nesse ramo, um erro, uma falha, um esquecimento, poderia custar sua vida. O número de casos em que um caçador morrera por puro descaso com seus materiais de serviço era maior do que deveria. Por isso, Yunho era tão metódico nesse quesito. Além disso, sabia de cor onde cada objeto estava.
No bolso direito do sobretudo, uma adaga com um cabo decorado por uma pedrita de ônix. No direito, uma pistola. Gostava de estar preparado para tudo. Pendurado em seu pescoço, um crucifixo. E só por precaução, seus dedos estavam envoltos por garras pontiagudas, afiadas a tal ponto que cortavam pele com a facilidade que se rasga uma pétala de rosa. Tudo envolvido por magia de Anjo.
Até agora, sua busca havia sido infrutífera, nada peculiar lhe atraindo, a única movimentação era a brisa que fazia cócegas em seu pescoço, e esparsos ruídos originados da própria noite e de gatos que andavam sutis pelos telhados que eram palco para tais bichanos.
Hoje, diferentemente de outras ocasiões, Yunho saíra apenas por uma sensação. Geralmente esperava por denúncias, acontecimentos suspeitos, ou mesmo notícias de seu informante, que sabia tudo sobre o mundo sobrenatural. Dessa vez, apenas sentiu um puxão, algo que lhe compelia a sair, procurar por algo que não estava certo. E algo lhe dizia que logo encontraria.
Chegou em uma encruzilhada, e sopesou os três caminhos adiante. Não conhecia nenhum deles, muito menos sabia por onde seguir, apenas podia fazer o que vinha fazendo desde que deixara sua casa. Confiar nos seus sentidos.
Fechando os olhos, respirou fundo algumas vezes, ignorando o mundo terreno, deixando sua mente divagar pelo vazio. Se alguém lhe perguntasse, não saberia explicar como fazia isso, era como se um pequeno sinal aparecesse em sua cabeça, lhe indicando para onde seguir. Nunca tentara descobrir mais sobre, porém não podia negar que sempre lhe era útil.
Depois de alguns instantes, finalmente sentiu. Uma leve inclinação, mínima, que não perceberia se estivesse respirando alto demais, se movendo demais, pensando demais. Direita.
Acelerando o passo, seguiu pela estrada à direita, que era rodeada por casas coloridas, algumas de madeira, outras de material. Os jardins também variavam, alguns bem cuidados, outros deixados por conta própria para apodrecer em silêncio, sem possibilidade de salvação. Como era de se esperar, todas estavam silenciosas, suas luzes apagadas, e o único barulho que quebrava o silêncio era o estalar dos sapatos de Yunho.
Mas então, repentinamente, um segundo par de passos se juntou a ele, parecendo imitá-lo, quase batendo no concreto ao mesmo tempo que os seus, indistinguível para alguém ignorante ao que acontecia. Yunho fingiu não notar, caminhando sem parar, alheio à presença. Esperava que ela desse o primeiro passo, que ditasse o ritmo da luta.
Contava, aos poucos, os segundos em que a criatura de aparência humana não atacava.
1…
2…
3…
4…
5…
E então…
Sentiu dedos esguios agarrando seu pescoço, unhas indo de encontro à sua pele. Pôde senti-la ser rompida superficialmente, um líquido quente manchando a gola de sua camiseta.
Yunho não perdeu tempo, sua mão voando com força para trás de seu corpo, onde imaginou que estaria seu agressor. As pontas do metal afiado que envolvia seus dedos encontrou-se com algo macio, e ele sentiu sua mão se enterrar naquilo até a base, rasgando pele, carne, e talvez algum órgão que ocorrese de ser ali.
Antes que pudesse ouvir, sentiu o cheiro de queimado, causado pelo contato entre o Demônio e a magia de Anjo, e logo em seguida um berro esganiçado, inumano, que parecia saído da mais profunda e amaldiçoada parte desse mundo, soou em seus ouvidos, seus tímpanos doendo com o som.
Sentiu o aperto em seu pescoço intensificar, e por reflexo, fechou sua mão em punho, e com uma puxada repentina, estripou o ser atrás de si, o tecido escorregadio indo de encontro ao chão, um som molhado acompanhando o impacto, o cheiro de sangue se tornando insuportável.
Quando finalmente sentiu o toque em sua garganta afrouxar, Yunho se virou, sua mão rapidamente buscando a adaga dentro do sobretudo, perfurando o peito do Demônio em um piscar de olhos, e pela primeira vez olhando para este.
O corpo que habitava era de um homem alto, na faixa dos 30, cabelos longos agora embebidos no próprio sangue, as roupas, sua maioria de jeans, pareciam ter sido mergulhadas em um mar de vermelho. Mas o verdadeiro horror estava em sua barriga.
Do buraco aberto em seu torso, escorria deliberadamente seu intestino, se amontoando aos seus pés. Seu rosto agora estava retorcido em uma careta, os olhos ameaçando se fecharem, a boca escancarada derramando saliva e sangue, as mãos tentando em vão se agarrar a algo.
Enfiando a adaga até apenas seu cabo estar visível, Yunho molhou sua mão no líquido vermelho, sujando a pedra de Ônix que decorava sua arma. Fechou os olhos, e, como que possuído, recitou o mesmo encantamento que vinha proferindo desde que se tornara um Caçador de Demônios. Um cântico em latim deixava seus lábios, tão profundamente enraizado em sua memória que não precisava se esforçar.
Foi capaz de ver o momento em que a vida deixou o corpo, quando seus olhos perderam o brilho, e a pedra negra se iluminou por alguns segundos, para logo em seguida voltar à sua aparência normal.
Com a mão menos ensanguentada, tirou o Ônix do encaixe, segurando-o em sua mão, girando de leve para observar o que parecia uma névoa embaçar a pedra, dando à ela um tom diferente. Esse tipo de pedra já era de um preto absoluto quando produzidas, contudo, quando continham a alma de um Demônio, essa cor ficava infinitamente mais… vazia. Não era apenas a falta de luz e cor, era a falta de tudo. De vida, da naturalidade que tanto impregnava tudo produzido pela natureza, seu aspecto se tornando o de um olhar, não de alguém que morrera, mas de alguém que perdera tudo e agora vivia vegetando a cada dia que passava.
Piscou rapidamente, voltando a si, se preparando para completar seu ritual. Ergueu-a sobre sua cabeça, dizendo mais algumas palavras, e, hábil, estilhaçou a rocha no asfalto em que se sentava. Pedaços do objeto destruído se espalharam pela rua, divergindo em tamanho e formato, agora se tornando mais uma vez apenas pedras sem vida.
Permitiu-se ficar em repouso naquele lugar gélido apesar de rodeado por vida, pela primeira vez na noite encarando as estrelas que brilhavam sobre ele. Com a respiração ainda sôfrega, fitou-as com um olhar encantado, seu brilho lhe acalmando, apesar de ter tirado uma vida alguns instantes atrás.
Era uma vida difícil. Sentia que se continuasse assim, algum dia o vermelho não sairia de seus dedos, e talvez cada alma que roubara voltasse para lhe assombrar até o dia de sua morte. Não sentia que alguém pudesse lhe entender. A única pessoa que chegara perto de tal compreensão não mais caminhava sobre esse mundo. Mesmo convivendo com seres míticos, Yunho não fazia ideia de para onde a pessoa que mais amara fora. Talvez nem mesmo existisse um céu e um inferno, quem saberia dizer. Talvez seu amor estivesse agora entre as estrelas que observava com tanto fascínio, e talvez lhe observasse de lá. Podia não ser verdade, mas gostava de se enganar, apenas sobre isso, para poder olhar para o céu noturno e ter um pouco de conforto apoiado em mentiras.
Quando se sentiu pronto, com a respiração já normalizada, se levantou, cambaleando enquanto o fazia, observando a bagunça que se acumulou ao seu redor. Um corpo, muito sangue, e estilhaços. Riu um pouco, mais pelo cansaço talvez, olhando para aquilo. Parecia o reflexo de sua própria alma.
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A parte suja de seu trabalho era a que menos gostava. Não que gostasse das outras, longe disso, porém havia se acostumado. Já essa… ainda fazia seu estômago revirar, e sentia que a qualquer momento vomitaria toda a comida que consumira ali mesmo.
Começava com o mais delicado, os estilhaços de Ônix. Guardava-os em um tecido que carregava consigo, enrolando-o para mantê-los seguros. Depois, com calma, começava a limpar o ambiente.
O corpo era vendido por alguns Wons para a polícia forense. Era uma prática comum entre os Caçadores que tinham uma condição financeira difícil, mas não deixava de ser extremamente antiético. Yunho poderia ser considerado alguém de classe média, não era como se realmente precisasse dessa prática, mas era mais simples e lhe rendia um dinheirinho extra.
Lhe incomodava o fato de que não conseguia parar de pensar sobre o quão imoral estava sendo. Tudo na situação parecia errado, vender um corpo sobre o qual não tinha direito nenhum com certeza lhe tornava um ser humano horrível. Apenas passara da fase em que se importava. Só queria acabar logo com aquilo.
Apesar de ser fácil se livrar do corpo, carregá-lo era um incômodo, ainda mais com seus órgãos ameaçando escorrer pelo buraco que ele mesmo abrira. Ralhava mentalmente consigo mesmo, e se pudesse, até mesmo se bateria. Mas tinha que acabar logo aquele trabalho.
Após a rápida passagem pelo laboratório da polícia, que lhe rendeu uma quantidade aceitável de Wons, começou a lenta caminhada de volta para sua casa.
Passava da meia noite, e sentia-se exausto. Levou a mão ao pescoço, sentindo os pequenos cortes causados pelo Demônio, que agora começavam a queimar, e teve que se segurar para não raspar o local e piorar o ferimento.
Optou por ruas que sabia que estariam mais vazias, não tinha com o que cobrir o sangue e não queria atrair atenção. Tudo o que queria era chegar em casa, tomar um banho rápido para lavar as impurezas de seu corpo, e cair inconsciente na cama. Talvez beber algo que o fizesse esquecer de que era um ser vivo.
Quando finalmente chegou ao seu apartamento, teve o primeiro alívio do dia: as luzes estavam apagadas. O que significava que seu colega de quarto estava dormindo. Ou era o que esperava.
Tirou os sapatos ao abrir a porta, e, quando acendeu as luzes, deu de cara com a figura que assombrava seus dias, mesmo que com consentimento dele.
– Wooyoung. – O nome saiu de sua boca como um xingamento, recebendo todo o cansaço e ódio do dia. – Porque você ainda está acordado?
O jovem – Demônio – a sua frente vestia um conjunto de pijama, que cobria seu corpo fluidamente em ondas, seus cabelos vermelhos caindo por cima de seu olhar desafiador. Encarava Yunho como se quisesse ler através dele.
– Não sei – respondeu de forma displicente, dando de ombros como se não estivesse esperando pelo outro no escuro, tal qual um predador esperando pacientemente por sua presa. – Você demorou pra voltar. Eu estava preocupado.
– Sei – devolveu enquanto espremia os olhos, segurando-se para não revirá-los. – Conta outra.
– Mas é verdade! – Exclamou Wooyoung enquanto se levantava em um movimento fluido, caminhando ardilosamente até Yunho, suas mãos entrelaçadas atrás do corpo. – Eu queria saber se você finalmente tinha morrido. Pelo visto não, mas quase, não é? – Esticou uma mão até seus dedos esguios quase encostarem no ferimento de Yunho, parando a alguns centímetros quando este lhe agarrou pelo pulso, apertando de leve.
– Não – disse em um tom sério, definitivo. Não estava afim das brincadeiras sem graça do outro, nas quais apenas ele se divertia. – Pode parar. Não quero suas gracinhas, não hoje.
– Nossa, que mau humor – disse enquanto revirava os olhos, soltando o pulso do aperto de Yunho, e mudando o seu destino para os fios desgrenhados do cabelo do mais alto. As pontas dos dedos se aventuraram na cabeça de Yunho, desembaraçando nós e se livrando de resíduos indesejados. – Acho que você precisa relaxar. Vem, me deixa cuidar desse machucado feio no seu pescoço.
Apesar dos protestos de Yunho, que tentava ao máximo se livrar desse aborrecimento diário que era seu colega de quarto, eles acabaram no sofá, Wooyoung no colo de Yunho, suas pernas dobradas sob si, as mãos seguravam um pedaço de algodão enquanto limpava de leve o sangue que há muito já estava seco e craquelado. Apertou de leve para tentar tirar uma ferida, e Yunho sibilou de dor.
– Cuidado – exprimiu ele, suas mãos indo de encontro ao peitoral de Wooyoung.
– Tira a mão daí se não quiser mais que isso – apontou para o espaço entre eles, seus olhos brilhando enquanto piscava repetidas vezes. – Mas não vou negar que eu também quero. Esse seu corpinho assim é…
– Para – ordenou Yunho, sabendo onde Wooyoung queria chegar. Sua cabeça agora latejava, resultado talvez do estresse acumulado. – Eu não vou te foder Wooyoung.
– Por favor – pediu, suas mãos percorrendo o caminho do pescoço de Yunho até seu torso, indo repousar em seu colo. – Me fode.
– Wooyoung eu tô estressado, meu dia hoje foi pesado. – Resmungou o mais alto, tentando sair do aperto do outro. – Vai, me deixa sair. Se é pra ficar me enrolando eu vou tomar um banho.
Tentou sair da posição em que se encontrava, porém Wooyoung colocou todo seu peso sobre Yunho, impedindo que se levantasse, suas mãos agarrando o encosto do sofá. Se ergueu em seus joelhos, olhando de cima para o mais alto, que apenas ficou estático esperando.
– Yuyu… por favor… você sabe como eu gosto desse seu pau me abrindo todinho… – Rebolava desinibido, raspando-se contra a calça de Yunho, sentindo o volume ali. – E não mente pra mim… eu sei que você adora me comer depois de um serviço… me ver de quatro… fazer eu me engasgar com o seu pau enquanto…
– Então cala a boca – murmurou Yunho, agarrando os ombros de Wooyoung e virando a posição em que estavam, lhe deitando com força no sofá, atacando sua boca selvagemente, pulando etapas e raspando sua língua contra os dentes do outro, suas mãos pressionando a cintura de Wooyoung com força, machucando. O de cabelos vermelhos apenas ria de forma maníaca, quase gargalhando, suas mãos indo para o corpo torneado de Yunho, subindo e descendo, aproveitando cada centímetro em que conseguia pôr as mãos.
Wooyoung entrelaçou suas pernas ao redor da cintura de Yunho, colando ambas as pélvis, a fricção aumentando com os movimentos violentos do mais alto, que usou os metais afiados que revestiam seus dedos para rasgar as roupas de Wooyoung, sua paciência há muito esquecida, a pressa em consumir tudo que lhe era oferecido tomando conta de seus pensamentos. Os tecidos, agora em frangalhos, foram atirados para o chão, porém Yunho não parou. Agora, as garras metálicas se raspavam suavemente contra a pele do torso de Wooyoung, mínimas linhas vermelhas aparecendo pelo caminho que seus dedos percorriam, o sangue aos poucos se acumulando sobre os cortes, o vermelho se espalhando como tinta sobre tela.
Yunho se curvou, se pondo a chupar os cortes, o gosto metálico explodindo em sua boca, os gemidos de Wooyoung sendo registrados em seus ouvidos como uma doce melodia, os efeitos sendo sentidos entre suas pernas.
Não havia uma parte sua que não estivesse suja do líquido vermelho, mas não sentia nojo. Não sentia aversão à ideia, ao que estava fazendo. Seu cérebro parecia desligado, as noções e o senso comum em segundo plano, apenas seguia instintos que pareciam cada vez mais primitivos. Prazer, era a única coisa que ouvia além dos gritos e gemidos esganiçados de Wooyoung.
– Vai… admite – sussurrou o de cabelos vermelhos, ofegantes – Você ama… ama me foder como se fosse um… um animal…
– Cala essa boca Wooyoung. – Retrucou entredentes, abrindo mais ainda os cortes, a camada inferior ficando exposta para sua língua, que forçava entrada pelos filetes. Wooyoung gritou, mas o som logo em seguida se desfez em uma gargalhada rouca.
– Me faz calar, porra – desafiou, sua voz quase não sendo ouvida.
Yunho se desvencilhou das pernas de Wooyoung, se erguendo sobre ele. Lentamente, desfez o cinto e, com movimentos rápidos, se livrou das calças e cueca, ficando nu da cintura para baixo. Engatinhou pelo sofá até seu pau pender sobre a cabeça de Wooyoung, prendendo o rosto deste com uma mão, obrigando sua boca a abrir em um formato de O.
– Será que você vai continuar falando quando estiver com meu pau na garganta? – Questionou retoricamente, seu olhar preso no do Demônio, ambos brilhando, desafiadores.
– Descobre… – antes que pudesse terminar, Yunho enfiou seu membro até a base na boca de Wooyoung, e este apenas permaneceu imóvel, se dispondo como um brinquedo para o mais alto.
Yunho pôde sentir seu pau atingir o fundo da garganta do outro, e quando este não esboçou reação, começou com estocadas violentas contra ela, e tinha certeza que deveria estar machucando o outro, mas não importava, pois o outro continuava a apenas emitir murmúrios e sons libidinosos. O quarto silencioso apenas aumentava os barulhos do impacto da pélvis de Yunho contra os lábios de Wooyoung.
O Demônio começou a fechar de leve sua mandíbula, para que seus dentes fizessem contato contra o membro do mais alto. Este sentia-se próximo do seu ápice, suas pernas já fraquejando, seu esforço para não largar todo seu peso contra o rosto do de cabelos vermelhos aumentando. Quando este começou a lacrimejar, seus olhos revirando até apenas a parte branca ser visível, Yunho finalmente passou da linha tênue em que estava, todo seu sêmen descendo direto pela garganta de Wooyoung, que nem mesmo expressou uma reação, apenas sorveu a substância avidamente.
– Feliz? – Indagou Yunho, retirando seu membro da boca de Wooyoung, o qual tinha os lábios vermelhos e lustrosos, perceptivelmente inchados.
– Hum – resmungou Wooyoung, olhos fixos no outro, e se levantou languidamente, empurrando o mais alto contra o sofá novamente, para ficar por cima dele. – Um pouco. Mas ainda não acabei. Relaxa Yuyu, eu faço o resto.
Wooyoung lentamente se ajoelhou no chão, ficando entre as pernas de Yunho, lhe abrindo até ver sua entrada, e então, sem aviso, se curvou até sua língua penetrá-lo, pegando o mais alto de surpresa, um tremor percorrendo todo seu corpo, seus olhos se fechando por tudo que sentiu. Suas costas se arquearam, não tocando mais a maciez do móvel, o prazer percorrendo seu corpo, alcançando seu membro, que começava a novamente enrijecer.
Wooyoung sentiu mãos apertarem seus fios vermelhos, o que o compeliu a ir mais fundo, explorando as paredes de Yunho, dedos acariciando a bunda do mais alto enquanto se banqueteava ali, o corpo do outro sendo objeto de seu desejo, seus olhos fitando Yunho como um gato que observa sadicamente um pequeno rato que se revira em suas mãos, contorcendo-se na linha tênue entre querer escapar e querer mais.
Quando o pau de Yunho finalmente estava ereto novamente, Wooyoung se levantou apoiando as mãos nas coxas do outro, seus próprios joelhos vermelhos de tanto rasparem no tapete áspero. Voltando ao colo de Yunho, se posicionou sobre seu membro, tendo arrepios apenas com o pensamento de ser penetrado assim, no seco, o membro extenso se afundando nele, até que somente se lembrasse de como gritar.
Como que em queda livre, sentou de uma vez, sua bunda encostando no colo de Yunho, o pau deste atingindo o âmago de Wooyoung, lhe arrancando o ar dos pulmões, impedindo-o de gritar ou mesmo gemer, sua visão se tornando turva, talvez por lágrimas ou por prazer, não saberia dizer. Quando finalmente se situou, voltando a sentir seus membros, pôde olhar para o rosto de Yunho, que parecia prestes a desmaiar, coberto de suor, olhos e boca entreabertos, olhando para o nada. Essa visão apenas aumentou o calor em seu ventre, e assim começou a rebolar deliberadamente, querendo ver quais sons conseguia extrair de Yunho.
O espaço antes silencioso se encheu de gemidos e gritos pornográficos e choques eróticos de suas peles encharcadas de fluídos corporais, uma mistura que fazia ambos ofegarem.
Quando Yunho atingiu seu limite, seus quadris se projetaram para frente, fazendo Wooyoung se inclinar para trás e revirar os olhos, as mãos buscando qualquer apoio, sentindo-se amolecer enquanto era preenchido pelo orgasmo do outro.
Por alguns segundos, tudo pareceu sumir, seus corpos não pesavam, as mentes só viam branco. A primeira coisa que voltaram a sentir foram suas peles, ligadas uma à outra, sensíveis, raspando-se. As pontas dos dedos acariciavam o que tocavam, movimentos circulares lentos enquanto voltavam a tomar consciência.
Wooyoung baixou a cabeça, seu peito subindo e descendo de leve, e então seu olhar voltou para o rosto de Yunho, onde algumas gotas de sangue brilhavam contra a luz, e junto delas, algumas lágrimas.
– Yun? Yun você tá bem? – O de mechas avermelhadas rapidamente aninhou seu rosto entre suas mãos, apertando de leve, chegando mais perto para focar em seus olhos brilhosos. – Aconteceu algo? Foi algo que eu fiz? Me desculpe…
– Não se preocupa Woo – Veio uma resposta entrecortada por fungadas, o rosto rapidamente coberto por seus próprios dedos, os líquidos misturados deixando-os escorregadios. – Não foi nada que você fez. É só que… hoje é um dia… importante pra mim.
– O que? Quer dizer que é o aniversário de alguém? É seu aniversário? Ou é aniversário de seus pais – Wooyoung arregalou os olhos, tentando entender.
– Não, não é isso… quer dizer, é quase isso – Yunho disse enquanto se recuperava, olhando nos olhos de Wooyoung enquanto fazia carinho nos cachos coloridos deste. – É só que… eu nunca contei isso pra ninguém…
– E com certeza eu não vou ser a primeira pessoa pra quem você vai contar – disse o outro, um sorriso compreensivo se espalhando por seu rosto. – Eu sou bem autoconsciente. Não tem problema Yun.
– Desculpa mesmo assim. Não queria estragar o clima. – Suas mãos desceram pelas bochechas e em seguida para as coxas do mais baixo. – Mas acho que já estraguei.
– Para de falar bobagem. Tem algo que eu possa fazer pra você se sentir melhor? – Perguntou, imitando os gestos de Yunho, massageando o corpo deste. – Tipo, não sei, já vi que sexo não adianta, então alguma coisa que você goste?
– Não… – Se perdendo novamente em pensamentos, Yunho deixou sua visão desfocar, ficando a deriva em sua própria mente. – Acho que eu só preciso de um banho… e comida… e sono. Sabe, necessidades básicas de um ser humano.
– Nossa – Wooyoung revirou os olhos, como se esperasse mais. – Vocês são tão básicos.
– Ah sim claro, pelo menos eu não roubo almas e gosto de sangue. – Riu, sentindo um tapa leve em seu ombro.
– Vai tomar no cu Yunho, você sabe que isso são lendas idiotas. Muito estereotipadas, se pedir minha opinião. – Riu enquanto se jogava em cima do mais alto, envolvendo-o com seus braços em um abraço aconchegante. – Sinto muito que se sinta assim. Eu realmente não sei como posso ajudar, mas saiba que eu estou aqui. Como sempre. Seu colega de quarto Demônio que te assombra e quer roubar sua alma.
Yunho riu disso, devolvendo o abraço, se permitindo esquecer todo o seu passado enquanto estava ali, se perdendo no calor do amigo, colega de quarto, e parceiro de cama. Não podia ignorar a dor em seu peito que trazia com ela diversas memórias, não podia se permitir esquecer porque esse dia era importante, mas também não podia negar que aquilo era cansativo. Doloroso.
– Porque a gente não toma um banho e assiste um filme então? – Perguntou Wooyoung de repente, se forçando com os dois braços para sair do sofá. – Vem, levanta.
Yunho apenas estendeu um braço, deixando-o mole, e Wooyoung agarrou seu pulso lhe puxando para fora das almofadas. Grunhiu com o esforço, e quando finalmente o mais alto saiu do sofá, enroscou os braços em seu abdômen, levando-lhe até o chuveiro, onde Yunho permitiu que o outro cuidasse dele, a água quente limpando toda a sujeira e sangue da noite. Os cortes espalhados pelo torso de Wooyoung já estavam se fechando, deixando para trás apenas marcas rosadas.
– Mas como foi sua caça hoje, hein? – Perguntou Wooyoung, arrancando Yunho de sua espiral de pensamentos. – Você está bem fodido.
– Obrigado. Isso aqui – apontou para o próprio pescoço, para os cortes que atravessavam a área – foi… não foi nada. Sabe, ossos do ofício.
– Eu acho que quando falam “ossos do ofício”, não é exatamente isso o que querem dizer, mas tudo bem.
– Eu vou sobreviver.
– Como se essa fosse minha preocupação – Wooyoung revirou os olhos.
– Tá, sei. – Yunho se aproximou, dando um tapa na bunda de Wooyoung – seu medo era não ter mais alguém que te fodesse né.
– Bingo – Wooyoung riu, enroscando os braços no pescoço de Yunho, quase dependurado ali – Eu só gosto de você por causa do seu pau incrível.
– Que surpresa – brincou o mais alto, prensando Wooyoung contra a parede, as mechas vermelhas deste grudando na umidade da parede. – O que mais?
– Talvez… eu goste da sua companhia. Mas só de vez em quando – em um pulo, envolveu o torso de Yunho com as pernas, e este lhe segurou suspenso. – E da sua comida.
Wooyoung deixou um selinho nos lábios de Yunho.
– Mais alguma confissão para alegrar o meu dia? – Yunho enterrou o nariz no pescoço de Wooyoung, lhe fazendo cócegas. – Ou já deu?
– Só isso… – respondeu o outro, rindo enquanto estapeava as costas de Yunho, tentando parar as cócegas. – Agora me solta ou esse banho não vai acabar nunca. E a conta de luz tá cara.
– Você que pediu – soltou o outro de uma só vez, ouvindo seus pés atingirem o chão. – Vira, deixa eu te lavar também.
Saíram do banho enrolados em apenas toalhas, indo para a cama de casal que dividiam, aconchegando-se antes de ligar a TV, onde assistiram uma série de suspense. Em poucos minutos, Yunho adormeceu, seus olhos pesando até se encontrar em um sono tranquilo e exausto.
Wooyoung cuidadosamente desligou a televisão, e passou um braço e uma perna por cima do mais alto, dormindo nessa mesma posição, se aconchegando no amigo.
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A dinâmica entre Wooyoung e Yunho era, de certa forma, irônica. Um Demônio e um Caçador de Demônios. A história por trás disso ainda surpreendia Yunho.
Um ano atrás, Yunho foi chamado por uma igreja para matar um Demônio que vinha causando problemas. E espantando os fiéis. Estava pronto para encontrar um ser maligno que estaria tentando possuir ou matar algum dos frequentadores ou padres do local. O que encontrou, ao invés disso, foi Wooyoung.
“Maligno” era uma palavra que estava bem longe de descrevê-lo. “Peste” lhe servia melhor. Tudo que ele fazia eram piadas bobas para seu próprio divertimento, mas todas eram inofensivas. Apagava velas, escondia bíblias, sujava roupas. Nada que parecesse, aos olhos de Yunho, digno da pena de morte à qual queriam sentenciá-lo. Então, o Caçador fez um pacto com o Demônio – nada como nos filmes, eles apenas conversaram e chegaram a um acordo, – no qual aceitava fingir matá-lo, e Wooyoung fingia morrer.
Foi fácil, visto que ambos pareciam nascidos para atuar. O Oscar não estava preparado para seu talento.
Yunho falou palavras aleatórias que vieram a sua mente, e Wooyoung gritou como se realmente estivesse morrendo. Por um momento, o mais alto realmente se questionou se estava matando o Demônio, os gritos agudos dele quase ensurdecendo todos que estavam no recinto. Yunho quebrou uma pedra que achou na rua, e mentiu que o Demônio havia sido morto. Os padres lhe agradeceram, e pareceram acreditar no espetáculo.
Nos fundos da igreja, Yunho se encontrou com Wooyoung para terminarem de conversar sobre seu acordo.
– Eles acreditaram – disse Yunho, cruzando os braços. – Porque você estava fazendo aquelas merdas? Na porra de uma igreja?
– E porque você quer saber? Não é da sua conta. – Respondeu Wooyoung rispidamente, se virando de costas para Yunho como uma criança que fazia birra. – E agora você já pode ir embora.
– Você é um ingrato do caralho né? – A raiva começava a crepitar pelo corpo dele, as mãos se fechando em punhos. – Só pode ser brincadeira. Eu minto por você, salvo a sua vida, e é assim que você me trata? Que porra tem de errado com você?
– E daí? Podia ter me matado. – Gritou de volta, virando-se, seus dentes à mostra. – Quer saber? Me mata agora. Vai, usa essa merda de voz pra algo útil.
Yunho se surpreendeu com a retórica, perplexo demais para responder algo. Mesmo depois de anos matando, sabia quando ouvir seu lado mais emotivo. Lado este que gritava para que deixasse o tal Demônio vivo.
Sabia reconhecer a dor nos olhos do outro, o leve tremor em sua boca, a sombra que atravessava seu rosto toda vez que seu olhar se encontrava com o de Yunho. Não podia tomar decisões das quais se arrependeria.
– Espera. Desculpa, eu não devia ter perguntado. E eu não vou te matar. – Declarou calmamente, erguendo as mãos como em rendição. – Gostaria de me contar seu nome? O meu é Jeong Yunho.
Estendeu a mão, na esperança de que o outro apertasse. Não aconteceu, e ele baixou seu braço, esperando por uma resposta verbal.
– Meu nome é Wooyoung. – Deixou as palavras penderem no ar, dando um tempo antes de continuar – eu só… quero ir embora. Posso, vossa senhoria?
– E você tem pra onde ir? Achei que sua casa era essa igreja. – Questionou, arqueando uma sobrancelha. – Olha, eu não sei porque você tá assim, mas eu só quero ajudar.
– Ah sim, você foi de Caçador de Demônios para caridade bem rápido. – Zombou, se afastando. – Mas não, eu não tenho pra onde ir. E é por isso que eu preciso ir embora. Tenho que achar um lugar… então com licença.
Yunho sabia que podia estar cometendo o maior erro de sua vida, talvez fosse se arrepender amargamente no futuro, e talvez estivesse deixando suas emoções falarem mais alto, mas apenas sabia que Wooyoung precisava de ajuda. E então fez a proposta que somente um louco faria.
– Você pode… morar comigo – disse rapidamente, antes que pudesse pensar uma segunda vez. – Quer dizer, o meu apartamento, ele… é grande, dá para duas pessoas. E eu… não me incomodaria… de… dividir com você.
– Bom, você é um idiota então. – Riu Wooyoung, quase gargalhando com a ideia. – E não me conhece. Se conhecesse, não iria dizer isso. Mas se me permite um conselho, eu diria pra você tirar essa ideia de merda da sua cabeça e me deixar seguir a minha merda de caminho.
Começou a se afastar pela segunda vez, pisando forte no gramado verde da igreja, quase correndo, parecendo assustado. Yunho sentia que devia segui-lo. E assim fez.
– O que…? – Wooyoung, olhou para trás, e ao ver que tinha companhia, acelerou o passo. – Para de me seguir!
– Eu não vou parar até você me explicar… alguma coisa. – Em troca, recebeu um dedo do meio. – Porra, para de ser infantil!
– E você para de ser um chato? Um intrometido? – Parou e abriu os braços em um gesto de indignação, olhando em volta. – Tá bom. Eu vou morar com você. Era isso que você queria ouvir?
– Era. Não desse jeito, mas era. – Ponderou Yunho. Piscou algumas vezes para pensar. – Então vem. Vamos pra minha casa.
Caminharam em silêncio, olhando um para o outro de soslaio vez ou outra. Analisando-se. Yunho só conseguia notar o cabelo de Wooyoung, se perguntando se o vermelho era natural. Não sabia se era possível, na verdade “Demônios” ainda eram uma área da qual sabiam muito pouco, mesmo ele que estudava esses seres. Talvez fosse possível.
– O que você tanto olha? – Finalmente questionou Wooyoung, lhe encarando.
– Seu cabelo é… vermelho naturalmente? – Deixou escapar, sem pensar muito no que falava. Ficou com medo da resposta. Mas, em troca, recebeu uma gargalhada. Uma gargalhada alegre e espontânea.
– Óbvio que não – riu daquilo como se Yunho tivesse sugerido que ele tinha duas cabeças. – Você acha que eu sou o que? Uma sereia?
– Não é que… é que…
– Desembucha logo.
– Você é um Demônio. Me pareceu… plausível perguntar. – Yunho disse como que se desculpando. Sentiu suas bochechas corarem. – Desculpa.
– Não precisa se desculpar por ser idiota. Acredite, muitas pessoas são, e passam a vida sem se desculpar por isso.
– Escuta aqui, eu te dou um lugar pra ficar e você me ofende assim? Eu acho que vou te deixar morando na rua. – Disse, de brincadeira.
– Ah não, agora já é tarde. Vou morar com você até morrer. Tá fodido.
– É assim que os Demônios trabalham?
– Não. Mas é assim que eu vivo.
E assim Wooyoung se tornou seu colega de quarto. Um Demônio, a quem ele deveria matar, agora dividia o mesmo teto que ele.
Demorou um tempo para que ele se abrisse com Yunho, muitas bebidas e noites em claro ganhando sua confiança. Wooyoung falava pelos cotovelos, mas nunca revelava nada sobre o seu passado. Falava tanto a ponto de Yunho às vezes ter dor de cabeça. Mas mesmo assim, este deixava que o de mechas vermelhas falasse, pois ele era divertido e deixava seus dias mais leves. Foi numa noite insone que Wooyoung deixou escapar como havia chegado àquela igreja.
– Woo, você já pensou em trabalhar? Ou sempre viveu de… seja lá o que os Demônios vivam. – Perguntou Yunho, curioso, e também querendo saber se podia pedir alguma ajuda com o aluguel. Estavam jantando quando esse pensamento lhe ocorreu, três meses depois do ocorrido na igreja.
– Eu já pensei mas… sei lá. Eu não tenho muitas habilidades… em área alguma. – Respondeu, e Yunho rapidamente percebeu-o ficar cabisbaixo. – Mas, se você tiver alguma sugestão, eu ficaria feliz em ouvir.
– Você está escondendo algo Woo. Na verdade, você nunca respondeu o que eu te perguntei no dia que nos conhecemos.
– O que você me perguntou? – Encarava Yunho, curioso.
– Como você foi parar na porra de uma igreja. – Repetiu as mesmas palavras daquele dia,
– É uma história… complicada. – Voltou os olhos para o próprio prato, remexendo a comida ali contida. A fome lhe escapara. – E longa. E entediante.
– Eu tenho tempo, sabia? – Ofereceu Yunho, prontamente afastando seu prato, e voltando todo seu foco para o colega de quarto. – Me conta. Sou todo ouvidos.
– Tá, se você insiste. – Apoiou os cotovelos na mesa, deitando a cabeça em uma mão, perdido em lembranças. – Quando eu cheguei na Terra, alguns anos atrás, conheci um grupo de Demônios. Eles me ajudaram a me adaptar, me contaram o que eu precisava saber, foram tipo… uma família pra mim, se é que você pode chamar assim. E eu tava muito bem. A gente dividia uma casinha na parte mais afastada da cidade. Aos poucos eu descobri mais sobre eles. Descobri que estavam na Terra há muito mais tempo do que eu. Todos eram veteranos, por assim dizer. – Ficou em silêncio, parecendo reviver tudo.
Se levantou, seu rosto inexpressivo, as mãos tremendo de leve, quase imperceptível. Yunho espelhou seus movimentos, lhe seguindo até o banheiro. Wooyoung se aproximou do vaso, abriu, e então, sem uma palavra ou som, caiu de joelhos, vomitando todo o jantar.
Yunho se assustou, e sem pensar, se abaixou ao seu lado, massageando as costas de Wooyoung, afastando sua franja avermelhada de seu rosto.
– Tudo bem Woo. Shh. Eu tô aqui – tentava sussurrar palavras reconfortantes, sentindo-se perdido e envergonhado. Ouviu a respiração sôfrega do outro, e voltou a fazer movimentos circulares em suas costas. – Você não precisa contar, tá? Não tem problema.
Wooyoung começou a chorar copiosamente, lágrimas grossas escorrendo até pingarem no chão.
– Eu preciso de uma bebida – Falou repentinamente.
– Woo, a última coisa que você precisa é de uma bebida.
– Mas eu preciso. Eu quero te contar – disse num tom levemente exaltado. – Eu quero te contar, mas eu preciso estar bêbado. Eu acho.
– Não, você não precisa. Você precisa se acalmar, parar de pensar nisso, e quem sabe tomar uma água.
Wooyoung esfregou o rosto, deixando sua pele irritada, adquirindo um tom vermelho. Espalhou as lágrimas por toda a face, deixando-a brilhosa e umedecida. Espalmou as mãos no chão, tentando sentir algo, se lembrar de onde estava. Se escorou contra o vidro do chuveiro, a cabeça descansando ali.
Yunho se moveu até estar ao seu lado, e gentilmente ofereceu seu ombro para o outro, que não ofereceu resistência, escorando-se.
– Eu não… eu nunca me perguntei como eles me acharam. – Continuou fracamente. – Achei que tinha sido sorte minha. Destino, como diriam algumas pessoas. Eu era muito… inocente. Eu vim pra cá porque… queria alguém. Queria companhia. Eu… eu queria… – seu choro voltou, agora sem forças nem mesmo para soluçar.
– Shh, pode ir com calma. – Encorajou Yunho.
– T-tá. Depois de alguns meses, eu tinha caído numa rotina. Ajudar com tarefas domésticas, esperar eles voltarem do que quer que faziam a tarde toda. Às vezes cozinhava também. Às vezes adormecia antes deles voltarem. E foi num desses dias que… aconteceu. – Pausou. Fungou algumas vezes. – Eu estava dormindo na minha cama. Tinha feito o jantar e cansei de esperar por eles. Eu… eu não sei o que aconteceu. Eu acordei com dor. Eu acordei com muita dor.
Sua voz falhou, e Yunho permitiu que o silêncio se prolongasse. Não queria apressá-lo em algo que claramente ainda lhe afetava. Passou um braço pelos ombros, apertando de leve.
– Eu só conseguia ver a escuridão e… e o chão. Eles me cortaram. Muitas e muitas e muitas vezes. Eu achei que… que eu ia morrer. Mas de alguma forma eu consegui escapar. Até hoje não sei como. – Respirou fundo, tentando empurrar o choro garganta abaixo. – E depois de fugir eu… não tinha pra onde ir e eu… encontrei aquela igreja. E adivinha o que foi a primeira coisa que tentaram fazer comigo?
– Te acolheram? – Tentou, sabendo que provavelmente estava errado.
– Tentaram me exorcizar. – Revirou os olhos. – Mas eu fiz a mesma coisa que nós fizemos: fingi ser exorcizado, só para poder me esconder no sótão da igreja e ter um cafofo. E… bom, não resisti a tentação de incomodar eles um pouquinho.
– Entendo – afirmou Yunho enquanto acompanhava a risada do outro. – Woo… – seu tom adquiriu certa sobriedade. – Me desculpe por perguntar… eu não queria fazer você se sentir tão mal, revivendo essas merdas do passado. E bem… eu sei que eu insisti, mas você não precisa me contar o que não quiser.
– Tudo bem… eu acho que precisava colocar isso pra fora. Eu queria te contar há um tempo, mas tinha medo… disso acontecer – gesticulou indicando a situação toda em que se encontravam.
– Entendi. – Yunho apenas se calou, encarando o topo da cabeça de Wooyoung. – E… que história foi aquela de não ser bom em nada? Eu tenho certeza que você é bom em algo. Apostaria um dedo nisso.
– Qual dedo você prefere perder? – Perguntou Wooyoung, sério. – Nada demais, só uma… impressão que ficou dessa época, eu acho. Outra história longa.
Continuaram sentados ali por um bom tempo, dividindo histórias mais leves e doces, sobre suas vidas e aventuras. Pela primeira vez, Wooyoung deixou que Yunho falasse a maior parte do tempo, ouvindo admirado tudo que ele havia passado, seu interesse apenas crescendo com cada novo conto.
Depois dessa noite, ambos pareceram estreitar laços, e o que começou como apenas um apartamento compartilhado se tornou uma amizade cheia de confidências. Não sabiam que podiam se tornar tão próximos tão rapidamente, mas assim foi.
O sexo veio de forma inesperada. Nenhum dos dois planejou nada. Foi, na verdade, um acidente, se uma coisa dessas podia ser chamada assim.
Yunho voltava de serviço, e precisava urgentemente de um banho, ou com certeza passaria mal pelo cheiro forte do sangue que impregnava em sua pele.
Quando chegou ao banheiro, não passou pela sua cabeça bater, e a porta estava destrancada quando girou a maçaneta. Bom, dali para frente, percebeu que teria de ensinar a Wooyoung algumas lições básicas, como trancar a porcaria porta.
Mas o estrago já estava feito. Yunho abriu a porta para encontrar um Wooyoung completamente nu, prestes a entrar no chuveiro que derramava água quente. Ele paralisou, porém mesmo assim demorou um tempo para ser notado, visto que o outro estava de costas. Quando finalmente aconteceu, Wooyoung deixou escapar um grito agudo, quase pulando de susto.
– Porra Yunho, custava bater antes de entrar?
– Talvez, custava trancar a porta? – Estava quase gritando, mesmo não sendo sua intenção inicial.
– Sei lá, eu não esperava que você fosse abrir – Wooyoung disse, dando de ombros, e viu Yunho apertar a ponte do nariz, respirando fundo para não ter um surto histérico ali mesmo. Finalmente, o de cabelos vermelhos se permitiu analisar o resto de Yunho. – Puta que pariu Yun, o que aconteceu com você?
– Ah sei lá eu cai numa plantação de morango. – Debochou. – Eu tava num serviço seu idiota. E eu estava com pressa para me lavar. Sabe, não é a coisa mais confortável do mundo sentir sua pele grudar com um sangue que não é seu.
– Entendi. – Disse Wooyoung, ponderando as possibilidades. – Porque a gente não… toma banho juntos?
– Ah tenha dó Woo, essa situação já tá vergonhosa demais. – Reclamou Yunho, pronto para fechar a porta e esperar em pé que o amigo terminasse. – Tchau.
– Não, espera – Wooyoung lhe agarrou pelo pulso, impedindo que fosse embora. – Vem Yun, vai ser legal. Eu não quero que você fique nesse estado só porque eu decidi tomar banho tarde. Pode entrar, eu não vou te morder.
– Não sei Woo… – este lhe encarou com olhos lustrosos, uma careta se formando em seu rosto, implorando a Yunho. – Tá. Mas por favor não faça nada estranho.
– Prometo em nome dos 7 Grandes.
– Uma promessa de dedinho já estava bom, seu diabinho dramático. – Revirou os olhos.
Wooyoung manteve sua promessa de não morder, mas não havia dito nada sobre lamber. Na metade da ducha, uma mão boba percorreu os músculos de Yunho, e ele se deixou levar pelas sensações. Fazia tempos que não fazia isso, e apenas aqueles gestos serviram para que não impedisse Wooyoung.
A maioria do sangue foi lambida de sua pele, o prazer lhe causando arrepios, suas pernas ameaçando fraquejarem. Quando Wooyoung finalmente ficou de joelhos, Yunho já viajava perdido em sensações, a cabeça girando, não pensando em nada racional.
Depois disso, foi só ladeira abaixo. Ou pra cima, dependendo do ponto de vista. Esporadicamente, a dupla transava. Não tinham um relacionamento, não saberiam como começar um. Wooyoung apenas gostava de sexo, e Yunho já tinha muitas coisas com as quais se preocupar. Então, caíram em uma situação confortável para ambos, um acordo silencioso estabelecido entre eles.
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Yunho acordou com um peso em seu peito, e por um minuto de desespero achou que estava morrendo. Até perceber que o “peso” era na verdade Wooyoung, que havia adormecido sobre ele.
Aproveitou esse momento de descanso para analisar o rosto de Wooyoung, como se fosse algo muito interessante. E era. O fato de que tinha que se lembrar diariamente que seu colega era um Demônio, ativamente tentando encaixar o que nele lembrava esses seres. Na maior parte das vezes, não encontrava nada que indicasse. O rosto do outro era incrivelmente normal.
Desde seus olhos levemente caídos, que assumiam demais uma posição de julgamento, se apertando até quase fecharem, até sua boca carnuda que era feita para rir, e seu nariz protuberante e belo, que dava ao seu rosto o ar de uma pintura que custaria milhões em um museu. Os cabelos, vermelhos como fogo, destoavam da normalidade, mas ainda assim podiam ser explicados com descolorante e tinta barata comprada na farmácia da esquina. Embaixo do olho, Wooyoung possuía uma beleza que era como uma marca registrada sua.
Com uma das mãos, Yunho gentilmente acariciou suas mechas, cuidando para não acordá-lo. No começo de sua parceria como colegas de quarto, Wooyoung era um incômodo em sua vida. Yunho se esforçava, e mesmo assim perdia a paciência recorrentemente. O Demônio desobedecia os limites impostos, adorava arranjar brigas fúteis, e uma vez chegou a realmente cortar Yunho e ameaçar beber todo seu sangue como um vampiro dos filmes antigos. Não que ele pudesse fazer isso. Depois disso, passaram uma semana sem dirigir o olhar um para o outro. Yunho chegara ao seu limite.
Com medo de ser assassinado enquanto dormia, todas as noites Yunho trancava a porta do quarto de Wooyoung. E toda noite, dormia ao som de batidas incessantes na madeira. E na quarta noite, a situação ficou insustentável, e Yunho decidiu tomar medidas drásticas. Convidar Wooyoung para dormir no mesmo quarto, e na mesma cama, que ele. Não sabia ao certo com qual objetivo fizera isso, mas era o que funcionava com crianças, então era uma opção.
Arrastou um Wooyoung irritado e mal-humorado para seu quarto, trancou a porta, e escondeu a chave. Das duas, uma: ou eles se matariam, ou sairiam amigos. Yunho estava pronto para ambos os resultados. A realidade foi… dividida.
Wooyoung exigiu que Yunho abrisse a porta. Este se negou veementemente. Wooyoung lhe agarrou pelos cabelos. Os dois caíram no chão, rolando, agarrados um ao outro, os dedos puxando e beliscando cada parte que conseguiam. Até Wooyoung acertar um soco forte demais na têmpora de Yunho, fazendo-o desmaiar. E aí ele começou a gritar de forma histérica e desesperada.
– Yunho! Yunho! Acorda pelo amor de Satanás – Wooyoung praticamente berrava em seu ouvido, e ele apenas ouvia elas como uma sirene distante que chega já fraca – Yunho eu não queria que você morresse, eu juro, eu só queria sair daqui!
O mais alto continuou desacordado no chão, e, mesmo quando recobrou a consciência, demorou mais que o necessário para abrir os olhos, apenas para ter o prazer de ouvir Wooyoung implorar que não morresse.
– Yunho! – Berrou o de cabelos vermelhos quando o outro abriu os olhos, o assombro substituído por alívio. – Desculpa mesmo. Eu juro que não queria matar você.
– Eu sei Woo… posso te chamar assim?
– Claro, claro.
– Eu sei. A gente se deixou levar… e me desculpa por esse método antiquado.
– Que método?
– Trancar duas crianças brigadas no mesmo quarto e obrigá-las a fazerem as pazes. – Riu do quão bobo isso soava. – Mas você também é culpado. Eu não sabia mais o que fazer para você me ouvir.
– Tá, desculpas aceitas. Eu sei que não fui o mais… cooperativo também. – Se levantou de uma vez, oferecendo a mão para Yunho, que aceitou, se levantando. – Mas eu… eu não gostei de você.
O clima ficou pesado depois dessa confissão. “Estou oficialmente fodido” pensou Yunho consigo mesmo, um senso de derrota se instalando em seu peito, a respiração desregulando.
– Porque? O que eu fiz? Eu te salvei caralho! – O mais alto tentava justificar, procurando alguma lógica na fala do Demônio. – E agora você tem a cara de pau de dizer que não gosta de mim? Porra, falasse antes, que eu não colocaria tanta expectativa em você.
Yunho andava em círculos, puxando os cabelos, arrancando alguns fiapos no processo. Queria gritar, bater mais um pouco em Wooyoung, sair batendo os pés pelo corredor. Seu estômago embrulhava pelo prognóstico que lhe vinha à mente.
– Não, não é isso. – Tentou explicar Wooyoung. – Aí, tá bom. Desculpa, talvez eu tenha sido um pouco infantil e… e precipitado. Eu juro que tentei não te julgar. Mas eu só… não fui com a sua cara, sabe?
– E aí por isso, decidiu transformar minha vida num inferno? Por causa da porra de um sentimento? Quer saber, Wooyoung? Vai tomar no cu. E saí da minha casa.
– Espera, Yun… eu pedi desculpas, eu sei que eu errei. – Pedia, à beira das lágrimas.
– E eu já disse pra você sair da minha casa. Não ouviu? – Yunho bateu a porta, deixando um Wooyoung arrependido e culpado para trás.
Yunho passou o restante daquele dia fora, fazendo qualquer coisa para não precisar encarar Wooyoung. Estava à beira de um abismo de perdição, onde sentia-se usado e revoltado. Revoltado por ter acreditado que podia “ajudar” aquele Demônio. Era um tolo, como sempre. Como fora anos atrás. Não havia nem ao menos melhorado.
Quando não conseguiu postergar mais o inevitável, teve de retornar ao seu apartamento, e imaginou muitos cenários possíveis. A casa destruída como vingança. Vazia. Com uma legião de Demônios ocupando-a.
Foi completamente diferente. A primeira surpresa boa que tivera em muito tempo. Sua casa estava arrumada. Um aroma delicioso e envolto por calor atingiu-o.
– Wooyoung? – Chamou, mesmo sabendo logicamente que não havia motivos para isso. – Wooyoung você está aí?
– Ah, oi Yun – gritou seu colega da cozinha, sua voz sendo carregada em um eco pelo espaço do apartamento. – Eu fiz jantar. Espero que você goste do que eu fiz.
– Obri-obrigado Woo, n-não precisava – gaguejou Yunho, se desfazendo de seus sapatos, indo até o lugar onde Wooyoung estava. – Porque tudo isso? Você também limpou a casa toda.
O outro lhe encarava com um olhar fundo, a boca pressionada em uma linha fina, parecendo ponderar como deveria falar com Yunho.
– Eu… queria pedir desculpas. E eu sei, eu sei – falou rapidamente, antes de ser interrompido. – Você disse que não aceitava minhas desculpas, que já estava decidido. Mas… eu percebi, nessa tarde que passei sozinho, que você realmente tem boas intenções. Mas, você precisa entender… da última vez que tentaram me ajudar, não acabou muito bem… e eu tinha medo que tudo fosse se repetir. Eu não queria ser… ser descartado de novo…
Finalmente sua torrente de palavras foi interrompida por Yunho, mas em forma de um abraço, que fez todo o ar deixar seus pulmões, a surpresa lhe deixou estático, incapaz de reagir.
Permaneceram assim até a comida começar a queimar, e correram para desligar o fogo e jogar as panelas na água. Mas Wooyoung parecia melhor, um peso sendo retirado de suas costas.
– Desculpa por isso também… eu estraguei o jantar e algumas panelas… – Riu acanhado, suas mãos entrelaçadas.
– Não precisa se desculpar. Acontece – garantiu Yunho. – E sobre… tudo isso… eu te entendo. Eu sei como o passado pode afetar a nossa vida. Eu não vou mentir, fiquei muito irritado, mas… essa explicação me ajudou a entender um pouco melhor. Obrigado por conversar comigo. E obrigado… pelo jantar. O que conta é a intenção.
Ambos riram, e pediram um delivery para dar uma pausa na cozinha.
Ao lembrar desses primeiros dias, Yunho foi atingido por uma onda de carinho pelo jovem que dormia tranquilamente em seu peito. Ele era doce, apesar de muitas vezes não saber o limite de brincadeiras. Mas estava disposto a aprender. E amava Yunho. Muito.
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Yunho saiu antes que Wooyoung acordasse. Não porque não queria conversar, mas porque tinha mais uma coisa para fazer. A última etapa de seu trabalho. A mais calma, por assim dizer.
Pegou um táxi, pois a casa da pessoa que precisava visitar era longe da sua, em outro bairro – um mais rico – e não estava com ânimo para caminhar.
O carro parou em frente à uma casa extensa e luxuosa, branca com decorações em dourado, a porta mais alta que o próprio Yunho. Das primeiras vezes que visitara o local, não havia conseguido esconder o choque em seu rosto. Agora, já estava acostumado.
Tocou a campainha, e ouviu passos descalços percorrerem o corredor para abrir a porta. Do outro lado dessa, apareceu o ser mais lindo que ele se lembrava de conhecer, e era inegável que muitos matariam por ele, bastava um estalar de dedos do mesmo.
– Yun, que bom te ver! – Enunciou Yeosang, animadamente, feliz em vê-lo. – Por favor, entre.
E assim fez, passando do batente e curvando a cabeça em um rápido cumprimento, murmurando um “com licença”, e esperando pelo próximo comando. De olhos baixos, pôde ver que Yeosang estava enrolado em um belo roupão, branco como a neve, lembrando muito a pelagem de um animal selvagem. Seus pés, como imaginou, estavam descalços contra o chão gélido. Não parecia, no entanto, se incomodar com isso.
– Então – começou Yeosang, afastando a franja loira que cobria seus olhos. – Aceita algo para beber? Chá? Café?
– Não, obrigada Yeo. – Disse o mais alto, balançando a cabeça. Só queria acabar logo com aquilo e voltar para casa. – Eu preciso voltar para casa, você sabe. Meu colega de quarto está me esperando.
Era mentira.
– Claro, compreendo. Então vamos direto aos negócios – seu sorriso não atingia os olhos.
– Mas nem por isso precisamos nos apressar tanto. – Voltou atrás. – Primeiramente, como vai minha beldade preferida?
Ao ouvir isso, o loiro riu, seus dentes à mostra em um sorriso estonteante. Ele era lindo, não se podia negar. Indicou um sofá para Yunho, e se sentou ao seu lado, o roupão escorregando aberto quase que planejadamente, suas fartas coxas lustrosas se expondo, próximo demais para um móvel que facilmente caberiam seis pessoas. Uma mão foi direto para o ombro de Yunho, que agora era alvo de toda sua atenção. Seus olhos castanhos deixavam a mente do mais alto amortecida, tão penetrantes que eram, parecendo sempre saber de algo, desejando.
– Vou bem. Melhor agora, na verdade – sua voz escorria uma doçura da qual seu interior carecia, os lábios rosados próximos ao ouvido de Yunho, que sentia a respiração do outro. – E você? Anda muito ocupado em suas atividades noturnas?
– Como sempre – respondeu Yunho, sentindo os dedos do outro acariciarem de leve sua nuca. – Mas eu dou conta.
– Eu sei que dá – sorriu Yeosang, seu olhar refletindo o de Yunho. – Tem certeza que não quer nada? Talvez… um descanso cairia bem, não é?
Isso era algo com que Yunho tentava lidar de forma imparcial. Yeosang, um Anjo, e seu informante e fornecedor de magias, estava a fim dele. Desde que se conheceram, há alguns anos atrás, vinha tentando dormir com o Caçador. Já tentara seduzir Yunho de todas as formas possíveis, desde esperá-lo completamente nu, exibindo suas belas curvas, até quase explicitamente implorar para que Yunho lhe fodesse. Nada dava certo. O mais alto sempre recusava todas as tentativas. Não sabia muito sobre Yeosang, mas não tinha interesse em se envolver dessa forma com ele.
A história do loiro era muito interessante, visto que era um ser sobrenatural presumivelmente “bom”.
Ninguém sabia dizer quando Yeosang chegou a Terra, apenas sabem dizer quando seu estrelato começou. Sua beleza sempre foi reconhecida e cobiçada por todos. E ele, astuto que era, não demorou a tirar proveito disso.
Se tornou modelo, rapidamente subindo na hierarquia do mundo da moda, desbancando diversos modelos famosos de seu ranking. Seu rosto angelical estampava dezenas de capas de revista. A soma que recebia todo mês era, no mínimo, alta.
Mas não parou por aí. Ele também se aproveitou de suas habilidades de Anjo, se tornando para muitos Caçadores o que era para o próprio Yunho. Descobria informações importantes, e as vendia. Encantava armas, e cobrava. E assim sua ascensão para uma vida luxuosa não demorou muito.
Seus gostos ficavam claros em seu estilo de vida. Gostava de ser bajulado, adorado, e, mesmo que ninguém percebesse até ser tarde, não tinha problemas em manipular as pessoas. Yunho sabia de muitos desses casos, e diria com facilidade que temia mais Yeosang do que Wooyoung. Eles poderiam trocar de papeis, se sua raça dependesse do estereótipo pressuposto por toda a humanidade.
Este Anjo gostava de estar no controle, de ter várias pessoas na palma da sua mão, de estalar os dedos e ter suas vontades atendidas, de ter o melhor que a vida pode oferecer. E não se envergonhava disso. Tinha tudo que queria. Menos uma coisa. Ou melhor pessoa.
Essa exceção era Yunho. A quem claramente tentava seduzir neste exato momento. E Yunho, que sabia que o melhor para si era cair nas graças do loiro, apenas seguia um enredo já escrito.
– Adoraria, ainda mais se fosse em sua companhia, mas como disse, infelizmente preciso ir. – Yunho fingiu estar decepcionado com seu futuro. – Mas eu prometo que passo aqui outro dia para… tomar um café com você, o que acha?
– Promete? – Questionou Yeosang, puxando os cabelos de Yunho com uma força que excedia o carinho, seus olhos se estreitando. Quase sentava em seu colo, tão perto que estava. Yunho rapidamente ergueu a mão como que em juramento.
– Prometo.
– Então está bem. – Aceitou Yeosang. – Bom, geralmente eu peço por metade do pagamento, mas… você já é de casa. Aceito um quarto do dinheiro.
– Tem certeza? Eu posso pagar a metade…
– Tenho sim. Ver você já é uma benção, se é que eu acredito nelas. – Sorriu de novo, bobo. – Precisa de mais algo?
– Não eu… – Yunho engasgou com a própria saliva quando seu olhar recaiu sobre o colo de Yeosang, e percebeu que uma pontinha de renda vermelha aparecia em sua cintura. Uma calcinha. Pequena. Tinha certeza que aquela era a menor calcinha que já vira em sua vida. Yeosang fingiu pudor, cruzando de leve as pernas, o que não mudou muito, visto que o Anjo apenas lhe deu uma vista melhor nessa nova posição. – Eu já vou indo. Obrigado por tudo, e pela hospitalidade.
– Não há de que. O prazer é todo meu – disse em um tom rouco, depositando um selinho em cada bochecha de Yunho, e acompanhando-o até a porta, acenando enquanto o mais alto caminhava para longe.
Decidiu que dessa vez caminharia, para limpar a mente, o ar fresco lhe ajudando a respirar mais aliviado, sabendo que agora sim, sua missão estava completa, e tudo inteiramente por sua causa. Poderia descansar, tranquilo e vivo, mais uma semana.