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Headlights

Summary:

Seungmin é o novo chaebol de Seul, mas com uma condição: ele precisa se casar para herdar o que seu pai deixou.
Do outro lado da cidade, Changbin sofre com um stalker. Ele só quer mudar de vida urgentemente.

Os dois se reencontram depois de anos, e talvez seus problemas possam ser resolvidos juntos... Né?

Notes:

OI GENTE TUDO BOM!!!
Essa SeungBin tava me pertubando há um tempo porque eu tava DOIDA pra fazer algo mais "Modern Settings" com esses dois, eu amo muito meus queridos (arrisco dizer que virei Seungmina!!!).
Espero que gostem!!

Título da fic inspirada em "Headlights", por PVRIS.

Obs: Tags a serem adicionadas com o passar da história!
Obs 2: Quando eu terminar essa bendita, eu vou reescrever o resumo porque como diria Seo Changbin: "minha bunda também é grande".

(See the end of the work for more notes.)

Chapter 1: I wish I could feel right

Notes:

Título do capítulo inspirado na letra de "HEADLIGHTS", por PVRIS.

Chapter Text

– E que o nosso querido irmão Kim Hyungsoo descanse em paz, aos pés do Pai, do Filho e do Espírito Santo…

– Amém. – Disse o coro de pessoas ao redor do caixão, menos o jovem de cabelos escuros, as madeixas igual ao seu par de óculos, que escondiam os olhos secos, nenhuma lágrima a descer.

O jovem alfa se sentia dormente olhando para o buraco na terra, a caixa de madeira maciça adornada ao final dele. Ele não sentia tristeza pela perda do pai, porque o homem foi o responsável por todos os problemas da sua vida, mas ao mesmo tempo não conseguia se sentir feliz pela morte dele, porque sentia que o seu futuro talvez fosse até pior do que ele já tinha passado.

 

Único herdeiro de um dos maiores conglomerados de empresas da Coreia do Sul, o Chaebol Kang-a-Ji, Kim Seungmin saía do enterro do seu pai em meio a uma chuva forte, escondido por vários seguranças, enquanto segurava um guarda-chuva pesado pelas gotas grossas que caíam sem pena. Várias pessoas tentavam interromper seus passos para falar com o jovem enquanto ele caminhava pelo estacionamento do cemitério: amigos do falecido, repórteres, alguns bajuladores, e até parentes que ele nunca sequer vira na vida; mas ele não tinha cabeça para aquilo naquele momento. Ele só queria ir para casa, tomar um banho quente e talvez beber o velho whisky que guardara para celebrar a perda do homem que tanto odiava.

 

Ao entrar na limusine escura, o jovem se viu acompanhado: Han Joon, o advogado de seu pai, já o aguardava no banco de trás.

– Precisamos conversar. – Disse o homem beta mais velho, recebendo um cumprimento curto do jovem alfa, que se sentou sem muita cerimônia no banco. O homem à sua frente viu Seungmin crescer em meio às dezenas de prédios e escritórios que Kim Hyungsoo havia criado do zero desde que se formara como engenheiro, que formavam o conglomerado Kang-a-Ji, um dos maiores da capital sul-coreana, e Han Joon sabia que o jovem alfa à sua frente o considerava como um tio, apesar de distante, tal como o pai.

– Logo agora, sr. Han? – Disse Seungmin, jogando o guarda-chuva encharcado aos seus pés, sem se importar. Retirou os óculos escuros, encarando os olhos do senhor à sua frente. – Eu só quero que o dia de hoje acabe.

– Sim, agora. – Han Joon abriu a maleta que carregava e o carro deu partida, a chuva castigando as janelas. – Você sabe que o mercado não espera por nada, principalmente no meio da semana como hoje, e você precisa assumir o CKANG até semana que vem.

Seungmin suspirou. A maldita dor de cabeça, conhecida de muito tempo, começou a aparecer, e o jovem só podia torcer que não tivesse trânsito até seu apartamento no centro da cidade. 

– Me dá logo o que eu tiver que assinar e eu já peço para o motorista deixar você no escritório. – Seungmin colocou a mão por dentro do paletó escuro e puxou sua caneta, já imaginando os blocos de papéis que teria que assinar enquanto o carro se movimentava, que só iria dar enjoo e piorar a cefaleia.

O advogado olhou o jovem por cima dos óculos finos e cerrou os lábios.

– Não é tão simples assim, Minnie. – O senhor puxou um pequeno caderno de folhas brancas plastificadas e entregou para o jovem à sua frente, que virou a cabeça, confuso. Ele usara o apelido de infância de Seungmin para dar um mínimo de conforto à conversa. – Existe uma condição para que você assuma sua nova posição.

Seungmin recebeu o caderno nas mãos e abriu na primeira página. Havia ali o que parecia uma ficha descritiva, com a foto de uma moça muito bonita, da cabeça aos pés, e informações como nome, peso, cor dos olhos, nome dos pais e até a lista de seus fetiches. Seungmin piscou rapidamente, sem entender o que via. O senhor Han suspirou e virou a folha de volta, mostrando a capa. Ali dizia “Casa das Flores Escuras, Serviço de Casamentos VIP: Catálogo de Ômegas Nível S”.

– Você precisa de uma ômega ao seu lado antes de virar o chefe do Kang-a-ji, Seungmin. Precisamos de um casamento.

 


 

– Changbin, você já pode sair. Ele foi embora. – Hyunjin disse do lado de fora da cabine do banheiro.

– Tem certeza? Ele pode ter só se escondido entre outras mesas… – A voz do jovem ômega saiu sussurrada de dentro do cubículo, em um tom assustado.

– Sim, Chan-hyung chamou a gerência e mostrou o histórico dele. Os seguranças tiraram o idiota. – Jeongin disse, se apoiando no amigo mais velho do lado de fora. – Ele não volta mais, pode confiar.

Changbin sentiu seu corpo vibrar de nervoso, sentado na tampa do vaso sanitário e com a cabeça abaixada, entre as mãos suadas. “ Mais um dia dessa merda ”, pensou ele.

 

Já havia algumas semanas que o jovem ômega estava sendo perseguido por um stalker, que o conhecera por um aplicativo que juntava pessoas que procuravam um parceiro para cios. Changbin nunca fora uma pessoa com muita auto-estima, muito por causa do bullying sofrido na infância, e, por essa razão, ele não se sentia confiante em ter uma relação romântica, e se apoiava em apps e chats de desconhecidos que passavam os cios juntos sem precisar de muita informação. Era apenas pela relação que o período necessitava, meramente carnal e isso já bastava para ele.

Mas foi no último cio que tudo mudou. O último jovem que Changbin deu match para passar seu cio junto, um jovem alfa um pouco mais velho, descobriu mais informações de Changbin e começou a persegui-lo por onde ele ia: na academia, no café em frente do trabalho, na padaria perto do seu apartamento, e em lugares onde ele ia com os amigos, como no bar que eles estavam naquele momento, comemorando a promoção do amigo Hyunjin. Tudo isso porque ele alegava ter se apaixonado pelo jovem ômega, e que Changbin devia isso a ele, pelo tempo que passaram juntos.

Changbin denunciou o homem à polícia, mas recebeu a resposta de que, enquanto não houvesse nenhuma “ameaça à integridade física”, eles não poderiam fazer nada. Changbin se sentiu frustrado, mas recebeu muito apoio dos amigos, que mudaram suas rotinas para proteger o amigo, sendo eles o seu companheiro de apartamento, outro ômega chamado Chan, e seus amigos de trabalho, Hyunjin e Jeongin.

 

Os amigos escutaram um fungado, vindo de dentro da cabine, e a tranca se abriu, revelando um Changbin com o rosto molhado de algumas lágrimas que o jovem já não se envergonhava mais de mostrar aos amigos. Chan, o mais velho do grupo, que tinha acabado de entrar no banheiro, atravessou o recinto em passos largos e envolveu o corpo do mais novo em um abraço, deixando que o mais novo enxugasse as lágrimas na blusa escura que vestia.

– Se eu pudesse, eu descia o sarrafo nesse filho da puta… – Chan disse, arrancando uma pequena gargalhada do mais novo.

– Você não faz mal nem a uma mosca, Chan-hyung. – Changbin se soltou do abraço do mais velho e encarou os outros ao seu redor, com um pequeno sorriso triste nos lábios. – Obrigado, pessoal. Vamos voltar para a mesa, vocês devem estar com fome.

– Tem certeza, Binnie? A gente pode pedir para embalar a comida e a gente comemora assistindo um filme lá em casa. Aposto que o Sungie não vai se importar.

– Ta tudo bem, gente… Eu preciso voltar a confiar nos lugares que a gente gosta. – Changbin sorriu, dando uma última fungada, limpando as últimas lágrimas dos olhos. – E a gente tem que comemorar que o Hyun foi promovido! Não vamos deixar esse escroto estragar nossa noite, por favor.

Jeongin abraçou o mais velho de lado e ofereceu seu sorriso mais ladino.

– Então pode deixar que eu pago a próxima rodada de drinks! – Os amigos mais velhos celebraram e saíram todos do banheiro sorrindo, Changbin com o coração um pouco mais leve com o apoio dos amigos.

 


 

– Sr. Han, com todo o respeito… Mas eu prefiro acompanhar meu pai dentro do caixão do que escolher qualquer pessoa de dentro desse caderno. – Seungmin disse secamente, sentado em sua cadeira de couro, em seu grande escritório escuro dentro do seu apartamento solitário em um bairro nobre de Seul. O jovem alfa era um dos advogados responsáveis por vários clientes do chaebol Kang-a-ji – que em breve seriam seus clientes –, mas ele não conseguia focar em trabalhar naquele momento, considerando que todos ao seu redor indicaram que ele tirasse alguns dias para descansar após a perda do seu pai. Mas Seungmin sabia que não iria voltar a trabalhar antes que o Chaebol passasse para ele.

– Não diga isso, Minnie… – O homem de cabelos grisalhos passou a mão pelo rosto, o sorriso escondido porque sabia que o humor seco do Kim filho era igual ao do Kim pai. “ Uma pena que os dois nunca tenham se dado bem durante a vida ”, pensou ele.

Seungmin se levantou e pegou o pequeno caderno branco, que havia ficado a noite inteira em cima de sua mesa, deixado no dia anterior pelo advogado à sua frente. Seungmin só permitiu que ele fosse à sua casa por consideração, que, como mentor, pediu que ele tivesse uma única reunião com ele no dia.

O jovem alfa se sentia nervoso só de sentir as páginas plastificadas nas mãos, de ver os rostos daquelas pessoas – de grande maioria mulheres, mas haviam alguns homens também –, ler suas informações, seus medos e fetiches mais íntimos, literalmente todas as suas vidas ali, à disposição dos mais ricos de Seul para serem parte de suas vidas de forma mais sintética possível. Vários dos que estavam na lista eram famosos, como modelos, influencers e artistas, que também tinham interesse em subir na vida, e se tornarem companheiros ômegas de grandes herdeiros alfas; mães e pais de filhos bonitos, destinados à fama, heranças e chaebols enormes.

Seungmin sabia que a vida ao seu redor era falsa e cheia de máscaras, mas aquilo era demais até para ele.

– Seungmin, você precisa tomar uma decisão. Eu não consigo reforçar isso o suficiente para você. – O advogado sênior se ajeitou na cadeira, engrossando o tom de voz. – Os acionistas das principais empresas do CKANG já estão nervosos porque um jovem alfa solteiro como você não traz segurança para as famílias mais tradicionais, e nós temos potencial de perder bilhões de wons se você não se estabelecer.

– Quando você diz “estabelecer”, você quer dizer “ter alguém debaixo do meu braço na próxima festa beneficente do CKANG”. – Disse o jovem alfa, soltando o caderno branco de novo em cima da mesa, a vontade de jogar dentro da lata de lixo quase o dominando. Ele suspirou, passando a mão no rosto, cansado da noite mal dormida depois de beber mais do que devia. – Maldita a hora que meu pai fez essa condição no contrato de herança. O filho da puta sabia que ia estragar minha vida mesmo depois de morto, e aposto que ele deve estar rolando de rir dentro do colchão de madeira dele.

Acostumado com os xingamentos entre os dois Kims, o advogado Han apenas balançou a cabeça. 

– De qualquer forma, é uma cláusula que eu não posso impedir de ser executada. Não existe nenhuma volta, nenhuma manobra, absolutamente nada pode ser feito para que você herde o CKANG se você continuar solteiro. Você precisa se casar.

– Quando é a próxima festa? Quando eu preciso ter um novo “pet"? – Seungmin rolou os olhos e encarou o senhor, que olhou o relógio e calculou os dias até o próximo baile beneficente, que seria um leilão silencioso de peças de arte.

– Daqui cinco dias, na terça-feira. 

– Mas já? Meu pai morreu, eu achei que teriam pelo menos a consideração de cancelar.

– Irão transformar em uma grande festa de homenagem à vida do Senhor Kim. – O advogado levantou e arrumou o paletó, encarando o jovem à sua frente, que bufava como um adolescente revoltado. – E eu não posso deixar de ressaltar isso: você precisa de um casamento. Senão o CKANG será dissipado e devorado pelo mercado, e todos nós aqui vamos à ruína. Dê uma outra olhada na lista. Existem boas candidatas, mulheres e homens muito bonitos e até alguns famosos, não existe má decisão.

Seungmin rolou os olhos, aquela conversa já tinha drenado a energia mínima que ele já não possuía mais, e era apenas 10h30 da manhã.

– Ok, senhor Han. Obrigado pelo conselho, pode ter certeza que eu irei dar mais uma olhada nesse caderno desgraçado . – Ele sorriu falsamente, e fez o cumprimento semi-formal na medida do possível. O senhor advogado sorriu e retribuiu o cumprimento, saindo da sala. Bufando novamente, Seungmin sentiu a dor de cabeça chegar novamente, e, encarando o caderno branco, ele abriu sua gaveta da escrivaninha, retirando o whisky “comemorativo” da noite anterior, servindo uma dose generosa. Dando um gole demorado, o jovem alfa decidiu fazer uma coisa que certamente ele iria se arrepender depois.

Mas nada como uma série de arrependimentos para mudar um homem, certo?

Ele foi até seu telefone de mesa e discou para sua secretária, que atendeu antes do segundo toque.

Sim, senhor Kim?

– Helena, marque um jantar para mim com o número que eu disser agora. Em algum restaurante na zona oeste da cidade, por favor. Nada luxuoso demais, mas que seja decente o suficiente, com menu variado ok?

– Sim, senhor. Pode dizer o número.

Seungmin sorriu meio maniacamente. Aqueles próximos cinco dias o levariam à loucura.

 


 

– Vamos, Binnie! Eu juro que vai valer a pena! – Disse Chan, vestindo uma de suas melhores camisas, invadindo o quarto de Changbin e posando na frente do espelho. O ômega mais velho já parecia arrumado, mesmo sem as calças e suas meias verdes destacando suas pernas extremamente brancas. Às vezes Changbin se perguntava como aquele garoto se dizia australiano, mas tinha as pernas de alguém que nunca sequer tinha visto o sol.

Changbin estava trabalhando de casa naquele dia – sua chefe sabia do que estava acontecendo sobre seu stalker e permitiu que ele trabalhasse em dias aleatórios em casa, contanto que ele fosse pelo menos uma vez por semana ao escritório. Ele sentia falta de ver diariamente seus amigos de escritório Hyunjin e Jeongin, os três sendo engenheiros de software em uma empresa de marketing, mas eles faziam o máximo de trabalhar juntos online via voice chat. Chan era game designer, e trabalhava em um prédio próximo ao escritório dos outros três, sendo em encontros de almoço que os quatro haviam se tornado grandes amigos.

– Mas tá tão confortável aqui… No meu quartinho, bem quentinho… – Changbin disse, se aninhando em seu moletom felpudo azul, fechando os olhos e sorrindo. O expediente tinha acabado de terminar, mas Hyunjin e Jeongin, fofoqueiros como eram, ainda não tinham saído do voice chat, e escutavam a interação dos dois mais velhos. Chan sorriu com a visão que teve do amigo, e pulou em cima dele, em mais um grande abraço que tanto amava dar em todos que pudesse.

Changbin-hyung! Só vai! Vai ser divertido! – Changbin escutou a voz abafada de Jeongin saindo pelo alto falante do notebook, o beta mais novo do quarteto apoiando a ideia do mais velho. Junto a ele, o ômega mais novo, Hyunjin, soltava gargalhadas ao fundo.

– Vamo comigo, por favor! O restaurante acabou de inaugurar e eu só queria a companhia do meu melhor amigo lindo, cheiroso e gostoso para ser meu wing-man … 

– Mas como você vai paquerar em um restaurante cheio? – Changbin sorria, as bochechas amassadas por dentro dos braços do amigo mais velho.

– Eles tem uma área de barzinho também, e vai estar lotado de gente bonita, incluindo o gostosão aqui na minha frente, então não vai ter tempo ruim! – Chan soltou o amigo dos braços, mas não pode deixar de amassar as bochechas do melhor amigo nas mãos. Changbin sorriu, mostrando suas covinhas, e o mais velho soube que tinha ganhado no argumento. 

– Mas e o… – Changbin olhou para baixo, envergonhado do medo que ele sentia. Mas Chan, sendo a melhor pessoa do mundo aos olhos do mais novo, mirou seus olhos escuros e falou seguramente.

– Então, o dono do restaurante é o atual do meu ex! Seonghwa, lembra dele? Eu já tinha comentado com ele sobre o que rolou, e foi justamente ele que me convidou para a inauguração, e ele já alertou a equipe de segurança. O nojento não vai ter nem chance. – Chan disse, cruzando os braços. 

Changbin se sentiu um pouco mais tranquilo com o que escutou, mas não podia deixar de sentir que ele sentia quase como se estivesse amaldiçoado: todos precisavam de saber onde ele estava, sua insegurança parecia contaminável, tudo dava medo…

– Tem certeza, Channie-hyung? 

Chan se abaixou e colocou novamente as mãos no rosto do amigo, enxugando uma lágrima que o mais novo nem tinha percebido que havia caído de seu olho. 

– Se eu não tivesse tanta segurança no que o Hongjoong me disse, eu não arriscaria te deixar com medo. Eu vou estar com você sempre , e eu ainda te pago um dos drinks mais chiques que tiver! – Chan sorriu, fazendo o mais novo sorrir levemente. – Vamo nessa?

Eu amo o Chan-hyung, eu já disse isso hoje? – A voz do Hyunjin soou pelo quarto, via voice chat, e os dois riram. 

Já, acho que só hoje umas três vezes. – Jeongin disse, o tom de voz divertido, e Changbin teve a certeza que o mais novo rolou os olhos com a afirmação. Ele soltou uma pequena risada. Com o coração mais tranquilo, Changbin acenou com a cabeça de forma pequena, tentando tirar o peso do medo de dentro do coração. 

– Vou tomar um banho e me arrumo rapidinho. – O mais novo falou e olhou para o notebook, ligando a câmera no chat com os amigos do escritório. Vendo Jeongin e Hyunjin na tela, ele se despediu dos amigos pelo fim do expediente – os outros fazendo questão de dar mais algumas palavras de apoio – e se levantou da cadeira, se espreguiçando. Animado pelo amigo, Chan bateu palminhas, puxando o amigo em mais um abraço apertado.

– Coloca aquela sua jaqueta biker, seus braços ficam muito gostosos nela. – Deu um tapa na bunda do mais novo, que exclamou sorrindo, se deixando contaminar pela empolgação do mais velho.

 


 

– …e por causa disso, não consegui a bolsa que eu mais queria, justamente para minha melhor amiga, você acredita!?

Seungmin não acreditava. Não na moça, mas na armadilha que tinha caído. Mas ele mesmo tinha se sabotado, graças às doses de whisky que tomou no meio do dia. Mas foda-se, ele lidaria com isso depois que chegasse em casa, caso sobrevivesse ao papo chatíssimo da moça à sua frente.

Sua secretária tinha marcado o jantar em um novo restaurante, que estava na sua primeira semana de abertura e as mesas estavam todas reservadas – mas nada como argumentar que Kim Seungmin, o único herdeiro do CKANG, estava à procura de um lugar para jantar naquela quinta-feira, uma nova mesa fora adicionada próxima a uma das grandes janelas do lugar, com vista para a cidade iluminada de Seul. Seungmin estava sentado logo após o bar, em uma mesa redonda aconchegante, com as luzes amareladas baixas dando um clima mais ameno ao encontro dos jovens, que já haviam se servido de um drink – um simples Jack’n’Coke para ele, um Aperol Spritz para ela. Seungmin não suportava champagne, e isso contou como “menos um ponto” para a garota.

O jovem alfa não tinha como negar: ele tinha escolhido uma pessoa qualquer do caderno, nem sequer quis ver sobre suas informações, além do seu telefone. Ele queria ter uma experiência mais “natural” de um encontro, de aprender sobre ela de acordo com o que ela dissesse, e não do que veria em um catálogo, como se ela fosse um animal a ser adotado. Mal sabia Seungmin que ele tinha escolhido uma web influencer viciada em bolsas de marca, que não parava de falar e mostrar toda a sua coleção para o jovem, e com zero interesses em comum com o garoto. Ele até se interessou nas primeiras duas que ela mostrou, para dar linha ao papo, mas pelo visto não foi o ideal – e sua dor de cabeça só aumentava.

– Uau… Jura? – Disse Seungmin, com um tom de voz seco, dando mais um gole no seu Jack'n’Coke, tentando focar no gosto amadeirado do whisky, mas esperando que o açúcar do refrigerante curasse um pouco da sua cefaleia dolorosa.

– Sim! Nabi-unnie não quis nem me responder minhas DMs nos últimos dois dias, eu acho que vou invadir a casa dela e roubar a bolsa para mim…

A jovem deu uma risada estridente, que foi diretamente ao ponto mais doloroso da cabeça do jovem alfa, que fechou os olhos e fingiu um sorriso, rezando para que sua refeição – um belo prato de massa italiana original com camarões – chegasse logo, para ele fingir que odiou tudo e ir embora o quanto antes. 

– Seungmin-oppa, você me espera? Preciso retocar minha maquiagem. – A moça pediu com os olhos brilhantes, e Seungmin apenas acenou com a cabeça, respirando aliviado. Mas assim que a garota virou as costas, saindo da visão reta que ele tinha para o bar, ele viu o que nunca imaginou ver. Nesse caso, alguém que nem acreditava que ele ainda lembrava.

Ele vestia uma jaqueta biker preta, que aumentava os braços largos musculosos, junto com uma calça jeans mais clara, e um tênis de skate escuro, dando um tom mais street ao look. O cabelo escuro ainda tinha as mesmas curvas rebeldes que Seungmin lembrava, a memória de mais de dez anos atrás, mas agora tinha um corte mais curto, comparado ao cabelo na altura do pescoço que o garoto possuía na infância. E quando ele escutou a risada do rapaz, advinda de uma conversa que ele tinha com outra pessoa sentada ao seu lado, Seungmin teve certeza. O rosto estava mais redondo, o corpo maior e musculoso, a voz mais grossa, mas Seungmin sabia que nunca poderia esquecer Changbin, por onde quer que ele fosse. 

– Ch-Changbin-hyung? – Seungmin se viu falando, que nem sequer tinha percebido que tinha levantado da mesa e andado até próximo do rapaz, que se virou rapidamente, a luz do bar iluminando os olhos castanhos do mais velho. Ele segurava um copo alto de cerveja escura, e no rosto ainda restava o sorriso que trocava com o companheiro ao lado.

– Sou eu, quem é v… Kim Seungmin ? – O mais velho falou surpreso, o tom de voz falhando de nervoso.

Chapter 2: Anywhere but here

Summary:

CW: nesse capítulo Changbin sofre gordofobia e bullying por outros garotos.
Título do capítulo inspirado em "ANYWHERE BUT HERE", de PVRIS.

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Alguns anos antes...

Era primavera, e o cheiro dos jasmins que circundavam o pátio do colégio no ar deixava Seungmin levemente feliz. Era um dia fresco, e o intervalo entre as aulas de Seungmin tinha acabado de começar. Ele foi para seu lugar isolado de sempre para comer seu lanche em paz: o final da escada que dava para a administração do colégio, mais ao fundo do pátio, onde ele podia observar as várias crianças da sua série que corriam para aproveitar o período entre as aulas. Após alguns minutos, próximo a Seungmin, duas vozes estridentes de pré-adolescentes soaram:

– Haha, lá vai o gordinho!

– O Changbin? A gente não pode deixar, ele vai dizer para a coordenadora o que a gente fez com o lanche dele!

Com sua bolsa de lanche apoiada nas pernas, Seungmin levantou o olhar para onde vinham as vozes, dando uma mordida no seu sanduíche. Ele reconheceu as vozes como alguns dos garotos que ele mais observava durante seus intervalos nos últimos dias, e passou a prestar atenção no grupo.

Haviam quatro garotos, de tamanhos e visuais diferentes, mas de idades próximas a de Seungmin, que faziam bullying com quem eles achavam que valia a pena. A vítima do dia era um garoto baixo e gordinho, de rosto arredondado, os cabelos que batiam nos ombros eram escuros como seus olhos. Infelizmente para ele, suas características físicas eram um prato cheio para os valentões. Seungmin viu ele se aproximar apressado, olhando para trás, tentando criar distância entre ele e os bullies.

A sala da coordenação era próxima de onde Seungmin lanchava, e ele viu o rapaz passar por ele correndo como um trem sem freio, os olhos com lágrimas e sua expressão raivosa, de indignação. Mas ele foi impedido de entrar pelos outros garotos, que corriam logo atrás, um deles logo o alcançando.

- Changbin, não! — Disse um dos meninos, puxando o ombro do garoto, que se desvencilhou rapidamente.

– Me deixa em paz! – Ele gritou, abraçando os próprios braços para impedir outros puxões. Seu rosto estava vermelho, tamanha era sua raiva.

– E o que você vai fazer, seu “ômeguinha”? Vai chamar a coordenadora? – Disse o maior dos quatro valentões, certamente o líder do grupo, soltando uma risada cínica ao final da fala.

– É isso aí, a gente jogou seu lanche fora para te ajudar! – Disse outro garoto, sorrindo maliciosamente. – Ninguém gosta de ômegas gordos, todo ômega tem que ser magro!

Seungmin já tinha ouvido os garotos chamarem outras crianças pejorativamente de “ômega”, que o deixava um pouco confuso. Nenhum deles tinha seu subgênero definido ainda – só saberiam quando tivessem 18 a 20 anos, dali uns seis anos, e vários adultos ao redor deles tinham esse subgênero. Então por que ser ômega era tão ruim?
Era a primeira vez que aqueles quatro garotos vinham tão perto de Seungmin. O tal “gordinho” – chamado de Changbin pelos outros – ofegava pela pequena corrida, mas certamente também provinha do autocontrole que ele tinha para não reagir fisicamente ao bullying.

Em um rápido relance, Seungmin viu os olhos de Changbin se virarem para ele, pela primeira vez percebendo que eles tinham plateia, e foi como se um grande peso tivesse caído no seu peito. Sua respiração se prendeu, o mundo parou por alguns segundos, e apenas os olhos escuros como a noite à sua frente era o que importava. Foi como se ele pudesse sentir toda a angústia, raiva e indignação que o rapaz sentia, seus olhos arderam como se ele próprio tivesse derramado algumas lágrimas.

– Ei! – Sem perceber, Seungmin falou e já estava em pé, o sanduíche esquecido em cima da bolsa, no degrau ao seu lado. Sua expressão era séria. – Deixa ele em paz.

Os quatro garotos olharam para Seungmin, suas expressões confusas. Eles nem sequer tinham percebido a presença do rapaz próximo a eles. Ao escutar a fala do outro garoto, Changbin olhou para o chão, sua respiração ainda descompassada.

– Ora, ora, o que temos aqui? – Disse o “líder”, cruzando os braços, ficando um pouco maior para intimidar Seungmin. – O que o “chaebolzinho do papai” vai fazer para defender esse “ômegazinho”? Somos quatro contra dois! – Os outros rapazes deram risadas sarcásticas. Seungmin não se abalou com o apelido sem graça que lhe deram: ele já sabia que o chamavam assim por trás dele, mas ele não se sentia nem um pouco disposto em perder energia com bullies burros. 

Mas sem saber exatamente como responder, Seungmin olhou mais uma vez para Changbin, que o olhava de canto de olho, a expressão angustiada, e novamente o sentimento estranho veio no seu peito, apertando sua respiração. Sentindo a conexão estranha novamente, o jovem sentiu uma nova raiva surgir em seu peito, como uma brasa quente caindo em um copo de água. Sem pensar muito, Seungmin, com a expressão fechada, pegou a caixinha vazia do seu suco de maçã, amassou a embalagem na mão e jogou na porta da coordenação. Todos os garotos se assustaram com a atitude do rapaz, que era conhecido por apenas duas coisas: ser filho de um dos maiores chaebols de Seul; e de ser extremamente obediente. 

– O que você… – Um dos bullies falou, se virando para a porta.

Rapidamente, passos foram ouvidos do lado de dentro da sala, e uma mulher baixa, de postura imponente e olhos sérios, abriu a porta, encarando os seis garotos no corredor. Seungmin agilmente puxou a mão de Changbin, colocando-o mais perto da escada. Os dois garotos se encararam, se comunicando silenciosamente.

– O que vocês estão fazendo? – A senhora olhou para o chão e apanhou a caixa vermelha amassada, o rosto ficando mais fechado. – Quem jogou isso aqui na porta?

– Foram eles, Sra. Park! – Seriamente, Seungmin falou, apontando para o grupo de meninos à sua frente, ainda paralisados. – Eu estava lanchando com o Changbin e eles, para implicar com nós dois, jogaram a caixa, para dizer que fomos nós que jogamos!

– Novamente vocês, hein garotos? – Disse a Sra. Park, com as mãos na cintura. A mulher suspirou e balançou a cabeça, provavelmente cansada das brincadeiras repetitivas do grupo de garotos. Olhando para Seungmin, ela deu um sorriso tranquilo. – Obrigada, Sr. Kim. Eu jamais acreditaria que você, o garoto que sempre lancha aqui na frente da minha sala, faria algo do tipo.

Seungmin deu um pequeno sorriso, fazendo um cumprimento educado, feliz com a pequena mentira.

– Mas… – Disse um dos bullies, tentando apontar para os dois garotos. A mulher rapidamente se virou para o menino, com o rosto sério, e apontou para a porta aberta do seu escritório.

– Nem um pio, Sr. Jeon. Entrem todos os quatro na minha sala agora, irei ligar para os responsáveis de vocês sem falta! 

Os dois rapazes da escada viram os outros quatro entrarem na sala em meio a reclamações e acusações, mas Seungmin sabia que não iria dar certo. Como disse a Sra. Park, ele era quieto demais para um ato desse, além de que seu pai provavelmente pagava a metade dos professores do colégio, então, mesmo que algo acontecesse, ele iria se livrar rapidinho.

…ado. – Uma voz baixa e rouca soou ao lado de Seungmin, e ele se virou meio assustado. A adrenalina da situação tinha deixado o rapaz se sentindo elétrico, mas ele lembrou o motivo de tudo ter acontecido. Rapidamente ele se virou e encarou o rapaz ao seu lado.

– O que você disse?

– O-obrigado. – Changbin repetiu, a voz um pouco mais alta, e se sentou no degrau. Seus olhos ainda estavam abaixados, o rosto vermelho, mas já sem lágrimas.

Seungmin se sentou e, tentando quebrar o gelo, pegou seu sanduíche e ofereceu para o garoto ao seu lado. 

– Eles pegaram seu lanche, né? Pode comer o meu. Eu já comi o suficiente.

Changbin levantou o rosto e olhou para o pequeno sanduíche de queijo nas mãos de Seungmin. Respirando entrecortado, ele olhou para o garoto ao seu lado, e Seungmin sentiu de novo um novo sentimento no peito, mas dessa vez era mais tranquilo, como o sol que aparece depois de uma grande tempestade.

– Tem certeza? – Changbin manteve seus olhos escuros presos a Seungmin, estudando seu rosto, de forma desconfiada, mas esperançosa. Hipnotizado pela expressão do garoto, Seungmin demorou alguns segundos a mais para responder, reforçando a oferta.

– Claro! Não é justo o que eles fizeram com você… O que quer que tenha acontecido. – Seungmin disse, colocando o sanduíche nas mãos de Changbin. 

– Ah, eles pegaram meu lanche e jogaram no meio do jardim… As formigas provavelmente devem estar tendo o melhor banquete da vida delas. – O garoto riu sem graça, dando uma mordida no sanduíche, e sorrindo com o sabor. Seungmin ainda tinha o olhar preso ao garoto ao seu lado, como se tivesse sido enfeitiçado. Ele não sabia por quê, mas o seu peito vibrava ao ver o garoto falando. – E eu nem sei seu nome. A Sra. Park te chamou de Sr. Kim, mas aqui tem vários…

– Seungmin. Kim Seungmin. – O rapaz falou e sorriu, e Changbin sorriu de volta. O peito de Seungmin se acalmou instantaneamente. Foi como se um abraço quente em um dia frio de inverno. – Você quer dar uma volta? Posso te mostrar as últimas cartas de beisebol que meu pai comprou para mim dos Estados Unidos! – Seungmin levantou, oferecendo a mão para Changbin. O garoto de cabelos grandes se iluminou e levantou rapidamente do degrau, animado, se apoiando na mão oferecida.

O cheiro do jasmim nunca mais saiu da cabeça de Seungmin.

Notes:

Capítulo curtinho só pra mostrar como eles se conheceram! Ainda essa semana tem mais outro!
Novamente, kudos e comentários me alimentam dia e noite <3
Updates sempre avisados no meu Twitter! @gamabydoodle

Chapter 3: You took my heaven away

Notes:

Desculpem-me a demora, eu disse que ia ter update nos dias seguintes, mas a vida aconteceu e eu mal conseguia escrever qualquer coisa :(
Mas cá estamos de volta!
Espero que gostem!

Título do capítulo inspirado na letra de "Heaven", por PVRIS.

Chapter Text

– A gente só foi amigo durante alguns meses, né? – Disse Seungmin, dando um gole no seu drink, o sabor doce assentando agradável na sua língua. Seu peito pesava estranhamente, seus sentimentos em conflito: felicidade, angústia, melancolia e até saudade, certamente vindo do reencontro com o amigo de infância e o whisky entrando em sua corrente sanguínea. – Eu saí porque meu pai começou a fazer negócios no Japão e eu tive que ir junto… Foi horrível.

– Pois é… Pouco tempo depois que você saiu, eu também precisei sair. O bullying piorou, acho que eles viram que você não estava mais perto para me proteger. Aqueles meninos começaram a ser mais… físicos comigo. – Disse Changbin, o tom de voz mais soturno devido às lembranças dolorosas da sua época de adolescência. Deu um gole rápido na sua cerveja escura, evitando olhar para Seungmin. O mais jovem respirou fundo, melancólico.

– Caralho… – Seungmin passou a mão pelos cabelos, uma tristeza pesada prendendo sua respiração no peito. Suas emoções estavam mais acentuadas naquela noite, talvez a bebida não estivesse descendo bem no seu estômago vazio. – Me desculpa, eu nem sequer pensei nisso, em como eu só te abandonei…

Changbin dispensou com a mão, balançando a cabeça, as sobrancelhas levantadas em um pequeno susto. 

– Não, não! Não precisa pedir desculpas, não foi culpa sua. Não é como se na época a gente tivesse rede social para se conectar. E você mudou de país! Seria impossível a gente continuar amigo. – Ele soltou uma risada curta, e o som vibrou nos ouvidos de Seungmin, tirando um sorriso do mais novo. Ele sentia mais falta daquela risada do que ele pensava. – Eu acabei me mudando, indo morar com minha avó no interior. Mas eu não fiz amigos, eu não confiava que ninguém iria ser escroto comigo. E no final, eu virei o que eles tanto me xingaram.

Seungmin encarou o jovem ao seu lado, que ria meio incrédulo, mas sem humor.

– Você é… 

– Sim, no final das contas, os garotos estavam certos. – Engolindo em seco, Changbin disse. Com uma falsa confiança, ele levantou o olhar e encarou o antigo amigo de infância. – Sou um “ ômeguinha ”. Tive meu primeiro ciclo aos 19 anos.

– E posso dizer com tranquilidade: o Binnie é o ômega mais lindo de todos! – Disse o rapaz ao lado de Changbin, que se chamava Chan, que fora apresentado como seu colega de quarto. Já levemente alcoolizado, ele deu um beijo enorme na bochecha do mais novo, que tirou um sorriso tímido dos lábios de Changbin, quebrando o sentimento melancólico da conversa. 

Seungmin soltou uma risada. Assim que ia concordar verbalmente, Seungmin sentiu uma mão no seu ombro, tirando sua atenção do rosto feliz 

– Seungmin-oppa? – A voz estridente da garota soou próximo ao jovem alfa, que sentiu uma pontada de dor na cabeça, e só então ele percebeu que sua dor de cabeça tinha sumido assim que tinha ido falar com Changbin. Ele respirou fundo disfarçadamente e sorriu secamente, olhando para ela.

– Oi. – Seungmin respondeu, e a jovem sorriu e piscou os olhos rapidamente, fazendo um biquinho dramático.

– Você me deixou sozinha na mesa, oppa! – Seu tom de voz estava começando a vibrar de forma errada na cabeça de Seungmin, e ele olhou para Changbin, que observava a garota com um sorriso simpático nos lábios. – E o nosso encontro? 

Chan, prestando atenção na conversa à sua frente, olhou para a garota e colocou a mão na boca, em uma expressão exagerada de surpresa.

– Você é a Suzy, não é? Suzy Nyang? – Chan perguntou, puxando a atenção da moça. Ela sorriu abertamente, feliz de ser reconhecida pela primeira vez na noite. 

– Isso! Suzy Nyang, top três maior influencer de bolsas de luxo de toda a Coreia do Sul! – Disse a moça, cumprimentando os dois à sua frente, balançando os cabelos de forma charmosa. Chan riu e devolveu o cumprimento, seguido por Changbin. – Muito prazer!

Changbin olhou para Seungmin e tossiu baixinho, sentindo um leve desconforto. Seungmin se sentiu apreensivo, tentando continuar a conversa com Changbin. Ele certamente não queria continuar conversando com a moça, e pelo visto Chan tinha percebido.

– Então…

– Essa sua bolsa é da Miu Miu, da coleção nova? Ela ainda nem saiu à venda! – Disse Chan, saindo de trás de Changbin e indo em direção à Suzy, que abriu o maior sorriso de todos. 

– Sim! – Ela deu pequenos pulinhos, mostrando a bolsa para Chan na luz baixa do bar. Chan deu uma piscadela discreta para Changbin e Seungmin, que estavam observando a interação dos dois com olhos curiosos. – Eles me chamaram para um evento exclusivo em Hong Kong!

– Nossa, ela é perfeita! – Chan puxou um dos bancos do bar para Suzy sentar, continuando a conversa com a garota mais distante dos dois garotos. Os dois sorriram com a distração que o mais velho tirara da cartola, e Seungmin pode sentir que o clima ficou mais leve ao seu redor. Ele soltou uma respiração tensa que ele nem sabia que estava prendendo.

– Mas e você? O que você anda fazendo? – Perguntou Seungmin, um sorriso preso nos lábios, se aproximando mais de Changbin no banco alto do bar. Changbin retribuiu o sorriso, e o mais novo se viu enfeitiçado.

 


 

A noite seguiu mais um pouco. Chan, que realmente acompanhava a vida da influencer pelas redes sociais, chamou a jovem Suzy para conversar sobre suas bolsas em outro lugar do bar, onde outras jovens influencers haviam sentado – provavelmente convidadas pelo restaurante para divulgação – e estavam conversando alto, o que facilitou a conversa dos dois jovens. Mas não era como se precisasse se muito.

Era incrível como os dois ainda tinham uma conexão inexplicável. Mesmo depois de dez anos sem se ver, a conversa fluía naturalmente entre os dois, junto com muitas risadas, como se o tempo tivesse parado naquele dia de outono, seis meses depois que eles tinham se conhecido. 

 

 – Não acredito que você é amigo do Jisung! – Disse Seungmin, dando gargalhadas.

– Sim! Ele divide apartamento com um amigo meu, o Hyunjin. – Changbin respondeu, acenando com a cabeça. Seus olhos fecharam em um sorriso sincero, sua covinha aparecendo discretamente à luz baixa do bar. 

– O Jisung é filho do advogado-sênior do CKANG, e eu vivo esbarrando com ele nos corredores do escritório. – O jovem tomou mais um gole da sua bebida, e Changbin se viu observando demais como a garganta dele se movia com o líquido. 

 O rosto e pescoço do mais novo já estavam corados pelo álcool, deixando seu rosto ainda mais atraente, e, durante a conversa dos dois, houveram alguns toques despercebidos dos seus dedos longos do mais novo nos braços de Changbin, que se sentia flutuar com cada gole que dava na sua cerveja. Changbin se sentia mais leve, sorrindo com as piadas e flertes de Seungmin, que parecia honestamente interessado em conversar com ele.

 

– Ele é incrível, gosto muito de conv… – Changbin teve a fala cortada pela visão que teve por trás de Seungmin.

 Lá estava ele. Seu stalker, saindo do banheiro, com um fone de ouvido que apenas os seguranças particulares do lugar estavam usando. Vestido formalmente, ele passaria despercebido pelas pessoas como mais um funcionário da casa, mas, para sua tristeza, Changbin conseguia reconhecer seus olhos cinzentos inescrupulosos de longe.

Rapidamente seu batimento aumentou. Seu estômago travou, sua boca secou, e ele já começara a sentir sua pele fria em um suor repentino. 

 

– Hyung? – Seungmin notou a fala cortada de Changbin e olhou para a mesma direção que Changbin. Sem entender para quem ele estava olhando, Seungmin apenas tocou os ombros dele, procurando trazer sua atenção para ele. – O que houve?

– Seungmin, e-eu preciso ir… – Changbin começava a tirar a carteira do bolso, tentando ao menos fechar sua conta e sair do lugar antes que o homem pudesse vê-lo, mas suas mãos lhe traíam, trêmulas e sem precisão. Sua voz estava rouca, e algumas lágrimas já se juntavam em seus olhos. Ele também teria que chamar Chan para ir embora, mas ele parecia estar se divertindo tanto… Droga, o que ele faria?

– Hyung, olha para mim. – Seungmin falou sério, usando suas mãos nas laterais do rosto de Changbin para puxar sua visão para ele. Changbin mirou os olhos para o mais novo, mas seu olhar não conseguia focar em nada. – Você ta bem? Você quer ajuda?

 

Changbin não sabia o que falar para Seungmin. Ele se sentia preso em um lugar tão grande, em meio a tantas pessoas. Ele se virou para o bar, com a carteira em mãos, tentando chamar a atenção da bartender de forma disfarçada, mas com certa agonia, porque ele precisava fingir que não estava ali. Mas ao mover a mão para chamar a moça, seus movimentos erráticos deixaram sua carteira cair no chão. Ele soltou um choramingo baixo.

– Pode deixar, hyung. – Seungmin abaixou o corpo e buscou rapidamente o objeto no chão, entregando ao ômega, que agradeceu com um olhar nervoso. – Eu fecho a conta e falo com o Chan, pode ir para a saída.

 

Ele acenou e se levantou rapidamente, se disfarçando entre as pessoas em pé ao redor do bar, já cheio pelo horário. Changbin não sabia como Seungmin entendia exatamente o que ele precisava, mas isso ele pensaria depois. Seus pés estavam estáveis o suficiente para ele correr até a saída, tentando esconder seu rosto o máximo possível.

Poucos segundos depois que ele chegou ao grande portal do restaurante, Changbin viu um segurança se aproximando dele e entrou em pânico. Como uma reação corporal automática, ele colocando as mãos para frente, tentando se proteger.

– O senhor está bem? – Perguntou o homem, com o rosto meio escondido pelas sombras. Changbin respirou nervosamente, aquela voz não era do stalker, mas ele poderia usar equipamentos para mudar sua voz, certo?

– E-eu…

– Pode deixar. Ele está comigo. – A voz de Seungmin soou como um acalento à alma perturbada do mais velho. Ele pôs a mão no ombro em um meio-abraço, puxando Changbin para mais perto. – Vamos, meu carro está perto.

 

Changbin agradeceu mentalmente pelo braço ao seu redor, porque certamente seu corpo não obedeceria nenhum comando da sua mente aterrorizada. Seus pensamentos estavam congelados em terror, e ele se via desassociando como se seu corpo e sua mente pertencessem a duas pessoas diferentes. Ele se viu entrar no banco da frente no carro escuro de Seungmin, seu cinto colocado ao seu redor, e novamente ele se perguntou como o mais novo sabia exatamente o que ele precisava. 

 

– Eu disse ao Chan-hyung que você iria para casa comigo. – Seungmin disse, já entrando no carro e dando a partida. Changbin acenou a cabeça nervosamente, as lágrimas presas por tanto tempo sendo libertas de vez, e o choro que ele estava prendendo se soltando sem que ele pudesse impedir. A última lembrança racional de Changbin daquela noite foi a mão quente de Seungmin em sua perna, e as ruas passando como um blur ao seu redor.

Notes:

Decidi não dar nome ao stalker do Changbin porque pessoas que fazem esse tipo de coisa não merecem reconhecimento de humanidade. Espero que entendam, e me avisem caso fique confuso de ler as partes que ele é citado.

A fic ta sendo escrita enquanto eu posto, então eu agradeceria uns centavos de comentários pra ver se ela ta bem desenvolvida, feedbacks e surtos 🥺🤲
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