Chapter Text
“Ei… diga a todos… para se cuidarem… e diga que eles vão precisar de um novo cozinheiro!”
“Ei! O que aconteceu aqui?!”
“Não aconteceu nada.”
Zoro despertou ofegante, como se seus pulmões estivessem pressionados e seu coração palpitante preso na traqueia, bloqueando a passagem do oxigênio, enquanto seu corpo tremia o suor frio que parecia impregnar na pele firmemente coberta por ataduras, o que, no momento, era quase ela inteira. Pelo menos a visão dele adaptou-se rápido ao escuro e, com a ajuda da nem-tão-fraca luz das estrelas e da lua adentrando pela janela, não demorou a perceber que estava na enfermaria do Sunny, seguro.
Todos estavam seguros.
O encontro com Kuma havia sido há alguns dias, quase há uma semana, de acordo com Chopper, tanto que o próprio médico já havia dado o aval de que era seguro eles partirem de Thriller Bark sem terem que se preocupar muito com Zoro, que estava se recuperando bem.
O que era ridículo porque é claro que ele iria se recuperar, ele tinha e nenhum deles precisava preocupar-se com ele.
De qualquer forma, Chopper havia convencido Zoro a passar pelo menos as duas primeiras noites de volta ao mar na enfermaria, alegando ser mais “seguro”, sem risco de algum dos outros homens o machucarem sem querer na bagunça e, além disso, já estaria mais perto dos itens médicos caso precisasse. O que também era ridículo e um tremendo exagero, mas porque a rena podia ser muito insistente quando enfiava algo na cabeça e Zoro só queria dormir, acatou ao pedido, assim como acatara tomar os medicamentos e o chá que, supostamente, o permitiria ter uma noite tranquila de sono.
A tranquilidade acabou no momento em que imagens do ocorrido invadiram a mente de Zoro, fazendo-o acreditar estar de volta entre Luffy e Kuma, oferecendo sua cabeça no lugar da do seu capitão.
Mais especificamente, de volta ao momento em que Sanji tentara fazer o mesmo, tentara sacrificar-se por ambos, obrigando Zoro a nocauteá-lo.
Luffy estava seguro. Sanji estava seguro. Todos os Chapéus de Palha estavam, então não havia mais o que temer.
Exceto que havia.
O desconhecido estava lá fora e, o que habitava o Novo Mundo, parecia ser capaz de destruí-los se Zoro não ficasse mais forte e rápido.
A mera ideia de ver Luffy, Sanji e toda a sua nakama mortos era mais aterrorizante do que a memória de toda a imensurável dor que sofrera por Luffy.
A dor de falhar com todos eles e consigo mesmo —e com Kuina— o mataria.
Portanto, por mais que odiasse ter sonhos conturbados e acordar hiperventilando, Zoro sabia que continuaria a sofrer com pesadelos como aquele até ter a certeza de ser forte o suficiente para proteger toda a sua família de qualquer perigo e ajudar Luffy a sentar no metafórico trono no processo.
Com a respiração já mais controlada, Zoro levou ambas as mãos ao rosto, esfregando-o com força. A mandíbula tão pressionada que estava começando a causar-lhe pontadas na cabeça. E o coração ainda espremido no centro de seu peito porque a última imagem que aparecera em sua mente enquanto ainda estava com os olhos fechados insistia em permanecer, tão vívida quanto o suave sacolejar do Sunny contra as ondas calmas.
A imagem distorcida de Sanji ensanguentado e sem vida no chão.
Porque, em seu pesadelo, não foi rápido o bastante em impedi-lo de sacrificar-se em seu lugar.
Era ridículo o fato de seu peito doer a ponto de tirar-lhe o ar e fazer seus olhos pinicarem com lágrimas quentes por causa de uma mentira conjurada em um sonho.
Ele sabia que o cozinheiro estava vivo e bem, provavelmente em um sono profundo no quarto dos homens, alheio à pesada tormenta circundando a mente do espadachim. Então Zoro precisava que seu corpo entendesse isso logo para que pudesse voltar a dormir mais um pouco, já que ainda estava proibido de fazer qualquer esforço físico.
Mesmo que Zoro precisasse treinar muito mais e mais pesado se fosse ficar mais forte para proteger a tripulação.
Zoro adorava Chopper como o irmãozinho caçula que nunca teve e não havia dúvidas de que era um ótimo médico e se tornaria cada vez melhor, contudo ele não aguentaria muito mais tempo sem quebrar aquela regra ridícul—.
— Vai arrancar fora se esfregar mais forte, e aí vai ficar mais feio do que já é. — Como se convocado por pensamento, Sanji falou ao entrar na enfermaria e acender a luz, obrigando Zoro a piscar várias vezes ao tirar a mão do rosto e encará-lo. O loiro já estava de pijamas, apesar da falta de amassado ou fios bagunçados em seu cabelo denunciar que ainda não havia ido dormir. O prato tampado em suas mãos denunciava o porquê.
— Não mais feio que você, sobrancelha de arame. — Zoro resmungou de volta, sem muito veneno por trás das palavras assim como percebera que as de Sanji haviam sido.
Ele poderia culpar o cansaço de ambos por isso.
Sanji apenas revirou o olho ao aproximar-se, o braço esticado com o prato que roubou a atenção do espadachim quando fora atingido pelo delicioso cheiro do que estava ali escondido.
— Você foi dormir antes da janta, então vim te trazer um petisco pra quando acordasse com o estômago roncando, não esperava que já estivesse acordado, — disse como se não fosse nada demais, colocando o prato no colo do espadachim e escorando-se contra o final da cama, ambas as mãos nos bolsos.
Zoro arqueou uma sobrancelha para ele antes de voltar-se para o prato em seu colo, tirando a tampa de panela sem cerimônias, a baba quase escorrendo para fora da boca com a visão dos bolinhos de arroz gordinhos e de formato perfeito; o pronunciado cheiro da carne bem temperada que devia ser o recheio fazendo seu estômago roncar.
— Não ‘tô com fome, — resmungou porque já era instintivo contrariar o cozinheiro.
Um curto riso de escárnio escapou do nariz de Sanji.
— É, e meu cabelo é preto. — Revirou os olhos e tirou as mãos dos bolsos para cruzar os braços em frente ao estômago. — Só come logo.
Zoro bufou, mas fez o que foi dito, pegando o primeiro onigiri e enfiando-o na boca sem pensar, seu corpo inteiro vibrando a partir da boca quando a explosão de sabores invadiu seus sentidos, fazendo seu estômago roncar ainda mais. Os bolinhos de arroz de Sanji eram sempre tão macios que pareciam derreter na língua, o que também era bom pelo fato de caberem mais deles na boca, então Zoro não pestanejou em colocar outro e mais outro, estufando as bochechas e ignorando o comentário de “Realmente um brutamontes, totalmente sem classe” do cozinheiro logo ao lado.
Ele nunca admitiria isso em voz alta, mas as mãos de Sanji só poderiam ser mágicas já que tudo o que preparava na cozinha parecia ser a melhor coisa que comera na vida.
Enquanto mastigava tudo o que tinha na boca para poder engolir e enfiar mais, voltou seus olhos para o outro homem, percebendo que estava sendo observado de canto. Zoro franziu o cenho e engoliu uma pequena parte para conseguir falar de boca cheia:
— Vai fica aí parado me olhando?
O corpo de Sanji retesou e sua cabeça virou tão rápido para frente que Zoro não se surpreenderia se tivesse distorcido o pescoço.
— Só ‘tô esperando você terminar pra eu levar o prato, — disse dando de ombros e colocando um cigarro entre os lábios, mas pareceu mudar de ideia antes de acendê-lo, grunhindo ao guardar o isqueiro de novo.
Zoro respondeu enquanto enfiava mais bolinhos na boca:
— Pode ir, eu levo.
Sanji apenas soltou uma forte lufada de ar pelo nariz, permanecendo onde estava, com os olhos fixos na janela dessa vez.
Zoro deu de ombros e continuou comendo, permitindo que o silêncio se estabelecesse entre eles.
Aqueles momentos entre os dois eram bons. Momentos onde apenas existiam no mesmo lugar, em uma proximidade razoável, sem necessidade de conversa afiada ou discussões para ficarem confortáveis, aproveitando a impossível-de-ignorar presença um do outro. Pelo menos Zoro aproveitava, com seu coração batendo em uma velocidade um pouco mais rápida do que serena, ciente de que, por pelo menos aqueles minutos, tudo estava certo no mundo, em equilíbrio, suas costas estavam protegidas e Sanji não o odiava como tentava fazer parecer.
Diferente de como se comportavam em batalha —de como haviam demorado a aprender a trabalhar em equipe, deixando seus orgulhos e competições fúteis de lado quando necessário—, eles conseguiam co-existir naqueles momentos agradáveis de silêncio bem antes de Long Ring Long Land. Eles sentavam ao lado um do outro para comer ou participar de uma conversa em grupo, às vezes Zoro cochilava na cozinha ao som de Sanji preparando com maestria a próxima refeição; ocasionalmente quando percebia Zoro cuidando de suas espadas, Sanji aproveitava para amolar suas facas. Quando levava petiscos e água hidrogenada para Zoro de vigia ou treinando na gávea, apesar de reclamar das mínimas coisas no processo e chegar perto de causar uma briga física entre eles, Sanji costumava prolongar sua visita, parando para observar o mar por minutos o suficiente para alternar as batidas no peito do espadachim.
Zoro não ligava para romance como o ero-cook, sequer jamais pensara sobre se envolver romanticamente com alguém e, com o seu foco sempre em um objetivo tão grande, em ficar cada vez melhor e melhor para alcançá-lo, nunca passou pela sua cabeça ser capaz de ter aquele tipo de atração. Nunca se importou.
Até conhecer um cozinheiro idiota e insuportável que estava no seu nível de força, que o desafiava e tirava do sério, com quem podia contar cegamente, com quem podia deixar suas costas expostas, que fazia seu sangue queimar por diversos motivos, até mesmo quando estavam apenas coexistindo no mesmo ambiente, perto o suficiente para estarem cientes da presença um do outro, mas sem ameaças por perto ou vontade de começar uma discussão.
Sanji estava apenas ali e o corpo de Zoro vibrava de uma forma diferente, porém com a mesma intensidade de quando percebia uma luta iminente.
Na verdade, Zoro não sabia dizer ao certo o que aquilo significava, nunca dera atenção a nada relacionado a amor romântico para poder comparar e talvez não fosse nada disso, poderia ser muito bem só um tipo de respeito e admiração pelo cozinheiro, misturado ao prazer que sua “rivalidade” com ele o proporcionava, um tipo de relacionamento que nunca imaginaria poder ter de novo desde a morte de Kuina.
Zoro só tinha absoluta certeza de que não tinha nada a ver com seus gêneros secundários porque já havia conhecido e ficado perto de vários ômegas, incluindo Johnny e agora o Franky —apesar desse aspecto estar todo bagunçado nele devido às suas partes robóticas por algum motivo que o espadachim nem queria saber—, e nunca havia sentido nada diferente em relação a nenhum, nada de um “desejo ardente” ou que porcaria carnal que seja que as pessoas costumavam dizer ser “mais do que natural de um alfa sentir na presença de um ômega”. Zoro sequer tinha ideia do que poderia ser esse tal desejo já que, durante seus ruts, tinha apenas seu territorialismo e vontade de proteger aumentados.
Não, entre ele e Sanji não havia nada daquela palhaçada de “alfa e ômega”. Eles eram iguais. Eram rivais no mesmo nível. Sanji tinha seu respeito e admiração e os momentos que passava em silêncio na presença dele, só existindo ao seu lado, eram gostosos e era tudo o que bastava para Zoro.
Isso e ter a certeza de que ele estava seguro, assim como todos os seus demais nakama, enchia o espadachim com uma tranquilidade quentinha que chá algum era capaz de comparar.
E ele estava aproveitando tanto o momento, até comendo os onigiris mais devagar para maior desfrutamento, que sobressaltou-se um pouco quando o cozinheiro falou, a voz repreensiva e o olhar mais duro ainda na janela, apesar de não parecer estar vendo-a de fato:
— Você não devia ter feito aquilo.
Franzindo o cenho, Zoro mastigou mais um pouco até engolir uma parte do que tinha na boca para falar:
— Feito o quê?
O olhar duro de Sanji voltou-se para si, as pálpebras semicerradas fazendo suas íris azuis parecerem mais escuras:
— Você sabe do que eu ‘tô falando.
— Eu faço muitas coisas todos os dias, sobrancelhas, vai ter que ser mais específico.
A mandíbula bem desenhada do loiro mexeu quando ele mordeu os dentes.
— E tudo o que você faz me irrita, — declarou e Zoro poderia ter começado uma discussão sobre como as coisas que o cozinheiro fazia eram mais irritantes, porém os últimos onigiris estavam deliciosos demais e Sanji logo continuou a falar após uma bufada. — Não sabe mesmo do que ‘tô falando?
Zoro balançou os ombros, ganhando uma revirada de olhos do outro.
Então o silêncio voltou por um instante, parecendo mais profundo, tenso até.
A respiração de Zoro travou quando Sanji finalmente falou e, a cada palavra dita, mais apertado ficava seu peito:
— Não devia ter me nocauteado, devia ter deixado Kuma pegar minha cabeça ao invés de fazer o que fez com você.
Os últimos pedaços da janta desceram forçados e arranhando, beirando a amargos, na garganta de Zoro, que semicerrou os olhos de volta, a voz muito mais séria ao responder:
— Te nocauteei porque ‘cê tinha perdido a noção, cozinheiro de merda.
— Eu não tinh-.
— Como protetor dessa tripulação, era o meu dever proteger Luffy e todos vocês, aquele sacrifício era meu pra fazer!
O rosto de Sanji começou a ficar vermelho demais quando cerrou os dentes com força, todo seu corpo virando-se para o espadachim ao vociferar:
— Eu também sou protetor dessa tripulação!
— Eu sou o princip-.
— Cala a boca! Você é um idiota, é isso o que você é! E se tivesse morrido, hein? Como Luffy e os outros iriam ficar? O que seria da sua ambição? Do seu sonho? Não pode se tornar o melhor espadachim do mundo estando morto, Zoro! — Pareceu um pouco sem ar ao terminar de falar, como se tivesse corrido por horas, as veias sobressaltadas em seu pescoço e têmpora bem nítidas em sua pele branca, agora profundamente corada de raiva.
Os olhos de Zoro permaneceram bem firmes nos do cozinheiro, sua pulsação acelerando apesar de manter a respiração sob controle.
— ‘Cê acha que eu não sei? — Quase rosnou entre dentes, a voz baixa em aviso. — Mas Luffy vai se tornar o Rei dos Pirata-.
— É óbvio que sim e é por isso que ele precisa de você ao lado dele, o imediato dele!
Os olhos de Zoro semicerraram, não gostando da suposta implicação.
— ‘Tá dizendo que ele não precisa de você?
Sanji voltou a cruzar os braços, que até o momento usava para gesticular um pouco, e revirou os olhos, deixando-os fixos em direção à porta ao falar em um tom mais baixo:
— Sou só um cozinheiro. Como disse, Luffy podia achar um outro depo-aí! — arfou surpreso quando Zoro agarrou-o pelo braço e puxou-o com brusquidão, fazendo-o tombar um pouco na cama e encará-lo com os olhos abertos. — Que porra, Zo-.
— Não tem outro cozinheiro, não tem outro você além de você, por que ‘tá difícil de entender isso, cozinheiro de merda?
Sanji era o pacote completo que Luffy precisava para o papel que tinha na tripulação, ele importava por ser quem era assim como todos os outros, então não tinha sentido ele acreditar poder ser substituído como um pedaço de pano velho.
Diabos! Nem Merry havia sido substituída, não de verdade, com certeza não da forma como o cozinheiro parecia insinuar que ele poderia ser.
Só estava provando quão verdadeiramente estúpido e idiota era.
Sanji puxou seu braço com força, soltando-se do aperto de Zoro e dando dois passos cambaleantes para trás, afastando-se da cama. Seu semblante voltara a parecer irritado, mas, dessa vez, havia contida confusão no torcer dos seus lábios e em como seus olhos não estavam tão duros, mais para desfocados, como se algo não estivesse fazendo sentido para ele.
— Me chamar de cozinheiro de merda depois do que disse quebra todo o seu argumento!
Zoro soltou um barulhinho de descaso com a boca.
— Não porque é só seu apelido, assim como sobrancelha de arame, ero-cook, idiota, curly, sobrancelhud-.
Sanji grunhiu frustrado, enfiando as mãos nas mechas loiras e interrompendo Zoro em sua listagem, que soltou um curto, quase imperceptível risinho.
A forma como o topo das bochechas do cozinheiro coravam de leve em cada uma de suas discussões era só adorável demais e a forma como mordia o cigarro —ou os lábios como agora por estar com a boca vazia—, era quase que hipnotizante e fazia Zoro morder o próprio por algum motivo. Isso é, quando ele não estava com Wado na boca.
Infelizmente, Sanji parou de deixar seu lábio avermelhado e marcado com dentes para abrir a boca e falar mais merda:
— Que seja! Mas não faça mais isso. Só deixa que me matem e salve todo mundo, estou pronto pra morrer pelo Luffy.
O sangue de Zoro começou a borbulhar de uma forma que provavelmente faria Chopper entrar em desespero.
— Vai a merda, cook! Não tenho que te dar ouvidos e não vou te deixar ser a porcaria de um mártir!
— E por que caralhos você se importa, hein? Só pra querer mostrar que é melhor que eu até nisso?
— Tem nada a ver com isso, porra! Tem a ver que o que eu fiz foi por conhecer meu valor enquanto pro ‘cê foi exatamente o contrário!
— De novo, por que isso te importa?!
— Porque você importa, merda!
Zoro fechou a boca com força assim que as palavras escaparam, seus olhos arregalados tanto quanto os de Sanji o encarando com a boca um pouco aberta. O loiro havia até dado um passo para trás como se tivesse levado um chute.
E, quando o silêncio perdurou por alguns instantes, Zoro —pela primeira vez desde que o cozinheiro entrara ali trazendo-lhe sua janta—, percebeu os feromônios sendo liberados no ambiente, não apenas os seus que agora estavam dominantes e quase agressivos, o alfa tentando fugir do seu controle e subjugar o outro para que acatasse à sua vontade —naquele caso, para que parasse de se desvalorizar—, como também os mais fracos e confusos de Sanji, feromônios esses que eram quase sempre disfarçados pelo forte odor do cigarro, assim como seu aroma escondido, mas que agora estavam tão nítidos quanto o gosto de arroz e carne de Rei dos Mares na língua de Zoro. Uma perfurante mistura de inquietação, ansiedade e medo que levou o espadachim a soltar um baixo ganido do fundo de sua garganta.
Um ganido que fez seu rosto esquentar enquanto os olhos de Sanji arregalavam ainda mais.
Então Sanji desviou o olhar para o chão, fitando-o com grande interesse e quase rosnando ao dizer:
— Será que dá pra baixar a bola com essa porcaria de feromônio, seu alfa imbecil? ‘Tá tentando me sufocar ou me forçar a expor meu pescoço pra você?
Zoro quase engasgou com a própria língua com a acusação, seus batimentos pulsando mais fortes em seus ouvidos ao imediatamente começar a tentar controlar tais hormônios, pelo menos o suficiente para não sobrecarregar o ambiente.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, no entanto, os músculos de Sanji relaxaram, assim como grande parte da tensão saiu de seu semblante e ele ainda não olhava para o espadachim, contudo também não parecia mais determinado a cavar um buraco no chão com os olhos. A tentativa de amenizar os feromônios havia dado certo e Zoro percebeu que não havia mais o que ele falar, já tinha dito o que precisava e não iria desculpar-se por suas palavras, muito menos retirá-las, então apenas continuou observando o cozinheiro, percebendo que seu movimento quase automático de pegar um cigarro do bolso e colocá-lo nos lábios parecia quase enferrujado e suas longas e elegantes mãos, sempre tão firmes, estavam tremendo e pareceram tremer mais quando ele desistiu de pegar o isqueiro e fechou-as em punhos, um som frustrado escapando de seus lábios entreabertos. Mesmo não acendendo o cigarro, Sanji deixou-o na boca enquanto inspirava fundo e expirava longo algumas vezes até o tremor diminuir um pouco.
Quando seus olhos fixaram-se de súbito e afiados em Zoro, seu coração errou uma batida.
— Não sabia que você se importava comigo, — falou tentando soar acusatório, até mesmo debochado, mas foi hesitante demais e ainda mordeu o cigarro no final, naquele jeito que fazia quando estava repreendendo-se por algo.
Zoro podia mentir. Zoro podia fazer um comentário provocador. Zoro podia começar uma discussão que fugiria do tópico ao ponto de ambos esquecerem de sequer terem tocado naquele assunto.
Contudo Zoro estava cansado, seu corpo ainda doía mais do que ele jamais admitiria e há apenas uma semana a morte literalmente batera em sua porta. E ele também tinha certeza de que Sanji faria de tudo para passar o resto de suas vidas fingindo que aquela conversa nunca acontecera porque ele era um pervertido obcecado por mulheres e odiador de homens de qualquer gênero secundário, mas especialmente de Zoro, então aquilo morreria ali.
Além disso, seu coração estava batendo tão rápido e firme que tomou conta de sua língua ainda inebriada com o persistente sabor do onigiri.
— É claro que me importo, Sanji.
Sua confissão saira em um quase sussurro, seu rosto inteiro suavizando no processo, desarmando-se enquanto as batidas em seu peito ficavam mais altas em seus ouvidos e seu feromônio ainda sendo contidamente liberado, mais suave.
E, como em um perfeito reflexo oposto, o corpo inteiro de Sanji retesou-se como um gato encurralado, o cigarro quase caindo com seu rosto retorcendo-se no que poderia ser apenas descrito como pânico com seus feromônios azedando em uma ansiedade alarmante.
Não foi surpresa quando, no segundo seguinte, Sanji enrijeceu-se, neutralizando a expressão apesar de não ter sucesso em colocar o odor sobre controle, e aproximou-se da cama em passos rápidos apenas para pegar o prato de Zoro —tomando nítido cuidado de não encostar nele—, antes de virar-se e sair da enfermaria com a mesma pressa, murmurando apenas um “Preciso fumar. Vê se dorme ou eu chamo o Chopper” antes de apagar a luz e fechar a porta atrás de si com um controlado baque.
Zoro suspirou, seu corpo subitamente mais pesado do que antes.
Pelo menos ele havia assumido certo e aquilo morreria ali.
E, conhecendo o cozinheiro, ele continuaria a agir da mesma forma de sempre para evitar questionamentos dos demais, o que também estava bom o suficiente para o espadachim que não queria que as coisas ficassem esquisitas entre eles, muito menos que os outros o enchessem o saco com perguntas.
Bufando, mas ainda satisfeito com a deliciosa janta, Zoro deixou-se cair no travesseiro, ajeitando-se em uma posição confortável e semi-coberta pelo lençol, porém, ao invés de fechar os olhos e já tentar voltar a dormir —aproveitando que todo o pesadelo havia desaparecido de sua mente, inclusive o pavor que havia despertado—, ele ficou encarando o teto, enxergando apenas sombras naquele breu, focando-se no suave e esporádico movimento delas, assim como no balançar tranquilo do navio e nos sons das baixas ondas quebrando contra o casco.
Não ganhara nada com sua confissão assim como imaginara que não iria, mesmo assim não arrependia-se porque era a verdade, plena e simples, e Zoro não era do tipo de guardar as coisas para si, pelo menos não coisas que importavam ou que não fazia sentido serem mantidas.
Não duvidava, entretanto, de que Sanji assumiria —ainda mais depois do descontrole com seus feromônios— ser tudo por causa do gênero secundário de ambos, que Zoro não estava pensando com clareza, apenas deixando seu alfa hormonal falar mais alto. Contudo Zoro sabia que seria a maior estupidez de todas e não teria ressalvas em falar isso para o cozinheiro.
Que ele era estúpido.
Porque era exatamente isso o que ele era, não? Estúpido.
Além de muitas outras coisas insuportáveis que deveriam ser um repelente para Zoro.
Exceto que não eram.
Não quando Sanji também era gentil, prestativo, habilidoso, charmoso (quando não estava sendo um tarado), confiável, forte, resiliente, obstinado, seu igual em todas as formas que importavam. Sem contar que fazia a melhor comida que Zoro já provara e tinha fortes e incríveis pernas que não acabavam mais.
Considerando tudo, Zoro não podia dizer ter ficado surpreso quando percebeu sua atração pelo cozinheiro ao vê-lo dançar completamente livre e desinibido ao redor da enorme fogueira no céu de Skypiea.
É fato que havia sido eletrocutado além da conta e isso poderia ter, de alguma forma, influenciado seu julgamento no momento, contudo nunca questionara porque não parecera nada além de inevitável.
Tão inevitável quanto o fato de que nunca seria correspondido, o que estava tudo bem.
Afinal, a ambição de Zoro era grande e perigosa demais para ter qualquer coisa tão fútil quanto romance interferindo em algum nível ou grau.
Zoro sequer percebera ter adormecido até abrir confuso os olhos com um pouco de baba começando a escorrer do canto da boca, franzindo o cenho por perceber ainda estar no meio da noite, então o que poderia tê-lo acordado?
Seu pescoço estalou de leve quando virou a cabeça rápido demais em direção à porta ao ouvi-la fechar com um suave clique. A enfermaria estava muito escura, com as luzes das estrelas e da lua parecendo terem diminuído em intensidade desde sabe-se-lá quanto tempo atrás, o que diminuía a quantidade de sombras e, mais ainda, diminuia as chances de identificar qualquer elemento fora do normal. Entretanto, Zoro tinha certeza de não estar mais sozinho e, mesmo que o cozinheiro tivesse passos silenciosos como um gato, não estava fazendo nada para disfarçar seu característico cheiro de frutos do mar defumados recoberto por um forte feromônio muito doce se comparado aos que exalava antes e, apesar deste ainda ter uma pitada de ansiedade, tinha algo mais intenso e atrativo que causou uma quente agitação em sua barriga.
Zoro não disse nada, nem se mexeu e fez um grande esforço para manter seus feromônios neutralizados, caso contrário, poderia não descobrir as verdadeiras intenções de Sanji ali. Era possível que o cozinheiro pensasse ter esquecido algo e, ao perceber que não, iria embora em um instante e Zoro poderia voltar a dormir sem delongas.
Todo o odor atraente do cozinheiro quase sufocou o espadachim quando ele parou logo ao lado da cama, seu próprio calor corporal tornando-se perceptível de tão perto que estava.
Zoro travou a respiração e esperou, ciente dos olhos do outro homem em si, mesmo que tivesse fechado os próprios ao perceber a aproximação dele. Uma mão bem cuidada de dedos esguios tocou o lado de seu rosto, acariciando a pele da bochecha com o dedão enquanto os demais roçavam no cabelo e orelha, tão leve quanto uma pena, mas bastou para acelerar tanto o coração de Zoro que o ecoar dos batimentos chegava na garganta.
— Zoro… — sussurrou quase que em um cantarolar, a pressão dos dedos ficando mais firme até a palma segurar a mandíbula. O rosto de Sanji estava perto o suficiente do dele para sentir o hálito roçar seu nariz e Zoro reconheceria o cheiro de saquê em qualquer lugar. — Eu sei que você ‘tá acordado.
Zoro abriu os olhos e, mesmo naquele breu, encontrou com os do Sanji o encarando e eram os reais olhos dele; aqueles grandes e abertos que sempre carregavam um contagiante brilho ao falar sobre o All Blue, não os olhos mais fechados, estreitados forçadamente para parecer desinteressado.
Para tentar adivinhar quão confortável Sanji estava em qualquer situação, Zoro encontrava o primeiro indício no formato de seus olhos: quanto mais parecidos com os de Luffy, melhor.
Como era o caso agora.
— ‘Cê bebeu? — sussurrou de volta, a voz meio grogue, mas tentando não soar acusatório apesar do cenho um pouco franzido.
Sanji soltou um curto riso pelo nariz, seu dedo acariciando a bochecha com mais firmeza causando um arrepio na espinha de Zoro.
— Foram só três golinhos, ainda ‘tô lúcido, só precisava de um pouco de coragem.
Porque ele não estava atropelando as palavras nem falando arrastado, Zoro acreditava, afinal, um Sanji bêbado era nitidamente bêbado.
Contudo…
— Um pouco de coragem pra quê?
Os lábios de Sanji eram macios e carregavam um forte gosto de saquê ao encostarem nos seus, esmagando-os e fazendo Zoro paralisar com os olhos arregalados, fitando a sobrancelha encaracolada mais de perto, seu coração parecendo prestes a explodir em cada canto do seu corpo enquanto perdia o controle de seus feromônios que dominaram o ambiente em um segundo, respondendo aos do cozinheiro.
Entretanto, Zoro não conseguiu fazer nada a não ser se deixar ser beijado, apreciando a maciez e firmeza da boca do outro mexendo contra a sua, a mão alva puxando-o mais para perto, buscando uma reciprocidade que não vinha porque o espadachim estava estupefato demais com o fato de que Sanji o estava beijando.
Sanji bebera um pouco de álcool para reunir coragem para beijá-lo.
E Zoro só estava ali parado como um idiota.
Inevitavelmente, Sanji parou o beijo, afastando o rosto e as mãos do espadachim, seus olhos arregalados carregando tanta incerteza e vergonha que Zoro poderia se auto dar um soco no nariz.
— Eu-eu não devia… eu pensei, eu-. — gaguejou começando a inclinar-se para trás, uma das mãos entre as mechas de seu cabelo. — Esquece que isso acont-.
— Não, — grunhiu com mais raiva de si do que qualquer coisa por ter manchado o feromônio gostoso de Sanji com azedume de nervosismo e não pensou em agarrar-lhe o braço e puxá-lo de volta, segurando o rosto do loiro com ambas as mãos quando ele veio sem esforço e beijando-o como devia ter feito há poucos segundos.
Um sorriso despontou por um instante na boca do espadachim quando Sanji enfiou ambas as mãos em seu cabelo verde, puxando-o para mais perto ao retribuir o beijo sem hesitação, o cheiro azedando voltando a ser puramente doce e convidativo, o único doce até o momento que já dera água na boca de Zoro. Quando a língua de Sanji começou a pressionar contra seus lábios, ele sequer hesitou em parti-los, deixando o loiro aprofundar o beijo o quanto quisesse, o que provou ser maravilhoso e levou Zoro a enfiar a língua na boca do outro também, sorrindo ainda mais abertamente entre o beijo quando isso levou a uma pequena e prazerosa disputa entre eles.
— Você é insuportável. — Sanji resmungou ofegante contra a boca de Zoro ao parar o beijo, então puxou com força o cabelo dele, provocando uma dor prazerosa no couro do espadachim que atravessou toda a coluna.
Zoro forçou a cabeça de volta, até encostar os lábios contra a bochecha do loiro e rebater:
— E ‘cê é um pervertido.
Não tinha certeza de quem iniciara o beijo novamente, porém ele escalou mais rápido de intensidade e, quando percebeu, Sanji já estava de joelhos na cama ao seu lado e, mesmo assim, ainda não parecia perto o suficiente. Uma mão desceu para a cintura esguia, puxando-a para si enquanto a outra se enfiava ainda mais fundo nas mechas loiras, tombando a cabeça para conseguir mais acesso a boca, explorando cada canto que conseguia alcançar. Zoro poderia jurar estar saboreando aquele feromônio adocicado do cozinheiro com o paladar, o que só estava aumentando um outro tipo de fome em seu cerne e em seu abdômen inferior. Enquanto isso, as mãos de Sanji desciam do cabelo verde para as costas largas, escorregando exploratórias para os braços e então para o peito, onde ficaram e começaram a cuidadosamente empurrá-lo para trás.
Zoro soltou contrariado a boca do cozinheiro para arfar, resistindo ao empuxar em seu peitoral.
— Que ‘tá fazendo?
— Você ‘tá se recuperando, não pode fazer muito esforço.
Zoro estalou a língua em descaso, fazendo força para ir contra Sanji, para permanecer sentado ou talvez até derrubar Sanji na cama para que pudesse ficar por cima. A ideia de ter o loiro embaixo de si para que pudesse explorar e descobrir o que mais era gostoso além de beijá-lo na boca…
— Sobrancelhas-.
— Zoro, não. — Afastou o rosto para evitar a investida do outro, o ângulo do encaracolado da sobrancelha mudando ao franzir o cenho. — Se não me obedecer, vou sair daqui.
— Mas eu ‘t-.
— Irei me sentir mal se te machucar, — confessou em um tom tão vulnerável que Zoro parou de resistir, travando a mandíbula para impedir-se de soltar um comentário que de certeza os conduziria a uma discussão. Percebendo sua desistência, não demorou para Zoro conseguir notar um sorriso se abrindo nos lábios do cozinheiro em meio às sombras e, no instante seguinte, ele estava subindo em seu colo, uma perna em cada lado de seu quadril, curvando para encostar a testa na sua, ambos tentando controlar as respirações arrítimicas e pesadas. Zoro não hesitou em envolver quase toda a cintura dele com ambas as suas mãos, uma realização que fez seu próprio pau pulsar em interesse quase tanto quanto o fato de conseguir sentir o contorno já duro do de Sanji contra sua barriga. Porque é claro que aquele pervertido se excitava fácil. — Se… se quiser que eu pare, é… É só falar. — Aquela hesitação e sutilíssimo tremor em sua voz eram tão errados em Sanji que um contido grunhido reverberou no peito de Zoro e suas mãos o apertaram com ainda mais firmeza, o puxando para mais perto.
— Então continua, — murmurou quase ordenando contra os lábios inchados do cozinheiro e o barulhinho de contentamento que escapou da garganta dele encheu o peito de Zoro de orgulho.
Um orgulho de alfa por ter tranquilizado e assegurado seu ômega inseguro.
O corpo de Zoro vibrava com o desejo de esfregar suas glândulas contra as de Sanji para espalhar o máximo possível seus próprios hormônios, marcando-o com seu cheiro e o acalmando ainda mais no processo, mostrando de uma das formas mais íntimas e primais o quanto era desejado e querido. Contudo, Zoro tinha anos de proficiência treinada para controlar e ignorar seus instintos mais primários, instintos esses que majoritariamente eram culpa de seu segundo gênero, então ele não fez nada do que seu corpo clamava —não marcaria Sanji sem que ele pedisse primeiro—, apenas deixou-se ser beijado de novo e beijou-o de volta com a mesma intensidade.
Uma intensidade que nunca pensara que ansiaria porque nunca imaginara que trocar um beijo com seu rival e companheiro poderia ser tão prazeroso quanto lutar com ele, ciente de que não precisava conter-se porque eram iguais.
— Zoro. — Sanji gemeu contra a boca dele enquanto mordia e puxava seu lábio, fazendo-o arfar com a quente vibração que atravessou seu corpo, que deixou seu membro muito mais interessado no que estava acontecendo ali entre eles e sua mente mais nublada, aos poucos, mas certamente sendo tomada pelo desejo ardente de ambos seus feromônios colidindo e pesando no ar.
Em retaliação, Zoro soltou seu lábio e baixou o rosto para beijar a pele pálida, começando da mandíbula marcada e descendo para o longo e elegante pescoço, revezando entre sugar e dar mordidas fortes o bastante para marcarem por hora, mas não machucarem. A forma como Sanji começou a mexer o quadril em seu colo e soltar seu nome repetidas vezes em breves arfadas motivou Zoro a continuar com aquilo, a passar a língua por toda a extensão da glândula da garganta do loiro, o que o deixou bêbado com o feromônio tão direto e intenso do ômega, ainda mais quando este estremeceu em seus braços, pendendo a cabeça para trás para dar-lhe ainda mais acesso. Zoro não hesitou em lamber a glândula do outro lado, as suas próprias inchando com ainda mais hormônios em resposta, enquanto seu pau endurecia por completo, pulsando com a tentadora ideia de ser esfregado em todas as deliciosas glândulas do ômega e ficar ensopado com o cheiro dele, deixando Sanji marcado com o seu em troca.
Mesmo inebriado no odor e hormônios de Sanji que gritavam a necessidade dele de ser consumido por inteiro e com um espesso nevoeiro em sua mente, criação de seus próprios hormônios ansiando consumir, Zoro ainda controlou-se, mantendo-se em seus princípios e parando de abusar das glândulas da garganta para dar atenção ao pomo-de-adão, sugando a cartilagem proeminente antes de começar a puxar a gola da camisa do pijama para baixo com a intenção de alcançar a clavícula.
Zoro sobressaltou-se quando Sanji deu um tapa em sua mão.
— Não estraga a minha roupa, — reclamou, a voz afetada, a respiração saindo com notável dificuldade, e empurrou-o de leve com uma mão em seu esterno, descendo a outra até a barra da camisa onde começou a puxar para cima. Ao perceber suas intenções, Zoro não hesitou em ajudá-lo até que jogasse a peça para o lado e suas mãos envolvessem a cintura agora nua e quente sob seu toque.
Sua língua vibrava para lamber cada canto exposto do cozinheiro.
— Não quer acender a luz? — murmurou, seus dedos acariciando a barriga lisa, subindo pelas costelas até circundar o tórax e descer novamente, desejando poder enxergar o que fazia, poder enxergar Sanji e explorar sua pele e corpo com os olhos também.
Mas Sanji balançou a cabeça, inclinando seu queixo para plantar selinhos nos lábios ao sussurrar “Não precisa” e iniciar outro beijo de fato, trazendo toda a atenção de Zoro de volta para a sua boca enquanto os braços do espadachim o envolviam por inteiro e o puxavam para si. Infelizmente toda aquela bandagem que o cobria quase dos pés a cabeça, anulava um pouco a sensação de pele contra pele, mas só o que Zoro conseguia sentir já bastava para querer sentir mais.
E parecia que Sanji compartilhava do mesmo desejo porque logo as mãos esguias e firmes estavam na barra de sua calça e Zoro contorcia-se como dava para ajudar o cozinheiro a escorregá-la por suas pernas. Seu pau mal batera contra sua barriga e Sanji já estava com uma mão ao redor dele, apertando-o apenas o bastante para causar uma rápida, mas intensa vibração das bolas até a cabeça do espadachim, que grunhiu profundamente jogando a cabeça para trás.
Era a primeira mão além da sua ali, e fazia muito tempo que não colocava sequer a sua própria já que só se masturbara duas vezes na vida —a primeira quando teve sua primeira ereção matinal aos quatorze, agindo sem sequer perceber o que fazia até já ter feito e a segunda não muito depois disso e foi quando decidiu que não valia a pena, que era um desperdício de tempo e energia, então, dali em diante, passou a usar suas esporádicas ereções como mais um exercício de autocontrole e maestria.
De qualquer forma, só ter a mão de Sanji o segurando já era melhor.
— Claro que você fica maior ainda duro, cabeça de alga aparecido, — resmungou baixo entre dentes, circundando a mão no membro e apertando-o um pouco mais antes de passar o dedão pela cabeça, coletando e espalhando o pré-gozo que tinha saído. Zoro pôde apenas inspirar mais fundo, um grunhido reverberando em seu peito.
— Fica me observando no banheiro, é? — Provocou em um murmúrio, sorrindo de canto ao perceber os traços de Sanji contorcendo-se. Tinha certeza de que o rosto dele também enrubescera e Zoro queria ver e lamber todas as partes mais avermelhadas.
Com todos aqueles súbitos e inesperados anseios invadindo a mente do espadachim desde o momento em que fora beijado pela primeira vez, era difícil não começar a ponderar o quanto realmente não ligava para intimidade.
Era provável que fosse apenas coisa de momento, instintivo, então não havia porque Zoro não apenas aproveitar.
— Vai falar que nunca me olhou? — O cozinheiro rebateu, a língua afiada como sempre, a mão firme masturbando-o em um ritmo contido, mas o suficiente para expelir cada vez mais pré-gozo.
— Não sou tarado como você, cozinheiro pervertido. — Apesar de ter escolhido as palavras para provocar, era verdade. Mesmo depois de ciente de sua atração por Sanji, ele nunca o olhara daquela forma, nunca tentara ver além do que lhe era permitido.
Até agora.
Sanji grunhiu, sem tanta irritação quanto geralmente faria, e escorregou a outra mão que explorava o peitoral de Zoro para o cabelo em sua nuca, puxando forte o suficiente para forçar sua cabeça para trás. Antes que Zoro pudesse protestar, no entanto, a boca macia dele estava em sua garganta, beijando toda a extensão exposta, arranhando com os dentes o suficiente para arrepiar e arrancando arfadas do espadachim que voltou a explorar suas mãos pelo corpo do cozinheiro por necessidade de senti-lo, de conhecer todas as suas curvas e contornos, mas também por não querer ficar totalmente à mercê do outro, não quando seus instintos gritavam para ele fazer coisas que jamais pensara em sua vida.
Coisas como dobrar Sanji ao meio e enterrar-se fundo nele até explodir dentro, estufando-o com seu sêmen, com os dentes rasgando a pele entre seu pescoço e ombro.
A mera ideia quase o fez gozar na mão de Sanji que, ao perceber isso, rapidamente apertou a base de seu pau com um pouco mais de força do que deveria, enquanto levara a outra mão até a glande para pressioná-la também. Zoro emitiu um curto sibilo de dor que fez Sanji soltá-lo de imediato.
— Desculpa, — sussurrou segurando a mandíbula de Zoro com ambas as mãos, ajeitando-o para encostar a testa contra a sua, os lábios roçando ao continuar. — Mas a culpa é sua por quase terminar rápido demais.
Zoro podia rebater ou xingá-lo, dar início a mais uma discussão ali mesmo, contudo sua fome estava em um nível que não conseguia mais negar nem postergar, por isso agarrou a nuca do loiro com uma mão e esmagou sua boca na dele, a sua já aberta com a intenção de devorá-lo e assim o fez, deleitando-se nos curtos gemidos que Sanji não conseguia não soltar enquanto voltava a rebolar em seu colo, friccionando seu pau coberto contra o exposto de Zoro. Então Sanji ergueu um pouco mais o quadril, ajeitando o ângulo até estar esfregando a parte abaixo de seu pau, onde sua calça parecia ensopada com um vão quente sugando o material. Quando o membro de Zoro encaixou-se ali, o rebolar de Sanji tornou-se mais desesperado.
— Calma, calma. — Foi a vez de Zoro controlá-lo, uma mão em sua cintura parando o movimento enquanto o loiro arfava quente em sua bochecha, seu corpo estremecendo a cada poucos segundos, os feromônios intoxicantes fazendo Zoro perder a noção de onde sequer estava. Nada mais além de Sanji importava, nada além de enterrar-se no calor dele, de fazê-lo chorar de prazer e estufá-lo até estar com o cheiro de Zoro impregnado, até estar redondo, carregando o—.
Não, instintos primitivos idiotas.
— Zoro, zoro, — gemeu com a cabeça enfiada na curva do pescoço do outro e, quando passou a língua quente e molhada pela glândula inchada, foi a vez do espadachim estremecer, com uma quantia ainda maior de pré-gozo saindo e suas unhas curtas fincando fundo na pele da cintura estreita.
— ‘Tô aqui, — sussurrou contra a orelha do outro, espalhando beijos rasos no cabelo já molhado de suor enquanto as mãos agarravam a barra da calça de Sanji, puxando-a para baixo e recebendo certa ajuda mesmo que o cozinheiro estivesse focado em deixar sua glândula completamente lambida, também esfregando o nariz enquanto esfregava como dava o corpo no de Zoro.
Zoro nunca pensara muito sobre o cio dos ômegas, apenas sabia que era algo que existia assim como os ruts dos alfas, contudo jamais teve qualquer interesse, nem mesmo nas vezes que, por um motivo ou outro, sentiu o cheiro e os feromônios de um ômega no cio. Em todas essas vezes, seu corpo respondera um pouco ao estímulo, mas nada que Zoro não pudesse ignorar e, na mesma linha, sempre usava seus ruts como desculpa para ter meditações mais intensivas.
Agora, no entanto, com a forma com que Sanji estava agarrando-se a ele, vazando feromônios de excitação e desesperado pelo alfa abaixo de si, Zoro não pôde evitar imaginar como seriam os cios de Sanji. Tendo uma grande ideia da líbido do cozinheiro pervertido, não duvidava de que ele ficava insaciável beirando a insuportável.
Bem, se fosse o caso, Zoro sempre poderia treinar ainda mais sua estamina.
Com a calça e a cueca juntando-se as demais peças de roupa no chão da enfermaria, ambos estavam finalmente nus e o calor emanando de Sanji ainda mais intenso contra a pele de Zoro, assim como era ainda mais óbvio quão excitado estava, com a coxa e virilha do espadachim sendo rapidamente embebidas pelo lubrificante natural que escorria do buraco do cozinheiro.
Por não conseguir enxergar muito bem, Zoro resolveu fazer como Sanji e colocou a mão entre eles, segurando com cuidado o pênis menor e muito endurecido do ômega, já notando a falta do bulbo e, ao descer um pouco mais a mão, a falta das bolas. Ao invés disso, deparou-se com algo quente, macio e molhado que facilmente abriu-se como lábios com a mínima pressão de seus dedos, dando a Zoro o vislumbre de quão impossivelmente mais quente e molhado era dentro, arrancando de Sanji um gemido mais profundo do que todas as outras vezes.
Zoro não era ignorante, havia aprendido um pouco sobre anatomia no dojo e as diferenças de homens e mulheres, alfas, betas e ômegas, assim como também já vira mulheres e ômegas sem roupas. Ele já tinha visto Sanji pelado, só nunca dera muita atenção. Portanto, sabia da existência de vaginas e como mais ou menos era a aparência delas no geral.
Zoro só nunca imaginara que poderiam ser tão quentes e macias, com um cheiro de dar água na boca aumentando a pulsação de seu pau e seu anseio em explorá-la mais a fundo.
— Zo-zoro, por favor, — arfou contra seu pescoço, ambos os braços envolvendo-o pelos ombros enquanto continuava a girar o quadril, fazendo os dedos de Zoro deslizarem por toda a extensão da lábia. Espalhando beijos pelo ombro exposto do outro homem, Zoro curiosamente deixou dois dedos escorregarem mais para dentro, explorando com cuidado até achar de onde vinha todo aquele lubrificante, então pressionou contra o buraco. — Zoro.— Sanji vibrou em seu colo quando um dedo entrou, fazendo o pau de Zoro pulsar com a ideia dele estar lá dentro no lugar.
Zoro queria explorar mais, enfiar mais dedos, enfiar a boca, entender como funcionava, entender como Sanji gostava de ser tocado e o que lhe daria mais prazer. Contudo não seria ali naquela primeira vez, não com como os movimentos dele estavam restritos e com o cozinheiro insistindo para que ele não se mexesse demais nem se esforçasse.
Zoro ainda descobriria os segredos de cada curva do loiro —a ânsia em saber como satisfazer ao máximo seu ômega crescendo exponencialmente dentro de si—, mas, dessa vez, se contentaria em apenas ser guiado por Sanji.
— O que quer, curly? — sussurrou no ouvido, seu dedo entrando e saindo com cuidado do buraquinho, seguindo o ritmo dos movimentos do quadril do loiro.
— Seu pau dentro de mim, — respondeu sem hesitar, uma mão voltando a segurar a ereção com firmeza, arrancando um gemido do espadachim. A boca de Sanji foi para sua mandíbula, deixando beijos molhados até chegar a orelha e murmurar. — Acha que consegue me aguentar cavalgando em você?
Um arrepio atravessou a espinha de Zoro que sorriu de canto, presunçoso.
— Só se conseguir cavalgar até estar estufado com meu gozo.
Soltando um barulhinho de irritação apesar do sorrisinho perceptível nos lábios, Sanji afastou-se o suficiente para posicionar-se melhor, guiando o pau do outro até que se posicionasse na entrada enquanto ambas as mãos de Zoro voltavam a segurar a cintura, os dedões acariciando a pele quente, contornando os ossos proeminentes do quadril forte, os olhos fixos no que acontecia entre eles, tentando enxergar além das sombras e contornos. Então Sanji começou a sentar com calma, uma mão no ombro do espadachim enquanto a outra estava firme na base, ainda guiando o pau para dentro do buraco que só com poucos centímetros dentro já parecia impossivelmente apertado, pesando a respiração de Zoro, que segurava-se com todo o seu autocontrole para não estocar com tudo para cima e entrar de uma vez no cozinheiro.
A mão de Sanji tremeu em seu ombro e sua respiração falhou quando a glande entrou por completo. Esforçando-se para não trincar a mandíbula, Zoro enfiou uma mão nas mechas loiras, puxando o rosto para um pouco mais perto do seu e murmurou, a voz vacilante:
— Curly, se for… se for te machucar, não… não prec-.
— Cala a boca. — Interrompeu com um chiado irritado, calando de vez a boca de Zoro ao beijá-lo e descer de uma vez o quadril, até as pélvis estarem rentes e o pau completamente dentro. Ambos arfaram na boca um do outro, os corpos estremecendo, a respiração travando e Zoro agora focando todo o seu autocontrole em não gozar ali mesmo porque Sanji era deliciosamente quente e apertado e estava soltando ainda mais lubrificante e pulsando ao seu redor e Zoro nunca mais queria sair dali.
— Porra, cook, — grunhiu apertando os dedos na pele da cintura e na cabeça, puxando-o mais para perto, respirando pesado na boca aberta de Sanji.
— Zoro, — gemeu com o peito todo, suas mãos cravando nos ombros do espadachim que queria ter um Disco Sonoro para gravar todos os sons que estavam saindo de Sanji e assim poder ouvi-los de novo sempre que quisesse porque eles estavam fazendo coisas deliciosas com sua mente.
Inebriado por Sanji em todos os sentidos, Zoro escorregou sua mão para o pescoço dele, onde começou a esfregar a glândula de seu pulso contra a da garganta, misturando ainda mais seus feromônios e fazendo ambos seu pau e buceta dele pulsarem em prazer. Sanji soltou um barulhinho de aprovação que borbulhou no peito do espadachim e então ele o estava beijando de novo, a língua quase descendo pela garganta enquanto começava a mexer o quadril em movimentos circulares e experimentais.
Não demorou muito para Sanji começar a usar a força em suas pernas para erguer-se até ter apenas a glande dentro e então sentar com um rebolado que fez os olhos de Zoro girarem para trás e um grunhido reverberar em seu peito.
Logo, Sanji estava quicando em seu colo, as mãos arranhando seu ombro e peitoral, a cabeça jogada para trás e a boca aberta deixando escapar os gemidinhos mais obscenos que iam das bolas de Zoro até o topo de sua cabeça como o mais delicioso dos arrepios.
— Porra, Zoro… Zoro, ah… acho que tô… ah sentindo você bater no meu útero. Porr-ah!
Por algum motivo, ouvir aquilo causou um curto-circuito de prazer tão forte no cérebro de Zoro que ele estocou para cima sem perceber, arrancando uma arfada surpresa de Sanji. Mordendo o lábio e fincando as unhas curtas na carne, Zoro fez de novo e de novo e de novo, parecendo afundar-se cada vez mais fundo no cozinheiro, as paredes macias apertando-o e sugando-o, lubrificante molhando cada vez mais suas bolas e coxas. Até Sanji endireitar-se e usar toda a força de suas pernas para parar com o movimento do espadachim que, pela primeira vez, odiou o fato do cozinheiro ter força superior à dele na parte inferior do corpo.
— O que pensa… ah, que tá fazendo?
— Te fudendo, — grunhiu o óbvio, apertando a cintura e tentando fazer o cozinheiro voltar a mexer, mas sem sucesso.
Suas palavras o fizeram vibrar em seu colo, a bucetinha se fechando um pouco mais por um segundo, porém ele permaneceu resoluto.
— Você não ‘tá em condições pr-.
— O cacete que eu não t-. — Uma mão suada tapou sua boca e Zoro pôde apenas encarar a sombra do rosto do cozinheiro.
— Deixa de ser teimoso e me deixa fazer isso, — pediu e, quando não teve qualquer resposta, pegou uma das mãos de Zoro nas suas e aproximou o rosto até encontrar as testas, sussurrando: — Me deixa cuidar de você.
Os feromônios que ele liberou foram golpe baixo, mas Zoro não resistiu contra eles, deixando-se relaxar sob o cozinheiro para que ele soubesse que poderia retomar o controle sem resistência. O sorriso que pôde perceber abrindo-se no rosto dele foi recompensa o suficiente e o tenro, mas profundo beijo que recebeu após ainda mais.
Então Sanji voltou a girar o quadril retomando a cavalgada aos poucos sem quebrar o beijo, explorando com calma a boca de Zoro enquanto deixava a sua ser explorada, ambos engolindo as arfadas e gemidos um do outro. Zoro aproveitou os movimentos mais calmos para apertar o quadril com a mão que Sanji não segurava, descendo-a com a palma aberta pela coxa grossa, os músculos tão fortes e letais tensionando e relaxando de forma rítmica, não vacilando nem quando Zoro começou a apertar toda a extensão, circundando-a e decorando sua textura, suas curvas; a língua vibrando para lamber ambas e os dentes para marcá-la. Mais para baixo, a panturrilha era tão admirável quanto, com os pelos mais grossos apenas criando certa resistência e fazendo uma suave cócega na palma.
Quão forte aquelas pernas o apertariam se estivessem ao redor de sua cintura? Ao redor de sua cabeça? Quanto tempo aguentariam dobradas e abertas, expondo tudo o que o cozinheiro tinha para seu rival?
Zoro foi tirado de seus pensamentos por Sanji subitamente acelerando a cavalgada, voltando a quicar como fazia antes, deixando-se ser penetrado cada vez mais fundo e fazendo as bolas do espadachim começarem a se contrair, o bulbo começando a dar sinais de que incharia.
Não era justo quão gostoso Sanji era, quão atraído Zoro era por ele com toda aquela força e poder vibrando sob a pele, moldando contra a do espadachim como um imã. Um ímã fodido que não sabia se os atraia ou repelia, mas que só fazia a fricção entre eles ser ainda mais viciante por isso, seja quando lutavam juntos, quando brigavam entre si ou agora, com seus corpos conectados dando prazer um ao outro, misturando seus feromônios e afogando a enfermaria na junção de seus odores trepidando em êxtase.
Sanji era a garrafa de saquê mais doce que Zoro precisava consumir para aplacar sua sede.
Contudo, tudo o que podia fazer era cravar as unhas na coxa, apertar a mão que segurava a sua e sugar lábios e língua que tentavam fugir do seu alcance graças ao movimento violento do corpo, engolindo todo barulhinho que escapava da boca do cozinheiro que parecia desesperado em busca do próprio ápice.
— Zoro, — gemeu mais coerentemente, soltando a mão da dele e arfando de uma forma um tanto mais aguda quando um outro som de pele contra pele surgiu no ambiente. Bastou apenas uma olhada para baixo para entender que Sanji começara a masturbar o próprio pau em sincronia com suas sentadas. Os olhos de Zoro reviraram ao imaginar a visão que o cozinheiro deveria estar no momento, um grunhido irritadiço escapando do peito pelas luzes apagadas; um grunhido que Sanji ignorou e que foi rapidamente substituído por um profundo gemido em resposta ao pedido arfante do loiro: — Me ata… ah, me ata, Zo-zoro, por… a-ah, por favor eu… eu quero senti-aah.
Zoro tentou responder com um “Tudo o que quiser, curly”, mas saiu em um grunhido incompreensível enquanto seu quadril ia para cima frenético de encontro com o de Sanji, suas bolas se contraindo e subindo mais, com o bulbo inchando até o nó se formar, prendendo o pau dentro da buceta que pulsou mais forte antes de ser inundada com o gozo explodindo de Zoro.
Diferente das duas vezes que se masturbara, Zoro podia jurar ter perdido a consciência por um segundo, voltando a si com as pernas tremendo e ainda liberando sêmen quando a buceta ficou impossivelmente mais apertada, pulsando quase tão rápido quanto as batidas de seu coração enlouquecido e Sanji pareceu convulsionar em seu colo, o quadril vacilando e um longo gemido preso na garganta.
O forte cheiro do orgasmo de Sanji que invadiu todos os seus sentidos poderia ter provocado outra ereção em Zoro se ele já tivesse parado de gozar.
Ele tinha ouvido falar algo sobre a ejaculação de um alfa atado em um ômega ser mais longa, mas puta que pariu.
Quando finalmente parou e Zoro encontrou-se apenas mais relaxado e sonolento do que o normal, ele envolveu os braços ao redor de Sanji, deitando-o com cuidado contra seu peito enquanto o cozinheiro ainda sofria com espasmos e soltava pequenas arfadas. Com o rosto tão perto do seu, ele quase podia ver em detalhes a expressão de extasiado do outro, ambos os olhos visíveis e fechados, suor grudando toda a franja em sua testa e têmpora, um sorrisinho bobo no canto de sua bochecha que Zoro tinha certeza ser igual ao que tinha em seu próprio rosto. Sem pensar, ele deixou um braço o segurando, acariciando a barriga —que parecia um pouco suja com algo espesso que só podia ser ejaculação do cozinheiro—, e ergueu o outro para encaixar a mão na mandíbula, acariciando os pelos quase inexistentes do queixo, então puxando-o para plantar um selinho nos lábios inchados e molhados. Um selinho que se tornou em dois, três, quatro, cinco, seis, até Sanji interromper ao começar a rir de leve, um riso que reverberou como orgulho no peito de Zoro.
— Nunca iria imaginar que o grande Roronoa Zoro, demônio do East Blue, fica todo pegajoso depois de transar, — provocou em um sussurro, deixando-se ser abraçado enquanto espalmava uma mão contra o peitoral do espadachim.
Zoro estalou a língua, porém, ao invés de provocar de volta, apenas confessou:
— Também não imaginaria.
As sobrancelhas de Sanji franziram enquanto Zoro acariciava sua mandíbula, a mão subindo para a orelha, tirando o cabelo suado da frente antes de começar a contorná-la com o dedão.
— Como assim? Não ficou pegajoso nas outras vezes?
— Que outras vezes?
Zoro parou confuso quando Sanji enrijeceu em seu colo, voltando a fitar o rosto do loiro só para encontrar os olhos arregalados.
— Essa foi sua primeira vez?! — Quase berrou em um sussurro agudo que forçou Zoro a afastar um pouco a cabeça ao ter seus tímpanos machucados.
— E o que é que isso importa? — Rebateu um pouco mais irritadiço, soltando a orelha de Sanji para enfiar o dedo mindinho na sua própria.
Contudo, ao invés de começar a falar sem parar sobre alguma besteira da importância da “virgindade” ou de quão “sagrado” era perdê-la ou qualquer outra abobrinha que era a cara do cozinheiro acreditar, Sanji apenas ficou quieto, os olhos para baixo e o lábio entre os dentes, indicando seu desejo por um cigarro.
— Eu só… fiquei surpreso, — murmurou sem ainda olhá-lo, a mão esguia fazendo um suave carinho em seu peitoral. Porque Zoro sabia que ele tinha mais a falar, esperou. — Que eu saiba, alfas não costumam permanecer virgens por muito tempo, já que vão atrás de qualquer ômega ou beta que estiver a fim de satisfazê-los em seu primeiro rut. — A risadinha de descaso que Zoro soltou fez Sanji encará-lo com os olhos endurecidos; então ganhou um leve tapa no peito. — Mas deveria imaginar que você é quase tão estranho quanto o Luffy.
— Nem todos somos pervertidos como você, curly.
Quando Sanji enrijeceu novamente ao invés de começar uma discussão, Zoro encarou-o com a sobrancelha erguida. Agora ele parecia dedicado a olhar para qualquer lugar menos para Zoro e seu lábio sofria ainda mais com a pressão dos dentes.
— Ei, que que é?
— Nada, é só que… eu… eu não fiz nada que você não queria, né?
Porque aquela ideia era ridícula demais para uma risadinha de descaso e Sanji parecia de fato preocupado, Zoro forçou-o a olhar para ele e respondeu sério:
— Nunca faço nada que eu não queira.
Sanji assentiu, seu corpo relaxando em alívio e, quando Zoro sorriu pequeno, ele retribuiu, voltando a acariciar seu peito. Zoro voltou a encaixar a mão em sua mandíbula e puxou-o para mais perto, dando um beijo em sua boca, então no queixo, descendo para o pescoço onde inspirou fundo os feromônios bem mais calmos e contidos que agora pareciam misturados com o cheiro dele, de Zoro.
Um grunhido satisfeito escapou de sua garganta e, sem pensar, começou a puxar Sanji para ainda mais perto, enfiando o rosto no pescoço dele ao colocá-lo totalmente em cima de si de novo. Sanji tentou resistir e chacoalhar-se, porém parou com uma baixa exclamação de dor quando foi lembrado do nó que ainda os prendia, impedindo ambos de mexerem as pernas, o que não era a situação mais conveniente.
— Demora muito pro nó sair? — questionou contra o pescoço do loiro, que bufou ao desistir de lutar contra os braços que o seguravam, repousando a bochecha contra a cabeça de Zoro ao invés.
— Depende do alfa e da situação.
— Hm, mas ‘cê não ‘tá confortável, né?
— Não muito, ajudaria se eu pudesse pelo menos esticar as pernas.
Parando apenas um segundo para considerar suas posições, Zoro segurou uma coxa de Sanji em cada mão e começou a puxá-las para trás, instigando o loiro a mexê-las. Sanji começou a reclamar, mas soltou um gritinho surpreso ao invés quando Zoro virou ambos de lado assim que teve sucesso em desencaixar os joelhos do outro firme no colchão. As pernas de Sanji se esticaram na hora contra as suas, um suspiro de alívio escapando da boca dele enquanto Zoro os ajeitava de forma mais confortável, mantendo o ômega abraçado contra seu peito, com as pernas intercaladas de forma que pelo menos uma de cada estava no meio, mas com as pélvis o mais unidas o possível para que seu pau ainda inchado com o nó não machucasse nenhum dos dois. O mais importante, no entanto, era que Zoro podia enfiar o rosto no pescoço de Sanji como estava fazendo, de modo confortável o suficiente para adormecer ali sem problemas e o loiro não parecia se opor muito a isso, soltando apenas um suspiro e abraçando-o de volta como dava.
— Certo, agora vai dormir, vai. Chopper disse que você tem que descansar bastante, — murmurou enquanto fazia um leve carinho circular em suas costas. Geralmente, Zoro não deixava as pessoas chegarem muito perto de suas costas, muito menos encostar nelas, mas o cozinheiro era uma das grandes exceções, além de ser um dos que mais o ajudava a protegê-la.
— ‘Cê sabe que eu ‘tô bem, né? Não preciso de tudo isso, — resmungou, apesar de já ter o sono nublando sua mente, o seu corpo todo relaxado permitindo isso mais facilmente.
Sanji soltou um curto risinho nasalado.
— Só segue as ordens médicas, Zoro.
E inevitavelmente Zoro o fez, deixando-se ser guiado sem resistência para o mundo dos sonhos poucos segundos depois, o ecoar da voz do cozinheiro falando seu nome seguindo-o até seu inconsciente, junto ao cheiro do ômega em seus braços que, no momento, parecia ser o melhor do mundo.
Quando Zoro despertou sabe-se-lá quantas horas depois, foi sobrecarregado com o cheiro esmagador de cigarro no ambiente, até mesmo tossindo um pouco por causa disso e, ao sentar-se recuperando a consciência, percebeu estar sozinho na enfermaria, com sua calça bem colocada e, até onde podia ver, com tudo livre das evidências do que havia acontecido durante à noite.
Se Zoro ainda não tivesse com Sanji impregnado em seu nariz, língua e pele, uma sutilíssima e bem-vinda “pressão” em seu quadril e uma estrangeira sombra de sensação ao redor de seu membro agora flácido, poderia até acreditar que tudo o que aconteceu não passara de seu sonho mais lúcido.
Só que tinha acontecido. Ele e Sanji haviam transado.
Agora a falta do cozinheiro em seus braços fazia algo incômodo retorcer em seu estômago, arder no céu da boca e pinicar em seu peito.
Conscientemente, Zoro sabia que Sanji tinha tido um bom motivo, afinal, raios de Sol já entravam pela pequena janela da porta, o que significava que já estava na hora ou já tinha passado a hora do café da manhã e o cozinheiro nunca deixaria sua nakama esperando e alimentar a todos sempre seria sua maior prioridade. Contudo, seu instinto idiota de alfa estava gritando algo sobre precisar estar perto de seu ômega, garantir que estava bem, seguro e confortável; garantir que estava feliz e saudável, nas condições ideias para gestar a prole que havia colocado nele na noite passada.
O que era a coisa mais ridícula do mundo, porque Zoro não havia feito aquilo.
Sim, ele sabia do risco intensificado por ter penetrado a vagina de Sanji sem camisinha e ainda o atado com um nó, mas fora o cozinheiro quem pedira tudo aquilo e, se tinha uma coisa que ele era, era cuidadoso e meio bitolado em fazer tudo certo, então com certeza tinha algum jeito de eliminar as chances de qualquer prole existir.
Como sempre, Zoro precisava apenas usar seu autocontrole para ignorar seus instintos inúteis.
Entretanto, não podia negar que de fato queria ver Sanji.
Queria beijá-lo e enterrar o rosto no pescoço dele de novo.
Será que Sanji ainda o deixaria ser um pouco pegajoso?
Provavelmente não na cozinha quando estivesse ocupado preparando algo… e aquele era exatamente o lugar onde Zoro começaria a procurá-lo.
Se pudesse só começar o dia vendo-o e dando um ligeiro beijo na bochecha, com certeza já bastaria para acalmar todo o rebuliço acontecendo dentro de si, fortalecendo sua convicção de que o acontecimento da madrugada havia sido real.
E, talvez, não precisasse ser o único.
Porém, antes que Zoro sequer terminasse de levantar da cama, a porta da enfermaria abriu e um Chopper avoaçado entrou, soltando uma estridente exclamação de surpresa ao sentir o cheiro no ar.
— Zoro! Você estava fumando aqui dentro?
— Quê? ‘Cê sabe que eu não fumo!
— Então por que parece que alguém fumou uma caixa inteira de cigarros aqui? — falava em um tom um tanto agudo enquanto abanava para todo lado um envelope que pegara na mesa.
Dessa vez, Zoro precisava admitir que o garoto não estava exagerando. Dava até para ver um pouco da fumaça. Parecia até que Sanji tentara tacar fogo ali dentro.
Porque raios ele tinha fumado tanto enquanto o outro dormia, Zoro não tinha ideia, mas não havia dúvidas de ser obra dele.
— Pergunta pro cozinheiro, ué.
Chopper parou de abanar o envelope e seus grandes olhos castanhos fitaram o homem arregalados.
— Sanji?! O Sanji sabe que não é para fumar aqui dentro! E o que é que ele estava fazendo aqui?
— Ele veio me trazer a jan-.
— Sanji! — Antes que Zoro pudesse terminar de falar, Chopper já estava atravessando a enfermaria em direção à porta que dava acesso direto à cozinha, berrando o nome do loiro com a voz mais séria que sua pequena e adorável forma padrão o permitia. Zoro apenas soltou um risinho com a perspectiva do cozinheiro estar encrencado antes de seguir o médico, chegando a tempo de vê-lo subindo em uma das cadeiras mais altas da bancada para ficar na altura de Sanji e puxar-lhe a orelha. O cozinheiro soltou uma curta exclamação de dor antes de largar a faca que segurava para esfregar a orelha avermelhando.
O estômago de Zoro revirou-se com um calor gostoso subindo para seu peito e rosto no segundo em que seus olhos recaíram sobre a forma de Sanji.
— Pra que a agressão?
— Porque você fumou na enfermaria sabendo que é proibido! E com o Zoro lá dentro doente pra piorar!
— Ei! Eu não ‘tô doente! — reclamou enquanto aproximava-se do balcão, mas foi ignorado por ambos que continuavam a se encarar.
— Quem disse que eu fumei na enfermaria? — O cozinheiro semicerrou os olhos para o médico, cruzando os braços e deixando a pesca que cortava momentaneamente de lado.
— Você é o único aqui que fuma e a enfermaria está fedendo nicotina, Sanji! Não adianta mentir pra mim! Você sabe quão bom meu nariz é! Muito melhor do que o de vocês! — Os pelos da pequena rena-humana até pareciam um tanto arrepiados de tão estressado que estava, algo que Zoro, Luffy e o próprio cozinheiro eram muito bons em fazer acontecer.
Robin provavelmente daria um cascudo em Zoro se soubesse quão adorável ele estava achando a cena, ainda mais com como as maçãs do rosto de Sanji estavam com um leve tingido vermelho, o que só o fazia ter mais certeza de que aquela cor estivera muito mais forte na noite passada.
E como ele queria ter visto…
— E o seu super nariz sentiu o cheiro de mais alguma coisa? — Sanji pegou ambos Zoro e Chopper desprevenidos com a pergunta, o último suavizando a expressão na hora ao mexer as orelhinhas e o narizinho azul em confusão.
— Hm, não? Só o cheiro pesado de nicotina, por quê?
Ao invés de continuar com a discussão, insistindo na mentira como Zoro pensou que Sanji faria, a expressão dele neutralizou-se em um pequeno sorriso quase forçado e ele só confessou ao dar batidinhas no chapéu do médico:
— Por nada não! E sim, eu fumei um maço inteiro de cigarros lá dentro!
— POR QUE VOCÊ FEZ IS-.
— Porque eu fui levar o jantar do marimo preguiçoso e ele me irritou, então achei que ia ser divertido me vingar dele assim! — Algo contorceu-se dentro de Zoro ao ouvir a explicação dada em uma voz tão indiferente, sua própria garganta parecendo apertar-se, impedindo-o de sequer reclamar da acusação enquanto seus olhos se estreitavam no cozinheiro, que sequer mostrou indício de estar consciente de sua presença ali enquanto calmamente ouvia o sermão de Chopper sobre não poder fumar na enfermaria em hipótese alguma.
Algo incomodava no fundo da mente de Zoro, uma sútil pressão que ele não conseguia nomear ou sequer entender porque estava ali, apenas perceber que era similar demais a quando pressentia um inimigo próximo. A única certeza que tinha, era de que, o que quer que fosse que parecia fora do lugar no momento, tinha a ver com Sanji e o pequeno sorriso plácido que não alcançava seus olhos, fixos demais na pequena rena que continuava a tagarelar sobre os riscos de ser um fumante.
— Tudo bem, Chopper. Prometo que isso nunca mais irá se repetir, tá bom? — Sanji falou por fim em um tom ainda indiferente que fez um desconfortável calafrio atravessar o estômago de Zoro. Foi então que ele também percebeu não estar sentindo nada do cheiro nem de feromônio do ômega, apenas mais cigarro e tão forte que parecia até ofuscar um pouco o que ele sabia ainda estar impregnado em sua própria pele. — Por que então não vai lá tirar o cheiro enquanto sirvo o café da manhã do marimo e termino de limpar todos esses peixes pro nosso almoço? — sugeriu com a voz quase meiga e Chopper não parecia ter nada contra a ideia, já que apenas suspirou e desceu da cadeira, voltando para a enfermaria para fazer exatamente isso.
Enquanto observava o garoto afastar-se balançando a cabeça, como se cansado de ter que lidar com todos eles, foi que a ficha de Zoro caiu:
Sanji sabia muito bem que não podia fumar na enfermaria, tanto que quase o fizera várias vezes na noite passada antes de desistir.
Ele o havia feito de propósito para encobrir o cheiro de sexo que Chopper com certeza sentiria sem dificuldades.
Um pequeno sorriso acompanhado de alívio apareceu no rosto de Zoro com a realização, não pela primeira vez grato por Sanji sempre pensar em tudo porque de fato seria uma experiência muito desconfortável se Chopper descobrisse o que havia acontecido entre eles com apenas uma fungada; não só pela “aula” que o médico com certeza iria quer dar a eles, mas também porque o tal médico tinha apenas 15 anos e um arrepio já subia pela espinha de Zoro só por imaginar a criança sabendo sobre e querendo meter o nariz na sua vida sexual.
Sua atenção foi chamada de volta ao presente e ao cozinheiro quando um prato com pães e ovos foi colocado com um tanto de força à sua frente, fazendo seu estômago roncar pela primeira vez no dia ao ser atingido pelo delicioso cheiro. Zoro não conseguiu impedir seu sorriso de aumentar ao erguer o rosto para encarar o do cozinheiro ao seu lado, pronto para fazer alguma brincadeira e, talvez, aproveitar a proximidade e o fato de estarem sozinhos para roubar um beijo de bom dia, contudo seu sorriso murchou e cenho franziu em confusão ao ver a expressão dura com que Sanji o encarava.
Os lábios, que tinham o beijado com tanto afinco na noite passada, estavam esticados em uma tensa e fina reta, as sobrancelhas encaracoladas profundamente pregueadas em uma carranca, com os olhos logo abaixo rígidos e escurecidos.
Zoro engoliu em seco, passando a língua nos lábios enquanto tentava pensar o que tinha feito de errado.
O que tinha feito para chatear seu ômega?
— Coma antes que esfrie ainda mais, — disse ainda com aquela voz quase robótica, e então não fez mais nada, continuou a encarar o espadachim com a mesma expressão, quase como se esperando alguma coisa.
Zoro limpou a garganta. Ele sabia o quanto Sanji valorizava educação e limpeza e Zoro tinha ficado dormindo como uma pedra enquanto ele cuidava de tudo àquela manhã, então era esse o provável motivo de estar bravo, certo?
— Foi mal não ter ajudado a limpar tudo lá, você podia ter me acor-.
— Não aconteceu nada.
O ar travou na traquéia de Zoro, o cenho franzindo ainda mais.
— O quê?
— Ontem à noite, Zoro… — falou lentamente todas as sílabas, a mandíbula apertando na pequena pausa que deu para curvar-se para mais perto do alfa, a nicotina ficando mais forte quando o hálito bateu contra o nariz ao murmurar com uma firmeza que não dava espaço para dúvidas ou questionamentos. O peso em sua voz e olhar era de finalidade: — Não aconteceu nada. Entendeu?
E, após ter certeza de que Zoro não retrucaria ou protestaria —estava com a língua grande demais presa na garganta para fazê-lo—, Sanji afastou-se, retornando à pia para continuar a preparar os peixes para o almoço, cantarolando baixo uma música em um idioma que o espadachim não entendia.
Com o coração acelerado e pesado no peito, querendo cair em seu estômago enquanto o estômago parecia querer pular pela garganta, Zoro pôde apenas encarar as costas do cozinheiro, a mente nublada demais para pensar, um agudo barulho em seu ouvido como estática causando-lhe uma tontura que logo o obrigou a agarrar firmemente a mesa com ambas as mãos.
O cheiro dos pães e ovos agora o dava náuseas.
A memória de sua língua na glândula da garganta de Sanji enquanto ele gemia seu nome em seu ouvido quase fazendo toda a bile escapar no prato à sua frente.
O cozinheiro pervertido só o tinha usado para sexo.
Ele não sentia o mesmo que Zoro, não era seu ômega.
Não havia significado nada. Não havia acontecido nada.
Zoro engoliu as lágrimas pinicando atrás de seus olhos junto com seu café-da-manhã, deixando o prato e a caneca de café sujos em cima da mesa mesmo antes de sair o mais rápido possível da cozinha, indo direto para a solitude e conforto da gávea onde decidiu que passaria o dia inteiro treinando, foda-se as ordens médicas.
E foda-se o cozinheiro também.
Zoro tinha que focar em ficar cada vez mais forte para proteger sua nakama, ajudar Luffy a se tornar o Rei dos Piratas e se auto conquistar o título de Maior Espadachim do Mundo derrotando Mihawk, não tinha tempo para ômegas loiros de cintura estreita e feromônios viciantes.
Não tinha tempo a perder, nem porque lamentar-se com um coração dolorido devido à rejeição.
Pela primeira vez na vida, o cozinheiro de merda estava certo.
Não tinha acontecido nada.
Notes:
e aí, o que acharam?
espero que tenham gostado e vou AMAR ler nos comentários o que acham que vai acontecer agora e o porquê sanji está agindo assim... 👀
kudos também vão me deixar imensamente feliz!
p.s.: já tenho mais fics de zosanzo e OP postadas se quiserem dar uma olhada :3
Chapter 2: não tenho nada a ver com isso.
Notes:
oii, como prometido, mais um capítulo!!
muito obrigada a todo mundo que deixou kudos e comentou no capítulo passado, fiquei bem feliz por terem gostado e espero que continuem! 🥰
boa leitura!!
(See the end of the chapter for more notes.)
Chapter Text
Infelizmente, para a mente e corpo de Zoro, havia acontecido tudo .
Por mais que ele tentasse ignorar o cozinheiro e esquecer o que havia acontecido, voltando à sua rotina normal de treinos e cochilos, ainda sempre vigilante para manter sua nakama segura, vários de seus cochilos eram assombrados pelos gemidos de Sanji e o som que seus corpos haviam feito ao se encontrarem como um. E, mesmo quando acordado, às vezes até quando focado em um exercício, a lembrança do gosto e do cheiro de Sanji invadiam seus sentidos, forçando-o a se lembrar de como havia sido tê-lo em seus braços.
Não poder apertar o ômega contra seu peito, enfiar os dedos em seu cabelo macio e o nariz em sua glândula enquanto continuava a vê-lo todos os dias se mostrou ser um tipo especial de tortura para Zoro.
Uma tortura que colocava a total culpa em seus instintos primitivos idiotas porque o cozinheiro não era dele para cuidar e proteger, ele sequer precisava de toda aquela palhaçada.
Portanto, Zoro precisava apenas fortalecer o controle sobre seus instintos e logo toda aquela necessidade de Sanji fazendo suas mãos coçarem, peito apertar e pele parecer pequena demais para seu corpo passaria e tudo voltaria ao normal.
Inclusive, a líbido de Zoro voltaria ao normal e esse era um detalhe com o qual ele estava particularmente ansioso para que acontecesse logo já que, desde aquela noite, ele passara a sempre acordar —incluindo acordar de seus cochilos— com uma semi ou completa ereção que demorava a passar e que voltava com força sempre que seu nariz captava o mais fraco dos cheiros de Sanji, o que era ridículo.
Tudo aquilo estava sendo ridículo, então Zoro estava dando seu melhor para ignorar e firmemente controlar seus instintos.
Logo passaria e sua noite com Sanji seria apenas uma distante —e prazerosa— lembrança.
Felizmente, pelo menos, o cozinheiro não o estava tratando diferente quanto a isso, então ninguém da tripulação parecia desconfiar de que algo acontecera, o que ajudava Zoro a fingir normalidade. Só que uma normalidade que ia apenas até certo ponto já que os confortáveis momentos em silêncio perto um do outro que Zoro apreciava tanto haviam cessado por “culpa” do próprio corpo de Zoro que não conseguia mais ficar normal quando o de Sanji estava perto demais, causando um formigamento agonizante por sobre a pele que ativava dois fortíssimos e inegáveis instintos de ação no espadachim:
Abraçar ou correr .
E Zoro corria, afastava-se, inventava alguma desculpa de que tinha algo para fazer ou de que precisava treinar mais, principalmente quando seu pau não conseguia não reagir com a proximidade do ômega. Por sorte, toda sua nakama achava que toda a sua atitude no geral ainda tinha a ver com quão acabado ele ficara em Thriller Bark, mesmo que apenas Sanji soubesse o que de fato acontecera, todos haviam visto o estado de Zoro e por isso assumiram que era só ele obcecado em ficar cada vez mais forte e, de fato, essa ainda era parte da razão.
Apenas três dias haviam se passado desde sua noite com Sanji e, quando encontraram com uma sereia no meio do caminho, Zoro foi confrontado com a realidade de que o ômega de fato não era seu e que sua gadice com mulheres tornara-se impossivelmente mais insuportável.
Pela primeira vez desde que o conhecera no Baratie há meses, a mão de Zoro vibrou com a vontade de cortar alguma coisa no segundo em que o loiro começou a rodopiar e soltar corações pelos olhos por causa de uma sereia de cabelo verde .
Zoro cortaria Sanji se ele sequer pensasse em tratá-lo como fazia com toda mulher que conhecia, contudo ainda parecia estar sensível demais com os recentes acontecimentos, o que estava deixando seus instintos primários mais fortes.
Toda aquela palhaçada precisava passar e logo .
Por isso, Zoro ficou feliz quando encontraram a tal gangue dos peixes voadores porque era a desculpa perfeita para ele de fato cortar muitas coisas , treinar sua força e sair um pouco de sua própria cabeça, além de gastar energia que vinha se acumulando exponencialmente.
Era uma merda o fato de ele ainda estar ferido demais, causando preocupação não apenas no cozinheiro idiota, como também em Brook que, aparentemente, havia presenciado sua interação com Sanji e Kuma.
Porque é claro que ele tinha .
Zoro também não queria admitir ter sido sexy para caralho a forma como Sanji literalmente refez todo o rosto do tal Duval esquisito, mas havia, porque tudo o que Sanji fazia em uma luta era sexy.
Zoro queria arrancar fora o próprio pênis e o coração; talvez sem essas duas distrações ele poderia voltar a focar totalmente no que de fato importava.
E como se tudo já não bastasse, Sanji ainda o estava tratando com mais delicadeza e cuidado do que o normal, apenas o chamando pelo nome, constantemente querendo saber dos seus ferimentos, toda hora checando para saber se estava bem.
Zoro estava sufocando .
Como ele podia se importar tanto e, ao mesmo tempo, fingir com perfeita maestria que absolutamente nada havia acontecido entre eles?
Zoro havia tido apenas uma única experiência sexual em sua vida e bastara para ter certeza de que nunca entenderia como algumas pessoas conseguiam só transar com outras como se fosse só mais uma atividade sem importância.
Contudo, ainda tinha ciência de que talvez devesse ter impedido Sanji por saber de seus sentimentos por ele.
Por isso, assim que atracaram em Sabaody, não pensou duas vezes em afastar-se de todos e ir explorar o arquipélago sozinho.
Precisava dar um jeito de se livrar um pouco daquele sufoco.
— Zoro-kun ! Onde pensa que ‘tá indo sozinho? — O cozinheiro berrou com Usopp de dentro Sunny enquanto o espadachim se afastava.
Zoro inspirou fundo, mordendo o maxilar por como a forma carinhosa de Sanji chamá-lo causou uma palpitação inconveniente em seu peito. Para forçar-se a não prestar atenção nisso e querendo dar um fim a toda a preocupação desnecessária, virou grunhindo um:
— Não é da sua conta! — O que acarretou em uma breve discussão entre ele e o cozinheiro, mas logo ele afatava-se do Sunny reclamando da falta de confiança de seus companheiros nele enquanto os mesmos gritavam para ele não hesitar em pedir informações e não confiar em si mesmo.
Essa curta interação só aumentou ainda mais seu desejo de ficar um pouco sozinho em sua própria cabeça.
O Arquipélago Sabaody era um lugar de fato peculiar e um tanto confuso, já que as árvores pareciam mexer e trocar de lugar toda hora, o que era inconveniente, mas Zoro manteria sua convicção de ser capaz de retornar ao Sunny sozinho. Além disso, as pessoas daquele lugar eram estranhas, ajoelhando-se para um homem feio com uma bolha na cabeça cujo Zoro chegou pertíssimo de cortar se uma garotinha aleatória não tivesse pulado em cima dele. Então passou em um hospital para deixar um outro homem ferido e decidiu que já bastava de exploração. Por sorte, quando retornasse ao navio, estaria vazio o suficiente para ele conseguir tirar um cochilo em paz antes de passar o resto do dia treinando.
Como prometido, ele encontrou-se com todos eles na ilha “1” e felizmente Luffy não quebrou nada ao agarrá-lo de cima de um peixe-voador como uma boneca.
Até Luffy quebrar a cara do homem feio com bolha na cabeça e tudo ir para os ares.
Foi muito azar deles serem atacados por um clone de Kuma e um Almirante da Marinha quando ainda estavam se recuperando de Thriller Bark , quando Zoro ainda estava se recuperando.
Quando só olhar para Kuma despertava um sufocante pânico em seu ser, desestabilizando suas pernas e concentração, logo transformando-o em um peso morto para a tripulação.
Por que ele tinha que ser tão fraco? Por que ele não era mais capaz? Por que já não estava mais preparado? Agora toda a sua nakama iria morrer por causa de sua incompetência porque Zoro era fraco, fraco, fraco .
Kuina estaria rindo dele se o visse.
Então Zoro pediu para que fugissem e o deixassem para trás. Se servir como isca e distração era o melhor que poderia fazer para dar uma chance para sua família fugir e sobreviver, ele faria.
Zoro faria qualquer coisa.
Estava pronto para morrer por todos eles pelas mãos de um Almirante.
Contudo, os Chapéus de Palha eram teimosos demais, e continuaram a insistir em carregar um peso morto inútil como ele. Porque se ele não estava conseguindo cumprir seu trabalho de protegê-los de qualquer inimigo…
Usopp e Brook insistiam em tentar fugir com ele, Luffy continuava a gritar para que fugissem, mas o clone de Kuma estava em seu encalço. Ele queria Zoro .
Ele iria matar Zoro .
Todos haviam percebido isso, mas ninguém estava deixando Zoro para trás para que tivessem uma chance de fugir. Usopp nunca havia sido mais corajoso. Brook estava resoluto em não perder mais companheiros.
Sanji nem piscou ao deixar Nami para ir salvar Zoro.
Sanji havia deixado Nami para salvá-lo?
— Pare, seu miserável!
Sanji tentou parar o clone, usou Diable Jamble , mas apenas machucou a perna de novo, o imbecil. Nada pararía aquele clone, era inútil, Zoro mal conseguia mexer os músculos das mãos e Usopp continuava insistindo em carregá-lo, Brook continuava insistindo em protegê-los, Sanji chegou ao ponto de agarrar a perna da criatura com as próprias mãos, colocando-as em risco, tentando pará-lo.
Tudo em vão.
Até o verdadeiro Kuma aparecer com sua Bíblia e parar o clone com um simples comando e tirar uma das luvas, perguntando para onde Zoro gostaria de ir.
Para onde eu possa ficar mais forte.
Foi tudo o que sua mente inconsciente conjurou e o berro de Sanji chamando por seu nome e carregando um forte feromônio de desespero foi a última coisa que ouviu antes do toque do Kuma levá-lo à inconsciência.
﹒ꕀ⚔︎ꕀ⚔︎ꕀ﹒
Então estava decidido.
Por dois anos ele treinaria com Mihawk, dando tudo de si para fortalecer-se o suficiente para que, o que quer que seja que os aguardava no Novo Mundo, não fosse uma ameaça tão grande.
Por dois anos ele treinaria naquela ilha sombria para tornar-se um melhor espadachim, alguém mais digno de estar ao lado de Luffy e manter sua nakama segura.
Também era tempo mais do que perfeito para ele esquecer o que não havia acontecido entre ele e Sanji e, portanto, tudo voltaria ao normal sem mais desconforto de sua parte. Seus instintos já estariam totalmente sob controle e o cheiro de Sanji teria o mesmo efeito sobre Zoro que o cheio de qualquer ômega.
Nenhum.
Exceto que as semanas foram passando e, quando Zoro não tinha seu sono arruinado por pesadelos que o faziam acordar suando frio, ele sonhava com Sanji.
A maioria dos sonhos não tinha teor sexual, às vezes Zoro apenas sentia a presença dele, enquanto em outras vezes, era a falta que o consumia. Contudo, quase sempre, isso o levava a acordar com uma ereção matinal inconveniente que sujava seu cheiro e demorava tempo demais para ir embora sozinha se ele não resolvesse o problema com as próprias mãos.
Infelizmente para Zoro, apesar de ser uma beta, o olfato de Perona era potente o suficiente para logo perceber isso e a garota fantasma estava ociosa demais naquele castelo.
— É só me falar qual deles é! Acho que encontrei com todos eles em Thriller Bark, mas, mesmo que não, eu vi os cartazes! — A garota falava alto demais enquanto insistia em flutuar ao redor de Zoro que só queria continuar treinando seu haki de armamento em paz.
— Como já te disse, Chatrona, não sei do que tá falando. — Deu de ombros e voltou a tentar focar em sua concentração.
A alta risada forçada de Perona não permitiu isso.
— Já te falaram o quanto você não tem graça? Não tem graça e nem é fofo! — Reclamou cruzando os braços e fazendo bico, o que fez Zoro ter esperança de que ela flutuaria para longe e o deixaria em paz. Até ela descruzar no segundo seguinte e aproximar-se com um sorriso perverso. — Com qual dos seus companheiros você vive sonhando dormindo e acordado?
— Não vivo sonhando com nenhum!
— Ah, vive! Às vezes você fica quieto demais encarando o nada e logo seu feromônio fica mais forte e agridoce igual quando você não acorda todo suado fedendo a pesadelo.
— Não tenho pesadelos.
— Dá pra parar de tentar mudar de assunto? Que custa me contar qual dos seus companheiros te deixa todo apaixonadinho, liberando hormônios de acasalamento inconscientemente?
Zoro quase se engasgou com a própria saliva e, após controlar o ataque de tosse, arregalou os olhos para Perona.
— Não libero nada!
Mas a mulher o ignorou, agora parecendo estar sentada no ar, com um dedo batendo no queixo, pensativa.
— Pelo seu bem espero que não seja aquela ruiva, porque aquela lá tem cheiro de couro.
— Quê?!
— Se bem que você não tem cara de gostar de mulher, na verdade. Hmm, mas não consigo decidir se tem ou não preferência de gênero secundário, — falava tudo como se estivesse decidindo o que comer no café da manhã, os olhos semicerrados em Zoro, analisando-o.
A pele de Zoro começou a pinicar em incômodo, esquentando por dentro.
— Não tenho preferência de nada, dá pra parar?!
— Nisso eu acredito…
Zoro semicerrou os olhos para ela e grunhiu entre dentes:
— Não tem nada melhor pra fazer, não?
— Infelizmente, não.
— Por que não vai encher o saco do Mihawk?
Perona fez um grande bico e rodopiou até ficar de ponta cabeça no ar, os braços cruzados e pernas balançando de leve enquanto o longo cabelo rosa preso em rabos balançava na frente de Zoro, quase entrando em seu rosto.
— Hm, ele não é tão legal de encher o saco e não é ele que vive esfregando na minha cara que parece que vai entrar em rut a qualquer momento, — disse enquanto analisava suas unhas pintadas de preto e rosa.
Zoro iria era entrar em combustão.
— Não vou entrar em rut !
— Ainda, — pontuou rodopiando no ar até estar frente a frente com o espadachim de novo, só para voltar a insistir, forçando seus olhos de cílios grandes e espessos a parecerem adoráveis: — Mas vai! Me diz quem é! Aposto muito que seja aquele seu capitão, na verdade, você tem cara de quem gosta de sair nos tapas com outro alfa antes de transar.
Um súbito rubor subiu do pescoço às orelhas de Zoro, olhos arregalando e boca secando com a imagem que invadiu sua mente sem permissão.
Talvez ele não seria oposto a Luffy, mas…
— Não! Não gosto!
Perona espremeu os olhos.
— Mas com certeza gosta de um desafio… e é atraído por força, não é? Sim, voc-. — Ela pareceu engolir a própria língua por um instante, então seus olhos escuros quase saltaram das órbitas e a espinha de Zoro gelou. — Ai, meus fantasmas! É aquele loiro tarado, não é? Só pode ser ele!
Zoro engoliu em seco e desviou os olhos para as espadas que ainda tinha em mãos, as batidas acelerando bruscamente em seu peito. Mesmo assim, tentou negar:
— Hmm, nã-.
O rosto de Perona iluminou-se como se tivesse ganhado outro bicho estranho de pelúcia e ela girou no ar enquanto batia palmas irritantes.
— SABIA! Caramba, ‘tá muito óbvio agora! Só nunca iria imaginar você sendo um alfa conservador que só se envolve com ômegas…
— Não ‘tô apaixonado pelo cozinheiro porque ele é um ômega! Não dô a mínima pra isso! — grunhiu, apertando com mais força os punhos das espadas, o estômago contorcendo-se com aquela mera acusação idiota. Então percebeu o que havia feito e sentiu-se murchar com outra onda fria atravessando sua espinha. — Droga .
Perona parara “em pé” à sua frente e encarava-o como um animal exótico.
— Wow, você ‘tá realmente apaixonado?
— ‘Cê mesma disse! — chiou entre dentes e Perona deu de ombros.
— Só por falar, pensei que fosse algo carnal.
— Não ligo pra sexo! Ele continuando ao meu lado e protegendo minhas costas é tudo o que importa.
Os olhos de Perona dobraram de tamanho enquanto sua boca entreabria em aparente choque e, por um bom minuto ou dois, ela apenas o encarou assim, ao ponto de Zoro dar meio passo para trás, desconfortável.
Quando finalmente falou, sua voz soou ensurdecedoramente fina:
— Awn! Você tem um lado fofo!
Zoro cambaleou para trás para afastar-se dela, enfiando um dedo por vez em cada ouvido antes de intensificar sua carranca e virar-se de costas. Já havia perdido tempo demais com aquela conversa inconveniente e tinha haki para treinar.
Na verdade, tinha muito o que treinar nos próximos quase um ano e meio para ficar mais do que forte o suficiente para nunca mais falhar com sua nakama .
— Agora que já te respondi, será que dá pra me deixar treinar em paz?! — pediu já retornando a posição em que estava com as espadas para “meditar” com elas, entretanto Perona facilmente flutuou de volta à sua frente.
Zoro grunhiu irritadiço.
— Se quiser, posso dar um jeito de descobrir onde o loiro está pra que continuem a se comunicar. Posso até te ajudar a conquistá-lo, porque tenho certeza de que você seria um desastre nisso, — ofereceu com um semblante fingindo inocência, um pequeno sorriso curvando os finos lábios tingidos de rosa para cima enquanto piscava lentamente os compridos cílios maquiados demais.
Zoro mordeu a língua antes de mandá-la deixá-lo em paz novamente.
Não seria a pior ideia do mundo saber onde o cozinheiro estava e como estava e o peito de Zoro agitava-se em quente expectativa com a ideia de não precisar passar os próximos quase dois anos sem qualquer contato com ele. Ter algum contato, mesmo que mínimo, com algum de seus nakama seria de certa forma um alívio e uma parte sua vibrava em júbilo com a ideia dessa pessoa ser Sanji.
Com trocas de cartas, mesmo que esporádicas, poderiam garantir que ambos estavam bem, que estavam dando seu melhor nos treinos e incentivariam um ao outro a serem ainda melhores, como sempre faziam, desafiando-se, provocando-se. Era de certo que mais brigariam do que qualquer coisa e a mera ideia fazia a boca de Zoro coçar para despontar um sorriso. E se toda essa comunicação sigilosa que não deveria existir levasse ao bônus de conquistar Sanji…
Zoro podia imaginar a cara de todos se ele e o cozinheiro voltassem para o Sunny de mãos dadas após dois anos separados.
Ele queria ver a cara de absoluto choque e confusão deles. Queria pisar novamente em casa com o cozinheiro firme ao seu lado.
Queria que aquela noite que compartilharam não fosse a primeira e última.
Contudo, o cozinheiro não poderia ter sido mais claro:
Não havia acontecido nada.
Não havia chances de conquistá-lo. Nem havia o porquê . Era tolice sequer contemplar a ideia.
Não quando o objetivo daqueles dois anos era que todos eles treinassem, focassem em si mesmos para que, quando se reunissem novamente, estivessem em suas melhores versões, mais fortes e preparados.
Zoro não podia distrair-se de tal objetivo, assim como não podia distrair Sanji também.
A ideia de Perona era a pior de todas.
Sem contar que Zoro havia decidido usar aqueles dois anos e os treinos para esquecer-se do cozinheiro, abandonar tais sentimentos inúteis e não recíprocos que só poderiam prejudicá-lo e não desistiria de seu objetivo já no final do segundo mês só porque seu corpo idiota ainda não tinha se tocado de que, não importava o quanto desejasse Sanji, não o teria de novo.
— Não. — Respondeu convicto e com finalidade, a expressão de Perona murchando instantaneamente sendo quase cômica. — Principalmente eu e o cozinheiro temos que treinar até sermos dignos de continuar ao lado de Luffy que com certeza está treinando como nunca. Sem tempo para distrações fúteis, — finalizou sem rodeios, já fechando os olhos na esperança de que a garota fantasma se tocaria e o deixaria em paz.
Ela não se tocou.
— Se comunicar por correspondência com alguém que ama não é uma distração fútil! É até importante pa-.
— O cozinheiro nunca vai sentir por mim o que eu sinto por ele. Ele é obcecado por mulheres. E é melhor assim.
— Então você só vai desist-.
— Eu não desisto . Nunca, — grunhiu defensivo, abrindo os olhos para cravá-los duros na beta que apenas arqueou uma sobrancelha bem feita. — Apenas sei escolher minhas batalhas e essa não é uma que valha a pena, não quando pode me distrair do que realmente importa: garantir que Luffy se torne o Rei dos Piratas e derrotar Mihawk.
Perona ergueu um pouco o queixo, como se para “olhá-lo de cima”, a sobrancelha arqueando um pouco mais.
— Amor não importa então, — concluiu sem deixar de observá-lo e, quando Zoro sequer piscou, um bico gigante formou-se gradativamente destruindo sua expressão neutra. Ela então cruzou os braços e virou o rosto, resmungando. — Esquece o que eu disse, você não é nada fofo.
Bem, aquilo era óbvio.
— Ótimo, vai me deixar treinar agora? — Soltou indiferente, voltando a fechar os olhos e um profundo suspiro de alívio quase escapou quando percebeu Perona afastando-se.
É claro que ela o fez bufando e reclamando com voz estridente:
— Por que Kuma tinha que me deixar sozinha com dois esquisitos viciados em espadas e nada fofos?!
Então Zoro estava sozinho naquele cômodo da mansão onde escolhera treinar aquele dia e, apesar de agora estar com a imagem de macios cabelos loiros, brilhantes olhos redondos e uma sobrancelha encaracolada e esquisita na mente, puxando consigo a lembrança do corpo quente no qual se afundou, com suaves gemidos e feromônios o inebriando no processo —o que já bastava para deixar seu pau semiduro e espasmando em interesse—, ele usaria aquilo como uma oportunidade de treinar ainda mais seus instintos e fortalecer sua convicção e autocontrole. Não ficaria bravo pelo fato de que ter Sanji consumindo sua mente dificultava seu processo de entrar em estado meditativo.
Não, era o desafio perfeito para não apenas fortalecer-se naquela área, como também para ajudá-lo a treinar seu corpo a esquecer-se do cozinheiro.
No fim, a distração e inconveniência de Perona viriam bem a calhar.
— Negative Hollow!
Zoro teve apenas tempo de fazer uma careta surpresa, arregalando os olhos para o fantasma atravessando a parede em sua direção antes que ele atravessasse seu peito como a corrente de ar mais oca e congelante de todas, roubando toda sua vontade de viver em míseros segundos.
— Me desculpa por eu ter nascido!
Zoro já sentia falta dos socos de Nami.
﹒ꕀ⚔︎ꕀ⚔︎ꕀ﹒
Zoro foi o primeiro a chegar no Arquipélago Sabaody.
Ao descobrir isso não ficou nenhum pouco surpreso. É claro que seria ele o primeiro a chegar e era a oportunidade perfeita para jogar na cara de todos os outros de que ele não se perdia , não tinha nada de errado com seu senso de direção.
Estava torcendo para que o cozinheiro fosse o último, assim seria ainda mais satisfatório quando ele esfregasse suas posições de chegada na cara dele.
Perona ter ido com ele não tinha nada a ver com seu absoluto sucesso de chegar rápido ao local de reencontro sem se perder. Ela só tinha ido com ele para sair um pouco da Ilha de Kuraigana ( “Preciso ver o sol de novo e outras pessoas que não sejam espadachins esquisitos e nada fofos!” ), para fazer compras ( “Faz muito tempo que não vou a Sabaody e sei que tem umas coisas tão fofinhas lá! ”) e, obviamente, para encher o saco de Zoro (“ Vou ser obrigada a garantir que você realmente volte para seu navio idiota, ainda mais agora que está enxergando menos! ”). Foi principalmente pelo último motivo que Zoro não pensou duas vezes em se afastar da beta quando ela entrou empolgada demais em uma loja de bichos de pelúcia porque ele não precisava de ajuda, não aguentava mais os gritinhos estridentes dela e seria bom ter alguns minutos sozinho de paz e silêncio antes de reencontrar-se com sua nakama após dois anos de separação.
Zoro não pensou duas vezes em achar um bom lugar para pescar e, se ele entrou no barco errado, foi porque o velho pescador não lhe deu as informações direito!
Felizmente, cortar um navio ao meio agora era tão fácil para ele quanto passar manteiga no pão.
Sanji ter sido o primeiro da tripulação com quem trombou também não foi exatamente uma surpresa. Não quando eles tinham isso de inevitavelmente se acharem em qualquer situação.
Dois imãs complementares em eterna atração e repulsão.
E bem, no geral, os últimos dois anos haviam sido um grande sucesso.
Zoro estava inegavelmente mais forte, mais preparado para enfrentar o que quer que pudesse ameaçá-los no Novo Mundo. Tinha dominado seu haki do armamento, o que significava que suas espadas também estavam mais fortes e seu haki de observação também estava muito bom. Ainda não estava no nível de derrotar Mihawk, nem mesmo um Almirante (pelo menos, não sozinho), mas não seria mais humilhado por um Shichibukai e estava confiante de que poderia muito bem garantir que toda sua nakama continuaria viva por todo o resto de sua viagem enquanto ele continuaria a evoluir e ficar mais e mais forte.
Cada vez mais preparado para sua luta final contra Mihawk.
Além disso, Zoro também havia conseguido expulsar Sanji de sua mente.
Tinha levado sete meses para parar de ter ereções pelo menos uma vez no dia sempre que sua mente invocava algo do cozinheiro à superfície, o que lhe causou muitos problemas com muitos Negative Hollows , principalmente nos primeiros dias antes e depois de seus ruts por ainda ter extrema dificuldade em colocar seus feromônios sobre controle. Sem contar que foi obrigado a ficar trancado em um cômodo durante todos os ruts que passou na Ilha de Kuraigana porque, diferente de todas as vezes desde seu primeiro, Zoro foi consumido por uma vontade de foder e engravidar que até o assustou, tanto por ser algo novo, desconhecido e primal que já deveria saber controlar, como também por como urrou por Sanji, o que quase o fez arrancar a própria vida depois em absoluta vergonha todas as vezes. Pelo menos aquele desejo primal dos ruts havia diminuído de intensidade com o tempo. Assim como foi parando de sequer pensar no cozinheiro até chegar ao ponto de perceber que, não só suas lembranças daquela noite estavam tão vagas e borradas que poderia se convencer ter sido um sonho, mas também quando pensava em Sanji, o pensamento emocional era o mesmo de quando pensava em Luffy, Nami, Usopp, Chopper, Robin, Franky e Brook.
Há cinco meses, durante um treinamento particularmente mais puxado com Mihawk, Zoro havia tido a reconfortante realização de que o ômega voltara a ser apenas mais um de seus nakama para ele.
Sim, ele ainda era seu igual e rival , mas não havia mais riscos de pensamentos e sentimentos inconvenientes e inúteis colocarem tudo a perder.
Por isso, Zoro era grato.
O que não significava que ele havia perdido a visão —bem, pelo menos não de um olho —, portanto era impossível não notar quão bem aqueles dois anos haviam tratado o cozinheiro que estava ainda mais bonito do que Zoro lembrava. A barbicha estava maior e ainda meio ridícula, sim, mas o cabelo parecia um pouco mais comprido e ondulado, com um maior volume que combinava com o formato de seu rosto ainda mais definido, agora com a outra sobrancelha exposta, tão ridícula quanto a outra. Os olhos pareciam mais brilhantes e mais azuis, apesar de Zoro perceber algo como incerteza neles. E, coincidentemente, Sanji parecia ter crescido na altura o mesmo tanto que ele, mas, apesar de estar com os ombros um pouco mais largos e toda a parte inferior muito mais definida —pelo o que era possível de perceber com aquela roupa de fresco que escondia muito mais do que revelava do corpo dele—, Zoro estava o dobro dele de largura e, por algum motivo, isso causou certa agitação em sua barriga.
Zoro ignorou tudo isso em favor de abrir um de seus sorrisos cortantes e iniciar o que ele e o cozinheiro faziam de melhor: discutir.
— Finalmente resolveu dar as caras, hein, sobrancelhas? Tava começando a achar que não ia vir mais! Torcendo por isso, na verdade, já que já estou aqui há semanas porque fui o primeiro a chegar.
As narinas de Sanji inflaram quando mordeu o cigarro com força. O cheiro de nicotina estava tão forte que Zoro não conseguia detectar nada do cheiro natural do ômega.
Sanji parecia prestes a retrucar como o esperado, até parar de encarar o espadachim e dar uma breve tragada, recompondo-se.
— Não tenho ideia de como conseguiu ser o primeiro a chegar, mas isso não importa. O que importa é eu terminar as compras pra estocar o Sunny e nos encontrarmos com os outros o mais rápido possível, — disse em um tom beirando a impassível, já começando a afastar-se ao terminar de falar.
Zoro apenas encarou-o com o cenho franzido, um braço apoiado em suas espadas. Não era difícil perceber a leve tensão nos ombros do ômega que parecia tentar disfarçar.
— Que que deu em você, sobrancelhas?
Sanji parou e virou a cabeça minimamente, não sendo possível ver seu olho por ser o lado da franja.
— Nada. Apenas quero me reencontrar com os outros e seguir com nossa aventura. Você não?
Fazia dois anos que não falavam um com o outro e Zoro ainda conseguia perceber quando a voz do ômega estava neutra demais para ser natural, e isso costumava acontecer quando ele queria esconder alguma emoção. O mesmo valia para os cigarros encobrindo seus feromônios.
Zoro apertou um pouco a mandíbula.
— Quero. Mas se estiver escondendo algo e isso colocar os outros em risco…
Sanji girou de uma vez para Zoro, o olho visível arregalado por um brevíssimo instante antes de ser espremido em uma carranca furiosa, as linhas do rosto do loiro tensionando.
— Eu nunca colocaria minha nakama em perigo.
Os próprios ombros de Zoro tensionaram-se quando um flash de memória do ômega todo machucado colocando-se em sua frente, disposto a sacrificar-se em seu lugar para salvar a todos, surgiu de súbito.
Era ridículo suspeitar que o outro homem poderia ter mudado tanto naquele tempo quando ambos haviam o passado treinando com o mesmo objetivo em mente.
E, verdade seja dita, Sanji não lhe devia explicações de nada.
Por fim, Zoro relaxou e deu de ombros, começando a seguir o outro ao falar com indiferença:
— É, pode ser. Mesmo se tivesse, eu te destruiria em um piscar de olhos.
Sanji quase cuspiu o cigarro em ultraje, seu rosto avermelhando por completo em ira.
— Até parece! Com um olho a menos ainda? Já ‘tá na desvantagem!
Foi a vez do alfa fechar a expressão em uma carranca.
— Um olho a menos não faz diferença! Se quiser, te provo aqui e agora, cozinheiro idiota!
— Adoraria te provar errado, cabeça de musgo, mas, como disse, tenho compras a fazer. E você vai me ajudar a carregar tudo pro Sunny.
Zoro parou de andar, lançando um olhar para o ômega que faria até muitos vice-almirantes tremerem as pernas. Sanji apenas o olhou de lado com uma sobrancelha erguida, dando uma leve tragada em seu cigarro.
O perfil dele também estava mais bonito, mais maduro.
O único e súbito pulsar mais forte no peito de Zoro era nada mais do que consequência de sua profunda indignação.
— Eu vim aqui pescar, não ser seu burro de carga! — Reclamou e, mesmo assim, quando Sanji revirou o olho e voltou a andar, o seguiu.
— Pode pescar do Sunny outra hora, mas a prioridade agora é estocar a cozinha. E infelizmente você foi o único do bando que encontrei até agora, então vou ter que me contentar com sua ajuda.
Zoro arqueou as sobrancelhas para Sanji ao seu lado.
— ‘Cê também ainda não encontrou ninguém?
Sanji fez um “Nope” agudo com a boca, dando mais uma tragada e começando a prestar mais atenção nas lojas e barracas por onde passavam, provavelmente analisando as opções.
— Claro que não vejo a hora de ver as minhas garotas de novo! Elas devem estar tão lindas! — Zoro pôde apenas revirar o olho para a voz afinando e toda a pose sonhadora do cozinheiro, que, por sorte, não se estendeu muito nisso, voltando a ficar sério no segundo seguinte. — E também o Luffy, espero encontrá-lo logo.
Zoro franziu o cenho para a forma como os olhos de Sanji baixaram ao falar aquilo, os dedos no cigarro estremecendo quase imperceptivelmente.
Ele apenas não insistiu em perguntar por confiar no cozinheiro.
— Nem sei se ele já chegou, — comentou dando de ombros e o seguindo para uma das barracas.
— Tenho a impressão de que, quando ele chegar, todos vamos ter certeza.
De fato, depois do que pareceram muitas horas andando para lá e para cá com o cozinheiro, discutindo, ajudando a carregar as compras, até fisicamente brigando em certo momento —Zoro não podia negar estar satisfeito em perceber que Sanji também estava muito mais forte, mantendo-se quase ao seu nível—, um caos começou com a marinha em uma das ilhas do arquipélago e quando os dois chegaram lá, não deu outra:
Luffy estava no meio, anunciando grandemente sua chegada.
— Ei! Luffy! — Zoro exclamou enquanto corria em direção ao seu capitão, um enorme sorriso em seu rosto por revê-lo e pela incrível demonstração de quão mais forte estava ao obliterar um Kuma falso com apenas um Gum Pistol .
— Luffy! Sabia que era você! Por que você vive arrumando encrenca? — Sanji exclamou correndo ao seu lado, ele também sorria com o rosto todo.
Assim que os percebeu, Luffy abriu um de seus enormes sorrisos capazes de ofuscarem o próprio sol.
Como Zoro sentira falta daquele sorriso, de seu capitão e de estar ao lado do cozinheiro.
— Agora são vocês mesmo! Há quanto tempo, pessoal!
Como a marinha estava logo ali, é claro que não deixariam que os três tivessem um reencontro pacífico e sem interferências, mas dessa vez, quando outro falso Kuma veio para cima deles, Zoro sequer hesitou em desembainhar Wado, Kitetsu e Shusui e atacá-lo de frente, atravessando-o por inteiro com um único golpe enquanto o cozinheiro atingia por cima com as pernas em chamas.
Entrar novamente em ação com Sanji e vê-lo destruir o inimigo com aquelas pernas mortais iniciou um forte borbulhar na barriga de Zoro que continuou a manter seu peito quente e acelerado mesmo após a adrenalina passar.
Mesmo assim, não conseguiu segurar a língua e provocou o ômega:
— Eu cortei ele!
E Sanji rebateu, um pouco mais exaltado:
— Não! Eu quebrei o pescoço dele!
De qualquer forma, o resultado fora o mesmo:
Os três estavam tão mais fortes ao ponto de destruírem dois Kumas falsos sem sequer suarem.
— Ei, Luffy! Você foi o nono! — Zoro anunciou porque ele havia sido o primeiro, então aquela ordem importaria. Ainda mais quando irritava Sanji por ele ter sido o sétimo.
— Cala a boca! Isso não importa! — O cozinheiro gritou, então voltou-se para o capitão, sua irritação superficial sendo substituída por um controlado nervosismo que não era característico do ômega. — Luffy, vamos ir pro Sunny, todo mundo já ‘tá lá.
Por que ele ficaria nervoso de ter que voltar para o navio?
Os três estavam fazendo exatamente isso quando Luffy parou para agradecer Rayleigh. Contudo, quando terminou, ao invés de seguirem em frente, Sanji deu um passo à frente e gritou; um sútil tremor perceptível na voz, o olho visível um pouco mais aberto em apreensão.
— Rayleigh, a Shakky! Ela…
— Está te esperando no Sunny, não se preocupe.
Sanji apenas assentiu abaixando o olhar e voltou a correr, puxando Luffy pelo braço.
Zoro hesitou por um instante antes de segui-los, o cenho franzido em Rayleigh à distância antes de voltar-se para a forma do ômega se afastando às pressas.
O que ele poderia querer com a esposa do Rei das Trevas?
Então Zoro correu atrás deles, sua língua parecendo inchar com as perguntas não ditas, as quais sabia ser melhor esquecer porque não era de sua conta. Quando mais marinheiros começaram a atacá-los, ele esqueceu por um momento, lembrando-se de qual era seu objetivo e papel ali, que não podia deixar-se distrair por nada nem ninguém, não quando a vida de sua nakama estava em jogo, e sua promessa à Kuina, e sua promessa a Luffy.
Até que Negative Hollows atravessaram os corpos de alguns dos soldados os perseguindo e a espinha de Zoro congelou.
Tinha esquecido que Perona estava ali.
— Sabia que eram vocês que estavam aprontando! — A beta disse parada logo à frente deles, segurando um guarda-sol preto e rosa e abraçando uma pelúcia feia toda remendada.
Zoro parou encarando-a com as sobrancelhas pesando sobre os olhos enquanto corações surgiam nos olhos de Sanji que falava algo sobre lembrar dela de Thriller Bark.
— ‘Tá fazendo o que aqui ainda?
— Não fala assim comigo! Fui eu quem te trouxe pra cá! — Perona resmungou aproximando-se demais, com seu chapéu gigante e ridículo esmagando a testa do espadachim e um dedo erguido quase em seu rosto. Os lábios de Zoro torceram para baixo. — Se não fosse por mim você… Ponha-se no seu lugar!
Antes que Zoro pudesse retrucar, no entanto, Sanji começou a aproximar-se demais da beta com uma expressão toda esquisita, chamando a atenção dela para ele atrás de si.
— Ah! Você é tão linda, senhorita! E cheira tão bem! Que cheiro delicioso!
Zoro apenas arqueou as sobrancelhas para como o cozinheiro estava parecendo mais patético do que o normal em relação a mulheres, enquanto o tal cheiro de Perona começava a pesar um pouco em desconforto e ela voltava-se para o alfa com os olhos arregalados.
— Não acredito que era por ele que você pedia em seus ruts .
No segundo em que as palavras terminaram de sair, Perona tapou a boca com uma mão, a pele empalidecendo de forma fantasmagórica e os olhos arregalando tanto quanto os de Zoro e de Sanji, que os fitou no espadachim enquanto sua própria pele parecia perder a cor.
O coração de Zoro estava disparado em seus ouvidos, ofuscando a risada que Luffy soltou e os sons incompreensíveis de Perona por trás de sua mão.
Toda a atenção dele estava no ômega de qualquer forma, e no modo horrorizado com que o encarava.
Não aconteceu nada .
— Ela não sabe do que ‘tá falando, cook, — soltou tentando manter a compostura, torcendo para que seus batimentos descontrolados e estômago espremendo não fossem perceptíveis de fora. Só que ele não soou convencido nem para si mesmo.
Os olhos de Sanji estreitaram com seus dentes mordendo o cigarro em sua boca com força. Quando ergueu a mão para tragar, seus dedos tremiam.
— Bem, ahn… é melhor irem logo porque estão cercando a ilha! — Perona exclamou de súbito, trazendo a atenção de todos para o fato de que estavam fugindo da marinha.
E, como que se convocado, Chopper apareceu de cima voando em um pássaro gigante e estranho.
— Luffy! Zoro! Sanji! — O garoto gritou parecendo à beira das lágrimas enquanto o pássaro procurava uma posição para pousar. Luffy voltou a rir com o peito todo e um sorriso próprio começou a despontar nos lábios de Zoro na expectativa de ver a pequena rena novamente, assim como toda a sua nakama . Porém o sorriso morreu quando Sanji passou por ele com a cara fechada, agarrando o braço de Luffy e puxando-o apressado em direção ao pássaro, as compras que haviam feito bem seguras em bolhas em sua outra mão.
Sanji sequer olhara para Perona novamente.
Por sua vez, Zoro olhou e grande parte de sua irritação pelo o que ela havia feito esvaiu-se ao ver a expressão de completo arrependimento e culpa no semblante dela, que mordia o lábio à beira do choro.
— Des-desculpa, eu não quis-.
— ‘Tá, ‘tá, daqui a pouco ele esquece. Só não vai se perder ao voltar sozinha pra aquela ilha, hein? — disse em tom provocador antes de começar a correr em direção aos seus companheiros, sorrindo pequeno de canto ao ouvir Perona espernear um “ É você quem se perde, seu espadachim cabeça-oca e nada fofo!”.
Zoro não sentiria falta daquela beta histérica e esquisita.
— Zoro! — Chopper exclamou assim que ele aproximou-se e, no segundo seguinte, o alfa tinha uma pequena coisa peluda nos braços, abraçando-o com uma impressionante força pelo pescoço e choramingando com os grandes olhos castanhos e úmidos. — Eu senti tanto a sua falta! De todos vocês! Nunca mais podemos nos separar!
O espadachim sorriu genuíno para o garoto-rena, acariciando os pelos na nuca sob o grande chapéu rosa que parecia diferente do de antes.
— A ideia é não precisarmos mais nos separar, — disse pensando consigo mesmo que não permitiria que aquilo acontecesse de novo, até sobressaltar-se de leve com o berro de Chopper, sendo lembrado de como ele era o médico do bando:
— Zoro! O seu olho! O que aconteceu com o seu olho?!
O alfa suspirou e subiu no pássaro com o garoto, brevemente notando o olhar agoniado de Sanji em Luffy, que estava ocupado socando para longe alguns marinheiros que tentavam se aproximar.
— Eu perdi, mas sem tempo pra conversar agora, Chopper. Vamos pro Sunny!
Então eles estavam voando em um pássaro gigante e bizarro sobre Sabaody em direção à costa, com Luffy rindo tão estridentemente que quem não o conhecia poderia assumir que tinha enlouquecido. Zoro não conseguia não sorrir de canto com os olhos fechados para focar-se mais na risada e absorvê-la como possível, todo o seu peito esquentando em alívio por mais uma vez estar tendo o prazer de ouvir pura e genuína felicidade extravasando de seu capitão.
Zoro nunca confessaria a ninguém, mas temera que parte da luz de Luffy se apagaria depois do que acontecera em Marineford.
Estava feliz por esse aparentemente não ter sido o caso.
— Luffy , — sibilou Sanji ao lado do capitão, chamando a atenção dele com uma leve chacoalhada no braço também. Ele ainda estava com o rosto e ombros tensionados, os olhos azuis angustiados no outro alfa. Zoro jogou para o fundo de sua mente a súbita vontade de abraçar o ômega que lhe atingiu ao mesmo tempo em que Luffy parava de rir, mas com um sorriso ainda grande nos lábios ao virar-se para o cozinheiro. Sanji engoliu em seco e falou mais baixo. — Preciso falar com você.
Luffy soltou um breve riso, seus olhos brilhando ao focarem nas compras flutuando em bolhas logo ao lado do cozinheiro.
— Pode falar! Mal vejo a hora de comer a comida do Sanji de novo. Passei esses dois anos sonhando com a comida do Sanji!
Um adorável rubor subiu do pescoço às bochechas do cozinheiro.
Zoro mordeu a língua e desviou o olhar quando ela coçou para lamber a cor.
— Eu também estou com saudades da sua comida, Sanji! — Chopper adicionou inocente e empolgado, arrancando outro riso do capitão antes dos dois começarem a cantarolar algo sobre precisarem da comida do loiro porque ela era a melhor que existia.
Zoro podia apenas concordar internamente.
— ‘Tá bom! — O cozinheiro arfou exasperado, interrompendo a canção, então sua voz saiu um pouco trêmula. — Eu que-quero voltar a cozinhar pra vocês, principalmente pras senhoritas Nami e Robin, é claro e-e, eu vou, se é… — Ele engoliu em seco e fechou os olhos como se reunindo forças. O coração de Zoro palpitava na garganta por não gostar da insinuação; até o sorriso de Luffy diminuira significativamente, seus profundos olhos castanhos afiados no ômega como se tentando lê-lo. — Eu preciso falar com você, Luffy, antes… antes de chegarmos no Sunny.
— Pode falar, Sanji.
O cozinheiro apertou as mãos em punhos.
— Em particular.
Por alguns instantes, Luffy e Sanji apenas se encararam sem sequer piscar enquanto Zoro e Chopper observavam a cena confusos e apreensivos, o pássaro continuando a levá-los para casa, alheio a aparente tensão que se formava em suas costas.
Por fim, Luffy ordenou com sua voz de capitão, os olhos nunca deixando Sanji:
— Zoro, Chopper, tampem bem os ouvidos até segunda ordem.
Na hora Chopper assentiu e enfiou seus cascos contra suas orelhas, até mesmo apertando os olhos fechados para dar-lhes extra privacidade. Zoro agiu mais hesitante, porém levou ambas as mãos as orelhas, enfiando um dedo dentro de cada até seus ouvidos serem inundados por apenas um profundo ruído vibratório, só que, ao contrário da rena, ele não fechou os olhos, ao invés, só virou um pouco a cabeça até que apenas o rosto de Luffy estivesse em sua visão, dando a privacidade que Sanji queria, mas ainda dando um jeito de entender se existia o risco da tripulação estar em perigo.
Dependendo da reação de Luffy, ele poderia preparar-se de acordo.
Por alguns instantes, Luffy permaneceu apenas com o cenho franzido, parecendo mais confuso do que qualquer coisa, então ele começou a sorrir até o sorriso tomar conta de todo o seu rosto —uma felicidade tão genuína ao ponto dele começar a contorcer-se em incontrolável empolgação.
Por que o cozinheiro estava nervoso em falar algo que deixaria o capitão tão feliz?
Zoro não tinha ideia do que o assunto poderia se tratar, contudo toda a tensão esvaziou-se do seu corpo ao constatar não ter perigo iminente —a marinha ainda os perseguia e tentaria impedi-los de deixarem a ilha, mas ele não estava nem um pouco preocupado com eles—, apenas uma ruga continuou marcada entre seu cenho enquanto observava seu capitão responder ao cozinheiro com entusiasmo, olhos brilhando e contendo-se para não dar pulinhos no pássaro.
A única hipótese que Zoro conseguia pensar era que Sanji queria preparar o banquete de comemoração pelo retorno deles com as comidas mais exóticas e, de certa forma, arriscadas que existiam na Grand Line, só que comida era comida para Luffy então ele não via a hora de empanturrar-se com tal banquete questionável.
Era a única possibilidade que Zoro conseguia pensar.
Mas por que Sanji estivera tão apreensivo? Geralmente ele era muito confiante quando o assunto era comida…
E por que a esposa do Silver estava o esperando no Sunny ?
E por que raios tinham que ter aquela conversa em particular?
Zoro sobressaltou-se quando uma mão de borracha segurou a sua e puxou-a para tirá-la de seu ouvido e, quando voltou a focar os olhos no capitão, ele sorria para ele.
— Acabou a conversa e estamos quase chegando! — informou e então soltou o espadachim para ir fazer o mesmo com Chopper, que se assustou tanto que até deu um pulinho no ar, arrancando uma gargalhada de Luffy.
Zoro sorriu de canto com a cena enquanto cruzava os braços, mas não se prolongou em prestar atenção nos dois mais novos “discutindo”, ao invés, voltou seu olho para o cozinheiro, o coração batendo em um ritmo um tanto mais firme ao focar em seu rosto de novo. Sanji parecia encarar o nada com ambos os olhos e a boca semi-abertos, as sobrancelhas encaracoladas e ridículas franzindo e desfranzindo quase como se sofrendo uma convulsão, mas antes que Zoro pudesse fazer um comentário provocador sobre a expressão de abestalhado, tal expressão começou a mudar sutilmente, um delicado sorriso torcendo o canto do lábio enquanto uma água fria de alívio parecia cair sobre ele, relaxando os ombros e a postura dura, suavizando os olhos que começaram a brilhar com lágrimas. O semblante de Zoro contorceu-se em ainda mais confusão, principalmente quando uma lágrima escorreu e o cozinheiro secou-a com o sorriso aumentando.
Então Sanji o pegou encarando-o e o sorriso murchou, uma carranca sendo forçada em seu rosto antes de desviá-lo para o outro lado, deixando só seu cabelo loiro à vista.
Zoro apertou o maxilar e também virou o rosto, as mãos apertando-se ainda mais em punhos pelo desconforto do coração disparado na garganta e ouvidos.
Zoro decidiu que estava nem aí para o que quer que fosse aquele assunto. Desde que não colocasse a tripulação em perigo, os problemas ou questões do ômega não eram da conta dele e nunca seriam, o próprio Sanji havia deixado isso claro há dois anos.
— O Sunny! Pessoal! — Luffy exclamou empolgadíssimo em um quase berro, trazendo a atenção de todos a bordo do pássaro para o exótico navio já perto o suficiente para ser possível reconhecer todo mundo dentro dele.
Zoro soltou um forte ar pelo nariz ao confirmar que toda a tripulação tinha voltado em segurança. Um sorriso repuxou seus lábios para um lado ao começar a perceber como todo mundo tinha mudado.
Franky mesmo estava ridiculamente enorme por algum motivo.
— Pessoal! Eu achei eles! — Chopper exclamou chacoalhando veementemente os braços enquanto Sanji fazia o mesmo com corações nos olhos, mas exclamando apenas:
— Nami-san! Robin-chan! Como é bom ser agraciado com a beleza de vocês novamente!
Foi quando o nariz dele começou a sangrar só por estar vendo as mulheres que Zoro desviou o olhar bufando, preparando-se para a situação piorar a qualquer instante, tornando-se dramática demais de uma forma que apenas o cozinheiro conseguiria, ainda mais por como Nami só estava usando um top de biquíni cobrindo apenas o necessário por algum motivo.
Só que a dramaticidade não veio, o nariz do cozinheiro nem sangrou o suficiente para pingar em sua roupa e, quando finalmente embarcaram no navio, apenas cumprimentou —exageradamente com elogios em excesso— as duas de mulheres de passagem, não parando em seu caminho decidido até Shakky encostada contra o corrimão, expressão relaxada e contente, segurando o que parecia ser uma cesta rosa consideravelmente grande e cheia de lacinhos azuis. Assim que alcançou a mulher, Sanji imediatamente jogou-se de joelhos e abriu com cuidado a cesta, todo seu semblante derretendo-se em um sorriso aliviado ao olhar o que tinha dentro, então voltou a fechar a tampa com o mesmo cuidado e levantou-se para discutir algo baixo com a mulher.
Apesar de todo o resto da tripulação estar empolgada por se verem novamente, cada um comentando sobre as mudanças nos outros e fazendo perguntas sobre como e onde haviam passado os últimos dois anos, era inegável o quanto pelo menos pequena parte da atenção de todos também estava em Sanji e em Shakky, a curiosidade geral palpável no ar.
Zoro esperava não ser o único com o coração batendo mais lento e firme em ansiedade.
— Você ‘tá enorme, Zoro! O que andou comendo? — Usopp comentou dando um leve tapa no braço do espadachim, chamando toda sua atenção para o atirador que sorria de orelha a orelha.
Zoro não teve como não sorrir de volta, o olho escrutinando o homem de cima a baixo.
— Eu devia perguntar o mesmo. Dê onde vieram todos esses músculos?
Usopp abriu ainda mais o sorriso e fez toda uma pose flexionando tais músculos para responder:
— Sabe como é, eu passei esses dois anos sozinho lutando contra feras e monstros gigantes com meus próprios punhos, comendo o que eu matava com suor e sangue! Tinha vezes que eu passava dias, semanas sem dormir, apenas lutando para a minha sobrevivência, me tornando o melhor e-.
— Foi uma SUUPER loucura! Aí tive que quase me reconstruir todo do zero e claro que eu super aproveitei para colocar ainda mais armas e acessórios em todo meu corpo! Tudo suuuper útil! — Franky explicava para Chopper e Luffy tão alto que sua voz acabou sobressaindo a de Usopp, mas o beta não pareceu ligar nem um pouco, já que seus olhos começaram a brilhar tanto quanto os dos outros dois enquanto ele aproximava-se do ciborgue para ouvir mais.
Zoro apenas soltou um risinho, seu olho voltando a correr pelo navio que parecia estar impecável e tão familiar que nem parecia que haviam se passado dois anos, até seu olho parar novamente em Sanji, que havia pego a cesta de Shakky, ainda conversando com ela.
Foi então que Zoro percebeu a pequena orelha saindo do lado da cesta.
Não demorou a encontrar Robin parada a poucos passos a seu lado, com os braços cruzados para cima na frente do peito, contida surpresa com olhos úmidos marcando sua expressão.
Zoro estava prestes a ir até ela e exigir saber o que estava acontecendo quando alguém puxou seu braço com certa brusquidão.
— Em que briga você se meteu pra perder um olho, Zoro? — Nami exigiu com as mãos na cintura, encarando-o com uma sobrancelha ruiva e bem feita erguida, parecendo pronta para dar-lhe uma bronca independente de sua resposta.
Zoro engoliu em seco.
— Eu já estou indo, pessoal! Façam uma ótima viagem! E é melhor irem logo porque a marinha está vindo! — Shakky gritou para ser ouvida em meio a toda a baderna, acenando para geral enquanto ia em direção à prancha para descer do navio.
— Tchau, Shakky! Obrigado por tudo! — Luffy berrou de volta agradecido, com alguns outros também se despedindo, incluindo Franky com lágrimas quase transbordando dos olhos.
Zoro estava mais preocupado em perceber que de fato estavam começando a serem cercados pela marinha, por terra e por mar.
— Capitão, temos que zarpar agora! — Disse apreensivo, já desembainhando Shusui.
— Sanji! O que é que tem nessa cesta? — Chopper questionou, pulando para mais perto do cozinheiro.
— É, Sanji! A Shakky ficou aqui o tempo todo segurando isso toda misteriosa e não nos contou nada! — Usopp adicionou, também se aproximando.
— Aposto que é uma comida super especial!
— Yo-hohoho! Espero que sim! Meu estômago está morrendo de saudades da comida do Sanji-san! Não que eu tenha estômago! Yo-hohoho!
Inesperadamente, o cozinheiro não começou a berrar e ameaçar chutar a bunda dos homens curiosos, ao invés, seu rosto empalideceu, com olhos arregalando de leve e as mãos apertando com mais força a cesta.
Antes que mais alguém pudesse comentar, Luffy entrou na frente de Sanji, sua expressão séria e firme, feromônios dominantes exalando o suficiente para alcançar onde Zoro estava, coçando sua cabeça com o desejo de mostrar a nuca para o outro alfa.
— Sanji vai mostrar quando ele estiver pronto. Agora nós temos que continuar nossa aventura porque ninguém vai mais nos impedir! — ordenou trazendo um momentâneo silêncio antes de toda a tripulação gritar em concordância e começaram a correr para ajudar o navio a submergir e levá-los a Ilha dos Homens Peixe ou para defender o navio dos ataques.
Aliados inesperados começaram a ajudá-los por todos os lados, transformando a partida deles em um caos, mas também facilitando ao ponto de Zoro não precisar cortar tantas bolas de canhão assim.
O que veio a calhar com o fato de que o cozinheiro mal saiu do lugar, parecendo mais preocupado em proteger a cesta do que o navio, enquanto o próprio Luffy ficou o rodeando, parecendo quase territorial de tão protetor. Zoro trincou o maxilar para a cena.
Luffy nunca havia protegido o ômega antes, porque não havia a necessidade, assim como Sanji nunca havia perdido uma oportunidade de ir defender as mulheres, mesmo sem necessidade.
O cozinheiro não deveria ter ficado mais forte, se mantido no nível de Zoro para que defendessem a tripulação juntos e levassem Luffy ao metafórico trono?
Quando lutaram entre si ainda em Sabaody, Zoro podia jurar que ele tinha, seu peito havia se enchido de orgulho por isso.
Que merda estava acontecendo?
Logo todos ao redor de Zoro comemoravam por terem submergido com sucesso, escapando do perigo e a caminho de uma nova aventura, mas o espadachim não conseguia afastar o incômodo aquecendo as veias por todo o seu corpo, o olho fixo e julgador em Sanji que tinha um pequeno sorriso no rosto enquanto respondia algo a Luffy, que sorria mais ainda, tentando abrir a tampa da cesta.
Zoro não pensou duas vezes em ir até eles em passos duros, assim como não hesitou em quase grunhir:
— Que merda ‘tá acontecendo, cozinheiro? — Sabia que não precisava especificar além disso e o olhar firme do ômega em si, substituindo um apreensivo que durou por menos de um segundo, confirmava isso.
— Zoro … — Luffy começou em aviso, mas Sanji colocou uma mão no ombro do capitão, o parando.
— ‘Tá tudo bem, Luf, — garantiu com um sorriso um tanto trêmulo, mas, ao invés de se voltar para Zoro e respondê-lo, Sanji afastou-se em passos determinados, voltando-se para o restante da tripulação e chamando-lhes a atenção. — Pessoal, eu tenho algo pra contar pra vocês. Luffy já sabe porque eu precisei pedir a permissão dele pra continuar no bando, mas…
O coração de Zoro errou uma batida.
— O quê?
— Como assim, Sanji-bro?
— Por que precisaria de permissão pra continuar no bando, Sanji-kun?
— Luf-Luffy eu de-devia ter pedido permissão também?
Luffy riu.
— Ninguém precisava me pedir permissão, Usopp! Sanji só estava sendo bobo!
Sanji lançou-lhe um breve olhar duro.
— Eu precisei sim! E, bem, é por causa do que eu preciso contar pra vocês e… mostrar… por causa do que tem dentro dessa cesta. — Todos os olhos se voltaram para a grande cesta rosa que o cozinheiro apertava com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos enquanto ele dava um tempo para controlar a própria respiração e, talvez, reunir coragem. — Eu precisava ter certeza de que ela não seria um fardo ou, ou um problema pra tripulação.
— Nenhum nakama é um fardo ou problema. — Luffy rebateu sério, provocando um pequeno sorriso no rosto nervoso de Sanji, enquanto Zoro revezava o olhar entre os dois e a cesta, cada vez mais confuso.
A tampa da cesta começou a abrir minimamente e fechar por conta própria.
Tinha algo vivo ali?
— Sanji-kun, quem é ela ? — Nami aproximara-se do cozinheiro em passos calmos, usando sua voz mais suave para fazer a pergunta pulsando na mente de quase todos eles.
Os olhos de Sanji nitidamente brilharam ao pousarem na ruiva, causando um ignorável aperto no peito de Zoro, e então deu um passo à frente, diminuindo ainda mais a distância entre eles e erguendo a cesta para a navegadora.
— Segura pra mim, Nami-san? — Pediu e colocou com extremo cuidado a cesta nos braços dela assim que ela os ergueu. Então ele abriu a tampa e sorriu para o que tinha dentro.
Os olhos de Nami quase saltaram para fora, com seu queixo quase batendo em seu peito.
Sanji enfiou os braços na cesta e cuidadosamente tirou o que tinha lá de dentro.
Foi a vez do restante da tripulação —menos Luffy e Robin— de quase perderem os olhos e os queixos.
Sanji tinha um bebê nos braços.
Um bebê humano de colo de verdade que estava segurando a manga de seu paletó enquanto chupava o dedão da outra mão e olhava para todos os lados confuso.
O silêncio chocado que preencheu o navio só não fora absoluto por causa do risinho animado de Luffy, que foi o primeiro a quebrar tal silêncio de vez:
— Temos um novo membro no bando, pessoal!
— Sim, bem, essa é a Kora. E, Kora-chan, essa é nossa nakama . — Sanji falou com a voz mais suave e carregada de afeto que Zoro já ouvira na vida .
Zoro encontrava-se estático, sem conseguir tirar o olho esbugalhado da criança, o coração batendo tão forte e rápido que pressionava o tórax de forma dolorida, a língua grande demais presa na garganta, mãos e nuca começando a suar pela pele fria, mente preenchida por um alto barulho branco consumindo qualquer tentativa de pensamento.
Contudo, o resto da tripulação não parecia estar sofrendo do mesmo intenso choque.
— Awwn, como ela é lindinha!
— Sanji, não me diz que você sequestrou um bebê e agora vamos ter ainda mais alvos nas nossas costas e mais pessoas vindo atrás da gente!
— Sanji! Sanji! De quem é esse bebê? Deixa eu ver! Quer que eu examine ela?
— Que bebezinha mais adorável! Até me lembrou de Laboon, apesar dela não ser uma baleia, yo-hohoho! Será que ela gosta de cantigas pra ninar? Eu tenho algumas!
— Temos um suuuper bebê a bordo! Por essa eu não esperava! Quer que eu construa um berçário pra ela? Vou começar agora!
— Ela é realmente adorável, Sanji. E parece saudável.
— Eu quero ver! Deixa eu segurar! Kora! Sanji, deixa eu segurar!
Habilmente, Sanji esquivou-se do “ataque” de Luffy que tentara pular em suas costas, mas ao invés acabou dando de cara com Usopp e os dois rolaram para mais longe enquanto os demais continuaram a se aproximar do cozinheiro até terem o rodeado por completo, tirando a visão de Zoro da criança, o que o levou a piscar pela primeira vez no que pareciam horas .
— Eu não sequestrei ninguém, Usopp! — O cozinheiro disse mais ríspido, então o tom voltou a suavizar, saindo quase tímido. — Kora… Kora é minha . Eu… — Ele limpou audivelmente a garganta e seu olhar pareceu encontrar-se com o de Zoro por um segundo antes de voltar-se para a criança. Poderia ter sido só impressão. — Eu estava grávido quando Kuma nos separou.
Dessa vez, a explosão de vozes falando uma por cima da outra foi instantânea, mas Zoro mal podia ouvi-las. Não quando seu coração parou bruscamente, roubando-lhe o ar dos pulmões como um chute no tórax e sua mente era consumida por uma única lembrança sobrecarregada em sons, sabores, cheiros e Sanji em sua boca, sua pele, suas mãos, fazendo uma pressão ardente em suas coxas ao cavalgar em seu colo, sua buceta molhada e apertada engolindo seu pau por inteiro, arrepiando cada pelo e célula do corpo do alfa com seus hormônios intoxicantes e os gemidos promíscuos escapando sem parar de seus lábios inchados. Lábios que também haviam expelido um inegável pedido:
— Me ata, Zoro, por favor. Me ata .
E Zoro o tinha feito.
Zoro havia prendido ambos em seu nó durante um sexo sem proteção.
Agora Sanji estava com um bebê nos braços. Um bebê que alegara já estar carregando em seu ventre antes de terem sido bruscamente separados.
Mas os dois haviam passado horas sozinhos em Sabaody. Sanji teve todo o tempo do mundo para contar para Zoro sobre Kora, mas ele apenas procurara Luffy para conversar e sequer deixara Zoro ouvir a conversa.
Por que o cozinheiro não tinha contado para Zoro sobre Kora?
— Ela realmente tem seus olhos e as suas sobrancelhas, Sanji-kun! Tão bonitinha que eu quero morder! — Nami falava com uma voz mais afinada, parecendo curvada para ficar com o rosto na altura da criança no colo do pai.
— Eu ‘tô super emocionado por você, bro! — Franky dizia entre um choro dramático, com Brook concordando com ‘ Yo-hohoho’s.
— Eu vou garantir que ela vai estar sempre saudável, Sanji! Pode deixar comigo! A propósito, me fala todas as vitaminas que ela ainda não tomou! — Chopper dizia com a voz afetada do colo de Robin para também conseguir ficar mais perto da criança em sua forma padrão.
Robin soltou um delicado riso.
— Kora também parece ter herdado sua coragem, Sanji. Porque tem um bando todo esquisito e barulhento em cima dela, e ela só está nos encarando com os olhos arregalados brilhando em curiosidade. Acredito que isso também demonstra que ela gosta de aprender, e ficarei honrada em ajudar com isso.
— Eu também, Sanji-kun! Vou ensinar tudo sobre mapas e dinheiro e moda pra ela. Ela vai ser a piratinha mais linda e inteligente de todos os mares!
Mesmo de longe e de forma mais controlada do que o esperado, era óbvio que Sanji estava derretendo-se por toda a atenção que recebia das mulheres do bando, mesmo que indiretamente.
— Ficamos tão honrados com isso, Robin-chan! Nami-san!
— Sanji! Deixa eu conhecer minha nova nakama ! — Luffy quase berrava ao se aproximar correndo, empurrando Franky e Brook para conseguir passagem, Usopp vindo logo atrás bem mais timidamente. Dessa vez, Sanji mostrou a garotinha em seus braços para o capitão, que abriu um enorme sorriso, grandes olhos brilhando em pura alegria. — Oi, Kora! Seja bem-vinda ao Thousand Sunny! Não se preocupa que você vai ser bem cuidada, ‘tá bom? Nunca vai ficar sozinha e seu pai é o melhor cozinheiro que existe, então ele vai te alimentar quase tanto quanto ele me alimenta com as comidas mais gostosas!
O coração de Zoro palpitou um pouco mais forte com a boca secando enquanto os demais concordavam veementemente com as palavras do capitão e Sanji abria seu sorriso do All Blue .
Zoro queria aproximar-se para ver tal sorriso mais de perto, porém suas pernas não o obedeciam, seu corpo inteiro congelado.
Então Usopp começou a soltar risinhos e comentou em alto e bom tom:
— O Sanji reclama tanto do cabelo verde do Zoro que a filha dele nasceu com o cabelo igual! Até o tom da pele é parecido!
Um choque gélido atravessou o corpo de Zoro e, quando sete pares de olhos se voltaram para ele —menos os azuis que ainda o perseguiam em seus sonhos—, seu estômago caiu para o pé ao mesmo tempo em que todo bile subia para a garganta.
Ele deveria falar alguma coisa, não deveria? Ele deveria se aproximar e-.
Sanji limpou alto a garganta.
— É, uma infeliz coincidência, mas o cabelo de Kora é milhões de vezes mais bonito, limpo e cheiroso, então nunca mais compare nada dela com o Marimo, — ordenou com a voz mais rígida e o cenho de Zoro franziu em profunda confusão. — Nami-san, pode segurar Kora para mim enquanto vou preparar algo para todos nós comermos? Ela já sabe engatinhar e adora explorar, mas quero apresentar com calma o navio pra ela depois.
— Sim! Comida do Sanji! Comida do Sanji!
— Vou agora mesmo deixar o Sunny todo à prova de bebê, Sanji-bro!
— Claro, Sanji-kun, adoraria! — Nami aceitou já esticando os braços e a criança foi fácil para ela, já agarrando seu compridíssimo cabelo laranja com curiosidade. — Ela é tão boazinha!
Sanji sorriu, dando um beijo na cabeça da filha enquanto Luffy pulava ao redor dos dois tentando ver mais de perto.
— Acredite, ela ‘tá acostumada com um monte de gente esquisita e barulhenta em cima dela toda hora, — terminou em um suspiro e começou a afastar-se em direção à galeria. — Confio em vocês, mulheres da minha vida, pra não deixarem os caras sem noção derrubarem o meu bebê!
— Pode deixar, Sanji. — Robin riu de leve enquanto Luffy e Usopp protestavam.
Contudo, Zoro não deu a mínima para a história de Usopp sobre já ter cuidado de mais de oito mil bebês de colo sozinho e ao mesmo tempo, já que, quando Sanji afastou-se balançando a cabeça e rindo de leve, as pernas do espadachim finalmente o obedeceram e ele o seguiu até a galeria.
Mesmo lá dentro sozinho com o cozinheiro, a língua de Zoro permanecia presa na garganta, grande demais para deixá-lo falar e agora seus batimentos acelerados o estavam causando um pouco de tontura.
— O que é, Marimo? — Sanji quebrou o silêncio primeiro, sem sequer olhar para ele. Ao invés, batucava os dedos na bancada, a cabeça baixa com a franja cobrindo ainda mais o seu rosto, a voz ficando mais dura conforme falava. — Se acha que um ômega com um bebê não é mais digno de ficar nessa tripulação, fale de uma vez.
A acusação foi tão súbita e inesperada que a tontura de Zoro até aumentou.
— Ahn? De onde tirou isso? Luffy já disse, nakama é nakama, — rebateu com os lábios franzidos e percebeu os ombros do cozinheiro distensionando minimamente.
— Então não vai me tratar diferente?
— Não sei. ‘Cê continua o mesmo idiota pervetido?
— Você que é idiota! — Rosnou virando o rosto para ele e Zoro não pôde não sorrir seu sorriso cortante, seu sangue já começando a aquecer um pouco da mesma forma que sempre aquecia em qualquer discussão ou briga com o ômega.
Sanji então começou a abrir os armários, provavelmente atrás das coisas que tinha comprado e que alguém devia ter guardado para ele.
— Não comprei bebida alguma, então pode sair daqui.
Os batimentos de Zoro voltaram a acelerar ao lembrar-se do que tinha ido fazer ali.
— Não quero bebida, eu…
— O quê? — Sanji soou cortante, seus ombros voltando a tensionar e o cabelo a cobrir o rosto. Apesar do forte cheiro de nicotina cobrir bem seu odor natural, um certo azedume de nervosismo ainda era detectável.
Zoro limpou a garganta buscando recompor-se, livrando-se de qualquer feromônio negativo que poderia estar exalando com seu próprio nervosismo.
Se ele tinha uma nova responsabilidade, ele a assumiria por completo, de peito aberto e sem hesitação, ganhando o ômega no processo ou não. Depois de Sanji ter passado por toda a gravidez e além do primeiro ano lidando com tudo sozinho, o mínimo que Zoro podia fazer era mostrar sem sombra de dúvidas que estaria ali por ele e por Kora dali em diante.
Dessa vez, Zoro estava de acordo com seu instinto primitivo vibrando para ir conhecer a sua prole e então passar o resto de seus dias cuidando dela e protegendo-a.
— Por que você não me contou que eu tenho uma fi-.
— Não .
Zoro quase engoliu a própria língua quando Sanji virou com tudo, a única palavra cortando o ar como uma faca, o olho visível duro e fixo no espadachim, com as veias do pescoço tão saltadas quanto as das mãos com a força com que as apertava em punho.
As mãos preciosas que não podia machucar.
O cenho de Zoro se franziu tanto que a ruga poderia se tornar permanente, sua mão buscando apoio no cabo de Wado Ichimonji.
— Não o quê?
— Kora não é sua, — falou ríspido e baixo, como se temendo ser ouvido.
Zoro mordeu a mandíbula e deu um passo à frente sem pensar.
— Como não? Todo mundo percebeu que ela tem o meu cabelo e nós transamos sem proteção poucos dias an-.
— Não! — Repetiu mais alto, também dando um passo à frente. — Eu transei com uma mulher alfa de cabelo verde depois do banquete em Water 7, é por isso que ela tem esse cabelo e a pele, não tem nada a ver com você!
Zoro engoliu em seco, retrocedendo o seu passo.
— Então ‘cê já tava grávido quan-.
— Eu já te falei, não falei?
Não aconteceu nada.
Zoro ainda conseguia lembrar com clareza as palavras, assim como o olhar duro de Sanji, semelhante ao qual vestia agora. E também lembrava de como as palavras pareceram uma facada em seu peito.
Agora não parecia muito diferente, além de lhe tirar o ar.
— Entendo, — disse por fim, a palavra pesando como concreto em sua boca.
Não esperou Sanji falar mais nada, apenas se virou e saiu da galeria em passos pesados e apressados, batendo a porta atrás de si sem se importar, assim como não se importou com os feromônios agressivos que deixara para trás, sufocando o ômega em sua preciosa cozinha.
Sanji já o estava sufocando sem remorso há dois anos e agora achara uma nova forma de piorar a pressão.
— Ei, Zoro! Não quer vir conhecer a Kora? — Nami perguntou do balanço onde havia sentado com a criança, com Chopper e Robin ainda por perto ajudando a cuidar dela enquanto Usopp, Luffy e Brook corriam de um lado para o outro fascinados com todos os diferentes peixes que passavam pelo Sunny e Franky estava ocupado adicionando coisas por todo o navio.
Zoro parou ao terminar de descer a escadaria, encarando a pequena garotinha de curtos cabelos verdes e grandes olhos azuis o encarando de volta em inocente curiosidade. Suas sobrancelhas, mesmo pequenas, já começavam a formar o início de um encaracolado na ponta.
Mesmo de longe, Kora parecia ser uma bebê muito bonita.
Uma mistura perfeita de Sanji e…
Bem, não dele.
— Não tenho nada a ver com isso, — grunhiu e virou-se para o outro lado, seguindo em direção à gávea e ignorando os chamados confusos de Nami.
Antes que pudesse subir para seu porto seguro e malhar todas as emoções ruins o sufocando, Luffy o puxou pelo braço e o envolveu em sua admiração do fundo do oceano, com eles afundando cada vez mais e mais em uma velocidade segura. E logo ele e Usopp contavam com empolgação o que haviam feito durante aqueles dois anos, convencendo Zoro a contar um pouco também. Não demorou para Chopper vir se envolver e Brook cantar um pouco de suas novas músicas.
Então Franky contou sobre como Kuma havia protegido o Sunny e a possibilidade de que o Shichibukai de fato havia salvo todos há dois anos, enviando cada um para o local ideal, onde mais poderiam se preparar para enfrentar o Novo Mundo.
E Zoro forçou-se a esquecer da ideia de que Kora era sim sua filha, independente do que Sanji dizia.
Se Sanji não queria que ele se envolvesse, Zoro respeitaria seu desejo, assim como o havia feito há dois anos.
E vai saber, Sanji poderia estar falando a verdade.
Kora podia sim ser filha de uma alfa aleatória de Water 7 e Zoro, de fato, não tinha nada a ver com toda aquela situação.
Notes:
e aí, o que acharam? 👀
acham que o sanji tá falando a verdade? acham que o zoro consegue só deixar pra lá? que todo o treino dos dois anos realmente o ajudaram a "superar" o sanji? 👀 me digam suas teorias hehemuitíssimo obrigada por ter lido!! e ficarei felicíssima se acharem que merece kudos e comentários♡
até a próxima!
Chapter 3: não sinto mais atração.
Notes:
bastante spoilers da "ilha dos homens-peixe" nesse capítulo! 😉
(See the end of the chapter for more notes.)
Chapter Text
Porque os Chapéus de Palha tinham muita sorte em evitar confusões, enquanto ainda afundavam em direção à Ilha dos Homens Peixes—depois de todos terem conversado um pouco sobre como e onde passaram os últimos dois anos e de Franky ter revelado a todos sobre Kuma ter protegido o Sunny e de como ele tinha, na verdade, salvo todos eles em Sabaody—, toda a calmaria foi bruscamente interrompida por nada menos do que um Kraken gigante atacando o navio.
E, como se não tivessem ficado dois anos separados, Luffy, Zoro e Sanji atacaram o monstro junto em perfeita sincronia, já demonstrando golpes novos e como estavam incomparavelmente mais fortes.
Apesar de cada um estar dentro de sua literal bolha no fundo do oceano, demonstraram enorme poder e maestria de haki. Zoro mal podia esperar para lutar de novo ao lado deles em terra firme e sem limitações.
Mesmo depois de terem mandado o Kraken para longe, Luffy ainda foi atrás dele, falando algo sobre querer que ele fosse seu bichinho ou sua janta—o que desse certo primeiro—e Zoro estava prestes a segui-lo pelo risco de deixar um usuário da Fruta do Diabo sozinho no meio do oceano, quando ouviu algo estourando atrás de si acompanhado de um leve grito e, ao olhar para trás, deparou-se com Sanji sem sua bolha, mexendo braços e pernas em uma tentativa de nadar para cima ao invés de ser esmagado pela enorme pressão que a altíssima profundidade em que estavam causava.
Sanji podia ser o melhor nadador do bando, mas ele ainda era humano, com ossos e pulmões humanos.
Zoro não pensou; nadou o mais rápido que pôde até ele sem colocar sua própria bolha em risco e, assim que estava ao seu alcance, colocou apenas uma mão para fora, agarrando-o pela gola do terno e puxando-o para dentro de sua bolha. Porque o espaço não era muito, o cozinheiro quase caiu em cima de si, a maior parte de seus corpos encostando, fazendo Zoro paralisar e prender a respiração porque a mínima das fungadas do aroma do ômega agitado e nervoso pela situação bastou para bagunçar seus sentidos e crescer em seu peito o desejo de apertá-lo contra si, confortá-lo e esfregar suas glândulas com um feromônio calmante e protetor até que o aroma dele voltasse a ficar mais doce e tranquilo.
Zoro odiava o quanto seus instintos idiotas ainda ficavam pateticamente instintivos demais quando Sanji estava envolvido.
Era quase como se seu corpo não conseguisse entender ou não desse a mínima para todas as rejeições do ômega.
Pelo menos sua mente era mais esperta, com mais respeito próprio e ela e sua língua estavam acostumadas demais a antagonizarem o cozinheiro.
— Não consegue nem não estourar uma bolhinha, — provocou cruzando os braços quando o loiro finalmente recompôs-se e afastou-se o máximo possível, garantindo que não se tocassem.
Zoro ignorou a leve pressão em seu peito.
— Um cardume inteiro passou por mim do nada! — grunhiu com a respiração ainda afetada, uma mão cobrindo a parte do rosto que o cabelo não escondia.
Zoro estalou a língua.
— Isso, culpa os peixes.
Sanji apenas fez um barulho irritadiço com a boca, mas não falou mais nada, ao invés, focou em acalmar-se e recuperar a estabilidade de sua respiração.
Zoro não esperava um agradecimento dele nem nada do tipo, então começou a, com cuidado, guiar a bolha para baixo, em direção ao caminho que Luffy tinha ido atrás do Kraken.
— Deixa que eu conduzo a bolha, ou vamos acabar saindo no mar do East Blue de alguma forma, — o cozinheiro disse, dando um leve empurrão na cintura de Zoro com o pé, que grunhiu para ele apesar de afastar-se, dando espaço para Sanji ficar de frente para onde seguiam.
— Não tem como se perder descendo o oceano! É só continuar indo pra baixo! — Resmungou apesar de estar encostando-se confortavelmente no outro lado da bolha, pernas dobradas e braços atrás da cabeça, com as espadas seguras em seu colo e longe do risco de estourarem seu transporte. Não ligava nenhum pouco de poder ficar quieto em um canto enquanto o cozinheiro fazia todo o trabalho, mas não tinha como não retrucar uma acusação idiota do idiota.
— Ah, você com certeza daria um jeito de nos perder, — falou entre um cigarro que tinha colocado na boca. Mesmo que não fosse fumar, Sanji tinha essa mania de precisar ter algo entre os lábios e, mais vezes do que não, esse algo acabava sendo um cigarro.
Parecia que algumas coisas não haviam mudado em dois anos.
Ao invés de retrucar novamente e talvez começar uma discussão de verdade entre eles, Zoro acabou deixando passar ao perder-se em pensamento, observando com atenção o loiro à sua frente e tentando imaginar como é que haviam sido aqueles dois anos para ele já que, de todos os Chapéus de Palha, ele havia sido o que menos falou sobre, não havia nem especificado direito onde é que tinha passado esse tempo, além de “em uma ilha na Grand Line”. Então, tirando o fato de que Sanji com certeza havia treinado muito, talvez quase tanto quanto o próprio Zoro, aprendido novas receitas e passado por volta de oito meses gestando um bebê antes de pari-lo e ter ainda mais essa responsabilidade em mãos, Zoro não sabia de mais nada.
Como ele tinha conseguido treinar e ficar tão mais forte enquanto gestante? Ou ele só tinha começado a treinar de verdade depois do bebê ter nascido? Ele teve todos os cuidados necessários para ter uma gravidez confortável? A bebê teve todos os cuidados necessários? Ela parecia ser suficientemente saudável para a resposta ser positiva…
O cozinheiro tinha conseguido deixar de fumar totalmente enquanto gestante?
Sanji tinha fumado uma caixa inteira depois deles transarem para esconder o cheiro de Chopper.
A vergonha que ele tinha do que acontecera entre eles era tanta que estava disposto a colocar a vida de um feto de um mês em risco?
Sanji sequer sabia que estava grávido quando transaram?
Zoro trincou o maxilar para todos aqueles pensamentos inconvenientes que não eram de sua conta e, incomodado com eles e com o fato de estar sozinho com o cozinheiro em um espaço beirando a claustrofóbico que ainda estava sendo inundado pelos feromônios de preocupação dele, Zoro sem pensar muito, fez o que lhe era mais natural e confortável.
Ele provocou Sanji.
— ‘Cê tem alguma tara de só transar com alfas de cabelo verde?
Todo o corpo do ômega tensionou na hora, a coluna ficando mais ereta, os ombros quase chegando na altura das orelhas, a mandíbula mordendo tão forte que poderia cortar o cigarro no meio e os feromônios tão preocupados começaram a ficar mais amargos , revelando a súbita irritação que poderia ignizar em fúria com um estalo de dedos.
Zoro umedeceu os lábios com a língua, sua pulsação acelerando quente com a perspectiva de uma briga—com a perspectiva de ter alguma indivisível atenção do cozinheiro.
O olho visível e escurecido de Sanji focou no rosto do alfa antes dele quase rosnar:
— Minha vida sexual não é problema de ninguém além de meu! Não tem o direito de me falar nada, espadachim de meia tigela !
Diferente do certo entretenimento que Zoro esperava, as palavras do outro esquentaram ainda mais seu sangue de uma forma diferente, que o fez morder a própria mandíbula mostrando os caninos, com as narinas inflando e o olho bom pulsando. Com todo e qualquer pensamento nublado pela mais arisca indignação, as palavras só escaparam como veneno:
— Ah, mas tu tem o direito de se meter na vida sexual dos outros, cozinheiro de araque ?
O olho de Sanji arregalou por um milésimo de segundo antes de se espremer.
— Quando é que eu me meti na vida sex-.
— Eu não vou sair falando pra todo mundo que nós dois transamos há dois anos, nem espero que tenha significado nada, — Zoro quase mordeu a língua com o quase vacilo na firmeza da voz. — Mas aconteceu algo sim e não vou mais te deixar negar isso! Nós transamos sem proteção e eu te atei com o meu nó , por isso sou totalmente justificável em achar que a garota era minha-.
— Kora não é sua, — rebateu entre dentes sem pensar, como se fosse segundo instinto.
Zoro soltou um ar irritado pelo nariz, a voz ficando mais firme e não mais alta, mal notando seus feromônios ficando um pouco opressivos na bolha.
— Já entendi isso! Mas há dois anos aconteceu algo sim entre a gente!
— Tá bom, Marimo! Aconteceu! Feliz?! — Sanji soltou com a voz um tom mais aguda, o rosto avermelhando, narinas infladas e respiração acelerada como se estivesse correndo. — Agora dá pra controlar essa porra de cheiro, seu alfa imbecil!
Foi então que Zoro percebeu que o pouco do cheiro que ele conseguia sentir do ômega parecia estar quase submissivo apesar de ainda bem irritado, enquanto seu olho arregalado tinha umedecido e seu corpo retecido um pouco, mas mantendo os caninos bem à mostra e a perna pronta para chutar se fosse preciso.
Na hora, Zoro sentiu-se desinflar como um balão ao forçar seus feromônios sob controle.
Era irritante como tudo o que estava diretamente conectado ao instintivo fugia de sua noção e tão praticado autocontrole quando Sanji estava envolvido de alguma forma. O que não era desculpa de forma alguma e nem deveria mais acontecer depois de dois árduos anos de puro treino.
Entretanto, eles não exatamente desculpavam-se um com o outro, então Zoro apenas controlou-se e virou o rosto para o lado, buscando dar o máximo de privacidade que Sanji precisasse para recompor-se enquanto focava em sua própria respiração, conduzindo-a a ficar amena e a resfriar todo o seu corpo no processo, reencontrando seu centro e estabilidade, esvaziando a mente.
Pelo menos agora ambos estavam em concordância de que a primeira—e única—vez de Zoro havia sido real e não fruto de sua imaginação desejosa e era tudo o que Zoro queria.
Nada mais além de camaradagem e nakamaship aconteceria entre ambos, mas pelo menos Zoro teria aquilo.
Alguns poucos instantes se passaram em completo silêncio, enquanto Sanji voltava a levá-los em direção a onde Luffy havia sumido no completo breu do fundo do mar—o que significava que teriam que depender de seus hakis de observação para encontrá-lo—, até o cozinheiro resolver quebrar tal agradável silêncio com uma infeliz pergunta, um riso de deboche contido na voz:
— É verdade que ficou pensando em mim durante seus ruts esses dois anos?
— Não, — mentiu entre dentes, sem coragem de olhar para o outro porque tinha certeza de que a pigmentação de seu rosto tinha avermelhado. Mesmo assim, pôde ouvir uma baixa risadinha do ômega, sinal mais do que suficiente de que ficariam bem, de que poderiam voltar a como eram antes da fatídica noite.
Isso bastou para devolver real leveza aos ombros e peito de Zoro.
Até ouvirem a bolha de Luffy estourar junto a um grito esganiçado do capitão.
Zoro e Sanji apenas se entreolharam por um segundo antes do cozinheiro acelerar o passo para levá-los até Luffy o mais rápido possível sem colocarem a última bolha que tinham em risco, Zoro concentrando-se totalmente em localizar o capitão e, por sorte, já estavam próximos o suficiente para Luffy não ficar nem um minuto afundando no mar.
De alguma forma que só Luffy era capaz de fazer, o Kraken de fato foi domesticado e, quando se reencontraram com o resto da tripulação novamente, ajudou-os a salvá-los desse gigante navio nada assombrado. Assim que retornaram à segurança do Sunny, o cozinheiro foi direto pegar sua filha dos braços de Nami, apertando-a contra si e enchendo-a de beijos que a fizeram rir um doce riso faltando dentes e então a manteve consigo a todo instante, literalmente grudada em seu quadril enquanto ia de um lado para o outro garantindo que todos estavam bem e sem fome, alheio ao olho do espadachim o seguindo com uma leve pressão agridoce no peito.
Então eles foram atacados na entrada da Ilha dos Homens Peixe e bruscamente separados, com Zoro acordando sabe-se-lá quanto tempo depois em um local deserto e desconhecido, adentrando uma floresta bizarra onde foi perseguido por homens-peixes, até ir parar em um grande castelo flutuando em uma bolha onde reencontrou-se com parte da tripulação à convite do próprio rei—e foi informado de que ambos Sanji e Kora estavam bem, estavam com Chopper em uma ala médica depois do cozinheiro ter pagado o maior mico de quase morrer de hemorragia graças à sua paixão por sereias. Só para logo serem atacados de novo por um fanboy patético do Arlong cujo Zoro quase destruiu em uma luta embaixo d’água, até tudo dar errado e ele, Usopp e Brook acabarem presos juntos em uma única gaiola pendurada no teto.
Uma gaiola que estava cada vez mais perto de ser inundada, condenando os três a morrerem afogados.
— Eu não posso morrer assim! Eu sou alérgico a morrer-afogado-dentro-de-uma-gaiola-no-fundo-do-oceano! — Usopp esganiçava, chacoalhando-se desesperado, o que estava fazendo a tal gaiola chacoalhar também.
— Entendo sua preocupação, Usopp-san, mas, se continuar balançando assim, vai nos fazer morrer ainda mais rápido! — Brook alertou em um tom bizarramente otimista.
Usopp paralisou e encarou o músico confuso.
— Por quê?
— Você vai fazer a gaiola cair direto para o nosso fim! Se bem que já estou morto mesmo! Yo-hohoho !
Enquanto Brook ria de sua própria piada, Usopp gritava com o corpo paralisado dessa vez, olhos saltados e língua para fora, fazendo doer um pouco os tímpanos de Zoro que franziu todo o cenho e nariz em desconforto.
Por sorte, Usopp era um beta, então os seus feromônios eram mais fracos comparado aos outros dois gêneros secundários, mesmo assim, todo o seu medo sempre cheirava podre e era difícil de ignorar, principalmente quando atiçavam o instinto de proteção de Zoro sempre tão aguçado quando o assunto era qualquer um da tripulação, sua família a quem jurara proteger. E agora ele estava preso, com todo o tronco e braços fortemente amarrados com cordas de metal, sem qualquer sinal de suas espadas, impotente para salvar Brook e Usopp daquela sina.
Ele havia treinado e sofrido nas mãos de Mihawk por dois anos para coisas como aquela não acontecerem!
— Preciso de pelo menos uma espada. Só uma espada e eu tiro a gente daqui, — disse entre dentes, ainda tentando manter-se calmo apesar de toda a turbulência de culpa e auto-repreensão em seu interior, porque se deixar abater não ajudaria ninguém, poderia até piorar se começasse a liberar hormônios de estresse ao invés dos mais suavizantes que tentava liberar para tranquilizar os outros dois. Hormônios esses que funcionariam melhor se ele fosse um ômega.
O cozinheiro estava muito longe dali.
— Mas não temos nenhuma espada aqui, Zoro! E precisamos sair logo ou vamos virar comida de peixe!
— Oh ! Se os homens-peixe nos comessem, seria considerado canibalismo?
— Não é hora pra isso, Brook! E ‘cê precisa passar menos tempo com a Robin!
— Yo-hohoho! A mente dela é assustadora!
Enquanto Usopp berrava com Brook que ria, Zoro começou a tentar chutar as grades já que suas pernas eram a única parte livre do seu corpo, porém não parecia que teria efeito algum além de balançar ainda mais a gaiola. Zoro trincou o maxilar enquanto chutava com mais força, arrependendo-se de não ter feito mais treinos de perna.
Então colocou ficar sem respirar embaixo d’água e pernas em sua lista mental de coisas que deveria encaixar em seus treinos diários.
Coisas que ele não precisava se preocupar quando tinha o cozinheiro por perto.
— Oh, Zoro! Pa-para com isso! Cê va-vai ma-matar a gente mais rápido!
— ‘Tô. Tentando. Tirar. A. Gente. Daqui! — Disse pontuando cada palavra com um chute, fazendo a gaiola balançar ao ponto de quase fazer um semi-círculo no ambiente.
— Mas ‘cê não é o Sanji! PARA! — Usopp berrou tanto que um ouvido de Zoro começou a pifar e, bufando, ele parou com suas tentativas fúteis e voltou a sentar em seu canto com a expressão fechada.
Aos poucos a gaiola foi parando de balançar, junto aos berros de ambos Usopp e Brook diminuindo e Zoro só podia ser grato por não ter ficado surdo.
— E cadê aquele cozinheiro idiota? — Resmungou tentando focar sua raiva em outra coisa, além de distrair-se do feromônio apavorado de Usopp, tão forte e dominante que o beta poderia ser confundido com um ômega se seu cheiro tivesse qualquer conotação mais adocicada.
Diferente do feromônio apavorado de Sanji também, o de Usopp estava apenas deixando o alfa inquieto e desconfortável por não poder fazer nada, ao invés de tendo seu peito tão sufocado que o faria querer arrancar a própria pele e cobrir o ômega com ela, enchendo-o com seu próprio cheiro e protegendo-o ao mesmo tempo.
Todo o pavor de Sanji era uma das coisas que ficariam para sempre marcadas na mente de Zoro ao pensar em Thriller Bark e Sabaody e o alfa só podia desejar nunca mais senti-lo de novo.
— A gente te disse, ele… ele, ah , meu coração não aguenta tanta emoção assim! Ah, ele quase mo-morreu de tanto sangue que… que perdeu por causa das sereias. — Usopp disse entre fortes respiradas, uma mão apertando o peito como se tentando desacelerar o coração.
— Não posso culpar o Sanji-san, as sereias são realmente lindas! Yo-hohoho !
— Pode ser, mas ele quase matou o Chopper do coração e agora ele ‘tá lá garantindo que ele tenha sangue no corpo o suficiente de novo.
Zoro mordeu a mandíbula e olhou para baixo, a água subindo cada vez mais próxima de onde estavam.
— E a garota ‘tá com eles, né? — Soltou sem pensar muito, soando desinteressado.
— Quem? A Kora? Sim, Chopper disse que a presença dela podia ajudar o pai dela a se recuperar mais rápido, além de que parecia ser a opção mais segura e tínhamos razão! — Usopp contou com a voz ainda tremendo, olhos arregalados, mas pelo menos não estava mais berrando e seu feromônio estava consideravelmente mais contido.
— Kora-chan é tão bonitinha! Os grandes olhos curiosos dela me lembram dos de Laboon quando tocávamos Bink’s no Sake pra ela! A diferença é que os olhos de Kora são azuis e ela não é uma baleia! Yo-hohoho !
— É, ela é uma gracinha… mas, sendo sincero, isso ainda é bem estranho pra mim, — Usopp confessou coçando a nuca e Zoro franziu o cenho para ele, seus batimentos um pouco mais lentos.
— O que é estranho? — Perguntou cauteloso, a voz baixa.
Usopp deu de ombros e finalmente tirou os olhos da água subindo para olhar para seus companheiros.
— O fato de que o Sanji agora é pai? Que ele ‘tava grávido há dois anos quando nos separamos e deu a luz a um bebê? — Falou como se fosse óbvio. — Eu sei que ele é um ômega e que não pode ver um rabo de saia, mas ele só tinha dezenove anos e nós estamos nessa aventura perigosa que ‘tá prestes a ficar ainda mais perigosa …
— O cozinheiro não engravidou de propósito! — Zoro soltou entre dentes, soando mais defensivo do que gostaria.
Usopp ergueu as mãos em rendição, os olhos voltando a arregalar um pouco.
— Eu sei que não! E confio que podemos cuidar e proteger a bebê, confio na decisão do Luffy e nunca que ia querer que o Sanji fosse embora, nada disso! Só foi inesperado e é algo novo, só isso! — Fez questão de deixar claro e Zoro percebeu-se relaxando mais a cada palavra.
O que era ridículo porque ele sabia que Usopp sabia que o cozinheiro e a garota eram nakama tanto quanto ele, mas toda a situação estava deixando Zoro ainda mais predisposto a seguir seus instintos.
Brook soltou um barulhinho em concordância e quando falou, pela primeira vez desde que haviam sido presos ali, não carregava sinal algum de riso na voz:
— Zoro-san, na verdade, você foi o único que não falou nada sobre isso, nem chegou perto para conhecer a Kora-chan. Até tive a impressão que você não aprovava a decisão de Luffy-san.
— Por que eu não aprovaria? Como o Luffy disse, somos nakama , — respondeu sem hesitar, a voz firme, mas o olhar entre seus dois companheiros, concentrado em não deixar seu cheiro mudar já que não pôde fazer nada quanto aos seus batimentos disparando.
— E o que você achou do fato dela ter o seu cabelo, Zoro-san?
Zoro não conseguiu não arregalar os olhos para Brook, seu coração travando na garganta com a intensidade com qual aqueles dois buracos negros o encaravam de volta, analisando-o, sabedoria demais atrás de um crânio com afro.
— Tem muita gente com cabelo verde nesse mundo. — Foi o que conseguiu soltar com indiferença, voltando sua atenção para a água subindo e momentaneamente desejando que ela subisse mais rápido.
Usopp soltou um risinho.
— Eu realmente pensei que ‘cê fosse imediatamente começar a zoar o Sanji por causa disso, falar algo tipo, — ele deu uma breve pausa para limpar a garganta e arrumar a postura, sua expressão morfando em uma carranca antes de falar com a voz mais engrossada no que parecia ser sua tentativa de imitar Zoro. — ‘ Cozinheiro idiota é tão obcecado pelo meu cabelo que teve um bebê cabeça de alga pra ser assombrado pelo resto da vida’.
Então Usopp e Brook caíram na gargalhada, com o músico elogiando as habilidades de imitação do atirador enquanto Zoro encarava o nada, com a mandíbula cerrada e o ar parecendo preso na traqueia junto às palavras ‘ Zombar o cozinheiro nem passou pela minha cabeça porque eu estava preocupado demais acreditando que a criança era minha ’. Palavras que ele nunca poderia falar em voz alta porque, ele amava sua nakama , mas não era da conta deles o que tinha acontecido entre ele e Sanji, principalmente não quando aquela noite não tivera consequência alguma.
Era coisa do passado que não serviria de nada para tirá-los da perigosa situação em que estavam.
O que precisavam fazer era focar e encontrar uma forma de escaparem daquela gaiola e daquele palácio.
— A cor do cabelo da criança não importa, o que importa é sairmos daqui e logo, — vociferou seu pensamento de forma resumida, trazendo os outros dois de volta ao problema em questão mais rápido do que poderia piscar.
Infelizmente, isso fez com que o cheiro de Usopp, que tinha acalmado, voltasse a piorar de imediato enquanto Brook desesperava-se falando que iam morrer só para soltar a piada sem graça de que já estava morto. Então Usopp fez uma imitação da Robin sobre o que ela falaria da terrível situação e Brook resolveu revelar que ele na verdade agora tinha o poder de tirar a própria alma do corpo e andar livremente por aí, o que significava que todo esse tempo ele já podia ter ido atrás de ajuda ou de uma forma de conseguir pegar as espadas de Zoro, que só podia agradecer por ele não ter se lembrado desse pequeníssimo detalhe tarde demais.
Por sorte, a literal alma de Brook não demorou muito para encontrar Pappag sozinho e perdido pelo palácio, e juntos eles encontraram as espadas de Zoro, com a pequena estrela do mar conseguindo levar apenas Wado Ichimonji até onde eles estavam, o que já era mais do que suficiente.
Zoro precisou apenas colocá-la entre os dentes para partir aquela gaiola ao meio.
Ele apenas esqueceu-se dos pequenos detalhes de que os três ainda estavam amarrados com ferro, que cairiam diretamente na água e que Brook era um usuário da Fruta do Diabo.
O brusco contato com a água foi duro e pesado e doeu pelo corpo inteiro, mas Zoro forçou-se a recuperar-se no instante seguinte, também forçando sua visão a adaptar mais rápido para conseguir enxergar seus companheiros e dar um jeito de salvá-los, nem que tivesse que, de alguma forma, segurar ambos com os dentes sem tirar a Wado da boca. Quando Pappag aproximou-se de Zoro, ele chacoalhou a cabeça com veemência, apontando desesperado para onde o corpo de Brook afundava mais rápido; a pequena estrela-marinha arregalou os olhos ao entender a mensagem e, após um breve sinal de saudação, nadou em disparada em direção ao esqueleto. Soltando um suspiro aliviado que liberou algumas pequenas bolhas ao redor de sua cabeça, Zoro começou a procurar Usopp, encontrando-o alguns metros ao lado, debatendo-se desesperado como se isso fosse ajudá-lo a afundar mais devagar. Zoro imediatamente impulsionou seu corpo em direção ao dele, esforçando-se para nadar sem afundar apesar de todo o peso extra que tinha ao redor de seu tronco, colocando toda concentração e força em suas pernas para chegar ao seu companheiro o mais rápido possível.
Porém todos os chutes que dera na gaiola agora estavam cobrando seu preço, fazendo suas pernas parecerem mais pesadas e instáveis, estremecendo de súbito a cada poucas batidas contra a forte pressão da água ao ponto de suas coxas começarem a protestar o esforço mais rápido do que deveriam, prejudicando sua velocidade e equilíbrio. Zoro fechou os dentes com ainda mais força ao redor da espada, repreendendo-se mentalmente por todo descuido que cometera e que os levara a essa situação, incluindo o descuido de não ter uma rotina de treino de perna mais rígida. Contudo a ação de morder abriu seus lábios mais do que deveria e uma abrupta corrente de água entrou em sua boca, fazendo-o engasgar, perder o ar e parar de nadar.
Parecia que fogo invadira seus pulmões ao invés de água e, em instinto, Zoro forçou tudo a sair pelo nariz, o que levou-o a perder grande parte do oxigênio que ainda tinha, diminuindo ainda mais suas chances de conseguir salvar Usopp e a si mesmo daquela situação.
Mas Zoro lutaria e transformaria o impossível em possível enquanto ainda tivesse vida em seu corpo.
Tudo e qualquer coisa por seus companheiros e sua ambição.
Focando sua determinação como combustível, Zoro voltou a nadar em disparada em direção a Usopp, ignorando a queimação nas pernas e nos pulmões. Tudo o que importava era pegar seu amigo e devolver ar e oxigênio a ambos e então destruir os homens-peixes imbecis que haviam feito aquilo com eles.
Zoro faria cada um deles se arrepender por terem mexido com a sua família.
Antes que pudesse alcançar Usopp, no entanto, algo passou rápido na sua frente, tão rápido que a enorme quantidade de bolhas que produziu bloqueou sua visão por alguns instantes, fazendo-o parar de nadar de novo e piscar várias vezes com a intenção de ver algo além dos traços amarelo e preto indistinguíveis.
O ar travou na traquéia quando reconheceu Sanji, o olho bom arregalando enquanto observava o cozinheiro segurar Usopp pelas axilas por trás, movendo-se na água com uma facilidade e elegância de um humano familiarizado demais com o oceano.
E era claro que aquelas pernas do cozinheiro o ajudariam a ser quase tão rápido quanto um homem-peixe debaixo d’água.
Uma súbita vontade de desafiar Sanji para uma luta debaixo d’água tomou conta da mente de Zoro, mas ele rapidamente empurrou essa ideia para longe porque não era o momento.
E ainda bem que o fez porque o cozinheiro estava o encarando, balançando a cabeça e mexendo a boca sem conseguir fazer som como se tentando chamar sua atenção. Zoro ergueu uma sobrancelha questionadora para ele e Sanji chacoalhou uma perna em sua direção, apontando para ela com o queixo. Por um instante, tudo o que Zoro fez foi encarar a comprida e forte perna oferecida, até que a ficha caiu e ele impulsionou-se com tudo para ela, alcançando-a em segundos. Foi apenas complicado conseguir morder a parte mais solta da calça enquanto ainda tinha Wado na boca e Sanji foi ficando impaciente ao ponto de quase chutá-lo no rosto, mas, assim que Zoro conseguiu segurar-se nele com os dentes e encarou-o dando um curto aceno de cabeça, Sanji apenas assentiu de volta, virou-se com Usopp molenga nos braços e começou a nadar em disparada para cima, colocando toda sua força e agilidade nas pernas com uma facilidade que fez a barriga de Zoro contorcer-se de um jeito que começou a aquecer seu corpo por dentro mesmo que ainda tivesse dentro da água fria.
Seria totalmente compreensível se Zoro temesse pela integridade de seus dentes e mandíbula com o quanto eles estavam sofrendo com aquilo, começando a arder como se tivessem levado uma sequência de chutes bem mirados; sem contar toda a forte pressão começando a pesar em seu cérebro e membros, principalmente seus braços e tronco sendo apertados pelo ferro. O que não faltavam eram coisas para Zoro pensar e preocupar-se.
Contudo, ele sabia que sairia vivo dessa, então preocupação era desnecessária. Desnecessária e inexistente quando tudo o que ele conseguia pensar era em quão maravilhoso devia ser ter as pernas de Sanji ao redor de seu pescoço e cabeça, chegando pertíssimo de sufocá-lo até a morte enquanto ele o fazia gozar com apenas a língua.
Quando Sanji finalmente pulou com eles para fora da água, pulando mais um pouco no ar até levá-los para a terra firme mais próxima e derrubá-los sem muita delicadeza no chão frio, tudo o que Zoro conseguiu fazer foi encarar o nada perplexo. Todo o seu corpo doía em diferentes níveis, Usopp estava fazendo um escândalo ao seu lado, Brook estava rindo alto a poucos passos e Sanji estava furiosamente repreendendo os três, mas Zoro não conseguia prestar atenção em nada disso.
Não quando sua mente o havia traído daquela forma no momento mais inoportuno.
Mas que porra?!
Os dois anos que tentara arrancar o ômega de seu sistema não haviam servido pra merda nenhuma mesmo?
— Ei, cabeça de musgo! ‘Tá com a gente ainda? — Zoro sobressaltou-se não apenas com a voz de Sanji subitamente perto e mais controlada, mas também com o rosto dele acima do seu, o olho visível e preocupado escrutinando-o enquanto a sobrancelha bonita estava franzida de mais.
Não, bonita não! Esquisita!
— Zoro! Zoro! Me diz o que você ‘tá sentindo! Me diz o que ‘tá doendo! Você bateu a cabeça? Porque pareceu ter perdido a consciência! — Os berros nervosos de Chopper, que apareceu do nada pulando ao seu lado e já apertando seus cascos em todo canto que conseguia alcançar, fizeram Zoro voltar de vez ao presente e chiar em dor toda vez que o médico pressionava um canto de fato mais dolorido.
— Não bati e nem perdi a consciência, eu ‘tô bem, Chopper, — respondeu entre dentes levantando o tronco para sentar e pela primeira vez percebendo não estar mais amarrado.
— Você tem certeza, Zoro? Se tiver algo doe-.
— São só hematomas superficiais, Chopper, eu juro, ok? ‘Tô pronto pra transformar todos esses homens-peixe em sushi, — garantiu com a voz mais tranquila que conseguiu no momento, liberando um pouco de feromônio para a pequena rena entender mais rápido que ele não estava mentindo.
Por sorte deu certo e Chopper respirou aliviado, deixando-o levantar-se sozinho e pegar suas espadas enquanto apenas pedia para que Zoro o avisasse imediatamente caso sentisse qualquer coisa fora do normal; com Zoro prometendo que o faria, Chopper sorriu e correu para onde Usopp ainda estava sentado no chão, reclamando de ainda ter água nos pulmões e ter sido contaminado com a terrível doença de nunca-mais-posso-pisar-em-água-salgada-ou-vou-morrer-do-coração, o que significava que ele estava perfeitamente bem, assim como Brook que parecia estar contando sobre o acontecido para Franky e Robin a poucos metros de onde Zoro estava. Percebendo os dois pela primeira vez, Zoro correu o olhar ao seu redor, identificando a sala do trono agora toda destruída e ainda com resquícios de alagamento, mas não encontrando mais ninguém.
— Cadê o Luffy, a bruxa e… ahn, a bebê? — Perguntou, sua pele aquecendo um pouco por dentro pela forma como vacilou em mencionar a criança, ainda mais quando Sanji também notou e arqueou as sobrancelhas para ele, os olhos semicerrados enquanto acendia um cigarro.
O cozinheiro tirou seu tempo para dar uma longa tragada, os olhos deixando o alfa apenas ao tirar o cigarro da boca para responder:
— Não chame a senhorita Nami assim! E ela ‘tá com a Kora no Sunny lá fora. Não tínhamos certeza de se encontraríamos ameaças ou não aqui dentro, então preferi deixar Kora lá e Nami-san se voluntariou pra ficar com ela como a mulher absolutamente maravilhosa que ela é! — Quanto mais ele falava, mais sua voz afinava e adoçava ao ponto de Zoro ser forçado a torcer o nariz e revirar os olhos. Porém Sanji finalizou com a voz normal antes de dar outra tragada: — E Luffy ‘tá na boca de um tubarão.
Zoro arregalou os olhos para o cozinheiro, o coração parando em sua garganta.
— O quê?!
Sanji soltou uma risadinha, claramente divertindo-se às custas do alfa, mas não demorou muito para contar toda a história e o plano para ele, com a ajuda de Frank e Robin quando aproximaram-se junto a Brook.
Zoro não conseguiu não rir de leve e balançar a cabeça com a doideira que ouviu.
Era a cara de Luffy fazer uma coisa dessas.
— Tudo bem, então vamos. Não podemos perder a grande entrada, né? — disse rodando os ombros e estalando o pescoço antes de começar a andar em direção à saída.
Alguns braços de Robin brotaram do chão ao seu redor, fazendo-o virar e andar para o outro lado enquanto a própria mulher soltava um risinho. Zoro apenas encarou-a por um instante, mas continuou andando.
— Sinto que isso vai ser muito divertido! — Ela comentou com um tom meio sombrio para as palavras usadas. Usopp soltou um rangido.
— Eu acho que não posso participar disso! Meus pulmões ainda estão muito fracos! Eu ‘tô sentindo, eu ‘tô sentindo… — Balbuciou até deixar-se cair no chão com um fingido desmaio que deixou Chopper histérico em preocupação.
— Usopp! Usopp, não morre! Usopp!
Enquanto isso, os demais membros do Chapéus de Palha continuaram indo em direção ao Sunny ancorado no lado de fora do castelo, com Franky e Robin contando tudo o que tinham feito e descoberto ali na Ilha dos Homens-Peixe até o momento. No entanto, tudo o que Sanji conseguia falar era sobre como as sereias eram maravilhosas, que eram tudo o que ele havia sonhado, que a Princesa Shirahoshi era completamente deslumbrante e que ele não ligaria de morrer esmagado pela cauda gigante dela.
Zoro só conseguia gostar cada vez menos daquela porcaria de ilha, e eles nem pareciam ter um bar onde ele poderia ir depois beber e forçar-se a esquecer tudo isso.
— E a Kora-chan também amou as sereias! Sério, foi a coisa mais fofa de ver! Ela se encantou pelas caudas delas e ficava querendo segurar os cabelos tão macios e brilhantes! Vocês tinham que ver como as sereias amaram ela de volta! Quase não tive escolha senão ficar para sempre nos braços tão lindos e confortáveis das sereias com Kora!
Se Zoro ouvisse a palavra “sereia” mais uma vez…
— Então ela é realmente sua filha, né, cozinheiro? — Começou a provocar sem pensar, transformando o aperto na mandíbula em um sorriso cortante, já satisfeito com a forma como Sanji parou de falar e rodopiar para prestar atenção nele, cauteloso. — Ela vai crescer e ser uma tarada pervertida que nem o pai.
Zoro nem terminou de falar e um pé com sapato preto engraxado já estava o atingindo em cheio no peito. Esse pé foi seguido por outro e, se Zoro não tivesse sido rápido em desembainhar Wado e usá-la para bloquear o terceiro chute, agora estaria com uma marca de sola amassando seu rosto.
Mesmo assim, Sanji não parou com seus ataques certeiros e mais fortes do que costumava dar quando os dois treinavam ou lutavam um contra o outro, forçando Zoro a bloquear tudo rápido enquanto cambaleava para trás.
— Que porra, cozinheiro? — Conseguiu falar enquanto desembainhava Kitetsu, usando-a para bloquear uma tentativa de chute injusto no meio de suas pernas.
Sanji nunca havia mirado ali porque era literalmente golpe baixo .
— Zoro! Sanji! Sem brigar! — Chopper esganiçou inutilmente porque o cozinheiro continuou o chutando.
— Que porra você , cabeça de alga ambulante e estúpida ! — Grunhiu com uma ferocidade com qual nunca havia dirigido-se a Zoro antes, a nenhum de seus companheiros, o que pegou Zoro de surpresa o suficiente para desestabiliza-lo, permitindo a Sanji chutá-lo contra o que parecia ser uma bizarra árvore colorida, preendendo-o contra ela com um pé em sua barriga. Sanji aproximou o rosto o suficiente para Zoro ver com absoluta clareza a sincera ira por trás de seus olhos. Uma ira capaz de fazê-lo pegar fogo. — Escuta aqui, Marimo estúpido, você pode falar o que quiser de mim, mas nunca da minha filha! Falar mal, xingar, qualquer coisa do tipo está fora de cogitação quando se diz respeito a Kora, mesmo que de brincadeira, entendeu? Se isso se repetir, eu juro , Zoro, eu te faço engolir seus dentes.
Zoro engoliu em seco, o arrependimento subindo ao seu cérebro tão ácido quanto o próprio cheiro exalando de Sanji, parcialmente ofuscado pela nicotina.
Sequer hesitou em responder, olhando diretamente nas iradas íris azuis para mostrar que estava falando sério. E estava.
— Eu errei, curly . Nunca mais vai acontecer, eu juro. Tem minha palavra de que nunca mais vou falar e nem deixar ninguém falar. Não da bebê.
Sanji continuou prensando-o com o pé e encarando-o sem piscar, com Zoro encarando-o de volta da mesma forma e, gradualmente, toda a raiva foi esvaindo-se. Por fim, Sanji apenas bufou ao colocar o pé de volta ao chão, enfiando uma mão no bolso para pegar o isqueiro e acendendo o cigarro que tinha na boca antes de lançar um último olhar desconfiado para Zoro e seguir para o navio em passos mais rápidos sem olhar para trás.
Zoro guardou Wado e Kitetsu balançando a cabeça e inspirando e expirando com profundidade.
Não deveria ter vacilado daquele jeito. Estava querendo recuperar o relacionamento bom e equilibrado que tinha com o cozinheiro antes de Thriller Bark, não piorar tudo.
Nem sabia porque tinha falado aquilo, apenas que não queria mais ouvir sobre as perfeitas sereias.
— Vamos, Zoro! Luffy ‘tá esperando! — Chopper disse esticando o braço para Zoro, que não conseguiu não sorrir pequeno para o garoto e segurar seu casco, deixando-se ser conduzido para o Sunny.
﹒ꕀ⚔︎ꕀ⚔︎ꕀ﹒
Porque precisavam de todo mundo lutando contra o bando do Hody Jones, tiveram que deixar Kora bem escondida dentro do Sunny, trancada na sala do aquário dentro de um tipo de “berço reforçado” com teto que Franky construíra e que Sanji encheu de brinquedos, mamadeiras com água e leite e petiscos simples.
Mesmo assim, e com todos os Chapéus de Palha e Jinbei cientes de que tinha um bebê a bordo que precisava ser protegido, por isso em hipótese alguma poderiam deixar alguém chegar perto do Sunny ou atirar algo nele—e todos dando seu absoluto melhor para que isso não acontecesse—, ainda ficou óbvio para Zoro o quanto Sanji ficou um pouco distraído naquela batalha. Nada extremo ou que poderia colocar ele ou algum deles em iminente risco, mas o suficiente para deixar Zoro apreensivo cada vez que o cozinheiro desviava o olhar para o navio. Nessas horas, o alfa fazia questão de também entrar na visão do ômega, buscando encontrar com o olhar dele para lembrá-lo de que ele estava ali, de que eles eram um time, de que Zoro nunca deixaria que mal algum acontecesse a bebê.
Toda vez que seus olhares encontravam-se entre chutes poderosos e cortes mortais de espadas, Zoro podia jurar que Sanji corava antes de assentir minimamente e voltar a focar na batalha.
E agora isso era tudo o que o espadachim conseguia pensar.
Zoro estava sentado em um canto afastado do amplo e espaçoso cômodo, com duas canecas de bebida cheias em mãos enquanto todos os seus companheiros e pessoas-peixe e sereianos dançavam e celebravam a vitória deles ao seu redor, e o único pensamento insistente em sua mente era a imagem que achava ter visto da pele branca das bochechas de Sanji enrubescendo de longe por causa dele.
Zoro precisava dar um fim naquilo antes que chegasse a hora de entrar em rut e pagasse o maior mico da sua vida.
Ele estava tão distraído tentando forçar sua mente a parar de levá-lo de volta a bochechas coradas, cabelos loiros macios, olhos brilhantes carregados de luxúria, cheiro doce viciante e fortes pernas esmagando sua cabeça, que só percebeu que suas canecas haviam sido tiradas de suas mãos por mãos marrons e delicadas surgindo da parede quando um bebê estava sendo colocado no lugar.
Um bebê de curtos cabelos verde-musgo, sobrancelhas encaracoladas e dois grandes olhos azuis encarando-o com curiosidade.
Zoro quase engasgou com a enorme quantidade de ar que inalou de súbito.
Até onde Zoro tinha percebido, o bebê estava sendo passado de mão-em-mão, ficando um tempo com cada um dos integrantes do bando, antes de ficar com a Princesa Shirahoshi e então ser passado para outras sereias enquanto Sanji dividia-se entre rodopiar ao redor de todas as sereias, enchendo-as de elogios, e ir atrás de cozinheiros para pegar todas as receitas de pratos típicos da ilha. Mas a criança não havia chego perto de Zoro que sequer havia pensado muito a respeito porque o que ele faria com o bebê do seu rival que não era dele?
Por isso imediatamente tentou devolvê-la para Robin, insistindo que ele queria beber em paz e não ficar de babá e dando a desculpa de que o cozinheiro não iria gostar de ver a filha com ele, mas Robin apenas balançou a cabeça dando um passo para trás e cruzando os braços, um olhar sabido no rosto formando a sombra de um sorriso que fez Zoro desistir e parar de olhar para a arqueóloga, as bochechas queimando sob a pele com a mera possibilidade de que Robin de fato sabia mais do que deveria e do que se deixava dizer.
Não, Zoro não podia sequer contemplar a possibilidade de que alguém do bando sabia sobre ele e Sanji, muito menos Robin, então decidiu que ignorá-la era a melhor opção e, portanto, finalmente conhecer a bebê do cozinheiro não seria tão ruim.
— Hm, oi… bebezinho, — disse desajeitadamente com um pequeno nó na garganta e as palmas das mãos, embaixo das axilas de Kora e quase cobrindo os lados dela, começando a dar indícios de suor.
Apesar da iluminação não ser das melhores por estar de noite e eles estarem em uma festa em ambiente fechado, Zoro conseguia enxergar muito bem os traços da criança e, vendo-a assim de perto, mesmo sem ter completado nem dois anos ainda, era óbvio o quanto ela era parecida com Sanji, as sobrancelhas e os olhos eram os mesmos, apesar dos dela parecerem mais abertos e inocentes. E ao mesmo tempo, de alguma forma, ela também não parecia nada com o ômega, não com o tufo de cabelo verde-musgo mais rebelde e afiado ao invés de liso e suave, nem com as linhas do rosto já dando a impressão de que amadureceriam mais angulosas do que as do pai, e com certeza também não com o subtom da pele já sendo mais dourado do que rosado.
Contudo, o fato de que a bebê havia começado a rir só de ouvir Zoro falar, como se ele tivesse falado alguma besteira, era incontestavelmente Sanji .
— ‘Tá rindo do que, pirralha? — Perguntou tentando não soar muito ofendido, mas sem controlar muito bem as sobrancelhas pesando em uma leve carranca.
Isso só fez a garota rir mais, mostrando os poucos dentes minúsculos que já tinha, o pequeno nariz torcendo e os olhos apertando como se tivesse ouvido algo de fato engraçado.
Zoro não conseguiu não amolecer um pouco com a imagem e o som suave, seus próprios lábios torcendo para cima sem sua permissão, o mesmo para o leve feromônio afetuoso que começou a liberar. Zoro também pegou-se pensando em como Kora era fofa e percebeu-se aliviado com o fato dela não parecer ter nenhum pouco de medo dele.
Nem havia percebido temer que a bebê tivesse medo dele.
Mais confortável com a situação, Zoro aproximou Kora mais de si, uma mão escorregando para as suas costas e o outro braço para baixo de suas pernas, segurando-a de forma mais agradável para ambos. Com a aproximação, Zoro conseguiu sentir melhor o cheiro dela, era predominantemente neutro e de bebê , mas tinha uma forte camada de Sanji que fez seu estômago contorcer e as glândulas de seus pulsos vibrarem com o desejo de também marcar a criança como sua.
Porque aquilo era ridículo, Zoro apenas ignorou, forçando-se a falar mais.
— Ahn, eu sou Roronoa Zoro, espadachim da tripulação do seu pai e, bem, sua também. E eu vou ser o maior espadachim do mundo um dia, sabia? Ahn, ‘cê quer ser alguma coisa quando ‘cê crescer? — Tentou porque não sabia exatamente como conversar com bebês, ficando um pouco mais nervoso, o coração acelerando um pouco e palmas suando mais quando Kora parou de rir e voltou a só encará-lo com curiosidade.
Um bebê não seria capaz de ler a mente dele, não importa quão profundos os olhos parecessem, não é?
A pele de Zoro queimou com a ideia de ser analisado e ter seus segredos revelados por alguém que nem tinha toda a arcaria dentária ainda. Ainda mais porque, se ela descobrisse, com certeza contaria para o pai dela e Zoro estaria ferrado.
Ao invés de espremer os olhos azuis e começar a xingá-lo de todo tipo de planta possível só porque o alfa parecia ser incapaz de limpar sua atração por Sanji de seu sistema, os olhos de Kora se abriram mais com um brilho extra e ela inclinou-se para frente até quase deitar contra o peito de Zoro, uma mãozinha entre as clavículas definidas e a outra erguendo-se até pegar os três brincos e puxar. Zoro soltou um chiado pela súbita dor aguda, o que só fez a criança soltar mais um risinho e puxar de novo, mas dessa vez Zoro já estava segurando sua orelha onde os brincos conectavam então não doeu, o que não impediu Kora de continuar explorando as jóias, fazendo-as balançarem e baterem entre si, fascinando-se ainda mais com o barulhinho que faziam.
O peito de Zoro estava enchendo-se com uma forte quentura afetuosa que deveria assustá-lo a erguer sua guarda, mas, ao invés, estava apenas colocando um sincero e suave sorriso em seu rosto.
Kora e seus olhos e seu riso e seu cheiro e seus dedinhos curiosos haviam roubado tão completamente a atenção de Zoro que ele esquecera-se de que não estavam sozinhos, por isso sobressaltou-se com um leve pulo na cadeira quando Robin comentou:
— Kora-chan parece de fato ser uma primorosa mistura sua e de Sanji. Que coincidência curiosa.
Zoro tossiu, virando o rosto a tempo de não fazê-lo na bebê, quando engoliu muita saliva quase junto com a língua. Seu coração estava pulsando mais forte e deixando-o meio sonso, o que retardou sua recuperação da tosse, principalmente quando uma mão de Robin brotou em suas costas para dar tapinhas. Quando recuperou-se e voltou a ajeitar-se na cadeira, teria rido das sobrancelhas franzidas de Kora se Robin também não estivesse em sua visão, observando-o com afiada atenção.
Zoro limpou a garganta e forçou sua voz a soar indiferente ao falar:
— O cozinheiro disse que a alfa que o engravidou tinha cabelo verde.
— Não me refiro apenas à cor do cabelo, — rebateu com a voz cautelosa apesar da expressão neutra.
A mandíbula de Zoro trincou por um instante. Kora havia voltado a brincar com seus brincos, então deixou-a encostada contra seu peito, uma mão completamente espalmada em suas costas.
— É só uma coincidência absurda. E acho que a garota não tem nada a ver comigo, — completou com certa pressa, desviando o olhar para os arredores, facilmente conseguindo encontrar a maioria de seus outros companheiros; jogando com homens-peixe como Nami, dançando na pista como Usopp, Franky e Chopper ou ainda se entupindo de comer como Luffy.
Apesar de Zoro preferir ficar mais na sua, apenas bebendo naquelas festas, ele sempre gostava muito delas. Não apenas porque significavam que haviam mais uma vez vencido e saído vivos de uma dura batalha, como também porque elevavam os espíritos de toda a sua família.
E nada deixava Zoro mais calmo e contente do que ver sua nakama segura e feliz, celebrando.
Ele estaria aproveitando muito mais se não tivesse com um bebê que não era seu nos braços e com o olhar esperto demais de Robin sobre si.
— Entendi. Apenas uma coincidência então, — disse finalizando o assunto, como se tivesse aceitado tal conclusão. Porém vindo de Robin, suas palavras apenas arrepiaram os pelos da nuca de Zoro, contorcendo seu estômago ao ponto de não conseguir fazer nada a não ser assentir duro para ela antes de forçar sua atenção de volta a festa ao seu redor.
Dessa vez, seu olho caiu direto na figura de Sanji.
Sanji, que estava parado na beira da pista de dança, encarando-o de volta com olhos arregalados e mandíbula frouxa em uma expressão que parecia ser pânico ou choque, onde apenas seus olhos mexiam minimamente, indo do rosto de Zoro para a criança quase adormecendo em seu peitoral.
O coração de Zoro disparou sem sua permissão, secando sua boca e fazendo um quase agonizante arrepio atravessar todo o seu corpo. Agonizante porque ele não podia fazer nada quanto a sua vontade de levantar e ir até o cozinheiro, beijar aquela expressão para longe do seu rosto. Enchê-lo com seu cheiro por completo para afastar todas aquelas sereias que pareciam tão encantadas por Sanji quanto ele era por elas.
E, falando em sereias, foram elas que cortaram o momento, umas cinco de uma vez surgindo flutuando com aquelas bolhas nas caudas, circundando o cozinheiro com risinhos e passadas de mãos deliberadas demais. É claro que a atenção de Sanji foi para elas em um instante, um grande sorriso substituindo o choque, com corações quase cobrindo os olhos enquanto elas colocavam uma taça de uma bebida colorida em sua mão e o puxavam para a pista de dança. Sanji sequer pensou a respeito—não deveria estar pensando em nada além de peitos—e engoliu de uma vez a bebida antes de começar a dançar com todas elas. O cozinheiro já deveria estar com uma certa quantidade de álcool no organismo porque não demorou nada para se soltar, mexendo o quadril e a cintura mais do que Zoro achava que ele era capaz, ao mesmo tempo em que as sereias esfregavam-se nele desinibidas.
Zoro não queria ver o ômega com suas amadas e idolatradas sereias. Ele não queria.
Contudo estava fixado no cozinheiro e em como aquela calça social azul-escura parecia apertada demais na parte traseira e nas pernas, realçando principalmente coxas e panturrilhas. Coxas e panturrilhas que poderiam matar Zoro se ficassem ao redor do seu pescoço.
Coxas e panturrilhas que ele queria que ficassem ao redor do seu pescoço.
— Zoro-san, você ‘tá com um pouco de… — Zoro sobressaltou-se e arregalou o olho para Brook quando o esqueleto apareceu do nada apontando um dedo esquelético para seu rosto. Agindo em instinto ao perceber algo quente em seu lábio superior, Zoro passou a mão abaixo do próprio nariz, tirando o líquido vermelho que saira de lá. — É, limpou tudo. Está se sentindo bem, Zoro-san?
Ao reconhecer o sangue que havia escorrido de seu nariz, o olho de Zoro quase saltou para fora enquanto ele rapidamente limpava a evidência em sua roupa.
Como o cozinheiro idiota estava dançando com um monte de sereia e estava bem enquanto ele—.
Não, Zoro não pensaria nisso. Era o cúmulo do patético.
— ‘Tô bem, Brook. É culpa da porcaria da pressão desse lugar! — Inventou a desculpa fechando a cara e recusando-se a olhar na direção de Sanji de novo. Contudo, o estrago já estava feito e o efeito que a dança do ômega causara em si ia além de uma gota de sangue escorrendo e, ao perceber como sua calça parecia mais apertada além de todo o calor subindo por seu corpo até a cabeça, Zoro soltou um guinchado em pânico, levantando-se com tudo e empurrando Kora para os braços do músico, o que despertou a bebê antes sonolenta. — ‘Tó, segura ela aí que preciso beber!
Ignorando os protestos de Brook e o início de um fraco choro de Kora, Zoro afastou-se deles depressa, trombando com algumas pessoas no caminho, mas determinado a conseguir mais bebidas e muitos minutos de solitude bem longe de qualquer sinal de fio de cabelo loiro para sequer ter a chance de colocar sua cabeça no lugar novamente.
Então, enquanto enchia a cara de saquê no lado de fora do grande salão, sentado no parapeito de uma das largas janelas e observando a cidade lá embaixo, Zoro decidiu que há dois anos havia cometido um tremendo erro.
Transar com Sanji havia fodido com sua cabeça de uma forma que não sabia como consertar.
﹒ꕀ⚔︎ꕀ⚔︎ꕀ﹒
A melhor parte de estarem em um palácio era que tinha quartos o suficiente para todos, e Zoro seria o último a reclamar de um pouco de paz e sossêgo depois do dia e noite que tinha tido.
Então, depois de mandar o cara gosmento insuportável tentando sequestrar a princesa para longe ao lado de Luffy e Sanji, ele retirou-se para seu aposento privado o mais rápido possível, não sendo questionado por ninguém já que todos estavam igualmente exaustos. O quarto tinha um tamanho confortável, com uma simples cama de casal, cortinas roxas combinando com os lençóis e o espaçoso tapete, um guarda-roupa comprido, duas poltronas ao redor de uma pequena mesa redonda e um criado-mudo em cada lado da cama, porém já era mais do que Zoro precisaria pelas poucas horas que ficaria ali. Na verdade, se tivesse ganho só um espaço retangular com um colchão já ficaria mais do que satisfeito.
Após tomar um banho—toda a água salgada parecendo ainda grudar em cada canto de sua pele o estava incomodando mais do que ele admitiria—e vestir uma calça limpa para dormir, Zoro sentou-se no chão ao pé da cama com suas três espadas e todo o material de limpeza delas. Era sempre bom aproveitar todo momento possível de tranquilidade para cuidar delas para assim sempre tê-las em sua melhor versão. Além disso, era um trabalho meditativo e meditar era tudo o que Zoro mais precisava no momento.
Talvez se ele meditasse o suficiente conseguiria recuperar o controle do próprio corpo e deixaria de ser tão facilmente influenciado pela mera existência do cozinheiro.
E por aproximadamente quarenta minutos, Zoro conseguiu o que queria. Já tinha cuidado com toda cautela e minuciosidade de Wado Ichimonji e estava começando a fazer o mesmo com Sandai Kitetsu, sua mente vazia, peito tranquilo e respiração controlada, quando três subsequentes batidas na porta interromperam todo o seu processo.
Inspirando fundo, Zoro empunhou Kitetsu e levantou-se com leveza do chão, indo até a porta em passos firmes, abrindo-a com a mesma firmeza sem nem pensar a respeito.
A serenidade da meditação desmoronou em um instante.
— Oi, Marimo. Posso entrar? — O cozinheiro perguntou casualmente, olhando para o cigarro apagado que tinha entre os dedos, o corpo encostado contra o batente da porta e a outra mão no bolso da calça do pijama azul claro cheio de padrões de ondas pretos. O cabelo loiro parecia um pouco úmido e um leve cheiro floral sobressaia-se da nicotina, mas seus feromônios estavam tão neutros ou bem controlados que Zoro mal conseguia percebê-los, sendo, portanto, difícil de deduzir a razão da visita.
Também tinha o fato de Sanji ser muito bom e cauteloso em esconder ou diminuir tudo relacionado ao seu cheiro natural, poderia estar fazendo isso agora mesmo.
Zoro estava sem tempo e paciência para joguinhos.
— O que quer, sobrancelhas? — perguntou cruzando os braços sem soltar Kitetsu e sem dar passagem na porta, o olhar bem atento à expressão e movimentos do outro.
Sanji o olhou de volta, a sobrancelha visível arqueando ao desencostar-se do batente.
— Acabei de conseguir colocar Kora pra dormir e Usopp ‘tá dormindo com a gente por medo de ficar sozinho e alguém tentar sequestrá-lo durante à noite, — contou, rindo de leve e balançando a cabeça na última parte. — Enfim, pensei ser um bom momento pra conversar contigo.
Foi a vez das sobrancelhas de Zoro se erguerem, seus músculos ficando um pouco mais rígidos.
— Conversar o que comigo?
O olhar de Sanji foi para a espada antes de voltar desconfiado para o espadachim.
— ‘Tá com algum problema, cabeça de alga?
— Não sei, ‘cê vai me causar algum problema, sobrancelha-de-dardo?
Sanji mordeu o cigarro que tinha colocado nos lábios, o olho visível pulsando de leve. Zoro quase podia sorrir com quão facilmente irritável o cozinheiro era.
Por fim, ele suspirou fundo e enfiou ambas as mãos nos bolsos, passando a encarar nada em específico no corredor.
— Quer saber? ‘Tô cansado demais pra lidar com você, Marimo. Então vou só falar logo antes que eu mude de ideia. — Apesar disso, Sanji deu uma longa pausa para inspirar fundo e expirar longo, seus feromônios ficando cada vez mais perceptíveis, carregando certo nervosismo que fez Zoro espremer o olho. Sanji ainda não o encarava quando soltou com tamanha dificuldade que parecia ter uma literal bola em sua garganta: — Só queria te agradecer por como me ajudou na batalha hoje e por não ter me julgado ou repreendido pela minha distração. E eu juro que vou dar um jeito de conseguir balancear tudo melhor pra que isso não se repita, pra não colocar ninguém em risco.
A cada palavra ouvida, mais o corpo de Zoro relaxava e seu olho se abria em choque, as batidas do coração aumentando de forma perceptível.
Em apenas um dia, Sanji havia surpreendido Zoro mais de uma vez com suas ações e em ambos os casos a criança estava envolvida.
Zoro nunca havia parado para pensar o quanto um filho podia mudar alguém, mas talvez agora começasse.
Percebendo que o ômega só podia estar esperando por uma resposta por ainda continuar ali parado em silêncio, a mandíbula notavelmente tensionada apesar de estar com o rosto virado para o chão, Zoro engoliu em seco e resolveu afastar-se da porta, dando passagem e permissão enquanto estalava o pescoço e pensava por um segundo no que dizer, já que não queria começar uma discussão, não quando o cozinheiro estava se permitindo ser vulnerável com ele.
Sanji merecia que Zoro fosse honesto e vulnerável de volta.
Uma dinâmica aberta até então somente vista em todo o fiasco de Thriller Bark.
— Não tem porque me agradecer, cozinheiro. Somos todos nakama , ajudamos um ao outro e vamos achar o melhor jeito de lidar com tudo em um cenário de batalha. Sempre damos um jeito. — Enquanto falava, Zoro colocou Kitetsu no chão ao lado de Shusui e sentou-se na beirada da cama, vendo apenas Sanji fechar a porta do quarto depois que ele já estava dentro dele, casualmente olhando ao redor.
Em resposta, Sanji assentiu para Zoro com os lábios repuxados em uma linha reta, dedos brincando com o cigarro apagado e o olho parecendo inquieto no rosto do espadachim. Até que ele voltou a colocar o cigarro na boca, as mãos nos bolsos da calça e a encarar os próprios pés revezando o peso do corpo.
Zoro franziu o cenho com uma sobrancelha erguida. Ele já tinha visto o cozinheiro bêbado e quase bêbado, então tinha bastante certeza de que não estava agora. Provavelmente bebera menos na festa do que Zoro achara por ter uma filha para cuidar.
— ‘Cê quer mais alguma coisa? — Perguntou tentando soar menos agressivo do que antes, o que não impediu todo o corpo de Sanji de retesar no mesmo instante.
Por um segundo, Zoro acreditou que o cozinheiro só o xingaria antes de ir embora apressado, mas, ao invés disso, os hormônios inquietos e apreensivos dele começaram a ficar mais fortes, tomando mais espaço do quarto, deixando Zoro apreensivo com que viria a seguir, e tendo que controlar seu instinto começando a querer ir até o ômega confortá-lo.
Quando Sanji finalmente abriu a boca, Zoro prendeu a respiração:
— Você tem razão, aconteceu algo entre nós há dois anos, — disse, os olhos um tanto arregalados encarando o de Zoro, rosto avermelhado e cigarro mais uma vez inquieto nos lábios. O alfa tentou manter sua expressão o mais impassível o possível, porém, em contrapartida, seu coração disparara tão rápido e alto que parecia correr por seu corpo todo, aquecendo principalmente sua cabeça ao ponto de quase deixá-lo zonzo mesmo que estivesse sentado. Kora é sua filha. Kora é sua. Kora é nossa . Era a única coisa que passava em sua mente, impedindo-o de soltar o ar até que Sanji finalmente parasse de torturá-lo e confessasse o que Zoro queria ouvir desde o instante que colocara os olhos na criança.
Nesse meio tempo, Zoro também decidira que não ficaria bravo. Ouviria a explicação de Sanji pela mentira e seria tudo o que ele e Kora precisassem que ele fosse.
Ele só precisava ter a confirmação para assumir toda a responsabilidade de peito aberto.
Só que a confirmação nunca veio.
— E bem, foi muito bom, não foi? Então, ahn, o que acha de fazermos mais uma vez? Só mais uma, sabe, pra compensar pelo o que aconteceu depois e também pra aproveitar que você não ‘tá todo arrebentado. Tenho certeza de que pode ser muito melhor com nós dois livres pra nos mexermos o quanto quisermos e podendo usar toda nossa força e tudo o mais, sabe? — Ofereceu quase atropelando as palavras, o olhar desviando mais do que se mantendo em Zoro e dedos apagando e acendendo um isqueiro dourado que parecia ter surgido do nada.
Os batimentos de Zoro diminuíram um pouco, mas, apesar do nó formando no estômago, o resto do seu corpo não parecia estar contra a oferta.
Não que Zoro fosse dar ouvidos ao seu corpo e instintos de alfa idiotas, gritando para ele satisfazer seu ômega necessitado.
Só que Sanji não tinha nada de seu.
E Zoro não se segurou, mostrando os dentes ao responder:
— O quê? Não prefere passar à noite com suas queridas e perfeitas sereias? Certeza que várias dariam pra você. — Ele nem sabia se aquilo era biologicamente possível, mas não conseguiu não trazer o assunto à tona, não quando a mera ideia ainda o irritava.
A expressão de Sanji passou de puro choque para irritação mais rápido que Zoro podia piscar.
— Você acha que eu demonstro todo o meu amor pelas mulheres, independente da espécie, com a intenção de transar? Que eu saio transando com um monte de mulher em toda ilha?
Eu transei com uma mulher alfa de cabelo verde depois do banquete em Water 7, é por isso que ela tem esse cabelo e a pele, não tem nada a ver com você!
— Acho, — respondeu ácido, mostrando os molares.
Sanji mostrou os dentes de volta, seus feromônios ficando mais agressivos em resposta aos de Zoro tomando espaço no quarto sem que ele sequer percebesse.
— Pois eu não faço isso! Eu adoro as mulheres onde quer que eu vá porque elas merecem ser adoradas, não porque quero alguma coisa delas, seu energúmeno verde!
Zoro impulsionou-se para fora da cama e para perto de Sanji em um instante, perto o suficiente para ter seus pulmões invadidos pelo cheiro de ômega irritado e perceber quão pesada estava a respiração dele.
— Pois devia é procurar elas pra transar se ‘tá tão desesperado assim, ao invés de um energúmeno verde, seu cozinheiro pervertido de merda! — rebateu sem importar-se em acabar sobrecarregando o ômega com seu cheiro mais forte. Na verdade, sua parte mais primal ansiava vê-lo sufocando em seus hormônios até que ele mesmo cheirasse a Zoro.
Sanji diminuiu ainda mais a distância entre eles ao quase colar suas testas.
— Eu não ‘tô desesperado! Só sugeri como um gesto de paz entre nós!
— Transar é um gesto de paz? Depois de ‘cê ter negado tanto que tínhamos transado na primeira vez? Negado que eu tinha tido minha primeira vez? — Isso fez Sanji hesitar, os olhos arregalando de leve ao afastar-se um pouco. Zoro bufou e continuou por não querer ver nem sombra do que parecia ser mágoa ou remorso no rosto do ômega. — Vai encher o saco de outro, cozinheiro. Não quero sua pena.
A irritação voltou como um estalo, testas voltando a roçar, respirações quentes e pesadas misturando-se tanto quanto os fortes e descontrolados feromônios no ar.
Feromônios esses que carregavam tanta excitação quanto carregavam frustração.
— Isso não é pena, porra! Eu devia saber que era um erro tentar conversar com você.
— Porque foi um erro transar há dois anos, né?
— Não! Não foi! Foi uma delícia , gostoso pra cacete, passei esses dois anos sem conseguir pensar em outra coisa e seria legal fazer de novo se você não fosse tão cabeça du-!
Zoro acabou com a distância entre eles e calou Sanji ao pressionar com força seus lábios contra os dele, suas mãos envolvendo o rosto dele para puxá-lo para mais perto e não o deixar resistir. O que não era necessário, não com a forma com que o ômega instantaneamente retribuiu o beijo, seu próprio braço já abraçando o alfa pelo tronco enquanto a outra mão agarrava e puxava curtos fios de cabelo verde.
Sanji. Sanji. Sanji.
Era tudo o que estava na mente, pulmões, pele, língua, veias de Zoro, inebriando-o, cobrindo sua cabeça com uma prazerosa neblina que ficava mais grossa conforme mais sangue descia para seu pau já ficando semi-ereto.
Pela forma como o quadril do ômega estava encostado contra o seu, era óbvio o quanto ele também já estava afetado.
Zoro não conseguiu não grunhir no beijo, mas parou-o bruscamente ao puxar a cabeça de Sanji para trás pelo cabelo. O choramingo que escapou dos lábios úmidos de Sanji pulsaram direto no pau do alfa que não queria nada além de pressionar o ômega em qualquer superfície e fodê-lo fundo até ele não conseguir mais respirar de tanto gozar.
Só que a parte racional de Zoro ainda estava presente.
— Só mais uma vez? A última? Minha chance de te foder direito sem restrições? — grunhiu com o rosto ainda perto demais do de Sanji, podendo ver e sentir quando ele estremeceu da cabeça aos pés.
— Sim, sim. Mas só se-só se as coisas não… não mudarem entre nós. O clima não pode ficar estranho e nem… nem prejudicar nossa nakama, — falou entre fracas arfadas, o quadril movendo contra o de Zoro em busca de alguma fricção.
Seria adorável quão afetado Sanji já estava por um simples beijo se seus hormônios não estivessem embriagando o alfa para longe de seus sentidos.
Sentidos esses que talvez não concordariam com a conclusão que Zoro chegara naquele momento.
A conclusão de que talvez ele só precisasse de mais uma vez. Só mais uma chance com Sanji para satisfazer o desejo e a falta que o consumira por dois anos e, após isso, expulsaria de seu sistema tudo o que sentia por ele. Só precisava de mais uma vez para fazer certo e então poderia seguir em frente, recuperar o controle de seu corpo e instintos.
As coisas poderiam de fato voltar ao normal se ambos se permitissem colidir uma última vez.
E, dessa vez, fazer cientes de que não significaria nada.
Poderia ser a conclusão perfeita do que começara há dois anos se sentimentos reais não estivessem envolvidos.
Contudo, naquele momento, Zoro estava sendo consumido por Sanji em seus braços e errado parecia ser negar o alívio e êxtase que ambos buscavam.
— ‘Tá bom, cozinheiro, última vez, — consentiu e puxou o rosto do ômega para mais perto, os lábios roçando contra os do outro ao concluir com uma promessa: — Só que uma última vez que você não será capaz de esquecer.
E selou o acordo com um profundo beijo.
Notes:
muito obrigada por ter lido e espero que tenha gostado!🌟
mas e aí, me conta nos comentários tudo o que está achando até agora e o que acha que vai acontecer nos próximos capítulos? tem teorias? momentos favoritos? cenas que gostaria de ver? 👀 amarei saber tudo!! 😍o 4º capítulo está sendo escrito no momento, tinha apenas os três primeiros prontos antes de começar a postar, mas já estou no finalzinho então até dá para manter as postagens de 15 em 15 dias... porém, eu também tenho capítulos prontos da minha coleção de mil palavras e só posso postar um dos dois por semana, dai vai depender de vocês se atualizo essa fanfic primeiro ou primeiro posto os que já tenho da outra😜
de qualquer forma, essa fanfic será finalizada pode ter certeza! até o 10º capítulo já tenho tudo planejado e estou planejando o 11º e ela terá entre 15 a 20 então, além de que estou gostando muito de escrevê-la🤗
mas é isso! dê um kudo se acha que a história merece e ainda não o fez e, enquanto espera a atualização, se quiser, vai no meu perfil do pseudônimo de "pêssegos" porque já tenho muitas outras fanfics beeem legais de zosan e one piece no geral ♡
p.s.: me segue lá no twitter! adoraria conversar sobre zosan e OP :3)
Chapter 4: não faz falta.
Summary:
Zoro e Sanji tem sua última vez. Um imprevisto leva Sanji a tomar uma decisão radical.
Notes:
olá, queridos! como estão?
sei que faz um tempinho que não atualizo essa história, mas vocês não pareciam tão ansiosos para continuar lendo depois do último, então acabei focando em outras fics e nas versões em inglês 💔
ainda vou terminar "não há nada entre nós" com certeza, já estou escrevendo o capítulo 7, mas bem, espero muito, muito, muito que gostem desse e que pelo menos o hot compense pela demora hehee ah! uma cena do capítulo anterior ganhou uma fanart MUITO FOFA! olhem só fanart zoro e kora (deixam likes >.<)
é isso, boa leitura <3
(See the end of the chapter for more notes.)
Chapter Text
Seria a última vez deles e Zoro faria questão de tirar o melhor proveito de cada segundo.
Ainda beijando Sanji, uma mão enfiada no cabelo e a outra apertando a cintura estreita o suficiente para deixar marcas, Zoro começou a andar às cegas em direção à cama, mais focado em enfiar a língua na boca do outro para explorar cada canto e consumi-lo, mente vazia com apenas uma crosta de neblina causada pelos fortes feromônios brigando por dominância e pelo ardente desejo de ter Sanji. De finalmente ter Sanji.
Depois de dois longos anos desejando aquilo—seu corpo todo ansiando dominar o outro, possuí-lo, tê-lo para si e apenas para si, principalmente durante os insuportáveis ruts onde os instintos primais berravam sem filtro—ter a chance de colocar tudo em ação era quase esmagador.
E aquela seria a única e última chance que teria, então Zoro faria valer a pena.
Pela primeira vez, ele deixaria seus instintos falarem mais alto, os deixaria correrem soltos sem inibições, tomaria de Sanji tudo o que ele o permitisse tomar.
E, por saber quão forte o cozinheiro era, por saber que eram iguais, não se conteria ao mostrar quanto o queria.
— Não, Marimo… — Sanji arfou ao parar o beijo, colocando as mãos nos ombros de Zoro e afastando a cabeça o suficiente para causar um início de pânico no alfa. Não, não, por favor, não tira isso de mim. — A cama é pra lá, — disse já virando ambos para a direção certa, colocando-se de costas para a cama e andando para trás até estarem perto o bastante para que o mínimo dos empurrões o derrubasse nela.
Zoro nunca ficou tão grato pelo seu não existente problema de direção ser o problema.
Soltando só um forte ar pelo nariz, Zoro puxou a cabeça do ômega para perto de novo, reivindicando a boca sem resistência, um profundo grunhido vibrando em seu peito quando sua língua foi sugada com vontade, as mãos de Sanji segurando-o pelo pescoço e puxando-o mais contra si como se também não quisesse que houvesse espaço entre eles.
Zoro agarrou a cintura estreita com ambas as mãos, seus dedos quase se tocando em uma volta completa—o que causou um intenso arrepio em todo o seu corpo, endurecendo mais seu pau já desperto—e, em um ágil movimento, ergueu o ômega do chão, que ligeiramente enlaçou a cintura do alfa com as pernas, pressionando os corpos juntos mais do que o suficiente para ser possível sentir o membro menor e endurecido contra a barriga trincada e corações acelerados parecendo capazes de se unirem por sob os peitorais. Zoro teve que erguer o rosto para continuar beijando Sanji, mas o fez de bom grado, extasiando-se em como o cozinheiro parecia querer devorá-lo tanto quanto ele queria, línguas, lábios e dentes explorando, arranhando, mordendo e sugando sem qualquer inibição, engrossando cada vez mais a neblina os rodeando em puro tesão.
Zoro deixaria que Sanji colocasse sua fixação oral para bom uso, beijando-o por horas se assim o quisesse; beijando-o onde e como quisesse.
Só que, infelizmente, eles não tinham todo o tempo do mundo e seria um tremendo desperdício gastar sua última vez com apenas beijos.
Além do mais, o ômega já havia tido sua chance após Thriller Bark, tudo havia ocorrido como ele queria. Agora era a vez de Zoro de tomar.
Sem aviso, Zoro primeiro subiu na cama com ambos os joelhos, então empurrou o cozinheiro até que ele batesse com as costas no colchão sem soltar as pernas da cintura. A mera imagem da boca dele muito avermelhada e inchada, o rosto corado, cabelo bagunçado o suficiente para deixar ambos os olhos dilatados e escurecidos à mostra, peito descendo e subindo rápido com um perceptível rubor no que era visível do pescoço, bastou para o pau do alfa pulsar junto a um possessivo grunhido subindo por sua garganta, que visivelmente arrepiou o ômega, forçando-o a expôr um pouco mais a longa expansão branca do seu pescoço.
Marcar. Marcar. Marcar.
Zoro queria inundá-lo com seus hormônios, esfregar glândulas e afundar dentes ali. Mas ele não podia. Sanji não era dele para marcá-lo, para tomá-lo por completo.
Ele podia tê-lo completamente nu, no entanto, para que pudesse apreciá-lo melhor e explorar cada curva e contorno.
Depois de Thriller Bark, na calada da madrugada dentro da infermaria do Sunny encoberta pelo bréu, Zoro não tivera a oportunidade de realmente ver o ômega.
Agora ambas as lâmpadas nos criados-mudos estavam acessas, iluminando a cama com luz quente o suficiente para ser possível enxergar cada traço, deixando as linhas de Sanji ainda mais suaves, convidativas, aconchegantes. E o ômega não parecia ser contra a amena iluminação.
Zoro não era idiota de desperdiçar aquilo.
Colocando as mãos nos joelhos abraçando sua cintura, Zoro começou a escorregá-las para baixo, apertando por todo o caminho pelas coxas, os músculos firmes e tensionados parecendo vibrar por sob a calça do pijama; passou pela sensual curva um pouco mais larga do quadril, os dedos roçando e brincando com a barra da calça por um breve instante antes das mãos se enfiarem por debaixo da camisa, arrancando um chiado e um arrepio de Sanji. Como o ômega continuou apenas o observando com curiosa atenção, os próprios braços ainda jogados acima da cabeça, Zoro prosseguiu com sua exploração, rodeando a cintura suculenta com os dedos, pressionando com mais força os dedões ao passá-los pelo umbigo, subindo as palmas da barriga, ao tórax, contornando os músculos definidos, sentindo as costelas, até chegar ao peitoral que era suavemente mais proeminente do que de homens não ômegas, com uma camada de gordura macia por baixo que elevava e expandia nos mamilos alguns tons mais escuros que a pele.
O pau de Zoro pulsou forte, começando a liberar pré-gozo quando ele cobriu e apertou os peitos, um em cada mão.
— Fecha a boca, marimo, — provocou o cozinheiro meio arfante, um sorrisinho esperto de canto.
Na hora, Zoro fechou a boca que estava de fato um pouco aberta, com saliva quase escorrendo pelos cantos. Só que ele não tinha com o que retrucar porque a mente estava vazia, ao invés, contentou-se em subir o resto da camisa de Sanji, passando-a pelos ombros, mas deixando-a presa em seus braços e cabeça, cobrindo todo o rosto.
— Pronto. Muito melhor sem eu precisar ver suas sobrancelhas estúpidas, — provocou de volta por fim, um sorriso de satisfação se abrindo com o grunhido ofendido do ômega.
— Cabeça de alga oca! Quem você pensa que é pr-ah, merda, — sua reclamação foi interrompida por um gemido surpreso quando Zoro voltou a segurar ambos os peitos, apertando-os com vontade com as palmas enquanto pressionava com força os mamilos. Fez isso mais duas vezes, arrancando arfadas de Sanji enquanto as costas dele se curvavam lindamente para cima. Então segurou os botões já eriçados com os dedos e puxou.
O agudo gemido acompanhado de mais feromônios excitados saindo do ômega, foram direto para o pau do alfa.
— Porra, cozinheiro. Saiu leite daqui? Saiu, não saiu? Não duvido que tenha saído muito porque ‘cê sempre precisa alimentar muito bem todo mundo, — disse arrastado, a voz mais grave, os dedos ainda brincando com os mamilos inchados, duros e eretos e os olhos fixos neles, almejando saber como seria tê-los na boca.
Os peitos de Sanji caberiam muito bem em sua boca.
— Não… não fala da… da…, — arfou desistindo de falar, o quadril também se impulsionando para cima em busca de fricção, a camisa ainda escondendo seu rosto e prendendo os braços ao lado da cabeça. — Sim… sim, saiu leite. Vai fazer o que sobre isso, seu bruto sem classe?
O sorriso de Zoro abriu-se predatório e, sem dó, puxou os mamilos com força o suficiente para fazer o ômega gritar.
Contudo, Zoro não respondeu além disso, ao invés, desceu as mãos para a barra da calça, tirando-a junto com a cueca box com desenhos de peixes coloridos, hesitante apenas ao chegar nos joelhos, porque precisou tirar as pernas de Sanji de sua cintura. Mas valeu a pena ao ter o ômega completamente nu à sua frente, porque, enquanto ele tirava a peça de baixo, o cozinheiro havia se livrado de vez da camisa e agora o encarava com o rosto vermelho, o cenho franzido querendo formar uma carranca irritada que era quebrada pelas pupilas dilatadas, respiração ofegante e pelos feromônios excitados beirando a submissivos.
Feromônios que berravam o quanto ele queria ser arregaçado e estufado e domado.
E os de Zoro respondiam no mesmo nível complementar.
— Só não deixa marcas onde os outros possam ver, seu brutamontes insensível, — reclamou depois de ver a situação muito vermelha de seu peitoral, como se ele não tivesse gemido e se contorcido com o estímulo.
Estando entre as pernas do ômega—que estavam com as solas dos pés firmes no colchão, os joelhos dobrados, sem parecer ter qualquer decoro em esconder o que tinha ali no meio—, Zoro curvou-se sobre ele, aproximando-se até espalmar as mãos aos lados dos ombros, os narizes roçando tanto quanto seu membro duro e coberto roçando contra o menor exposto.
— Isso vale pros peitos? — murmurou rouco e Sanji esfregou seus quadris, ofegando, esforçando-se para não virar os olhos.
— Não… não… não ‘tô mais amamentando, — contou, os topos das bochechas escurecendo ainda mais. Zoro não resistiu em lamber a cor de ambas. — O que ‘tá fazendo, Marimo idiota?
— Aproveitando minha última vez, — confessou e reivindicou a boca, impedindo o ômega de retrucar qualquer coisa, o corpo de ambos vibrando quando ele voltou a envolver a cintura com as pernas, esfregando-se com ainda mais afinco enquanto o beijo era aprofundado. Até Zoro afastar-se de súbito. — ‘Cê tá desesperado, hein?
— Cala a boca e tira essa calça pra me foder logo.
Zoro agarrou o cabelo loiro, forçando a cabeça para trás, expondo ainda mais o pescoço, olhos azuis anuviados encarando-o por sob os cílios escuros.
— O controle foi seu da primeira vez, agora é meu. — E antes que o cozinheiro pudesse dar alguma resposta espertinha com sua língua afiada, Zoro desceu a boca para o pescoço, beijando e lambendo toda a pele disponível, alongando-se nas glândulas nos lados, passando tanto a língua por elas que o ômega começou a arfar e contorcer-se abaixo de si.
— Não… deixa… marca, — repetiu, suas mãos fazendo o oposto ao afundarem os dedos nas amplas costas expostas do espadachim.
Zoro bufou contra a pele, mas desceu, escorregando os dentes pelas clavículas proeminentes por um instante, continuando a descer até envolver todo um peito com a boca, sugando de leve com a língua contornando o mamilo eriçado. Não conseguia sentir nada além de pele quente e batimentos ferozes, mas era macio e Sanji arfou seu nome, então sugou de novo antes de fazer o mesmo com o outro, grunhindo com os dentes ao redor do botão sensível quando uma mão esguia escorregou para seu cabelo e puxou.
— Marimo… Marimo… Maaah. — Arrancou outro gemido ao empurrar o quadril para baixo e para cima; uma fricção lenta que o permitiu sentir todo o comprimento do membro do ômega, assim como um pouco da pele macia abaixo; macia e enxarcada.
Um choque de eletricidade atravessou toda a coluna de Zoro ao lembrar-se de como havia sido estar dentro daquele buraco quente e apertado.
E se eles não tinham a noite toda…
Zoro deixou o peitoral de lado e voltou a descer, deixando um rastro com a língua pela barriga chapada, passando pelo caminho de pelos loiros, chegando a um dos ossos proeminentes do quadril onde mordeu com mais força, fazendo o ômega dar um pulo com um xingamento. Ele ignorou o membro inchado e vazando pré-gozo, assim como ignorou—por ora—o que tinha logo abaixo, dando sua atenção para uma das coxas poderosas, passando a língua pela extensão de um músculo bem definido antes de fechar os dentes ao redor e apertar.
— Marimo! Porra! — Sanji chiou fechando as pernas ao redor da cabeça de Zoro, que grunhiu em aprovação, mordendo com ainda mais força até sentir gosto metálico na língua. — Zoro! — gritou apertando ainda mais as pernas, forçando o rosto do espadachim perto demais de sua intimidade e, quando o cheiro de Sanji e de ômega e de pronto, fértil, excitado, meu invadiu as narinas do alfa, sua boca inundou de saliva, maxilar relaxando, com peito vibrando e pé da barriga enrolando e desenrolando com líquido quente escorrendo para baixo, baixo, baixo.
Na mente nublada e extasiada e consumida de Zoro havia apenas a intensa e constante vibração de meu, meu, meu.
Sanji, Sanji, Sanji.
Zoro apenas percebeu ter largado a coxa de vez e mirado em algo muito mais quente quando lubrificante começou a escorrer de seu queixo, os gemidos do cozinheiro tornaram-se mais altos e desinibidos e as pernas mortais começaram a se fechar ao redor de seu pescoço, empurrando os ombros para baixo, a cabeça para mais perto. Tudo se intensificou quando Zoro colocou a língua entre os lábios macios da buceta encharcada e pulsante.
O gosto de Sanji era maravilhoso e expandiu em sua língua até seu pau como uma corrente elétrica.
Sim, sim, sim.
Aperta mais. Me sufoque por seu próprio prazer, cozinheiro.
Apesar de nunca ter feito aquilo, Zoro deixou seus instintos conduzirem e devorou o ômega como um homem faminto e sem restrições.
Zoro sugou os grandes e pequenos lábios, o rosto descendo e subindo por toda a extensão, o nariz escorregando para dentro da abertura quente, encharcando toda a pele e aumentando a fome. Então enfiou de novo a língua para explorar, percorrendo todos os cantos, pressionando contra as paredes, sendo encorajado pelos gemidos arfantes do ômega e por mais líquido escorrendo sempre que a buceta pulsava mais forte. Além das pernas em seu pescoço, perigosamente próximas de tirar-lhe o ar, agora uma mão esguia também estava entre suas mechas verdes, puxando da raiz a cada poucos segundos, mas sem parecer tentar estabelecer algum controle, só incentivando o alfa a continuar o que fazia. Tirando a língua de dentro, Zoro subiu-a até alcançar o pau pequeno, lambendo toda a extensão intumescida antes de envolvê-lo por completo e sugar, o gosto salgado do pré-gozo sendo um contraste interessante com o mais ácido do lubrificante natural.
— Mari… ah, me fode… Zoro, quero… quero gozar no seu pau de novo, ah, — pediu quase manso, a voz rouca e, quando Zoro ergueu o olho para o rosto de Sanji, os olhos dele encaravam-o semi-abertos e úmidos, boca inchada e bochechas coradas e o cozinheiro estava lindo.
O rubor subia do peito ao rosto, assim como Zoro imaginara há dois anos. Um peito também inchado e marcado e como ele poderia dizer não a ele?
Como podia dizer não ao homem que o tirava do sério e assombrara seus pensamentos mais depravados e cobiçosos por dois anos inteiros?
O homem que tinha desperdado nele a capacidade de sequer ter tais pensamentos e vontades.
A única pessoa por quem já quisera perder-se entre as pernas e abrir um buraco em si mesmo para acomodá-la e mantê-la perto.
O ômega que o fizera entender o que era o desejo carnal ardente de alfa.
— O que quiser, curly, — arfou ao deixar o membro escorregar para fora da boca, que fez um som molhado ao bater contra a barriga enquanto Sanji tirava as pernas dos ombros de Zoro para puxá-las em direção ao seu próprio peito, abrindo-as e expondo tudo o que tinha no meio.
Zoro pôde apenas observar com olhos entreabertos, respiração pesada, boca enchendo de saliva e pau pulsando na calça quando Sanji escorregou uma mão da coxa—passando pela mordida que estava roxa, toda a arcada dentária do alfa vísivel—para a buceta inchada, vermelha e molhada, abrindo os lábios o suficiente para Zoro conseguir ver a entradinha com mais detalhes, o pé de sua barriga contorcendo-se com o crescente desejo de afundar-se lá. Mas então Sanji começou a passar os dedos pela extensão, gemendo baixinho ao enfiar só as pontas dos dedos, puxando com delicadeza para baixo só para fazer escorrer mais lubrificante, seus dedos seguindo o caminho enquanto suas pernas eram ainda mais puxadas para trás, expondo o outro buraco logo abaixo do períneo, abrindo e fechando ao redor de nada.
O cenho de Zoro franziu-se de leve enquanto ele observava o cozinheiro passar todo aquele lubrificante em seu ânus, ao redor do aro e dentro com apenas um dedo, então dois e o peito do alfa esquentou mais intensamente quando ele começou a abri-los e fechá-los sem mais nem menos.
— O que você… — Começou ao reencontrar a própria voz, a boca seca, os olhos subindo para o rosto do ômega só para ter a pecaminosa visão dele com o cenho adoravelmente franzido em concentração enquanto mordiscava o lábio contendo gemidinhos.
Sanji parou com os movimentos lascivos, soltando o lábio para responder:
— Quero que foda meu cu.
O pau de Zoro saltou a favor, mas mesmo assim:
— Vai ser bom…?
— Ainda tenho próstata, Marimo… — Os movimentos dos dedos voltaram com mais determinação, o barulho molhado subindo à cabeça do alfa de uma forma que vibrava sob a pele. — Então, ah, faça o favor de… acertar. — Os sons saíram de forma ainda mais promíscua antes de Sanji tirar os dedos, e o pequeno buraco—agora parecendo um pouco mais solto—pulsou com mais veemência ao redor de nada, a buceta logo acima fazendo o mesmo, só que vazando ainda mais líquido. — E também lubrifica seu pau, anda, — ordenou abrindo ainda mais as pernas e colocando ambas as mãos ao lado da vagina, abrindo-a e expondo-a com delicadeza, uma arfada gemida escapado junto com o profundo grunhido de Zoro com a visão. Muito mais líquido vazou e, obedecendo, Zoro puxou a própria calça para baixo o suficiente para seu pau e bolas saírem, segurou o membro duro e lambuzado de pré-gozo e aproximou-se até conseguir esfregar todo o comprimento na buceta aberta.
Ambos os homens gemeram em uníssono, enquanto o alfa ensopava seu membro com os abundantes fluídos do ômega.
Era fato que ômegas produziam naturalmente muito lubrificante, principalmente durante o cio. Mas porra.
Talvez o cozinheiro ser um pervertido influenciava nisso.
— ‘Tá… ‘tá bom, — arfou tirando as mãos e, para a surpresa e confusão de Zoro, fechando as pernas.
Entretanto, no instante seguinte, Sanji estava de quatro na cama, o tronco quase colado contra o colchão, pernas afastadas além dos ombros e bunda empinada, oferecendo-se para Zoro que, por um segundo, pôde apenas olhar, hipnotizado.
— Vai, alfa, me fode uma última vez, — ronronou com os olhos semi-abertos e escuros encarando-o pelo ombro, balançando a bunda no ar e arrancando um grunhido primal do cerne de Zoro que não teve escolha a não ser obedecer.
Em um segundo Zoro estava em Sanji, coxas coladas contra coxas, mãos grandes cobrindo as nádegas redondas e firmes e brilhantes de tanto líquido que tinha escorrido, abrindo-as o máximo que dava para expôr o buraquinho por completo. O buraquinho que piscava rápido, chamando a atenção, implorando para ser alargado e preenchido.
Era a coisa mais saborosa que Zoro vira na vida.
Com um gemido preso na garganta e o pau pulsando ao ritmo acelerado de seu coração, o alfa inclinou-se até passar a língua por toda a extensão entre as nádegas, sentindo a pele, o lubrificante e as pregas, forçando-as ao pressionar a língua dentro, um arrepio perigosamente puxando suas bolas para cima com o gemido arrastado que Sanji soltou.
Um gemido carregando seu nome enquanto o ômega enfiava ainda mais a bunda contra seu rosto.
— Zoro… — Os dedos do alfa apertaram mais na carne macia de modo que deixaria marcas, a língua saindo e entrando do buraco apertado, tão apertado, rodeando, saboreando cada relevo. Zoro precisava ter Sanji cravado em sua língua, boca e mãos, cravado em sua mente e em seu corpo para que pudesse revisitar a sombra das preciosas lembranças pelo resto de sua vida. — Por favor… alfa… — O cozinheiro parecia à beira das lágrimas, fazendo o espadachim grunhir contra sua bunda e afastar-se porque ele não podia ter seu ômega chorando.
E Zoro daria tudo o que Sanji quisesse.
Com as calças ainda presas nas coxas, Zoro segurou seu pau sensível e quase roxo com uma mão, puxando uma nádega com a outra para facilitar ao conectar a cabeça com a entrada e, lentamente, começou a empurar o quadril para frente. A mera visão de seu pau alargando o burraquinho e entrando em Sanji quase o fez gozar ali mesmo, então parou por um instante, fechando os olhos e forçando-se a respirar fundo e com calma, convocando seu auto-controle.
Ele nunca se perdoaria se acabasse com tudo rápido demais.
Mesmo saindo da zona de risco, Zoro achou melhor não olhar acontecendo. Ao invés, resolveu aproximar-se mais do cozinheiro, curvando-se sobre ele, peitoral contra costas, rosto descendo para a nuca suada, mãos contornando a cintura, escorregando para a barriga tensionada até pararem nos peitos, segurando-os com delicadeza, tudo enquanto lentalmente empurrava o quadril para frente, afundando-se cada vez mais no buraco apertado e quente, que o espremia e sugava em troca.
Quando a cabeça entrou por completo, dentes arranharam a nuca e peitos sensíveis foram apertados com força.
O ômega arfou e estremeceu de corpo inteiro.
— Isso… isso… ah, entra… entra de uma vez, Marimo, eu… eu não vou quebrar! Me fode direito ou eu vou chutar suaah! Isso! — Sanji gemeu devasso quando Zoro o obedeceu, estocando o quadril para frente até afundar por completo, quadril expremido contra bunda, o pau completamente cercado por paredes macias o apertando.
Era muito melhor do que Zoro lembrava e ele nunca mais queria sair de lá.
Mas ele tinha a sagrada missão de fazer seu ômega gozar.
Então Zoro puxou o quadril para trás até apenas a cabeça estar dentro, só para re-entrar de uma vez. E o fez de novo, devagar, arrancando baixas arfadas de Sanji, pouco a pouco mudando um pouco o ângulo das investidas, procurando. Seu corpo gritava para ir mais rápido, para tomar sem se importar, tomar até o pau inchar e explodir dentro, prender o ômega a si, estufá-lo com gozo até estufá-lo com um bebê. Contudo, Zoro ainda era melhor que seus instintos, e ele só tomaria quando também estivesse dando a Sanji na mesma medida. Por isso, com calma e lento, procurou, explorou, a atenção afiada em cada reação do cozinheiro, em cada vibração de seu corpo, em cada ar que escapava seu nariz e boca.
Ele prometera que Sanji nunca seria capaz de esquecer aquela foda e Zoro sempre cumpria suas promessas.
— Aah! Porra! — Sanji gemeu com o ar saindo como um soco, o corpo vibrando da cabeça aos pés, as paredes apertando ao seu redor e sugando mais forte.
Zoro sorriu cortante contra a nuca, decorando o exato ângulo que estava, então saiu de dentro por completo, só para estocar para dentro com força. E de novo. E de novo. E de novo. Aumentando a velocidade até estar macetando o ômega que gritava gemidos abaixo de si, o corpo ficando cada vez mais mole e à mercê do alfa para fazer o que quisesse.
— Ah, Sanji… Porra, — gemeu arfante contra a orelha do loiro, a boca raspando na pele, descendo até o lado do pescoço, lambendo a glândula inchada que conseguia alcançar, o que arrancou um gemido engasgado do cozinheiro enquanto a boca de Zoro enchia de saliva. A mandíbula vibrando para fechar ao redor da glândula; os dentes doendo para perfurar a carne e segurar a mordida até esvaziar todo o seu sêmen no ômega e oficialmente marcá-lo como seu. Para sempre. Só que, ao invés de marcar o pescoço do alfa de volta depois, Sanji o mataria e Zoro deixaria porque fazer aquilo sem a mais explícita permissão seria a mais desgraçada das vergonhas. Então Zoro fechou a boca e forçou-se a afastar o rosto, erguendo-se sobre Sanji com uma mão agarrando-o pela cintura e a outra apenas segurando a nuca, puxando todo o corpo dele para trás em sincronia com suas fortes e rápidas investidas para frente. Nessa posição, era possível ter um mero vislumbre de onde e como seus corpos se uniam e bastou para o líquido quente concentrado na barriga de Zoro subir para seu peito, espalhando até a cabeça e tornando seus movimentos mais ferozes.
Porém, ainda não era o suficiente.
Zoro desceu a mão da nuca para a cintura, agarrando-a por completo e saindo todo de dentro antes de virar Sanji de barriga para cima, o ômega apenas arregalando os olhos com uma arfada surpresa que logo voltou a ser uma pletora de gemidos necessitados quando Zoro pressionou suas pernas para cima e para baixo, abrindo-o ao meio e ainda segurando-se nelas, mantendo os joelhos quase ao lado dos ombros, ao voltar para dentro do buraco sem perder a velocidade e ritmo de antes. Porém agora Zoro conseguia enxergar tudo. Seu pau entrando e saindo do burraquinho agora alargado e avermelhado, as paredes rosadas de dentro parecendo famintas pelo mísero segundo que ficavam vazias antes de o sugarem para dentro; a buceta brilhante e inchada parecendo carente de atenção assim como o pequeno pau duro batendo contra a lisa barriga tensionada, a cabeça parecendo branca de tanto pré-gozo. E essa nem era a melhor parte.
Não quando o rosto de Sanji estava todo exposto para si, o cabelo loiro bagunçado e suado para trás, as fascinantes sobrancelhas inegualáveis franzidas em concentração, formando uma pequena ruga entre elas, com os olhos mal conseguindo se manterem abertos logo abaixo, escuros e anuviados em prazer, sem conseguirem manter um foco, enquanto a pele cheia de manchas avermelhadas e suada parecia o fazer brilhar e a boca entreaberta e inchada, soltando incessantes sons de deleite era hipnotizante.
O ômega parecia ao mesmo tempo adorável e delicioso.
Zoro gostaria de poder devorá-lo de verdade.
Ao invés, contentou-se em curvar-se novamente sobre ele, colando ainda mais seus corpos, o suficiente para que sua pêlvis roçasse com firmeza na buceta e pau com cada investida no cu, fazendo Sanji abrir ainda mais a boca para soltar gemidos mais altos, então reivindicou tal boca com a sua, engolindo com satisfação todo e cada som, gulosamente enfiando a língua na garganta em busca de mais. Mais sons, mais gosto, mais Sanji.
Até que o cozinheiro pareceu começar a sufocar e isso o derrubou de cabeça no precipício, todo o seu corpo convulsionando abaixo de Zoro, suas paredes macias se apertando impossivelmente mais, mantendo-o dentro mesmo que Zoro tentasse continuar com as investidas para prolongar o orgasmo do ômega.
Era muito. Era quase esmagador. E a pressão se formava no pé da barriga de Zoro, com suas bolas subindo e bulbo começando a inchar e ele precisava…
— Não… não… ata! Não me ata! — Sanji pediu entre arfadas desesperadas e, no impulso de obedecer, Zoro saiu de dentro por completo, uma mão soltando a cintura para envolver seu próprio pau e estocá-lo mais poucas vezes entre o aperto de sua palma, o bulbo inflando e inflando até formar o nó e ele gozar entre suas barrigas.
O súbito e forte choque de eletricidade que o atravessou da cabeça aos pés o apagou o suficiente para tirar a força de suas pernas e braços, fazendo-o cair com todo o seu peso no ômega que ainda tremia em seu próprio orgasmo.
Zoro podia jurar que apagara apenas por poucos segundos, mas quando piscou os olhos abertos, seu braço estava formigando, prensado entre seus corpos, as pernas de Sanji estavam estiradas na cama e o próprio cozinheiro o sacudia não muito delicadamente pelos ombros, um tom irritadiço na voz apesar de ainda parecer arfante:
— Espadachim idiota! Ei, cabeça de mato! Marimo! Zoro, porra, sai de cima de mim! Sério que você desmaiou mesmo com um orgasmo?
Zoro grunhiu para o óbvio tom de julgamento, começando a se mexer devagar, testando seus músculos que estavam muito doloridos no geral, soltando seu pênis agora mole e sem nó para esticar o braço, trincando os dentes quando o formigamento se tornou dolorido e mais forte enquanto o sangue voltava a circular. Quando estava testando a situação e estabilidade de suas pernas, Sanji aproveitou que tinha se erguido, descolando peitos e quadris, e empurrou-o com força para o lado, fazendo Zoro cair de lado na cama, bem em cima do braço ainda semi-dormente.
— Caramba, cozinheiro, — reclamou estalando a língua e ajeitando-se até estar deitado de barriga para cima, ambos braços e pernas esticados ao lado do corpo. Sua respiração ainda estava entrecortada com o coração batendo firme e tinha sêmen seco e grudado em sua barriga, mas Zoro poderia tranquilamente dormir ali mesmo por horas.
— Você não transa com a pessoa e depois a sufoca até a morte com seu corpo gigante de espadachim desmiolado! — Sanji resmungava sentando-se e alongando a coluna, pescoço, braços e pernas, não parecendo tão saciado e agradavelmente pronto para um cochilo.
De volta em Thriller Bark, Zoro não havia o visto dormir porque dormira primeiro então, até onde sabia, o cozinheiro só tinha esperado o nó sair antes de imediatamente limpar todas as evidências e cobrir o cheiro com cigarro.
Talvez Sanji só fosse incapaz de relaxar.
Ou precisava colocar distância entre eles o mais rápido possível, se o fato dele ter se levantado e estar procurando as suas roupas queria dizer alguma coisa.
— ‘Tá indo aonde? — Zoro perguntou meio grogue, erguendo-se um pouco nos cotovelos para acompanhar o ômega com os olhos sem riscos de desmaiar de novo.
Sanji o encarou com o nariz franzido por um segundo antes de revirar os olhos e continuar a limpar as evidências dos orgasmos de ambos de seu abdômen com um lenço azul que pegara do bolso de sua calça.
Zoro não tinha ideia do porquê ele tinha aquilo em seu pijama.
— Pro meu quarto, é óbvio, — respondeu dobrando o lenço e o guardando de volta, ligeiramente vestindo cueca e calça.
O peito de Zoro apertou um pouco, forçando-o a dizer:
— Dorme aqui, ué.
Sanji travou com a calça subindo as coxas, costas e ombros tensionando, cabelo caindo sobre o rosto escondendo sua expressão.
Zoro ergueu-se até estar sentado, suas mãos coçando para tocarem o ômega, envolverem sua cintura e puxarem-no contra o seu peito e o alfa não estava na melhor situação para negar seus instintos e desejos, não com o êxtase de uma transa satisfatória ainda nublando sua mente. Uma transa satisfatória com Sanji.
Contudo, antes que ele pudesse aproximar-se e fazer isso, o cozinheiro terminou de vestir a calça, chacoalhando-se de seu aparente transe e já vestindo a camisa ao responder, a voz mais dura e fria:
— Tenho que ficar com a minha filha.
— Mas o Uso-.
— Nós só transamos uma última vez e é isso, Zoro! — disse firme, ficando em pé e virando-se para encarar o espadachim com olhos semicerrados, a mandíbula tensa. — Isso aconteceu e não vou negar, transamos duas vezes e ambas foram ótimas transas, mas não há nada além disso.
Zoro mordeu a própria mandíbula, o nó na garganta e no peito quase o fazendo desviar o olhar, mas seu orgulho o manteve firme. Seu orgulho ajudou-o a neutralizar a expressão e controlar a respiração.
Ele havia concordado com aquilo, o cozinheiro estava certo: era melhor arrancar logo o mal pela raiz do que querer prolongar o inevitável.
Porém, seu orgulho—e coração—ainda estava um pouco ferido.
— Não te pedi em casamento, sobrancelhinhas, só falei que podia dormir aqui, mas se não quer, foda-se. Pode sair, já acabamos aqui, — imitou o tom do outro e sentiu certa satisfação ao pensar ter visto uma sombra de dor nos olhos azuis hesitantes. Uma sombra que com certeza havia sido impressão ou apenas reflexo da sua, pois logo Sanji virou-se de costas.
Bem, ele já estava há dois anos deixando claro como se sentia quanto aos dois, não?
Mesmo que tivesse sido o hipócrita a ir para a cama de Zoro, a procurar Zoro, ambas às vezes.
Tudo porque havia percebido que conseguiria o que queria com Zoro, sem dúvidas. Conseguiria uma foda para aplacar seu incomparável e incessante tesão, arrependendo-se de sua escolha no instante em que claridade voltou à mente. Pelo menos, Zoro não conseguia pensar em outra explicação para o comportamento do cozinheiro senão aquela.
Só que havia sido a última vez, então não precisaria mais preocupar-se com isso.
— Ok, então… boa noite, Marimo, — disse Sanji por fim, ainda de costas, voz indiferente, e seguiu em direção à porta, abrindo-a e saindo sem olhar para trás.
Zoro deixou-se cair no colchão no segundo em que a porta fechou, um braço caindo por sobre seu rosto, cobrindo seus olhos, enquanto a mão do outro foi parar em seu peito, o coração descompassado e acelerado por sob a palma.
Ele havia conseguido Sanji de novo como queria; todo o desejo acumulado de dois anos havia sido satisfeito e era isso.
Não havia porque ele querer mais, tinha que apenas aceitar e seguir em frente, recuperar o bom relacionamento com o cozinheiro e focar em proteger toda a tripulação, ajudar Luffy a encontrar o One Piece e finalmente clamar para si o título de Mihawk após derrotá-lo.
O nó na garganta e no peito aliviariam e logo sumiriam, Zoro apenas precisava ignorá-los e manter o foco. Os treinaria para longe se fosse necessário, enquanto continuasse treinando para ser o mais forte.
Talvez tudo o que ele precisava era de uma boa noite de sono e, ao acordar, recomeçaria do zero, satisfeito e conformado.
Com isso em mente, Zoro ignorou todo o resto e permitiu-se adormecer com Sanji ainda nítido e pulsante em sua língua, dentes, boca, glândulas e toda extensão nua de pele.
Por isso, não foi muita surpresa que, quando sonhou, Sanji ainda estava em seus braços.
﹒ꕀ⚔︎ꕀ⚔︎ꕀ﹒
Big Mom queria a cabeça de Luffy.
Porque é claro que Luffy conseguiria irritar um Imperador dos Mares através de uma simples ligação de Den Den Mushi o suficiente para ela quase que declarar guerra contra os Chapéus de Palha.
Zoro não podia negar estar orgulhoso de seu capitão.
E, mesmo que o cozinheiro tivesse brigado e chamado a atenção de Luffy, seus olhos carregavam o mesmo brilho.
Depois da ligação ter finalizado e a tripulação da Big Mom ter ido embora com o tesouro, Zoro e Sanji trocaram um brevissímo e confortável olhar. Um olhar que dizia que ambos estariam prontos e lutando lado a lado quando o momento de enfrentar os Charlottes chegasse. Mas também um olhar que dizia que eles estavam bem, as coisas seguiriam normais dali em diante.
Ambos tinham consciência de que algo satisfatório acontecera na noite anterior, contudo não precisavam falar sobre.
Tudo ficaria para trás, naquela ilha submersa.
Sem tesouro e com um novo e gigante alvo nas costas, os três levaram uma bronca e apanharam de Nami, mas logo Sanji estava correndo para ter certeza de que a despensa do Sunny estava cheia e que nenhum item de importância faltaria para Kora, enquanto os demais verificavam seus próprios pertences, guardando compras e presentes que haviam ganhado das pessoas peixes e sereianos.
Assim que Franky confirmou que o Thousand Sunny estava super pronto para retornar à superfície e levá-los em segurança ao Novo Mundo—e depois de Jinbei ter educadamente negado o pedido de juntar-se à tripulação por ora devido a assuntos pendentes com a própria Big Mom—, todos embarcaram e começaram a se despedirem de seus novos amigos; de mais um povo que haviam salvo.
— Sanji! Nós vamos sentir sua falta, Sanji! — Algumas das sereias falavam em uníssono enquanto acenavam para o cozinheiro que começou a acenar de volta com ainda mais veemência, uma expressão de otário gado no rosto e a voz quase expelindo açúcar de tão doce:
— Ah! Minhas queridas sereias, maravilhosas! Se eu pudesse, eu ficaria aqui pra sempre com todas vocês!
Um incomodo pinicou Zoro por trás do peito e, antes que percebesse, já havia aproximado-se do cozinheiro para dizer:
— Ninguém tá te impedindo de ficar, senhor sangramento nasal.
No instante seguinte, ambos estavam discutindo na cara um do outro, com testa empurrando testa, uma perna erguendo-se e mãos se fechando em cabos de espadas, prontos para levarem a discussão a um novo nível.
E, apesar de terem sido forçados a se separarem pelo navio entrando em movimento, Zoro o fez com um pequeno sorriso de canto e o peito leve.
Porque as coisas estavam voltando ao normal entre ele e o cozinheiro. Eles continuariam sua viagem pela segunda metade da Grand Line sendo os companheiros de bando que nunca deveriam ter deixado de ser.
Ele e Sanji voltariam a sua natural sincronia sem desconfortos ou clima ruim, agindo um com o outro como sempre haviam agido. Como lhes era natural. Como deveria ser.
Ambos lado a lado protegendo a tripulação, apoiando Luffy e inspirando um ao outro a tornarem-se cada vez mais fortes e determinados em buscas de seus sonhos.
No fim das contas, aquela última vez parecia ter sido sim tudo o que precisavam para livrarem-se da tensão acumulada, assuntos mal-resolvidos e seguirem em frente.
E Zoro poderia seguir em frente. Ter um relacionamento romântico nunca havia sido um objetivo seu de qualquer forma.
Ele ficaria bem.
Tudo ficaria bem dali em diante.
﹒ꕀ⚔︎ꕀ⚔︎ꕀ﹒
Kora não parecia muito bem.
Subir novamente à superfície havia sido sua própria pequena aventura assim como submergir até a Ilha dos Homens Peixes. Uma aventura acompanhada de certa turbulência, alguns imprevistos, falhas tentativas de pesca de peixes gigantes e todo um baleal de baleias gigantes os levando até a linha de chegada.
No mais, haviam chego ao Novo Mundo em segurança, sendo recepcionados por um tempo particularmente esquisito e perigoso, cujo Nami não teve grandes dificuldades em liderar a todos para que fugissem com sucesso para águas mais calmas.
Com tudo voltando a relativa normalidade, cada Chapéu de Palha seguiu para suas rotineiras tarefas ou atividades. Luffy pulou na figura de proa, sentando na cabeça do leão para apreciar o caminho, dando pequenos gritos empolgados vez ou outra. Nami foi para a biblioteca fazer algo quanto a seus mapas. Usopp foi com Franky para a oficina aprontarem sabe-se-lá o que. Chopper fechou-se na enfermaria, dizendo algo sobre querer estudar mais a fundo e experimentar com as ervas medicinais que conseguira na Ilha dos Homens-Peixe. Robin sentara em uma espreguiçadeira no convés, com um livro em mãos e o carrinho de Kora logo ao lado, com a bebê dormindo dentro, enquanto Brook não estava muito distante tocando algumas notas tranquilas. Sanji enfiara-se na cozinha como sempre enquanto Zoro subiu à gávea sem pensar duas vezes, para treinar e manter certa vígilia.
Até Kora começar a chorar.
Apesar de Kora ser uma bebê relativamente tranquila, que aceitava ir no colo de todo mundo e não se assustava fácil, mesmo com todas as bizarras situações que já presenciara, ela ainda era uma bebê de um ano e quatro meses, então não era incomum que chorasse, principalmente quando estava com fome ou com sono—muito mais quando estava com sono—, mas ai era só alguém balançá-la um pouco no colo, deixá-la bem enrolada em sua manta de tricô rosa com estampa de vários pequenos peixes azuis-bebê e colocá-la no berço ou carrinho que ela adormecia em um instante e ficava por horas, com som algum parecendo ser capaz de acordá-la. Ou então—em menos vezes—era só Sanji colocar a mamadeira com leite, suco ou alguma vitamina especial para bebês na boca dela que ela mandava tudo para dentro em um instante, sempre arrotando e rindo em seguida, antes de começar a pedir para brincar e aí parecia contente em brincar com qualquer um de qualquer coisa adequeada a um bebê que ainda não sabia andar.
No geral, Kora era uma criança surpreendentemente fácil de lidar, o que era excelente para a vida que levavam.
Contudo, dessa vez, assim que chegaram ao Novo Mundo e ela começou a chorar, parecia que nada era capaz de fazê-la parar.
Sanji já havia tentado dar dois leites diferentes, três sabores de suco e usara muitos ingredientes da geladeira para preparar os mais diversos tipos de vitamina, mas Kora rejeitou tudo, afastando a boca do bico da mamadeira como se fosse a última coisa que quisesse ver na sua frente. No fim, fora Luffy quem bebera tudo para não desperdiçar e piorar ainda mais o estresse do cozinheiro.
Além disso, logo de cara Robin tentara embrulhar Kora em sua manta e chacoalhá-la de leve, porém seu choro havia apenas se tornado em um esperneio assustador que levou Sanji a sair correndo da cozinha e pegá-la dos braços da arqueóloga. Foi então que ele tentou alimentá-la sem sucesso, para então tentar colocá-la para dormir ele mesmo, mas o choro aumentava toda vez que ele fazia a menção de soltá-la. Quase toda a tripulação começou a rodeá-lo, dando sugestões do que fazer, tentando ajudar de alguma forma e Sanji os ouvia e tentava, até dera a bebê para Nami segurar, só para Kora vomitar na navegadora e ele decidir que ninguém mais podia segurá-la e que ele daria um jeito de acalmá-la sozinho.
Isso tudo já estava acontecendo há quase seis horas, e Sanji agora andava para lá e para cá com a bebê que não parara de chorar por um minuto, negando os pedidos de Chopper para examiná-la porque, de acordo com o cozinheiro “Ela não ‘tá doente! Ela nunca ficou doente e nem pode ficar!”. As mulheres, Brook e Franky também haviam tentado acalmá-lo, assegurando-o de que não seria o fim do mundo o pequeno médico examiná-la.
Sanji não dava ouvidos.
Talvez tudo o que ele conseguia ouvir era a bebê berrando em seu ouvido e todos os feromônios de estresse e preocupação estavam afogando a mente dele em estupidez, porque era isso tudo o que Zoro conseguia ouvir e sentir.
Depois de passar uma hora inteira tentando cochilar sem sucesso, Zoro grunhiu irritado e levantou-se, finalmente indo até o cozinheiro, agora parado perto da proa, em passos firmes e determinados.
— Já chega, sobrancelhas! — disse ao parar em frente a Sanji, que arregalou os olhos surpreso antes de semicerrá-los e endurecer a expressão.
— Não se mete, Marimo!
— Ela já ‘tá chorando há tempo demais, deixa o Chopper examinar ela, — falou firme, os olhos semicerrando de volta. Mesmo que sua atenção estivesse no cozinheiro, podia ver Luffy observando a cena atento de cima do leão. Ele já estava sentado ali há um tempo, sem risos, apenas sério, sem conseguir desviar os olhos de Sanji.
— Não precisa porque ela não ‘tá doente! — insistiu, apertando a bebê ainda mais contra seu peito.
Zoro apertou a mandíbula. O cheiro azedo dos feromônios do ômega estava muito forte e isso estava começando a dificultar no controle dos seus próprios, que queriam subjugá-lo para fazê-lo obedecer e parar de colocar a bebê em risco.
Na verdade, faziam horas que os instintos de Zoro estavam implorando para que ele pegasse Kora e fizesse todo o necessário para deixá-la bem de novo. Como se ela fosse sua.
Bem, ela ainda era parte da tripulação e toda a choradeira e estresse estavam atrapalhando seu sono.
— E se ela tiver, cozinheiro? O que que tem? Acontece! E com certeza o Chopper vai cuidar dela! Ou cê não confia nele?
Isso fez Sanji hesitar e recuar um passo, a voz um pouco mais baixa e menos agressiva ao falar:
— É claro que eu confio nele! Mas essa não é a questão! Eu nunca fiquei doente e… e… a Kora não está, eu sei que não!
— Ela não é você, cozinheiro! E não pode ter certeza!
— Eu tenho porque… porque você também nunca ficou, os… os genes dela são fortes, ela é for-, — balbuciava enquanto chacoalhava a garota e observava aflito seu rosto. Zoro franziu o cenho.
— O que tem a ver eu nunca ter ficado?
Os olhos de Sanji arregalaram de novo e ele voltou a apertar Kora contra si, falando tão rápido que quase se atropelou nas palavras:
— Nada! Ahn, o Luffy também nunca ficou! Nem o Usopp! Só ‘tô falando qu-.
Zoro bufou, assumindo que era capaz de Chopper precisar examinar o cozinheiro também porque ele estava começando a delirar, falando nada com nada. Por isso o cortou rebatendo:
— A Nami já ficou, ‘tá chamando ela de fraca?
Sanji pareceu quase engolir a própria língua.
— Não! Nunca! Só ‘tô dizendo que Kora não pode estar!
— Por que não, cozinheiro? Todo mundo aqui já falou que é normal bebês ficarem doentes!
Sanji ergueu uma mão para apertar a ponte do nariz, mudando a posição da bebê para conseguir segurá-la com apenas um braço. Kora soluçou mais alto, as mãozinhas agarrando o paletó do pai, mas seus olhos azuis avermelhados e muito inchados estavam fixos em Zoro, que mordeu a mandíbula quando a súbita vontade de arrancá-la dos braços do ômega o atingiu.
O resmungo mais afinado e beirando a desesperado de Sanji chamou parte da atenção de Zoro de volta para ele.
— Ugh! Você não entende nada, seu cabeça de alga estúpido!
As tempôras de Zoro começaram a pulsar quando uma mão automaticamente escorregou para o cabo de Wado Ichimonji.
— ‘Cê quer brigar? Eu te pego aqui e agora!
Ambos alfa e ômega tinham se esquecido da presença dos demais membros da tripulação, até Nami dar alguns passos à frente, mãos erguidas e sobressaltar de leve ambos ao começar hesitante:
— Gente, eu não acho que iss-.
Algo subitamente esticou-se entre eles, surgindo e desaparecendo tão rápido que, quando se viraram, Luffy já estava entregando Kora para um Chopper em forma humana, que imediatamente saiu correndo em direção à enfermaria enquanto o capitão gritava:
— Vai, Chopper! Corre!
Sanji conseguiu apenas arfar, parecendo ainda em choque:
— Luffy!
— Oopsie!
— Desculpa, Sanji! Não fica bravo, Sanji! Eu vou cuidar da Kora! — Chopper gritava com lágrimas nos olhos, o que bastou para tirar o ômega do transe, já que correu atrás dele, fazendo o médico soltar um grito breve e agudo antes de fechar a porta da enfermaria.
Zoro não pensou, apenas correu atrás do cozinheiro enquanto alguns dos outros pediam para Sanji se acalmar e deixar Chopper cuidar dela.
Todo mundo parou quando Luffy surgiu na frente de Sanji, de braços cruzados e encarando-o sério por sob a aba do chapéu.
— Sanji, não, — ordenou, seu feromônio autoritário emanando de leve, mas o bastante para fazer o ômega choramingar e baixar um pouco a cabeça, apesar de manter o contato visual.
— Luffy, eu precis-.
— Você precisa deixar Chopper cuidar da Kora! Pensei que fosse óbvio e que tomaria essa decisão sozinho, Sanji. Por que não tomou? A Kora ‘tá sofrendo!
O ômega encolheu-se recuando como se tivesse levado um soco, algumas lágrimas escorrendo de seu rosto contorcido e Zoro queria abraçá-lo e confortá-lo, contudo manteve-se imóvel, atento à situação.
— Eu-eu sei, capitão. E-eu ia dar um jeito! El-ela ia parar de… de chorar!
— Por que não deu ela pro Chopper, Sanji? — repetiu mais firme, causando um arrepio até sob a pele de Zoro. O ômega engasgou e encolheu-se mais como se lutando contra a resposta.
Até que ele confessou com grande agônia entre o choro estourando, as palavras se apertando ao redor da garganta de Zoro:
— Porque eu não quero que ela morra!
— ‘Cê tinha dito que confiava no Chopper! — Zoro rosnou sem se aguentar, dando um passo à frente. Luffy apenas o lançou um olhar em aviso, fazendo-o parar no meio do passo.
— Eu confio! É claro que eu confio! — Sanji respondeu quase histérico sem se virar, as mãos agarrando os fios loiros. — Não tem nada a ver com ele! Só-só não quero que… que seja verdade que ela tá doente! E… e se el-ela estiver é culpa minha e dos meus… dos meus genes…
— Por que seria culpa dos seus ge-.
— Não é culpa sua, Sanji, — Luffy interrompeu Nami, fazendo o ômega soluçar mais alto, sem mais conseguir encarar o capitão. — E ela vai ficar bem, porque o Chopper vai cuidar dela e todos nós vamos ajudar com o que for preciso, ok?
Sanji assentiu fraco, fungando e soluçando.
— O-ok. Des-desculpa, capitão, — pediu ainda de cabeça baixa e Zoro relaxou um pouco, apesar de sua pele ainda estar vibrando com a tensão e seus feromônios irritadiços. Luffy aproximou-se, sua expressão não tão mais séria, e colocou o pulso contra o pescoço do ômega, forçando-o a erguê-lo enquanto esfregava suas glândulas. Sanji suspirou com os ombros perdendo um pouco da tensão quase que de imediato, inclinando-se para aceitar a troca de hormônios com o alfa. — Po-posso ficar com ela? Eu prometo que nã-.
— Nami, — Luffy chamou e Sanji soltou outro suspiro, sua mão erguendo-se para segurar o pulso do capitão com ternura enquanto seus lábios formavam a muda palavra “Obrigado”. Luffy apenas assentiu, o sorriso voltando a esticar-se na boca o bastante para mostrar um pouco dos dentes brilhantes e Zoro deixou um forte suspiro próprio escapar.
Nami não demorou a aproximar-se dos dois, segurando o pulso de Sanji com delicadeza, incentivando-o a afastar-se do alfa e segui-la. Não surpreendentemente, o ômega abriu um sorriso ainda maior para ela, deixando-se ser puxado e conduzido até a enfermaria, pacientemente esperando atrás da beta enquanto ela trocava poucas palavras com Chopper, então os dois estavam entrando e fechando a porta novamente, a fraca voz de Sanji “Me desculpa, Chopper” sendo a última coisa audível.
— Robin, fica por perto pro caso de precisarem de algo, — Luffy ordenou de súbito, deixando o chapéu cair nas costas, pendurado pelos finos barbantes, obviamente muito mais relaxado.
— Já ficaria de qualquer forma, capitão, — a arqueóloga concordou com delicadeza, convocando algumas mãos de flores para aproximar sua espreguiçadeira da enfermaria enquanto Luffy continuava:
— Franky, se Chopper precisar que monte algo…
— Pode super deixar, capitão!
— E se precisarem de ajuda com algum ingrediente, Usopp…
— É com o Capitão Usopp mesmo, Luffy! Já salvei centenas de bebês no alto mar graças às mais controversas misturas de flores selvagens, — o atirador contava animado, mas dessa vez o capitão não prestou tanta atenção em sua história, continuando a dar suas ordens.
— Brook! Toca uma das músicas favoritas da Kora!
— Yo-hohohoho! Será um imenso prazer, Luffy-san! — o esqueleto concordou, já pegando seu violino de algum lugar e tocando as primeiras notas, enquanto o capitão ria e esticava-se todo para segurar na juba do Sunny e se estilingar até lá.
Zoro franziu o cenho. Sua garganta ainda estava um pouco fechada e coração consideravelmente acelerado depois de tudo, sem saber por onde sequer começar a entender o que de fato tinha passado pela cabeça de Sanji, de onde tinha vindo tanto pavor capaz de congelá-lo e nublar seu julgamento daquele jeito. Na verdade, parecia cada vez mais difícil de realmente entender Sanji fora de um campo de batalha e Zoro não sabia como processar isso. Então olhou da porta da enfermaria para onde Luffy havia voltado a sentar-se e resolveu ir até ele, parando em pé ao lado da proa.
— Nenhuma ordem para mim, Luffy? — Perguntou em alto e bom tom, mas manteve seu olhar no mar, que pelo menos ainda estava calmo, com apenas poucas e pequenas ondas e um céu limpo de um azul claro.
— Só fique atento como sempre, Zoro. Mas se Sanji precisar de um alfa pra acalmá-lo de novo, deixa com a Robin. Com a Robin e a Nami. Tirei Sanji da cabeça dele, agora ele vai deixar elas o ajudarem, — disse simplesmente, a voz nivelada e Zoro murmurou em concordância, escolhendo ignorar a irritante pontada que surgiu com a ideia de que o cozinheiro nunca o deixaria ajudar, não em situações assim, não com a bebê, não com o que era pessoal.
Por não querer ficar ruminando nada disso—afinal, seria apenas perda de tempo e energia—Zoro resolveu aproveitar o considerável silêncio para tirar seu tão almejado cochilo, sentando contra o corrimão ali da proa, quase aos “pés” de seu capitão, com suas espadas encostadas logo ao lado ao seu alcance.
O sono não demorou a reivindicá-lo.
— O que quis dizer com ser culpa dos seus genes, Sanji-kun? — A voz baixa e incerta de Nami foi a primeira coisa que Zoro ouviu ao despertar de súbito minutos ou horas depois, o forte cheiro de nicotina deixando-o em alerta para a proximidade do cozinheiro, que deveria estar encostado contra o corrimão para fumar.
Sanji engasgou com uma tragada, tossindo duas vezes antes de limpar a garganta e responder com uma voz leve forçada:
— Nada não, Nami, querida! Apenas estava tão nervoso que comecei a falar abobrinha! Não se preocupe com isso, meu anjo. — Zoro podia perfeitamente imaginá-lo fazendo suas poses de gado, o que, pela primeira vez na vida, era reconfortante, já que significava que, de certa forma, as coisas estavam de volta ao normal. — Eu vou lá pra dentro agora… Não hesite em me chamar se você, Usopp e Brook precisarem de algo, está bem, Nami-san?
— ‘Tá bem, mas não se preocupe, vamos dar conta!
Então Sanji suspirou e os sons de seus passos começaram a se afastar, levando junto o cheiro de nicotina. Zoro esperou não conseguir mais ouvi-los para abrir os olhos, que recairam fácil sobre a silhueta da navegadora à sua diagonal, curvada sobre o corrimão, encarando o céu azul e quase todo livre de nuvens. Com uma rápida olhada ao redor, Zoro não encontrou qualquer sinal do cozinheiro, portanto levantou-se em um movimento fluído, pegando suas espadas antes de andar até parar ao lado de Nami, costas contra o corrimão, braços cruzados e olhar fixo na gávea acima.
— O que que deu com a bebê? — Perguntou sem rodeios.
Os ombros de Nami desabaram com um forte suspiro.
Betas tinham aromas mais fracos que ômegas e alfas, normalmente liberando bem menos hormônios e ferômonios—tirando as exceções de quando sofriam com pseudo-ruts ou pseudo-cios ao ficarem com um alfa ou um ômega durante um por um motivo ou outro—, mas no momento, Zoro não precisou esforçar-se muito para sentir o estresse emanando dela.
Quando respondeu, sua voz denunciava cansaço:
— Kora ‘tá com cólica e estômago inflamado. Parece que alguma coisa que ela comeu na Ilha dos Homens-Peixe não fez bem. — Os batimentos de Zoro aceleraram um pouco e ele cerrou a madíbula com os olhos caindo em Nami. — Mas Chopper garantiu que é leve, é tratável, ela não ‘tá correndo risco. Só que, bem, não sabíamos que teríamos uma bebê a bordo até já estarmos embaixo do oceano, então ele não tem tudo o que precisa para fazer um medicamento apropriado para um bebê, então temos que torcer para que tenha na próxima ilha… Sanji também quer comprar ingredientes para fazer algo leve para ela, ‘tá com medo de usar o que conseguimos na Ilha dos Homens-Peixe e eu não o culpo, só… — Nami suspirou de novo, cruzando os braços abaixo dos seios. — Só espero que cheguemos na próxima ilha logo e que lá tenha tudo o que eles precisam. Chopper deu algo para mascarar um pouco a dor e relaxar Kora, mas… não gosto de vê-la sofrendo sem poder fazer nada, e o Sanji… — A voz falhou minimamente e ela mordeu o lábio, os grandes olhos castanhos umedecendo.
Zoro trincou ainda mais o maxilar e colocou uma mão no ombro dela em conforto.
— E o que o cozinheiro quis dizer com se você, Usopp e Brook precisarem de ajuda?
— Kora ainda não ‘tá conseguindo dormir nem comer apesar de ter parado de chorar, então Chopper sugeriu que seria bom ele a ficar marcando com o aroma dele, acalmando-a e tudo o mais, então… Sanji vai ficar no quarto de vocês deitado com ela até ela dormir ou chegarmos em uma ilha, por isso ele nos deu seu livro de receitas e passou pra mim, ‘Sopp e Brook a missão de preparar nosso jantar e, bem, café da manhã se for necessário.
Depois de ouvir tudo, Zoro foi para a gávea, dispensando Franky da vigília porque ele precisava ficar sozinho e exercitar toda a frustração para longe. A frustração de também estar de mãos atadas, sem poder fazer nada para ajudar, sem saber como poderia confortar Sanji, mas, principalmente, a frustração que sentia consigo mesmo por causa de seus instintos idiotas exigindo que ele fizesse algo, que fosse o alfa que seu ômega e seu bebê precisavam, quando já estava mais do que claro que nenhum deles era dele.
Talvez Zoro devesse perguntar a Chopper se não existia algum remédio capaz de baixar a bola dos instintos alfas ou, quem sabe, reiniciá-los, já que apenas tentar treiná-los não parecia estar sendo o suficiente para eles esquecerem do cozinheiro.
Contudo, aquilo nem era sobre ele. Zoro devia era parar de ser um egoísta idiota porque o problema era que Kora estava doente e Sanji claramente não sabia como lidar com isso.
De qualquer forma, Zoro não tinha como ajudar.
Tudo o que podia fazer era garantir a segurança de todos contra prováveis inimigos e treinar para ficar mais forte.
A portinhola da gávea se abriu, mas Zoro continuou focando em suas flexões, contando cada uma—duas mil trezentas e trinta uma, duas mil trezentas e trinta duas, duas mil trezentas e trinta três—porque não fazia muito tempo que tinha finalmente conseguido esvaziar a mente e, desde que haviam saído de Water 7, Robin havia parado de acobertar seu cheiro de flores com uma pitada de algo que lembrava Zoro da mais forte cafeína pura, então não tinha como não saber quem estava subindo ali e era provável que Robin apenas tivesse esquecido algum livro.
Exceto que ela sequer fez menção de procurar algo, apenas sentou-se no comprido sofá e ficou parada com seus escuros, observadores e afiados olhos fixos no outro alfa.
Por vários minutos, Zoro tentou ignorar o peculiar formigamento em sua nuca, tentou fingir que continuava sozinho para prosseguir com sua necessária rotina de exercícios. Até o nó em seu estômago ficar apertado demais com todas as infinitas possibilidades do que a mulher queria e ele perder a conta das flexões.
Zoro soltou um pesado suspiro ao deixar-se cair no tatame.
— O que quer? — Perguntou por fim, deixando os braços, ainda vibrando e um pouco trêmulos com todo o esforço e pressão que aplicara neles, relaxados em cima da barriga e fechando os olhos.
Robin ainda hesitou, prolongando o silêncio, mas então falou com a voz menos controlada do que de costume, fazendo os olhos de Zoro abrirem para a encararem incrédulos:
— Estava vigiando o Sanji, garantindo que ele e Kora estão bem e não precisam de algo e… ouvi-o murmurando para ela. Sanji está se culpando; está se culpando por não estar fazendo seu trabalho como cozinheiro e por, nas palavras dele, “ter trazido mais problemas para nós”. Até comentou que não deveria ter voltado, que a coisa certa a se fazer era ter nos enviado uma carta de despedida e voltado para o Baratie com a filha. Acabou pegando no sono logo após.
E simples assim, todo o trabalho que Zoro tivera para aquietar o seu alfa interior e parar de preocupar-se ou sequer pensar no cozinheiro, foi para os ares, tornando-se inútil.
Em um rápido movimento, ele ficou em pé e começou a andar de um lado para o outro, o sangue quente fluindo acelerado ao ponto de causar palpitações em seus ouvidos e um pico de adrenalina; as mãos abrindo e fechando em punhos assim como a mandíbula se apertando, ambos com vontade de fazer estrago, de causar dor, deixar marcas e cortes, de matar alguma coisa.
Uma emoção que sequer teve tempo de pensar em controlar antes que começasse a transbordar nos feromônios que começou a liberar sem controle, pesando no ambiente como uma grossa nuvem.
— Eu entendo sua frustração, Zoro. Eu também sou alfa e, mesmo tendo minha ligação com o Franky, Sanji é o único ômega cem por cento ômega ainda à bordo, não marcado e com uma filha, então é perfeitamente normal que nossos instintos protetores fiquem ainda mais afiados e à flor da pele quando se trata dele, — Robin dizia com a voz mais controlada e Zoro precisou conter-se para não rosnar para ela e conscientemente impedir que seus feromônios se tornassem hostis.
Zoro sabia que as intenções de Robin eram boas, e que ela era família e não uma ameaça, só que Robin não havia escutado o cozinheiro dizer que ele era substituível e sem valor, quase declarando que ele não importava, que qualquer outra pessoa poderia cozinhar para o futuro Rei dos Piratas, além de ser o parceiro de luta perfeito para Zoro. E Robin podia ser uma alfa e importar-se com o ômega de peito todo, mas ela não tinha esfregado suas glândulas mais íntimas nas dele, não tinha as lambido, não sabia qual era o gosto dele, os barulhos que fazia quando entregue ao prazer, quão quente e apertado e obscenamente molhado ele era e como estar completamente enterrado nele era melhor do que qualquer bebida alcóolica que Zoro poderia provar.
Então sim, Robin podia estar sendo muito incomodada por seus instintos protetores, mas os de Zoro estavam prestes a o enlouquecer.
Principalmente por saber que ele não podia fazer nada.
Porque o cozinheiro não o ouviria, nem o deixaria ajudar.
Inspirando fundo uma grande quantidade de ar, Zoro forçou-se a parar de andar, apoiando as mãos no batente de uma das janelas, deixando o vento ameno, mas um tanto frio, bater contra seu rosto, ajudando-o a se acalmar mais. Estava de costas para Robin, mas ainda podia sentir os olhos dela fixos em si.
— Por que veio contar isso pra mim? — Perguntou com a voz mais amena que conseguiu.
Robin suspirou antes de responder como um balde de gelo:
— Porque eu sei o que aconteceu em Thriller Bark, Zoro.
A visão de Zoro escuresceu quando seu coração foi de três a três mil em um segundo, a respiração pesando quando o formigamento começou a surgir por sob a pele, principalmente sob os dígitos que apertava contra o metal do batente, e na mandíbula, sendo tão trincada que seus caninos pareciam prestes a furar a carne do lábio.
A ideia de que um olho ou um ouvido de flor havia brotado em uma das paredes da enfermaria enquanto ele e Sanji estavam afundados em seu próprio prazer, levou bile à garganta de Zoro, que precisou engolir antes de se forçar a falar com a voz arranhando:
— ‘Cê… sabe…
— Sim, eu… ouvi dois piratas do navio de Lola contando pro Sanji tudo o que tinham visto, sobre como você e ele estavam dispostos a se sacrificarem por Luffy e um pelo outro… e ouvi o que Sanji disse para eles para os convencerem a não contar nada para ninguém e, bem, não é preciso ser um gênio para perceber o quanto ele se desvalorizou em tudo naquela situação.
Zoro inspirou mais forte e com mais facilidade quando o peso extra sobre si foi tirado, jogado fora.
Então Robin sabia que Sanji se desvalorizava, o que dava ainda mais sentido para a sua preocupação.
Pelo menos o único segredo que era apenas deles continuava sendo apenas deles.
— Mais alguém além de você e Brook sabe?
— Não, não fazem ideia. — Zoro deixou um suspiro escapar ao soltar o batente, endireitando a coluna e olhando para o vasto mar, ainda não conseguia parar de apertar a mandíbula no entanto, ainda mais quando Robin prosseguiu. — Por isso senti que deveria vir te contar, por você saber como o Sanji pensa, porque você e ele dividem o mesmo fardo e… — A alfa pareceu se cortar, parecendo engolir o ar junto as palavras. Um pouco da tensão voltou a deslizar para o pescoço de Zoro, aumentando conforme os segundos passavam e a arqueóloga parecia decidir o que diria a seguir. Quando o fez, a respiração travou na garganta do espadachim. — Sendo sincera, Zoro, eu sei que você sente algo a mais por Sanji, apesar de não entender a extensão de tal sentimento e se seria recíproco, mas…
— Não é recíproco, — interrompeu cortante, não querendo que as suposições passassem dali, não querendo que Sanji corresse o risco de ser ainda mais exposto. Destravando a mandíbula e cruzando os braços, resolveu falar logo o que pensava daquilo, os olhos ainda firmes no horizonte. — E eu sou a última pessoa que o cozinheiro ouviria, Robin. É mais fácil você ou Nami irem lá tentar enfiar juízo na cabeça dele. Talvez você por ser uma mulher alfa e saber mais do que Nami pos-. — As palavras morreram quando um navio surgiu do nada à distância, um navio com uma bandeira branca e símbolo azul familiar; um navio que se transformou em dois e que se aproximavam rápido. Um pequeno sorriso repuxou no canto dos lábios de Zoro quando ele entendeu o que acontecia, informando à outra alfa. — Robin! Tem navios da marinha vindo nos atacar! Avisa os outros!
Zoro iria distrair-se de tudo aquilo e descontar um pouco do estresse cortando marinheiros idiotas.
Enquanto Robin corria para o microfone para avisar toda a tripulação do ataque iminente, Zoro correu para onde deixara suas espadas encostadas, então correu para descer da gávea, parando apenas ao chegar no corrimão mais próximo de onde os navios inimigos se aproximavam, Kitetsu e Shusui bem firmes em mãos, prontas para fazerem estrago.
— Por que eles tão nos atacando? Nós acabamos de chegar no Novo Mundo! Não fizemos nada! — Usopp gritava enquanto corria de um lado para o outro com Chopper esperneando logo atrás.
— Eles parecem ter vindo da ilha pra onde estamos indo! — Nami observou da parte de cima do convés, perto da porta da cozinha, vestindo um avental laranja, mas já com seu Clima-Tact em mãos.
Brook estava logo atrás dela, vestindo um avental branco com desenhos de caveiras pretas e uma colher de pau na mão. Ele soltou um de seus risos antes de falar:
— Então talvez não seja uma boa ideia irmos pra lá!
— Mas precisamos do remédio pra Kora! — Chopper gritou sem parar de correr.
— Não vamos mudar o curso! Se tiver Marinha lá, acabamos com eles assim como vamos acabar com esses daqui, — Luffy ordenou estalando os dedos das mãos, um sorriso levemente maníaco se esticando em seus lábios ao aproximar-se de Zoro, que não conseguiu evitar de sorrir igual, até perceber a cortante falta de algo.
A falta do cheiro de nicotina, de fios loiros em sua periférica, de alguém ao seu lado mais do que disposto a competir para ver quem derrubaria mais marinheiros em menos tempo.
— Vamos chegar mais rápido se o Sunny não sofrer com essa briga! — Franky berrou ao finalmente chegar correndo no convés e Luffy pareceu entender imediatamente o que ele quis dizer, porque, no segundo seguinte, estava envolvendo a cintura de Zoro com um braço de borracha e lançando os dois sem mais nem menos para dentro do navio inimigo—agora perto o suficiente para as bolas de canhão conseguirem acertar o Sunny—, rindo durante todo o processo enquanto o espadachim podia apenas se preparar para a aterrissagem.
E Zoro aterrissou cortando mais de quatro soldados de uma vez, parando apenas para confirmar que Luffy pousara no outro navio em segurança, e então não deu mais folga para todos aqueles homens que deram o azar de terem trombado com os Chapéus de Palha.
Enquanto Zoro e Luffy cuidavam dos marinheiros direto nos navios deles, tentando evitar que a briga fosse levada ao Sunny, Chopper e Brook impediam que as bolas de canhão os alcançassem e Franky, Usopp e Robin usavam de suas habilidades especiais para ajudarem o capitão e espadachim a eliminarem mais rápido os soldados à distância, Franky mirando seus lazers e canhões próprios nos cascos dos navios inimigos para afundarem.
No fim, foi uma vitória rápida e fácil porque eles sequer tinham um Vice-Almirante à bordo, apenas um capitão que estava se achando demais por ter comido uma Fruta do Diabo Zoan do tipo peixe, o que parecia terrível pelo fato dele não poder lutar na água.
Não foi surpresa quando Luffy o derrotou com apenas um Gomu Gomu no Bullet bem dado.
Então Luffy os lançou de volta para o Sunny enquanto os dois navios afundavam e os Chapéus de Palha prosseguiram com sua aventura como se nada tivesse acontecido.
Contudo, ao invés de ficar feliz com a derrota e mais energizado pela luta, Zoro não conseguia expulsar para longe o sentimento de que algo não estava certo, de que não havia sido uma luta satisfatória porque o cheiro de sangue e dos feromônios apavorados dos inimigos não haviam sido envolvidos por uma familiar nicotina e, ao terminar de eliminar todos, não veio ninguém reclamar no seu ouvido sobre uma coisa ou outra, nem mesmo provocá-lo a ponto de causar mais uma “briga” para que Zoro pudesse aproveitar do súbito pico de adrenalina com um prazeroso e divertido treino.
Sanji não estivera ali ao seu lado e Zoro não sabia como processar o fato de que parecera ter lutado sem um braço.
Quando eles haviam alcançado esse nível de familiaridade, ao ponto da pausa de dois anos parecer insignificante assim que estavam juntos novamente?
— Bem, que bom que isso foi rápido, porque jantar ‘tá pronto, pessoal! — Nami informou a todos, mal terminando de falar e Luffy já estava berrando em comemoração, com ele, Usopp e Chopper quase derrubando a navegadora ao entrarem correndo na cozinha. — Luffy! É pra dividir!
Zoro suspirou, aliviando o aperto na mandíbula que nem percebera estar fazendo e subindo na gávea para pelo menos tirar o excesso de sangue das espadas, deixando Kitetsu e Shusui lá para terminar de cuidar delas depois, e indo para a galeria com apenas Wado na cintura, já que sequer havia a desembainhado naquela luta patética que teria conseguido ganhar com uma espada só.
Quase todo mundo já estava sentado à mesa, devorando o quase banquete que Nami, Brook e Usopp haviam preparado seguindo as instruções de Sanji e Zoro não hesitou em sentar-se no banco vago na diagonal do capitão, apesar do nó na garganta e no estômago que surgiu pela berrante falta do cozinheiro ali.
Zoro não lembrava da última vez que entrara ali e Sanji não estava.
Talvez nunca.
Contudo, ele e Kora não eram os únicos membros não presentes.
— Cadê a Nami? — Perguntou enquanto fazia seu próprio prato antes que o glutão do Luffy acabasse com tudo. Um glutão que tentou enfiar a mão em seu prato para pegar o que já tinha colocado lá, rindo quando o espadachim bateu em sua mão.
— Foi levar comida para Sanji e Kora e vai aproveitar e comer com eles, — Robin respondeu em um tom neutro, mas seu olhar sério sobre Zoro o fez engolir em seco enquanto assentia fraco.
Zoro duvidava que tivesse dado tempo da arqueóloga falar algo para a navegadora, mas Nami era esperta, então se percebesse algo de errado com Sanji, daria um jeito de fazê-lo deixar de besteira.
Se tinha alguém que conseguiria colocar algum juízo fácil na cabeça do cozinheiro, era Nami.
O gado idiota era apaixonadinho demais nela para não lhe dar ouvidos.
Zoro forçou-se a relaxar e a focar em sua própria comida, esvaziando a mente enquanto mastigava e saboreava com calma e permitia que as conversas paralelas ao seu redor fossem como um ruído branco o mantendo presente.
Comida era comida e não havia dúvidas de que tudo estava uma delícia já que haviam seguido a receita de Sanji, contudo, de alguma forma, era óbvio que não havia sido feita pelas mãos do cozinheiro e, portanto, não estava tão boa assim.
Zoro inspirou fundo e quase deixou seu prato de lado.
Como o cozinheiro conseguia deixar sua marca no cerne de tudo o que tocava?
Porque Zoro duvidava que ele fosse o único a perceber.
E o idiota ainda achava ser substituível.
— Espero que a Kora melhore logo! Já ‘tô com saudades da comida do Sanji… — Luffy comentou com um pequeno bico apesar de estar de boca cheia, dando voz aos pensamentos do espadachim.
Usopp soltou um barulho indignado.
— Ei! Nós seguimos certinho a receita!
— Shishishi! E ‘tá uma delícia! ‘Cês são incríveis! Mas ainda não é do Sanji…
Zoro soltou um curto ronco antes de enfiar uma garfada cheia na boca. Mais uma vez ele e Luffy se encontravam na mesma página.
Então a porta da galeria se abriu com tudo e Nami entrou, respiração rápida e entrecortada, pratos vazios na mão e olhos arregalados encarando o nada como se tivesse visto um fantasma, até mesmo suas bochechas estavam coradas e o que parecia ser leve suor escorria de sua testa.
— Ai minha nossa, Nami! Não diz que os espíritos daqueles soldados ficaram no Sunny! — Usopp disse quase histérico, fazendo Chopper ficar histérico.
— Espíritos dos soldados? Tem espíritos aqui?!
— Ah não! Eu morro de medo de almas perdidas! Apesar de que… eu já estou morto! Yo-hohoho!
Enquanto Franky e Luffy riam, Robin, assim como Zoro, ignorou a histeria e dirigiu-se mais seriamente a navegadora, que tinha se aproximado do balcão que dividia a galeria entre a cozinha e a sala de jantar, colocando os pratos em cima e apoiando-se como se precisasse de ajuda para permanecer em pé.
— Nami, o que houve? Kora está bem?
Nami pareceu sobressaltar-se de leve, tirando as mãos do balcão para esfregá-las no rosto antes de jogar o cabelo para trás.
— Sim, ela… ela ‘tá, até conseguiu comer um pouco, apesar de voltar a chorar depois, mas já se acalmou.
— Então que que foi? — Zoro insistiu sem a mesma delicadeza de Robin, ganhando uma cara feia da navegadora antes dela quase que vomitar tudo de uma vez, colocando toda a galeria em um súbito, tenso silêncio.
— Na próxima ilha, depois de curar a Kora, Sanji-kun disse que vai conseguir passagem em um navio pra voltar pro East Blue com ela, pro Baratie, porque, segundo ele, “podemos achar um cozinheiro melhor que nos dê menos problemas”.
Notes:
e aí, o que acharam? o que acham que vai acontecer agora? podem me contar todas as suas teorias, amo lê-las!! ❤️
como disse, o cap 5 já tá escrito e planejo postá-lo dentro de ~15 dias! (a previsão é que sejam 15 caps + epilógo, td já planejadinho!)
e é isso! comentem o que acharam, dêem kudos, se inscrevam na fanfic pra não perder as atualizações se ainda não fizeram e também podem me seguir no twitter, onde falo muito sobre one piece e dou várias atualizações sobre o que estou escrevendo!! também pode me chamar na DM lá pra conversar se quiser! twitter
até mais <3
Chapter 5: não consigo mais fazer isso.
Summary:
A tripulação tenta convencer Sanji a ficar, e um momento de altas emoções entre Zoro e Sanji leva Zoro a tomar uma decisão que ele nunca havia considerado antes.
Notes:
OI, AMORES!!! Eu já devia ter postado esse capítulo no fim de semana passada, mas acabei não conseguido. Porém, aqui estamos!! 😜
Muito obrigada a todos pelos comentários que vocês deixam, mesmo que seja só para gritar comigo 🤭 Eu amo todos eles e aprecio PROFUNDAMENTE o apoio de todos a esta fic. Espero que continuem gostando, mesmo com a sua dose de angústia!
Antes de deixar vocês lerem o capítulo, eu só queria dizer que, deste capítulo em diante, me inspirei na fanfic "False Start" da SuspiciousRubberduck sobre como escrever bebês melhores. Percebi que eu não estava fazendo o melhor trabalho com a Kora e peço desculpas por isso. De agora em diante, espero que ela seja retratada como merece (incluindo inspiração com todas as suas roupas e outras coisas ♡)! Então, muito obrigada, ducky! E TODOS (que sabem inglês, é claro) deveriam ler essa fic, é tão boa! Também é omegaverse com o Sanji tendo um bebê, a coisinha mais adorável, a pequena Grace! A única diferença é que é um bebê Acesan, porém, a fic em si é ZOSAN, começa durante o timeskip, então... de qualquer forma, se você gosta de Omegaverse, Omega!Sanji, Alpha!Zoro (ridiculamente apaixonadinho!Zoro), Mpreg e bebês fofos, vá ler "False Start" depois de terminar este capítulo 😉
De qualquer forma, é isso! Boa leitura ❤️🔥
(See the end of the chapter for more notes.)
Chapter Text
Podemos achar um cozinheiro melhor que nos dê menos problemas.
Então Sanji era realmente um idiota.
— Eu insisti várias vezes que qualquer um pode ficar doente, que não tem problema, que Kora não é um problema, mas ele só acha que eu ‘tô sendo gentil! Até o lembrei de como EU já adoeci e nenhum de vocês me abandonou por causa disso, mas, nas palavras dele, foi “porque você é maravilhosa, Nami-san! Todos te amam e sem você esses idiotas e a querida Robin-chan não chegam a lugar algum!”. Se ele não tivesse segurando a bebê, eu teria batido nele para ver se entra alguma noção naquela cabecinha!
Assim que Nami terminou de explicar o que tinha acontecido, o silêncio de antes transformou-se em um caos de protestos e comentários confusos, assim como um turbilhão de feromônios agitados e apreensivos.
— De onde o Sanji-bro tirou essa ideia? Todos nós adoramos a Korazinha!
— É fato que Sanji nunca poderia ser um cozinheiro tão bom quanto eu, afinal fui pessoalmente treinado pelo mais respeitado cozinheiro de Elbaph, mas ele não pode nos deixar!
— Fo-foi alguma coisa qu-que eu disse? Foi po-porque eu saí correndo com a Kora? Eu não tenho problema em cuidar dela! — Robin convocou braços para abraçar e fazer carinho em Chopper, buscando aplacar seu choro e sussurrando-lhe que não era sua culpa enquanto o caos na cozinha só piorava.
Toda a tripulação era obviamente contra aquela ideia de girico do cozinheiro.
Uma ideia que Zoro ainda não havia conseguido engolir, sendo o único a não ter dito nada além do capitão, que mantinha o rosto baixo e olhos fixos no prato vazio à frente enquanto o espadachim mantinha-se atento a ele, a mandíbula sendo apertada com o coração batendo firme e mais lento contra as costelas. Assim como Zoro, Luffy estava sério, porém não era fácil ler sua expressão ou adivinhar o que passava em sua cabeça, mas não parecia errado chutar que algo se passava pela cabeça do capitão.
Quando Luffy por fim levantou-se de súbito e saiu da galeria sem falar nada, o chapéu ainda caído às suas costas e mãos cerradas em punhos, Zoro levantou-se no instante seguinte, lançando apenas um olhar para Robin, que assentiu minimamente com Chopper nos braços, um olhar que recaiu por um segundo em Nami, tempo o bastante para detectar as lágrimas acumulando nos olhos castanhos, encarando-o pidões. Zoro soltou um forte suspiro, balançando a cabeça e apertando o cabo de Wado antes de ir atrás de Luffy em passos decididos, todos os demais ficando na galeria, no lugar que não deveria pertencer a nenhum outro cozinheiro senão ao cozinheiro.
Zoro não duvidava que pelo menos uma orelha de pétalas surgiria aonde estavam indo, no entanto.
Assim que Luffy entrou no quarto dos garotos sem cerimônia—levando consigo um feromônio pesado, autoritário e muito mal controlado que estava forçando Zoro a conter a vontade de mostrar a nuca ou de empurrar seus próprios feromônios agitados contra, e que fez Sanji ganir baixo ao ser atingido por ele de súbito—, declarou com a voz séria:
— Sanji e Kora não vão a lugar algum! Vocês dois são nakama e vão continuar no Sunny com a gente!
O capitão parou ao lado da cama do cozinheiro, encarando-o sem sequer piscar, mantendo os braços firmes ao lado do corpo. Zoro parou três passos atrás, braços cruzados e sobrancelhas pesadas em uma carranca enquanto também encarava o loiro que estava sentado com as pernas esticadas e quase caindo da beirada da cama para dar mais espaço para a bebê, mesmo que ela estivesse toda encolhida ao seu lado, mãozinhas segurando com impressionante força a camiseta não-de-fresco que o cozinheiro usava, cabeça quase toda enfiada no quadril dele, mas ainda dava para ver um dos olhos de cílios longos e escuros bem fechado e a boca gordinha fazendo um bico suave.
Ao contrário de seu pai, Kora parecia completamente em paz no momento e alheia ao conflito prestes a acontecer ao seu redor. Ela usava uma roupinha azul e branca que escondia seus pés e parecia “apertar” um pouco mais nos pulsos, o cabelo verde quase todo escondido pelo capuz que tinha pequenas orelhas de urso. Apesar da irritação e desconforto provocados pela idiotice do cozinheiro, Zoro não conseguiu evitar que essas emoções diminuíssem um pouco quando um calor expandiu-se em seu peito com a cena.
Depois de ver a garotinha espernear desesperada por horas, era bom vê-la tão calma novamente.
Luffy parecia compartilhar do mesmo pensamento porque seu feromônio opressor diminuiu drasticamente no mesmo instante.
Sanji encolheu-se um pouco, colocando uma mão protetora no quadril da filha, desviando o olhar para baixo ao falar em um tom de voz que parecia esforçar-se muito para controlar:
— Vai ser o melhor pra todo mundo se nós formos embora, capitão. Ainda mais depois do que eu fiz, eu-.
Zoro impediu um rosnado indignado de escapar enquanto Luffy o interrompia, firme:
— ‘Cê só tava com medo e nervoso, Sanji. Tudo bem, já passou. Ninguém quer que Sanji e Kora vão embora.
— Eu sei que não querem, ne-nem eu quero! Mas é a coisa responsável a fazer, Luffy! Bebês dão trabalho e Kora sequer tem um ano ain-.
O olho de Zoro arregalou-se, indo do rosto nervoso do cozinheiro para a bebê dormindo, escrutinando-a por inteiro enquanto aquela nova informação ecoava em sua mente, quase o fazendo perder as palavras de Luffy.
Sequer tem um ano?
— Em Sabaody eu disse que Kora era nakama, o que significa que ela não é um peso, nem trabalho, nem um problema. Todos vamos lidar com o que vier e se ajudar e ponto final, Sanji. Vocês não vão a lugar algum. Sanji e Kora são meus e eu não permiti que fossem a lugar algum! — Para Luffy, era óbvio que apenas aquilo bastava. Era simples daquele jeito e Zoro não poderia concordar mais.
No entanto, o cozinheiro só podia ter tesão em complicar certas coisas:
— Mas eu nem fiz o meu trabalho como cozinheiro! — Começou em um quase chiado, esforçando-se para não elevar a voz, assim como as veias saltando em sua testa e pescoço revelavam o quanto estava esforçando-se para também controlar os movimentos do próprio corpo e os feromônios de ficarem ainda mais agitados. — Larguei vocês para se virarem com a janta e nem pude ajudar com a Marinha!
Zoro trincou a mandíbula por um instante antes de relaxá-la e rebater:
— E daí, cozinheiro? ‘Cê teve um bom motivo e a gente se virou. Logo a menina sara e as coisas voltam ao normal.
O rosto de Sanji avermelhou e ele fez menção de levantar-se ao ficar mais agitado, porém endureceu completamente na hora quando a bebê fez um barulhinho. Os cinco olhos recaíram-se sobre ela, verificando que ainda dormia—agora tinha minúsculas bolhas formando em seu biquinho com a respiração—, então o cozinheiro voltou a cuspir idiotices:
— Vocês não estão entendendo! Vai ter sempre algo com Kora porque ela é um bebê! E se eu não posso mais cumprir meu papel aqui, eu não tenho o direito de continuar aqui!
Zoro apenas percebeu o grunhido de irritação escapando de sua garganta e seus feromônios tentando tomar mais espaço quando Luffy virou a cabeça o suficiente para mandar-lhe um olhar de aviso. Zoro controlou-se e se recompôs imediatamente, olhar baixando para o cabo de Wado que apertava ao ponto de deixar todos os nós de seus dedos brancos.
Barulho de chinelo revelou que Luffy mexia-se e, quando Zoro ergueu o olhar de novo, o outro alfa estava sentado na beirada da cama, no pequeníssimo espaço nos pés de Sanji, que o encarava receoso, uma mão ainda protetora em Kora enquanto os dedos da outra mexiam-se agitados em um claro sinal de desejarem um cigarro entre eles. A expressão de Luffy estava bem menos dura, não exatamente relaxada e sem sinal de sorriso, na verdade, ele parecia quase contemplativo enquanto mantinha seus grandes olhos castanho-escuros na garotinha entregue a um sono pesado. E, pelo o que pareceram minutos, ele apenas a olhou, um sorriso lentamente despontando no canto da boca quanto mais a olhava respirar e fazer esporádicas pequenas bolhas, os pés bem cobertos mexendo vez ou outra, assim como as mãozinhas apertando e soltando a camisa do pai.
Por fim, e com a voz mais leve assim como os feromônios ainda predominantes no ambiente, Luffy disse:
— Kora é especial. Ela é forte, Sanji. Ela é sua, então ela é nossa. Ela faz parte da família, então com certeza vai ter grandes sonhos. — Luffy esticou o braço até conseguir segurar um pézinho com a mão, apertando-o de leve e com carinho, seu gesto e palavras bastando para relaxar o cozinheiro pelo menos um pouco; o suficiente para um pequeno sorriso começar a surgir em sua própria bochecha. Ainda segurando o pézinho, os olhos de Luffy subiram para Sanji, mais firmes, assim como sua voz ao perguntar: — Como acha que Kora vai se sentir quando crescer e descobrir que o pai dela desistiu do All Blue por causa dela?
Sanji quase engasgou com a própria respiração.
— Luffy, não é be-.
— Kora merece conhecer o All Blue, Sanji, tanto quanto você merece encontrá-lo.
— Luf-.
— E se você for embora, todos nós vamos morrer de fome porque não vou aceitar nenhum outro cozinheiro.
— Lu-!
— Sanji é o único cozinheiro pra mim. Entendeu? — Voz e olhar afiados, sem qualquer espaço para contestação e feromônios dominantes, sem serem opressivos, cobrindo todo o quarto em um cobertor de autoridade. Cobertor por ser quase que acolhedor e confortável, impedindo Sanji de encolher-se e ter seu próprio feromônio mais fraco manchado com apreensão ou medo.
Zoro apenas deixou-se ser envolvido pelos feromônios do capitão sem lutar contra, sua atenção ainda fixa na cena na cama; no cozinheiro que encarava o outro alfa de olhos arregalados e boca semi-aberta, não parecendo saber como processar o que acabara de ouvir. Então Luffy abriu um de seus sorrisos e esticou seu outro braço até alcançar o rosto do ômega, segurando-o brevemente pela mandíbula antes de escorregar até esfregar a glândula do pulso contra a do pescoço dele. Sanji imediatamente inclinou a cabeça em direção ao carinho, olhos tremulando e rosto todo relaxando enquanto uma baixa vibração começou a ser ouvida de seu peito. Uma vibração, um suave ronronar que fez Kora soltar outro barulhinho antes de pressionar-se mais contra o pai, enfiando quase todo o rostinho contra o quadril dele, como se inconscientemente buscando mais daquela frequência tão confortante que apenas ômegas eram capazes de proporcionar.
Zoro podia contar nas mãos—talvez em apenas uma—às vezes que ouvira Sanji ronronar e, em todas elas, poderia ter sido apenas impressão de tão baixas que foram.
Quando Nami adoeceu. Um momento em que Vivi estava particularmente estressada. Quando Aokiji congelou Robin e na primeira noite de Robin de volta com eles, como se assegurando à alfa de que tudo ficaria bem e ela era mais do que bem-vinda de volta.
Era provável que ele ronronasse o tempo todo para a própria filha, porém Zoro vinha mantendo-se afastado de ambos o suficiente para não notar.
Era a primeira vez que o via ronronar por influência de um homem, no entanto.
Não duvidava que o foco principal na cabeça do cozinheiro ainda fosse a bebê, é claro, mas Luffy estava esfregando sua glândula na dele e ele estava sendo receptível ao carinho, portanto era inegável:
O ômega estava ronronando em contentamento pelas palavras e ação do alfa mais novo.
Zoro respirou mais leve, contente e orgulhoso por ter um capitão tão convincente.
— O Sunny é a casa do Sanji e da Kora. Então não vão pra lugar algum, né? — Luffy perguntou baixo, uma pergunta que não soou exatamente como uma, mais como um encorajamento para confirmação.
Sanji abriu os olhos que tinham eventualmente fechado com o carinho, observando o capitão com um levíssimo receio antes de assentir soltando um suspiro derrotado.
— ‘Tá bom, Luffy. Não vamos.
— YEEEEAAAH! — Luffy imediatamente berrou dando um salto no ar com os braços esticados acima da cabeça e mãos em punhos.
Zoro e Sanji titubearam por um mísero segundo em choque antes de sibilarem em uníssono:
— Cala a boca, Luffy! Vai acordar a Kora!
— Quieto, seu imbecil! A bebê ‘tá dormindo! — O que Zoro finalizou com um leve cascudo na cabeça do capitão, que, dessa vez, cobriu a boca ao soltar um risinho enquanto esfregava a área atingida.
— Foi mal, — murmurou, mas Sanji já estava com uma expressão tranquila, observando e admirando a bebê que não havia sequer mexido um músculo.
Zoro esticou os lábios em um pequeno sorriso próprio, voltando a apoiar uma mão em Wado, relaxado.
— Mas Luffy tem razão, sobrancelhas. A garota é forte e não se assusta fácil. Deve conseguir dormir como pedra até no meio da pior tempestade que o Novo Mundo tem a oferecer.
— É, shishishi. Parece você, Zoro. — O comentário foi descontraído em meio a um riso porém os dois outros homens travaram na hora; Sanji encolhendo-se e virando o rosto para o outro lado com a mandíbula travada, enquanto Zoro arregalara o olho e travara a respiração, coração freando na garganta ao inconscientemente procurar a reação do ômega.
Como o cozinheiro havia virado-se, não era possível ver seu rosto, nada além dos músculos tensionados.
Bem, tinham acabado de convencê-lo a parar de idiotice e não seria Zoro a dar-lhe outra razão para querer fugir de novo. Não naquela situação e com aquele assunto.
Então ele forçou-se a recompor-se e limpou a garganta, ignorando o olhar curioso de Luffy nos dois antes de falar:
— E ‘tá, olha só, só porque ‘tô de bom humor, quando chegarmos na próxima ilha eu vou com você fazer as suas compras de cozinheiro, ajudar a carregar e tudo o mais. Claro, vou querer uma bebida de graça em troca do meu generoso favor.
Sanji estalou a língua e girou rápido a cabeça em sua direção, o rosto distorcido em forçada repulsa.
— Ah tá que vou te dar bebida de graça quando eu nem pedi sua ajuda! — rebateu com a voz controlada, mas ainda soando irritadiça e Zoro estava preparado para grunhir de volta quando Sanji encolheu-se baixando o olhar, a mão que não estava em Kora subindo para enfiar-se entre fios loiros. — Mas eu ainda não vou poder fazer meu trabalho de cozinheiro quando chegarmos… vou continuar sendo um inútil até Kor-.
Ambos os alfas no cômodo apertaram os dentes e fecharam a expressão no mesmo instante.
— Sanji não é um inútil!
— Cala a boca, cozinheiro! A garota ‘tá claramente melhor e tenho certeza que Chopper e Robin não vão se importar de ficar com ela enquanto vão atrás de sei lá que remédios precisam pra ela.
— Eu nunca iria impôr tamanha responsabilidade na Robin-chan! Eu-.
— Eu e Chopper teremos enorme prazer em cuidar da nossa querida Kora quando chegarmos a ilha, Sanji. — Apenas Luffy não sobressaltou-se de leve com a voz feminina que veio da parede logo ao lado, de uma boca flutuante que surgira ao lado de uma orelha também flutuante que deveria ter surgido há poucos segundos quando a arqueóloga vira a necessidade de intervir.
Zoro sorriu de leve e um tanto presunçoso enquanto Sanji balbuciava, rosto quase todo corado e olhos arregalados nos dois membros materializados.
— Ma-ma-mas, Ro-robin-chan! Kora não é su-sua respon-.
— É como nosso querido capitão disse, Sanji. Ela é nossa, é parte da família, e todos nós mais do que queremos ajudar com tudo o que pudermos.
— Ma-ma-.
— Vai falar não pra uma mulher, cozinheiro gado? — Zoro provocou, seu sorriso aumentando e ficando mais cortante quando o ômega fechou a boca na hora, o tom vermelho subindo até as orelhas.
Luffy soltou um risinho e Robin também tinha um tom mais relaxado e entretido ao declarar:
— Então está combinado. A pequena Kora fica comigo e com Chopper ao chegarmos na ilha e você focará apenas em seu trabalho como cozinheiro, Sanji.
E a boca desfez-se em pétalas apesar da orelha permanecer ali, na cara dura.
Luffy só riu mais enquanto o cozinheiro enfiava quase todo o rosto em uma mão.
— A Robin é incrível! — O capitão afirmou simplesmente, com Zoro soltando um breve grunhido em concordância enquanto o ômega murmurava alguma gadice ou outra. — Mal vejo a hora de chegarmos na ilha pra voltar a comer a comida do Sanji!
Isso fez o cozinheiro encará-lo com o cenho franzido.
— A comida que a mais do que maravilhosa e perfeita Nami-san preparou estava mais do que absolutamente divina, seu capitão ingrato!
— Usopp e Brook ajudaram, — Zoro lembrou com uma sobrancelha erguida, com o ômega parecendo ignorá-lo enquanto Luffy ria com uma mão na barriga.
— ‘Tava muito boa, mas não era do Sanji!
O rosto do cozinheiro voltou a pegar fogo imediatamente, mas seus olhos brilhavam e havia um sorriso escondido em uma das bochechas enquanto ele expulsava os dois do quarto porque já tinham conseguido o que queriam e algum cheiro que Zoro nem chegara a notar o informava de que precisava trocar a bebê.
Dessa vez, Zoro deixou-se ser “expulso” do quarto sem reclamar, afinal, ele e Luffy haviam de fato conseguido o que todos eles queriam:
Sanji não iria mais embora.
﹒ꕀ⚔︎ꕀ⚔︎ꕀ﹒
Kora ainda acordou durante a madrugada chorando, o que acordou todo mundo no quarto dos homens, apesar da maioria ter ficado em silêncio, fingindo ainda dormir como Zoro e, de alguma forma, Zoro sabia que todos compartilhavam seu receio:
De que isso traria de volta a ideia idiota do cozinheiro de ir embora de novo.
Contudo, felizmente, dessa vez a bebê não chorou por muito tempo, sequer durou uma hora já que Chopper deu a ela o mesmo calmante para o estômago de antes e ela ainda conseguiu tomar todo o leite quente que o cozinheiro colocara em uma mamadeira, voltando a dormir poucos minutos depois.
Zoro teve a impressão de não ter sido o único a soltar um baixo suspiro em alívio quando Sanji soltou apenas um cansado, mas sincero “Obrigado” para Chopper antes de ajeitar-se com a filha para dormir, o pequeno médico mal reclamando do agradecimento antes de voltar para a sua própria cama.
Antes de voltar a pegar no sono, Zoro apenas viu a sombra do capitão descendo de sua cama na parte de cima, seguido de uma exclamação chiada do cozinheiro de “Ai, Luffy!” antes do alfa soltar um risinho e mandá-lo ir dormir.
Zoro apenas soube ter dormido porque, no segundo seguinte, abriu preguiçosamente os olhos para um quarto começando a ser iluminado pelas primeiras luzes da manhã.
— Vou levá-la comigo pro meu quarto, Sanji-kun. Pode ir lá preparar o café da manhã. — Zoro franziu o cenho com a inesperada voz sussurrada de Nami, virando o rosto para trás apenas o suficiente para ver a cabeleira ruiva parada ao lado da cama do cozinheiro.
As mulheres raramente entravam ali, muito menos quando eles estavam dormindo.
— Não se preocupe com isso, Nami-san! Eu consi-.
— Acabei de sair do meu turno de vigia, ‘tô morrendo de sono, Sanji-kun, então dá logo a Korazinha pra podermos ter nosso sono de beleza em paz!
Zoro conteve um riso de escapar pelo nariz enquanto o cozinheiro agitadamente murmurava desculpas e colocava a bebê nos braços da navegadora, dando umas rápidas instruções antes de Nami sorrir largamente, apertando a criança contra si—que parecia desmaiada—e dar meia-volta, saindo do quarto dos homens sem olhar para trás.
O cozinheiro soltou um risinho incrédulo antes de suspirar, parecendo esfregar rosto e cabelo por um instante, então também levantou-se espreguiçando-se.
— Ai, Luffy… — murmurou com o que parecia ser um pequeno sorriso contido antes de curvar-se e colocar a coberta em cima do capitão dormindo em sua cama.
Então ele foi para o seu armário, mas Zoro piscou e, quando deu-se por si novamente, Sanji já não estava mais lá, assim como Brook e Luffy e o sol já iluminava o quarto por completo.
﹒ꕀ⚔︎ꕀ⚔︎ꕀ﹒
— E o Marimo vai ser meu burro-de-carga, — disse o cozinheiro idiota e Zoro parou de estufar sua boca com o omelete para encará-lo de olhos semicerrados, buscando transmitir toda a sua desaprovação do comentário enquanto o ômega o encarava de volta com um pequeno sorriso de canto e um brilho divertido no olhar.
Todos estavam à mesa, empanturrando-se com o café-da-manhã farto e extra que o cozinheiro tinha preparado muito provavelmente achando ter que compensar alguma coisa.
Kora estava no carrinho dela—que Franky havia construído em tempo recorde já no dia após descobrir que ela sequer existia—, já tinha comido um pouco de uma papinha bem nojenta que Sanji preparara com ovos e legumes, tendo comido bem menos que o normal, mas pelo menos ela não estava chorando ou reclamando de dor, ao invés, soltava agudos sons vez ou outra que pareciam tentativas de palavras enquanto brincava com dois dos bonecos de pano em formato de peixes que Sanji havia trazido junto com algumas roupinhas e coisas essenciais de bebê como fraldas e as mamadeiras. Não que Zoro soubesse o que de fato eram coisas essenciais de bebê.
Assim como também não sabia porque todos os peixes da coleção bem diversificada de bonecos de panos usavam batom e tinham cílios enormes. Sanji sempre ficava vermelho e mudava de assunto quando alguém perguntava sobre.
Zoro precisava lembrar de importuná-lo com isso quando a bebê estivesse sarada e ele não estivesse mais em risco de agir como um idiota.
E foi por isso mesmo—e porque o cozinheiro estava perceptivelmente de bom humor aquela manhã e o alfa queria que seu aroma continuasse agradável assim, parecendo cheirar como o próprio mar nas ondas mais calmas—que Zoro apenas rebateu com um nada agressivo:
— Burro-de-carga teu cu! E quero minha cerveja depois! — Com a boca cheia a ponto de pedaços de omelete voarem em seu prato.
Os olhos azuis de Sanji arregalaram em completo horror, mas, dessa vez, a bronca não foi por causa da falta de modos:
— Não fala palavrão perto da Kora, seu marimo im-! Ugh! Não fala palavrão perto dela ou eu te chuto até a lua mais próxima!
Luffy e alguns dos demais riram enquanto Zoro era forçado a desviar sua atenção do cozinheiro para salvar o resto do seu café-da-manhã das mãos gulosas do capitão.
— Sanji é engraçado quando tenta não falar palavras feias.
— Kora vai ser uma piratinha super educada!
— Mas ela ainda vive entre piratas, então duvido que não vá aprender algumas palavras não-educadas! E cedo! Yo-hoho!
— Sim, de fato, ajudei a cuidar de tantos bebês em alto mar e eles sempre acabavam xingando mais do que elogiando!
— Wow! É mesmo, Usopp?
— Sim, claro! Na verdade, até apostaria que a primeira palavra da Korazinha vai ser um palavrão e que ela vai xingar mais do que o Sanji!
— Usopp! Quer ser chuta-.
— Oh, quer apostar, é?
— Não, Nami-san, por favor, a Kora é uma princesa! Uma dama!
— É, porque é filha do príncipe da idiotolândia!
— Cabeça-de-mato imbecil, eu vou acabar com a su-UUGH!!
— Shishishishi, o Sanji falou!
— Ugh! Marimo! Lá fora! Agora!
Zoro sorriu e estava levantando-se para fazer exatamente isso, o sangue correndo mais rápido e quente nas veias com a perspectiva de duelar com o cozinheiro de novo; o coração batendo firme e leve com a noção de que eles estavam bem de novo e permaneceriam assim como sempre deveria ter sido, até Robin cruzar os braços em frente ao peito e anunciar:
— Terra à vista, Nami.
A navegadora deu um pulinho antes de voltar a focar em sua comida assim como alguns dos outros, mas os risos e falação foram interrompidos de abrupto por uma voz mais fina sobressaindo-se:
— Cil! Cil! Pe… cil! — Kora exclamava com uma expressão focadíssima, sobrancelhas encaracoladas pesando sobre os olhos semicerrados enquanto batia agressivamente um peixe no outro.
Todos os olhos e ouvidos na galeria focaram-se nela por silenciosos instantes, a bebê sequer parecendo notar ser o centro das atenções enquanto estava decidida a repetir aquela única sílaba e fazer seus bonecos de pano se destruírem.
— Que que eles fizeram pra ela? — Usopp sussurrou baixíssimo, fazendo Robin soltar um risinho por baixo da mão. Contudo foi Franky quem destruiu o silêncio:
— Awwwn! Será que ela vai gostar se eu construir umas super armas de brinquedo pra ela?
— NÃO! — Sanji exclamou alto enquanto pulava da cadeira, os grandes olhos azuis da criança indo para ele confusos quando ele arrancou-a do carinho sem pestanejar. Então Kora começou a bater os peixes contra a cabeça e rosto do próprio pai, ainda determinada a repetir “Cil! Cil! Cil!”. — Vocês são todos péssimas influências pro meu bebê! Então vou dar um banho nela e deixá-la prontinha e maravilhosa pra passear com a tia Robin e espero que aproveitem esse tempo pra pensar no que fizeram e que isso não se repita! — Disse segurando a bebê com apenas um braço enquanto apontava o dedo do outro para todos, as sobrancelhas ridículas franzidas e o tom sério demais antes de sair apressado da galeria, deixando todos em um confuso silêncio.
Um silêncio quebrado pela pergunta de Usopp:
— Ele… ele acabou de nos colocar de castigo?
— Yo-ho-ho-ho! Eu acho que sim.
Então todos caíram em uma contagiante gargalhada, cientes de que o ômega não havia ficado bravo de verdade, no máximo envergonhado, já que seu aroma ainda permanecera com eles, aquecendo seus corações com frutos-do-mar e maresia assim como a comida aquecia seus estômagos.
﹒ꕀ⚔︎ꕀ⚔︎ꕀ﹒
Zoro estava a um triz de pegar uma página no livro de Nami e puxar o cozinheiro pela orelha.
Eles já haviam atracado o Sunny na Ilha de Verão há duas horas—por sorte não parecia uma ilha contra piratas e não haviam visto sinal algum da Marinha até o momento—, portanto Luffy já havia desaparecido, com Usopp sendo forçado por Nami a ir atrás dele enquanto ela foi “familiarizar-se” com o local, assim como Brook foi “explorar as paisagens em busca de inspiração” enquanto Franky ficaria no Sunny para fazer algumas pontuais manutenções, mas Zoro, Robin e Chopper ainda estavam presos ali na praia em frente ao navio porque o cozinheiro não sabia quando era hora de parar de dar instruções sobre como cuidar da bebê para a mulher alfa quase uma década mais velha e para o médico do bando.
— E se ela começar a apertar muito as mãozinhas assim, — O cozinheiro dizia demonstrando ao apertar e relaxar uma mão em punho várias vezes. — É porque ela quer peit-ahn-leite! E o leite ‘tá na mamadeira azul-clara no bols-.
Zoro havia parado de ouvir em peito, a imagem dos peitos protuberantes e inchados de Sanji—porque ele havia dado leite e Zoro havia gostado muito daquilo por algum motivo que ele recusava-se a investigar—surgindo em sua mente, fazendo-o quase engasgar com o ar enquanto seu rosto pegava fogo por dentro.
Ok, aquilo já havia ido longe demais.
— Cozinheiro, tenho certeza que Robin e Chopper vão conseguir se virar muito bem cuidando da bebê por algumas horas, então será que dá pra irmos logo?
— Você não sabe de nada, seu-.
— Ele tem razão, Sanji. Kora vai ficar bem conosco.
— Eu sei que sim, Robin-chan! Ela estará em mais do que ótimas mãos com a senhorita!
— Vamos cuidar muito bem dela, Sanji! Eu prometo! Vou dar o meu melhor! E quanto mais rápido eu fizer o remédio, mais rápido ela vai sarar! — Chopper disse com absoluta resolução em sua forma humana, alegando ser a melhor para ficar enquanto estivesse responsável pela bebê, algo que ninguém ali se opusera.
No entanto, agora suas palavras pareciam ter calado de vez o cozinheiro, que o encarava com o olho visível arregalado, a boca pausada em um semi-bico como se congelado no meio de terminar uma palavra. As engrenagens rodando em sua cabeça eram quase visíveis, o que fez Robin soltar um de seus risinhos enquanto Zoro o encarava com uma sobrancelha arqueada.
Quando o cozinheiro voltou a falar e mexer-se, quase se atropelou no processo ao finalmente entregar a bolsa rosa e branca da bebê para Chopper já que era Robin quem segurava o carrinho onde a bebê dormia quase toda escondida pela capota aberta.
— Sim, sim! Isso, vão! Podem ir! Só lembrem que o Den Den Mushi bebê tá no bolso da fr-ai! Dá pra ser mais delicado? — Arfou e grunhiu quase que mostrando os dentes para Zoro quando ele agarrou-o pelo braço e puxou-o em direção aonde a vila local parecia estar.
— Dá pra ‘cê ser menos exagerado? — grunhiu de volta, parando de andar quando o cozinheiro soltou-se de sua mão, ajeitando o tecido do paletó como o fresco que era.
— Como burro-de-carga, você não devia estar reclamando, Marimo.
A mandíbula de Zoro endureceu, junto aos seus olhos semicerrando para o cozinheiro que estava quase com o nariz empinado enquanto Robin e Chopper afastavam-se com Kora de fininho ao fundo. Por um instante, ele quis retrucar e xingar e declarar que não mais o ajudaria com as compras porque o cozinheiro conseguia ser muito irritante quando queria, sempre tão profissional em fazer o sangue de Zoro pegar fogo e subir à cabeça por um motivo ou outro. Contudo…
“E se eu não posso mais cumprir meu papel aqui, eu não tenho o direito de continuar aqui!”
Zoro nunca mais queria ouvir palavras como aquela saindo da boca de Sanji.
Então ele inspirou fundo, engolindo seu orgulho e, ao invés de xingar, apenas cruzou os braços enquanto mantinha a expressão em uma carranca aborrecida.
— Não precisa fazer bico, Marimo, — disse enquanto acendia um cigarro que colocara entre os lábios com a mesma agilidade e elegância de sempre, inalando profundamente antes de soltar falando, impedindo que Zoro retrucasse: — Temos que ir logo antes que os melhores e mais frescos produtos acabem e não vamos sair dessa ilha sem a dispensa estar cheia com o melhor que ela tem a nos oferecer!
Zoro abriu a boca para falar que era culpa do cozinheiro eles já não estarem fazendo as compras, até Sanji segurá-lo pelo pulso da mão mais próxima e começar a puxá-lo na direção oposta a qual o alfa tentara levá-los antes.
Toda a face de Zoro esquentou e ele podia apenas torcer para que não desse para ver o tom avermelhado.
— Que ‘tá fazendo, sobrancelhas? — sibilou tentando parecer irritado enquanto tentava se soltar, mas Sanji só apertou com mais força e o encarou por sobre o ombro.
— Nos levando pra fazer as compras?
— Não precisa me segura-!
Sanji forçou um riso alto.
— Sem tempo pra ficar te procurando na ilha toda, Marimo. Ou eu te seguro pelo pulso, ou nós damos os braços ou você encaixa os dedos num passante da minha calça! — Disse e levantou um pouco a barra do paletó para mostrar os passantes do cós da calça, livres de cinto.
O calor subiu do pescoço até o topo da cabeça de Zoro dessa vez.
— Eu não vou passar meus dedos aí! — Negou-se com a voz nada fina e totalmente controlada, assim como a expressão do seu rosto não estava horrorizada com o único olho bom saltando da órbita.
Sanji nem teve motivo para soltar o risinho entretido ou continuar a encará-lo com uma sobrancelha erguida, os lábios puxados nos cantos e um brilho travesso no olhar que Zoro não gostou nenhum pouco.
— O quê? Tu não teve vergonha de comer todos os meus buracos como comeu, mas colocar os dedos no buraco da calça é demais?
Agora definitivamente dava para ver o subtom vermelho marcando as bochechas de Zoro.
— Shiu! Por que ‘tá falando disso?!
Sanji parou de andar e largou seu pulso só para guardar ambas as mãos nos bolsos da calça ao virar-se para ele, o cigarro aceso entre os lábios.
— Foi só um comentário, Marimo, de algo que aconteceu. Ou prefere que a gente finja que não aconteceu?
Zoro travou a mandíbula para os olhos semicerrados de Sanji, analisando-o com o próprio aroma sendo coberto pela nicotina enquanto o do alfa agitava-se, indo de vergonha a certo desconforto. Desconforto por não ter noção do que o ômega queria dizer com nada daquilo, por temer causar uma briga de verdade ao falar a coisa errada, mas, principalmente, desconforto por saber que nenhuma de suas transas haviam significado o mesmo para o cozinheiro e, portanto, apesar de não querer fingir que nada aconteceu, não exatamente queria conversar sobre já que com certeza a conversa não seria agradável para si.
Por fim, Zoro não demorou a recompor-se, acalmando seus batimentos e controlando os feromônios antes de neutralizar a expressão e dizer beirando à indiferença:
— Sim, aconteceu, mas não tem porque ficar comentando sobre.
Sanji pareceu vacilar por um segundo, o olho arregalando, o cigarro balançando de uma forma não proposital, mas então virou o rosto e tragou.
— Só comentei brincando porque estamos sozinhos, não faria isso na frente da nossa nakama.
Zoro precisou segurar o risco de escárnio.
— Sei que não. — Porque era Sanji quem queria esconder, apagar, tudo desde o início.
O cozinheiro tragou mais uma vez, inalando e exalando no seu próprio tempo, seu perfil e a comprida curva do pescoço sendo quase hipnotizantes para o espadachim que preferia observá-los, focar nisso do que qualquer coisa em sua própria mente que vinha sendo muito mais traíra do que não quando o assunto era seu relacionamento com o ômega.
— Bem, não comento mais então, se parar de reclamar por eu segurar o seu pulso. Ou ele é delicado demais? — provocou, voltando a olhar para o espadachim apenas na pergunta final.
Zoro não conseguiu evitar grunhir enquanto levava as mãos para os punhos de Sandai Kitetsu e Shusui:
— Quer ver o que é delicado, sobrancelhas?
O sorriso de Sanji alargou-se em um lado, quase espelhando o predatoriamente desafiador de Zoro e ele até começou a erguer uma de suas poderosas pernas, mas então o sorriso morreu e ele sacudiu a cabeça, voltando a ficar ereto com os dois pés firmes na areia.
— Não, tenho que alimentar minha filha com algo que não corra o risco de fazê-la passar mal de novo, — declarou tirando o cigarro da boca e apontou-o para Zoro: — Então pare de me distrair!
— Eu não ‘t-.
Mas o cozinheiro já o arrastava em direção à vila pelo pulso, o que Zoro “deixou” dessa vez, apesar de grunhir e reclamar durante todo o caminho, com Sanji tendo sucesso em ignorá-lo enquanto procurava algo entre as casas de madeira e pedia informações aos pescadores.
No fim das contas, tiveram que andar um pouco mais do que imaginaram já que existia uma “cidade” escondida entre as árvores tropicais há alguns metros da pequena vila beira-mar que era onde todo mundo na ilha ia para fazer as compras essenciais, o centro comercial dela. E a tal cidade era bastante colorida, repleta de casas de tijolos e de madeira pintadas de diferentes cores, casas e lojas construídas adaptadas à floresta ao seu redor, por isso a maioria parecia ter diversos buracos por onde as grandes árvores passavam, a vegetação alta quase cobrindo todas as portas e alcançando até janelas, com pássaros sobrevoando em todo lugar como se estivessem em casa, assim como alguns animais menores transicionando de um lado para o outro junto às pessoas. Apesar de tudo isso, parecia ser uma cidade vívida, organizada e limpa, com os cidadãos também vestidos de forma colorida e com sorrisos nos rostos.
A cidade em si também era bem maior do que Zoro imaginara e, bem no que parecia ser o centro dela, haviam essas pseudos barracas vendendo todo tipo de comida enquanto os vendedores gritavam os preços e quão frescos os seus produtos eram.
Sanji quase começou a dar pulinhos de empolgação ao ver toda aquela fartura e diversidade e Zoro não conseguiu evitar o pequeno sorriso que deu para ele ao ver o genuíno brilho em seus olhos azuis, seu peito enchendo com um calor confortável enquanto seu coração acelerava firme e inchava em seu peito.
Um inchaço que apenas aumentou a ponto de tornar-se sufocante quando o cozinheiro disse:
— Que bom que veio comigo, Marimo! Assim posso comprar muito mais coisas!
Zoro precisou morder com força a língua para impedir que as palavras “Tudo o que quiser, Sanji” escapassem, ao invés, apenas soltou um grunhido ininteligível enquanto tentava fechar a cara. Sanji sequer pareceu perceber, arrastando-o em direção à barraca mais próxima.
— Ah, bem-vindos, rapazes! Que bom que vieram até mim! Vocês nunca comeram pêssegos mais frescos e suculentos do que esses! Podem acreditar! — O senhor magricela e com muito cabelo faltando exclamou empolgadíssimo e com um grande e genuíno sorriso no rosto, já empurrando duas frutas grandes e rosadas para eles que deveriam ser os tais pêssegos, um para cada. — Experimentem! Experimentem, vamos! — Incentivou eufórico enquanto Sanji e Zoro entreolhavam-se por um instante.
Então o cozinheiro deu uma mordida generosa, tentando impedir suco de escorrer pelos cantos de sua boca, sua expressão imediatamente contorcendo-se em surpresa, seguido de deleite eufórico quando deu outra mordida com vontade.
— Minha nossa! Uma delícia, de fato! Experimenta, Marimo! — E enfiou o seu pêssego na boca de Zoro, que segurou a fruta entre os dentes apesar de cambalear pelo choque, mandando um olhar irritadiço para o cozinheiro, que tinha pego o outro pêssego de sua mão e já estava comprando as tais frutas enquanto comentava algo sobre “precisar fazer uma sobremesa de pêssego para as suas garotas”. Zoro revirou o olho e fechou os dentes em uma forte mordida, o sabor adocicado imediatamente tomando conta de suas papilas gustativas quando o suco da fruta invadiu sua língua, escorrendo muito pelos cantos. Zoro fechou o olho por um instante, tirando o pêssego da boca para saborear o pedaço mordido.
Não era a coisa mais suculenta que Zoro já comera, sequer entraria para seu ranking de fruta favorita, mas era gostosa, quase refrescante e o doce não era exagerado, então ele terminou de comê-la sem reclamar enquanto Sanji pagava o vendedor pelos pêssegos e mais outras duas frutas redondas e menores que Zoro não prestou atenção no nome, antes de segurar o alfa pelo pulso novamente para puxá-lo para a próxima barraca.
E por vários minutos eles permaneceram assim, indo de barraca em barraca, tendo pedaços para experimentar dos produtos de quase todas, com Sanji querendo comprar tudo e dando as sacolas para Zoro segurar, sequer piscando antes de voltar a agarrá-lo pelo pulso ou enfiar algum degustativo em sua boca. Felizmente, quase tudo o que provaram era gostoso o suficiente para Zoro não achar ruim, com a exceção do pedaço de um negócio duro e azedo que contorceu seu rosto em uma careta e uma outra fruta amarela que o espadachim só não gostou por ser doce demais e deixar sua língua dormente logo após por algum motivo.
— Você não gostou mesmo do abacaxi? — Sanji perguntou enquanto analisava os produtos em exposição em uma barraca que tinha apenas folhas verdes, o que significava que não tinha nada sendo enfiado em suas bocas.
Zoro deu de ombros enquanto ajeitava as várias sacolas que estavam apertando seu dedo mindinho da mão esquerda.
— Doce demais e deixou minha língua esquisita.
Sanji estalou a língua, dando algumas folhas verdes escolhidas para um dos poucos vendedores que não tinha gritado na cara deles sobre como a mercadoria dele era a mais fresca dali.
— Ter mais doce na sua vida iria te fazer bem, Marimo, — comentou sem qualquer tom provocador, sem sequer parecer prestar muita atenção na conversa e, com certeza, sem ter a mínima ideia de como o coração de Zoro apertava de leve.
Apertava porque a mente traíra do alfa conjurara a terrível ideia de como o ômega podia ser o doce em sua vida.
Absolutamente patético! Coisa idiota que o cozinheiro gado pensaria!
Zoro virou o rosto com as bochechas corando para o outro lado, grunhindo:
— Só preciso de álcool.
— Claro que sim, — suspirou pagando o vendedor e eles seguiram para a próxima barraca, Sanji já tendo que segurar Zoro pelo o cotovelo graças a grande quantidade de sacolas que já segurava.
Pelas duas barracas seguintes, eles também não tiveram mais “degustações” a fazer, então Zoro estava quase entrando em transe pela monotonia da atividade—poderia até mesmo meditar enquanto era puxado para lá e para cá pelo cozinheiro como uma boneca—, quando Sanji enfiou outra coisa em sua boca. Só que, diferente das outras vezes, não era uma fruta grande o suficiente para sequer encostar nele ao fazê-lo. Não, dessa vez, Zoro sobressaltou-se, piscando algumas vezes ao encarar o cozinheiro confuso quando ele segurou seu queixo com dois dedos, forçando-o para baixo antes de gentilmente aproximar sua outra mão de seus lábios, olho azul focado no que fazia enquanto três dedos passavam pela boca, deixando escorregar para dentro várias bolinhas minúsculas que pareciam apenas molhadas ao encostarem na língua, ou Zoro simplesmente não estava prestando muita atenção nelas. E como estaria?
Sanji estava próximo o suficiente para que pudesse ver o fino contorno preto ao redor da íris azul e tinha dedos firmes em seu queixo enquanto os da sua outra mão estavam entrando em sua boca.
Com o coração apertando contra as costelas e subindo para à garganta, alto o bastante para provocar um chiado em seus ouvidos, Zoro deixou seu queixo abrir mais, dando mais espaço para mais bolinhas escorregarem para dentro até começarem a pesar na língua, que involuntariamente raspou contra as pontas dos dedos, fazendo a respiração do alfa sair mais pesada junto a feromônios de interesse saindo com a intenção de envolveram o ômega, que subiu os olhos da boca para o olho.
A respiração de Sanji pareceu pesar, seu aroma encoberto pela nicotina e íris afinadas pelas pupilas mais dilatadas. Pupilas que dilataram ainda mais, quase engolindo todo o azul quando Zoro fechou os lábios ao redor dos dedos e sugou de leve sem cortar o contato visual.
Sanji engoliu em seco, atraindo a atenção do olho cinza para a garganta comprida.
Então o cozinheiro deu uma passo para trás, tirando a mão da boca e do queixo e voltando-se para a vendedora com um sorriso gentil e voz animada.
Zoro fechou a boca, o cenho franzido enquanto seu peito parecia ficar pequeno demais para seu coração desacelerando. Ele apenas mastigava as minúsculas frutas porque sua boca estava cheia delas, mas mal registrava como eram crocantes e ácidas sem provocar caretas.
Talvez ele não devesse ter se oferecido para ser burro-de-carga para o cozinheiro.
Talvez o cozinheiro devesse parar de querer que ele provasse tudo e o alimentar com a mão.
Talvez Zoro já devesse ter parado de ter qualquer tipo de atração e sentimentos inúteis pelo cozinheiro.
Por que tudo aquilo só não podia ir embora de seu peito e deixá-lo em paz?
— O que achou do romã? — Sanji perguntou quando voltaram a andar, seguindo para a próxima barraca.
Zoro já tinha engolido tudo, o gosto forte e diferente da fruta ainda vívido em sua língua, mas apenas grunhiu um “Hm?” sem olhar para o cozinheiro. Ao invés disso, notava que a próxima barraca não tinha nada de comida, apenas uma variedade de objetos que pareciam artesanais.
— A última fruta que te dei! O que achou?
— Bolinhas demais. — Apenas bufou ainda se negando a olhar para o outro, desejando poder cruzar os braços, mas sendo cruelmente impedido por todas aquelas compras.
Sanji foi interrompido de reclamar pela senhora de compridos cabelos vermelhos e muitas rugas fundas no rosto, em pé atrás da barraca de artesanais:
— Ah, então compraram romãs, foi?
O cozinheiro imediatamente virou-se para ela com um sorriso gentil no rosto.
— Sim, comprei algumas! Acho que seriam uma adição interessante para uma salada, além de uma opção diferente para uma geléia.
— Excelente, meu jovem! Elas são bem adoradas como geléias por aqui mesmo, principalmente durante festas de casamento, já que são ótimas pra fertilidade!
E, de repente, parecia que uma bolinha tinha ficado presa na traqueia de Zoro porque ele começou a ter um súbito ataque de tosse enquanto Sanji congelara com a pele branca sendo tomada por um forte vermelho. Ainda assim, ele foi o primeiro a recuperar-se, colocando um sorriso mais forçado enquanto o outro limpava a garganta, certificando-se de que ela estava livre de bolinhas.
— Ahn, certo, bem. A senhora teria algum imã de geladeira que simbolizasse essa ilha para levarmos de lembrança?
— Imãs eu não tenho, meu jovem, mas tenho esses pequenos bordados de uma cesta de frutas de Verão em um ninho de pássaro que é quase um símbolo nosso.
— Ah, perfeito! Eu vou levar um, por favor! Conheço alguém que com certeza pode transformá-lo em um imã pra mim.
— Que maravilha! — Disse e curvou-se para pegar os tais bordados na parte debaixo da barraca onde tinham algumas coisas à mostra atrás de um vidro. Só que, quando colocou em cima para que Sanji pudesse ver e escolher, também revelou ter pego duas pulseiras feitas de mini bolinhas que não eram exatamente bolas e de uma cor vermelha bem forte. Ela segurou ambas no alto para que pudessem ver e ofereceu: — Posso também sugerir essas pulseiras de sementes de romã pra vocês dois? A fruta também simboliza amor e essas pulseiras são usadas por aqui por todo perfeito casal de alfa e ômega!
Uma onda gélida desceu pela espinha de Zoro, seu olho bom arregalando nas pulseiras enquanto a boca secava e coração acelerava.
Perfeito casal de alfa e ômega.
Para Zoro, eles seriam de fato perfeitos da forma imperfeita que eram porque não havia ninguém como Sanji, que complementava o alfa de todas as formas que mais importava enquanto o desafiava ao mesmo tempo. Um desafio que o motivava a querer ser sempre melhor. Sempre o melhor para o ômega também, se ele o quisesse.
E o cozinheiro era mais do que romântico o suficiente para provavelmente amar e derreter-se com a ideia de usar algo como aquelas pulseiras. Algo que simbolizava uma promessa, um compromisso. Amor.
Talvez se fosse a tal mãe de Kora ali ao invés de Zoro, Sanji estaria extasiado, rodopiando, soltando corações para todos os lados e poesias açucaradas e vergonhosas. Entretanto, era Zoro ali, sendo especulado como o seu par perfeito. Então, enquanto o peito do alfa estava agitado com a ideia de talvez gastar o pouco dinheiro que Nami lhe dera para comprar bebida com as pulseiras ao invés, o ômega estava paralisado, encarando os objetos inofensivos na mão da senhora como se eles tivessem dito que o All Blue não existe e que era patético da parte dele sequer sonhar com algo assim.
Zoro trincou o maxilar e engoliu o tolo desejo que o consumira.
Claro que era tolo.
Quantas vezes o cozinheiro teria que falar que eles não eram nada além de nakama?
Sanji então desviou o olhar das pulseiras, inspirando fundo e enfiando a mão no bolso do paletó para pegar um cigarro. Zoro teve a impressão de que sua mão tremia.
— Eu disse algo errado? — A senhora perguntou, olhando de um para o outro com as rugas da testa ainda mais marcadas graças ao cenho franzido, quebrando o tenso silêncio que havia se formado e que, provavelmente, não era o que ela esperava. O fraco feromônio ansioso dela começando a ficar mais perceptível, confirmou as suspeitas do espadachim de que ela era uma ômega.
Zoro bufou virando a cabeça enquanto Sanji entrava em seu modo de assegurar toda e qualquer pessoa do gênero primário feminino.
— Nunca! Não, não se preocupe com isso, minha querida senhora! Sei que suas intenções foram as melhores, apenas não tenho nada com esse cabeça-de-mato que só pensa em espadas e álcool e não sabe nem diferenciar direita pra esquerda!
— Que que cê disse seu cozinheiro gado de merda?! — Zoro rosnou dando um passo à frente, olhar afiado na cabeleira loira enquanto o coração subia para a garganta.
A senhora arregalou os olhos, empalidecendo antes de murmurar algo sobre “Ter se enganado feio” enquanto guardava as pulseiras.
O cozinheiro permaneceu virado para o outro lado, evitando e ignorando Zoro, a mão mais próxima apertando a mesa da barraca com certa força enquanto a outra parecia segurar o cigarro contra os lábios.
— Por favor, me desculpe, meus jovens! Podem até levar dois bordados pelo preço de um! Não, leve dois de graça! — O quase desespero da mulher tirou o cozinheiro de qualquer que seja o transe que tinha se enfiado, rapidamente virando-se para ela, assegurando-a mais uma vez de que não tinha culpa de nada e que ele compraria três para compensá-la pela inconveniência e pelo mau comportamento do cabeça-de-mato.
Zoro rosnou de novo enquanto Sanji continuava o ignorando e pagava pelas lembrancinhas, sua mão, sempre tão firme e precisa, visivelmente tremia quando ele trocou as notas de berry pelo saquinho com os rendados.
Dessa vez, quando Sanji afastou-se da barraca e seguiu para a próxima, ele não segurou nem o pulso, nem o cotovelo de Zoro, sequer olhou para trás para garantir que estava sendo seguido enquanto tragava mais e mais rápido do que o fizera a tarde inteira. Com a cara fechada e peito contorcido em irritação, Zoro seguiu a contragosto, lutando contra a vontade de largar as compras no chão e sair andando para o outro lado.
— Eu posso continuar as compras sozinho, se preferir, — disse o cozinheiro com a voz muito controlada, ainda sem olhá-lo.
Zoro cerrou os dentes olhando para o chão.
— Já tamo acabando, não? — Forçou-se a dizer, até porque ele havia prometido que o ajudaria e Zoro nunca quebrava suas promessas, não importava quão pequenas fossem.
Sanji apenas murmurou algo ininteligível e continuou analisando a fruta que tinha em mãos; uma fruta da qual aceitou experimentar um pequeno pedaço, mas comprou e guardou o restante ao invés de dá-lo para Zoro, fazendo esse mesmo novo processo pelas últimas poucas barracas que sobravam. O cozinheiro sequer dera as novas sacolas para o espadachim segurar, murmurando algo sobre ele já estar carregando mais do que o suficiente enquanto ainda evitava olhá-lo, terminando as compras com quase nada da empolgação e maravilhamento com qual havia começado. Até os próprios vendedores pareciam terem sido contagiados pela mudança de humor de ambos, já que gritaram e sorriram menos do que os anteriores.
Ou Zoro não se importara o suficiente para notar.
Não quando tinha algo travado, pesando em sua garganta.
O sol ainda estava a pelo menos duas horas de se pôr quando eles terminaram e voltaram para o Sunny, Sanji xingando baixo toda vez que voltava para puxar Zoro pelo haramaki, o que o fazia xingar de volta porque não tinha necessidade nenhuma de “puxá-lo para a direção certa” porque ele já estava indo para a direção certa!
O cozinheiro idiota que não sabia de nada.
Felizmente, eles chegaram com sucesso ao navio sem nenhum incidente—apesar de terem chego perto de brigar de verdade algumas vezes, mas Sanji sempre se fechava e virava para continuar andando, tirando de Zoro a chance de pelo menos ter aquela satisfação.
E Zoro não via a hora de não ficar mais perto dele por um tempo.
Na dispensa do Sunny, as compras foram guardadas em um tenso silêncio, quebrado apenas pelas ríspidas ordens do cozinheiro sobre onde guardar o que ou murmuradas reclamações sobre como Zoro não sabia fazer nada direito.
— Se eu não sei fazer nada direito, por que veio me procurar pra te fuder duas vezes, ahn? — Rebateu irritadiço, as palavras quase sarcásticas escapando de seus lábios antes de sequer perceber que queria dizê-las, seu corpo inteiro travando em sincronia com o de Sanji ao perceber o que tinha dito.
No entanto, seu coração com certeza era o único batendo rápido e dolorido.
O cozinheiro, de costas para Zoro, ergueu-se com as costas eretas, parando de organizar uma estante de uma prateleira da despensa para acender um cigarro e tragar, parecendo focar-se bem na nicotina invadindo seus pulmões antes de deixá-la sair e encobrir seu aroma natural em uma cortina ainda mais espessa.
Quando falou, sua voz estava grave e controlada:
— Eu termino aqui sozinho, Zoro. Saí.
Sem muita delicadeza, Zoro deixou a sacola que segurava cair no chão, girando nos calcanhares e saindo da galeria sem pensar duas vezes e sem olhar para trás já que era exatamente aquilo que ele queria fazer.
Sair de perto do cozinheiro e achar um bar para beber.
Estava tão irritado e frustrado que se esqueceu de que tinha uma bebida para cobrar do cozinheiro por ter ajudado-lhe com as compras, assim como mal ouviu Franky o chamando de algum canto do navio ao sair dele o mais rápido possível, deixando fundas pegadas com suas botas na areia da praia.
Mas Zoro não ia deixar-se pensar em Sanji. Aquilo não podia tornar-se uma parte patética da sua rotina. Então forçou-se a concentrar-se no som das ondas quebrando na praia, no fraco e quase quente vento batendo contra a sua pele, fazendo-o perceber o quanto estava suado—afinal, havia feito esforço a tarde inteira em um dia ensolarado de uma Ilha de Verão—, e também nos diversos pássaros que sobrevoavam por perto ou cantavam mais ao longe a cada poucos minutos. Zoro também esforçou-se a focar-se no caminho para encontrar o percurso até a cidade no meio da floresta o mais rápido possível, porém o sol já havia se posto por completo quando finalmente encontrou.
Ainda bem que os bares tinham a tendência de serem abertos de noite e, aparentemente, naquela ilha não era diferente.
Como bebida era bebida e Zoro não era fresco na escolha de nada—diferente de certo cozinho—, ele entrou no primeiro bar que encontrou, um estabelecimento também cercado por árvores e grama alta, sendo até menor do que deveria por ter uma árvore grossa atravessando um dos cantos dele. A iluminação dele era um tanto precária assim como a limpeza não parecia dar melhores e tinha mais roedores e outros animais de pequeno porte indo para lá e para cá do que clientes, o que, na verdade, era uma coisa boa, já que significava que as chances de Zoro poder beber em paz sem interferências externas eram maiores e ele poderia escolher o lugar que quisesse sentar, por isso, sentou-se no banco mais afastado do balcão e pediu a maior caneca de saquê que tinham para o barista educado e sorridente.
Estava começando a ficar irritante o quanto as pessoas daquela ilha pareciam, em sua maioria, muito de bem com a vida. Mas Zoro não se deixaria remoer nisso e muito menos em Sanji e toda a situação deles. Ao invés, gastaria todo o pouco dinheiro que Nami havia sido tão gentil em lhe dar para encher a cara e esvaziar a mente.
Era o que ele fazia de melhor depois de ser um espadachim, afinal de contas.
E, por um pouco mais de uma hora, Zoro fez exatamente isso: bebeu seu saquê decentemente agradável em silêncio enquanto observava uma pequena família de esquilos descerem e subirem da árvore, notando o quanto os dois esquilos maiores revezam em carregar o pequeno—filho deles—para lá e para cá enquanto também transportavam algumas nozes. Eles pareciam ser uma pequena família feliz e, por algum motivo, compreender aquilo começou a inchar algo dolorido em seu peito.
Antes que Zoro pudesse entender o quê e porquê, foi distraído da adorável cena por um cara sentando há apenas um banco de distância de si, um cara que parecia relativamente normal e inofensivo, mas que estava liberando hormônios notáveis o suficiente para chamar atenção. Hormônios típicos de ômegas que tinham acabado de sair do cio portanto um claro atrativo sexual ainda persistia apesar de estar longe de ser dominador, portanto qualquer alfa que prestasse era capaz de simplesmente ignorar aquilo e para Zoro que nunca havia sido afetado por ômegas no ápice do cio, aquilo não era nada. Na verdade, geralmente Zoro sequer teria percebido aquilo ou sequer importado-se em saber qual era o gênero secundário do cara bebendo ao seu lado.
Entretanto, por algum motivo, desta vez ele notara. O seu nariz captou o feromônio sexual persistente chegando perto de envolvê-lo e uma curiosidade genuína despertou.
A curiosidade de: se ele transasse com outros ômegas, outras pessoas, o cozinheiro sairia da sua cabeça, do seu sistema?
Zoro nunca sequer havia pensado em tentar, nunca tivera o interesse em ninguém além de Sanji e talvez esse fosse o problema. Talvez ele só tivesse gostado muito de transar e seu corpo e instintos estavam relacionando isso exclusivamente ao cozinheiro por ele ter sido o único com quem transara. Sim, ele já sabia ser apaixonado por ele antes, mas… Não faria mal testar, não é? Se Sanji não o queria, outras pessoas podiam querer e Zoro não era do tipo que deixava “e ses?” o impedirem de ir atrás do que ele queria, de seus sonhos, desejos e muito menos de meras ideias e de testar possibilidades.
Então quando o cara não demorou em começar a mandar-lhe olhares, sorrindo de canto ao perceber Zoro olhando de volta e não hesitou em quebrar o silêncio ao perguntar seu nome e de onde era, Zoro foi recíproco e comprou uma bebida barata para ele—porque a bruxa era realmente mão-de-vaca—, o que deu ao tal Santoro o aval para mudar de banco e sentar-se ao seu lado iniciando de fato uma pseudo-conversa onde ele quase só falava e contava sobre si enquanto Zoro grunhia em concordância e dava curtas e ríspidas respostas sobre si porque ele não queria que aquele desconhecido soubesse de muito e como é que fazia aquilo mesmo?
Pelo menos Santoro não pareceu desmotivar-se pela falta de habilidades sociais de Zoro, muito pelo contrário, já que seus feromônios tornaram-se mais fortes, mirando no alfa com interesse, buscando misturar-se com os dele, porém Zoro ainda não estava sentindo nenhum interesse de fato; mesmo que o forte resquício sexual de Santoro berrando fértil e disponível e me domine e estufe estivesse sim chamando a atenção de seu próprio pau e aquecendo de leve o seu abdômen inferior, era tudo mera resposta automática e carnal, tudo o que Zoro conseguiria ignorar fácil mesmo sem todos os seus treinos de autocontrole.
Talvez ele devesse insistir mais, tentar mais, querer aquilo.
Precisava sair de sua própria cabeça e zona de conforto se quisesse realmente tentar aquilo e provar para si mesmo que Sanji não era especial.
— ‘Cê mora muito longe? — Zoro perguntou de abrupto, sobressaltando um pouco Santoro que estava contando algo sobre uma árvore que ele plantou ou coisa assim enquanto passava de leve a mão no joelho do alfa, os dedos apenas roçando. Mas os olhos castanho-claros dele não ficaram arregalados por muito tempo, adquirindo um brilho vitorioso que combinava com o pequeno sorriso de canto que deu ao falar:
— Sim, mas logo ao lado há um hotel bem barato…, — respondeu com a voz mais manhosa, arrastando as sílabas quase exageradamente em sincronia com os dedos apertando o joelho, os feromônios tornando-se menos tímidos.
Zoro suspirou antes de terminar o resto do seu terceiro saquê da noite em um último gole, batendo a caneca vazia na mesa ao falar:
— ‘Tá, ‘cê paga?
Santoro piscou algumas vezes, o sorriso diminuindo e o cenho franzindo e desfranzindo de leve ao levantar-se sem pressa do banco:
— Ahn, claro… — concordou um tanto incerto, mas então Zoro levantou, forçando Santoro a erguer a cabeça para olhá-lo no olho, o que fez o sorriso retornar ao seu rosto jovem, principalmente ao mais uma vez correr o olhar pelo peito e braços do alfa, dessa vez, atrevendo-se a descê-lo até para o meio de suas pernas. — Tenho certeza de que você pode me dar o que eu quero, alfa, então claro, por minha conta. — Finalizou dando um passo à frente, uma mão espalmando no peito de Zoro que retesou o corpo na hora, mas não fez menção de afastá-lo, o que foi incentivo o suficiente para o ômega segurar a sua mão e começar a puxá-lo para fora do bar.
Só que a mão dele era pequena demais, os calos não estavam certos, nem era tão elegante e bem cuidada e não provocava um instântaneo e inegável calor onde tocava.
Não era nada como a mão que havia guiado Zoro pela cidade naquela mesma tarde, nem a mão que segurara seu queixo e o alimentara com as frutas pequenas.
Não era a mão que Zoro queria proteger tanto quanto suas costas.
Em um impulso irritadiço com essa percepção e com como seu coração estava acelerado errado, Zoro empurrou Santoro para o lado, prensando-o contra a parede do lado de fora do bar e não esperando nada para beijá-lo, forçando sua boca na dele, forçando-se a querer abrir a boca dele para enfiar a língua e explorar enquanto suas mãos estavam firmes em sua cintura, uma cintura tão estreita que seus dedos quase se encontravam. Mas não era a cintura certa.
— Ah, que bom… tava começando a achar que não me queria, — Santoro sussurrou contra a sua boca quando Zoro parou o beijo, afastando-se o suficiente para respirar e tentar colocar seus pensamentos confusos em ordem, ouvir algo por trás de seus batimentos agoniados, porém o ômega não lhe deu muito tempo, já que clamou sua boca novamente, beijando-o com toda a vontade e desejo que realmente tinha, pressionando seu corpo bem menor contra o do alfa. Bem menor. Não deveria ser bem menor, não de altura. Zoro não deveria estar tão curvado para beijá-lo e, daquele jeito, não tinha como seus corpos se encaixarem direito, não perfeitamente, não como o de… — ‘Cê é tão gostoso… aposto que seu pau é gigante… vai me preencher todinho. — Quase ronronava enquanto descia os beijos para o pescoço de Zoro, uma mão explorando seu peitoral enquanto a outra descia determinada para o meio de suas pernas, começando a esfregar seu membro que ficou mais mole do que duro. — O que que foi, grandão? É tímido, é? Tudo bem, eu posso te deixar prontinho com a minha boca. — Antes que Zoro percebesse, Santoro já ajoelhava-se e afobadamente começava a descer suas calças, olhos castanho-claros encarando-o de baixo com desejo e determinação.
Dois olhos castanhos sem nada de franja. Nada de azul. Nada de sobrancelha encaracolada e língua afiada e provocação.
Nada de Sanji.
— Não, para! — Bradou em um estrondo, arrancando as mãos do ômega de si tão bruscamente que ele bateu contra a parede, encarando-o chocado, olhos arregalados e incrédulos.
— Que é que deu em você? Eu ia te chupar!
— Não! — Insistiu ajeitando as calças, seu pau parecendo até encolher de tão mole, de tão contra aquilo, assim como o asco travado em sua garganta e uma pressão de incômodo pressionando contra a parte de trás de seu crânio. Toda sua pele também parecia contorcer-se em si mesma de tão errado que era aquilo. Como ele podia beijar, transar com alguém que ele não conhecia? Alguém que não confiava sua própria vida? Alguém que respeitava e admirava? Alguém que, depois de transar, gostaria de abraçar, proteger, cuidar e adormecer colado, ciente de que estavam seguros? Não, não, não! Como tantas pessoas conseguiam só beijar e transar com um mero desconhecido como se não fosse nada? O asco subiu tão forte até a boca de Zoro (uma boca que agora estava com o gosto de Santoro) que ele precisou engolir o vômito antes de falar: — ‘Cê não é o cozinheiro, então não! Isso foi um erro…
E virou as costas, começando a afastar-se o mais depressa possível sem correr enquanto Santoro falava, a voz aumentando de volume e irritação conforme Zoro distanciava-se:
— Cozinheiro? Não, eu sou jardineiro! Ei, espera! Onde é que ‘cê vai? Ei, volta aqui! Volta aqui! Quem você pensa que é pra fazer isso comigo, seu alfa filho da puta! Volta aqui, desgraçado!
Os xingamentos pioraram, mas Zoro bloqueou a voz dele, além de que não demorou muito para ele voltar à pequena trilha que o levaria de volta à praia. Uma trilha que acabou sendo muito maior do que ele imaginara e que o levou para uma parte ainda mais densa da floresta primeiro, forçando-o a cortar vários galhos para sequer conseguir passar, o que acabou não sendo ruim já que o esforço físico o ajudou a sair mais fácil de sua cabeça, acelerando e aquecendo seu sangue de uma forma diferente, uma forma que não o fazia querer arrancar a própria pele em frustração, desgosto e confusão.
Confusão porque… o que tinha de errado com ele? O que Sanji tinha feito com ele?
Com certeza ninguém nunca poderia saber daquela tentativa patética; uma tentativa que apenas solidificou ainda mais na mente de Zoro o quanto ele precisava focar-se apenas no sonho de Luffy e no seu próprio, que coisas românticas e carnais não tinham importância, não valiam a pena. Não para ele, não quando ele—até aquela porcaria de noite na enfermaria há dois anos—nunca sequer pensara em querer nada disso.
Quando Zoro conseguiu sair da mata densa e encontrou a praia, a lua já estava alta no céu e brilhando apenas pela metade, mas bastou para ele encontrar seu caminho até o Sunny sem mais problemas ou obstáculos.
Antes de embarcar no navio, no entanto, Zoro parou na areia de frente para o mar calmo e observou-o por alguns minutos, focando no movimento e barulho das ondas para estabilizar sua respiração e batimentos. Gradualmente ele conseguiu, assim como conseguiu esvaziar a mente, sem mais nada de frustração ou repulsa, sem mais nada de Sanji ou Santoro, apenas o consistente e confiável mar.
Inspirando fundo até estar com os dois pulmões cheios de ar, Zoro focou nessa ação, em sentir seu peito expandindo por completo, então segurou o ar por três minutos sem dificuldades, deixando todo o oxigênio preencher suas veias e deixar sua cabeça tonta antes de calmamente liberar todo o ar pelo nariz, prestando atenção em todo o percurso e em como ficou tão fácil a ponto de parecer que seu peito encostaria nas costas.
Então normalizou a respiração, abriu os olhos e seguiu para o Sunny.
Zoro pretendia ir direto para a cama tirar um cochilo, talvez primeiro passar na cozinha e roubar algo para comer se o cozinheiro não estivesse por perto, mas, ao invés disso, foi parado no meio do caminho por uma Nami quase se jogando em cima de si ao vir correndo da biblioteca.
— Zoro! Zoro! Ai graças aos ventos você ‘tá aqui! — Disse quase sem ar ao parar apoiando uma mão no ombro do homem.
— Ahn, por quê? Aconteceu alguma coisa? — Perguntou já olhando ao redor, uma mão firme no punho de Kitetsu, pronto para eliminar qualquer ameaça.
Nami deu uma batidinha em seu ombro antes de tirar a mão.
— Não, não, relaxa, ‘tá tudo tranquilo, — garantiu e cruzou os braços, uma sobrancelha ruiva erguida em uma pose que fazia quando estava prestes a ficar mandona. — Só que eu quero ir nesse bar onde fiquei sabendo que teria uma festa bem interessante hoje à noite, só que tirei o graveto menor, então fiquei presa como vigia ao invés.
— E eu com isso?
— Nossa, como você é rude! Sanji-kun tem razão sobre como você deveria ter mais modos! — Falou com um quase bico enquanto cruzava os braços com mais firmeza. A expressão de Zoro endureceu ao ouvir o nome do cozinheiro, mas, antes que pudesse retrucar, Nami jogou uma mecha de seus longos cabelos para trás, colocou uma mão na cintura, o dedo da outra apontada para o alfa e falou em tom de ordem: — Como eu tenho o que fazer e você não, você fica aqui como vigia enquanto eu vou lá me divertir, ok?
— Eu ‘tava indo dormir! Não quero ficar de vigia! — Retrucou estupefato, cruzando os braços.
— ‘Cê dorme toda hora e em qualquer lugar! Que custa ficar de vigia hoje à noite?
— Eu não tirei o graveto menor!
— Mas é um amigo muito legal que vai fazer esse favorzão pra mim…
— Nã-.
— Ou eu aumento sua dívida em 30 mil berries!
— O quê?! Por quê?! Isso não é justo!
Nami bufou voltando a cruzar os braços.
— O que não é justo é você fingir que não gosta de ficar de vigia só pra ser desagradável comigo.
Zoro espremeu o olho para ela, o maxilar começando a apertar enquanto tentava pensar em uma forma de ganhar algo com aquilo.
— ‘Tá, eu fico se diminuir a minha dívida, — propôs firme, fazendo a beta espremer os olhos de volta.
— Se ficar eu só não vou aumentar a sua dívida!
— Nan-ahn! Quero algo real. Diminui a minha dívida, bruxa.
Nami cerrou os dentes, um olho pulsando de leve.
— ‘Tá, mas só três mil berries!
— E na próxima ilha quero mais dinheiro pra comprar mais bebida!
— Não! Mas posso convencer o Sanji a te dar mais saquê do estoque por uma semana!
Por alguns instantes, ambos apenas se encararam de cima abaixo, nenhum parecendo disposto a ceder primeiro. Até um pequeno sorriso despontar no canto do lábio de Zoro.
— Okay. Se diminuir minha dívida em três mil e fazer o cozinheiro me dar saquê por uma semana, eu fico de vigia agora, bruxa, — aceitou, fazendo Nami grunhir e revirar os olhos.
Mas então ela estava dando uns pulinhos com um largo sorriso no rosto e deu um rápido abraço no alfa com um “Aah! Okay, obrigada!” antes de correr para o quarto das mulheres.
Zoro bufou coçando a cabeça e até pensou em ir até a cozinha roubar algo para comer, entretanto Nami voltou a sair do quarto carregando uma bolsa e fazendo o alfa notar que ela de fato já estava toda vestida e maquiada, o que o fez revirar os olhos porque provavelmente havia planejado aquilo de alguma forma.
— Ah, Zoro! Só mais uma coisa antes de eu ir. — Ela começou aproximando-se e falando em um volume bem mais baixo por algum motivo. Seus grandes olhos castanhos e cheios de maquiagem laranja ao redor olhando em direção ao quarto dos homens por um longo instante antes de voltarem a cravar no de Zoro, quase sussurrando com firmeza: — Sanji e Kora estão a bordo. — O olho do alfa quase saltou enquanto seu coração acelerava uma batida. — Chopper teve sucesso com o remédio para sarar o estômago dela e tudo o mais, mas Sanji preferiu ficar aqui essa noite e parecia disposto a ficar acordado me fazendo companhia e de olho na bebê, mas ele estava claramente exausto depois dos últimos dias e, bem, depois de muito convencimento, preparei um chá calmante pra ele e pedi pra que pelo menos tirasse uma soneca enquanto eu ficaria de olho em Kora, mas a intenção é ele dormir bem a noite inteira, então além de ficar de vigia, ‘cê também tem que ficar de olho nela e cuidar dela pro Sanji conseguir descansar, ok?
Zoro estava de boca aberta sem conseguir acreditar no que estava ouvindo, seus batimentos rápidos o suficiente para abafarem seus pensamentos.
— Espera! Mas eu não sei cuidar de bebê!
Nami revirou os olhos.
— Não é difícil, Zoro! E é capaz da Kora dormir à noite inteira. Caso não, ‘cê só precisa dar uma das mamadeiras que Sanji deixou prontas na geladeira, trocar a fralda se preciso e não deixar ela cair! Até você consegue fazer isso, tenho certeza.
— Mas Nami…
— Por favor, Zoro! O Sanji precisa descansar, ok? Confio em você! E ah, Sanji deixou umas instruções coladas na geladeira se precisar! Beijinhos!
E a bruxa simplesmente desceu do Sunny, foi embora, deixando Zoro falando sozinho e com cara de embasbacado para trás.
Como assim ele agora teria que ficar sozinho no navio com o cozinheiro e a bebê e ainda teria que tomar conta dela?!
Que tipo de piada era aquela?
Engolindo em seco, Zoro tentou recuperar um pouco de sua compostura, tentando de novo acalmar sua respiração e batimentos, mas sem muito sucesso dessa vez. E como ele poderia acalmar-se sabendo da situação?
Pelo menos reunindo um pouco de coragem, Zoro estufou o peito e foi em direção ao quarto dos homens ao invés da cozinha, afinal de contas, se teria aquela responsabilidade, precisava entender melhor como estava toda a situação. O quarto em si não estava tão escuro quanto costumava ficar graças a uma pequena e quente lanterna dentro de um abajur de peixe colocada no chão entre a beliche que Sanji dividia com Usopp e o berço-portátil que Franky havia construído. Na cama, o cozinheiro dormia pacificamente, todo encolhido e virado de lado, quase abraçando o travesseiro enquanto o cabelo bagunçado deixava ambas as sobrancelhas e olhos fechados à mostra, a respiração saindo forte e ritmada da boca um pouco aberta.
Sanji parecia adorável e aproveitando de um tão necessário sono profundo, então Zoro não o atrapalharia, por mais que seu peito contraísse de leve só de olhá-lo.
Para seu próprio bem, Zoro não podia olhá-lo por muito tempo, por isso forçou-se a desviar os olhos e a ignorar o quanto suas mãos coçavam para passar os dedos por entre mechas macias e a contornar os traços tão relaxados do rosto bonito.
Desejos que foram subitamente esquecidos quando seu coração parou por um segundo ao encontrar dois grandes e inocentes olhos azuis encarando-o fixamente.
Os grandes olhos azuis da bebê, deitada no berço, quietinha e confortável, porém mais do que obviamente acordada e atenta.
Um tanto desconfortável com a atenção inesperada, Zoro engoliu em seco, abrindo e fechando as mãos em punhos sem saber ao certo o que fazer, até concluir que seria uma boa ideia mostrar não ser uma ameaça ali, então esticou os lábios em um sorriso desajeitado.
A bebê piscou, abriu a boca e começou a chorar alto.
Zoro não pensou. Ele fechou a distância entre eles, arrancou a bebê do berço e saiu correndo do quarto, torcendo para Sanji não ter acordado e instintivamente assumindo para si a responsabilidade de cuidar de Kora naquela noite.
Zoro podia apenas torcer para que ambos saíssem vivos dessa.
Notes:
Entãoooo... o que estamos pensando? 👀
O que você achou do capítulo? O que você acha que vai acontecer a seguir? Me contem suas opiniões e teorias, eu adoro ler todas, mesmo que isso envolva gritar muito comigo, rsrsAliás, o próximo capítulo é (até agora) o meu favorito de escrever e acho que todos vocês vão AMAR, então, preparem-se!!! (mal posso esperar para compartilhar! :3)
Vejo vocês em ~15 dias! Se cuidem ♡
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Chapter 6: não sei sobre bebês.
Summary:
Zoro precisa lidar com um bebê chorão. Sanji responde a algumas perguntas. Algo muda.
Notes:
Muito obrigada a todos pelos elogios e principalmente pelos comentários, que sempre me fazem sorrir e me mostram que vocês ainda estão gostando desta história🥹 Então, muito obrigada mesmo! 🫶
Boa leitura :3
(See the end of the chapter for more notes.)
Chapter Text
Um cozinheiro irritado e em chamas não apareceu chutando tudo com suas poderosas pernas, exigindo a cabeça de Zoro, então não demorou a concluir que Sanji continuava dormindo pacífico no quarto dos homens.
Infelizmente, no entanto, Kora continuava a espernear.
Zoro tinha corrido com ela até a galeria quase instintivamente, percebendo estar lá só após fechar a porta atrás de si e começar a balançá-la da mesma forma que tinha visto tanto Sanji, quanto Nami e Robin fazerem, mas a bebê insistia em chorar, as lágrimas gordas escorrendo cada vez mais implacáveis por suas bochechas redondas, rosto muito avermelhado e as mãozinhas teimando em se enfiarem em sua boca.
Se ela estava tentando enfiar algo na boca…
— ‘Cê ‘tá com fome, mini sobrancelhas, é isso? — Disse baixo por medo de assustá-la, tentando ajeitá-la em apenas um braço sem derrubá-la enquanto andava em direção à geladeira, mas Kora começou a debater pernas e braços, escorregando no ar por um segundo antes de Zoro agarrá-la com ambas as mãos e paralisar com o coração estourando sua garganta.
Kora também silenciara-se por um instante, parecendo encarar o chão onde quase espatifara-se, até Zoro puxá-la para mais perto, suas costinhas contra seu peitoral, e ela voltar a chorar de novo.
— Okay, bebê! Calma, eu ‘tô indo pegar sua mamadeira! Se tu parar de se mexer tanto vai me ajudar a ir mais rápido! — Tentou argumentar com ela, mas sem resultados, bufando enquanto a envolvia com um braço ao redor do estômago, prendendo todo o corpo dela contra si para conseguir abrir a geladeira com a outra mão sem o risco dela escorregar de novo.
A geladeira não abriu.
— Puta que pariu, cozinheiro! — grunhiu irritadiço, seu próprio estômago começando a agitar-se em nervosismo ao lembrar-se de que apenas o ômega e as mulheres tinham a senha da geladeira.
Sério que ele teria que acordar Sanji nos primeiros cinco minutos que ficou responsável pela bebê?
Bufando, Zoro segurou a bebê com ambas as mãos pelas axilas, deixando-a de frente para si antes de erguê-la até a altura de seu rosto, encarando seu rosto choroso e todo melecado de ranho com o cenho franzido e os lábios torcidos para baixo.
— Eu sei onde conseguir umas bebidas interessantes ao invés da mamadeira… ‘cê iria gostar, mini sobrancelha de arame? — O soluço alto que interrompeu o choro por um mísero segundo não pareceu ser uma resposta positiva. Zoro estalou a língua antes de reaproximar a bebê de seu peito e voltar a chacoalhá-la, soltando também ríspidos “Shi, shi, shi, shi” dessa vez, até seu olho arregalar ao perceber o papel branco com a caligrafia fresca do cozinheiro preso na porta da geladeira com dois dos vários imãs de peixes e imãs aleatórios de “lembrancinhas” de quase todas as ilhas por onde tinham passado.
E ah, Sanji deixou umas instruções coladas na geladeira se precisar!
— Bruxa, — xingou a lembrança de Nami em sua cabeça, só para imediatamente apertar os lábios com força e encarar a bebê, que por sorte parecia ocupada demais em querer quebrar o recorde de mais lágrimas derramadas do que aprender palavras “feias” no momento. Zoro estalou a língua de novo. — ‘Cê é uma baita de uma chorona dramática, né? Bem filha do seu pai mesmo… — Resmungou baixo enquanto chacoalhava a cabeça e pegava o papel com cuidado.
Será que a tal alfa de Water 7 também era emocionada?
Zoro balançou a cabeça afastando aquele tipo de pensamento que sempre o causava um instantâneo, mas pequeno aperto no peito e começou a ler as instruções, ainda tentando chacoalhar Kora de alguma forma, mesmo que com apenas um braço e esfregando a garota um pouco demais contra seu peitoral.
“Caso esteja lendo isso, significa que uma das minhas adoráveis e preciosas mulheres me convenceu a descansar um pouco ou eu estou ocupado demais garantindo que nenhum dos idiotas do Luffy ou do cabeça de musgo vão se meter em uma encrenca muito feia ou perderem um membro depois de terem se metido!
E também significa que você NÃO é uma das minhas adoráveis mulheres porque Nami-san e Robin-chan são perfeitas demais pra precisarem de instruções de como cuidar de uma bebê (além de que já expliquei tudo pra elas com o maior amor do mundo <3).
Então presta atenção, seu tapado:
Se Kora-chan começar a chorar, a primeira coisa que você vai fazer é CHEIRAR ela, de preferência perto da região inferior para ver se ela não está cheirando de modo um pouco desagradável (porque minha princesinha NUNCA fede!!) e, se estiver, é porque ela fez cocôs de rosas e precisa ser trocada! Pra isso, você vai pegar uma fralda limpa (tem algumas no armário do nosso banheiro, mas também no báu da Kora que o Franky construiu e que estou deixando no lado do sofá aqui da galeria). E agora presta atenção pra não fazer merda na hora de trocar a fralda da minha estrelinha do mar! ‘Tá prestando atenção? Ótimo: Pegue a fralda limpa, pegue o trocador (também guardado no “super” baú dela), coloque a Kora-chan deitada de barriga pra cima nele, segure as pernas dela COM CUIDADO E DELICADEZA. Abra a fralda suja, se tiver cocô, limpe primeiro com lenços umedecidos (caixa azul junto com as fraldas!!) e é pra limpar sempre da FRENTE PARA TRÁS, se fizer o contrário vai levar sujeira pra frente e eu TE ESGANO! Pegue uma fralda limpa, abra e coloque por baixo da bunda dela com EXTREMO CUIDADO E CARINHO! A parte dos adesivos fica atrás, perto das costas, parte lisa fica na frente. Puxe a parte da frente para cima, cobrindo a barriga, fecha as abas/adesivos de cada lado, nem muito apertado e nem muito frouxo!! (jogar a fralda suja no lixo que o Franky também montou pra isso no nosso banheiro, NÃO NO LIXO DA COZINHA!!). E coloque a roupinha adorável dela de volta, DIREITO!”
Zoro terminou de ler aquela parte daquela folha—tinham pelo menos umas três folhas juntas ali—fazendo careta e torcendo o nariz, então levantou Kora com cuidado até conseguir cheirar perto do bumbum dela.
Um forte suspiro de alívio escapou ao constatar que ela não estava nenhum pouco fedida, na verdade seu cheirinho de bebê era bem agradável.
Zoro voltou a abraçar a bebê chorando contra seu próprio peito e prosseguiu a ler as instruções exageradas demais do cozinheiro idiota:
“Agora, se ela estiver apenas cheirosinha como sempre, mas ainda chorando, deve estar com fome! Mas como você não é nenhuma das minhas maravilhosas mulheres, não tem a senha da geladeira e eu NÃO vou te dar! Ao invés, abra o pequeno frigobar que o Franky construiu e deixou ali no canto do outro lado para eu guardar algumas coisas de urgência que qualquer um pode pegar sem ter que abrir a geladeira, lá deve ter por volta de quatro mamadeiras prontas, duas com leite, uma com suco e uma com uma vitamina leve, comece tentando dar a de leite pra ela!”
Bufando, Zoro seguiu até o outro lado, agaixando-se para ficar na altura do frigobar encaixado com os armários embaixo do balcão, abriu-o e imediatamente deu de cara com as quatro mamadeiras, pegou uma das de leite com cuidado para Kora não escorregar de novo, então foi até a pia para seguir as demais instruções de Sanji.
Zoro deixou a mamadeira ali em cima para pegar uma panela pequena, assustando Kora e fazendo-a chorar mais alto ao derrubar as panelas. A luta para guardar tudo de novo sem derrubar a bebê ao mesmo tempo em que tentava acalmá-la quase o fez desistir e voltar para o quarto só para jogar a criança no ômega e deixá-lo se virar. Só que Kora era responsabilidade dele agora. E se ele fosse o pai dela também, tinha que saber como cuidar dela, não é?
Zoro não era, no entanto. Mesmo assim, ela ainda era nakama.
— Calma, bebê. Eu já vou te dar comida, ok? Calma, — pediu baixo ao levantar-se e ir colocar água na panela pequena, colocando-a no fogo antes de colocar a mamadeira dentro. Então voltou a chacoalhar a bebê com ambas as mãos, tentando cantarolar algumas músicas de Brook em seu ouvido, mas as lágrimas continuavam a rolar. Pelo menos bastou para ela parar de berrar com o susto.
Quando a água começou a borbulhar, Zoro desligou o fogo xingando, queimou a mão ao tentar pegar a mamadeira e xingou mais um pouco. Sem saber o que fazer e segurando a bebê com um braço de novo, colocou a panela embaixo da pia e ligou a torneira, deixando a água gelada cair até achar que não estava mais tão quente. De fato, a mamadeira não estava mais pelando ao pegá-la, mas quando virou o bico contra seu próprio pulso para testar, sibilou com a sombra de dor da queimadura. Suspirando, deixou a mamadeira em cima da pia para ir esfriando mais um pouco antes de voltar a segurar a bebê pelas axilas e erguê-la na altura de seu rosto.
— Certeza que não quer álcool? Seria tão mais fácil… — Suspirou enquanto Kora debatia as pernas, as mãozinhas fechadas em punhos esfregando em seu rosto, o que só estava apertando ainda mais o coração do espadachim.
Bebês ainda não liberavam feromônios concretos, apenas “sombras” deles muito mais perceptíveis pelo progenitor que os havia gerado do que por qualquer outra pessoa, para que eles soubessem como melhor cuidar e proteger a prole. Com o tempo, proximidade e intimidade, o outro progenitor logo também tornava-se afiado às necessidades do bebê não importava quão leve fosse o feromônio liberado, algo que acontecia ainda mais rápido quando ambos os pais eram marcados, oficialmente unidos de corpo e alma para sempre, porque isso tornava o progenitor não-gestador intimamente mais próximo de seu parceiro, mais conectado com ele, o que, consequentemente, o deixava mais conectado com a prole.
Não era surpresa, então, que Zoro não conseguia sentir nada da bebê. Não havia ninguém menos verdadeiramente íntimo de Sanji do que ele.
Suspirando de novo, Zoro voltou a encostá-la contra seu peito e pegou a mamadeira, confirmando que agora estava em uma temperatura adequeada antes de encostar o bico contra a boca de Kora. Só para ela ficar empurrando para longe.
— O quê? Não ‘tá com fome também? — Perguntou estalando a língua em frustração ao tentar fazê-la beber mais algumas vezes antes de desistir.
Seguindo as instruções do cozinheiro no papel, fez o mesmo processo com a vitamina. Kora também não quis. E, com o suco, apenas deixou-o fora da geladeira por alguns minutos antes de tentar dar para ela. De novo, sem sucesso.
As instruções de Sanji também deixavam bem claro que não era para dar o remédio dela antes da hora, mas ela também não estava querendo dormir e nada além de soluços saíram quando Zoro posicionou-a em seu ombro e tentou fazê-la arrotar. Então só poderia ser cólica de novo.
Talvez ele devesse ir procurar o Chopper ao invés de incomodar o cozinheiro, que com certeza só surtaria com a mera ideia da filha estar doente de novo.
Suspirando, Zoro resolveu sentar um pouco no sofá da sala de jantar, colocando Kora sentada em seu colo virada para si com ambas as perninhas—cobertas até os pés com aquela roupa amarela de corpo inteiro que terminava em uma touca de pato—esticadas em suas coxas, suas mãos segurando-a pela barriga e apoiando suas costas enquanto ela tentava enfiar as próprias em sua boca.
— ‘Cê tá com o dente doendo ou algo assim? — Perguntou só para ela imediatamente tirar as mãos da boca e começar a agitar os braços ao lado do corpo, fazendo birra enquanto seus grandes olhos azuis, inchados e avermelhados, encaravam Zoro diretamente. Ela quase parecia julgá-lo por não entender o que ela queria. Zoro suspirou de novo, inclinando-se para frente até quase encostar a testa contra a cabeça dela. — Tenho que encontrar o Chopper, mas eu também deveria estar de vígia e deveria saber cuidar de você e…
Zoro franziu o cenho ao perceber o súbito silêncio no cômodo.
Um súbito silêncio que logo foi quebrado por uma baixa, mas contagiante e adorável risada, o que também levou-o a perceber que os brincos em sua orelha estavam balançando, ou melhor, sendo balançados e, ao afastar-se um pouco e olhar para baixo, deparou-se com os grandes olhos azuis afiadíssimos em sua orelha enquanto uma mãozinha tentava segurar as gotas douradas, a outra agarrando a gola de sua camisa, e todas as lágrimas haviam sido substituídas por um sorriso curioso e intrigado, deixando escapar a cada poucos segundos um riso entretido que mostrava todos os poucos e pequenos dentes que já tinha em ambas as gengivas.
Zoro forçou ainda mais o cenho franzido em uma careta repreensiva.
— O quê? ‘Cê tava chorando só porque queria brincar com os meus brincos? Ou eles só te distraíram? O que é? — Perguntou tentando soar como uma bronca apesar do tom baixo para não assustá-la, mas Kora apenas encarou-o com um largo sorriso derretedor-de-corações, soltando um riso mais alto quando ele terminou de falar e voltando a atenção para os brincos. Zoro estalou a língua, esticando as costas para sentar ereto e trazendo a bebê junto, deixando-a sentada em sua barriga para que continuasse fazendo o que fazia. — Bem filha do seu pai mesmo… fazendo birra e drama só pra conseguir o que quer…
De fato, você faz tudo e qualquer coisa para chamar a atenção de Sanji e tê-lo mais perto, não é?
Trincando os dentes, Zoro balançou a cabeça para afastar aquele pensamento, o que fez seus brincos balançarem e baterem uns contra os outros, arrancando uma arfada surpresa seguida de uma risadinha de Kora.
Ainda com uma carranca nem tão mais forçada graças ao leve aperto em seu peito, Zoro aproximou mais a bebê de si, envolvendo-a em um meio abraço com um braço enquanto a mão espalmada do outro ainda apoiava as suas costas. Observando-a de perto, dava para notar que até os pelos de suas sobrancelhas eram verdes, só que escuros o suficiente para parecerem pretos.
Iguais as de Zoro.
— O que ‘cê quer de mim… Marimozinha? — murmurou, o apelido escapando com tanta dificuldade por sua garganta que saiu trêmulo, falho, mas não parecia errado, nem mesmo ao deixar um nó para trás e seu olho úmido.
Kora ainda sorria pequeno, mas seus olhos pareciam mais atentos em seu rosto, quase como se estivesse analisando-o, então ela apoiou-se contra seu peito, aproximando-se mais e erguendo uma mãozinha até conseguir encostá-la contra a cicatriz atravessando o olho de Zoro. Ela fez movimentos de abrir e fechar a mão como se estivesse tentando pegar a cicatriz, até desistir e passar a esfregar a mão até mesmo por cima do olho perdido com certa agressividade, o sorriso tendo sido substituído por um firme olhar de concentração.
Foi a vez de Zoro de rir leve, nasalado, antes de deixar um sorriso genuíno plantado em seus lábios enquanto deixava a garotinha enfiar ambas as mãos em seu rosto, explorando-o, tentando arrancar seu nariz, quase furando seu olho bom, seus pézinhos agitando-se em sua barriga até ela conseguir erguer-se nas pernas e passar a tentar escalá-lo, encontrando um certo apoio em seus peitorais que a permitiu alcançar os fios curtos do cabelo de Zoro e puxar.
— Ai, não arranca, pirralha, — sibilou a “bronca”, mas não fez nada para pará-la.
E, por vários minutos, Kora apenas explorou o rosto de Zoro, apertando e puxando e dando uns tapinhas aleatórios que o fez rir surpreso, até ela parecer contentar-se em segurar seu nariz enquanto enfiava o dedo da outra mão na boca, olhos azuis observando-o com atenção.
Olhos azuis que não demoraram a começar a “diminuir” de tamanho, a ir fechando aos poucos.
Zoro soltou outro risinho.
— Alguém ‘tá ficando com sono, hm? — disse com a voz afetada pelo nariz fechado e, com cuidado, levantou-se do sofá, apenas para deitar a bebê nele, o mais perto do estofamento o possível. Ao ter certeza de que ela não voltaria a chorar—apenas o observava curiosa—deitou-se ao lado dela, cobrindo toda a ponta com o seu corpo e ficando o mais perto possível de tal ponta para que ela pudesse ter mais espaço. — Pronto, pode dormir agora.
Kora soltou um risinho ao tirar a mão da boca e esticá-la até espalmá-la contra o rosto de Zoro, que fez uma careta pela baba e por um dedinho ter quase entrado em seu olho. A mesma mão que voltou a apertar o seu nariz enquanto a outra começava a tentar segurar o próprio pé, ambas as pernas erguendo-se aleatoriamente.
— ‘Cê não tava com sono? — perguntou nasalado e a bebê riu balançando agitadamente as pernas. Zoro riu de volta e levou uma mão até a barriga fofa dela, apertando de leve os dedos ao redor, fazendo-a rir e contorcer-se até soltar seu nariz, ambas as mãozinhas focadas em agarrar os dedos de Zoro e fazê-lo parar. — O quê? Não aguenta uma coceguinha?
— Bu! Buu! — Ela exclamou enquanto puxava a mão de Zoro para cima até tentar enfiá-la em sua própria boca. Zoro impediu-a enrigecendo a mão. — Aah! Bu! Cil!
— Não pode colocar minha mão na boca, bebê. Pera que acho que tinha algo sobre chupeta nas instruções do cozinheiro, — disse e soltou sua mão com cuidado, o que não impediu que Kora voltasse a chorar, debatendo as perninhas irritada. — Não! Não chora, sobrancelhinhas. Calma, eu… — Agoniado, Zoro levantou-se correndo e foi atrás de uma chupeta no baú rosa em formato de polvo com todos os tentáculos dobrados, assumindo que devia ter algo ali porque todas as instruções de Sanji que lera indicavam ali uma hora ou outra. Abrir o baú apenas fez o coração de Zoro disparar ainda mais porque tinha muita coisa lá dentro e, por um terrível segundo, pensou que não conseguiria achar chupeta alguma e não podia deixar a bebê deitada sozinha por muito tempo. Contudo, ao erguer a cabeça e rapidamente olhar para a tampa que tinha aberto, percebeu que tinha algumas coisas presas lá, desde mamadeiras vazias, a pequenos bichos de pelúcia, a uma bolsinha com coisas ainda menores dentro e três chupetas. Todas as chupetas tinham formato de algum peixe, uma rosa, outra azul e a outra verde—uma anomalia em meio a todas as coisas que já vira de Kora—e foi justamente a verde que Zoro pegou sem pensar, fechando o baú e voltando para a bebê ainda chorando. — Toma aqui, toma. ‘Cê quer isso, né? — Ofereceu colocando a parte transparente de chupar perto da boquinha dela e, instantaneamente, ela pegou e parou de chorar, esticando as pernas e passando a só brincar de leve com uma mecha do próprio cabelo enquanto segurava a chupeta com a outra mão.
Zoro suspirou balançando a cabeça, então voltou-se a deitar na mesma posição de antes.
— ‘Cê é mais dramática do que eu achava, garotinha. Bem filha do seu pai mesmo, — comentou entretido, um pequeno sorriso no canto de seu lábio enquanto a observava encarar o teto, então o sofá, até que os inocentes olhos azuis recaíram nele novamente e Kora pareceu sorrir.
Um calor expandiu-se no peito de Zoro, acelerando seus batimentos e tornando seu próprio sorriso ainda mais suave. Sem resistir, ele esticou uma mão e apoiou com leveza na barriga da bebê, mas, dessa vez, apenas para ter um contato e fazer um carinho com o dedão. E Kora pareceu gostar, já que tentou “falar” algo por trás da chupeta e virou-se de lado para ficar encarando Zoro melhor, perninhas curvando e uma mãozinha voltando para o rosto dele, parecendo querer imitar o carinho.
— Não vai dormir não, pequena? — sussurrou para não assustá-la e, como se em resposta, os olhos dela começaram a pesar, mas ela resistia em fechá-los. — Pode dormir, sobrancelhinhas. Seu pai pode não gostar, mas eu não vou a lugar algum, ok? — Prometeu sincero e Kora bocejou antes de fechar de vez os olhinhos.
No instante seguinte, ela já estava adormecida, com a respiração mais pesada e profunda, uma mão caída no sofá enquanto a outra mantinha-se contra o rosto de Zoro.
Zoro suspirou e tirou a mão da barriga dela apenas para pegar a dela, dando um leve beijo nas costas antes de colocá-la no sofá entre eles, retornando a sua à barriguinha. Por poucos minutos ele apenas observou-a dormir e ponderou quanto a levá-la de volta ao berço para que ela dormisse tranquila e ele pudesse exercitar-se enquanto cuidava do navio, além disso, Sanji poderia ficar sem saber o que aconteceu ali.
Contudo, o próprio olho de Zoro começou a pesar e ele queria ficar ali com Kora. Queria continuar com ela e cuidar dela porque, mesmo ela não sendo sua, isso apaziguava seus instintos alfas idiotas que acreditavam que ela era. Zoro aproveitaria sua chance.
Por saber que acordaria imediatamente a qualquer sinal de perigo—porque Kora, o Sunny e até Sanji precisavam que ele zelasse por sua segurança naquele momento—Zoro parou de lutar contra seu olho querendo fechar e, logo, estava dormindo.
— Kora!
Um forte baque fez o olho de Zoro abrir na hora, com todo o seu corpo retessando e pronto para luta, porém, não demorou nada para ele identificar que a nova presença na galeria era de Sanji e que havia sido ele a entrar correndo, gritando o nome da bebê ao ter acordado e não tê-la visto no berço ao seu lado. Por como a galeria estava mais clara, com uma luz mais azulada entrando, não era difícil assumir que já era de manhã, o que significava que Zoro havia passado a madrugada inteira ali no sofá com a bebê. Uma bebê que ainda dormia, agora toda expremida contra o peitoral e barriga de Zoro, babando em sua camisa, uma cena que fez seu coração bater mais forte enquanto inconscientemente liberava leves feromônios de afeto em direção à ela.
Falando em feromônios, os de Sanji estavam tão fortes e apavorados que tomaram conta da galeria em um instante, agitando o instinto de Zoro que queria levantar e ir confortá-lo. Só que ele não o fez, ao invés, resolveu aproveitar seus últimos segundos com a bebê em seus braços antes que o ômega começasse a berrar com ele e a tirasse dele.
Só que Sanji não falou nada.
Na verdade, ele pareceu ter paralisado no mesmo lugar desde que entrara porque Zoro também não ouviu mais passos, apenas sua rápida e descontrolada respiração.
Quando Zoro estava prestes a virar para confirmar que seu instinto e haki não o estavam enganando, Sanji deu uns passos à frente, aproximando daquela forma silenciosa que só ele e Robin conseguiam, até parar tão perto que suas pernas roçaram contra as costas de Zoro, causando um sútil arrepio. Um arrepio que Zoro escolheu ignorar, assim como escolheu ignorar Sanji e preferia continuar fingindo dormir do que ter que lidar com o ômega e com o que quer que seja que ele iria querer lhe dizer.
Se o cozinheiro não iria gritar e o obrigá-lo a levantar, Zoro continuaria ali com a bebê dormindo em seus braços, fingindo que nada mais acontecia.
Após poucos minutos, Sanji apenas afastou-se, puxou uma cadeira da mesa e sentou-se ali, sua atenção inegavelmente ainda fixa nos dois no sofá.
Ele só não tinha gritado nem nada porque não queria assustar, nem incomodar a filha, não é?
Toda a coluna de Zoro congelou com seu coração parando por um segundo ao ouvir a primeira fungada.
Uma fungada que não demorou a ser seguida de outra, e outra, e outra, até começar a ser intercalada com soluços tentando ser contidos quando o choro aumentou.
Porque não tinha como negar aquilo.
O cozinheiro estava chorando.
Por que Sanji estava chorando?!
Era tão terrível assim o fato de Zoro ter cuidado da bebê e agora ela estar mais do que confortavelmente dormindo em seus braços?
— Merda, — xingou o cozinheiro entre um soluço, então fungou mais fundo e xingou mais algumas vezes tão baixo que Zoro não teria ouvido se não estivesse prestando a devida atenção. — Se controle, Sanji. Não seja um bebezão! Que patético você, — murmurou ainda entre o choro apesar de claramente parecer tentar pará-lo.
Zoro podia apenas franzir o cenho encarando o rostinho sereno de Kora e tentava não deixar seus ferômonios responderem aos agora agridoces do ômega, o que só deixava seu choro ainda mais confuso, já que não parecia ser um choro ruim, nem bom, nem os dois ao mesmo tempo só que também parecia ser tudo junto.
Será que o cio dele tava perto?
Não, Zoro não queria nem pensar nisso, muito menos com a bebê em seus braços. Por sorte, Sanji ajudou-o a voltar ao presente ao levantar-se da cadeira e ir até a cozinha, já começando a mexer nas coisas para provavelmente preparar o café da manhã.
Por saber que não teria respostas se “acordasse” e confrontasse o cozinheiro, Zoro resolveu deixar aquilo para lá, não era de sua conta de qualquer forma. Além disso, estava satisfeito por poder continuar com Kora mais um pouco, então, ao som de Sanji trabalhando, ele adormeceu novamente.
Quando seu olho voltou a abrir de súbito, a primeira coisa que notou foi a falta de algo em seus braços e, de fato, estava sozinho no sofá.
Onde a bebê estava?
Em pânico, Zoro ergueu-se e começou a procurá-la entre o estofamento, sem nem parar para pensar que ela não caberia ali, sendo interrompido por um fraco riso atrás de si, seguido pelas tranquilizantes palavras:
— Ela ‘tá aqui.
Zoro devolveu o estofamento para o lugar e levantou virando-se, seus ombros relaxando com um forte ar de alívio escapando por seus lábios ao avistar a bebê sentada no colo do seu pai à mesa. Sanji estava na cadeira da ponta de frente para Zoro, um tanto afastado da mesa e virado para o lado para que a garotinha ficasse confortável em sua coxa sem risco de bater a cabeça. Kora agora usava outra roupa de corpo todo que cobria até seus pés, mas essa era vermelha e tinha três tentáculos de cada lado entre seus braços e pernas e, apesar de não conseguir ver o gorro no momento, Zoro não duvidava que seria um de polvo.
O cozinheiro era tão esquisito com aquele negócio de peixe.
Além disso, a bebê parecia bem ocupada e entretida com uma mamadeira de leite que devorava sem mal piscar.
Zoro sorriu pequeno ao pensar em como ela poderia se tornar uma competição para Luffy.
— Vem tomar seu café-da-manhã, — Sanji disse, chamando a atenção de Zoro para ele e como ele de fato parecia mais descansado e tranquilo do que nos últimos dias, sequer havia sinal de que ele tinha chorado. Teria Zoro imaginado ou sonhado aquilo?
Então as palavras dele registraram em sua mente e seu olho foi para a mesa onde tinha as jarras de café e chá com xícaras e canecas ao redor, torradas enfileiradas em uma cestinha com uma variedade de geléias que o cozinheiro vire-e-mexe preparava, além da cesta de frutas, mais duas mamadeiras vazias e uma cheia de vitamina. Contudo, o que realmente chamou a atenção de Zoro foi o prato cheio de onigiri perto da cadeira de frente a Sanji.
O estômago do alfa roncou só de ver aquele prato, além de sua boca enchendo de saliva.
Sem dizer nada, Zoro sentou-se na cadeira, já enfiando uma bolinha de arroz grande inteira na boca e soltando um barulinho de apreciação quando quase dissolveu em sua língua, todo o seu paladar sendo invadido por todo o sabor do recheio bem temperado, que parecia ser algo bem parecido com salmão dessa vez. Zoro enfiou o segundo na boca sem sequer terminar de engolir o primeiro, o que encheu suas bochechas e, enquanto mastigava, aproveitou-se para servir-se com um pouco de chá.
Um riso fino e adorável chamou sua atenção para o outro lado da mesa, imediatamente encontrando os olhos da bebê com um brilho divertido ao encará-lo, a mamadeira quase vazia tendo sido afastada da boca para que ela conseguisse rir. Um riso que só aumentou quando Zoro a encarou e, sem pensar, ele enfiou outro onigiri na boca de forma mais dramática e “sem educação”, o que fez Kora rir de boca aberta antes de tentar enfiar a mão inteira em punho na boca.
Zoro riu nasalado, cuspindo arroz.
— Não presta atenção no que o espadachim sem educação faz, meu anjinho. E é pra tomar a mamadeira, não comer sua mão. — O ômega dizia com a voz suave, com um quê quase jocoso por trás enquanto afastava a mão da bebê da boca dela com cuidado. Então ele pegou a outra mamadeira da mesa e ofereceu. — Quer vitamina agora ao invés de terminar o leite?
Kora encarou o pai confusa por um segundo antes de pegar o bico da mamadeira oferecido, fazendo uma careta no instante seguinte e chacoalhando a cabeça em negação.
— Exi, exi! Cil! — Soltou os sons parecendo um tanto revoltada e voltou a colocar a mamadeira de leite na boca, tomando o resto com veemência.
Foi a vez de Zoro soltar um risinho enquanto tomava seu chá e Sanji estalava a língua.
— Teimosinha e cabeça-dura que nem o pai, — falou sem pensar em um tom divertido e sem malícia, arrependendo-se no segundo seguinte ao lembrar-se de como o ômega havia estourado com ele na Ilha dos Homens-Peixe por uma brincadeirinha de mal gosto. Antes que ele pudesse retirar o que disse, no entanto, Sanji soltou entre um suspiro:
— Pois é, igualzinha. — E imediatamente sua pele enrubesceu com olhos arregalados que se voltaram para a cozinha.
Zoro franziu o cenho para a súbita rígidez do corpo dele.
Devia estar se corroendo por dentro por ter concordado com o alfa sobre como ele era de fato teimoso e cabeça-dura.
Só dessa vez Zoro resolveu não provocar, até porque os onigiris que o ômega fizera para ele estavam deliciosos, então continuou comendo em silêncio enquanto observava Kora acabar o leite e pedir a outra mamadeira para o pai. Tomando a vitamina com o mesmo afinco. Ela continuava encarando Zoro com aquele brilho divertido no olhar e ele fez o mesmo.
— Obrigado… por ter cuidado dela essa noite, Zoro, — Sanji disse de súbito, baixo, parecendo até um tanto nervoso.
Zoro voltou-se para ele, confirmando o nervoso ao ver a mão do braço que não segurava a bebê mexendo como se quisesse que tivesse um cigarro ali. Além disso, ele estava com a cabeça virada mais para baixo, deixando mais cabelo cair para cobrir a metade de seu rosto e o único olho visível estava fixo na filha.
Por alguns instantes, Zoro apenas mastigou em silêncio, observando o ômega enquanto seus próprios batimentos estavam mais fortes, fazendo o sangue correr mais quente e querendo liberar feromônios para confortá-lo.
Até que ele deu de ombros e respondeu com a boca cheia:
— Não precisa agradecer, cozinheiro.
Ao invés de retrucá-lo ou repreendê-lo por seus modos, Sanji apenas assentiu fraco e continuou olhando para a filha, vigiando-a comer enquanto acariciava seu cabelo rebelde, parecendo quase contemplativo. Contente pela comida e pela companhia, Zoro também ficou quieto, observando Kora que manteve seu olhar até acabar com a vitamina, um arroto já escapando quando Sanji afastou a mamadeira.
Zoro riu, Sanji apressou-se em pegá-la no colo e apoiá-la em seu ombro antes de começar a dar batidinhas em suas costas, levantando e começando a andar com ela ali na sala de estar mesmo enquanto a bebê soltava um arroto mais alto do que o outro até não ter mais arroto para soltar.
— Pensei que ela era uma princesa e princesas não arrotam, não é? — Provocou porque Zoro não conseguia não provocar o cozinheiro, sua pele vibrando em euforia quando os olhos afiados dele caíram em si.
— Ela é uma princesinha! E arrotar é normal e saudável pra bebês!
— Diga o que quiser, curly.
Sanji revirou os olhos afastando-se com Kora ainda apoiada em seu ombro—e brincando com mexas de seu cabelo—e com as mamadeiras vazias na outra mão.
— ‘Cê não sabe nada sobre bebês, Marimo.
Zoro deu de ombros também levantando-se com seu prato e xícara vazios.
— Não sei mesmo.
Zoro não esperou Sanji falar nada antes de começar a lavar o que estava sujo na pia.
— Deixa que vou esterelizar as mamadeiras depois, então não precisa lavar agora. — Foi tudo o que disse enquanto colocava Kora no carrinho, ajeitando-a e dando-a uma pelúcia azul de peixe e um chocalho de concha. — As outras coisas vão ficar ali na mesa para o caso de alguém voltar pro navio e querer comer e, falando nisso… — Sanji afastou-se do carrinho que estava na sala de jantar e voltou para a cozinha, apoiando-se contra a pia ao lado de Zoro com os braços cruzados. — Brook já voltou, parece que foi tomar banho ou sei lá antes de vir tomar café e disse que vai vigiar o Sunny agora então… quer vir comigo e com a Kora pra cidade?
Zoro parou de esfregar a esponja no prato e encarou o cozinheiro com o olho arregalado.
— Pensei que nem ia querer olhar pra minha cara por muito tempo depois de ontem, — confessou incrédulo, um sútil nó em sua garganta ao lembrar-se da vendedora de artesanatos na cidade e o que ela implicara ao tentar vendê-los aquelas pulseiras.
Ao lembrar-se da expressão de horrorizado do cozinheiro com a implicação.
Zoro também notara que uma das geléias em cima da mesa tinha “romã” escrito no pequeno papel que o cozinheiro colocava na tampa para identificar os sabores.
Ele nunca comeria aquela.
Sanji tinha virado-se para a pia, escondendo o rosto atrás do cabelo enquanto secava os talheres que Zoro lavara.
— Por que não? Você me ajudou com as compras como prometeu e… foi realmente bom pra mim ontem focar no meu papel como cozinheiro e confiar em Robin-chan e em Chopper com Kora-chan. E ela já ‘tá basicamente curada, o que me deixa mais tranquilo quanto a, bem, tudo. — Soltou um risinho ao lançar um olhar para a bebê antes de voltar a secar o que Zoro voltara a lavar. — Então quero aproveitar e conhecer um pouco mais a ilha, passear com Kora, comprar algumas coisas pra ela e seria bom ter alguém pra ajudar a carregar tais coisas e seus músculos devem ser úteis pra alguma coisa além de enfeite.
Zoro cerrou os dentes e lançou um olhar irritadiço para o cozinheiro, só para vê-lo encará-lo com um brilho divertido nos olhos, semelhante ao que a bebê fizera a manhã inteira. Isso fez toda a irritação de Zoro murchar quase instantaneamente.
Mesmo assim, ele não seria fácil.
— Não sou seu burro de carga particular, cozinheiro, — rebateu terminando de enxáguar a última panela.
Sanji soltou um risinho.
— Mas é o burro de carga oficial doos Chapéus de Palha, não? — Provocou mais e Zoro largou a espoja dentro da pia mesmo, rapidamente secando as mãos antes de virar-se para o ômega com os braços cruzados e uma carranca.
— Não sou burro de carga nenhum!
— Então todos esses músculos são só pra enfeite?
— ‘Cê não reclamou dos meus músculos quando usei eles pra-, — te subjulgar e fuder como eu quisesse. Zoro engoliu aquelas últimas palavras, limpando a garganta ao virar o rosto corando. No dia anterior ele falara para Sanji para que não falassem sobre aquilo, não podia ser hipócrita nem mesmo sem querer. — Treino todo dia pra me tornar o maior espadachim do mundo, é claro. — Concluiu o que era óbvio.
— Óbvio, — Sanji deu voz ao seu pensamento, terminando de secar e guardar as últimas coisas antes de pendurar o pano de prato. — Mas seus músculos têm que ser úteis pra outras coisas antes disso também. Então vamos, Marimo! Para de ser chato.
Zoro semicerrou o olho para ele.
— Você é chato.
— Não, eu sou um deleite de estar por perto! — Zoro não hesitou em jogar o pescoço para trás e rir. Sanji deu um forte tapa em seu peito e a atenção de ambos foi chamada para o carrinho na sala de estar quando Kora riu alto. Os grandes olhos inocentes dela estavam bem atentos neles enquanto segurava a pelúcia e o chocalho com braços erguidos. Sanji soltou um risinho balançando a cabeça. — Por algum motivo, ela pareceu gostar bastante de você, então acredito que ela ficaria feliz de te usar como burro de carga pras coisas dela.
Zoro voltou a semicerrar o olho para o ômega, mas seu pulso estava um tanto acelerado e pele aquecida de um jeito gostoso demais para ele conseguir manter muito da irritação.
A bebê tinha gostado bastante dele?
— ‘Cê não consegue me elogiar sem xingar e ser rude ao mesmo tempo, né?
— Nope! — Deu muita enfâse no ‘p’, parecendo até ter orgulho naquilo. — Com homem nenhum! Só mulheres merecem meus mais sinceros e absolutos elogios.
Zoro revirou o olho.
— Então vai pedir pra uma mulher ser sua burra de carga.
— Nunca! — Arfou ofendido, mas prontamente entrou na frente do alfa quando ele avançou para sair da cozinha. Zoro o observou curioso enquanto ele coçava a nuca com uma mão, parecendo ponderar sobre algo antes de finalmente voltar a olhá-lo e falar: — Olha, eu fiquei te devendo uma bebida por ontem, não? Então se vier com a gente agora, eu te pago duas.
A postura de Zoro relaxou com um pequeno sorriso se abrindo.
— ‘Tá bom, sobrancelhas. Mas só vou porque são as coisas da bebê que vou carregar, — consentiu por fim, ainda tentando parecer indiferente com todo aquele inesperado convite, mas não conseguiu evitar os feromônios de contentamento de escaparem um pouco quando o sorriso de Sanji iluminou seu rosto todo antes dele ir correndo animado para a filha.
— Vamos às compras, meu peixinho-dourado!
A garotinha riu como se tivesse entendido e Zoro riu baixo de volta.
﹒ꕀ⚔︎ꕀ⚔︎ꕀ﹒
— Por que ‘cê só compra essas roupas esquisitas que escondem os pés dela? Os pés dela são feios? — Zoro perguntou enquanto Sanji pagava por uma versão tão colorida daquelas roupas que a bebê ficaria parecendo um arco-íris usando.
O vendedor arregalou os olhos para Zoro enquanto o cozinheiro pegava a pequena sacola dele e se virava para encarar o espadachim com o rosto tomado pelo vermelho, mordendo com força o pirulito que tinha na boca.
— Os pés dela são absolutamente lindos, cheirosos e perfeitos! E essas roupas se chamam macacões, seu energúmeno! — Zoro mostrou os dentes para ele quando ele jogou a sacola em seus braços e o alfa queria xingá-lo de volta, mas o ômega continuou falando: — E ela tem outras roupinhas, ok? Inclusive versões sem os pés e sem as pernas! Mas ela fica tão fofinha nesses e o tempo não ficou quente o suficiente para eu ver necessidade de vesti-la com algo mais fresco, ainda mais porque ela é tão friorenta quanto eu!
Enquanto Sanji explicava, eles haviam voltado a andar por entre as lojas. Tinham voltado àquela mesma cidade fundida com a floresta só que, ao invés das barracas, tinham sido orientados até esse compridíssimo estabelecimento fechado entre várias árvores e por onde até um pequeno rio passava pelo meio e que dentro era cheio de diferentes pequenas lojas vendendo a maior variedade de coisas. Sanji observava tudo atentamente enquanto empurrava o carrinho onde a bebê estava cochilando, parando em quase toda loja de roupas e acessórios mesmo que não fosse infantil para xeretar enquanto Zoro seguia firme ao seu lado, segurando todas as compras e com um pequeno gancho do carrinho preso em seu haramaki para que ele “não se perdesse e saísse andando por aí” como o cozinheiro tinha dito, o que era ridículo. Zoro apenas o tinha deixado fazer aquilo porque se auto-convenceu que era o melhor para a bebê não acabar se perdendo por aí.
— O que mais? — Perguntou quando o cozinheiro os parou para olhar uma loja de cintos e gravatas.
— O que mais o quê?
— Me fala mais sobre a pirralha, — pediu olhando para dentro do carrinho, para como Kora estava sugando a chupeta verde com afinco mesmo enquanto dormia quase completamente parada e abraçada com o peixe de pelúcia.
Zoro não entendia muito bem porque sentia-se aquecer por inteiro por dentro com seu coração vibrando em orgulho e adoração só por olhar Kora—talvez o fato de que seus instintos idiotas ainda acreditavam que ela era dele tivesse alguma influência naquilo—, mas ele gostava da sensação. Gostava de olhá-la, tê-la por perto e saber que ela estava bem e feliz.
Zoro não sabia como confessar isso em voz alta, mas estava grato por Sanji tê-lo convidado para passear com eles, mesmo que o ômega só o enxergasse como um burro de carga de fato.
Ao perceber que o cozinheiro tinha ficado quieto demais, Zoro ergueu o rosto com o cenho franzido, deparando-se com Sanji encarando-o de olhos arregalados e boca entreaberta, quase paralisado com uma gravata laranja horrível nas mãos. Até a vendedora estava encarando o loiro confusa.
— Que é? — grunhiu tentando cruzar um pouco os braços apesar das sacolas que já segurava, sem muito sucesso.
Sanji piscou várias vezes e voltou o olhar para a gravata, a maçã-do-rosto visível corando de leve antes de seus olhos voltarem para Zoro, as sobrancelhas esquisitas duramente franzidas.
— Você quer saber mais sobre Kora-chan? — perguntou baixo, quase como se com receio das palavras que saíam, mas seu olho visível brilhava de um modo que informava ao alfa de que aquilo não era exatamente ruim.
— Foi o que eu disse, não? — Zoro não conseguiu não soar defensivo e Sanji notou, soltando um “rude!” com o nariz empinado antes de devolver a gravata à vendedora, agradecê-la exageradamente e começar a andar em direção à próxima loja, empurrando o carrinho.
— O que quer saber? — Perguntou baixo com os olhos na filha.
Zoro estalou a língua.
— Sei lá. Imagino que ela tenha tanta coisa de peixe por causa da sua obsessão esquisita por frutos do mar ou sei lá.
— Você é esquisito com sua obsessão por objetos afiados! — rebateu mostrando os dentes e Zoro mostrou de volta. Sanji não demorou a recompor-se e continuar. — Mas é! Amo o oceano e tudo o que vem dele e amo minha peixinha-esverdeada então faz sentido para mim ela ter toda essa temática.
A pulsação de Zoro acelerou com as palavras, o tom de voz e o olhar do ômega no carrinho, o mais suave e vulnerável que o alfa já havia visto dele, sem contar que a falta de cigarro estava deixando seus feromônios aparentes e eles estavam tão doces e calmos que nem pareciam vir do cozinheiro.
E, claro, seu típico aroma de frutos-do-mar estava bem ali, ajudando Zoro a aterrar-se no presente.
— Não esperava menos de você, sobrancelhas, — disse tentando soar casual e Sanji encarou-o antes de soltar um barulho de descaso com a boca, parando em frente à uma loja de utensílios infantis. — Mas tirando o que Franky construiu, onde ‘cê achou tanta coisa com temática do oceano?
Sanji soltou um risinho.
— As pessoas com quem fiquei nos últimos dois anos… elas me irritavam e enchiam o saco, mas eram boa gente e completamente loucas pela Kora-chan, então não perderam tempo em fazer a maioria das coisas que ela tem, depois de conseguirem arrancar de mim a coisa que eu mais gosto depois de cozinhar e mulheres, é claro.
Zoro escolheu ignorar o “e mulheres” porque não podia desperdiçar o cozinheiro sendo tão sincero e aberto, muito menos correr o risco de assustá-lo para dentro de si com seu ciúmes sem cabimento.
— Elas fizeram a maioria das coisas dela?
— É elas tinham… muitos talentos, — disse e balançou a cabeça com uma expressão engraçada, então cumprimentou o vendedor e começou a analisar as opções de fraldas.
Zoro desceu o olhar para Kora que continuava exatamente na mesma posição, dormindo pesado como se nada estivesse acontecendo ao seu redor.
A atenção de Zoro voltou ao cozinheiro quando ele entregou-lhe os dois pacotes gigantes de fraldas compradas e eles voltaram a andar.
— Por que tanta fralda?
— Ela ainda não aprendeu a usar o pinico, então…
— Por que Kora?
Isso fez Sanji parar de súbito, apertando com força o cabo do carrinho. E, quando falou, não olhou para Zoro.
— Como assim?
O alfa franziu o cenho, olhos afiados no que conseguia ver da reação do ômega.
— Por que deu o nome dela de Kora? O que significa?
Sanji inspirou fundo, suas mãos relaxando na barra até ele erguer uma para mexer no pirulito da boca, tirando-o por um instante apenas para revelar que tinha quase só o palito ali.
Ele só respondeu quando voltaram a andar, os olhos atentos em tudo ao redor e nunca pousando em Zoro.
— Kora é a junção de dois nomes importantes, mas significa “donzela” ou “filha” e eu também vejo como “amor” e “preciosa” e é tudo o que ela é, então…
— Que junção de dois nomes importantes? — Perguntou sem nem pensar e todo o corpo de Sanji retessou na hora.
— Próxima pergunta, Marimo, — falou ríspido, encarando-o por sob os cílios de uma forma que gritava aviso.
Zoro apertou a mandíbula antes de soltar uma bufada pelo nariz.
Então o cozinheiro ainda não estava disposto a falar sobre tudo…
Zoro arfou de leve quando uma particular lembrança veio à frente em sua mente.
— Ontem de manhã… o que ‘cê quis dizer com “ela sequer tem um ano ainda”?
A respiração do cozinheiro travou, com seus olhos ficando mais abertos por um instante. Então ele mordeu o canto da boca e olhou em direção a outra loja de roupas infantis onde tinha parado na frente, logo desviando o olhar para o lado oposto mais à frente, o nariz mexendo adoravelmente como se sendo guiado por ele. Sanji abriu um largo sorriso e o coração de Zoro saltitou.
— Vem, vamos sentar pra comer algo e eu te conto. Chopper, as meninas e Luffy já sabem mesmo…, — disse entre um suspiro, já começando a empurrar o carrinho em direção à uma área mais “aberta” à frente onde só parecia ter lojas dos mais variados tipos de comida ao redor de muitas mesas e cadeiras.
Zoro não teve escolha a não ser segui-lo com o fio mantendo-o perto do carrinho pelo haramaki, mas o fez enquanto ponderava sobre aquilo, tentando pensar em qual poderia ser o significado das palavras de Sanji e porque ele havia contado apenas para aqueles membros específicos da tripulação. Era fato que as mulheres não tinham muita dificuldade em tirar as informações do cozinheiro, assim como não era segredo que o ômega tinha um ponto-fraco em seu coração por Luffy por mais que tentasse esconder ou negar—e quem da tripulação não tinha?—e mesmo ele também tendo um ponto fraco por Chopper por ser o mais novo entre eles, o garoto-rena saber poderia significar que tinha algo a ver com a saúde de Kora.
A mera ideia criou um duro nó na garganta de Zoro.
Sanji ter engravidado no começo do primeiro ano deles separados estava fora de cogitação porque ele já tinha dito já estar gestante quando foram separados.
Não tinha porque ele mentir sobre aquilo, não é?
— ‘Tá, fica aqui com a Kora enquanto eu pego o nosso almoço. Tem preferência por alguma das opções? — O cozinheiro perguntou girando o braço como se mostrando todas as lojas ao redor deles depois de tê-los parado ao lado de uma mesa vazia de quatro cadeiras.
Zoro mal olhou ao redor antes de dar de ombros.
— ‘Cê quem sabe, cozinheiro. Como qualquer coisa.
Sanji revirou os olhos.
— Não sei porque ainda pergunto… — murmurou enquanto abaixava-se para olhar Kora, mexendo em algo dentro do carrinho, esticando-se para plantar um beijo em sua cabeça e voltando a ficar em pé com o palito entre dedos e a outra mão no bolso da calça. — Fica de olho nas compras e na minha filha, ok? Se acontecer algo quando eu der as costas, vou te chutar tanto que não vai conseguir mais sentar.
— Como se eu fosse deixar, — retrucou com uma bufada, o olho bom semicerrado no cozinheiro enquanto ele afastava-se andando de costas, seu olho visível também semicerrado no alfa. Até que, por fim, ele rodopiou em seus calcanhares e seguiu direto para uma loja que dizia vender algo chamado “feijoada”; o que quer que fosse devia ser típico da ilha o suficiente para o cozinheiro não pensar duas vezes em querer experimentar.
Zoro suspirou balançando a cabeça e dividiu as sacolas que carregava entre as duas cadeiras do outro lado, sentando-se na cadeira ao lado do carrinho e na visão de onde Sanji havia ido, com a da sua frente vazia para ele.
Uma ligeira olhada para dentro do carrinho confirmou que Kora ainda dormia na exata mesma posição, o que arrancou-lhe um risinho nasalado. Então ele cruzou os braços no estômago e esperou o cozinheiro voltar.
A tal “feijoada” consistia em muitos grãos de feijão pretos com todo tipo de carne de porco possível junto, servido com arroz, um tal de “vinagrete” que parecia uma salada com muito tomate, pimentão e vinagre, outro negócio chamado de “farofa” que tinha bacon e couve junto, além de vir com pimenta que podia ser adicionado à gosto. E era uma delícia, generosamente temperado e poderia deixar até Luffy satisfeito sem dificuldades.
— Minha nossa, eu preciso descobrir o quanto de feijoada o Luffy aguenta comer de uma vez. — O cozinheiro comentou enquanto parecia saborear uma por uma as carnes que vinham misturadas com o feijão. Ele também tinha tirado uma caderneta azul de dentro do paléto junto à uma caneta preta e estava mais anotando coisas do que comendo.
Zoro soltou um leve riso enquanto o observava, as bochechas cheias de farofa, arroz e carne, o que não o impediu de falar:
— Vai fazer feijoada pra gente, é?
Sanji ergueu o rosto com uma careta, batendo as costas da mão no caderno onde farofa tinha voado da boca de Zoro. Sanji franziu o nariz e Zoro enfiou mais uma garfada de farofa na boca entre um sorriso arteiro.
— Que tal ter modos pelo menos na frente da minha filha? — reclamou com o nariz empinado como se fosse algum nobre todo fresco, o que só encheu o alfa com ainda mais vontade de zoá-lo, mas sua boca estava muito cheia e logo o ômega continuou. — E sim, é óbvio que vou preparar feijoada para todos nós! Já compramos diversidade o suficiente de carne ontem, além dos vegetais… mas vou ter que comprar essa farofa e talvez mais um pouco de pimentão antes de irmos, — falou enquanto analisava ambos os pratos, a caneta batendo de leve no cavanhaque, então voltou para as suas anotações.
Zoro apenas assentiu enquanto engolia e pegava mais comida. Ele tinha certeza de que a versão do cozinheiro ficaria ainda mais deliciosa e não via a hora de provar, só que não falaria isso a ele. Além disso, eles tinham outro assunto a tratar.
— E aquilo sobre a bebê? — Retomou depois de engolir o que tinha na boca, dando uma pausa na comilância para beber do saquê que o cozinheiro tão generosamente comprara para ele, seu olho atento no rosto semi-escondido pelo cabelo loiro.
Sanji inspirou fundo fechando a caderneta e deixando-a de lado com a caneta, então pegou um pouco de cada coisa em seu prato e mastigou lentamente enquanto observava Kora no carrinho ao lado de ambos. Zoro não tinha porque apressá-lo e sabia que o ômega falaria no seu tempo, por isso continuou a beber, voltou a comer e esperou.
O cozinheiro engoliu a comida e encolheu-se um pouco na cadeira, olhos no prato onde mexia na comida com o garfo antes de começar a falar, soando mais firme do que seus fracos feromônios receosos revelavam:
— Como eu disse, já ‘tava grávido quando fomos todos separados, só que eu não sabia… E não preciso te lembrar de tudo o que aconteceu em Sabaody, né? Com certeza você era o mais ferido entre nós, mas eles… também me machucaram bastante…
A mandíbula de Zoro trincou sem sua permissão, assim como suas mãos fechando em punhos e seus próprios ferômonios ficando um pouco mais ácidos com a lembrança.
— ‘Cê também foi ferido demais em Thriller Bark, — relembrou, o bile preso na garganta.
Ele tinha deixado o ômega apanhar tanto e quase sacrificar-se enquanto a bebê crescia em sua barriga.
Os olhos de Sanji arregalaram de leve em Zoro, mas ele desviou os olhos de volta para o prato antes que o alfa pudesse interpretar alguma coisa de sua expressão.
— É… sim… Bem, em resumo, todas as pancadas que levei… quase mataram Kora. — Um pancada invisível acertou o centro do peito de Zoro em cheio, arrancando-lhe o ar dos pulmões e pausando seu coração por um agonizante instante. Seu olho arregalado foi para a bebê no carrinho, não conseguindo desviar-se mais dela enquanto Sanji prosseguia. — Quando eu cheguei na ilha onde passei os dois anos, passei os dois primeiros dias mais correndo do que tudo, até que acabei desmaiando porque estava perdendo sangue sem perceber. As pessoas de lá me socorreram, fizeram exames que revelaram minha gestação e como o feto ‘tava correndo risco… Por sorte, o meu mentor chegou a tempo e elu tinha poder de controlar homônios e tudo o mais, então elu usou isso para atrasar a gestação, para que o feto pudesse se curar e fortalecer antes de continuar a crescer e pra que eu também pudesse me curar e… decidir se eu realmente queria ter o bebê.
O olho de Zoro voltou como um tiro para o cozinheiro.
— ‘Cê pensou em abortar ela? — Era só uma pergunta, ele não estava julgando apesar de seu estômago contorcer-se com a mera ideia de que a bebê correra dois riscos de não existir. Mesmo assim, Sanji cerrou os dentes e encarou o alfa defensivo.
— ‘Cê acha que foi fácil pra mim, Marimo?! Eu não planejei engravidar! E sou um pirata! Como eu iria só facilmente aceitar o fato de que ‘tava pra trazer um bebê pra essa vida que levamos? Sem contar que eu tive medo de não poder mais voltar pro bando por causa dela e tive medo de… de… — O cozinheiro apertou ainda mais os dentes e virou o rosto para o outro lado. Toda a sua pele estava avermelhada, músculos tensos e respiração pesada com feromônios ficando cada vez mais obviamente agitados.
Zoro estava fazendo o possível para controlar sua própria respiração e feromônios. Não queria brigar nem chatear o ômega, não com aquilo.
Não quando havia o risco dele se fechar e decidir não lhe contar mais nada.
— Medo de? — Incentivou, a voz controlada.
Sanji engoliu em seco e balaçou a cabeça, o palito em sua boca sendo mordido de um lado para o outro.
— Medo de não conseguir ou de… Kora nascer errada.
Zoro franziu o cenho para a forma como o cozinheiro encarava seu prato de comida como se o assombrasse.
— Errada como?
Sanji balançou ainda mais a cabeça, como se forçando-se para longe de um transe, então enfiou ambas as mãos em seu cabelo e inspirou fundo.
— Nada. Mas a verdade é essa: meu mentor atrasou a gestação, a deixou mais lenta para dar mais chances do feto se curar e crescer saudável, então, ao invés de eu ficar grávido por nove meses… eu fiquei por treze, — contou por fim, ainda negando-se a olhar para Zoro.
Zoro voltou sua atenção para Kora bocejando e espreguiçando-se toda espaçosa no carrinho, seus olhinhos piscando abertos por um instante antes de fecharem de novo e ela voltar para o cochilo, totalmente alheia ao fato de que estavam conversando sobre ela e como ela havia tido sorte de estar viva.
Zoro também não sabia muito sobre bebês, mas de repente, pareceu fazer sentido o porquê ela era tão pequena.
— A bebê só tem onze meses, então?
Sanji suspirou, sua expressão finalmente suavizando pelo menos um pouco ao voltar o olhar para a filha.
— Quase doze. O primeiro aniversário dela ‘tá quase aí.
Um certo calor agitou-se no peito do alfa, aliviando toda a pressão e desconforto com a ideia de que estaria lá para o primeiro aniversário.
Ambos voltaram a comer em silêncio por mais alguns minutos, cada um preso em seus próprios pensamentos em volta da conversa, mas o pulso de Zoro não conseguia estabilizar-se, assim como não conseguia parar de focar em uma parte específica.
— Por que decidiu ficar com ela? — Perguntou baixo por fim, quase hesitante, olhar fixo em seu prato agora vazio.
Sanji terminou seu próprio almoço, então suspirou puxando o carrinho para mais perto de si até conseguir pegar a bebê de dentro, que foi para o colo do pai ainda toda mole, adormecida, mas aconchegando-se com o rosto próximo à glândula do pescoço do ômega quando ele terminou de ajeitá-la confortável em seus braços, um sorriso pequeno repleto do mais extremo afeto surgindo e iluminando todo o rosto bonito ao olhá-la de perto. Olhos azuis e úmidos de emoção passando por cada detalhe de Kora com calma, da cabeça aos pézinhos.
— Porque eu a amei no segundo que soube que ela crescia dentro de mim.
O ar travou na garganta de Zoro, seu próprio olho bom umedecendo ao tirá-lo do rosto do cozinheiro para a filha em seus braços. E foi quando ele soube.
Sendo sua filha ou não, Zoro amou Kora no segundo que ela saira daquela cesta.
﹒ꕀ⚔︎ꕀ⚔︎ꕀ﹒
Zoro e Sanji acabaram não voltando para as compras depois porque trombaram com Nami, Robin e Franky, que os contaram sobre a festa tradicional local que começaria antes do pôr-do-sol e como todos os Chapéus de Palha haviam sido convidados a participarem. Por causa disso, Sanji resolveu voltar para o navio para arrumar-se e arrumar Kora, algo que as mulheres prontamente concordaram porque também queriam. Por não estarem mais sozinhos, Zoro não conseguiu fazer mais perguntas, assim como acabou ficando mais para trás com Franky, Kora parecendo muito feliz em enfiar sua cabeça entre a cabeleira de Nami ao finalmente acordar.
Porque Zoro não via necessidade de arrumar-se para a tal festa, resolveu ir para a gávea deixar o tempo passar enquanto fazia exercício e meditava. Contudo nem sua meditação o estava ajudando a parar de pensar na conversa que tivera com o cozinheiro, na revelação dele.
Também não conseguia tirar da cabeça a revelação que tivera por si próprio e que, na verdade, ia além do amor que tinha por Kora, porque, não importava que ela não fosse dele, se Sanji quisesse, Zoro a assumiria como sua, seria um outro pai para ela sem pensar duas vezes.
Kora era de fato preciosa, parte da família e tinha um pedaço de Sanji; era tudo o que importava.
Claro, Zoro querer estava longe de ser o mesmo que Sanji querer e o cozinheiro não parecia nem perto disso. Então Zoro guardaria suas auto-revelações para si próprio e continuaria sendo o companheiro de bando que precisavam.
Quando chegaram na festa que acontecia na praia mesmo, perto o suficiente de onde Sunny estava ancorado para que ninguém precisasse ficar para trás, todos foram bem recepcionados por largos sorrisos, cidadões dançando e tocando instrumentos ao seu redor e outros oferecendo chapéus de palhas coloridos que fez Luffy rir alto de peito inteiro, aceitando um grande só para colocar em cima do seu próprio antes de aceitar o braço oferecido de uma mulher de vestido roxo colorido, duas tranças e muitas pintas no rosto e sair dançando/saltitando com ela. Chopper—em sua forma humana—também aceitou um chapéu todo feliz assim como Usopp e os dois saíram dançando igual atrás deles. Franky logo puxava Robin para dançar perto de uma das fogueiras espalhadas pela praia, o chapéu em sua cabeça parecendo pequeno demais enquanto o dela parecia muito grande. Brook correu para perto de um grupo de músicos soltando um “Yo-hohoho!” e um grupo de garotas rodiaram Nami e obrigaram-na a sentar na areia para fazerem nela as duas tranças que todas as mulheres ali pareciam usar.
Zoro estava prestes a procurar alguma bebida e sentar-se em um canto com o chapéu de palha verde que o próprio Luffy enfiara em sua cabeça, quando foi parado por algo de leve puxando sua camisa. Suas sobrancelhas franzidas arquearam-se ao perceber que era a mãozinha de Kora agarrando-se a ele do colo do pai.
— Ma! Ma! — Ela disse com grandes olhos pidões, o outro braço também esticando-se em sua direção enquanto ela se inclinava para frente.
Zoro ergueu o olhar para Sanji que estava com as maçãs do rosto vermelhas.
— Já ficou bastante com o Marimo hoje, Kora. Deixe ele ir encher a cara como tenho certeza que ele quer, — disse tentando fazer a filha soltá-lo com delicadeza, mas ela apenas fez bico e voltou a segurar sem tirar os olhos do alfa.
Todo o interior de Zoro estava aquecido com seu peito vibrando tanto que ele achava que poderia ronronar a qualquer momento.
— Pode deixar que eu fico com a bebê, cozinheiro, — disse sem hesitar, virando-se para segurá-la por baixo das axilas e puxá-la para si.
Sanji a deixou ser pega, mas ainda tentou prostestar:
— Não precisa-.
— Eu quero. E só vou ficar sentado em um canto de qualquer forma, então vai lá ajudar com a comida, vai. Vamos ficar bem, né, sobrancelhinhas? — Falou a última palavra olhando para e chacoalhando Kora, que soltou seu adorável riso de pouquíssimos dentes, já segurando os brincos de Zoro que só pôde agradecer por ela não ter puxado dessa vez.
— Ahn… okay… então, ahn. Mas, ahn, não hesite em me chamar se… precisar de algo, ok? — Zoro voltou-se para o cozinheiro com o cenho franzido, mas Sanji já afastavasse, puxando a aba do chapéu azul que usava para baixo, escondendo o rosto enquanto andava apressado e um tanto curvado para frente.
Zoro deu de ombros enquanto voltava-se para a bebê que agora tentava subir em seu peitoral para pegar seu chapéu.
— Seu pai é esquisito, né? — comentou em tom de brincadeira enquanto aproximavasse de uma das barracas que haviam montado ali.
Kora apenas riu.
Uma hora depois, Zoro tinha achado um canto confortável para sentar perto da fogueira onde Franky e Robin tinham passado muito tempo dançando, assim como ele também já tinha sido apresentado a bebida alcóolica típica da festa que chamavam de quentão e estava em seu terceiro copo enquanto Kora estava sentada no chão entre as suas pernas, usando seu chapéu de palha verde e brincando com duas das bandeirinhas que estavam por todo o lugar enfeitando a festa, cujo Robin havia pego do alto para ela ao perceber os dois grandes olhos azuis focados demais nelas, uma azul e outra rosa.
Tirando Franky e Robin, que estavam sentados logo ao lado comendo uma diversidade de coisas que haviam encontrado nas barraquinhas, todo o resto do bando estava bem espalhado, Zoro só conseguindo identificar a alta risada de Luffy de vez em quando.
Todo o resto menos Sanji, na verdade, que, depois de parecer explorar e dar toda uma volta para conhecer tudo o que tinha, decidira ficar na barraquinha logo em frente a onde Zoro estava sentado, ajudando com a preparação dos espetinhos, os quais já tinha ido duas vezes levar para Zoro comer, dando pedacinhos menores para Kora que se deliciava tanto com cada um que sempre acabava fazendo sujeira.
E porque Sanji estava bem na frente de Zoro, sempre fazendo questão de ficar no canto em que a fogueira entre eles não o esconderia de vista, o alfa não tinha culpa se não conseguia parar de olhá-lo a cada poucos minutos. Como alguém poderia não querer ficar o admirando quando ele ficava tão feliz e empolgado naquelas festas? Quando estava aprendendo sobre novos pratos? Quando estava divertindo-se e servindo as pessoas? Quando o genuíno e grande sorriso não saia de seu rosto, seus olhos mais redondos e relaxados e parecendo tão mais brilhantes?
Observar o ômega em seu elemento, fazendo o que mais amava sem qualquer peso nos ombros e máscaras esquecidas era hipnotizante.
Então Zoro bebia seu quentão, ria de algum comentário de Franky, olhava a fogueira e as pessoas dançando ao redor, dava atenção para Kora quando ela mostrava-lhe de novo as bandeirinhas, mas, no fim, seu olho sempre acabava voltando para Sanji.
Mais vezes do que não, Sanji o olhava de volta. Sustentava o olhar. Às vezes, aumentava o sorriso antes de baixar o rosto e voltar ao que fazia. Nessas vezes, Zoro quase tinha certeza de que seu coração explodiria em seu peito.
No momento, o olho azul vísivel sustentava o seu, o sorriso começando a repuxar-se mais de canto, acelerando a pulsação do alfa…
— Ma! Mai! Ih! — Kora chamou batendo a mãozinha em punho em sua barriga, fazendo Zoro ser o primeiro a desviar dessa vez. As bandeirinhas estavam no chão e ela o encarava enquanto tentava levantar-se.
— O que foi, bebê? O que quer? — Perguntou suave segurando-a com delicadeza pela cintura ao deixar seu copo de lado, ajudando-a a ficar em pé. Kora sorriu e apoiou-se contra si, parecendo quase dar-lhe um abraço antes de tentar escalá-lo. — Colo de novo? — Adivinhou e puxou-a para cima quando ela soltou um risinho como se concordasse. Kora riu ainda mais quando ele a ergueu acima de sua cabeça. Um sorriso esticou-se nos lábios de Zoro ao ter uma ideia. — O que acha de voar? — Sugeriu enquanto já a erguia mais, até onde seus braços alcançavam, então a impulsionou mais para cima, soltando-a por meros segundos antes de pegá-la de novo, só para fazê-la rir alto e esticar braços e pernas ao parecer entender a brincadeira. Então Zoro fez de novo e de novo, nunca mais alto do que alguns centímetros, parecendo mais do que um chacoalhão no ar do que qualquer outra coisa, mas o suficiente para Kora se divertir.
— Você nunca mais vai conseguir sentar direito de tanto que vou te chutar se derrubar a minha filha. — Zoro sobressaltou-se com a voz do cozinheiro surgindo do nada, pegando e puxando Kora contra seu peito em instinto, mas ao olhar para Sanji, percebeu que ele também sorria.
— Não vou derrubar a bebê, cozinheiro, — bufou mesmo assim, soltando uma exclamação de dor logo após quando Kora agarrou e puxou seus brincos.
— Isso, filha, pune o Marimo chato pelo papai, pune, — incentivou com o sorriso tornando-se maroto.
Zoro apenas bufou fechando a expressão e soltando a mão da bebê com cuidado, o que não foi difícil porque Sanji havia trazido pedacinhos de linguiça e frango para ela dessa vez, então ela logo estava focada na comida, enfiando os pedaços na boca com a própria mão, lambuzando tudo, inclusive o próprio rosto. Sanji também deu um espeto de cada para Zoro que começou a comer em silêncio enquanto observava o ômega tentar mostrar para a bebê como comer sem fazer tanta sujeira e a forma mais fácil era comendo mais devagar, mas ela só pareceu resmungar antes de pegar mais pedaços do prato e enfiar tudo na boca até encher as bochechas.
— Você vai acabar se engasgando assim, Kora! — O cozinheiro suspirou exasperado, olhos ligeiros e atentos para qualquer sinal dela estar se engasgando de fato.
Zoro soltou um risinho antes de colocar todos os pedaços de linguiça do espeto na boca, mastigando apenas ao estar com as bochechas cheias.
O olhar exasperado de Sanji subiu para ele.
— Você eu espero que engasgue! — disse, mas não tinha nenhum peso por trás, então Zoro só mastigou com mais afinco, até conseguir engolir um pouco para começar a comer o de frango mesmo ainda com linguiça na boca. — Seu bruto sem modos! — reclamou e curvou-se em direção a Zoro até passar o dedão no canto de sua boca como se limpando algo, o que fez o olho do alfa arregalar e sua boca parar de mastigar por completo. — ‘Tá até fazendo sujeira também, — comentou como se nada tivesse acontecendo e levou o dedão até a própria boca, distraído. Até travar com os próprios olhos arregalando e pele avermelhando. — Okay, preciso voltar! — Anunciou rápido no segundo seguinte e levantou-se com o prato vazio depois de dar um ligeiro beijo na cabeça de Kora e voltar quase correndo para a barraca.
Zoro terminou de comer seus espetos com o coração acelerado, pele quente e cabeça a mil, focada nos lábios pulsando onde o dedo de Sanji passara. Mal notou quando Kora caiu no sono entre suas pernas.
Sanji não olhara mais em sua direção.
Zoro terminou seu quentão observando o fogo da fogueira crepitar.
— Podem cuidar dela por uns minutos? — Pediu para Robin e Franky ao levantar-se com a bebê quase uma hora depois. Ela ainda dormia e todos os quentões que Zoro tomara—mais três desde então—estavam implorando para sair.
Robin deu um pequeno sorriso, já pegando Kora dos braços do outro alfa enquanto Franky esticava os braços para cima.
— Supeer! Kora-sis ‘tá em ótimas mãos, bro! — disse por ambos e Zoro apenas assentiu breve antes de sair correndo na direção oposta, indo para longe da festa até sair da praia e começar a adentrar na floresta, aliviando-se na primeira árvore que encontrou.
Porque não queria voltar a pegar a bebê com as mãos sujas, mas não tinha fonte de água alguma por perto, Zoro ficou esfregando as palmas em sua calça enquanto voltava, olhando ao redor em busca de uma melhor fonte de limpeza, até ver umas folhas grossas com água parada em cima, derrubando-a em uma mão antes de esfregar ambas e estava secando-as em seu haramaki quando algo puxou-o por trás.
Zoro colocou a mão na bainha de Wado em instinto, mas viu cabelo loiro e sobrancelha encaracolada no segundo em que se virou, relaxando.
— Curly, o q-.
Arfou surpreso quando a boca de Sanji pressionou-se contra a sua, uma mão do cozinheiro firme em sua cabeça, mantendo-o no abrupto beijo enquanto a outra mantinha-se agarrada ao seu haramaki, puxando-o para trás de uma árvore até empurrar Zoro contra uma. Zoro que não pensara em nada, apenas retribuiu o beijo na mesma intensidade quase desesperada com que era beijado, ambas as suas mãos úmidas afundando-se nos cachos loiros, puxando o ômega para mais perto.
Porque Sanji mal havia fumado o dia todo, seus feromônios muito doces e excitados estavam nítidos, influenciando os de Zoro a responderem na mesma medida enquanto seu pau ficava mais e mais duro conforme o beijo intensificava. Um beijo molhado e cheio de dentes e entrecortado apenas pelas respirações pesadas e que começaram a pesar ainda mais quando Sanji colou completamente contra o do alfa e começou a esfregar-se nele, mostrando o quanto também estava excitado.
— Zoro… — gemeu arfado ao afastar as bocas, afastando o rosto o suficiente para Zoro ver o quanto as pupilas engoliam o azul, saliva ainda os conectando enquanto suas respirações misturavam-se.
— Cozinheiro, o qu-.
Novamente, Zoro foi interrompido por um beijo de tirar-lhe o folêgo, mas dessa vez foi mais curto e, quando afastou-se de novo, havia ardente desejo nos olhos de Sanji.
— Posso te chupar? — Perguntou baixo, lábios roçando, encarando-o por sob os cílios grossos. O coração de Zoro deu um salto na garganta, o sangue correndo tão rápido por suas veias que estava deixando-o tonto, a mente nublada. — Por favor…, — gemeu ao esfregar-se mais uma vez nas pernas do alfa, que não conseguiu conter um profundo grunhido.
Sem conseguir encontrar palavras—boca parecia seca e língua pesada demais para isso—, Zoro agarrou Sanji pelo cabelo na nuca e começou a forçá-lo para baixo, o cozinheiro logo indo por conta própria até ajoelhar-se à sua frente, olhos famintos ainda fixos no rosto do alfa enquanto as mãos ágeis tiravam o haramaki da frente, abrindo a calça, descendo-a o suficiente para o pau comprido e grosso já pular endurecido para fora, foi só aí que o ômega desceu o olhar, fixando-o no membro com aprovação, língua umedecendo os lábios antes dele aproximar e plantar um beijo na cabeça.
A respiração de Zoro travou e ele soltou o cabelo para fincar ambas as mãos na árvore atrás de si, indo contra seu instinto de agarrar a cabeça de Sanji e fazê-lo engoli-lo até o talo, deixar sua boca e garganta serem fodidas e manter o pau aquecido e confortável lá dentro até o nó sair por completo.
Zoro não podia fazer nada daquilo. Não faria. Era melhor que Sanji ficasse no controle.
Como se entendendo o que Zoro queria, Sanji assentiu minimamente e segurou a base de seu pau com uma mão enquanto apoiava-se em uma coxa do alfa com a outra. De início, ele apenas masturbou-o lentamente, olhos fixos e fascinados no pré-gozo que começou a sair da ponta, cujo ele não demorou a começar a limpar com a língua. Então Sanji envolveu a cabeça com os lábios e sugou.
— Ah, porra, — Zoro gemeu sem conseguir impedir seu quadril de estocar para frente.
O cozinheiro sorriu sem tirar a boca do pau, que escorregou para envolver mais alguns centímetros, língua parecendo acariciar a cabeça enquanto a mão mantinha-se firme na base, as unhas curtas da outra quase fincando na coxa. Sanji sugou mais algumas vezes, arrancando mais pré-gozo e suor de Zoro antes de tirar a boca com um som molhado, olhos encontrando com o do alfa, um brilho divertido por trás ao começar a bater-lhe punheta.
— Quero que goze na minha garganta, — pediu com a voz mais rouca e Zoro mal pôde assentir, com líquido quente engrossando em seu baixo abdômen com as meras palavras. Sanji tirou a mão para passar a língua por toda a extensão, da base à cabeça, da cabeça à base, contornando o relevo das veias mais grossas e pulsantes, olhos nublados acompanhando o movimento, até voltar a fechar os lábios ao redor da cabeça e sugar mais e com mais afinco. De novo, o quadril de Zoro estocou para frente e, dessa vez, Sanji relaxou o queixo para que mais do pau entrasse com o movimento.
Mas não parou ali, ao invés, desceu mais e mais a cabeça, fazendo seus lábios esticarem no limite, até a cabeça bater contra a entrada da garganta e lágrimas escaparem seus olhos.
O coração de Zoro agitou-se preocupado.
— Sanji, ‘cê não preci-. — Dessa vez, Zoro foi cortado por um firme olhar, mais lágrimas escorrendo antes dele tirar todo o pau da boca.
— Eu aguento, Marimo, — disse quase ríspido e voltou a engolir o máximo do pau que conseguia, segurando o resto da base com a mão, antes de começar a sugar fazendo o movimento de vai-e-vem com a cabeça.
Zoro fincou ainda mais os dedos na árvore, controlando-se para não estocar o quadril enquanto o buraco quente e molhado de Sanji estava levando seu sangue à combustão, todo o prazer líquido atravessando seu corpo em curtos e súbitos choques. Zoro grunhiu fundo e estocou para frente sem querer quando Sanji voltou a envolver a língua esperta, sugando-o com um pouco mais de afinco.
O ômega pareceu sorrir satisfeito ao olhá-lo lá de baixo. Um olhar que manteve, forçando Zoro a sustentá-lo de volta, a ver como seus lábios se esticavam para envolver seu pau, como suas bochechas sugavam, o contorno dele querendo passar pela garganta. Até as lágrimas escorrendo nos cantos dos olhos pareciam atraentes e faziam-o vibrar por sob a pele, ainda mais por saber que muito mais lágrimas escorreriam se ele deixasse seus instintos vencerem e fodesse até a garganta do cozinheiro ali naquela floresta, com a música e as risadas de seus companheiros há poucos metros de distância.
Zoro sibilou em um gemido quando Sanji escorregou a mão da base do pau para as bolas, começando a massageá-las enquanto intensificava a sucção e os movimentos com a cabeça. Em instantes o bulbo começou a inchar, o que só encheu o olhar do ômega com ainda mais determinação.
Sanji pareceu tentar abrir ainda mais a garganta para engoli-lo por completo e isso bastou para Zoro explodir sem aviso.
— Merda! A-ah! Porra! — As pernas de Zoro tremeram com uma rajada de choque atravessando sua espinha quando Sanji engoliu todo o gozo, sugando e então lambendo a cabeça para não desperdiçar gota alguma.
Foi só após ter certeza de que nada mais sairia do bulbo inchado, que Sanji deixou todo o pau escorregar para fora, fazendo Zoro estremecer com o súbito frio, gemendo baixo em protesto. Um protesto que logo foi engolido por Sanji o beijando como se nunca tivesse parado, seu gosto na língua dele só intensificando a tontura no corpo agora mole e extasiado do alfa.
Mesmo assim, o alfa ainda estava bem ciente de quão duro o ômega ainda estava.
Zoro levou uma mão para o meio das pernas de Sanji, disposto a retribuir o favor, mas o loiro sacudiu a cabeça em negativa sem parar o beijo e afastou sua mão pelo pulso, só para ajeitar sua virilha na coxa de Zoro e começar a esfregar-se contra ela. Logo ele esfregava-se tão rápido e desesperado que não conseguiu manter o beijo, baixos e trêmulos gemidinhos escapando ao invés, até seu corpo inteiro estremecer de súbito, caindo mole nos braços do alfa que envolveu-o protetor.
O aroma de ambos e o cheiro de sexo estava agudo, vibrando na traquéia e pulmões, lábios e língua formigando tanto quanto quase todos os membros de Zoro, que manteve todo o corpo trêmulo de Sanji contra si, braços ao redor da cintura estreita, pernas entrelaçadas, mãos esbeltas e tão bem cuidadas agarrando-se à camisa do alfa enquanto a respiração saia rápida e pesada, batendo contra sua garganta, cabeça loira contra o ombro. Como o alfa foi o primeiro a recompor-se, pôde aproveitar o ômega em seus braços; seu cheiro, a textura da pele, o peso do corpo. Até atreveu-se a apertá-lo um pouco mais contra si, uma mão subindo para fazer um suave carinho na nuca ao notar que Sanji já estava mais estável.
Tudo isso enquanto perguntava-se o que aquilo significava.
A última noite na Ilha dos Homens-Peixe não havia sido a última vez?
Então Sanji começou a tentar afastar-se, a fazer Zoro soltá-lo, sem sucesso.
— Cozinheiro…
— Desculpa! Desculpa, isso… Ah, merda, merda! — Disse com a voz um tanto chorosa, mãos indo para o cabelo.
Zoro tirou os braços do seu redor apenas para segurar seus pulsos com delicadeza. O coração batia rápido e agoniado na garganta, mesmo assim manteve a calma, os ferômonios estáveis, a voz firme:
— Ei, curly. Para com isso, — pediu, mas os ferômonios do ômega continuaram a ficar agitados.
— Desculpa, eu não devia ter feito isso, — disse por fim, rosto baixo encarando as mãos que o outro segurava.
Zoro travou o maxilar, mãos fechando um pouco mais ao redor dos pulsos.
Eles nunca se desculpavam assim um com o outro.
Ouvir aquilo e em como o cozinheiro soara pequeno deixou um gosto ruim na boca de Zoro que ia além da pontada em seu peito.
Ele soltou os pulsos e cruzou os braços.
— Não precisa ter significado nada, cozinheiro, nem acontecer de novo. Só não se desculpe, — disse com olho firme nos azuis que arregalaram um pouco antes de desviarem para o lado.
Poucos segundos depois, Sanji assentiu fraco e começou a ajeitar seu cabelo e roupa.
— Certo, — disse sem emoção, seu olhar indo para baixo por um instante. — Guarde isso antes de voltar pra festa, Marimo. — E saiu andando sem olhar para trás até desaparecer de vista.
Zoro suspirou, uma mão indo coçar a testa enquanto encarava o chão, até entender o significado das últimas palavras dele e rapidamente guardar o pênis e fechar a calça.
Porque não valeria apena ficar se corroendo ali no meio do mato, ele voltou para à praia, para à festa junto aos seus companheiros—levou um pouco mais para encontrá-los do que achava que levaria, mas tudo bem—sendo imediatamente recepcionado por Luffy pulando em seus ombros, rindo.
— ‘Tava perdido no mato, Zoro? — caçoou pendurado em si com pernas ao redor da cintura e tudo.
Zoro só deu um leve tapa em seu chapéu original.
— ‘Tava mijando e eu não me perco!
Luffy riu alto e saiu pulando para o outro lado, trombando com Usopp e Chopper no meio do caminho.
Zoro estalou a língua balançando a cabeça e procurou por Robin e Franky com a intenção de pegar Kora de volta, mas os dois tinham voltado a dançar ao redor da fogueira e, ao invés, encontrou a garotinha dormindo no colo do pai não muito longe deles.
Seu coração agitou-se, parecendo querer escapar do peito e ir até eles.
— Ei! Zoro! Vem cá, ‘cê vai gostar disso. — Nami falou entrando na frente e já puxando-o para o lado oposto sem nem perguntar se ele queria. Mas ele deixou-se ser levado sem reclamar já que parecia melhor do que só ficar ali parado olhando pai e filha como um idiota.
No fim das contas, Zoro realmente gostou do que Nami queria lhe mostrar, já que se enfiou em uma competição de beber quentão que o ajudou a pagar uma pequena parcela de sua sempre-aumentando-dívida com a navegadora, assim como deu-lhe uma bela distração e ele nunca faleria não para encher a cara de álcool.
Quentão era bom e esquentava bem por dentro, mas nada comparado ao calor da esperança desabrochando e expandindo em seu peito.
A esperança de que poderia demorar, poderia dar trabalho, poderia ser um grande desafio do qual Zoro nunca se afungentaria, mas a chance dele poder conquistar Sanji existia.
Aquele dia inteiro parecia ter sido uma prova de que o cozinheiro teimoso poderia ser seu um dia.
Zoro seria um idiota de não pelo menos tentar.
Notes:
O que estamos pensando?🥹 Gostaria de saber de tudo, por favor! hehe
Me contem nos comentários o que vocês acharam deste capítulo, de Zoro e Kora, Zoro e Kora e Sanji e bem... há uma esperança renovada para o Zoro😌 então vocês /precisam/ me dar suas previsões sobre isso hehe adoro ler suas previsões e teorias heheEnfim, OBRIGADA por ler, espero que tenham gostado!! Muito obrigada e espero ver vocês no próximo em ~15 dias 🥰
Aliás, comecei uma playlist para esta fanfic no Spotify e adoraria que vocês recomendassem músicas! Gostaria que essa playlist se tornasse nossa :3 Playlist de NHNEN
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P.S.: O tamanho desta fanfic aumentou! Em vez de 15 capítulos + epílogo, agora serão 16 capítulos + epílogo porque decidi transferir o final do capítulo 9 para o início do capítulo 10 (principalmente porque duas cenas não planejadas foram adicionadas ao capítulo 9, tornando-o maior kkkk) e também decidi que um grande evento/cena importante deve acontecer no capítulo 10 depois da outra e bem... um capítulo totalmente novo! 😅 (Todas essas cenas vão melhorar a fanfic, prometo, porque, vocês sabem, mais da Kora 🤭 Nada crítico está saindo do planejado, não se preocupem, apenas senti que era necessário para o fluxo da história)

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Yoshiiwithshii on Chapter 1 Sat 05 Jul 2025 08:14PM UTC
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starrystorytelling on Chapter 1 Mon 07 Jul 2025 02:21PM UTC
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Retsu9 on Chapter 1 Sun 06 Jul 2025 11:31PM UTC
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starrystorytelling on Chapter 1 Mon 07 Jul 2025 02:23PM UTC
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Nicol (Guest) on Chapter 1 Fri 11 Jul 2025 01:44AM UTC
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starrystorytelling on Chapter 1 Fri 11 Jul 2025 10:17PM UTC
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Udhdfhgffgffgrueii8383 on Chapter 1 Mon 14 Jul 2025 04:57AM UTC
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starrystorytelling on Chapter 1 Tue 15 Jul 2025 11:33PM UTC
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Udhdfhgffgffgrueii8383 on Chapter 1 Wed 16 Jul 2025 12:07PM UTC
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Linina16 on Chapter 1 Tue 28 Oct 2025 10:17AM UTC
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LuinyFernn on Chapter 1 Wed 29 Oct 2025 04:24AM UTC
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LuinyFernn on Chapter 1 Wed 29 Oct 2025 04:25AM UTC
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Jass_27 on Chapter 2 Sat 19 Jul 2025 08:33PM UTC
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starrystorytelling on Chapter 2 Tue 22 Jul 2025 12:23AM UTC
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Nicol (Guest) on Chapter 2 Sun 20 Jul 2025 03:24AM UTC
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starrystorytelling on Chapter 2 Tue 22 Jul 2025 12:24AM UTC
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Yoshiiwithshii on Chapter 2 Sun 20 Jul 2025 02:41PM UTC
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starrystorytelling on Chapter 2 Tue 22 Jul 2025 12:24AM UTC
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jolynecatgirl on Chapter 2 Sun 26 Oct 2025 05:25AM UTC
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pêssegos (starrystorytelling) on Chapter 2 Mon 27 Oct 2025 10:58PM UTC
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Linina16 on Chapter 2 Tue 28 Oct 2025 02:14PM UTC
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qiqilook on Chapter 3 Sun 03 Aug 2025 08:54PM UTC
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pêssegos (starrystorytelling) on Chapter 3 Fri 08 Aug 2025 07:01PM UTC
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Magrrie on Chapter 3 Wed 01 Oct 2025 02:04AM UTC
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peaches (starrystorytelling) on Chapter 3 Sat 11 Oct 2025 12:54AM UTC
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Linina16 on Chapter 3 Tue 28 Oct 2025 02:53PM UTC
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Yoshiiwithshii on Chapter 4 Sun 28 Sep 2025 04:28PM UTC
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DaylightDark on Chapter 4 Tue 30 Sep 2025 10:15AM UTC
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Magrrie on Chapter 4 Wed 01 Oct 2025 02:59AM UTC
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peaches (starrystorytelling) on Chapter 4 Sat 11 Oct 2025 12:55AM UTC
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Magrrie on Chapter 5 Sun 19 Oct 2025 12:09PM UTC
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peaches (starrystorytelling) on Chapter 5 Tue 21 Oct 2025 02:17PM UTC
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Hanna (Guest) on Chapter 5 Fri 24 Oct 2025 05:34PM UTC
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pêssegos (starrystorytelling) on Chapter 5 Sat 25 Oct 2025 01:19PM UTC
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Linina16 on Chapter 5 Tue 28 Oct 2025 04:26PM UTC
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