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Moon Seoyoon não tinha a chave do apartamento de Lee Chaewon, mas o porteiro do condomínio de luxo, deixou-a entrar mesmo assim. Aquele era um privilégio que muitas vezes ela não se orgulhava em ter, mas o fato de ser herdeira de um dos maiores conglomerados da Coreia do Sul facilitava em muito a vida da Moon.
Era irônico o fato de Seoyoon ter tanto poder e influência mas não poder sequer mandar em seu coração. Ela amava Lee Chaewon, ainda que sequer fossem namorados. Não sabiam sequer definir qual era o status da relação, que começou em uma simples festa da Versace. Em meio aquele panteão de semideuses jovens e bonitos, a modelo que atendia com o nome artístico de Annie Moon, encontrou Chaewon, que não era somente bonito, mas também um homem com charme e lábia. Uma lábia capaz de encantar até o diabo, mas Annie não pareceu se importar.
Era quase um milagre achar alguém interessante, sem ser vazio, naquela festa cheia de gente bonita, mas fútil. E o papo do rapaz era interessante até demais, já que ele deixou escapar que já tinha sido vendedor na periferia, até uma olheira de uma agência recrutá-lo como modelo.
O Lee era um rapaz tão interessante, que trocaram telefone e passaram a sair mais vezes. E Annie acabou por conhecer o lado feio daquele rapaz tão bonito, que enfrentou abusos da sua ex-agente.
Seoyoon queria curá-lo, mas não era possível, já que Chaewon várias vezes quis manter uma certa distância dela.
Eram namorados? Definitivamente não. Eram amantes? Talvez, ainda que Seoyoon achava que era algo mais profundo do que isso, mesmo que houvesse uma grande chance dela estar se iludindo.
Seoyoon respirou fundo antes de apertar o botão do elevador que levava para o último andar, a cobertura alugada por Chaewon. No seu reflexo no espelho, estava bem arrumada, com uma saia lápis e um um casaco de caxemira.
Quando a porta do elevador abriu, a imagem perfeita de Seoyoon fez um contraste perfeito com o cenário caótico que surgiu atrás dela,
A porta da entrada do único apartamento do andar estava aberta. Era possível ver parte do lixo da festa invadindo o corredor, com vários copos plásticos e garrafas de bebidas espalhadas pelo chão.
— Seoyoon? — O Lee apareceu no corredor, sem camisa e apenas de calça de moletom, trôpego de tão bêbado, ao ponto de se apoiar na parede para poder caminhar. — Você chegou tarde…
— Não era nem pra eu ter vindo… — Ela afastou o nariz ao sentir cheiro forte de álcool. — Que nojeira…
— Que eu saiba você gosta muito dessa minha boquinha…
— Odeio ver você assim…
— Você veio só pra me humilhar?
— Na verdade eu vim porque sou idiota. Queria ver com meus próprios olhos o quão otária eu sou.
— Seoyoon…Eu não fiquei com ninguém, juro.
— Não interessa se você me traiu ou não. Até porque nem somos namorados…
— Eu queria te assumir, mas sua mãe não deixa…
— E nem eu quero namorar alguém que fica nesse estado.
— Você só não assume o nosso namoro porque nao quer ver as ações da mamãe caindo. Não quer perder a boquinha, né?
— Eu não assumo por amor a minha carreira, que eu conquistei com meus próprios méritos.
— Sendo nepobaby. — Ele riu.
— Você sabe como foi dificil eu debutar
— Mas você já era rica. Sempre teve de tudo….
— menos o apoio da minha família
— Você não sabe o que é passar fome. — Ele girou em torno de si mesmo. — Querer comprar tudo isso e não conseguir.
— E você joga todo esse esforço fora assim, de graça?
— Não é jogar fora…Mas sim aproveitar a vida!
— Você é muito deslumbrado com a fama.
— Somos muito diferentes, Annie…
Chaewon a chamou pelo seu nome em inglês, e aquilo doeu, porque foi como se ele quisesse evidenciar a diferença.
— Você está mesmo bêbedo? Ou tá fingindo que sim?
— Acho que o efeito já está passando.
— Que ótimo, porque vou poder terminar o nosso namoro, ou sei lá o que isso seja, e você não vai poder falar que não sabia.
— Vai querer terminar?
— Sim, Chae. Por mais que eu te ame, não posso ficar com alguém que vai pro fundo do poço e quer me levar junto.
— É isso que eu sou pra você? Uma âncora?
— Basicamente sim. E eu sou Annie Moon, com uma linda carreira pela frente.
— No fundo você é igual a sua mãe… Quer alguém só pra humilhar.
— Ache o que quiser… Mas você não pode dizer que não tentei.
Seoyoon segurou o choro e correu pro elevador. Não queria chorar na frente dele.
Talvez fosse mesmo uma pessoa mesquinha, que se importava com a falsa aparência de forte, como sua mãe.
Contudo, Seoyoon não queria destruir sua própria fama, a qual ela demorou muito para construir por conta própria, já que muitos questionavam sua capacidade.
E agora, que finalmente tinha calado a boca de todos comentários maldosos, não daria mais munição para a machucarem
Já estava ferida o suficiente, porque amava muito Chaewon, e era triste saber que o amor que sentia por ele não era o suficiente para salvá-lo.
[...]
Para Seoyoon, a melhor maneira de ocupar a mente era trabalhando e foi isso que ela fez durante toda a alta temporada de desfiles. Desfilou na semana de moda de Paris, de Milão, e depois voltou à Coreia do Sul. Resolveu ficar alguns dias na casa da sua família.
Mesmo que não sentisse falta da sua mãe, sentia falta da sua irmã mais nova, Seojin, que a tratava como uma super-heroína por peitar seus pais e ir atrás dos seus sonhos.
— Bom dia, unnie! — Seojin a cumprimentou com felicidade ao ver a irmã chegando pra tomar café da manhã.
— Bom dia, pequena. — A mais velha deu um beijo na testa da caçula e sentou-se em um lugar vago na mesa.
Seoyoon assustou-se ao ver que a sua mãe, Chung Yoo Kyung, ainda estava sentada na mesa, tomando seu café. Em um dia normal, ela já teria ido trabalhar.
— Não vai me cumprimentar, Seoyoon?
— É que eu achei que você já tinha ido trabalhar.
— Já era pra eu ter saído, mas queria ver sua cara com a manchete da manhã.
— Você sabe que eu não acesso portais de notícia, mãe.
— Mas deveria, já que é de seu interesse. — A mulher desbloqueou a tela de um tablet e entregou à filha.
Mesmo a contragosto, Seoyoon começou a ler a manchete principal do portal de notícias, que dizia: O modelo Lee Chaewon é levado às pressas ao hospital.
— Que bom que você se livrou desse cara drogado. — Yoo Kyung fez questão de se deliciar com um gole de café enquanto a filha lia a notícia.
Seoyoon terminou afastou o tablet após ler toda a notícia, e levantou da mesa sem dizer nenhuma palavra.
— Aonde você vai? — Perguntou Yoo Kyung.
— Ver o Chaewon no hospital.
— Não vou abandonar um amigo em um momento tão difícil.
— Me poupe da sua compaixão com esse tipo de gente…
— É bom saber que somos bem diferentes. — Seoyoon falou antes de dar meia volta e seguir em direção ao quarto.
— Se você for mesmo, não precisa mais voltar.
— Unnie! — Seojin gritou com voz de choro.
A voz chorosa da irmã foi a única coisa que fez a mais velha voltar.
— Calma, Seo. — Ela a tranquilizou com um afago na cabeça. — Eu tenho minha própria casa.
— Aproveite e leve suas coisa. — Falou a matriarca.
— Claro, hoje mesmo levo minha mala.
Seoyoon não teve pressa pra terminar de tomar banho e arrumar sua mala. Na verdade, Seoyoon só pegou seu pijama e seus itens de higiene pessoal, e deixou algumas roupas para trás. Já que Seojin tinha gostado de seus croppeds e saias, ela resolveu deixar a roupa pra sua irmã, como uma forma também de enlouquecer sua mãe conservadora.
Seoyoon soltou uma risada ao imaginar a cena, e colocou seus itens na sua bolsa da Louis Vitton, e dirigiu com seu carro de luxo em direção ao hospital do centro de Seul.
A entrada estava cheia de paparazzis, mas ela conseguiu burlar todos ao entrar pela garagem e estacionar seu carro.
Seoyoon comprou um café na lanchonete do hospital, e esperou dar ali até dar o horário de visitas.
Sua entrada foi liberada e Seoyoon entrou no quarto onde estava Lee Chaewon, todo encolhido em seu leito.
— Seoyoon? — Ele falou enquanto piscava os olhos. — É você?
— Sim, eu vim te ver.
— Você foi a única. — Lágrimas escorreram. — Nem meu empresário veio me ver…
— Eu sinto muito, Chae…Mas saiba se quiser mudar, de verdade, eu estou aqui.
— Eu quero mudar. Eu preciso, e vou mudar.
— Que bom ouvir isso… Eu estou aqui pra te ajudar, ainda que não possa fazer tudo por você.
— Você é boa demais pra mim…Não sei se mereço.
— Você merece a felicidade, ainda mais depois de tudo que passou. — Seoyoon entrelaçou os dedos no cabelo encaracolado de Chae, assim como fazia nos momentos mais íntimos. Ele beijou os dedos de Annie, como forma de retribuir o afeto. Os dois ficaram ali, em silêncio, até uma enfermeira chegar e explicar os cuidados que teriam que ter ali pra frente.
No final das contas, Seoyoon aprendeu que o amor não era o suficiente para mudar uma pessoa, mas sim, era um elemento essencial para apoiá-la até o fim.