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O Início do Fim
Quando uma criança completa quatro anos, o mundo segura a respiração.
É nesse dia que, quase como um destino inevitável, as individualidades despertam.
Quase todas as crianças.
No meu aniversário de quatro anos, eu fiquei sentada na sala de casa, com os olhos brilhando de expectativa. Esperava algo, qualquer coisa: uma faísca, um sopro de vento, um brilho na pele. Mas nada aconteceu.
Silêncio.
Meus pais trocaram olhares que eu não entendi na hora. Primeiro, parecia preocupação. Depois… decepção.
"Talvez só esteja atrasada…" minha mãe disse, com um sorriso forçado.
"Ou talvez ela seja inútil." meu pai respondeu seco, pensando que eu não ouviria.
A partir daquele dia, o mundo mudou.
Eles diziam que estavam me protegendo, mas, na verdade, era o oposto. Não me deixavam sair, não deixavam que eu sonhasse, não deixavam que eu vivesse. Ao mesmo tempo, ignoravam meus pedidos, minhas lágrimas.
E o pior de tudo foi meu irmão.
O mesmo irmão que, quando bebê, jurava me proteger, se tornou meu maior carrasco. Cada dia, socos e chutes. Eu implorava ajuda, mas meus pais apenas desviavam o olhar.
"Isso é para o teu bem, a vida real é muito pior" diziam, como se a dor fosse uma lição.
Na escola não era diferente. Crianças riam de mim, quebravam meus materiais, empurravam meu corpo pequeno contra as paredes. Eu já tinha ossos fraturados com apenas seis anos. E quando tentei buscar refúgio nos professores, encontrei monstros piores que as crianças.
Um deles quase… quase fez algo imperdoável. E ninguém acreditou em mim.
Eu tinha seis anos quando o inferno mostrou um novo rosto.
Era fim de tarde quando voltei da escola, mais machucada que de costume. Esperava os gritos de sempre: "por que demorou?", "você é um peso!".
Mas, ao entrar, encontrei silêncio.
E sangue.
O chão da sala estava manchado de vermelho, ainda fresco. Arregalei os olhos e corri, o coração batendo como nunca. Encontrei meus pais e meu irmão ajoelhados em um canto, tremendo.
Diante deles, um homem alto segurava uma arma.
"Finalmente, a inútil chega." minha mãe sussurrou, a voz embargada.
O homem ergueu a arma, mas antes que eu pudesse reagir, ouvi algo que congelou meu corpo.
"Por que não leva ela em vez de nós?" meu pai implorou.
"Ela não tem quirk, não serve pra nada"
Meu irmão reforçou:
"Ela é só um peso. Ninguém vai sentir falta"
Aquele foi o instante em que percebi: não havia amor algum. Nem proteção. Eu nunca fui filha. Nunca fui irmã.
Eu era apenas um fardo.
O homem sorriu de canto.
"Por que escolher?" ele disse, e atirou.
O estampido ecoou. Eu gritei. O sangue respingou em mim. Minha família caiu sem vida.
O mundo parou.
Antes que eu pudesse correr, o homem se virou para mim. Suas mãos eram firmes demais, suas drogas rápidas demais. Um líquido queimou minhas veias e tudo ficou escuro.
=Lugar desconhecido=
Quando acordei, não estava mais em casa.
Luzes brancas ofuscavam minha visão. Eu estava deitada numa mesa de metal, braços e pernas presos por correias. O cheiro de desinfetante e sangue impregnava o ar.
"Onde… onde estou?!" minha voz saiu trêmula, desesperada.
"Socorro! Alguém, por favor!"
A porta se abriu e dois homens de jaleco entraram.
Eles não pareciam médicos. Seus olhos brilhavam com algo doentio, quase como entusiasmo.
"Veja só, uma quirkless tão rara…" um deles comentou.
"Perfeito para nossos experimentos." o outro sorriu.
Eu me debati, chorei, gritei até a garganta arder.
Mas não adiantou.
Aos seis anos, descobri que meu sofrimento estava apenas começando.
A vida que eu conhecia tinha acabado, e dali em diante…
eu não seria nada além de um rato de laboratório.
;)