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1930 — Manicômio Púbere (Statehumans)

Summary:

⊹ ࣪ ˖ ⋆˚꩜。⟡ ݁₊ .

𝟷𝟿𝟹𝟶 ( mᥲᥒіᥴômі᥆ ⍴úᑲᥱrᥱ )

30 é o que foi feito pra quebrar, tanto que, em 1930, onde seria o primeiro dia de aula no ensino médio para o representante de São Paulo, João Vicente Kazuya- ou só chamado de Paulo - foi cancelado e adiado para que ele pudesse controlar as revoltas no seu estado. Vinte anos depois, agora sim, seria seu primeiro dia no terceiro ano do ensino médio, só que todos os olhares estão vidrados em você, até três deles que mudam a história.. 𝙊 𝙩𝙤𝙥𝙤 𝙙𝙖 𝙝𝙞𝙚𝙧𝙖𝙧𝙦𝙪𝙞𝙖 𝙧𝙚𝙖𝙡𝙢𝙚𝙣𝙩𝙚 𝙩𝙚 𝙖𝙙𝙤𝙧𝙖, 𝙎𝙋..

⋆˙⟡ - 𝐎𝐬 𝐚𝐯𝐢𝐬𝐨𝐬 𝐝𝐚 𝐡𝐢𝐬𝐭𝐨́𝐫𝐢𝐚 𝐞𝐬𝐭𝐚̃𝐨 𝐧𝐨 𝐩𝐫𝐞𝐟𝐚́𝐜𝐢𝐨
- a história é sobre Statehumans, se não gosta, não leia
( Yootqka & Mr.A )

Notes:

Hallo meus caros leitores ^_^!

Bom antes de ler, essa é uma história autoral que é criada de uma AU de Statehumans (infelizmente o AO3 não possui tags para SH, falando nisso, essa fic também está no wattpad caso queiram ler lá! Username : Yootqka).

A AU — Entre Regiões — Os estados são humanos e possuem uma deformação genética que faz eles serem conectados ao solo/ao seu território. No universo deles a mutação faz eles serem representantes, que num resumo muito básico seria presidente do seu território ou a encarnação viva do seu território.

Isso foi um resumo muito básico okay! Não da para explicar todo o universo etc.

Já deixamos claro que não apoiamos e nem passamos pano para as decisões dos personagens. Não apoiamos qualquer tipo de preconceito nem discriminação!

A criadora da AU é a Yootqka, eu apenas me responsabilizo pela postagem aqui no AO3! (Além de escrever também né).

Perdão por falar demais! Aproveitem!

(See the end of the work for more notes.)

Chapter 1: Antes da Escola

Chapter Text

 

"Minha cabeça dói,dói muito. Parece como se eu fosse explodir.

 

Eu nesses estados do sono já começo a ouvir vozes e alucinar horrores.

 

Eu me sinto preso num espaço branco, vazio e sem ninguém. Como se fosse um lugar entre o céu e a terra.. e com um cheiro de fogo.

 

Hm..? 

 

. . . 

 

 

“ Você realmente precisou queimar pra brilhar. Não é, João Vicente ? “

 

Huh? Como assim? Espera!–"

 

{ dois de janeiro, 1950 }

 

SP P.O.V

 

Aff.. que desgraça, que inferno! . Desde quando eu preciso colocar três doses de insulina no meu pescoço pra tentar parar de ouvir vozes? Acho que desde eu comecei a berrar por causa delas e quando meu pai me chamou de débil mental por estar falando sozinho. Tanto faz. Eu não quero resetar meu cérebro ou ficar me contorcendo no chão com umas, sei lá , quatro doses disso ou de metrazol. Além dessa desgraça ter me chamado pelo meu nome, odeio meu nome. Eu quero que todo mundo me chame pelo meu nome de representante, eu já sou um mesmo. Pra que serve ser o representante de São Paulo sendo que todo mundo te chama de Vicente?

 

Minha mãe disse que da última vez que eu injetei metrazol para parar as vozes eu caí no chão e fiquei me remoendo, igual uma lombriga mas babando como um cachorro com raiva . Ela e meu pai precisaram me segurar para eu não bater minha cabeça contra o chão e me mandaram calar minha boca quando eu quase tentei gritar

 

Pelo menos eu não lembro de nadinha! E consegui dormir igual um bebê depois disso. Mas foda-se, ninguém liga. Mas essa voz tá certa, se eu soltar esse cigarro e dormir, talvez eu não fique tão acabado assim no meu primeiro dia de aula. Talvez eu fique mais tranquilo

 

Eu ainda percebia a ponta em chamas entre meus dedos, parecia bom um pouco. Mas era teimosa a sensação de continuar acordado , eu precisava ter pelo menos uma cara de quem não dormiu às quatro horas da manhã, era o mínimo.Era uma necessidade parecer minimamente normal, mesmo que não fosse.

 

Eu sempre fui.. estranho? Eu era um famoso “aborrecente “ ou só simplesmente problemático desde pequeno. Nunca estudei em uma escola, sempre aprendi em casa. Minha mãe não confiava em professores ou em alunos, mas com o passar do tempo, ela percebeu que o filho dela era um demônio e parou de se importar comigo. É a vida 

 

Ah, talvez, não seja tão ruim assim amanhã..

 

A sonolência estava quase me batendo vivo.. eu quero deitar na minha cama, ela parece tão confortável. Nesse frio também, né— Talvez deitar um pouquinho não vai matar né?...Meh, mas faz tempo que eu não madrugo.. sei lá, parece meio estranho dormir agora. E .. pensar que agora eu tô sozinho. Eu não tenho mais ninguém. Eu nunca tive, mas, parecia bom quando eu tinha ela.. e eu tinha meu melhor amigo e o Rio grande ainda não me odiava.. e quando ela ainda tava aqui e a Catarina era um pouco mais calma junto com ela… as.. as coisas ainda .. er- eram..

 

 

Eram boas… 

 

Ai.. era bão.. era isso que isso falava.. anh? Ah. Eh. Deve ser isso

 

Minha vista parecia borrar. Ah preguiça de falar… 

 

 

{ doze de dezembro, 1900 }

 

— E o que você acha, Paulinho?— Ela parecia tão feliz . Ela sempre foi aquele raio do sol hiperativo— ninguém nunca vai saber disso. E mais, nossos estados vão sempre ser o lar dos presidentes e todo mundo vai achar que nós somos influentes, poderosos e muito, muito mais!!— ela quase chegava a pular de felicidade.. mesmo que ela mesma não achasse muito justo isso, parecia animada, tem algo que ela quer cobrir com isso.

 

— Tá bom Milena Mariana Guedes… essa é a quinta vez que você fala desse acordo, mesmo que a gente já tenha ele a alguns anos..— 

 

Eu e minha melhor amiga, a representante de Minas Gerais, a Milena.. ela sempre tava na minha casa. nossos pais são amigos até que a morte nos separe, e por obra do destino, somos melhores amigos desde quando eu tinha meus oito anos. 

 

Por algum motivo, e supostamente , os pais dela enfiaram na cabeça dela que seria legal a gente unir nossas elites e deixar elas sempre no poder. Resumindo, os pais dela propuseram uma oligarquia para a filha de quatorze anos deles. E como a mineira não vê maldade em nada, mesmo achando injusto para os outros povos, ela topou como se estivesse aceitando um presente.

 

Eu tenho certeza que eles fizeram isso porque queriam que a Minas ficasse mais feminina. Isso me dói um pouco, Contando que provavelmente eles queriam que nós dois nos casássemos e talvez mais.

 

 

 

A Minas ainda não percebeu isso. Ela não sabe que isso vai acabar com a sanidade dela. Eu não posso fazer isso. Eu não ligaria. Afinal, não existe nenhum propósito. Tudo é inútil e temporário. Apenas a verdade e a apatia te darão a resposta.

 

Mas, eu só penso assim porque eu sou um homem, e eu preciso ser forte.. pelo menos era isso que meu pai dizia que eu preciso ser.

 

Eu poderia mentir pra mim mesmo. Eu não gosto de mulher, eu consigo ficar com elas, eu acho elas bem atraentes, mas parece vazio casar com uma. Disso eu sei, mas, eu não ligo se me odiarem ou chamarem o que a gente faz de injustiça. Infelizmente é o que um representante é condenado a fazer. 

 

Mas eu não quero ver minha melhor amiga ser igual a mim. Eu espero que a Minas seja normal e feliz.

 

— O que eu posso falar? Vai trazer tantos benefícios pra gente , São Vicente!

— Tá tá.. agora tu passou dos limites me chamando assim, Minas de Ouro — eu tentei brincar com ela. Tentei rir. 

 

Meu nome de batismo é João Vicente porque meu território se chamava São Vicente. Eu nunca gostei do meu nome, então decidi mudar ele. Ela também tinha um nome diferente quando criança, se chamava Milena Mariana, mas o nome dela não tinha nada a ver com seu território; embora que quando o nome do território dela mudou para Minas Gerais , ela também decidiu mudar o nome dela, só deixando Milena. Mas ela nunca odiou o seu nome passado.

 

Ela sempre foi inocente demais.. sempre teve tudo o que quis.. orgulho dos pais dela.. sempre otimista, sempre perfeita.

 

Será que tá na hora de contar pra ela que eu não quero mais essa política..?

 

Não. Eu tenho medo de magoar ela. Um simples coração partido e o mundo acabaria pra ela, Mesmo que tudo fosse sem sentido e sem valor pra mim.

 

Eu sempre perco o que eu quero proteger

 

Eu .. eu 

 

— Filho.. João.. acorda.

 

{ Dois de janeiro, cinco horas da manhã }

 

Eu lentamente abria meus olhos, uma mulher asiática com roupas mais curtas apareceu na minha frente. Ela acariciava minha cara com gentileza.

 

Eu até ouvia os galos cantarem.. por quantas horas eu dormi?

 

 

— Bom dia..? Aish.. menino fresco, nem acorda tu sabe, Vicente ..— Era minha mãe .. ela não sabia falar certas palavras.

 

Minha mãe foi uma imigrante da elite japonesa que foi oferecida para o meu pai, um bandeirante do interior. Nunca entendi o porquê, Mas eles me amavam e se amavam, então eu não me importo com o resto.

 

Mamãe tentava me ensinar japonês às vezes, eu sempre tive interesse em aprender.. eu quero ser igual minha mamãe. Era visível ver que eu conseguia entender o que ela falava, mas, não sabia conversar ou gerar palavras, só ouvir e escrever.

 

— Bom.. bom dia, ma.. 

— Finalmente, levanta logo, miúdo. Antes que se atrase— ela sorriu e passou a mão na minha cabeça enquanto saía do quarto — seu pai está te esperando na sala.

 

Ela rapidamente saiu. Sem falar uma palavra depois disso, mas ainda assim fechou a porta. Ótimo. 

 

Não sei bem se vou lá.. se eu não sair do quarto, o dia não começa ,certo?

Eu não consigo ter forças para me levantar.. meu corpo doi como nunca antes, eu preciso ir. 

 

 

Eu tento levantar da cama— AAAAAAAI!!!

 

Aí. Porra.

 

Eu caí quase abraçando o chão. Que Inferno.

 

Eu não consigo ter forças para me levantar.. meu corpo doi como nunca antes, eu preciso ir. 

Meu.. Meu braço tá doendo. Ah.., provavelmente vou estar sozinho lá.. eu preferiria continuar estudando em casa .. se pelo menos a Minas não achasse que eu “ trai” ela.

 

Não foi minha culpa , não foi? eu não podia controlar se eles fizessem isso .. de qualquer jeito , eu fiz o certo.. sim , eu fiz o certo. Eu contei pra ela e ela quebrou meu BRAÇO!—

 

Huh? 

 

Algo bateu na minha janela e ouvi algo caindo na minha cama. Será que algum passarinho esbarrou na janela..? 

 

— Você tem problema, Ryan. Meu Deus!— Eu ouvi uma voz feminina gritando isso. 

 

Que coisa estranha.. ah deve ser adolescente. Filhos da puta, provavelmente jogaram uma pedra na minha janela. Me levanto e calço meus chinelos, lentamente abro a janela buscando identificar quem foi.

 

Lá eu vejo uma menina e um menino baixinho. Eu não me importava com caras, muito menos com quem eram esses capetas. Uma das meninas era baixinha, tinha um cabelo ruivo enorme e só usava o uniforme todo em roxo-claro. O menino era igualzinho a ela, só que usava um uniforme masculino e em azul-claro — e também parecia ser uma peste, provavelmente ele devia ser o palhaço da sala. Ele estava rindo tanto com isso, e ainda quebrou a minha janela. Talvez ele seja o Ryan que uma das meninas falou. 

 

Ele e a menina estavam encarando a minha janela, tenho certeza de que ainda não me viram. Mas eu não ligo, eu vou aparecer lá.

No momento em que eu encostei na quina da janela, a ruiva quase se assustou. Minha cara de morte estava tão ruim assim?! Mas logo logo se acalmou. A sua expressão de nojo mostrava bastante como ela reagia à minha pessoa. Mas a reação dele não foi tão diferente assim, quando me viu me encarou mortalmente— será que ele viu algo.. não deve ser merda nenhuma, só esses adolescentes sendo problemáticos (igual eu).

Pois então, encarei-os com a mesma cara de desgosto que fizeram para mim até perceber uma terceira menina que parecia congelada ao ver meu rosto. Ela era alta, preta, assim como os outros tinha pintado seu uniforme num vermelho vinho, um cabelo cacheado mediano e...

Minas?! Que que você tá fazendo aí? Quem são eles? Isso foi de propósito por acaso?!

Não, não, não! Era ela mesma. Impossível não reconhecer a sua melhor amiga. Quer dizer, EX-melhor amiga... agora você tá com outros amiguinhos mais LEGAIS, RICOS, BONITOS, ESTÁVEIS e PADRÕES do que EU.

Ela, quando olhou minha cara, chamou baixinho a outra menina e a puxou rapidamente para longe daqui. Fugindo de mim, como sempre. Ela me abandonou. Eu só queria te proteger... Eu ainda não acredito que ela pode me trocar por eles. Não como se EU me importasse, mas eu também não iria me querer como melhor amigo.

— Vicente! Tu quebrou a janela?! — Eu só ouvi o grito da minha mãe.

— Não fui eu!

— Então quem foi? A Milena por algum acaso?! Porque ela te odeia TANTO assim...

A ironia na voz dela era visível e era algo que me irritava.

— Exatamente! Ela e dois filhos da pu-

— EU VOU ESFREGAR TUA BOCA NO ASFALTO, JOÃO VICENTE! PORRA! Onde já se viu um MIÚDO XINGANDO?

E lá vai ela dar uma palestra pro meu pai falando que vai me matar, que a Minas é um anjo e eu sou um capeta com problema na cabeça. E claro, que tudo isso é culpa dele — como se a cada cinco palavras essa mulher não julgasse e xingasse tudo que respira perto dela.

Com essa gritaria, eu só ouvi risadas e o menino me chamando de viado. Incrível como eles correram iguais a uns cachorros. Covardes. O único viado daqui é o que diz, e inclusive, com aquele jeito feminino dele, deve ser é "pá" caramba.

E mais, eu tenho certeza que a Minas Gerais é outra também, desgraçada.

— E ela é uma ótima menina! E aproveitando que você tá vivo, mesmo tendo essa cara de CADÁVER !, vai se arrumar pra ir pra ESCOLA!! — Ela gritou tanto, talvez porque seria a terceira vez que ela iria falar que era para me arrumar, o que eu realmente fiz. Afinal, não é hoje que eu quero tomar umas porradas na cabeça.

Não vou falar como me troquei, eu hein! Nem eu gosto do meu próprio corpo e também não sou obrigado !

 

 

Chapter 2: A Primeira Aula

Notes:

Hallo!!

é bom os ver novamente! Mais um novo capítulo hihi.

Eu vou tentar postar os capítulos o mais rápido possível, mas, infelizmente não tenho nenhuma data certa ou tempo certo de quando vou postar mais capítulos :<

Boa leitura!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

{ 5:30 da manhã }

SP P.O.V

Depois de quase uma hora num carro que mais me parece uma carroça viajando pra ir para uma escola no litoral do Paraná, estávamos quase chegando. Eu já vi os namorados se beijando nas ruas paralelas e um monte de criança de doze anos fazendo rodinha pra ficar gritando, ou seja, já estamos bem perto. Eu só não sabia que o povo dessa escola eram taaãoo chatos, e básicos também. Puta que pariu, esse povo era mais estranho que eu e minhas loucuras juntos.

Eu dormi metade do caminho , mas fico surpreso de como a gente saiu da minha casa e pra cá em tão pouco tempo. Enfim a tecnologia que prometeram para as novas gerações.

Eu só estava mexendo na minha bolsa, desenhando— eu sempre amei desenhar,e também é a única coisa que eu sei fazer— Mas, por algum motivo, minha mãe tava me olhando torto.

— João Vicente.. meu Deus, seu uniforme tá todo amassado— ela quase riu de nervoso. Não sabia se brigava comigo por estar passando vergonha ou simplesmente deixava passar.

— Eu não ligo, mãe.

— Mas eu ligo,São Vicente.

Eu odeio não agradar minha mãe. Ela é tudo pra mim. Então tentei mexer um pouco no meu uniforme, embora que, por mim, meu uniforme não tá nem tão amassado assim.. tá apenas um pouquinho. ninguém vai ligar,  como já falei, nem eu ligo, Mas algo que eu tenho certeza que a coisa que vão notar e ligar é que essa roupa é larga para caramba, especialmente o casaco( embora a bermuda seja super justa, se eu sentar ela sobe).

— Não.. se preocupa comigo,mamãe. Eu juro que tá perfeito. e mais, eu vou ficar quieto o dia inteiro mesmo.. ninguém vai notar, eu juro— eu dei o meu máximo pra não soar apático. Eu queria mostrar para ela que tudo estava bem e que seu filho iria aguentar.

— essa é a questão. Tem certeza que você vai conseguir fazer amigos, João?— Ela estava claramente preocupada comigo e tentou refletir um pouco. Talvez para fugir daqui.

Eu suspirei. Socialização é o meu maior ponto fraco, eu sou péssimo me enturmando. Não quero ter muitos amigos e sou quieto até demais, mas pelo menos ter a Minas e os sulistas comigo era bom.

— Eu vou tentar.. eu não preciso de ninguém para passar o ano. É meu último ano na escola mesmo.

— Eu quero que você fique bem, meu filho..

Ela começou a falar poucas palavras em japonês. Parecia uma melodia na voz doce e cautelosa dela.. 

“Viva com amor. mesmo quando a fumaça subir, Se perdoe de novo e de novo”

Foi isso que ela disse. Eu não entendo a última parte, talvez eu tenha traduzido errado. Ali tá na tradução literal.. Mas ficou tão lindo na voz dela. Acho que devia ser um poema que ela mesma escreveu. Ela é tão linda e criativa — eu vi o carro frear de repente. 

— chegamos Sr. São Paulo e Sra.Hai..

O motorista nos avisou. Na hora eu paralisei . A escola era enorme e me dava calafrios, a sensação de estar naquele lugar que nunca fui antes é tenebrosa, chega quase a embrulhar o estômago — Será que não dá para voltar atrás e continuar estudando em casa agora ..? Eu sabia onde tava me metendo (No inferno).

A escola é um lugar lotado de loucos de todos os tipos( e eu me incluo nisso), por mais que eu não tenha a melhor sanidade do mundo, eu tenho certeza que o pessoal dessa escola tem uma pior.

A mamãe ainda tem uma expressão bem preocupada, e eu entendo ela. Eu também teria medo de mandar meu filho pra um lugar desse— fodido, assustador, cheio de gente e entre outros piores atributos.

— Vicente . Toma cuidado viu, filho. Qualquer coisa avisa a secretaria. Não tenha vergonha— ela me falou olhando para o fundo dos meus olhos, sua expressão alternava entre medo, orgulho e preocupação, Mas , ao mesmo tempo, ela parecia tão apática.

— Tudo bem, mãe. Eu vou me cuidar. Te prometo, minha senhorinha!

Ela riu, embora eu soubesse que ela queria voar na minha cara. Foi bem visível isso quando ela parou de rir na hora pra me falar:

—  Vai logo Vicente, venho te buscar em volta das seis,ok?

Eu me despedi e saí do carro. 

{ Escola estadual Latina }

 

A escola era— meu Deus do céu, eu tô com o cu na mão. Mas a escola nem tinha aberto ainda, tinha um mundaréu de gente ali, parecendo tudo um formigueiro. Tinha um portão ali na minha frente, bem aqueles de gente rica ou francesa para entrar em suas mansões, era finíssimo e todo preto revestido em ferro e um pouco de vidro, sem falar que era enorme, dava pra entrar tranquilamente cinco do carro dos meus pais um do lado do outro. Essa escola fede a dinheiro. O portão era o único jeito de ver a escola, porque do lado deles tinha um muro grandão com aquelas esculturas católicas nos tijolos. Tudo era perfeito demais ali — e burguês demais também. 

Assim que eu subi na calçada e me enfiei no meio daquela multidão, eu senti olhares sobre mim, como se eu fosse um bicho num zoológico, alguns de julgamento, outros com malícia. Esse uniforme não ajuda também!

Eu comecei a andar, pelo menos se eu estiver agarrado no portão, se eu cair, eu me seguro lá. E só meu caminhar foi o suficiente pra eu ouvir comentários maldosos que eu nunca pensei que ia ouvir, especialmente num lugar desse, ou seja, elitizado. 

— Sapatão vai pro céu? — gritaram pra mim e eu nem precisava ver pra saber que estavam rindo com ironia.

— Cala boca, Cauã. Ela quer ser homem.

Só foi uma das coisas que eu ouvi. Embora nem mulher eu fosse, imagina gostar de mulher. Também vi gente olhando pro meu peito, rindo, tendo nojo. Isso porque eu só estou existindo nesse ambiente.

Eu quero morrer, todo mundo nesse lugar já me odeia e acha que eu sou mulher. Eu vou me isolar no banheiro, já tou até tonto vendo onde eu me meti.

{ 5:58 } 

Depois de eu acho que uns cinquenta minutos, eu finalmente avistei uma porta escrito masculino, é ali. Não é possível que tudo nessa escola seja uma armadilha pra me fuder mais ainda.

Eu entrei lá, a porta fazia um barulho desgraçado e chiava muito, mas em compensação, ela parecia um trambolho de tão pesada, parecia aquelas portas de incêndio, aquilo ali devia abafar o som mais tanto. O banheiro estava completamente vazio, não tinha nenhuma alma ali dentro, embora, fosse enorme, eu olhava e lembrava um banheiro de shopping.

Não tô nem brincando, na parte que eu entrei era toda chique. Tinha uns vasos de planta perto dos espelhos, que inclusive, cobriam toda a parede. A pia, era de mármore, ou algum desses minerais caríssimos. Eu fiquei honestamente com medo de colocar minha bolsa ali em cima, Mas, eu não ligo, meus braços estão doendo de segurar esse coiso. 

Mesmo com tudo isso, era ainda sim um banheiro masculino, então tinha umas mil pichações na parede, um cheirão de maconha e um lixo todo fodido. Sem falar que não tinha luz a gás ou luz elétrica  ali, só a luz natural das janelas. Isso daqui de noite deve ser um terror, isso sim, tudo escuro e nojento.

Eu tô tão cansado, nem começou a aula ainda e eu quero ir embora. Eu tava certo, eu tô sozinho aqui e— ….

Tem alguém nesse banheiro. 

Não foi eu suspirar, eu honestamente não consegui parar para dar minha palestrinha depressiva e eu comecei a ouvir um barulho de lápis. Parece que eu não tô sozinho aqui. Eu não consigo ver outra parte do banheiro.. então, eu não consigo nem espiar o que tá acontecendo. O que eu posso fazer? Eu só fiquei quieto, com uma cara de assustado e curioso, ainda sim, olhando pro espelho.

. . . 

Eu acho que vejo agora, tinha o espelho que eu estava me vendo e do lado, era a outra parte do banheiro, com a mesma pia, o mesmo espelho. Mas, você conseguia ver perfeitamente o outro lado. Era lá que tinha os mictórios e era um pouquinho mais claro.

Eu vi um menino, ruivo , com cabelo curtinho, bagunçado e pardo. Ele tava pichando a parede e pelo visto, já tinha acabado e só tava admirando a própria letra.

Ele é exatamente o menino que quebrou minha janela mais cedo, só que de perto. Ele parecia muito menor vendo assim, e também parecia mais real, mais vivo.

 

Ele se virou para a pia, lavou as mãos rapidamente, como se estivesse ansioso. Meu medo de ele me ver aumentava, junto com o silêncio e a vontade de querer fazer até minha respiração ficar quieta,esperando para que não me ouvisse. quando ele levantou a cabeça para ver o espelho, ah não. 

Não, não .. ele me viu, acho que não era transparente para ele. 

Minha cara estava claramente desconfortável e ver a dele, mas, pelo contrário de mim, ele tinha um olhar perdido em mim, tentando achar algum ponto ou tentando entender, de início ele piscava rápido, Mas com o decorrer desses 30 segundos parou. Sua cara nunca foi de desgosto, embora estivesse hesitante.. era.. muito confuso.. Mas os olhos azuis claríssimos dele talvez tentassem amenizar um pouco a situação. Ele saiu da outra parte do banheiro e começou a andar.

 

Não chega perto de mim.

 

— Ei, Tu é novo aqui? — ele falou suavemente. Era bem presente um sotaque enorme quando ele falava, acho que era carioca. Ele não falou alto, ou me julgando.. ou .. ugh.. 

 

. . .

 

 

— Eu sou— eu falei num tom tão melancólico e envergonhado e .. meio baixo, eu nunca falei assim com ninguém.

—Hm, Se tu diz. qual teu nome, pivete?

— .. Paulo. — 

Eu nunca falaria meu nome nesse lugar, nesse inferno. Não quero ser conhecido, só quero ser um ninguém. Isso daqui vai virar um cu na hora da chamada,eu vou falar que é meu sobrenome.

Ele começou a literalmente me examinar, não já satisfeito em me olhar de cima a baixo. Tocou na minha cara, mexeu no meu cabelo, como se eu fosse algum tipo de boneco de porcelana.

— e tu é da onde, ó senhor Paulo? Das Ásia?— ele do nada ficou animado demais, me fazendo essa pergunta. Deu pra perceber que ele sorriu um pouquinho,tentando segurar o riso— pela tua bolsa e pelo teu jeito afeminado deve ser, pelo menos é isso que vão pensar de você.

— .. Que que tem de errado com minha bolsa? 

— Nada.. eu acho. Mas não é o comum que a gente vê todo dia, todo mundo vai achar de você é mulher… ou .. não, não, nada— Mesmo estando meio ainda fuçando minha cara ele pareceu um pouco mais descontraído pela sua fala. Parecia seguro e ao mesmo tempo confortável demais com um corpo que não é dele.

Eu não entendia, até que ele destacou esse fato. Como que os alunos daqui olham pra minha cara e tentam falar se eu sou bicha ou não? Como eles acham que tem esse direito e o que eu tenho demais pra eles acharem isso? Eu odeio essa ideia. Porque eles acham isso de mim.

— porque você acha que eu pareço uma? O que eu fiz de errado? É só meu primeiro dia aqui.

 

— Cê tá com uniforme feminino.

 

Ah.

 

De novo não. Não,não, Eu fui tão burro de esquecer.. 

— Não desista agora , menor. Tu tá na melhor escola desse país, e também convivendo com os filhos dos políticos mais fodas daqui— acho que foi alguma das coisas que ele falou enquanto dissociava, ou algo do tipo.

Ele pega o meu rosto e aponta para o espelho me obrigando a olhar para ele, que estava me encarando através do próprio, como se estivesse observando minha alma, julgando todos os meus pecados, aqueles que cometi e ainda vou cometer.

 Ele estava com um cardigã escolar, só que tingido de azul clarinho, combinava com os olhos dele. Ele começou a desabotoar a blusa , mostrando ter uma blusa social branca por baixo do casaco do uniforme, ele tira de si mesmo e coloca em mim.

— Você vai ficar bem. E mais, não se preocupe, eles vão te amar. — ele não conseguiu segurar mais, e sorriu de canto. Ele em si parecia um malandro, mas agora tava mais ainda.

Era minimamente assustador e adorável. ele tá me ajudando? Bom.. eu só posso agradecer, né, ele foi o único que me avisou o que estava acontecendo. Eu finalmente me soltei do toque dele e voltei a ver meu reflexo.

— Muito obrigada por me ajudar.. o povo daqui é meio… hostil, sabe?

Ele ri mais ainda e diz:

— Ó se eu sei.. estudando aqui minha vida inteira.

Eu abro minha bolsa e vasculho, tirando diversas coisas, a maioria de uso pessoal, Mas eu não ligo, o outro menino também não se importou de do absolutamente nada ficar me tocando. Embora ele tenha sido a única pessoa que me atura neste lugar.

— Que que é isso? — ele mostrou tanta dúvida, parecia que seus olhos brilhavam, igual um cleptomaníaco vendo dinheiro. Ele até se encostou em mim pra tentar ver melhor

— Ah.. é tipo..uns remédios , eu tenho problemas em “ficar calmo” então isso me ajuda sabe?

— Huh.. até que sim. Me dá?— ele sorriu maliciosamente e sussurrou bem baixinho, ele só esqueceu que estava do lado do meu ouvido, literalmente encostado no meu ombro— Eu bem poderia vender isso pros repetentes. 

— Hm.. não é uma má ideia, 50/50? Eu não posso ficar perdendo também  — Eu abri um sorriso malicioso, sabia que não era a melhor maneira de ganhar dinheiro, mas, eu não podia perder a oportunidade, não é?

—Certo certo… então temos um acordo, paulinho?— ele sorria, malandro, todo engraçadinho. Conheci ele a menos de cinco minutos e ele já criou um “apelido” para mim. Honestamente… Eu acho adorável. 

— Claro… ?..

— Ryan.

Que nome feio da porra, nem rico ele parece.

—Certo Ryan, é bom ter alguém para poder confiar nesse inferno. Aqui está, não é muito, mas, é uma quantidade suficiente para fazer algumas vendas. Eu posso confiar em você, certo?— Eu entregava um saquinho, com quantidades médias de drogas, cocaína, maconha, entre outros.

—Pode deixar, fi, eu sou a pessoa mais confiável desse lugar— ele quase arrancou da minha mão, parecia ansioso, mas ainda sim sorriu genuinamente.

Logo depois disso, o sinal tocou; era um som bem tranquilo, mas estava estourado, ou seja, o som calminho virava infernal, tenho certeza que o rádio estava distorcido.

— Eu te vejo depois, Paulinho— ele simplesmente saiu do banheiro rapidinho enquanto saía, passou a mão sobre meu cabelo.

Eu não tive tempo pra me despedir ou muito menos conhecer ele: ele foi gentil comigo, mesmo sendo de um jeito ..engraçado e único.

Eu não vou pra sala agora, vou esperar a poeira baixar. Com isso eu peguei minha bolsa de alça. Acho que explorar  um pouco esse banheiro confuso vai ajudar a passar o tempo.

Eu fui pelo mesmo caminho que ele fez. Eu finalmente vi, o balcão tinha dois lados e pelo visto também pela parte que eu entrei era uma espécie de corredor dos lados, uma parte para a frente, onde era mais coberta, Mas, ainda sim ,eu via, que tinha vários armários e entre eles bancos. Era mais iluminava aquela parte, e claro, o segundo corredor, à minha direita, era a parte que esse “ Ryan” tava. Lá tinha a outra parte do balcão, uns mictórios que literalmente brilharam e ali, depois do balcão e estava completamente coberto pelos lados , as cabines. Todas elas fechadas e a escuridão dominava, com apenas uma exceção, o espelho lá no fundo que refletia toda a luz do corredor, e obviamente, eu mesmo.

Eu vou até o final do corredor, em direção ao espelho. Cada vez o som dos alunos estão mais abafados.

 

. . . 

 

 

Sou eu ali, mesmo sozinho e agora com um blusão enorme que quase esconde meu short por inteiro. Ainda sou eu. Isso é minimamente chato, não é? 

Eu fico tentando traçar uma rota para me observar, da ponta dos meus pés até meu último fio de cabelo. Eu nunca gostei do meu próprio corpo, me olhar assim , sozinho e desconfortável é estranho. 

Dos meus pés até minha cabeça, da minha cabeça aos…— tem uma bolsa ali embaixo.

Será que o menino ficou tão distraído que nem a bolsa pegou? Não é possível. Ele parecia tão seguro em tudo que falava. Não importa agora.

A bolsa dele era bem escura, dava pra ver poucos tons de azul. Além dessa bolsa ser encardida, com alguns arranhões e quase completamente vazia de tão leve que tava. Ela era meio personalizada e me lembrava de algo de alto luxo. Em relação ao luxo, vamos lá, não é tão barato assim uma bolsa de couro tão macia e legítima, mas parecia antiga. E ele também fez alguns bordados na bolsa, junto de alguns broches— todos eles eram de prata ou ouro, e a maioria era batalhões e pareciam aquelas medalhas de identificação do exército.

Os que mais me chamam atenção são vários em relação ao território do Rio de Janeiro, era quase as lembrancinhas que o Brasil dava aos representantes(como eu), só que mil vezes mais luxuosas. A maior de todas, que estava escrito o próprio nome do estado, parecia de ouro maciço e desde longe brilhava. Tinham vários nesse estilo também.

Bom.. eu acho que não faria mal eu pegar essa bolsa. Ele mesmo me disse que iriam achar estranho a minha própria. A minha bolsa é claramente menor do que a dele, então eu acho que vou enfiar ali dentro mesmo.

A bolsa dele é tão… macia. Cheirosa, me traz um sentimento tão bom, é como se eu tivesse segurando ele em minhas mão, é uma sensação que deixa todo meu corpo arrepiado, meu coração bate cada vez mais rápido a cada instante que eu penso nisso.

E se eu não devolver? Ficar com ela ,como se fosse um presente que ele me deu, pode ser útil e uma ótima maneira para iniciar uma conversa e me aproximar cada vez mais dele..

Sinto meu estômago revirar, mas não de um jeito ruim, é como se, tudo que pertence a ele ou é relacionado a ele, me trás paz.

Me faz sentir vivo de novo.

É estranho como ele me acolheu, mesmo aparecendo meio hostil. Ele era carinhoso, e ainda me emprestou seu casaco. É tão quente e confortável, é como se estivesse nos braços dele.

{ 9:20 }

Já se passou um tempinho.. realmente, dito e feito.Por algum motivo, ninguém mais me zuou, e mais, algumas meninas ficaram congeladas na minha frente quando viram o casaco — por algum acaso, esse Ryan tem algum tipo de feitiço com mulher?! 

O sinal finalmente tocou. Como todo mundo saiu da sala, eu sei que o intervalo é agora. Então eu saio do meu lugar, na hora que eu me levanto, minhas pernas ficaram doloridas. Meu Deus, por quanto tempo eu fiquei sentado?

Eu vou à procura de um lugar vazio, nem lanche eu quero pegar, só algum cantinho quieto seria bom. Provavelmente, esse espaço que eu procuro seja atrás da escola, mas , só Deus sabe se eu posso ir lá. 

Eu ando pelos corredores em direção reta. Como eu fui o último a sair da sala, os corredores estão  bem vazios agora, mas, dá pra ver perfeitamente o pátio daqui. O corredor tinha janelas abertas e algumas árvores do pátio quase invadiam para dentro. Aqui era justamente onde batia o sol.

Lá no pátio tinha muita gente, acho que lá era o lugar mais movimentado de ficar no intervalo. Bom saber disso. Lá também tem umas calçadas com alguns bancos de pedra, e principalmente,muita grama e planta , especialmente arbustos decorativos. tenho certeza que essas flores são falsas, só ver a textura de plástico sobre a lu—

— AÍ! — Do nada uma voz apertada e doce soltou esse grito.

Meu Deus do céu. Eu esbarrei numa moça. Essa vai ser a terceira vez que eu interajo com alguém contra a minha vontade.

Eu não tive nem tempo de pensar, eu senti uma mão delicada me empurrando. E por mais elegante e feminina que seja, foi forte pra caramba. Eu tenho certeza que se eu olhar pro meu peito, a marca da mão vai tar vermelha lá. 

— Rio?! Ocê tá fazendo o que ..

. . .








Não. Eu não quero mais uma resposta de você.












— . . São Paulo.?— 

 

Notes:

Eai? O que acharam do capítulo de hoje?

Espero muito que tenham gostado, se tiver qualquer erro ou qualquer crítica construtiva por favor nos deixe saber ^_^

Até o próximo capítulo!

Chapter 3: Do seu lado

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

A voz , antes rude e até minimamente estridente, parecia ficar mansa . Só foi agora que eu finalmente ouvi o sotaque mineiro dela. 

 

— São Paulo. 

 

Era exatamente o que meus olhos viam. A própria MG, Na minha frente.

 

— Eu não quero falar com você, sai daqui, Milena. 

 

Ela, embora, não estivesse mais nervosa, estava séria e subitamente irritada. Dava pra ver de longe a energia ruim dela. Era tão feio ver a mineira tentando ficar brava, até patético. Ela não manteve contato visual comigo, e também parecia ter curiosidade e desgosto a minha postura. 

 

— É sério isso? — ela riu na hora, seu sorriso era claramente falso e ela tentava amenizar sua dor interna— Dava pra ver na cara dela que ela tava se doendo— Me minimizando a todo custo, ela me achava ingênuo — Você não sabe onde você tá se metendo, SP. Ou muito menos com quem tá falando. Você é novo aqui.

 

— E você é por acaso uma divindade aqui?.

 

— Ugh.. cala a boca — ela não foi grossa comigo, mas, a cara de cu e o desinteresse dela ao falar era enorme — você só até agora não sofreu nenhuma agressão de alguém aqui porque roubou as coisas da capital.

 

. . .

Ela não tava errada, Mas como assim “Capital”?

 

— Que? Minas Gerais, fala português. 

 

— Você tá com a blusa do Rio. Com a bolsa do Rio. Com os broches do Rio. Que foi? Tá sendo comido por ele?

 

Meu olhar ficou expressivo, eu consigo sentir que é verdade. E com isso, também acho que minhas sobrancelhas ficaram arqueadas. Eu quase perdi meu ar, só não sei o porquê. Deve ter sido ansiedade.. embora isso, eu não ligo, por mim, eu estou completamente neutro.

 

Esse menino que eu conheci e que me apoiou não é ninguém menos do que a porra do representante do Rio de Janeiro.

 

Eu comecei a olhar pra Minas de novo

 

— Ninguém vai bater de cara com um menino que literalmente teve contato direto com a família real desde 1700. Ninguém aqui é burro de te zoar se você tá com a blusa do carioca, São Paulo.

 

Ela nunca foi antipática, era uma coisa única de Minas. Ela pode estar brava comigo, mas ela nunca iria negar me ajudar ou muito menos ser grossa comigo. Era só ver o tom da voz dela, mesmo sem ver a cara dela( porque ela se negava a me olhar), seu tom parecia angustiado, mas sempre foi dócil.

 

Eu faria tudo pra tentar salvar ela. Eu sinto que eu não mereci ela. Mas, eu não ligo mais, ela quebrou meu braço.

 

Ela parecia ansiosa pra falar comigo. ela cacheava uma mecha de cabelo com os dedos toda hora.

 

Eu ainda não sei se posso me referir a aquele Ryan como seu estado, Mas , minha mãe sempre me ensinou que é feio chamar alguém que você não conhece pelo o nome, especialmente se for um representante— É a maior regra de conduta de representar um território. Você NÃO chama outro representante por seu nome real se não conhecer a pessoa, só se refira pelo nome do seu território.

 

— E você conhece o Rio por algum acaso? 

 

Era claro que conhecia. Ela tava junto com ele hoje de manhã. Sem falar que o uniforme deles ser tingido era meio que o símbolo de identificação dos dois e daquela outra menina.

 

Falando nisso. Eu ainda não sei quem era aquela ruivinha. Ela é literalmente igual ao RJ, só que em versão feminina e com poucos traços italianos. Além dela parecer bem vaidosa, mas ao mesmo tempo apática. A cor do uniforme dela era roxo, então até agora, o azul é o Rio, o vermelho é a Minas e o Roxo é ela.

 

A Minas parece ser bem próxima dela. Contando que a primeira reação dela ao me ver foi tentar puxar essa menina pra longe , e me desculpa, Mas ao meu ponto de ver, a MG meio que tentou “proteger” ela.

 

— Claro que sim? Pergunta besta,sô . há muito mais tempo que você inclusive 

 

Então você já encontrou um novo melhor amiguinho pra me substituir, né, sua sapatona? 

 

Eu senti uma frieza emocional. Eu não sei descrever muito bem essas coisas filosóficas, mas era estranho. Tudo ao meu redor ficou quieto e eu senti meu olhar mudar.

 

— Para de fazer essa cara de desgosto, São Paulo. Eu hein..

 

—Que cara de desgosto o que, essa é minha cara normal.

 

Oxi.. como eu posso estar com cara de desgosto se eu não tô sentindo nada? Menina estranha.

 

— Bem. O papo foi bom, mas eu preciso ir..

 

Eu sinto uma presença atrás de mim. Essa presença ofegava, parecia excitada e do absolutamente nada me tocou, parecia um abraço, mas, mais estranho e ansioso, e minimamente interesseiro.

 

— Parece que temos coisinha nova por aqui, não é, mineirinha? — essa presença disse segurando no meu queixo e bagunçou meu cabelo— eu fico honestamente surpreso como um bolsista entrou aqui. Você deve ser foda mesmo.

 

Só pela voz, eu já sabia quem estava falando. Ryan.

 

Ele me encarava com aqueles olhos enormes , tão lindos. Eu só não sabia descrever se ele estava sério, bravo, ou se estava implicando comigo. Era incrível como quem tava mais incomodada com isso , e até um pouco surpresa, era a MG. nem eu tava assim. 

 

— . . Por que cê tá tocando nele, Ryan ? 

 

— Oxi, nada de mais.. — ele falou tão manhoso , era quase sarcástico— não é todo dia que a gente tem alguém novo e minimamente diferente aqui, não é, Minas?

 

Ele riu tanto, parecia que tava brincando com, eu sei lá o que dessa estranheza.. só que era minimamente desconfortável ver o clima pesado que eu e a mineira carregamos. Será que ele só tá ignorando ou era algo nosso mesmo?

 

Ficava arrumando meu cabelo toda hora, eu só era como um boneco para ele. Ficou mexendo na minha franja, colocando meu cabelo atrás da orelha. Era literalmente, me “consertando” .

 

— Afinal.. que intimidade! É tão fofo, igual a delicadeza da ES. Vocês já se conhecem para se chamarem assim?

 

Ele tava sendo passivo agressivo..? Eu não sei , não sei nem quem é “ES”. Se eles estiverem fazendo bullying comigo, me deixando enrolado entre seus dedos, eu nunca vou nem saber.

 

— Tira a Santa disso, Rio.. ele não precisa saber das suas briguinhas—

 

— Sim, eu a conheço.

 

Eu interrompi ela. Chega de papinho,né? Ninguém merece ouvir a “tagarelice” de Minas. E eu acho que ele tá do meu lado, ele pelo menos parecia me defender.

 

— Estranho.. Mas eu também não desconfio. Você tem mil amigos,Milena. Não duvido nadinha que vocês já tenham se conhecido antes de me conhecer— ele parecia curioso, mas sorria bastante— só fico surpreso que eu nunca tenha ouvido nada de você. Ou será que eu já tinha ouvido, Minas?

 

— Não sei do que você tá falando. — Ela parecia nervosa, é muito claro que ela estava mentindo, Minas nunca foi boa em esconder sentimentos, muito menos em mentir.

 

Claro que não sabe. Típico da MG.

 

Do nada o RJ simplesmente deita no meu ombro e cobre a boca. Contando que a Minas tá na nossa frente provavelmente ele tá fazendo isso pra ela não ler os seus lábios.

 

— Que tal nós irmos em um lugar mais, Só? Apenas nós dois.. Seria melhor não acha? — Ele sussurra no meu ouvido, consigo até sentir o calor de sua voz na minha nuca. Me traz um sentimento novo.. é algo estranho que me deixa com calor e com minha mente a mil.

 

A outra claramente pareceu chateada, ela estava excluída e ele fazia questão de deixar a mineira ver e sentir isso. Que ela estava perdendo a diversão e a emoção da conversa. Não parecia cruel .. Mas .. o que tá acontecendo entre eles pra uma amiga dele ficar de lado ..? Impossível que a curiosidade dele sobre a minha pessoa seja tão grande assim. Não a esse nível.

 

— Ah claro, se é isso que você quer… — Eu não sabia como reagir a isso, não estava nem no meu roteiro que isso poderia acontecer, então eu só aceitei, o que poderia dar errado?

 

Ele agarrou meu pulso — e que sensação indescritível.. — e de forma veloz me puxou entre os corredores. A mineira observou rapidamente e começou a seguir a gente, ela era ágil e quieta, talvez o Ryan nem tivesse percebido ela, mas eu percebi. Eu olhei de canto para ter certeza que ela ainda estava atrás de nós e eu estava certo.

 

{ 9:32 }

 

— Aqui estamos! Gostou? — ele aprecia muito animado, digo MUITO, mesmo.

 

A gente tava na merda do pátio. Não como se lá fosse ruim ao nível de eu xingar, era até que bonitinho, arrumadinho. Tinha muita planta lá, e também muita pessoa. Parecia proposital o porque ele me trouxe ali. 

 

Ele mentiu, não mentiu?

 

— .. Sim.. — eu me sentia até um pouco constrangido de falar, quase todo mundo me olhando. Impossível que ele me deixasse ali humilhado,por querer, na frente de todo mundo — Cadê a Minas?

 

— Não sei, deve ter corrido para falar com a “melhor amiguinha”.

 

— Huh.. se você diz. Ela conhece mais gente nessa escola?

 

— Ela fala com meio mundo daqui. Mas ela sempre conheceu a Santa, não é novidade pra ninguém que elas são grudadas — ele ficava até com sono ao falar, parecia entediado — Mas a Minas não importa agora! O que importa é você!

 

— Eu.?

 

— É! Você já falou seu nome, mas eu não sei nada de você– a curiosidade dele aumentava ao falar.

 

— O que você quer saber sobre mim? Eu também não sei nada sobre você.

 

Ele do nada fez uma cara de desaprovação, meio debochado e estando um pouco esnobe.

 

– Meio impossível da sua parte – sua voz aumentou e o ambiente ficou meio quieto, ele tentou disfarçar, mas era muito eminentemente seu poder sobre as pessoas aqui. Ele colocava medo – mas tá tudo bem! Ninguém aqui é ignorante por querer.

 

O que mais me intrigava era que eu realmente não sabia nada sobre esse mano, eu não costumo ficar pesquisando e tentando saber de coisas de outros representantes. Ele genuinamente me assusta. Mas, não de maneira ruim.. é como se ele me deixasse mais vivo.

 

A multidão parecia concordar com ele, portas se abriram e todos estavam focados em nós.

 

— Vamos lá! Começa a falar, cê é mudo, parceiro?— ele riu um pouquinho.

 

Ou eu ganho tudo ou eu perco tudo, acho que esse é o momento que a chave da minha vida começa a virar. A capital desse país está na minha frente e quer que eu me apresente para todos ao nosso redor. Não tem pra onde correr ou pra onde se esconder   

 

. . . 

 

— Meu nome é Paulo Kazuya.. eu tenho 17 anos.. eu sou o representante de—

 

— Você é Representante?! Como que eu nunca te vi?! — ele ficou tão surpreso, ele parecia que iria voar para cima de mim.

 

— Você também é? — era claro que eu ia me bancar o burrinho inocente, eu acho que já sei quem ele é. Pelo o que a Minas me contou.

 

— Claro que sou! Eu sou Ryan Janivier Soeil, representante do Rio. Não era óbvio? Você realmente morava debaixo de uma pedra, ein.. 

 

— Janivier..? Isso eu nunca ouvi—

 

— Nunca ouviu falar, eu sei. Só fico curioso como você é o primeiro a falar isso. 

 

Eu tenho certeza que todo mundo aqui tem medo dele, acho que já consegui perceber isso. Só não sabia que ele não percebia isso, eu achei que era claro.

 

— É francês. Quando eles tentaram me sequestrar, quando eu era bem pequeno, eles fizeram um acordo de me deixar em paz se eu carregasse o sobrenome deles. Deu certo, pelo visto! — Parece que ele se tratava como uma piada. Em meio de todo esse ambiente pesado, ele parecia a luz. Tanto que eu comecei a ouvir suas risadas, enquanto colocava a mão em seu cabelo ruivo.

 

— Prazer então.. Ryan. 

 

Bom, acho que a única coisa que eu poderia fazer se ele se ironizava a todo custo, era também entrar na onda dele.. Eu me curvei, era uma saudação real, eu sei, mas , já que ele se tachava de realeza, quem sou eu pra duvidar? 

 

Foi um pouquinho vergonhoso, até senti minha cara arder. Porém, ele já começou a falar de novo.

 

— você não deve ser do nordeste, nem do oriental e nem junto dos dois menores.. do leste você claramente não é.. Mas pode ser — Seus olhos brilhavam, ele finalmente achou seu tesouro em mim — você é representante da onde mesmo, Paulinho? 

 

Eu senti meus batimentos cardíacos aumentarem, não sabia o porquê.. Mas , ainda sim, era um pouco bom e um pouco aterrorizante, também. Era agora ou nunca. O jeito tradicional de conseguir reconhecimento sempre foi longe de mim, isso parecia me falhar, mas talvez, ele parecesse me acertar.

 

— Eu sou representante de São Paulo. 

 

 Eu vi ele ficar meio assustado e confuso ao mesmo tempo, como se eu tivesse falando uma mentira. Será que não era visível? 

 

— Você é um representante estadual!! — Ele quase faltou pular de alegria, seus olhos ficaram iluminados e abriu um grande sorriso largo dentro daqueles lábios finíssimos dele. Eu me pergunto no que ele está pensando — E pelo visto, você tá BEEM perto de mim! Eu me questiono como eu nunca te vi! 

 

Ele se aproximou mais de mim, parece um jeito de demonstrar que está animado e ansioso sobre algo. Ele também ficou falando outras coisas, por mim, eu não consegui ouvir, ele fala chiando e rápido demais.

 

— Ah. Você é sulista né ? — do nada, sua animação parou. Ele ,ainda sim ,estava a poucos centímetros da minha cara, Mas, eu senti algo diferente. Deve ter sido o vento.. 

 

— Uh.. Sim? Embora meus pais queiram que eu me mude.

 

— Mas , você ainda é considerado um deles na demarcação.

 

Que menino estranho. Por algum acaso ele trata os outros representantes como uma seita? Bom, eu não posso julgar ele. Ninguém lá gosta de mim, talvez ele também tenha passado por isso.. nossa, Mas é, tipo, meio fofo a gente passar pelas mesmas desgraças .. imagina.. não falando que supostamente os sulistas também odeiam ele!

 

— É estranho. Você é muito melhor que eles, já pensou nisso? — ele honestamente se preocupou comigo.

 

— Meio que não… mas, como você sabe que eu sou melhor que eles?—

 

— Para de se humilhar desse jeito!

 

Ele me interrompeu e voltou a falar:

 

— Também, é só olhar pra sua cara, pelo jeito que você fala.. quer dizer, eu não vejo muitas coisas sobre os sulistas, mas de vez em quando eu ouço uma coisa ou outra sobre você. – Eu fiquei muito surpreso Como ele se importa comigo, mesmo que não nos conhecemos a muito tempo, parece que tem borboletas por todo meu estômago fazendo eu me sentir estranho — é por isso que eu já sabia que você é um estado.

 

Uau. 

 

{ 10:02 }

 

— Então, jovens, Pedro Américo pintou o quadro que iremos fazer as questões na aula de hoje .

 

Já tinha uns dez minutos que a aula começou, e por incrível que pareça, o professor já deu tarefa de uma matéria que eu não faço a menor ideia sobre. Era.. história , eu acho? Sei lá, é a matéria menos pior daqui, é a única que eu entendi mesmo.

 

Quando eu volto a tentar prestar atenção na aula, eu escuto um estrondo enorme vindo da porta, vejo uma pessoa de 1,65 entrar na sala batendo a porta e assustando toda a sala que estava quieta até demais.

 

— .. Desculpa “prissor”, falta de educação.. — ele tava se segurando demais para não rir, enquanto ainda sim estava segurando na maçaneta 

 

Era ele, o mesmo que tinha encontrado hoje no intervalo e na entrada. O fato dele ter aparecido na minha sala fez com que eu tivesse os mesmos sentimentos de antes, minha cabeça ficava toda embaralhada, e minha bochechas avermelhadas. É estranho.. nunca me senti assim antes.

 

— Ryan Soeil Borgia, o mocinho tá atrasado, não tá?— o professor claramente puto da vida com o Rio disse ironicamente —Ryan, nem a mochila você trouxe. E mais. se essa porta quebrar, eu vou chamar sua mãe e vou contar tudo que você faz e diz aqui dentro, moleque. 

 

Ele realmente intimidava geral aqui, menos o carioca. Tanto que ele revirou os olhos e zombou internamente o mais velho.

 

— Huh. Como se ela estivesse viva.

 

. . .

 

Puta. que. Pariu.

 

Isso porque só é meu primeiro dia nessa escola.

 

 Na hora, a sala parou tudo. Até que o professor entrou em choque, ele parecia empático com o menino , ao contrário do ruivo, que estava pouco se importando. 

 

— Licença, viu— foi só virar de costas que ele começou a rir. Ele riu tanto do que disse, mas tanto. Eu me pergunto se ele é maluco — Eu espero muito que ele seja. 

 

Ele examinou todos os lugares da sala, mas , por algum incrível motivo decidiu o lugar atrás de mim, ou seja, a última carteira da última fileira. Meu Deus, é de propósito isso? Embora eu desconfiasse dele, porque ele tá fazendo isso? E porque eu me sinto meio envergonhado..?

 

Aí meu Deus, que vergonha. 

 

— Ryan, você tem certeza que aí é seu lugar?— alguns meninos do meu lado perguntaram.

 

— Não sei, mas pode ser meu— ele literalmente se jogou na carteira e encostou as costas na parede. Junto assim, ele abriu as pernas bem.. largamente.. É meio… eu não posso descrever isso. 

Depois de um tempo o professor passa umas páginas para fazer, e assim a sala voltou a ser a bagunça de antes, pessoas conversando e andando pela sala enquanto o professor estava em sua mesa corrigindo algumas provas, eu acho.

 

 Tinha um grupo de meninos sentados do meu lado, era estranho porque um me olhava muito, mas com uma expressão gentil. Até que o mesmo se dirige à minha mesa, parecendo acolhedor.

 

É estranho, a aula inteira eu senti uma presença me olhando... e olha que eu nem esqueci de tomar meus remédios hoje.

 

— Conseguiu entender a matéria, Vicente? Tem o livro- Quando ele vai continuar a falar ele é interrompido pelo Ryan que parecia... Deveras raivoso.

 

— Tá confortável demais para um cidadão chamar um representante pelo nome, né, parceiro? — ele tentou parecer neutro, mas falhou, miseravelmente. Estava claramente irritado.

 

O menino parecia muito nervoso depois de perceber o erro que tinha cometido ao falar meu nome humano.

 

— Mil perdões, São Paulo... Você precisa de ajuda com algo? — depois de ser corrigido, ele começou a ignorar a existência do carioca, provavelmente por vergonha, ou pelo menos é o que eu penso.

 

— Olha... com todo respeito, mas eu não entendo nada.

 

—Sem querer falar nada, mas eu consigo ajudar ele.  Eu entendi toda a matéria. — Ele falava com confiança e um sorriso maroto, não é como se eu confiasse no o que ele falava.

 

— ... Você? Rio de Janeiro? Você entendeu a matéria? Então... tá, eu acho.

 

Ele honestamente estava muito surpreso, mas, não perguntou, apenas deixou eu e o outro em paz. Então... é tão fácil assim? Quer dizer, pelo menos pro Rio, era tudo tão fácil e simples. Ele quase quebra a porta, chega mil horas atrasado, zomba do professor, intimida os outros alunos, absolutamente nada acontece. Eu me questiono o que aconteceu.

 

 — Então.. eu posso te ajudar?

 

Eu pisquei e o menino literalmente se apoiou na frente da minha mesa, suas mãos literalmente descansando na minha mesa. Ele me olhava com uma cara genuinamente curiosa.

 

— Ah, pode. Se você quiser, Ryan. 

 

Depois do que eu disse, ele ficou mais feliz, deu umas risadas e rapidamente sentou na mesa da minha frente, colocando todo seu corpo diante a cadeira, afinal, toda a mochila quase vazia dele tava comigo.. espera. Será que ele percebeu.. acho que não, e eu não quero soar estranho, vou perguntar algo pra ele pra amenizar o clima.

 

— Você realmente não traz nada pra aula?

 

— É.. é que eu meio que esqueci minha mochila em algum canto da escola. Mas, fodasse. Não tinha nada lá mesmo, só alguns pingentes velhos que me deram de lembrancinha — ele se acomodou muito, pegou meu lápis e começou a ficar girando entre seus dedos. Ficava meio descontraído enquanto falava um pouquinho demais sobre sua vida.

 

 E isso eu consegui ver perfeitamente, ele se sentiu tão confortável comigo que começou a literalmente soltar fatos da sua história. Com menos de um dia que eu conheci ele, eu sei que a mãe dele morreu, que ele já foi quase sequestrado e que ele não tem o mínimo de consciência de quão caro deve ser couro.

 

— Hm... Deve ser ruim, mas eu posso te emprestar o pouco que eu tenho.—

 

— Pra que oxi? Tu acha que eu vou fazer isso? 

 

Ele me interrompeu e falou. Me olhava de cima a baixo toda a hora, sem falar que meio que me desprezou um pouco.

 

Eu me calei um pouco. Minha cabeça fica confusa em relação a isso, tipo, não é estranho ele meio que sabe qual rumo tomar, o tempo todo? Parece planejado todas as ações dele. Mesmo que ele fosse meio descontraído e brincalhão ao falar, o que sinceramente, trazia um ar amigável e seguro no olhar dele. 

 

Ele me faz perguntar muitas coisas.. Mas, eu acho que por agora eu não preciso saber a resposta de nenhuma delas.

 

— De qualquer jeito — ele se sentou na cadeira da frente e se virou pra mim —, mesmo que eu fique vagabundeando a aula inteira.. se você quiser eu te ajudo — ele evitou contato visual, parecia envergonhado. Mas riu suavemente depois de falar isso. Eu não entendi sua ironia, independentemente, eu achava a coisa mais radiante daquele local.

 

— E tu sabe de algo disso? Até os professores duvidam da sua capacidade, Rio.

 

Foi a primeira vez que eu chamei o nome dele. Meu Deus, meu Deus. Será que eu não deveria ter brincado assim? Será que ele me acha estranho.

 

Para contrariar todas as minhas paranóias, ele me olhou surpreso. Eu vi os olhos dele brilharem, finalmente ganhando algum tipo de cor. Ele riu do que eu disse. 

 

Era tão leve os pequenos sons das risadas que saiam de seus lábios ressecados. 

 

— Ha! Quer dizer, eu não tenho uma fama de delinquente por nada né.

 

— Delinquente? Eu só diria que você é meio desleixado — disse ironizando, revirei meus olhos e cruzei minhas pernas.

 

— Tá parou! Chega— debochou, enquanto perdia um pouco seu foco— não fique surpreso quando os professores proibirem a gente de ficar junto.

 

..? 

 

Ele me considera alguém que ele vai falar muito ou é minha impressão..? 

 

Deve ser só porque eu sou novo.. Mas, ainda sim, é bom ser acolhido. Eu acho que se eu pudesse escolher um lugar pra ficar nessa hierarquia escolar, eu queria ficar do seu lado, Ryan. 

 

— — — —

 

{ 22:03 }

Eu me lembro perfeitamente, só foi nesse horário que eu consegui finalmente me trancar no quarto e ficar pensando.

O vento era quente, e o cômodo escuro. Se eu fosse ligar a luz, ficaria muito claro aqui e tiraria meu sono, então, eu acendi três velas, todas bem fraquinhas.. Mas , ainda sim era confortável — E se eu quisesse fumar seria mais fácil.

Eu honestamente me pergunto.. Mas .. não esquece. É besteira.

Eu quero pegar o livro velho que mamãe me deu. É tão bonito aquele caderno, e pelo visto, eu descobri que não poderia usar ele nas aulas.. eu acho que vou fazer ele de diário, e se eu ficar guardando o que eu sinto, eu vou explodir. Mas , esse caderno tá na minha bolsa— Meu Deus eu tô com a bolsa do Rio, ainda. Nem a porra do casaco eu devolvi. Eu tenho merda na cabeça por algum acaso? 

Eu acho que sim, Quer dizer, tenho certeza que sim. Ai ai.. mesmo que isso ma traga uma sensação boa, eu me sinto um pouquinho culpado, que humilhação isso, e a escola inteira vendo, mas pelo menos, eu fui aceito. Eu acho que por achar um amigo meio bagunceiro, isso já me dá um passe para ser popular, e para eu não sofrer bullying. 

Não como se eu gostasse de furtar as coisas, eu não sou ladrão também, Mas , se isso me trazer mais adrenalina.. talvez eu possa dizer que eu vivi minha vida. É acho que a única coisa "rebelde" que eu fiz na minha adolescência. Meus pais só não podem descobrir, eles não sabem nem que eu fiz um.. "amigo"

Ai meu Deus..

Eu comecei a rir, eu tapei minha boca. Por algum acaso eu sou besta de achar graça nessa situação que eu tô passando? Claro que sim.. eu senti meus olhos se fechando um pouco enquanto o sorriso se aumentava na minha cara.. não foi tão ruim assim.. embora eu ainda esteja ansioso por causa das minhas brigas.. eu tenho um amigo agora.. 

Mas, talvez isso só seja loucura da minha cabeça também. É só meu primeiro dia, como eu já disse. Vai que ele não vai mais falar comigo depois? 

Bom.. mesmo assim, eu vou continuar vendo ele de longe.. ele pode botar medo em geral, parece que ele comanda essa escola. Eu tenho certeza que ele é popular. Mas ele não é mau, não. Ele é legal e assustador ao mesmo tempo ..

Eu penso muito sobre a questão do caderno que minha mãe me deu, e eu acho uma boa ideia já começar a escrever para poder escrever meus sentimentos sobre esse dia… peculiar.. 

 

Eu já tenho muitas dificuldades em me expressar normalmente, mamãe me disse que escrever seria bom, ela mesma já faz isso regularmente, vivo vendo ela escrever em um livrinho pequeno, mesmo que o pai fala que é besteira e que eu preciso é virar homem, o que eu não acho que tenha a ver com nada.

 

Assim que eu abro a mochila do “indivíduo” onde a minha estava dentro, encontrou um bilhete

 

 

 

 

Notes:

Hey hey! Mais um capítulo postado! Desculpa a demora, prometo que tentarei postar mais rápido.

O que acharam do capítulo de hoje? Espero que tenham gostado e não se esqueçam de deixar kudos se realmente gostaram ^_^

Notes:

Eai meu povo!

Oque acharam do primeiro cap?

Ele é um pouco pequeno em relação aos outros caps mas é apenas uma introdução ao personagens principal etc.

Se achar qualquer tipo de erro por favor nos avisem!

Se tiverem qualquer opinião construitiva podem falar! Para melhorarmos a história e deixarem sempre melhor.