Chapter Text
"“O amor é uma força selvagem. Quando tentamos controlá-lo, ele nos destrói. Quando tentamos aprisioná-lo, ele nos escraviza. Quando tentamos entendê-lo, ele nos deixa perdidos e confusos.” — O Alquimista, Paulo Coelho"
O mundo deveria ser mais justo.
Mas para o anjo a justiça pareceu falhar desde o instante em que ele pisou na terra.
Ele se lembra de tudo parecer sombrio e doloroso, do sofrimento humano que o fizera se sentir mal, como se uma espada estivesse atravessada em suas entranhas, como se sua cabeça estivesse fora do lugar, fora de órbita. Ele os odiara naquele momento. O anjo pensava como o senhor havia escolhido seres tão fracos como seus preferidos?
Porém, logo havia percebido que dor e vida andam um ao lado do outro, e que a humanidade é nada mais do que a mais bela das coisas criadas pelo pai.
Além do Bourbon, é claro.
O anjo prateado está sentado em uma banqueta em sua taverna preferida enquanto observa o melhor amigo, um anjo de fogo, girar e girar na pista de dança junto com sua amada, que logo se tornaria sua esposa. O anjo prateado havia ajudado o anjo de fogo a escolher a aliança dias antes, e prometeu que lhes pagaria a mais bela das viagens para descansarem, pois, mereciam isso após enfrentarem tantas dificuldades para ficar juntos.
Mas logo o anjo de fogo abandona sua amada, e se aproxima do amigo em passos trôpegos, quase desajeitados, e com um sorriso de dar inveja em seu rosto bonito demais. Ele logo pede uma bebida ao feiticeiro atrás do balcão, que lhe cede o pedido junto de uma piscadela.
— Você deveria ter alguém— diz o anjo de fogo, sorrindo como uma criança — é libertador, amar como eles.
O anjo prateado pensa nas palavras de seu amigo, e reflete que realmente a sensação do amor humano sempre lhe pareceu algo sem limites. Por amor eles fariam qualquer coisa, por amor eles abandonam, por amor ocorrem crimes, por amor se declaram guerras. É puro e doloroso, viu e ardiloso.
Mas não deixa de ser belo e invejável.
Então ele percebe que inveja foi algo que nunca sentiu, ao menos não até que visse seu melhor amigo e a feiticeira que é apaixonado.
— Sou jovem demais para isso — brinca ele, e o amigo ri, virando toda a bebida em um só gole. — Na verdade, não sou capaz. Não posso quebrar alguém inteiro, e você sabe disso.
— Na verdade, se você amasse alguém, seria sem limites, amigo — dita o anjo de fogo, enquanto sua amada sobe no palco e pede silêncio — você não sabe amar sem dar tudo de si para isso. É brutal, e lindo ao mesmo tempo — ele para de falar, e sorri — sou feliz por te ter como amigo.
O anjo prateado pensa que talvez seu amigo esteja certo, mas que ele próprio também. Ele não condenaria alguém a amá-lo, jamais. Seu coração inútil é quebrado demais, despedaçado por tantas dores e perdas que ele mal sabe onde estão os pedaços, mas ainda assim, ele continua a caminhar pelo mundo. Por uma promessa, a única que cumpriria antes de se encontrar novamente com o criador.
— Olha só, como é bela.
O anjo de fogo sussurra, sem tirar os olhos de sua amada, enquanto ela canta com louvor.
‘’Tempestades enfeitam seus olhos, jovem menina;
Seus cabelos longos, e belo sorriso;
O coração a ele pertence. Não se pode negar!
O guerreiro das estrelas, o raio prateado;
Sob o céu, a voar...’’
