Actions

Work Header

e quem irá me dizer que não existe razão

Summary:

“Você gosta de loiros, é?”
E lá se vai qualquer calma que ele tinha recobrado. O alto das bochechas e, com certeza, as pontas das suas orelhas estavam corando agora, merda, aquele monitor bonitinho tinha um jeitinho de deixá-lo ruborizado que era simplesmente irritante—gente bonita é um inferno. O privilégio existe.
“Odeio loiros!”

Se apaixonar pelo monitor de Cálculo I no seu primeiro ano de faculdade não estava nos seus planos, mas Zanka deveria ter adivinhado isso: loiro, alto, simpático, uma fala mansa e muito inteligente—pra piorar, o cara ainda era belíssimo. Teria ficado tudo bem se fosse apenas algo platônico, uma quedinha que ficaria presa ao primeiro semestre onde aquela matéria estava arrancando a sua sanidade, mas então uma coisa puxou a outra e, no terceiro semestre, ele viu o significado de ‘quem procura, acha’, por que, de fato, ele procurou. E, pode ter certeza, ele achou.

Notes:

eu gostaria de me explicar... mas ao mesmo tempo acho que nem sei comoKKKKKKKKK to rindo
o que posso fazer né? adorei o anime, adorei o zanka e amei o tamsy desde a primeira vez que ele apareceu na minha tela e, NA MINHA CABEÇA, faz muito sentido! dito isso, eu sei. eu peguei um spoiler tenebroso no twt but you cannot judge me! SÉRIO, EU JÁ GOSTAVA DELE ANTESKKKKKK e considerando que eu só gosto de doido, faz sentido. aiai
dito isso, aqui está mais de dez mil palavras do que, provavelmente, vai ter três ou quatro capitulos e em algum momento talvez eu traduza para o inglês ou, se alguem quiser se prontificar, agradeço! até porque só tem 13 fanfics na tag e, honestamente, eu entendo. eu até pensei em escrever direto em inglês, mas... af, quero não, essa fanfic PRECISAVA ser em portugues pq eu PRECISAVA que o jabber falasse que a carne caiu no prato do carnivoro. vamos encher o ao3 de fanfics em portgues, eles que usem google translate !!! enfim, não tenho como me explicar, mas aqui está espero que gostem^^ o tamsy é um querido aqui com um único defeito gritante que, em breve, iremos de descobrir (spoiler: falou pros amigos que eu sou surtada que mando mensagem que vou na sua casa...

o titulo vem de eduardo e mônica do legião urbana, sinto mt rsrs

(See the end of the work for more notes.)

Chapter 1: Cálculo e Física I

Chapter Text

No ridículo curso de engenharia de computação, na faculdade onde Zanka Nijiku estudava, existia uma cadeira imunda chamada ‘cálculo III’ que era, com toda sinceridade, uma piada. Quando os calouros chegavam no primeiro ano e pensavam ‘meu deus, cálculo e física I vão me matar’, ou então, quando estavam no semestre seguinte, após terem sobrevido todas aquelas cadeiras infernais, ‘meu deus, álgebra linear e estática vão me matar’, bem, o que eles ainda não sabiam é que no terceiro semestre isso piorava. E o que uma pessoa do terceiro semestre já deveria saber se tivesse ao menos um pouquinho de esperteza, é que, independente do sofrimento no terceiro, o quarto semestre seria, com certeza, pior. 

O jeito, no fim, era só se jogar do viaduto mesmo. No caso de Zanka, com os irmãos simpáticos e a família bem boazinha que ele tinha, o jeito foi ficar com a bunda quadrada e a vista dolorosa de tanto estudar. Era bem melhor sofrer um pouquinho estudando na capital do que ser obrigado a voltar para casa. Imagine, perto dos irmãos, o Jabber nem parecia um colega de quarto tão ruim. 

Foi por isso que, enquanto tinha os fones ligados no volume máximo tocando a maior banda de metal já vista, Calcinha Preta, ignorou completamente o falatório dele e apenas respondeu uns ‘Uh. Uhum. Ahhh. Aham. Tá.’ e, como sempre, ele conversou praticamente sozinho. Jabber tinha fôlego e assunto pelos dois, era impressionante. E, no entanto, assim Zanka já tinha se acostumado, com certo custo, ao rapaz, ele também tinha se habituado. Quando realmente quis uma resposta, o colega veio e bateu no seu ombro, tirou um dos fones do ouvido. Nijiku guinchou e fez cara feia, mas olhou pra ele. 

“Que é, hein?!” 

Jabber não se abalou nem um pouco pelo mau humor, pelo contrário, sorriu quase se divertindo. “Vai ter uma calourada hoje, lá na química, bora?”

A resposta? Um revirar de olhos. Devolveu o fone para o ouvido e suspirou, voltou a olhar para os slides que o professor tinha disponibilizado. Jabber, no entanto, não se deu por vencido. Dessa vez, estava obstinado a tirar o rapazinho azedo igual limão dos seus estudos. Até porque, todo mundo sabe que estudar demais não leva ninguém a canto nenhum! Até Deus descansou no sétimo dia, pudera! 

No caso, ele até usou esse argumento, mas Zanka não era lá tão religioso para ser convencido por isso. Jabber falava que seria divertido e que pagaria pela bebida, pois seu colega de quarto devolvia que não gostava de beber e que festa barulhenta, com música ruim e gente feia não era a sua praia. Pois então o rapaz perguntou qual era a sua praia, Zanka ficou em silêncio, olhou para a tela do computador, olhou para o teto e, no fim, deu de ombros. Por ele, a conversa nem teria começado. Infelizmente, Jabber Wonger nunca pensava por mais do que dois minutos. 

“Cara, pelo amor de deus, sua vida não pode ser só estudo! Tem que se divertir também, sair de casa, bora, Zanka, bora!” insistiu, não podia dizer que estava surpreso.

“Cara, pelo amor de deus,” Zanka repetiu, fazendo uma imitação um pouco patética da voz dele. “Me deixa em paz, vai? Eu tenho prova de cálculo três na terça, tá?”

“Porra, mas hoje ainda é sexta, mano!” e tudo que pode fazer foi bufar, depois daí foi uma confusão só. 

Para um rapaz que era mais velho um ano e cursava engenharia química, pois ele era infantil até demais. Jabber se jogou na cama, esperneou, lhe infernizou, repetiu o pedido várias e várias vezes, tentou até suborno, tentou convencê-lo de todas as formas e, quando a sua paciência já estava mais do que no limite, apelou para mentira.

“Eu te arranjo as provas antigas, certeza que o professor só reutiliza, eles são todos preguiçosos, vamo, Zanka!” Dessa vez, apenas olhou para ele de cima pra baixo, suspirou. 

“Não sou nenhum gênio, Jabber, mas eu sei que você não fez essa cadeira ainda.”

“Diferente de você eu saio do quarto e conheço as pessoas", argumentou. “Além disso, se essa cadeira é tão difícil, porque você ainda não falou com o monitor dela?”

Nijiku bateu os dedos na madeira de escrivaninha, preferia ficar calado quanto a isso. Wonger viu a ponta das orelhas dele ficarem vermelhas e já ia se esquecendo da suposta calourada, que vá pro espaço a festa do departamento de química, o seu colega de quarto com as orelhas rosadas e uma cara de cachorro morto? Ah, isso ele precisava saber! Mas nem que precisasse arrancar essa informação dele a força, iria ficar sabendo! Ocorre que TDAH é uma coisinha difícil de lidar e Zanka já estava mais do que acostumado com isso. 

“Bora pra porcaria dessa festa, não tem nenhum tema, né?” 

 

Pois bem, a festa era sim temática. Anos 2000, que palhaçada, hein… 

Zanka não tinha nenhuma roupa que se parecesse com a estética geral daquele tempo e, por isso, acabou indo parecendo um emo, o que era o mais próximo que ele conseguiria chegar. Jabber se misturava muito bem, com o jeitão animado e as cores vibrantes das suas roupas, era de se perguntar se ele tinha saído da Carreta Furacão ou de Um Maluco no Pedaço. No mais, certamente estava bem mais a caráter do que ele. Antes de sair do seu quarto, ele ainda mandou uma mensagem para Riyo, perguntando se ela iria para festa, até porque, a amiga era carteirinha carimbada nas festas. Não obstante, a resposta dela foi um sucinto, ‘óbvio, né’ e depois um deboche desacreditado de que justo ele iria. Combinaram de se encontrar na entrada e lá estava ela. Shortinho preto curto, curtíssimo, cinto branco, um cropped, meia arrastão e coturnos, cabelos ruivos e uma maquiagem pesada. 

“Gostou? Foi pra combinar com você!” ela riu. Zanka rolou os olhos, mas estava sorrindo. Tinha passado lápis preto na linha d’água do olho e ficou até feliz quando viu a mesma cor nela. 

Jabber, intrometido, entrou no meio dos dois, pôs as mãos nos seus ombros e começou a arrastá-los falando sobre a festa e perguntando besteira. Riyo era bem mais comunicativa e, assim, conseguiu fugir do assunto e apenas ser agente passivo, ouvinte. Aparentemente, a amiga tinha vindo com um interesse em particular dessa vez—uma loira do curso de física, veterana. Wonger conhecia ela, disse que iria apresentar as duas, Riyo ficou animada, Zanka estava se segurando para não suspirar contente, se tivesse sorte, poderia escapar de volta para a casa dos estudantes bem rapidinho. Até porque, assim que chegaram no meio da muvuca, quis voltar para o conforto do seu quarto.

Primeiro, muita gente. Segundo, o som era muito alto. Terceiro, ele estava errado, as músicas estavam boas dessa vez, viva a festa temática. Quarto… Zanka tem uma puta falta de sorte. É um caso crônico. 

Imagine quem está do lado da loira do curso de física? Obviamente, lá estava o monitor de cálculo três! 

Tamsy Caines. 

“Oh, desgraça!”

 


 

Quando Zanka conheceu o rapaz pela primeira vez, ele estava no primeiro semestre da faculdade, era um calouro perdido e, sendo sincero, um pouco assustado com o meio acadêmico e o fato de que precisava cursar seis cadeiras diferentes e nenhuma delas era exatamente fácil. Para alguém assim, tendo acabado de sair do ensino médio, ver alguém como Tamsy Caines era o mesmo que ver um anjo. 

Durante uma das piores aulas da semana, a famosa aula de cálculo I, bateram na porta, a professora interrompeu a aula, deixou que um aluno loiro entrasse e, para a sorte de todos, tiveram uns dois minutos para respirar em paz e não pensar em números. Ele anotou o e-mail na lousa, disse que se precisassem de algo poderiam falar com ele que, assim que visse, responderia. Trocou algumas palavras com a professora, riu de uma besteirinha e ela colocou a mão no ombro dele, gabou-se de que o rapaz tinha sido seu aluno dois anos atrás e agora era monitor da cadeira. Antes de sair da sala e se despedir, ele ainda disse que cálculo não era nenhum bicho de sete cabeças, com um sorriso amistoso e uma voz muito melodiosa, bem animada, ele disse: “Tem várias outras cadeiras piores, não se assustem logo de primeira, deixem espaço pro desespero dos anos seguintes, tá?” a professora riu, alguns estudantes também acompanharam e Zanka, que já estava preocupado, ficou ainda mais. 

Bom, Tamsy estava certo. Haviam cadeiras bem piores, mas no primeiro semestre de faculdade, ele pensou que cálculo e física fossem lhe matar a pauladas.

Antes mesmo da primeira prova, estudando com uma antecedência absurda, já estava pedindo arrego e escrevendo um e-mail desesperado para o rapaz simpático de cálculo e indo com uma assiduidade absurdas paras as mentorias de física durante o horário de almoço—não que elas servissem de algo, o monitor era um esquisito idiota que não falava nada com nada e passava mais tempo enchendo o saco de umas duas garotas do que qualquer coisa, sentia um pouco de pena delas. Ainda bem que elas diziam alguns absurdos às vezes e, sempre, toda vez mesmo, assim que saiam da sala, saiam rindo e debochando do rapaz. Zanka apenas rezou e esperou que o rapaz do e-mail fosse mais simpático, porque física até que estava funcionando mais ou menos, Jabber Wonger, o seu colega de quarto, o ajudou com alguns conteúdos mais difíceis. Estava mais preocupado porque, na sua turma de cálculo, tinha um rapaz que era repetente dessa única cadeira e, de acordo com ele, era a pior matéria do primeiro semestre. 

Zanka Nijiku não sabia se isso era verdade ou apenas um drama, mas, de fato, com a prova em menos de duas semanas, cálculo I parecia mesmo a pior coisa do mundo. 

Após reler mais uma última vez o e-mail como se estivesse o enviando para um professor e não apenas um reles aluno, Zanka respirou fundo, suspirou, entrou na sala de aula e aguardou. 

Sua resposta chegou na mesma hora que pegou o celular, enquanto andava até o restaurante universitário. 

Vai em anexo os slides da professora, o td e as provas dos dois últimos anos, infelizmente, ela muda as duas questões todo semestre. Se precisar tirar dúvidas pessoalmente, posso ajudar a partir das seis horas da noite. Bons estudos!

Zanka agradeceu e, apesar de tentar fazer tudo sozinho, foi apenas abrir uma das provas e enganchar na segunda pergunta que ele percebeu que, bem, precisava mesmo de ajuda. A data estava se aproximando e, com tantos problemas com as outras matérias tão perto também, ele não poderia se dar o luxo de ficar se preocupando apenas com aquela. 

Numa quinta-feira qualquer, Zanka se perguntava como os cílios de uma pessoa poderiam ser tão longos e como um rosto poderia ser tão bonito. E ele ainda era alto e loiro… aquilo era meio injusto.

“Hm… acho que o seu problema maior é logaritmo,” ele disse, segurava o próprio queixo com o dedão e o indicador, o seu caderno estava em cima da mesa e o rapaz olhava para ele tentando achar onde a conta tinha dado errado. 

“Pior…” foi a grande e inteligentíssima resposta que Zanka conseguiu dar. Tamsy riu baixinho, saiu da cadeira de onde estava a sua frente e, no que ele pensou ser um ataque maldoso ao seu coração, sentou-se do seu lado, devolveu seu caderno e mandou refazer a questão do começo. O monitor ficou de olho, o interrompeu no primeiro erro que cometeu e mandou continuar dali depois de consertá-lo e explicar porque aquilo estava errado. Em menos de uma hora, Zanka tinha terminado de resolver perfeitamente a primeira prova e sorria quase orgulhoso para as duas páginas cheias de números trêmulos. Ao seu lado, o loiro sorriu, deu um risinho, aparentemente, se divertiu com suas feições admiradas. Nijiku sentiu suas orelhas arderem imediatamente e foi lembrado muito rápido que, do seu lado, estava um rapaz estupidamente bonito e inteligente. Pior, mais velho também. 

Podem chamar Zanka do que for, mas esse era exatamente o seu tipo. E, se conhecendo e, especificamente, conhecendo o seu dedo podre, tinha algo de muito errado naquele rapaz. 

Não é como se aquilo importasse quando o Caines estava tão perto e mantinha um sorrisinho curto naqueles lábios carnudos. Zanka era apenas um ser humano, ninguém podia culpar ele se aquele maldito piercing chamava atenção. 

“Fácil agora?” Tamsy perguntou, Zanka endureceu a postura, assentiu na hora, mas depois ficou chocado, arregalou os olhos, negou. “Não?”

“Na prova eu vou estar sozinho, não vai ser tão fácil sem a sua ajuda, tenho certeza.” 

O monitor pôs a mão no queixo de novo e, pelo que podia perceber, era um hábito dele. “Será que funcionaria um ponto no seu ouvido? Tipo, missões de espionagem!” 

“Mas como você veria minha prova, então?” entrou na brincadeira, ainda um tanto envergonhado, mas mais relaxado. 

Tamsy pareceu considerar verdadeiramente a ideia, fez uma careta, “Aqueles óculos do doido do facebook, será que eles funcionam mesmo?” e Zanka riu. “Que foi? Eu não confio em gente feia!” 

Nijiku teve que pôr a mão na barriga, dessa vez, o rapaz acabou acompanhando, rindo também. Quando as risadas já estavam parando, Zanka percebeu que a mão dele estava apoiada no seu ombro e os dois estavam estupidamente próximos. Se estivessem num filme da Sessão da Tarde, o próximo passo seria um beijo. Mas não era um filme de comédia romântica, infelizmente. Tamsy tirou a mão devagar, pediu desculpas, mas o lugar onde segurava antes parecia formigar pela falta do toque. 

Zanka agradeceu pela ajuda, o monitor disse que estava sendo pago pra isso, mas ainda aceitava remuneração extra, foi o sorriso ladino que entregou a piada besta e, apesar de, normalmente, achar esse tipo de brincadeira idiota, quando é um rapaz bonitão quem faz ela, você simplesmente sorri. É fácil assim, aquela coisa, né, é bom demais ser bonito. 

No caso dele, parecia ser injusto. Tamsy era claramente muito inteligente, era educado, bonitão e, ainda por cima, muito solicito. 

“Tenta resolver a outra prova e me manda as suas respostas, tá? Qualquer coisa, podemos marcar aqui de novo.” 

É. Definitivamente tinha algo de errado com ele. E o rapaz ainda era loiro… 

 

Perdão, Zanka. Não vou conseguir estar na faculdade nesse horário, mas, se você não se importar, podemos nos encontrar no shopping perto da estação, é caminho do meu estágio. Se estiver tudo bem pra você, claro. 

Uma coisa que Tamsy pareceu não perceber, no entanto, era que para Zanka não estava nada bem. Quer dizer, talvez fossem as vozes ou ele estava apenas ficando louco de tanto ouvir ladainhas de Jabber, mas… encontrar o monitor de cálculo I fora dos limites do campus era, bem, diferente. 

A primeira prova foi ok. Zanka não era estúpido ao ponto de esperar tirar um dez naquela matéria, ele não era nenhum gênio e, tudo que fazia, tudo que conseguia, era apenas por puro esforço e dedicação. Depois daquele estudo praticamente assistido, ele fez o que o monitor disse, resolveu a segunda prova, enviou foto com as suas contas e, para a sua sorte e suas bochechas rosadas, estava sozinho quando recebeu a resposta. Um elogio. Aparentemente, fez tudo correto e, para Tamsy, isso era algo que merecia um “Perfeito, Zanka! Parabéns, acho que você vai tirar uma boa nota na prova!”, acompanhado de um emoji de coração, era ridículo como apenas aquilo o fez ficar envergonhado e andar levemente mais rápido e animado igual um bobo. O poder de um elogio… 

Na prova, tirou oito. Uma nota ótima, mas que, com os lábios torcidos, ele pensou, ‘não é o suficiente’. Seu irmão teria fechado a prova, sua irmã sequer teria precisado de ajuda. 

E, no entanto, quando Tamsy o encontrou no corredor do departamento de matemática, ele sorriu para o calouro, aproximou-se, “E então, como foi a prova?” e Zanka sorriu educado, um pouco torto. “Tirei um oito!” E os olhos cor de areia dele se arregalaram, um sorriso grande coloriu seus lábios, mais uma vez, a mão dele repousou em seu ombro, Caines o apertou, “Parabéns! Oito, é? Estou orgulhoso de você, viu como não precisamos de nenhum óculos ridículo?” A mão dele ainda permaneceu no seu ombro por mais um tempo, mas depois ele se despediu, disse que estava tendo aula de hidrologia e, suspirou, balançou a cabeça, depois saiu. Mais uma vez, era estranha a graciosidade com que ele se movia e como o seu toque era delicado.

Havia passado um bom tempo desde esse dia que foi, inclusive, a última vez que o viu. Então, juntando com a ideia de estar num local que não era estritamente educacional, Zanka estava um pouco preocupado demais com a sua escolha de roupas. Por isso, recorreu a ideias absurdas. Pegou o celular em mãos, isso depois de entrar no primeiro banheiro que viu no shopping e, mesmo que recebesse uma opinião negativa, pra trocar de roupa não dava mais tempo. Tirou uma foto e enviou para Riyo, na época, a amiga ainda estava em Akuta, cursando o último ano do ensino médio, então, tempo ela tinha. Em menos de dois minutos, tinha respondido, mandado uma figurinha e compartilhado a foto num grupo com Eisha, Follo, Gris e, pra piorar, Enjin. Se convencendo de que poderia ser pior, ele pensou que Tomme poderia ainda estar naquele grupo. 

Riyo: olha o aluno favorito de vocês todoooo arrumado pra um encontro! 

Mas a legenda não poderia ser pior! Zanka não era tão relaxado  ao ponto de não querer surtar por algo assim e, enquanto resmungava mil e uma coisas, sentou num banco no meio da passagem, iria esperar por ali mesmo. Era perto da entrada da estação, então, Tamsy provavelmente passaria por ali em algum momento, era mais fácil assim do que enviar um outro e-mail. Deveria ter combinado isso com mais cuidado… bom, tarde demais, não?!

Não é um encontro! Eu já te disse! 

Enjin: bonitão, hein! quem é a guria? 

Gris: Pelo amor de deus, Enjin, ele é seu aluno!

Enjin: *era, deixei de ser professor dele já 

Riyo: vamos vamos Gris, dá a nota pro look! 

Follo: Oxi, mas como assim encontro, guria e Zanka na mesma conversa? Absurdo isso 

Se fode, Follo 

Riyo: ele tem um ponto! quem é o seu namorado? 

Mas que bosta eu já te disse que só tô indo encontrar o monitor de uma cadeira no shopping! Eu só quero ajuda com cálculo I! 

Gris: Rapaz, fica difícil pra eu te defender assim. A Tomme tá morrendo de rir aqui já.

Zanka quis morrer. Mas o que ele poderia esperar do pessoal da secretária da escola? Tomme e Gris estavam sempre juntos. Como diabos tinham criado aquele grupo mesmo? Começou com um projeto de ciências, uma viagem pra apresentar na feira estadual, Gris dizendo que Enjin não podia ir sozinho e Tomme acompanhando para documentar a participação deles para a escola, Enjin sendo o professor ‘responsável’. Que coisa horrível! 

Follo para de digitar que nem era pra você tá aqui, tu já saiu da escola tem tempo. 

Enjin: ihhhhhh te chamou de burro ala 

Riyo: eu não deixava 

Vocês são horríveis. 

Gris: Eles são mesmo *tomme 

Gris: Mas você está muito bonito, Zanka! Tem certeza que não é um encontro? *tomme

Riyo: com certeza não é, mas ele queria que fosse 

Follo: Ele tá dois minutos calado, a Riyo acertou 

Enjin: o menino é mais velho? é um monitor né 

É. Mas acho que não chega a tanto, deve ter a mesma idade do August. 

Riyo: você tem uma quedinha por caras mais velhos, eu tô vendo isso 

Follo: Ele é loiro? 

Vai se foder. 

Enjin: eu vou morrekkkkkkk

Riyo: e é loiroooooo 

Riyo: foto foto foto 

Follo: Foto foto foto 

Gris: A gente também tá curioso, Zanka. Queremos fotos! 

Enjin: se ele se parecer comigo eu vou rir e ficar preocupado com a sua saúde mental 

Vai se ferrar, Enjin. 

Riyo: é, enjin, vai se foder! 

Eu não disse isso. 

Riyo: não mas eu quis dizer isso mesmo

Enjin: garota você ainda tem aula comigo amanhã?!

Riyo: é, mas não estamos na escola agora!!! 

Não parece com o Enjin. Ele toma banho. 

Riyo: EU VOU MORRE 

Gris: Merecido.

Follo: Vish, Enjin 

Zanka suspirou, mas não conseguiu evitar um sorriso. Por sorte, nenhum deles estava ali para que ele precisasse fingir que essas conversas estúpidas e picuinhas não eram engraçadas. Sentia saudades da escola e das pessoas que conhecia lá, até mesmo de Follo, que tinha saído antes dele, mas sempre dava um jeito de manter contato. Estaria mentindo se dissesse que aquela loucura toda não fazia falta, mas, bem, ele tinha que lidar com o colega de quarto agora e aquele rapaz talvez fosse umas cinco vezes pior do que eles juntos. No fim, a conversa serviu para lhe distrair e, se Tomme disse que ele estava bonito, então era porque deveria estar arrumado mesmo. Então, antes que pudesse ter um momento de respiro verdadeiro, ele pensou na possibilidade de Tamsy pensar que era muito estranho ele estar tão arrumado assim. 

Olhando para os pés, o tênis normal que usava todo dia, a calça jeans cinza reta, uma blusa azul com estampa, os mesmos brincos de sempre, uma jaqueta—era friorento e sabia muito bem disso—uma pulseira e, bom, ele tinha de fato penteado os cabelos, gastado um bom tempo na frente do espelho vendo o rosto e catalogando tudo que tinha de errado. Ainda assim, para a sua sorte, não tinha nada de maquiagem, no máximo, um lápis de olho preto e um gloss que tinha ganhado de Riyo como piada pela boca ressecada. Não tinha nada contra maquiagem e, na verdade, até que gostaria de saber fazer um delineado, mas ainda bem que não tinha e nem sabia, imagine se tivesse passado uma base na cara… ainda bem que não tinha nenhuma espinha, também. Nijiku suspirou, não sabia mais dizer o que era pior, estar arrumado demais ou de menos. 

Nisso, quando olhou para o celular de novo, eles já estavam em outro assunto—ainda insultando Enjin, no entanto. Riu disso. Estava prestes a escrever o seu próprio desaforo, apenas para brincar também, quando Eisha apareceu na conversa marcando a sua foto. 

Eisha: Você está lindo, Zanka! Vai sair com alguém? É um encontro? Boa sorte!

Primeiro, uma querida. Tão destoante do irmão mais velho e da avó deles. Segundo, suas orelhas ficaram ardendo imediatamente ao ver isso e, infelizmente, o assunto voltou para ele. Terceiro, Riyo tinha uma bocona enorme e Enjin era claramente o culpado disso. Se alguém falasse que eram pai e filha, ele não duvidaria. 

Estava prestes a responder Eisha, agradecer ela primeiro, depois mandar uma figurinha de mal gosto para Riyo, mas Nijiku tinha um azar um pouco grande. 

“‘Ele tá indo ver o novo crush loiro dele…?’” Zanka travou, por uns dez segundos, ficou completamente imóvel, até que virou o rosto e deu de cara com olhos areia, cabelos loiros pálidos misturados com fios azuis escuros enrolados num coque bagunçado no alto da cabeça, um nariz arrebitado e um maldito piercing debaixo do lábio inferior. Quis morrer ali mesmo. “Ainda tão digitando, olha aí.” E Zanka, de fato, olhou para o celular, ainda mais preocupado. Agora ele queria se matar e na frente deles de preferência. Atrás de si, ele ouviu uma risadinha e logo Tamsy estava sentado do seu lado, mas de frente para si e, felizmente, sem acesso a tela do seu celular. Aliás, porque aquele desgraçado estava lendo as mensagens do seu celular? Bloqueou o telefone, engoliu em seco e olhou para o rapaz, este que tinha um sorriso ladino e um brilho de divertimento nos olhos, não parecia nem um pouco envergonhado e, para sua sorte, algo que registrou com facilidade, não parecia incomodado também. Nijiku podia voltar a respirar, não seria chutado escadaria do shopping abaixo. “Você gosta de loiros, é?” 

E lá se vai qualquer calma que ele tinha recobrado. O alto das bochechas e, com certeza, as pontas das suas orelhas estavam corando agora, merda, aquele monitor bonitinho tinha um jeito de deixá-lo ruborizado que era simplesmente irritante—gente bonita é um inferno. O privilégio existe. 

“Odeio loiros!” Respondeu de repente, foi a melhor resposta que conseguiu pensar, especialmente quando estava falando de Enjin. 

Tamsy arregalou os olhos e praticamente gargalhou depois. E o desgraçado tinha uma risada bonita, ele era belíssimo, era extremamente irritante. Qual era o problema dele? Tinha que ter algum! Zanka tinha um dedo podre e uma sorte horrível em romances, então, com certeza tinha algo de errado com ele. Era suspeito que até agora não tinha encontrado qual era o defeito. 

“O que a gente te fez, hein?” Ele perguntou, um sorrisinho nos lábios e não parecia nem de longe incomodado. Também, não parecia que iria comentar sobre a palavra ‘encontro’ ou ‘crush’ e, especialmente, às outras mensagens ridículas que ele deve ter conseguido ler quando estava atrás de si. Não iria falar nada sobre isso para não dar margem para que o assunto voltasse aquela conversa, mas que passo silencioso o dele. 

“Ah, tanta coisa…” devolveu balançando a cabeça. Estava levemente mais calmo, menos nervoso. Dito isso, enquanto Zanka gastou uns bons minutos na frente do espelho, Tamsy parecia exatamente o que tinha dito: alguém que acabou de voltar do estágio e pegou o metrô lotado. Era injusto como mesmo com o cabelo tão bagunçado, olheiras embaixo dos olhos e roupas tão casuais, sendo uma a blusa com uma logo que, com certeza, era do lugar onde estava estagiando, poderia parecer tão bonito quanto um anjo. “Espero não estar te incomodando demais, por sinal, é que—”

“Que isso! Não é nada,” ele disse e sorriu. “são doze horas semanais, sabe? Eu tenho que cumprir de alguma forma, mas acho que nas últimas duas semanas a única monitora de cálculo que tá fazendo algo de verdade é a Meriege. Eu mesmo só tô mandando as provas resolvidas e pronto. A maior parte do pessoal só quer isso mesmo, tirando a sua professora, todos os outros só repetem as provas.”

“É por causa do estágio?” e ele assentiu. Zanka quis se desculpar, quis engolir a própria mão por ter pedido para que ele lhe explicasse a matéria pessoalmente mais uma vez quando, assim como os outros, poderia só ter pedido a resposta. Estava dando trabalho pra uma pessoa atoa, era responsabilidade sua se esforçar e tirar a nota que queria, mesmo que não fosse nenhum gênio. 

“Ainda tô me acostumando com a poeira, se eu soubesse que ia ter que usar capacete, acho que tinha escolhido outra coisa.” Tamsy se levantou, passou a mão pela calça azul folgada, “A gente pode ir para praça de alimentação? Vou aproveitar pra jantar logo, meu irmão com certeza nem saiu do quarto, que dirá fazer a janta. Dou uma olhada no que você fez enquanto espero o pedido e depois vamos resolvendo juntos, igual daquela vez, pode ser?” 

Assentiu, levantou-se do banco também, colocou a mochila nos ombros e seguiu ele. Agradeceu, ao passo que o loiro apenas abanou a mão, dispensou como se não fosse nada. 

“Eu que agradeço você ter aceitado vir pra cá, ia ser meio ruim pra mim ter que ir pra faculdade e depois voltar pra casa, aqui é mais perto pra mim. Não fica muito longe pra você não, né?” ele perguntou um pouco depois. 

“Não, não, tô morando do lado da faculdade. É só voltar.” 

Eles passaram pelas lojas da praça de alimentação, fizeram um ou dois comentários sobre as comidas, o monitor ainda comentou que não gostava muito de comer salgados com calabresa e o calouro falou que gostava de praticamente tudo que fosse com recheio de frango com catupiry, ele ainda perguntou se preferia comer com suco ou refrigerante, Zanka fez uma careta, disse que não gostava tanto assim de refrigerante e viu as feições do rapaz ficar incrédulas, desacreditadas, então completou que gostava de comer coxinha com suco de laranja e isso foi o suficiente, o assunto morreu ali. Depois disso, foi procurar por uma mesa livre para eles e Tamsy entrou na fila do kalzone. Após se sentar, tirou o caderno de dentro da bolsa e pegou mais uma vez o celular, digitou rapidamente um desaforo e mandou no grupo, no fim, só serviu para eles rirem e Riyo mandar um ‘não vai me dizer que o rapaz viu isso?’ e ele ficou irritado, porque como é que ela adivinhava essas coisas? Quando o rapaz estava voltando, devolveu rápido o celular para cima da mesa, a tela para baixo. O loiro pareceu notar o ato e, no entanto, nada disse, apenas um sorriso descarado e uma sobrancelha arqueada. 

Quando abriu a boca para falar, ficou um tanto preocupado que ele diria algo, mas Tamsy apenas se sentou e puxou o caderno para o seu lado, quase como se fosse seu. Ele era meio expansivo, parecia nunca ter vergonha e pegava o que bem entendia como se fosse seu. Bem, não iria falar nada, até porque estava sendo ajudado numa sexta-feira à noite no meio do shopping depois de um dia em que o rapaz foi para o estágio e, novamente, como que ele poderia reclamar de algo com um rapaz belíssimo assim? Não fazia nenhum sentido. Até mesmo as cicatrizes, curiosidade que o matasse pois certamente não seria de bom tom perguntar, eram extremamente charmosas nele. 

“Cê tem um lápis pra me emprestar?” E, tal qual a outra vez, ele marcou os erros, disse onde a conta tinha desviado do correto e lhe devolveu o caderno, se levantou com um ‘licença’ educado e uma mão no seu ombro quando foi se levantar. Quando voltou e Zanka já continuava a partir de onde tinha errado, ele colocou uma bandeja em cima da mesa, sentou-se mais uma vez ao seu lado e, sem dizer nada, empurrou o seu caderno para o lado. “Espero que você goste de suco de acerola, não tinha laranja.” Foi então que Zanka percebeu que tinha dois copos e dois embrulhos, antes mesmo que tivesse a chance de agradecer, se oferecer pra pagar ou ficar envergonhado, “Não gosto de comer desacompanhado, depois você me paga um café pela faculdade, tá?” 

Zanka assentiu, um tanto envergonhado. “Tá, obrigado.”

Tinha algo de muito errado com esse rapaz sim. E Zanka iria provar, porque aquilo não era justo! 

Os dois comeram num silêncio quase confortável, Tamsy pareceu perceber que o calouro estava meio sem jeito e, então, coçou a garganta, começou a contar sobre o dia que teve no estágio. Foi assim que descobriu que ele fazia engenharia civil e ele ficou sabendo que Zanka era de computação. Pela primeira vez, conversaram sobre algo a mais do que conta. Ele comentou sobre os professores que teve, falou da que Nijiku estava tendo aula agora, disse que quase não arranjava um estágio e riu com um quê de envergonhamento. Então, contou sobre o ensino médio, disse que achava a rotina da faculdade muito mais cansativa e se arrependia de ter reclamado da escola de tempo integral, Tamsy respondeu que, quando era ‘mais novo’ cursou em apenas um horário e ainda assim reclamava, o irmão dele, um ‘pivete’ de quinze anos, dizia que não aguentava mais estudar tanto. Não se atreveu a falar dos irmãos, especialmente quando ficou com certa inveja ao perceber a maneira como ele falava do irmão mais novo. Não tinha uma relação como aquela com Kyoka e Goka. 

Então, os dois terminaram de comer, o caderno foi puxado de volta e, mais uma vez, houve uma inicial vergonha com o rapaz no seu encalço, mas Zanka estava, honestamente, começando a se acostumar com a falta de noção de espaço pessoal dele. O resto foi conversa sobre número, guinchos baixinhos, reclamações de porque tudo tinha que ser tão difícil e um comentário muito animado para o conteúdo de sua fala, afinal, que tipo de pessoa sorri tão feliz ao dizer que é só ter calma que piora?! Ainda assim, agradeceu muito e estava suspirando aliviado quando conseguiu resolver corretamente. Se virou para agradecer de novo a ajuda e ficou um pouco consternado, mais uma vez, em como estavam tão próximos um do outro. Sorriu, no entanto, antes que falasse, Tamsy apertou seu ombro.

“Boa sorte na segunda prova!” Zanka teve certeza de que poderia contar os cílios dele se tivesse um pouquinho a mais de tempo. O rapaz fechou os olhos, inclinou o rosto e levantou-se, pegou a mochila da cadeira. “Eu ainda vou comprar uma janta pro meu irmão e umas besteiras lá na americanas, você já vai voltar pra casa?”

Talvez um pouco emburrecido, Nijiku deu uma resposta quase imediata. O que era um pouco embaraçoso, tinha que admitir. “Não, posso ir junto.” Disse e se segurou, depois, para não adicionar um idiota ‘se você quiser’. Não era nenhum desesperado e, na verdade, nunca foi de forma alguma tímido. Bem que Riyo falou que metade do cérebro dele derretia quando falava com gente bonita. 

E, pior, a outra metade só pensava em impressionar e ganhar algum elogio. Sabia disso pois a sua quedinha pelo professor de história lhe rendeu um histórico perfeito na matéria, até mesmo em projetos ele se enfiou. Não podia dizer que se arrependia, foi divertido e não teria conhecido Riyo e os outros não fosse essa breve desilusão. Até porque não era como se Zanka achasse que um professor fosse lhe dar mole e, tivesse acontecido qualquer coisa, certamente teria perdido o respeito e a quedinha teria se esvaído. Era interessante justamente por ser algo que jamais faria certo e, sendo ele seu professor, seria esquisitíssimo se algo ocorresse. No fim, o seu ‘crush’ em Enjin era mais admiração do que qualquer coisa. 

Quando Tamsy sorriu curto, no entanto, ele pensou que não era justo. Nem um pouco. Quando o rapaz começou a falar de comprar empada para a janta do irmão e lhe perguntou se Zanka gostava da ‘monstruosidade’ que era a empada de chocolate, os dois concordaram que era um absurdo e o irmão mais novo dele tinha gostos bem estranhos. Quando andavam à toa pelo shopping, quase como adolescentes sem ocupação, comentando as roupas das vitrines, tentando pegar um ursinho de pelúcia naquelas máquinas malditas… parecia quase natural. Quando eles entraram na loja americanas e eles entraram numa discussão besta sobre qual caixa de chocolate era melhor, não parecia algo inatingível. 

Não que fosse dizer que tinha algo ali, não, não. Achava ele bonito e ficava um pouco embaraçado. Tamsy também era muito calmo na forma como falava, não parecia irritado mesmo quando repetia o mesmo erro ao resolver uma questão e tinha um sorriso fácil, uma voz bonita, um modo de falar que às vezes parecia que falava cantando. Em todas as vezes que falou com ele, o rapaz foi extremamente solícito. Bem mais do que qualquer outro monitor, o que era engraçado, porque a maioria conversava por whatsapp, o que deveria passar uma ideia de proximidade, não? De que eram apenas universitários como o próprio Zanka. Não era assim que pareciam, no entanto. Não haviam muitas pessoas simpáticas na universidade e, à medida que os semestres iam passando, os estudantes iam ficando cada vez mais de saco cheio e com uma noção de que ali era cada um por si—jamais julgaria, de certa forma, não era tão errado. Alguns calouros poderiam, e deveriam, levar mais a sério, prestar mais atenção nas aulas e estudar por conta própria, mas alguns monitores poderiam ser mais pacientes também. Numa hora, enquanto esperavam na fila para o caixa, acabou falando isso para ele. 

Que perigo. Estava começando a se sentir confortável perto do rapaz, o envergonhamento de antes sumindo aos poucos, deixando espaço para um clima de entendimento, como se fossem conhecidos de longa data. Mas aquela era, no entanto, apenas a terceira vez que falava pessoalmente com ele. Haviam trocado alguns e-mails fora daquelas duas vezes, Zanka pedindo por uma ou duas informações que não conseguiu achar no site e a professora recomendou que falasse com ele, isso fora os e-mails que antecederam essa ida ao shopping. 

“Não gosto de gente que eu não conheço tendo meu número,” foi o que Tamsy falou sobre o assunto e, honestamente, concordava. Zanka assentiu quase que imediatamente e cruzou os braços, no lugar dele, faria o mesmo. “E também, quer dizer, eu sei que é parte da função revisar a matéria com as pessoas, mas eu detesto dar aula pra gente burra.”

Zanka teve que colocar a mão na boca para segurar uma gargalhada, nem deveria estar rindo, ele mesmo não era tão brilhante assim, mas o jeito que ele falou, como se não houvesse nenhuma ofensa ali, era deveras engraçado. Olhou para o rapaz inquisitivamente, Caines levantou os ombros e sorriu. 

“Não me entenda mal, todo mundo tem suas dificuldades e as cadeiras que envolvem muita conta são normalmente difíceis, mas tem gente que se esforça pra ser incompetente. Você tem noção de quantas pessoas falam comigo pedindo pelos slides da professora pura e unicamente porque faltaram três vezes? Ou, então, perguntam se tenho horário livre pra revisar a matéria em cima da hora da prova? É sempre um dia antes ou até no mesmo dia da prova, gente pedindo desesperada pra estudar na biblioteca e querendo aprender o conteúdo de meses em uma hora, e ficando com raiva quando não aprende.” Ele suspirou, olhou para Zanka e sorriu numa cara que parecia quase de desequilíbrio. “Desabafei, que coisa horrível.”

“Acho que você vai estar bem ocupado daqui uns nove dias,” brincou, Tamsy arregalou levemente os olhos e depois balançou a cabeça, rindo baixinho, ele ainda murmurou um ‘que ódio’ e os dois seguiram para o caixa, o assunto parou ali e, provavelmente, não voltaria mais. Bom, estava enganado. 

“Sabe, Zanka,” o loiro disse enquanto ajeitava as suas sacolas, já estavam saindo da loja. “Acho que gosto de estudar com você por isso. Você realmente escuta o que eu estou falando e tenta entender, dá pra perceber que você se esforça de verdade e que se importa em aprender e não só decorar umas duas respostas pra uma prova. Gosto disso.”

Primeiro, ele sabia que as orelhas estavam vermelhas. Segundo, tinha vergonha da provavel cara de idiota que fez assim que o ouviu. Terceiro, Zanka coçou a garganta e pôs uma mão atrás da nuca, um tanto feliz demais com um simples elogio. 

“Eu ia me sentir um idiota se não conseguisse aprender.” Tamsy sorriu, pegou no seu ombro, aparentemente, o rapaz também estava ficando bem relaxado perto de si.

“Você deveria se sentir um idiota por gostar de caribe, isso sim.” 

Zanka assoprou, era quase um riso, depois rolou os olhos azuis. “Vai a merda, Tamsy” e o loiro lhe deu um empurrãozinho com o ombro, uma coisa leve, como se estivesse implicando, devolveu o mesmo. “Não quero ouvir opiniões de uma pessoa que gosta de chocolate com menta..” 

“Pior você dizendo que aquele amendoim verde é bom.” 

“Oxi, e tu que gosta daqueles colorido?!” 

Tamsy pareceu procurar uma forma de revidar essa, até colocou a mão no queixo, hábito comum dele, mas não falou nada e apenas estalou a língua. Zanka sorriu orgulhoso, quase triunfante. “Me erra, Zanka” ele disse depois, mas estava segurando um sorriso. “Você vai pegar o metrô, né?” e assentiu, de repente se lembrando que tinha sim casa para voltar e que Jabber encheria o seu saco a noite toda por essa história. “Daqui eu vou de ônibus.”

“É perto?” perguntou e ele assentiu, depois fez com a mão um ‘mais ou menos’. “Pois muito obrigado, fico te devendo uma.”

Nisso, ele levantou uma sobrancelha, “Fica me devendo uma, é?” ele riu baixinho, estreitou os olhos, “Vou cobrar, hein?” 

Assentiu, murmurou alguma coisa e, pouco depois, os dois iam para caminhos opostos. 

Se despediram de forma simples, assim como da outra vez, Tamsy disse para mandar as respostas da segunda prova pra ele e lhe desejou boa sorte. Se Zanka tinha qualquer reclamação para fazer dele, bem, um pouquinho antes de se virar e ir direto para a entrada que dava acesso a estação, Tamsy cutucou o seu ombro, então Zanka virou o rosto e ia lhe perguntar se esqueceu alguma coisa ou se precisava de algo, já tinham dito até tchau, não? Mas então ele sorriu travesso, um brilho nos olhos claros charmoso demais para que Nijiku percebesse o que lhe aguardava ali pela frente. 

“Boa sorte tentando explicar pra sua amiga que isso não foi um encontro.” e riu, como se tivesse sido de propósito. Caines saiu sem dizer mais nada, nem mesmo um tchau ou esperar por uma resposta. E, de fato, ele tinha um ponto. Inferno, até naquelas máquinas de pegar ursinho eles brincaram e, considerando que saiu de casa umas seis e meia, já era quase nove, ninguém acreditaria que passou esse tempo todo estudando.

“Mas que desgraçado!” 

 

Controlar Jabber foi quase tão difícil quanto impedir Riyo de revirar o instagram atrás do perfil do garoto. Para piorar, ele quase disse o nome do rapaz e, sabia bem, se tivesse falado ela tinha achado. E ainda teria voltado com um relatório enorme e cheio de opiniões sobre ele.  

Mas o pior de tudo nem foi toda a animação deles, não. Isso era de costume. Estava se habituando a personalidade do colega de quarto e, aos poucos, achava que estava se entendendo com ele, ainda que Wonger fosse uma daquelas pessoas que vivia indo em festa e, ainda assim, tinha um histórico escolar perfeito, era inteligente ao ponto de dar raiva, porém, de vez em quando ele se sentava na escrivaninha do quarto deles e estudava por umas duas horas ininterruptas, quando se levantava, ele nunca reclamava de ter que estudar, do contrário, as vezes Zanka ficava ocupado ouvindo monólogos empolgados sobre o curso dele e, no fim, foi isso que o fez mudar de opinião sobre ele. Jabber era muito entusiasmado sobre engenharia de química e, palavras dele, mal via a hora de começar o estágio, estava no terceiro semestre agora e tinha pegado algumas optativas específicas, já pensando na vaga que queria. Ele era inteligente e sabia disso, mas ainda assim tentava melhorar e dizia com todas as letras que ‘não queria pouca coisa’, era capaz até de listar os cantos que tinha interesse de estagiar. Era um nível de empolgação louvável, a confiança, no entanto, ainda lhe irritava um pouco.

No fim, o pior, mas o pior mesmo, foi que os dois falaram algo que ele não queria mesmo pensar, contudo, talvez fizesse algum sentido. 

“Esse aí tá dando em cima de você, hein.” Riyo disse, estavam em ligação quando Wonger entrou no quarto e, desde então, estavam os três conversando e os dois lhe enchendo o saco como se fosse apenas a dinâmica normal do grupo.

“A carne caiu no prato do carnívoro, né!” e ela riu, o rosto indo pra frente demais na câmera do celular e tudo que eles podiam ver, de repente, eram só os fios vermelhos de cabelo. “Qual é mesmo o nome dele, hein?”

“Até parece que eu vou falar.” E os dois fizeram um barulho de descontentamento. 

Entretanto, de fato, quando deitou a cabeça no travesseiro e se pôs a pensar, será que… não, não, não fazia sentido. Ele era mais velho, muito inteligente, simpático e engraçado, estupidamente bonito e, bem, Zanka jogou o travesseiro com força em cima da cabeça, loiro. Inferno. Se Tamsy já não namorasse, então provavelmente o destino de metade do mundo era estar solteiro, porque não fazia sentido. Ou, então, Zanka estava certo e tinha um defeito muito grande nele—o que era bem mais crível, estava se convencendo disso. Não tinha porque um cara desses dar em cima de um calouro e, por mais que não fosse nenhum idiota com baixa-autoestima a esse ponto, não se achava bonito a esse ponto. Feio não era, mas nem de longe. E Nijiku era alto também, o que fazia com que detestasse, e muito, a ideia de ficar ou namorar com caras mais baixos do que ele. Assim como percebeu no dia do shopping, os dois tinham praticamente a mesma altura. 

Apertou um pouco mais o travesseiro e resolveu que a culpa da sua falta de sono repentina não eram os seus pensamentos, e sim Jabber roncando igual uma locomotiva na cama do outro lado. 

No outro dia, estava um caco, no entanto, ainda assim se arrastou até a biblioteca umas seis horas da noite, depois do fim da última aula. Teria a maldita prova de cálculo em dois dias e, se tirasse uma boa nota, já estaria dispensado daquela cadeira. O fim do semestre se aproximava e, junto dele, parecia que todas as provas vinham amontoadas umas nas outras e ele se agradecia um pouco por sempre estudar antes, estaria arrancando os cabelos da cabeça se não tivesse feito nada, especialmente em física—que, no fim, começou a estudar junto das meninas da monitoria, os três pararam de ir para a sala e adquiriram o costume de estudarem em conjunto na biblioteca, era quase confortável, não fosse, é claro, o conteúdo desgraçado da matéria. 

Zanka escondeu com a mão um bocejo e estava procurando uma mesa vazia quando, no lugar disso, viu um coque alto e fios azul escuro chamativos se misturando com loiro claro. 

‘Mas que ele tá dando em cima de você, ele tá e não é pouco, viu?’—nunca se irritou tanto ao ouvir a voz de Riyo na sua cabeça e ele até pensou em dar meia volta, procurar outra mesa mais afastada e lidar com esses tipos de pensamentos depois, mas quando olhou para frente de novo, Tamsy estava acenando, um sorrisinho simpático nos lábios. Assim que ele percebeu que estava sendo visto, o chamou com a mão e Nijiku, bem, apenas foi. Igual um cachorrinho mandado, esse pensamento lhe fez ficar um pouquinho irritado e envergonhado, não iria negar. 

Tamsy apontou para a cadeira na sua frente e ele se sentou sem mais delongas, disse um boa noite baixinho, afinal, estavam na biblioteca. Como resposta, o loiro fez um sinal em libras, disse a mesma coisa, Zanka sorriu, respondeu da mesma forma, uma pergunta inteira. Uma das primeiras que você aprende quando estuda língua de sinais: “Você sabe libras?” e, com isso, Tamsy arregalou os olhos claros dele, se inclinou na mesa e, estivesse um pouco mais perto do seu rosto, seria algo bem desconfortável—das duas uma, ou resolvia no soco, ou beijava, naquele tipo de proximidade? Se não fosse sacanagem, pois era agressão. 

“Você sabe língua de sinais?” ele perguntou num sussurro que parecia, de uma forma quase cômica, um grito.

“Tive aula de libras na escola,” respondeu, depois inclinou o rosto e viu o rapaz suspirar, mil e um pensamentos passaram por aqueles olhos claros visivelmente e, então, ele pegou nos seus ombros, as duas mãos ali, o trouxe mais para perto, “Que foi?” perguntou, a cabeça dando voltas. 

“Você disse que ficava me devendo uma, né?” e Zanka franziu as sobrancelhas, tinha mesmo dito algo assim daquela vez no shopping e, imediatamente, sentiu as bochechas ardendo, ouviu Riyo nas suas costas falando absurdos e, malditos fossem os cílios claros dele, engoliu em seco, assentiu vagarosamente, murmurou um sim. “Ótimo, hoje você paga! Eu tenho prova de libras daqui uma hora e a minha dupla do semestre trancou a cadeira, eu vou me matar na frente da professora se eu tiver que ir sozinho e conversar com o vento.” 

“Vocês tinham combinado uma conversa, era? Ela vai só ficar olhando, não vai fazer perguntas?” e ele negou, as mãos que estavam nos seus ombros ainda estavam ali e, no entanto, não tinha mais nenhuma força ou qualquer urgência, Tamsy apenas deixou os dedos ali e os batucava quase que sem perceber, estava sendo um esforço hercúleo não reparar nisso e se concentrar para não ficar envergonhado. Cadê aquele clima de amizade e implicância quando precisava dele?

“Não, a gente não tinha combinado nada porque ele sumiu! Mandei mensagem, ele viu, mas calado ficou, daí encontrei com o canalha no refeitório hoje e ele disse que trancou, sendo que podia ter me avisado antes, agora não dá mais tempo de me humilhar com o pessoal da turma e nem com a professora pra fazer a prova em dupla de três,” admitia isso até com certa raiva e ressentimento, mas o desgraçado, além de inteligente e belíssimo, também era engraçado. Inferno. Tinha algo de errado com esse rapaz. “Mas dá tempo de eu me humilhar pra você, Zanka, por favorzinho!” ele disse, sorrindo de uma forma meio estranha, meio desesperada e, nisso, ele fez o que o monitor vivia fazendo, olhou suas coisas.

Tamsy tinha um notebook aberto e uma apostila em cima da mesa, a apostila com várias ilustrações de mãos em sinais, a primeira era o alfabeto. Será que ele era ruim? Será que libras era algum assunto que o rapaz loiro tinha dificuldade? Zanka passou a língua pelos lábios, ele ponderou bem o que iria dizer. 

“Você sabe alguma coisa de física?” 

“Me manda os slides do seu professor que eu desenrolo, faz tempo que cursei, mas ainda me lembro de algumas coisas.” 

Com isso, primeiro veio aquela sensação ruim de que estava diante de um geniozinho, mas, bem, ao menos ele não ficava fazendo charme com modéstias desnecessárias. Depois, veio uma dúvida que já estava martelando na sua cabeça tinha um certo tempo. “Em que semestre você tá?”

“Sétimo.” Não se atreveu a perguntar a idade dele, não queria saber, não queria saber! “Mas a física do primeiro semestre não foi difícil pra mim, confia, eu te ajudo! Topo até te encontrar no final de semana, eu só não quero mesmo fazer essa prova sozinho.” 

Seus olhos semicerraram, não sabia se com uma certa inveja de que física tivesse sido fácil para alguém ou, talvez, desconfiança de que libras era um problema assim tão grande. “Tá. Vai ter que ser no fim de semana mesmo, tenho prova segunda de manhã e você está interrompendo o horário que eu ia estudar.” 

“Zanka,” e ele disse isso num tom que parecia sério, mas pelo sorrisinho nos lábios dava pra ver que era mais brincadeira do que qualquer coisa. “Me peça pra sair de casa cinco horas da manhã de um domingo e eu saio, mas não me deixa sozinho!” 

Nijuku teve que morder os lábios com força pra segurar a gargalhada, estavam numa biblioteca afinal, Tamsy estava na mesma situação, mas por estar todo inclinado em cima de si, o rapaz escondeu o rosto no seu ombro e escondeu seu riso ali, sentiu as mãos dele descer para o braço, mesmo com o tecido da blusa, conseguia sentir o nariz dele e o quente da respiração. Não sabia qual entidade estava olhando por ele nesse momento, porém não se envergonhou e nem ficou nervoso. Quando o mais velho se afastou e tirou as mãos de si, ainda estava apresentável e não uma bagunça de tons rosados e vermelhos. 

Zanka se levantou da mesa, colocou a mochila no ombro. “Vamo estudar lá fora, eu te pago um café.” 

O sorriso que recebeu em resposta era bonito demais para fazer a conta de qual era a idade dele. Afinal, Tamsy disse que cursou dois anos de moda e se estava no sétimo semestre de engenharia… isso era pelo menos uns cinco anos de diferença. Enquanto andava na frente e era seguido atrás pelo rapaz, ele se perguntou o quão absurdo seria isso e o quão chocada sua irmã ficaria, qual maldade Goka teria para dizer. Seus pais não gostariam nada disso, mas, na verdade, não tinha perigoso deles gostarem do Caines, não com o piercing embaixo do lábio inferior, as queimaduras visíveis e a conversa dele sobre cultura do desperdício. Parece que já ouvia Kyoka torcendo o lábio, reclamando da ‘baderna’ da universidade pública. E olha que o rapaz não apresentava nada demais, andava sempre tão arrumado, certo que tinha um cabelo enorme e não tinha perigo da sua mãe não perguntar se ele pretendia varrer o chão, mas… e ele olhou pro lado, inclinou a cabeça, desgraçado bonito, que ódio! Estava já pensando nesse tipo de coisa que nem fazia sentido, pra que pensar o que os irmãos ou a família iriam falar? 

Nem o número dele Zanka tinha! E independente de tivesse ou se tivesse qualquer relacionamento com ele ou outro rapaz, eles achavam que era tudo só uma fase mesmo e em algum momento iria passar. ‘Simples’. 

“Você tá olhando pro chão como se ele tivesse te ofendido,” Tamsy falou e encostou no seu ombro. “Olha, tudo bem se você não quiser—”

“Quantos anos você tem?” Zanka perguntou e o interrompeu, a sobrancelha se arqueou. “Vinte e dois?” 

O loiro travou um pouco, depois sorriu ladino. “Vinte e três. Faço aniversário em abril.” Depois, eles subiram os dois degraus até estarem debaixo do teto da cantina, foram se sentar numa das mesas, o lugar estava vago pro horário. O fato de ser semana de provas finais deve ter feito todos se aglomerarem na biblioteca, não à toa Zanka quase não achava um lugar para se sentar. “Quantos anos você achava que eu tinha?” Ele perguntou, colocou a mochila no chão e já ia tirando a apostila. 

“Vinte,” disse, achava que ele tinha uma estatura parecida com August. 

Tamsy balançou a cabeça pro lado, assentiu, parecia feliz com a resposta. “Eu queria fazer um pacto com o diabo igual o Dorian Gray fez e ficar pra sempre jovem e bonito.” 

Zanka apertou os lábios com força, não iria rir disso, mas estava se esforçando tanto e, pelo sorriso dele, o outro estava só esperando. Não faria esse gostinho a ele. Chega. Chega de garotos loiros bonitos, inteligentes, simpáticos e engraçados. Pegou a carteira de dentro da bolsa e foi andando até o quiosquezinho, assim que estava de costas acabou rindo um pouco e tinha certeza de que Tamsy sabia, já que os ombros se mexiam um pouco. Tinha apenas três pessoas na fila, então seria rápido, mas dava tempo de sanar sua dúvida. Zanka pegou o telefone, abriu o grupo com o pessoal da escola e aquele outro loiro maldito. 

Quantos anos o velho do Enjin tem? E o Gris?

Gris: Eu tenho trinta! Porque a pergunta? 

Milagre, o mais ocupado viu primeiro. 

Follo: Entrevista uma hora dessas…

Riyo: velhokkkkkkk olha aí Enjin falando de você 

Enjin: eu só tenho vinte e oito seus palhaços, sou novo ainda 

Vinte e três, é novo também? 

Follo: Pqp! O seu monitor loiro? 

Enjin: eu preciso ver uma foto desse rapaz agora, é sério, tô preocupado 

E chegou a sua vez de pedir, guardou o celular no bolso traseiro. Não tinha perguntado se Tamsy queria mais do que um café, mas não era como se tivesse uma grande variedade de coisas pra vender na cantina do bloco uma hora dessas. Então, comprou um café com leite pra ele e um snicker dark, já que sabia que ele gostava de chocolate amargo. Um copinho de plástico com chá de camomila foi o que pediu para si mesmo. Zanka ia morrer cedo e era do coração mesmo, um infarto fulminante. Isso ou iria ficar cheio de rugas antes do tempo, puro estresse. Botou o chocolate e a carteira num dos bolsos da calça, levou os dois copos de plástico na mão. 

“Pedi misturado com leite.” 

“E se eu fosse intolerante a lactose?” perguntou, arqueou uma sobrancelha e, nisso, precisava admitir, ele tinha um ponto. 

Zanka forçou uma tosse, sorriu todo. “Mas não é, né? Fica caladinho que línguas de sinais ninguém usa a voz.” Tamsy deu uma risadinha com essa e agradeceu depois de olhar na folha. “Você achou libras difícil?”

Ele fez uma careta. “Horrível. Mas admito que não estudei nada, me confiei que era besteira e no fim… Me tornei exatamente aquilo que eu critiquei. Indo encher o saco do monitor no dia da prova!”

“Você é pior na verdade, eu não sou monitor.” Tamsy fez uma careta ainda maior, mas o sinal para pedir desculpas ele soube fazer sem olhar no papel. “Ela disse o que quer que tenha na conversa?”

“Mandou por e-mail, pera!” e ele colocou o copo de plástico na mesa, foi procurar o celular na bolsa, enquanto isso, o próprio Zanka tirou o celular do bolso, guardou a carteira na mochila e colocou a barrinha de chocolate em cima da mesa. “Obrigado.” Disse de imediato, mas ainda estava ocupado revirando a própria mochila, ainda ouviu ele murmurar um palavrão e um ‘mas eu tinha botado aqui!’ indignado. 

Enquanto isso, abriu o telefone. Leu as mensagens do pessoal, especialmente Riyo na verdade, implicando com o professor de história e ainda ouviu um ‘ai, achei!’ aliviado que lhe fez dar uma risadinha. 

E então? Gris? 23?! Um absurdo?

Follo: Melhor do que o seu crush no Enjin

Não era de verdade! 

Riyo: MDS. COM O MONITOR É?

E Zanka olhou brevemente para o rapaz, esse com o celular já em mãos e um franzido na testa, parecia realmente consternado. 

Talvez. Não sei se tenho chance de verdade. E, é esquisito, não? Ele é cinco anos mais velho. 

Enjin: eu sou onze e isso não te impediu 

Já disse que nunca tive nenhum interesse em você, você fede. 

Riyo: amigo, só se vive uma vez! da em cima dele! pede o número dele! e daí que ele é cinco anos mais velho? se ele quiser, lucro. se não, bem, acontece :) 

“Zanka,” e levantou a cabeça de imediato, as orelhas um pouquinho quentes, fechou o celular na hora. Essa conversa ele não queria que fosse lida de forma alguma, não tinha nenhum tom evidente de brincadeira ou deboche nas mensagens que ele poderia sair de desculpas depois. O rapaz não disse nada, apenas entregou o celular dele na sua mão, o e-mail aberto e o script do que deveria constar na conversa. 

“Cara…” e ele respirou fundo, Tamsy iria tirar uma nota boa nessa prova, era uma questão de honra agora. Zanka puxou a cadeira que estava sentado até estar do lado dele e não de frente, pegou a apostila e botou entre eles. A partir daí, não disse mais uma só palavra e batia na canela dele com a ponta do pé toda vez que o loiro falava algo, mesmo que sem querer. 

No fim de uma hora, eles tinham uma conversa ensaiada, uma fofoca meio mal contada e muito interrompida, Zanka era quem contava, Tamsy era quem não entendia e interrompia várias vezes para fazer perguntas e pedir explicações, ou fazer alguns comentários breve com sua opinião. O vocabulário dele era melhor para pedir desculpas e realizar perguntas, mas era pobre na hora de descrever fatos ou ações, então, era melhor que ele fizesse perguntas sobre o que Zanka dizia, assim, ele poderia relembrar os sinais vendo o calouro fazer primeiro. 

Não sabia se ele tinha entendido que essa era a sua intenção, mas quando entraram na sala de aula e, no que praticaram nos últimos minutos e durante o corredor, o mais velho falou com a professora apenas em linguagem de sinais, explicou que a sua dupla não vinha, apesar de não conseguir dizer o porquê, depois, disse que pediu para um amigo fazer a prova com ele, os dois mentindo que Nijiku também estava cursando libras com outro professor. Quando ela perguntou se ele queria que ela repassasse o resultado para o seu professor, Tamsy travou um pouco e Zanka foi quem respondeu, explicou que a última prova era individual, era apenas traduzir uma fala oral para a língua de sinais. De certa forma, não tinha mentido. 

A última prova que teve na matéria de libras na escola realmente foi essa. Duvidava que alguém ainda se recordasse das aulas, mas Zanka nunca fazia nada pela metade e tinha escolhido até um vídeo grande para traduzir. 

A conversa que praticaram durava o tempo mínimo pedido, cinco minutos. Era uma fofoca curta, sobre algum colega da faculdade que tinha ficado bêbado e arranjado confusão, mas deu certo. A professora assentiu, sorriu para os dois e deu um joinha como primeira resposta, Tamsy suspirou aliviado, até mesmo pôs a mão no peito. Então, na língua de sinais mesmo, ela disse que ‘estava impressionada com ele’ e Zanka riu, o loiro, no entanto, demorou a entender e, quando ocorreu, coçou a nuca envergonhado. Ela disse que ele poderia ficar despreocupado que tinha passado na cadeira e ela perdoaria a falta que teve a mais, as notas seriam enviadas depois. Outras duas pessoas bateram na porta, os próximos e nisso os dois se despediram. 

Tamsy parecia especialmente feliz, aliviado, como se um grande peso tivesse saído de suas costas e abraçou Zanka rápido, um pouco torto, agradeceu com tanta pompa que ficou envergonhado na mesma medida que estava orgulhoso de si mesmo. Sentiu o coração bater mais forte e agradeceu muito quando o rapaz se desvinculou, mas talvez agradecesse mais se ele tivesse tirado a mão esquerda do seu braço. Não era desconfortável, pelo contrário, era problemático justamente porque queria abraçar ele de novo e a mão ali lhe impedia de prestar atenção no que diabos ele falava agora, além disso, a porcaria do abraço o fez pensar coisas que não deveria pensar. 

Os dedos de Tamsy eram finos, longos. Assim como já tinha percebido, o toque dele era gracioso, sem força. Mesmo quando o abraçou, não os segurou com força, apenas rodeou o seu pescoço e uma parte das suas costas, a ponta dos dedos encostaram na pele da sua nuca e, infelizmente, reparou demais nisso. Zanka era apenas um rapaz com um fraco por rapazes mais velhos e loiros. E um fraco ainda maior para elogios, chegava do ponto em que, talvez, Riyo tivesse razão, ele deveria ter mesmo um fetiche. 

No fim, os dois foram juntos até a saída da faculdade, ele ia pegar um ônibus e Zanka voltaria para o dormitório, iria estudar por lá mesmo. Tamsy ainda perguntou quem era o seu professor dessa matéria e fez uma careta quando ouviu o nome, mas não explicou o motivo. Ocorre que, dessa vez, no lugar de uma piada ou de tentar combinar por e-mail, o loiro olhou no celular o horário e disse que ia ter que ir pra parada agora e, no entanto, “Anota o seu número, vou mandar mensagem assim que entrar no ônibus, aí a gente combina, tá? Se quiser, passo sábado e domingo estudando física, você não tem noção da ajuda que me deu hoje.” 

Zanka anotou o número com os dedos trêmulos, as orelhas queimando, devolveu o celular pra ele e viu ele salvar o contato. Tamsy disse um boa noite apressado e acenou, dois segundos depois, o loiro estava correndo reto na rua e ele parou bem mais lá na frente, pouco depois um ônibus virou, parou e, quando saiu, não tinha mais sinal do rapaz. Zanka fez uma careta, coitado, pouco mais e tinha perdido. Respirou fundo e se virou, nem deveria ter ficado ali parado igual vara verde do pra vigiar a saída dele. 

Não demorou nem cinco minutos pra chegar em casa, mas colocou a bolsa no chão e se jogou na cama, pôs as mãos em cima dos olhos e apertou. Que ódio… E ainda ia ter prova de física na segunda-feira. 

O celular vibrou no seu bolso e ele o pegou, era Tamsy, combinaram rapidamente onde e o horário, ele mandou uma figurinha do Justin Bieber com um fundo cheio de corações e isso lhe fez dar um sorrisinho, devolveu uma com um pato oferecendo uma flor, ele marcou a mensagem com um coração e a conversa acabou ali. Assim como os e-mails, foi direto ao ponto, estritamente negócios. Zanka fez um biquinho patético e agradeceu aos céus que Jabber não estava ali, sempre chegava tarde da noite, especialmente nas sexta-feiras. Ele levava a sério o verbo sextar. 

Então, como já estava com o celular nas mãos mesmo, foi rolando o grupo de mensagem e riu de algumas besteiras, releu o que Riyo disse. Quando saiu da conversa, haviam outras três mensagens no privado. Umas dela perguntando quem era o rapaz, pedindo foto, comprovante e dizendo que ia fazer a investigação completa se valia a pena mesmo, revirou os olhos. Três mensagens de Enjin e… uma da Tomme. Fazia muito tempo que não falava com ela, a última coisa que comentou com uma das secretárias da escola foi pedindo o histórico escolar e comentando que passou no curso que queria na federal, só isso. Para trás, mensagens de Natal e ano novo, pois ela era uma querida e Zanka queria mais do que tudo devolver toda a simpatia, mesmo que às vezes não soubesse como. 

Abriu a conversa com Riyo primeiro e, com um suspiro, se deu por vencido. 

Tamsy Caines, ele faz engenharia civil e me disse que cursou dois anos de moda e design. Não tenho nenhuma rede social dele e por favor não segue. 

pode deixaaaaaar!!!! me dá entre trinta minutos e duas horas 

Revirando os olhos, foi responder Enjin.

garoto, você é muito sério e precisa se divertir

pela fofoca que a Riyo me contou, esse daí tá te dando mole, então, aproveita, não é todo dia que dão moral pra calouro na faculdade, quisera eu que umas alunas mais velhas tivessem dado em cima de mim na minha época 

só fica esperto e se cuida, se for fazer sacanagem nao esquece de passar na farmácia antes 

Pelo amor de Deus, Enjin. 

eu já tive a sua idade, se você não tiver subindo pelas paredes é porque tem algo errado

Zanka parou de responder e, um tanto quanto apreensivo, abriu a caixa de mensagens com Tomme e conversou com ela pelos trinta minutos seguintes. Era como ter uma irmã mais velha, mas uma de verdade e não apenas uma figura gelada e inquisitiva. Com um sorriso nos lábios, ele quase se esqueceu que tinha dado as informações do rapaz pra amiga ruiva, quase. 

Riyo: GENTE, ELE NÃO PARECE >NADA< COM O ENJIN !!! ELE É BONITO

Enjin: tu quer bem dizer que eu sou feio, é? 

E óbvio que ela mandou uma foto. 

 

Tomme sempre gostou de historinhas de romance, ela mesma dizia que adorava conversar com os adolescentes da escola por isso. Além das fofocas de famosos e coisas do tipo, haviam os romances dos mais jovens, as coisas da idade, quem gostava de quem, quem foi iludido, os casaisinhos que todo muno achava bonitinho e aqueles que todos olhavam e pensavam ‘onde tem tanto ódio assim tem amor’. Então, quando estava no segundo ano do ensino médio e soltou no meio de uma rodinha de colegas que achava Enjin bonito—coisa que qualquer um concordaria se, é claro, Enjin não fosse Enjin—e daí pra frente encheram o seu saco por vários meses a fio e ele nem tinha falado todo o absurdo. Quando viu a secretária da escola, num dia que chegou bem cedo e ela segurava uma xícara de café do lado de fora da sua sala apenas vendo o movimento, ela o olhou e disse meio rindo: “Quer dizer que você gosta de loiros? As meninas estavam fazendo um bolão pra saber o seu tipo, Zanka!” e nisso ele ficou todo vermelho, gaguejou pra se explicar e, no fim, acabou se abrindo com ela, contando tudo, uma vergonha. Para sua surpresa, ela não julgou e, na verdade, até tratou o assunto como algo sério, lhe deu um conselho e, quando já estava perto da hora de ir para a sala, ela passou a mão pelas suas costas, disse que ia ficar tudo bem e que “O Enjin é um cafajeste safado, Zanka, mesmo que vocês tivessem a mesma idade e ele cortasse pra esse lado, acredite em mim, você não ia conseguir gostar dele por mais de dois meses! Vai passar, meu amor, e vai passar rápido.”

E o pior? Tomme estava certa. Passou e passou bem rápido, a quedinha que tinha por ele, no fim, deveria ser apenas admiração confundida e um desejo de ser reconhecido, elogiado. Era impressionante como pessoas que via apenas na escola lhe davam mais conforto que a própria família em casa.

Naquela noite de sexta-feira, ela mandou uma mensagem perguntando se ele tinha tempo para falarem por ligação e, depois disso, foi-se uma conversa que começou com um tom sério, depois se tornou amigável, terminou com os dois rindo e um quente no seu peito, gostava de falar com ela e, se deu conta naquele dia, sentia muita falta do ensino médio. Ainda assim, sábado de manhã acordou cedo, tomou banho, se arrumou e ligou para Riyo, ela estava junto de Eisha e, pelo rosto das duas, sequer tinha dormido, bem que deveria ter estranhado ela ter concordado em atender e, pior, estar acordada na hora que mandou mensagem. Deu os ‘detalhes’ sórdidos que ela tanto tinha pedido, depois ela mesma contou tudo que achou do rapaz na internet e, em uma ligação de vídeo mais do que caótica enquanto Eisha se desesperava às vezes pelo que ouvia, arregalava os olhos, deixava o queixo cair e os dois riam com ela. Depois de desligar e combinar que iriam sair durante as férias inteiras, Zanka se deitou na própria cama e olhou com raiva para Jabber que ainda dormia, mesmo com toda a zoada que fizeram, ele se perguntou que horas o rapaz tinha chegado, mas achou que era melhor nem saber e, se sentindo quase generoso, não acordou ele. 

Então, ele foi para o restaurante universitário, almoçou, voltou para o dormitório e acordou Wonger, disse que não ia mais ter comida se ele demorasse muito mais, depois arrumou sua mochila. Quando ele saiu do banheiro, Zanka entrou logo atrás, foi só se molhar pra sair de casa, escovou os dentes e, quando saiu, o colega de quarto ainda estava lá, sentado na própria cama, pernas e braços cruzados.

“Vai pra onde?” ele perguntou e, por estar de bom humor, não respondeu um ‘não é da tua conta, palhaço’ como teria feito normalmente. 

“Vou passar lá no shopping da estação.” Jabber assentiu. “Não vou te levar!”

“Ahhhh, pra que isso? E tu vai sozinho, então, é? Custa nada, vou junto sim, me espera que eu vou só almoçar e volto já.” 

Zanka revirou os olhos e respirou fundo, ir no shopping com Jabber era quase a mesma coisa que andar com uma criança de dez anos, toda loja ele queria entrar, todo canto ele demorava uma vida olhando tudo e, no fim, nenhum dos dois tinha dinheiro pra pagar nada e nem compravam nada, a atendente ficava olhando com uma cara horrível, Zanka saia envergonhado e com raiva, Jabber saia sem um pingo de vergonha e fazendo piada. Era meio estressante, mas não era pior do que ir no cinema com ele, o Wonger não calava a boca. No fim do dia, a culpa era dele que aceitava ir sabendo que sempre passava raiva—a verdade é que, tirando os constrangimentos que só ele tinha, talvez por se levar a sério demais, sair com Jabber era legal e ele conhecia vários cantos na cidade, então, no máximo, nunca mais assistiria algum filme bom ele. Ir pro cinema com o colega de quarto só pra ver bomba. 

“Marquei com um amigo.” Resolveu dizer isso e os olhos dele cresceram de tamanho. Daí se foram pelo menos uns cinco minutos convencendo ele de que não tinha nada com o monitor depois de desistir bem fácil de tentar mentir que não estava indo se encontrar com o rapaz loiro, então gastou mais uns três saindo e expulsando Jabber porque, de fato, ele iria perder o horário do almoço. 

Então, o metrô foi rápido como sempre, passou mais tempo esperando na estação do que mesmo dentro e, no entanto, agradeceu a pequena espera, ainda bem que perdeu o primeiro. Enquanto estava entrando no shopping, sentiu o celular vibrar no bolso e o pegou, era Tamsy. 

Numa escala de 0 a 10, o quanto você odeia disney? 

Zanka arqueou uma sobrancelha, aquela foi bem de repente, mas não pensou muito, apenas digitou a resposta. 

Três, adoro a Tiana. Porque? 

Ele viu a mensagem, mas não respondeu, Zanka deu de ombros, estava prestes a digitar uma pergunta de se ele já tinha chegado, era mais ou menos o horário que combinavam e Tamsy era bem pontual. Então, uma mão de dedos finos e unhas roídas inclinou o seu celular para baixo e ele ia mandar alguém se foder, mas então viu loiro pálido e azul misturados, lisos, retos, caídos em cima de uma blusa larga com estampa de banda. Era o guarda-chuva de Bring me the Horizon, não? Aquele álbum que Riyo adorava. Quando levantou o olhar mesmo, Tamsy estava sorrindo, o cabelo solto era bem diferente de se ver nele, mas não menos bonito, na verdade, era até irritante o quão bonito ele estava e era extremamente irritante porque era a mesma pessoa, o mesmo rosto, o mesmo sorriso, mas só por causa de uma blusa preta com estampa de banda emo e os cabelos longos soltos, de repente, o coração de Zanka achava de bom tom começar a sambar dentro do espaço designado. 

“Desculpa,” ele disse primeiro, “Mas a qualquer momento você ia bater naquela pilastra bem ali se continuasse só olhando pra tela do celular.” E suas bochechas ficaram vermelhas quando olhou para trás dele e percebeu que, de fato, ia se bater com tudo nela. Ele tirou a mão do seu telefone e Zanka o guardou no bolso, ajeitou a mochila nos ombros e coçou a garganta, pronto para perguntar o porquê da pergunta e, também, com um agradecimento fácil na língua, ele era uma pessoa muito querida. Já era duas horas da tarde de um sábado e, mesmo estagiando e estudando, tinha concordado em se encontrar para reverem os conteúdos de física I, sendo que nem monitor dessa matéria ele era e o próprio Tamsy deveria ter as próprias provas para estudar. 

“Então, mui—” 

“TAMSY!” E o loiro revirou os olhos, soprou, não parecia particularmente irritado nem nada, era como ver Enjin depois de ouvir um comentário sarcástico de Riyo dedicado a ele. “Bora, bora, o filme começa em dez minutos, a gente não vai te esperar!” 

Quando Zanka olhou para o lado, tinha um pirralho de olhos vermelhos e cabelos branco, as pontas pretas, ele segurava uma sacola cheia de porcaria e tinha uma garota do lado dele, mais quieta e com menos cara de quem comeu e não gostou. Os dois eram bem… baixinhos. O pivete o olhou com a cara mais feia que já viu em toda a sua vida e, com o tato que tinha, tudo que Nijiku fez foi olhar feio também. Entre eles, Tamsy engoliu uma risada e a garota segurou o braço do pivete.

“Então, Zanka, agora que você já conhece o meu irmão e a namoradinha dele,” e o garoto chiou, a menina ficou com a cara toda vermelha e parecia querer se explicar, “Eu espero que você não se importe, mas você meio que vai ter que assistir Divertidamente 2 com a gente, eu já comprei o ingresso.” E o safado ainda teve a pachorra de sorrir todo bonitinho.

Merda. 

Tudo que ele conseguia ver era a porcaria do piercing embaixo do lábio inferior e o fato de que os cílios dele eram compridos demais, os olhos claros pareciam aumentar de tamanho. Ter uma quedinha no monitor de cálculo logo no primeiro semestre de faculdade não estava na lista de objetivos de Zanka Nijiku. 

Bom, nada do que vinha a seguir estava na sua lista de desejos, isso ele podia afirmar.

Notes:

espero que tenho gostado dessa bomba e não garanto quando vou fazer o próximo capitulo, afinal, sou filha de deus e trabalho clt e faço faculdade na federal também então... em breve igual o estudante voando em sp jaja
se serve de consolo, esse capitulo foi escrito em meio a uma obsessão enorme e me custou só dois dias. me deem até o natal, eu confio, vcs confiam????

qualquer comentário me faz muito feliz^^ considerem deixar um kudo e compartilhar a fanfic com quem não acredita que o tamsy pode ser querido ! pois EU acredito, ele é um querido, não acreditem nos leitores de manga, eles mentem! um beijo, um abraço e, bom, calcinha preta já disse, né? vc nao vale nada, mas EU GOSTO DE VOCE!
até <333