Chapter Text
15 de setembro de 1997
"Então por que você ainda está aqui?", Harry perguntou a Rony.
"Sei lá", disse Ron.
"Então vá para casa", disse Harry.
'É, talvez eu vá mesmo!' gritou Rony, e deu vários passos em direção a Harry, que não recuou.
Hermione se enrijeceu quando a cena começou a se desenrolar diante dela.
O que estava acontecendo? Para alguém considerada "a bruxa mais brilhante de sua era", era como se seu cérebro de repente tivesse dado um curto-circuito e parado de funcionar. Depois de tudo o que tinham passado, das brigas que já haviam suportado antes — como a explosão infantil de Harry e Ron no quarto ano — ela podia sentir a tensão. Conseguia ver claramente as chamas aumentando, caminhando para uma explosão inevitável. A pressão crescente era familiar, como em suas discussões anteriores — mas ela sabia que, dessa vez, era diferente.
Eles estavam discutindo se Harry se importava ou não com Gina e com o resto dos Weasley. Ou será que o problema era que Ron estava irritado porque a missão até então tinha sido longa? Exaustiva? Difícil? Completamente frustrante? Era ridículo. Eles estavam discutindo sobre tudo e sobre nada ao mesmo tempo — mas nada daquilo era realmente palpável.
Hermione tentou intervir para acalmar as coisas, para levar Ron à conclusão racional de que Harry não queria dizer o que Ron parecia pensar. Mas Ron parecia determinado a imitar a tempestade que crescia lá fora, enquanto seu rosto ficava cada vez mais vermelho de raiva. Ron explodiu de novo — desta vez atacando também a ela, jogando na cara o fato de que seus pais estavam "em segurança, fora do caminho". Como se o fato de ela ter confundido e obliviado seus próprios pais no verão passado tornasse tudo mais fácil para ela ou fizesse a situação atual parecer menos intensa. Como se ele achasse que isso, de alguma forma, a isentasse de sentir a mesma preocupação e angústia que ele claramente sentia, apenas porque agora ela tinha menos a perder na guerra. O peito dela se apertou, e sua mandíbula se contraiu quando sentiu o ardor das lágrimas se formando no canto dos olhos. Ela não sabia como responder. Mas não importava, porque Harry já estava gritando de volta, elevando o tom dentro da tenda a um nível ainda maior — apenas para Ron imediatamente berrar em resposta outra vez.
"Então VAI!" rugiu Harry. "Volta pra eles, finge que está com sarapintose, e a mamãezinha vai poder te paparicar e–"
Ron fez um movimento repentino: Harry reagiu, mas antes que qualquer uma das varinhas fosse sacada do bolso de seu dono, Hermione já havia erguido a sua.
"Protego!" — ela gritou, e um escudo invisível se expandiu entre ela e Harry de um lado e Ron do outro. Todos foram forçados a recuar alguns passos pela força do feitiço, e Harry e Ron se encararam de lados opostos da barreira transparente como se estivessem realmente se vendo com clareza pela primeira vez.
De repente, fez-se silêncio, apesar das gotas de chuva barulhentas que batiam pesadamente contra a tenda. Era como se o tempo tivesse congelado ali dentro; como se o tempo tivesse parado. Hermione podia sentir o gosto ácido no ar, ver o ódio nos olhos de Ron e a fúria ardente nos de Harry. A tensão familiar, que vinha crescendo, finalmente havia se rompido — mas de uma forma diferente, da maneira que Hermione tanto temia. Por baixo das emoções cruas e turbulentas havia algo novo, algo diferente — algo quebrado. Como mil cacos de vidro espalhados pelo chão, aquilo parecia irreparável.
Ela ouviu Harry falar, mas dessa vez sua voz estava calma, fria e sem emoção.
"Deixe o Horcrux", disse Harry.
Ron arrancou a corrente do pescoço e lançou o medalhão sobre uma cadeira próxima. Ele então se virou para Hermione.
Os olhos de Hermione se arregalaram um pouco mais, e foi nesse instante que ela percebeu que lágrimas silenciosas escorriam por suas bochechas. Ela estava chorando — chorando porque, no fundo, sabia o que eles tinham acabado de perder, mesmo que sua mente ainda estivesse acelerada, tentando descobrir o que dizer, como consertar a situação. Chorando porque sabia o que Ron estava prestes a lhe perguntar, e já sabia qual seria sua resposta. Então Ron falou, e ela temeu ouvir aquelas palavras.
"O que você está fazendo?"
Ela o encarou, os olhos arregalados enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto, e as palavras escaparam de seus lábios em um sussurro. Ela não queria fazer aquilo.
"O que você quer dizer?"
O rosto de Ron se contorceu em frustração. Ele sabia que Hermione sabia exatamente o que ele queria dizer. Com raiva, esclareceu para ela, um traço de desespero nos olhos.
"Você vai ficar, ou não?"
"Eu..."
Hermione parecia atormentada. Um estrondo alto de trovão do lado de fora da tenda fez um arrepio percorrer sua espinha. Era como se ela estivesse queimando de dentro para fora. Seu estômago se contorcia, e a náusea subia pela garganta. Ela respirou fundo, piscou uma vez antes de responder com a voz mais calma que conseguiu reunir.
"Sim... sim, eu vou ficar. Ron, nós dissemos que iríamos com o Harry, dissemos que iríamos ajudar–"
Mas Ron não esperou. Ele não esperou que ela explicasse suas razões. Não queria ouvi-las. Não queria que ela o lembrasse de que os dois, juntos, haviam prometido seguir Harry e apoiá-lo em sua missão de caçar e destruir as Horcruxes. A missão que Alvo Dumbledore lhes havia confiado. A todos eles. A missão da qual literalmente todo o mundo bruxo dependia que fosse cumprida — mesmo que ninguém soubesse disso. Ele nunca escutava. Nunca pensava.
Por que ela algum dia acreditou que dessa vez seria diferente?
"Entendi. Você escolheu ele."
Seu rosto estava feio. Irado. Cheio de uma traição injustificada e egoísta. Ela viu quando ele virou os ombros, começando a se afastar, caminhando em direção à porta da tenda. Hermione se enrijeceu e levantou a mão como se fosse agarrá-lo para detê-lo.
Eles precisavam consertar aquilo!
Uma onda de náusea e desespero tomou conta dela, mas foi impedida pelo próprio feitiço de proteção. Agitando a varinha para desfazê-lo, correu atrás dele pela porta da tenda e para dentro da tempestade, deixando Harry imóvel lá dentro. Ela gritou seu nome, chamando-o para voltar.
"Ron, não, por favor, volte, volte!"
Correndo mais para longe da tenda, ela ouviu o som quase imperceptível de um estalo de desaparatação e sua mão, que ainda estava levemente estendida, caiu ao lado do corpo. Ela parou. Seus joelhos tremiam enquanto seus lábios trêmulos se contorciam e a chuva encharcava seus cabelos.
Aquilo era diferente.
Virando solenemente nos calcanhares, caminhou lentamente de volta para a tenda, os olhos turvos, fixos no chão. Ao entrar pela aba, viu que Harry não havia se movido um centímetro. Ele a encarava, sua expressão era uma mistura estranha que ela não tinha capacidade de processar. Cada osso de seu corpo parecia de chumbo. Seus cabelos estavam grudados no rosto. O vento uivava e sacudia com fúria lá fora enquanto ela encarava Harry.
"E-e-ele se f-f-foi! Desaparatou!"
Ela sentia como se estivesse gritando aquelas palavras, mas sabia que sua voz saía baixa. Fraca. Desgastada. Seu rosto se contorceu quando a represa que continha suas emoções finalmente rompeu, e soluços convulsivos sacudiram seu peito. Ela desabou na poltrona no canto da tenda, permitindo que o que parecia ser décadas de estresse, angústia, dor e perda fluíssem por ela — sem se importar quando percebeu Harry hesitar perto dela e, em seguida, a presença de um cobertor macio sendo colocado suavemente sobre seus ombros.
Ela o ouviu se afastar. Sabia que ele estava indo para a própria cama. Sabia que deveria se recompor, se organizar, ajustar o plano, descobrir o próximo passo — fazer qualquer coisa além de permanecer ali, encolhida como uma bola patética. Mas ela não se importava. Naquele momento, parecia que uma parte dela tinha morrido.
-x-x-
Hermione acordou dolorosamente na manhã seguinte. Seus cabelos haviam secado de forma horrível, grudados em seu rosto com algumas pequenas folhas que haviam se enroscado durante a tempestade. Seu peito doía como se tivesse corrido quilômetros, seus olhos estavam, sem dúvida, inchados e avermelhados, e seu corpo gritava em protesto por ter passado a noite inteira encolhida em uma cadeira. Marcas de lágrimas secas e muco cobriam seu rosto, braços e até o cobertor que Harry havia colocado sobre ela na noite anterior.
Normalmente, ela ficaria envergonhada por seu estado atual. Não porque se importasse com aparências — não, Hermione Granger não ligava para isso — mas porque ela, Hermione Granger, sempre mantinha a cabeça fria. Nunca desmoronava como havia feito na noite passada. Nunca cedia ao pavor que secretamente preenchia seu coração. Nunca se rendia nem desistia — mas na noite anterior, sim, e fora um de seus momentos mais baixos.
Rígida, ela se ajeitou até ficar completamente ereta e piscou, observando o ambiente ao redor. Estava silencioso, e a tenda era iluminada pela luz brilhante do sol, acompanhada pelo som distante de pássaros cantando ao fundo. Nada ali denunciava a tempestade emocional que havia ocorrido naquele mesmo espaço na noite anterior. Hermione lançou um olhar em direção ao beliche de Harry e viu que ele estava de costas para ela, os ombros subindo e descendo lentamente a cada respiração profunda — ainda dormindo, quase sereno para qualquer um que não o conhecesse. Mas Hermione o conhecia, e a leve tensão em seus ombros, assim como o cobertor torcido em torno de seus tornozelos, revelavam a verdade: ele havia dormido terrivelmente mal, provavelmente tão mal quanto ela.
Reprimindo um gemido, ela se puxou para fora da cadeira, tentando fazer o mínimo de barulho possível, e devolveu o cobertor ao lugar. Não queria acordar Harry. Ele precisava de descanso mais do que jamais admitiria, mas, na verdade, ela também não tinha o coração nem a coragem necessários para encará-lo ainda. Na noite passada, parecia que uma parte de seu coração havia morrido, e ela sabia que Harry estaria cuidando de suas próprias feridas à sua maneira e que ela deveria estar ali para ele. Mas agora, ao olhar para suas roupas sujas e ainda úmidas, sentiu-se um pouco enojada consigo mesma; precisava de um banho. E de chá. E apenas um ou dois minutos sozinha.
Franzindo o cenho para o cobertor diante dela, ainda coberto de lágrimas e muco secos, puxou a varinha do bolso do suéter e murmurou um rápido feitiço de limpeza. Então, silenciosa como um ratinho de igreja, esgueirou-se até o beliche de Harry.
Olhando para ele, pôde ver que sua testa estava franzida e, como suspeitara, o medalhão de Horcrux estava frouxamente pendurado em seu pescoço. Descansava sobre o colchão, ao lado de seu peito. Com delicadeza, ela estendeu a mão e desfez o fecho, retirando o medalhão dele. Quase instantaneamente, o vinco em sua testa diminuiu e sua respiração se tornou mais profunda.
Com um pequeno, mas triste sorriso nos lábios, Hermione se esgueirou até o banheiro da tenda, pegando roupas limpas pelo caminho. Fechou a porta e colocou o medalhão em volta do próprio pescoço. Inspirando fundo, despiu-se das roupas sujas. Em seguida, ligou a água com a varinha, adicionando um feitiço de aquecimento até que o vapor começasse a subir.
O chuveiro da tenda era, na verdade, muito bem projetado. O bocal no topo estava enfeitiçado de modo que, ao ser tocado com a varinha, ativava um feitiço de aqua eructo, até que fosse tocado novamente para desligar. O banheiro era bastante pequeno, então não demorou muito até que o vapor preenchesse todo o ambiente. Em seguida, ela entrou no pequeno boxe do chuveiro e puxou a cortina atrás de si.
Ela tomou banho por mais tempo do que normalmente se permitiria. Geralmente, seus banhos — na verdade, os de todos eles — eram utilitários: diretos e eficazes. Provavelmente isso se devia à sua influência, sempre querendo que fossem eficientes, e também ao desejo geral que todos compartilhavam de não correr o risco de serem pegos por caçadores enquanto um deles estivesse completamente nu no chuveiro, sem poder escapar e aparatar rapidamente. Mas naquele dia, ela se permitiu tempo para esfregar cada centímetro de seu corpo, ciente de que aquilo era sua tentativa de lavar a culpa, a tristeza e o sentimento de decepção geral da noite anterior.
O medalhão balançava solto em seu peito enquanto ela se banhava. Era um incômodo, e ela poderia tê-lo deixado com Harry, mas Hermione sempre soubera que lidava com as Horcruxes melhor do que os dois garotos juntos. Harry precisava descansar, e passar uma noite inteira dormindo com o medalhão só tornaria o dia seguinte ainda mais difícil do que já seria. Além disso, ela esboçou um sorriso sombrio para si mesma; o medalhão estava sujo de magia das trevas — podia muito bem aproveitar o banho.
Ela se encolheu internamente com esse pensamento e refletiu se o motivo de o medalhão não afetá-la tão fortemente poderia estar relacionado às técnicas de meditação que seus pais lhe ensinaram quando criança. As mesmas técnicas de meditação que ela vinha praticando religiosamente desde que as aprendera, aos oito anos de idade. Nunca mencionara isso a ninguém, nem mesmo aos garotos, mas quando pequena costumava lutar contra a ansiedade causada por seu desejo insaciável de ser a melhor em tudo.
"Clássica perfeccionista", diziam.
Ser "brilhante" tinha o seu preço, e querer sempre ser a melhor na escola a deixara ansiosa quando criança. Então, ainda pequena, seus pais lhe ensinaram a meditar. Ensinaram-lhe a respirar, relaxar, organizar seus pensamentos e enfrentar os problemas de forma lógica e calma. Ironicamente, essa habilidade a ajudara em praticamente todos os aspectos de sua vida até agora e talvez fosse a melhor habilidade que possuía — e, ainda assim, ninguém sabia que ela tinha essa prática. Pelo menos, não porque ela tivesse mencionado. Suspeitava que vários de seus professores tivessem consciência disso, e muito provavelmente era a única razão pela qual ela, Harry e Ron ainda estavam vivos. Se algum dia voltasse a ver seus pais, se algum dia eles a lembrassem novamente, ela os agradeceria.
Com esse pensamento, Hermione passou os dedos pelos cabelos cacheados e molhados uma última vez e apoiou as palmas das mãos e a testa contra a parede fria do boxe. Permitiu-se dois minutos de respiração calma e profunda enquanto a água quente batia entre suas omoplatas, relaxando seus músculos rígidos, com o medalhão pendendo levemente de seu pescoço — então abriu os olhos. Puxando a cortina, saiu do boxe, pegou a varinha no balcão da pia e tocou o bico do chuveiro para desligar a água. Lançando um rápido feitiço de secagem, pegou suas roupas limpas, mas parou ao captar o reflexo no espelho. Estava com uma aparência cansada. Recém lavada, com tons rosados nas bochechas pelo calor, os cabelos ainda úmidos caindo em cachos pelos ombros — mas o cansaço que via parecia emanar de seus ossos.
Seu rosto estava mais fino, não cadavérico, mas mais magro. O corpo inteiro também. Viver em fuga não era nada luxuoso — como Ron claramente havia concluído recentemente — e ela franziu a testa para o próprio reflexo. Se quisessem de fato lutar e vencer aquela guerra, precisariam dedicar pelo menos um pouco mais de tempo a tentar comer refeições balanceadas. Ela precisaria revisar os suprimentos naquele dia e ajustar a programação para permitir mais tempo para a coleta e o preparo da comida.
Vestindo suas roupas — um velho par de jeans trouxas desbotados, já marcados pelo desgaste nos joelhos, e um suéter cinza-carvão de mangas compridas, fino e folgado em formato "V" — ela suspirou antes de escovar os dentes e, em seguida, voltou-se para o cabelo. Era a habitual juba desgrenhada que já havia aprendido a aceitar. Arqueou uma sobrancelha com cautela para ele — como se tentasse não assustá-lo ou irritá-lo e, assim, deixá-lo ainda pior. Lançou um feitiço de secagem extra para eliminar a umidade persistente. Depois, decidiu prendê-lo em um rabo de cavalo bagunçado no alto da cabeça. O penteado tombou mole para o lado — seu cabelo era simplesmente pesado e volumoso demais para parecer bonito em um rabo alto. Então, torceu-o em um grande coque e o deixou empilhado no topo da cabeça.
Encostando-se na pia, calçou lentamente as meias. Eram roxas, de tricô, grandes e quentes — perfeitas, já que o clima esfriava a cada dia que passava. Erguendo-se com determinação, pegou a varinha e voltou-se mais uma vez para o espelho.
"Bem, isso é o melhor que vai ficar hoje", pensou.
Ao sair do pequeno banheiro, ela ouviu um leve som de estalos vindo da área da cozinha e virou à esquerda, caminhando pelo corredor muito pequeno e curto que levava de volta à sala comum da tenda. Parou ao final, observando Harry, que tinha colocado duas canecas lascadas de chá sobre a mesa da cozinha, com alguns pequenos scones em um prato no centro — eram os últimos que tinham, ela registrou mentalmente, lembrando-se de que precisariam pegar mais.
Ele a ouviu se aproximar e ergueu o olhar um momento depois que ela parou. O ar parecia tenso, carregado de palavras não ditas e sentimentos incertos. Sua mão esquerda mexia nervosamente na barra da camisa. Não se lembrava de já ter se sentido constrangida diante de Harry, mas agora não sabia o que dizer — nenhum dos dois sabia.
Harry, bendito fosse, falou primeiro e falou suavemente.
"Ei", disse ele, a mão brincando nervosamente com a colher que provavelmente usara para mexer o chá. Ele a olhava diretamente. Seus olhos estavam cansados e inseguros, e ela podia ver o peso da tensão que carregava nos ombros.
"Ei", respondeu ela em voz baixa, enquanto deixava a mão cair da barra da camisa para segurar a varinha à sua frente. Viu Harry relaxar uma fração, a preocupação em seus olhos tornando-se levemente mais esperançosa. Ela não conseguia imaginar o que se passava em sua mente.
"Eu preparei chá", disse ele de forma um tanto abrupta. Mas sua voz ainda era suave, como se ela fosse um pequeno animal ferido que ele temia espantar caso se movesse rápido demais ou falasse alto demais. "Ele esfriou, então eu só usei um feitiço de aquecimento — para esquentar de novo. É com um de leite e dois de açúcar. Desculpe... espero que esteja bom?"
A última parte saiu meio atropelada, e Hermione pôde ver o olhar esperançoso, mas desesperado, em seus olhos. Sua genuína preocupação de que o chá — que havia esfriado e sido reaquecido — pudesse não estar "bom" era adorável, e sua tentativa de garantir que eles estavam bem era clara. Harry era irremediavelmente atencioso e cuidadoso — e ele se lembrava de como ela tomava o chá.
Hermione sorriu; era um sorriso cansado, mas genuíno, e sua gratidão pelo esforço dele transpareceu. Era ridículo que se sentissem tão desconfortáveis um com o outro. Nunca tinham tido esse problema antes, e já haviam passado por tanta coisa juntos.
"Está perfeito, Harry, obrigada", disse ela, enquanto caminhava até a mesa para se sentar do lado oposto ao que ele estava de pé, colocando sua varinha ao lado.
Ele sorriu aliviado e se acomodou lentamente à mesa, pacientemente esperando enquanto ela tomava o primeiro gole do chá antes de pegar o dele, segurando-o com cuidado perto da boca. Segurando a própria caneca de maneira semelhante — as duas mãos em volta da cerâmica quente, os cotovelos apoiados na mesa e a caneca pairando logo abaixo do queixo — ela podia ver o modo como ele estudava seu rosto, tentando descobrir o que dizer.
"Está tudo bem, Harry", disse ela suavemente, soltando uma das mãos para estendê-la delicadamente até a dele.
Ele largou uma das mãos da própria caneca e permitiu que ela entrelaçasse seus dedos antes que ela colocasse as mãos unidas no centro da mesa, entre os dois. Ela apertou firme, mas os olhos dele ainda buscavam o rosto dela, desesperados por alguma certeza.
"Nós estamos bem", disse ela com convicção.
Harry soltou o ar que vinha prendendo, a cabeça caiu um pouco, os ombros relaxaram, e ele pousou a caneca de chá para cobrir o rosto com a mão livre. Ficou assim por um momento, a testa apoiada contra a mão, antes de se endireitar com um suspiro profundo, passando os dedos pelos seus cabelos negros e desgrenhados. Olhou brevemente para o teto antes de deixar os olhos voltarem para o rosto dela. Estavam ligeiramente vermelhos agora, e ela quase podia sentir o ardor das lágrimas que se formavam nos cantos dos olhos dele. Sentiu as suas próprias queimarem quando manteve o olhar fixo nele, os dois tentando empurrar as emoções de volta para o fundo.
"Graças a Deus", disse ele com a voz fraca, enquanto um olhar de alívio triste inundava seu rosto. "Me desculpe, Hermione."
Seus olhos eram genuínos, e ele apertou a mão dela de volta.
"Eu sei", disse ela com sinceridade. Também pousou a xícara e, instintivamente, os dois agarraram as mãos um do outro — agora sentados frente a frente, segurando-se com força, como se pudessem se perder caso soltassem. "Eu... eu sei. Eu também. Eu sinto muito, muito mesmo, Harry."
"Você não deveria", disse ele, ainda fraco. "Você não tem nada do que se desculpar. Você ficou."
Ele a encarava com uma adoração que ela não tinha certeza de já ter visto antes.
"Obrigado por ficar", disse baixinho.
"É claro", respondeu ela, seus olhos percorrendo o rosto dele. "É claro que eu ficaria, Harry. Eu disse que ficaria. Eu te disse que estaria aqui até o fim — sempre."
Harry sorriu para ela novamente. Com parte da tensão já deixando seu corpo, ele rolou os ombros para trás, assumindo uma posição mais confortável.
"Eu sei", disse baixinho. "Mas, mesmo assim... Eu sei que não tem sido fácil — e me desculpe por parecer que metade do tempo eu não sei o que estou fazendo. É porque eu realmente não sei. Eu queria saber. Mas não sei. E sinto muito por isso." Ele se deteve, encarou-a com cuidado, de forma sincera, e falou as próximas palavras devagar, com peso. "Quero que você saiba o quanto eu preciso de você aqui. O quanto eu dependo de você. E o quanto eu sou grato por você ter ficado. Eu sei que a noite passada não foi fácil para você — mas eu estou tão, tão agradecido por você ter ficado."
Hermione o fitou; as mãos de ambos tinham se erguido levemente entre eles, e Harry as segurava quase desesperadamente junto ao peito. Uma única lágrima escorreu do canto de seu olho, e ela sorriu com grande tristeza, o coração pesado, mas também confiante.
"Você tem razão", disse ela em voz baixa. "Foi difícil. Mas fazer a coisa certa quase sempre é — não se trata de escolher o caminho fácil ou de fazer o que queremos. Trata-se de fazer o que é certo, de fazer o que precisamos fazer. Eu não me arrependo de ter ficado. A decisão foi fácil, então não ouse jamais pensar diferente—"
Harry abrira a boca, talvez para protestar, talvez para agradecê-la novamente, talvez para dizer que ela não deveria ser tão absoluta em sua posição — ela não sabia o que ele diria, mas não se importava. Cortou-o e continuou. Queria colocar tudo aquilo para fora agora, expor tudo sobre a mesa, porque não queria mais ficar pisando em ovos dentro de uma tenda minúscula enquanto ainda tinham Horcruxes para encontrar e destruir.
"A decisão foi fácil", disse ela com mais firmeza, fixando nele um olhar sólido. "Ver o Rony ir embora. Isso... isso foi difícil. Foi difícil porque doeu. Estou triste, Harry. Estou triste. Estou decepcionada. Estou chateada. Estou pasma por ele sequer ter pensado em me pedir para ir com ele! Eu esperava mais — eu esperava que ele fosse fiel à palavra dele e que levasse isso até o fim. Eu esperava que fosse confiável e — e esperava que, pela primeira vez, ele enxergasse o quadro maior e entendesse que isso — tudo isso — o que estamos fazendo aqui — é muito maior do que qualquer um de nós, como indivíduos. Que temos que continuar, que temos que fazer o que for preciso para completar essa missão."
Hermione sustentou o olhar firme de resolução em direção a Harry antes de prosseguir. Ele, por sua vez, estava agora em silêncio, ligeiramente inclinado para ela, e ela pôde ver um pequeno brilho de determinação voltar a se formar em seus olhos.
"Eu estou chateada com o Rony, Harry", disse ela para deixar absolutamente claro, antes de respirar fundo e apertar firme as mãos dele uma vez. "Mas eu vou superar. Os tempos difíceis nos mostram quem realmente somos — eles revelam o verdadeiro caráter de alguém. Eu sempre soube que o Rony era um pouco pouco confiável e um tanto preguiçoso."
Ela deu a Harry um pequeno sorriso, e ele retribuiu com um sorriso suave.
"Eu acho que..." Ela fez uma pausa. "Eu acho que só pensei que, quando as coisas ficassem realmente ruins, quando chegasse a hora de verdade, eu poderia contar com ele. Eu acho que só tinha a esperança... de que ele fosse um pouco diferente."
O sorriso de Harry foi sombrio quando respondeu:
"Eu sei", disse ele, a voz áspera. "Eu também."
Eles ficaram em silêncio por um momento, cada um olhando para as mãos ainda entrelaçadas entre eles. Harry, distraidamente, passava o polegar direito sobre os nós dos dedos dela em um gesto tranquilizador.
"Ele ainda pode voltar", disse Harry com um pequeno sorriso e um leve brilho de otimismo nos olhos. Ela pôde sentir o olhar dele pousar sobre si, esperando que respondesse.
A testa de Hermione se franziu enquanto refletia sobre aquilo. Era uma possibilidade, mas percebeu que seus olhos estavam presos nos pequenos círculos que o polegar de Harry ainda desenhava sobre seus dedos.
"Talvez", disse ela lentamente, levantando os olhos para encarar Harry novamente. "Talvez. Mas... isso não vai mudar o que eu sinto."
Harry arqueou uma sobrancelha, como se esperasse que ela confirmasse o que queria dizer com aquela afirmação e, em resposta, ela lhe devolveu o olhar mais direto que tinha.
"Não vai mudar o que eu sinto agora", declarou com firmeza. "O que aconteceu aqui... se ele voltar. Talvez... talvez eu consiga perdoá-lo. Talvez possamos ser amigos. Mas... eu não consigo ignorar isso. Eu... eu não vou voltar a sentir o que sentia antes."
Harry a observou com atenção, um pensamento presente no leve franzir de suas sobrancelhas, e acenou devagar para mostrar que entendia. Harry estava ciente dos sentimentos que Hermione havia começado a desenvolver por Rony — não apenas porque era perspicaz e observador, mas também porque os dois haviam conversado brevemente sobre isso. Hermione tinha ficado com ciúmes quando Rony começou a ficar com Lilá Brown no sexto ano, e Harry a ajudara a lidar com isso, dizendo a Hermione que Rony realmente se interessava por ela, mas era um idiota que não reconhecia os próprios sentimentos. Pode ter sido duro e lhe rendido um tapinha sem muita força de Hermione na época — mas era verdade, e Harry sabia disso.
Rony, com todos os seus méritos, nem sempre era o mais inteligente. Era muito provável que ele só "gostasse" de Hermione porque passavam muito tempo juntos. Na realidade, não tinham absolutamente nada em comum e discutiam com frequência. Harry sempre tinha sido a ponte entre os dois; sempre fora o mediador. Dado algum espaço, Rony provavelmente se interessaria por outras garotas e esqueceria de vez seus sentimentos por Hermione. Mas ele nunca dissera isso a ela.
Hermione assentiu em resposta, e Harry apertou suas mãos mais uma vez antes de soltá-las sobre a mesa e abrir o melhor sorriso que conseguiu.
"Então, que tal o café da manhã", disse ele com um entusiasmo levemente exagerado. "Fiquei a noite toda assando essas coisas."
Hermione riu, sempre grata pela capacidade de Harry de seguir em frente e forçar o próximo passo. Pegou um scone, deu uma mordida e o elogiou por suas habilidades culinárias antes de tomar outro gole do chá-esfriado-depois-reaquecido-que-esfriara-de-novo que Harry havia preparado para ela.
