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Characters:
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Language:
Português brasileiro
Series:
Part 1 of Lily + Kandreil = <3
Stats:
Published:
2024-12-12
Completed:
2025-01-31
Words:
61,283
Chapters:
14/14
Comments:
30
Kudos:
121
Bookmarks:
12
Hits:
2,861

Never Grow Up

Summary:

Dentro do quarto, com as pernas cruzadas sobre a cama, Lily encara um pequeno deque de cartas. Kevin Day sorria em sua direção por cima de todas as outras, sua tatuagem em forma da rainha do xadrez em sua bochecha, pouco abaixo dos olhos verdes. Ela tira a carta de cima e coloca no colchão, fazendo o mesmo até sete cartas estarem dispostas ali.

Kevin Day. Neil Josten. Andrew Minyard. Jean Moreau. Jeremy Knox. Laila Dermott. Catalina Alvarez.

Os maiores nomes da corte estadunidense de exy estavam em sua frente naquele momento. E três deles estavam na mesma casa que ela. Era como se todos os seus sonhos tivessem se realizando de uma vez só. Bom, não todos.

Notes:

Oi gente,

Essa história foi postada originalmente em 2022, depois de pensar muito decidi editar algumas partes e fazer algumas alterações. Qualquer coisa eu vou avisando no meu twitter (@thebubblefrog), está liberado ir me cobrar por lá!

Espero que vocês gostem. E se sintam livres para mandar mensagem ou outros comentários.
Beijo.
Lex <3

Chapter 1: The First Move

Chapter Text

Lily Davis percebeu o erro que tinha cometido ao comer cinco dos muffins de amora de Abby, mais tarde naquela noite. Seu corpo curvado por cima do vaso sanitário do vestiário feminino parecia tentar expelir o máximo de seu órgãos vitais possível. Quando ela finalmente conseguiu se levantar, sua visão estava borrada pelas lágrimas e seu abdome doía pela força. Não era atoa que suas pernas ainda estavam um pouco bambas quando ela ligou o chuveiro do vestiário.

 

Claro que Lily não culpava Abby. Nem um pouco. Os muffins estavam divinos. E Abby tinha sido um anjo por trazer todos eles para o treino. Era sempre assim na vida de Lily, uma coisa boa se transformava em um pesadelo em menos de um segundo. Seu próprio karma sempre seria o primeiro culpado e  Abby era a pessoa favorita de Lily, no mundo todo provavelmente, então a única culpa que ela carregava era de ser perfeita. Como se não fosse patético o suficiente sua melhor amiga ser a enfermeira da escola, Lily não conseguia deixar de lado o sentimento de alívio por estar entre as paredes azuis e verdes novamente. 

 

O vestiário da Escola Estadual Eleanor Roosevelt era melhor que qualquer casa que poderiam colocá-la e o lugar mais seguro para fugir da tempestade de neve que se formava do lado de fora. Abby havia dito pela manhã, junto com os muffins de consolação, um presente especial pela derrota humilhante do dia anterior para todos os jogadores, mas que viraram um presente apenas para Lily depois do primeiro comentário grosseiro direcionado a ela. 

 

E mesmo que o pequeno mimo de Abby tivesse relação com Lily vomitando tudo que tinha comido nos últimos dois dias, tê-los ganhado não tinha sido o problema. Comer cinco deles e correr sete quilômetros, sim. 

 

Lily se olhou no espelho depois de sair da água quente, o vapor escapando da cabine até embaçar todos os espelhos. Não era muito diferente das outras garotas de 16 anos de sua escola. Seu cabelo era castanho e encaracolado nas pontas e caía na altura de suas axilas. Seu corpo era meio retangular e ela sempre achava que estava magra demais, mas talvez fosse por preferir almoçar muffins ao invés das inabilidades culinárias de seu temporário pai adotivo. As únicas coisas diferentes em sua aparência eram as manchas brancas que se espalharam por sua pele escura e seus olhos, um castanho escuro e o outro azul. 

 

Sua calça legging e camisa do time já estavam jogadas em cima do banco quando o espelho sai da sua linha de visão. O logo na blusa era uma pequena palmeira branca e contrastava com o tom verde e os detalhes azuis nas mangas. O grande número 07 em suas costas e a inscrição em cima “Davis” pareciam ter sido costurados a mão, apesar de Abby ter dito que tinha uma máquina de costura em casa. Lily não acreditava nela, mas mesmo assim tinha deixado ela fazer o trabalho. Ela não se importa em vestir o equipamento de segurança, se uma bola ricocheteasse na direção dela, o golpe seria por merecer. Ela leva para a quadra apenas sua raquete e um balde cheio de bolas. Antes de entrar no cubículo de acrílico, ela acende as luzes da quadra, agradecendo mentalmente Abby por ter passado os códigos de segurança do Centro de Esportes da escola. 

 

Seus primeiros arremessos na direção do gol são apenas um teste para ver se seu estômago aguentaria a força que seus braços teriam que fazer, quando ela tem a certeza de que não vai vomitar no chão da quadra, ela arremessa com mais força. As bolas ricocheteiam na parede de acrílico e ela pega na rede de sua raquete, apenas para jogar de novo.  

 

Se ela pensava que jogar ia acalmar um pouco seus nervos, tinha errado feio. O primeiro erro que ela comete em um dos arremessos a faz jogar a raquete longe, do outro lado da quadra, sob os pés de alguém que Lily definitivamente não havia ouvido chegar. Ela corre até as bolinhas espalhadas, juntando todas no balde e indo na direção de sua raquete. 

 

Abigail Winfield não parece abalada com o surto de Lily ou com o fato de ser quase oito horas da noite e ter uma invasora na escola. 

 

— Merda, merda. — Lily sussurra enquanto carrega o balde em um dos braços e sua raquete em outro. Ela vê os lábios de Abby se movendo, mas o barulho da tempestade do lado de fora impede o som de chegar até ela. Pela expressão cansada em seu rosto, ela não parecia irritada, mesmo que tivesse razão para estar.

 

Conforme o calor gradualmente deixava seu corpo, os fios molhados em seu ombro e o frio do lado de fora faziam seus braços começarem a tremer. Lily passa reto por Abby e enfia o balde em um armário no corredor e apoia sua raquete na parede, cruzando os braços. Ter seu treino interrompido era quase pior do que o sermão que provavelmente estava prestes a ouvir. 

 

— Lily? — a voz de Abby soou pela primeira vez no corredor. O tom doce era nauseante, Lily  tem vontade de sair correndo e abraçá-la. Ela se vira, vendo a enfermeira apagar as luzes da quadra e trancar a porta. 

 

— Eu ‘tô aqui. — Lily limpa a garganta, tentando se livrar de algumas lágrimas. Ela nem sabia exatamente o motivo do bolo em sua garganta, implorando para ela chorar, mas algo na voz de Abby, a desconcertava. — Só, me deixa explicar — soltou a última frase em um sussurro imediatista.

 

Abby estava com os fios loiros presos em um rabo de cavalo e usava as mesmas roupas que Lily tinha visto nela, de manhã, durante o treino. Ela normalmente parecia cansada, mas naquela noite em especial parecia exausta.

 

— Lilian... — Abby suspira, como se o nome da garota fosse uma súplica e Lily sente como se fosse desmoronar ali mesmo. Ela corre sem pestanejar para os braços da enfermeira, a abraçando apertado. — Por Deus, onde estão suas roupas de frio? Está fazendo cinco graus lá fora. Você tem que se agasalhar.

 

Abby tira o próprio casaco, ajudando Lily a vesti-lo. Ela ainda estava usando uma blusa de lã por baixo e logo retoma o abraço com o rosto da mais nova afundado em seu ombro. Os minutos passam junto com o silêncio. As duas sabem que aquele momento é necessário, mas Lily tem tantas coisas para explicar que é impossível prolongar o momento. Lily nem percebe o momento exato em que começa a chorar, mas se deixa ser consolada pelo abraço agradável de Abby.

 

— Boris me ligou. Disse que não conseguia te achar de jeito nenhum. Algo sobre uma tal de Michelle Martin. O que aconteceu, Lily? — Abby pergunta, instigando aquilo que não podia aguardar mais e a guiando para a enfermaria da quadra, um dos braços entrelaçado ao de Lily.

 

Ela não queria falar sobre o que tinha acontecido. Porquê estava na escola tão tarde da noite. Porquê seu pai adotivo tinha ligado para Abby como última esperança de saber onde ela estava. Mas não podia esconder as coisas de Abby. Não depois que ela teve o trabalho de estar ali, aquela hora da noite. Lily se joga em uma das poltronas brancas da enfermaria assim que a luz é acesa, recolhendo suas pernas para cima do estofado, enquanto assiste  Abby se dirigindo ao outro lado da sala. 

 

— Eu fui para casa… — a fala repentina de Lily, chama a atenção de Abby, que ligava a chaleira elétrica para esquentar um pouco de água. — Depois da aula...Eu voltei para casa.

 

— Uhum — Abby murmurou para que Lily soubesse que estava sendo ouvida e separou duas canecas com saquinhos de chá.

 

— Eu voltei para casa e quando eu entrei, Boris não estava lá. Eu não ‘tava afim de olhar na cara dele, então foi bom. Eu ainda estava com as roupas do treino, sabia que ele ia reclamar se visse que eu não estava limpa — Ele gostava tanto de apontar o quanto Lily era suja, não importava quantos banhos ela tomasse, que já não era surpresa que ouviria um sermão principalmente estando suada após o treino — Eu fui direto para o meu quarto. — Lily começou a contar conforme as memórias voltavam em sua mente.

 

Ela havia acabado de entrar em seu quarto. Seu quarto. Um quarto, era uma definição melhor. Aquilo estava longe de ser seu. As janelas estavam abertas e o colchão que costumava dormir estava bagunçado, do mesmo jeito que ela se lembrava de ter deixado durante a manhã. A mesa que ela usava para estudar estava com uma pilha de papéis amassados, do trabalho de biologia que passara a madrugada inteira fazendo, e sua cadeira mal tinha espaço para sentar, já que seu uniforme estava jogado por cima do encosto, junto com os equipamentos de proteção.

 

Lily abriu a sua mochila, tirando uma caixa de papelão de dentro. Os muffins de amora ainda estavam quentes e tinham um cheiro doce e agradável. Ela pegou um deles e mordeu um pedaço, deixando o resto da caixa por cima da mesa. Lily se jogou na cama sem se preocupar querendo descansar um pouco. Mexeu na sua mochila até tocar em algo duro e tirou um livro de capa dura de segunda mão. “O Grande Gatsby”. Estavam lendo a obra de Fitzgerald na aula de literatura e só faltavam alguns capítulos para que ela finalmente conseguisse acabar.

 

A porta do quarto se abriu poucos minutos depois. Uma garota alta, magra, com cabelos pretos lisos e a pele pálida, apareceu na frente do colchão de Lily, a fazendo soltar o livro em seu próprio rosto, bufando e revirando os olhos. A mão ossuda da menina agarrou sua perna e a puxou para baixo, fazendo com que o livro caísse no colchão e Lily deslizasse para baixo.

 

— Que porra, Edith. — Lily tentou puxar sua perna de volta, mas a mão da garota apertou seu tornozelo. Ela fez mais força e sentiu um dos anéis de Edith arranhar sua pele quando finalmente conseguiu se soltar — Você sabe o que uma porta fechada significa ou precisa que desenhe? Assumindo que você não saberia ler se tivesse um aviso que te mandasse ficar fora. 

 

— A casa é do MEU pai, então eu vou onde eu quiser. Mas não é por isso que eu estou aqui. Eu trouxe um presentinho — ela sentou na cama antes mesmo de Lily conseguir protestar — Se acalma, pestinha. É uma oferta de paz. 

 

“Pestinha”. Porque tudo que Lily fazia era uma pestilência na vida de Edith. Porque Lily era uma parasita em sua casa e ela não se cansaria até conseguir se livrar dela. A garota puxa um papel de seu bolso e o balança entre os dedos. 

 

— Eu sei sobre a sua coleçãozinha de cartas. Com aqueles ridículos famosos que você guarda na sua mochila — o coração de Lily dá um pulo e ela começa a remexer suas coisas, procurando o envelope. Eram cartas colecionáveis com os jogadores de Exy da seleção. Quando ela finalmente acha, o sorriso de Kevin Day brilha em sua direção. Seu suspiro é de puro alívio — Eu não mexi, que nojeira. Essas coisas gritam “virgem”.  Para de ser uma bebê chorona e presta atenção. Eu disse que tinha um presente. Aí, você tá vendo porque nada de bom acontece aqui? Você estraga tudo com essa sua paranóia. 

 

— Fala o que você quer logo, Edith — Lily normalmente não tem paciência para os joguinhos dela, mas depois de terem sido esmagados no jogo do dia anterior, ela tinha ainda menos paciência para qualquer teatro dela. 

 

— Como eu estava dizendo, eu te trouxe um presente. Olha como eu sou boa, nem é seu aniversário — ela entrega a carta para Lily. Nem por um segundo ela se deixa enganar, pensando que Edith poderia fazer algo generoso. Então não há surpresa quando seus olhos encaram a carta de uma das versões mais antigas de monopoly: “Sorte: Saída livre da prisão” — Entendeu? Porque você vai pra lá hoje. 

— Não, não entendi — Lily joga a carta longe e deita na cama, pegando de volta seu livro e apoiando e uma de suas pernas. 

— Eu te explico, pestinha. Prisão é o lugar que as pessoas vão quando roubam dinheiro de uma família de pessoas amáveis que garantiu por quase dois anos que você tivesse um teto em cima de sua cabeça — Edith levantou o corpo e encostou no batente da porta com um sorriso cínico no rosto. Lily queria socar aquele sorriso para fora do rosto dela — Vão te mandar para o reformatório. Papai conseguiu provas que você roubou aquele dinheiro todo dele. — ela soava orgulhosa.

— Porra nenhuma. Eu não roubei nada. Você sabe que não fui eu. — Lily sentou no colchão com as pernas cruzadas. Edith não tinha precisado fazer muito, ela já estava ofegando de raiva. — Você sabe que essa porra de história é mentira, Edith.

 

— A sua assistente social vai chegar em duas horas. — Edith deu de ombros, ignorando as palavras dela. — Melhor começar a empacotar suas tralhas, mesmo  que não vá precisar de nenhuma delas pra onde você está indo.

 

Edith bateu a porta e Lily se jogou no colchão escondendo o rosto nas mãos. Seu coração batia tão rápido que ela mal conseguia ouvir outros sons ambientes. Ela olhou para a caixa de muffins e a abriu. Comeu mais um e depois outro e quando percebeu, já tinha comido todos os cinco. Lágrimas curtas escorriam por suas bochechas. Ela se arrependeu imediatamente, ao ver a caixa vazia, e olhou para a porta do seu banheiro, antes que pudesse levantar, ouviu dois toques na madeira em sua frente que logo se abriu.

 

Boris White não era um homem muito alto. Tinha o rosto jovem e usava coletes de lã, blusas xadrez e óculos retangulares. Seu cabelo era calvo e preto com diversos fios brancos. Ele carregava uma expressão melancólica, mas assim que seu olhar encontrou Lily, ele suspirou em decepção, segurando a ponte do nariz entre as pontas dos dedos.

 

— Lily, o que eu já te falei sobre deitar na cama sem tomar banho? Esse quarto parece o vestiário masculino. — ele balançou a cabeça, como se tivesse cheirado algo podre, mas a garota nem teve tempo de responder — Nós precisamos conversar. Pode vir aqui na sala um minuto?

 

Ele saiu e deixou a porta aberta. Lily prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e colocou o casaco da escola que estava cheio de perfume na esperança de mascarar o cheiro que vinha de sua camiseta. Suas mãos esfregam suas bochechas, ela não se importa ou nem se pergunta se Boris havia a visto chorando. Ela o segue até a sala, mas todo seu corpo congela quando ela vê quem está sentada na sala e uma das poltronas ofuscantemente amarelas. 

 

Michelle, sua assistente social, estava segurando algumas pastas e tomava algo em uma caneca. Lily mordeu o interior da bochecha tão forte que sentiu o gosto férrico de sangue na ponta da língua. Todas as mentiras que ela já havia contado na vida passam por sua mente em flashes. Documentos falsos, lágrimas falsas, rostos e noites que ela desejava esquecer. Quando Boris volta a falar, ela solta o ar que nem sabia estar segurando. 

 

— A Srta. Martin veio conversar com você sobre “o incidente” — ele se sentou no sofá e esperou Lily se sentar na outra poltrona vaga

 

O incidente. Era como Boris estava chamando os 700 dólares em dinheiro que haviam misteriosamente desaparecido dos pertences dele algumas semanas atrás. Lily achou que o assunto tivesse acabado. Ela não tinha pegado o dinheiro, mas mesmo assim fez questão de pagar cada centavo e pedir cada desculpa necessária para que o assunto fosse esquecido.

 

Lily não odiava Boris. Ele tinha sido um guardião razoável pelos últimos dois anos. Isso era suficiente para que ela não fizesse nada que pudesse pôr em perigo sua estadia ali. Ela amava sua escola. Amava seu time de Exy e amava Abby Winfield ainda mais. E inoportunamente, duas semanas depois de conversar com Boris sobre uma adoção permanente, “o incidente” havia acontecido. E Lily tinha certeza que a culpa não havia sido sua. Ela já tinha mentido sobre muitas coisas em sua vida, mas aquilo não era uma delas. 

 

— Então, Lilian. — ela pigarreou. Seu nome parecia um pecado, saindo da boca de Michelle. — Eu e o Sr. White conversamos um pouco e nós dois sabemos que você é uma garota brilhante. Suas notas sempre foram excepcionais e você pratica um dos esportes mais concorridos das Little Leagues, estando apenas na nona série. E felizmente, entramos em um acordo de que não seria necessário prestar queixas a você com relação ao dinheiro desaparecido, principalmente porque você fez questão de repor todo o valor. — Michelle tinha um sorriso calmo no rosto. Lily estava com vontade de vomitar. — Apesar disso, entramos em concordância que seria melhor se você fosse destinada à outro lar adotivo. Eu passei as últimas semanas analisando a sua ficha e não vai ser difícil encontrar uma família. É uma consequência pequena para uma infração gravíssima.

 

— Lily, sabe quanto me importo com você, mas um acontecimento desses quebrou nossa confiança. Edith está abaladíssima de perder uma amiga, mas você entende que não conseguiríamos mais viver em harmonia com essa desconfiança ainda pairando no ar. — Boris apoiou uma das mãos no braço da poltrona de Lily, que se afastou imediatamente. — Vai ser melhor para nós todos seguirmos em frente dessa maneira.

 

— Não. — Lily expeliu, sem explicações.

 

— Querida, eu não acho que o Sr. White precise de mais desculpas esfarrapadas sobre o assunto. Porque não vai fazer suas malas e nós podemos conversar no carro? — Michelle sorriu, como se mandasse Lily ficar calada com a simples expressão facial.

 

Lily levantou- se da poltrona, se sentindo enjoada. Quando o cômodo parou de girar, ela seguiu para o quarto. Não haviam palavras não grosseiras que expressassem o tamanho daquela injustiça. Lily sabia que não tinha feito nada errado. Ela se lembraria se tivesse roubado 700 dólares de uma caixa de sapato. Não lembraria?

 

“Eu entendo que você precisava do dinheiro para viajar com seu time da Little League, mas roubar não era a solução, Lilian.” Foi o que tinham dito a ela no dia do incidente. Porém, a excursão tinha sido paga com o dinheiro dos doces que ela vendia na escola. Boris sabia dos doces. Ele tinha que saber de onde tinha vindo o dinheiro da excursão. Por que pensaria que ela o tinha roubado para isso?

 

“Ela é uma mentirosa patológica. Lembra quando ela chegou aqui? Disse estava no sistema há anos, mas no documento consta que entrou há dois anos. E olha para ela. Por que acreditaríamos em algo que ela diz? Ela usou o dinheiro dela para comprar aquela raquete idiota. A raquete sozinha é 700 dólares, pode procurar.” A raquete tinha sido um presente. Do treinador Diaz. Boris sabia da raquete. Ele também sabia dos doces. Ele tinha que saber do dinheiro. Por que mesmo assim ainda duvidavam dela? “Eu não quero morar com alguém que pode surtar a qualquer momento, roubar todas minhas economias da faculdade e fugir.”

 

Lily fechou a porta do quarto e começou a colocar suas coisas dentro da mochila. Não conseguia pensar no que estava colocando ali, mas tudo que encostava suas mãos acabava amassado junto às outras coisas. Ela olhou em volta do quarto e depois para a janela escancarada. Ela não podia perder tudo. Não de novo. E então, Lilian Davis passou uma perna após a outra pelo vão da janela e correu. Sete quilômetros com uma bolsa de lona, uma mochila escolar e uma raquete preta com detalhes azulados. Correu até que finalmente avistou “Eleanor Roosevelt Ensino Fundamental e Médio”.

 

— Eu tentei explicar que não fui eu. Ninguém acreditou em mim — Lily olhou para o próprio colo. Estava segurando a caneca com o chá com as duas mãos. — Por favor, Abby. Não fala para a Michelle que eu estou aqui. Fala que eu fugi do estado, manda eles me procurarem no México. Eu não posso sair da escola.

 

— Lily… — Abby esfregou uma das mãos em seu rosto. Fez uma pausa antes de continuar. — Se eu soubesse que você ia vomitar todos os meus Muffins, eu teria feito menos. — disse, tentando levantar o humor de Lily. Abby já tinha saído de sua cadeira e agora estava sentada na poltrona ao lado dela. Lily não conseguiu sorrir, mas apoiou a cabeça no ombro de Abby que soltou um suspiro. — Você não roubou aquele dinheiro. Eu acredito em você.

 

— A porra do problema é que eu não consigo provar. Eu não roubei aquela merda, eu não preciso do dinheiro dele… — Ela disse, com certo desespero. Não importa o quanto se esforçasse, não sabia se conseguiria dizer por mais muito tempo o que era real.

 

Tinham lhe dito que era culpada. Todas as provas apontavam para Lily. Mas ela se lembrava. Em algum lugar de sua memória. A raquete de presente. Os doces. O dinheiro para o jogo. Essas eram as únicas verdades dela. E tinham que ser a verdade real.

 

— Me deixa te ajudar. Tudo bem? Vamos dar um jeito, pestinha. — Abby pegou seu celular em cima da mesa e apertou o nariz de Lily entre os dedos antes de sair da sala para fazer uma ligação. “Pestinha”, um termo carinhoso entre pessoas que se adoram. 

 

Lily estava torcendo para que não fosse sua assistente social. Nunca tivera tanto medo dentro de si antes. Nem quanto Edith a empurrava nos armários do corredor principal da escola. Nem quando estavam em noite de estreia. Nem quando acordava de madrugada, sentindo cheiro de hospital e fumaça, tremendo sozinha no escuro. Não queria perder a Roosevelt. Não queria ter que perder Abby.

 

— Ei. — Abby apareceu novamente e Lily levantou a cabeça. — Pega suas coisas. David está vindo buscar nós duas. Falei com a Srta. Martin. Você pode ir dormir lá em casa e deixamos a conversa para amanhã. — ela sorriu e esperou Lily correr para o vestiário para pegar suas coisas.