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MAY
Os vidros do carro já estavam completamente embaçados, mas eu mal conseguia perceber qualquer coisa além de Kuroo. Suas mãos estavam firmes na minha cintura, enquanto minhas pernas descansavam sobre ele, me mantendo no lugar, tão próxima que sentia cada suspiro que escapava de seus lábios.
O calor entre nós era quase insuportável, mas nenhum de nós parecia disposto a parar. Seus beijos eram urgentes, carregados de desejo, e sei que é para matar a saudade que sentiu, pois estou igual. Nossas bocas se encontravam em movimentos quase desesperados, e eu o puxava para mais perto, minhas unhas arranhando levemente a base de sua nuca.
— Vou acabar te fodendo nesse carro — ele sussurrou contra meus lábios, a voz rouca e pesada, antes de beijar meu pescoço, seus dentes arrastando de leve pela minha pele sensível.
Um gemido escapou de mim, minhas mãos apertando os ombros dele.
— Não estou fazendo nada, Kuroo... Você é quem não consegue ficar longe.
Ele riu, aquele riso baixo e carregado que sempre fazia meu estômago se apertar.
— Isso porque você é irresistível, gatinha...
Suas mãos desceram por minhas costas, firmes, traçando cada curva como se quisesse decorar cada detalhe. O espaço limitado do carro só parecia aumentar a tensão entre nós. Quando suas mãos puxaram minha blusa para cima, eu não resisti. Meu corpo estava completamente entregue a ele, e ele sabia disso.
Mas havia algo no fundo da minha mente que insistia em se fazer presente, uma sombra que me lembrava de que nossa paz nunca era completa.
Ele beijou meu ombro e depois voltou a capturar meus lábios, suas mãos agora segurando minha cintura com firmeza. Mesmo perdida nele, aquela sensação de urgência me alcançou, um lembrete incômodo de que havia coisas que precisávamos resolver.
— Kuroo... — murmurei contra seus lábios, tentando encontrar o momento certo para falar. Ele me olhou, sua expressão suavizando um pouco, embora o desejo ainda estivesse presente em seus olhos.
— O que foi, May? — Ele afastou uma mecha de cabelo do meu rosto, sua voz mais calma, mas ainda carregada de intensidade.
Respirei fundo, tentando reunir coragem.
— Precisamos conversar...
Ele arqueou uma sobrancelha, mas não se afastou. Sua mão permaneceu em minha cintura, me segurando firme, como se quisesse me dar segurança.
— Não aceite proposta alguma vinda do Aizen.
— O que tem aquele cara? — Sua voz carregava um tom de alerta agora, a calma dando lugar a uma preocupação quase evoluindo para uma irritação que ele não fazia questão de esconder.
Mordi o lábio, desviando o olhar por um momento.
— Ele sabe demais. — Afirmei deixando de lado que se tratava sobre a gente e o fato de que ele provavelmente tem me vigiado.
Kuroo ficou em silêncio por alguns segundos, o que só aumentou minha ansiedade. Finalmente, ele falou, sua voz baixa, mas firme.
— E você acha que ele faria algo?
— Não sei — confessei, sentindo o aperto no peito aumentar. — Eu só tenho receio do que ele pode fazer com você, ou com qualquer pessoa que esteja ao meu lado. Justamente por que quer que eu trabalhe para ele. — Desconversei, sinto que já falei demais e ainda tem a Saeko.
Ele suspirou, sua mão subindo até minha bochecha, forçando-me a olhar para ele.
— Escuta, May. Você não precisa enfrentar isso sozinha. Eu estou com você, e não vou deixar que ele te machuque.
Suas palavras eram sérias, e o calor que sempre via em seus olhos agora estava acompanhado por determinação. Ele me puxou para mais perto, seus lábios pressionando minha testa em um gesto que, de alguma forma, me acalmou.
— Vamos resolver isso, tá bom? Juntos.
Assenti, sentindo uma mistura de alívio e receio. Eu sei bem o que um pouco de influencia pode fazer e o que mais me preocupa é até onde Kenji estaria disposto a ir para me manter sob seu controle.
Desde a conversa com Kuroo, ele não se afastou, pelo contrário, ele me levava de carro até a empresa e sei que o porteiro provavelmente já bateu tudo para o chefe e isso não me incomoda. Minhas pendências com Kenji serão resolvidas por mim, porém, também deixei Saeko alertada para que não assinasse nada sem ter certeza ou pedisse a leitura prévia de um advogado. Quando ela perguntou o motivo, eu menti. Disse que Eri, mesmo sendo filha dele, sempre me alertou que o pai não era tão íntegro quanto aparentava ser e, apesar de nossas divergências, eu acreditava nela e isso foi o suficiente para Saeko concordar.
A cada nova semana, eu me sentia mais sufocada por Kenji. Como as aulas ainda não começaram, eu estou literalmente passando meu tempo entre os empregos, vulgo sendo braço direito de Saeko ou dele. Isso está realmente me irritando, pois estou administrando meu tempo de folga muito mal.
Kuroo está perto dos jogos finais e eu estou tão orgulhosa de tudo o que o time alcançou. Fora isso, ainda tenho as minhas aulas de natação, o que me alivia demais, pois eu não fico restrita aos meus pensamentos sobre Kenji e suas tentativas baratas de me tocar ou me prender em suas vontades.
Havia se passado cerca de vinte dias desde que comecei a trabalhar com o Aizen e estou cada vez mais desconfortável com essa posição, afinal, até a secretária dele já me trata com uma intimidade que não condiz com a minha posição, como se eu fosse realmente o braço direito dele. Ao adentrar o escritório que ele montou para mim, lá estava ele em trajes formais como sempre, sentado em uma pose austera e sorrindo minimamente para mim.
— Finalmente, doll. — Ele mordeu o lábio inferior antes de se aproximar.
— Eu estava ocupada. Se há algo para discutirmos, vamos direto ao assunto. — Quanto mais rápido acabarmos com isso melhor, então não me darei ao trabalho de ser extremamente educada, principalmente com um homem que é claramente um predador.
Ele riu baixo, um som que soava mais ameaçador do que amistoso. — Tão direta... sempre gostei disso em você.
Kenji parou a poucos passos de mim, inclinando ligeiramente a cabeça, os olhos escuros me analisando como se eu fosse um quebra-cabeça que ele estava determinado a resolver.
— Sabe, May, você tem se saído excepcionalmente bem. O escritório nunca foi tão eficiente. É quase como se você fosse feita para essa posição. — Ele deixou a frase pairar no ar, dando um passo ainda mais próximo, violando deliberadamente o meu espaço pessoal.
Recuei instintivamente, mantendo a mesa entre nós.
— Se tem algo específico para me dizer, faça isso logo. Eu tenho outras coisas para resolver.
— Sempre tão apressada... — Ele mordeu levemente o lábio inferior, como se estivesse se divertindo com a minha reação. — Mas eu entendo. Você tem uma vida lá fora, um namorado, talvez...
Minha respiração falhou por um momento, mas recuperei o controle rapidamente.
— O que você quer, Kenji?
Ele ignorou minha pergunta, circulando a mesa e se posicionando atrás de mim.
— É engraçado... Parece que, não importa onde você vá ou com quem esteja, você sempre acaba voltando para mim ou cruzando o meu caminho, não é?
Eu me virei para encará-lo, cruzando os braços na frente do corpo em uma tentativa de me proteger daquela proximidade invasiva.
— Eu não voltei para você. Estou aqui por obrigação, e você sabe disso.
Kenji riu novamente, desta vez com um toque de algo mais sombrio.
— Obrigação ou destino... às vezes é difícil diferenciar.
Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, meu celular vibrou no bolso. Aproveitei a oportunidade para me afastar e atender, mesmo sabendo que não era nada urgente.
— Preciso atender isso. Com licença. — Saí do escritório antes que ele pudesse responder, sentindo seus olhos em mim até o último segundo.
Quando cheguei ao banheiro, lavei o rosto com as mãos trêmulas. A forma como ele falava, como agia, era cada vez mais clara: Kenji estava tentando me manipular, me cercar, como se eu fosse uma peça em algum jogo doentio e isso é realmente sufocante.
Estava tentando controlar minha respiração enquanto lavava o rosto, mas o som da porta se abrindo atrás de mim fez meu corpo enrijecer instantaneamente. Pelo espelho, vi Kenji entrar no banheiro, o sorriso presunçoso que eu tanto odiava estampado em seu rosto.
— Nossa, isso me traz tantas lembranças, doll. — Ele ironizou, encostando-se à pia ao meu lado, casual demais para alguém que acabara de invadir o meu espaço.
Revirei os olhos, o desgosto transparecendo em cada detalhe do meu rosto.
— Você devia aprender a respeitar limites, Kenji.
— Limites? — Ele riu, o som grave ecoando no banheiro vazio. — Vamos ser honestos, May. Limites nunca foram o nosso forte, não é?
Virei-me para encará-lo, os punhos cerrados ao lado do corpo.
— O que você quer? Já não basta me obrigar a trabalhar no escritório? Agora vai invadir até aqui?
Ele deu de ombros, inclinando-se ligeiramente em minha direção.
— Não me leve a mal, doll. Só senti falta de... conversar. Como nos velhos tempos.
— Não há nada para conversar. — Respondi de forma cortante, cruzando os braços para reforçar a barreira entre nós. — O que aconteceu naquela noite foi um erro. E se você está aqui esperando por algo, é melhor desistir.
Kenji riu novamente, mas desta vez havia algo mais sombrio em seus olhos. Ele deu um passo à frente, reduzindo ainda mais o espaço entre nós.
— Um erro? — Ele murmurou, inclinando a cabeça enquanto me analisava. — É engraçado você dizer isso, porque, de onde estou, não parecia que você pensava assim naquela noite.
Senti o calor subir ao meu rosto, mas não era vergonha — era raiva. Eu me recusei a desviar o olhar, mesmo quando meu instinto gritava para sair dali.
— Você pode continuar tentando, Kenji, mas não vai funcionar. — Minha voz saiu firme, embora meu coração estivesse disparado. — Eu não sou a mesma pessoa que você conheceu.
Ele sorriu, inclinando-se ainda mais próximo, ao ponto de eu sentir o cheiro amadeirado de seu perfume.
— Talvez. Mas eu aposto que ainda tem algo dentro de você que lembra exatamente como era...
A tensão na sala era sufocante, e eu sabia que precisava sair dali antes que a situação se agravasse. Com um movimento rápido, passei por ele e abri a porta, jogando por cima do ombro:
— Continue apostando, Kenji. Mas vai acabar sozinho nesse jogo.
Sai do banheiro sem olhar para trás, sentindo o peso de seus olhos me seguindo. Meu corpo inteiro tremia. Ele não ia me intimidar. Não mais.
O resto do dia foi um exercício constante de paciência e autocontrole. Desde o momento em que saí do banheiro, Kenji parecia decidido a testar meus limites. Ele me esperava do lado de fora, o mesmo sorriso irônico no rosto, e sem dizer nada, me seguiu até o escritório que ele insistia em chamar de "nosso".
A manhã foi preenchida com tarefas triviais, mas mesmo assim, ele encontrou maneiras de tornar tudo insuportável. Cada vez que se aproximava de mim para "mostrar" algo no computador ou revisar um documento, ficava perto demais, sua mão repousando casualmente no encosto da minha cadeira ou, pior, no meu ombro. Eu me afastava discretamente, tentando não demonstrar o quanto aquilo me incomodava, mas ele parecia se alimentar da minha reação contida.
— Você está tensa, doll. Talvez precise de uma pausa. — Ele sugeriu, sua voz carregada com uma falsa preocupação enquanto me entregava mais uma pilha de papéis.
— Estou bem. — Respondi, mantendo minha atenção no trabalho e ignorando o olhar que ele insistia em fixar em mim.
Na hora do almoço, ele insistiu em dividir a mesa comigo, mesmo com outras opções disponíveis. Sentou-se ao meu lado em vez de à frente, o que só aumentou minha desconforto. Enquanto conversava sobre os projetos da empresa, suas palavras vinham carregadas de insinuações veladas que me faziam querer levantar e ir embora.
— Você é realmente indispensável, May. Eu sabia que trabalharíamos bem juntos. — Ele comentou, o olhar deslizando de forma nada sutil pelo meu rosto e descendo pelo meu pescoço.
— Só estou aqui para fazer meu trabalho. — Respondi com firmeza, ignorando a sensação de sua presença invasiva.
O pior momento do dia veio à tarde, quando ele trouxe uma apresentação para revisarmos juntos. Insistiu em se sentar ao meu lado, tão perto que nossos braços se encostavam. Eu mal conseguia me concentrar no conteúdo enquanto ele falava, sua voz baixa e pausada, quase como se estivesse cochichando segredos. Em certo momento, ele colocou a mão na mesa, mas próxima demais da minha, os dedos praticamente roçando os meus.
— Você está muito calada hoje. Não gosta da minha companhia? — Ele perguntou, o tom casual mascarando a provocação.
— Estou focada no trabalho. — Foi minha resposta curta, tentando ignorar a proximidade sufocante.
Cada minuto que passava parecia uma eternidade. Eu estava constantemente alerta, meus sentidos em estado de atenção máxima para evitar qualquer situação que pudesse me colocar ainda mais desconfortável. Mas Kenji era persistente, sempre encontrando brechas para transformar algo rotineiro em um jogo de poder.
Quando o relógio finalmente marcou o fim do expediente, senti um alívio tão intenso que quase poderia chorar. Recolhi minhas coisas rapidamente, pronta para sair daquele ambiente opressor. Kenji, claro, estava lá para a despedida final.
— Até amanhã, doll. Não se esqueça de que temos uma reunião cedo. — Ele disse, seu sorriso carregado de uma familiaridade que não existia entre nós.
— Estarei aqui. — Respondi sem emoção, apressando-me para sair antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa.
Quando finalmente saí do prédio, respirei fundo, como se estivesse emergindo debaixo d'água. O alívio de estar longe dele era quase palpável, mas o cansaço emocional que ele deixava para trás era um lembrete constante de que isso estava longe de acabar.
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Depois de um dia desgastante, chegar ao dormitório era como encontrar um porto seguro em meio ao caos. Assim que entrei, tirei os sapatos e larguei minha bolsa no chão, indo direto para o banheiro. A água quente escorrendo pelo meu corpo era um alívio necessário, como se estivesse lavando não apenas o suor, mas também o peso das horas passadas ao lado de Kenji. Fechei os olhos, permitindo-me alguns minutos para simplesmente respirar e me reconectar comigo mesma.
Após o banho, vesti um pijama confortável e prendi o cabelo em um coque desleixado. Estava prestes a sair em direção à biblioteca — minha rotina noturna para espairecer e tentar focar nos estudos — quando o som da notificação no celular me chamou a atenção. Peguei o aparelho e vi o nome de Saeko piscando na tela.
Saeko: "Ei, tenho novidades! Vem passar a noite aqui, preciso te contar tudo pessoalmente. Traz algo pra gente comer enquanto fofocamos. Não aceita não como resposta!"
Ri sozinha ao ler a mensagem. Era típico da Saeko, sempre tão animada e cheia de energia. Por mais exausta que eu estivesse, sua empolgação era contagiante, e a ideia de uma noite leve e cheia de conversas parecia exatamente o que eu precisava para esquecer os problemas do dia.
Eu: "Ok, mas só porque você prometeu que vai cozinhar pra mim na próxima semana. Chego em 20 minutos!"
Guardei meus livros de volta na estante, troquei para uma roupa mais casual e peguei minhas chaves, arrumei rapidamente uma mochila com roupas para passar a noite e parei na cafeteria do campus para pegar alguns lanches. Saeko sempre sabia como transformar qualquer situação em algo divertido, e embora eu ainda estivesse tensa pelos acontecimentos recentes, sabia que estar com ela me ajudaria a relaxar.
Ao menos com ela, não havia espaço para as sombras de Kenji ou o peso das responsabilidades que me sufocavam.