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Hello stranger

Summary:

Fugindo do passado, Han Jisung se vê cada vez mais preso na teia de segredos de uma pequena cidade.

Tudo isso enquanto se apaixona por uma pessoa que não existe.

Notes:

Oioii, essa história tem um lugar especial no meu coração por estar comigo há bastante foi, então espero que possa apreciar ela tanto quanto eu.

Chapter Text

Mudanças nunca foram fáceis, especialmente as feitas de última hora no meio de uma madrugada chuvosa. Não é como se a possibilidade de se mudar a qualquer momento não existisse – com a vida inconstante que levavam seria uma surpresa se não -, mas ainda assim era difícil ter que lidar com seu mundo virado de cabeça para baixo, mais uma vez.

 

 

Jisung podia sentir pontadas de dor de cabeça se formando. Como disse, tudo foi decidido de última hora no meio de uma madrugada, então não teve mais do que cinco horas de sono consecutivo. Era óbvio que a mãe dele estava tentando ser positiva, forçando um sorriso e colocando as músicas que ele amava repetidamente como uma estranha forma de se desculpar ou fazê-lo se sentir melhor. Não estava funcionando, mas ele apreciava o esforço.

 

 

Desde criança, Jisung não era o maior fã de mudanças, sempre causando as maiores “birras” – pelo menos era o que a mãe dele achava na época – pelas coisas mais simples. Apesar de não lembrar muito bem por na época ser muito jovem, se lembra da mãe contando ao médico sobre o dia em que se recusou a comer só porque o pai dele tinha trocado a marca de macarrão que ele estava habituado. Para todas as pessoas aquilo parecia algo mínimo, mas na época, para ele, era como se tivessem cometido o mais horrendo dos crimes.

 

 

Com o tempo o jovem foi aprendendo a lidar melhor com situações como essas e entender que nem tudo na vida seria como queria, mas isso não mudava o fato de que mudanças assim, ainda mais as inesperadas, faziam seus olhos encherem de água e um sentimento amargo apertar sua garganta. Hoje em dia, ele tentava manter pequenas coisas que sabia que tinha controle sobre e que não seriam inesperadas como uma forma de consolo nesses momentos.

 

 

E foi assim que Jisung acabou no banco do passageiro do carro vendo e revendo os mesmos vídeos sobre a produção de ursinhos de pelúcia tentando ignorar o desconforto de estar naquele carro há horas. Às vezes a mãe dele comentava alguma coisa sobre as músicas ou as paisagens, mas eram assuntos que não demoravam muito a morrer. A viagem percorreu a maior parte em silêncio, apenas com as músicas e o som da estrada como ruídos de fundo.

 

 

Já era por volta do horário do almoço quando eles chegaram e Jisung não sabia se ficava feliz por finalmente se ver livre do carro ou triste por ter que aturar as longas horas de arrumação que viriam. Ele não estava nenhum pouco animado em ter que desempacotar as caixas e ficarem os próximos dois dias com o nariz entupido do pó.

 

 

Apesar de tudo, mesmo sendo simples, a casa era bonita. Ela não era muito grande, mas tinha dois andares e espaço suficiente para os dois viverem a vida confortavelmente. As paredes eram pintadas de um verde claro meio desgastado que implorava por mais uma mão de tinta. O quintal era meio mal cuidado, com mato e ervas daninha que já tinham passado do tamanho para serem aparados, mas ele já podia imaginar o canteiro de flores que logo logo  se tornaria com os cuidados certos. Não tinha cerca envolta da casa como na sua última, a única coisa que dividia o espaço entre os vizinhos eram uma árvore grande cheia de galhos fortes.

 

 

Falando em vizinhos, as casas daquele lugar pareciam ser padronizadas, tendo todas as mesmas formas e tamanhos, os únicos diferenciais sendo as cores e a decoração. Provavelmente seria fácil de se perder caso você não estivesse lá tempo suficiente para ter decorado, mas era duvidoso que pessoas se mudassem para lá com frequência para ser um real problema.

 

 

— Ji, vem ajudar a mãe, seu esquilo preguiçoso. — Jisung não havia ao menos saído do carro, perdido demais em pensamentos para tomar qualquer ação. A mulher não estava brava, era só o jeitinho de provocação que ela carregava, feliz por ver o filho admirar suas novas vidas. — Pelo menos pega aquelas tralhas que você chama de filhos porque eu me recuso a carregar tudo aquilo.

 

 

Ao ouvir seus bens preciosos, ou melhor, seus filhos, se animou e praticamente pulou do carro, o que talvez não foi a melhor das ideias, já que depois de horas de viagem as pernas dele adormeceram e invés de começar com o pé direito, o Han começou essa nova etapa da vida de cara no chão.

 

 

— ‘To bem! ‘To bem — exclamou antes que Hyejin tivesse a chance de se desesperar.

 

 

— Tem certeza, meu amor? — Era óbvio que ela estava fazendo o seu melhor para segurar a risada, ela sempre o chamava de “meu amor” quando queria amenizar a situação.

 

 

— Pode rir, eu sei que você quer. — resmungou com um bico.

 

 

Apesar da cara emburrada, o Han não se importava que a mulher tivesse desatado a rir depois que ele conseguiu se levantar. Na verdade, ficava feliz em finalmente a ver rindo livremente depois de tanto tempo, mas isso era algo que não compartilharia com mais ninguém.

 

 

O carro não era tão grande para caber tantas malas no porta-malas, mas ainda assim eles tentaram encaixar o máximo de coisas possíveis para que não precisassem deixar tantos pertences para trás. Mais da metade das bolsas eram de Jisung, Hyejin tentou filtrar a maior parte das coisas possíveis, pegando somente o necessário, sabendo que o filho tinha muita dificuldade de se desapegar dos seus itens tão preciosos. Só mais um dos sacrifícios que ela jamais se arrependeria, mesmo que seu vestido de formatura tivesse sido abandonado para dar lugar a bichinhos de pelúcia.

 

 

O Han estava num misto de emoções conflitantes. Ele tentava se agarrar ao conforto que ter suas coisas por perto trazia para não deixar a agonia de deixar tudo o que eles construíram ser mais uma vez destruído. Tudo culpa daquele...

 

 

— Jisung, vai ficar parado ai até quando? Está esperando criar raízes? — Jisung despertou do transe que ele nem mesmo tinha percebido ter se metido. Era algo que acontecia com certa frequência e já tinha gerado uma fama de metido e arrogante na antiga escola, além de vários mal entendidos. As vezes ele só pensava demais e se fechava no próprio mundo sem nem perceber, mesmo que que inevitável continuava um hábito irritante que gerava drama desnecessário.

 

 

O jovem suspirou cansado, estando cansado ou não, ainda teriam um longo dia pela frente.

 

 

— Estou indo!

 

 


 

 

Carregar todas as malas escadas acima não foi uma experiência divertida e fez Jisung se arrepender profundamente de levar tanta coisa, mas isso não chegava nem aos pés de ter que organizar tudo aquilo.

 

 

Ele, como o bom procrastinador que era, só queria deixar tudo para fazer algum outro dia – mais especificamente nunca – e deitar na cama, ainda sem lençol e travesseiros, e fingir que aquele amontoado de malas não era problema seu. Mas conhecendo sua mãe e sua própria consciência, aquilo não era uma opção.

 

 

Sem muita escolha, alongou a coluna, que mais parecia de um senhor de 60 anos de tanto que estalava, e suspirou pela milésima vez no dia. A atividade por si só já era entediante, então teria que organizar uma lista de prioridades desde o que ele era obrigado a fazer agora até o que poderia deixar por último.

 

 

E conforme sua lista de prioridade, havia duas escolhas. A primeira seria organizar os ursinhos e colocar todos em seus devidos lugares ou começar a instalar os leds. No final, ele acabou escolhendo a segunda opção já que a primeira levaria mais tempo devido às preferências dos bichinhos.

 

 

No final das contas, não tinha muitos lugares que dessem para instalar o led, já que só tinham duas tomadas, uma embaixo da janela e outra do lado da cama, e a fita de led era muito curta para conseguir atravessar o quarto inteiro, então só faria na região entre a janela e a cama, o que não era muito, mas já era alguma coisa pelo menos.

 

 

Jisung estava tão entediado que qualquer coisinha mínima o distraía, então o gato em cima da árvore fora da janela não teve dificuldade nenhuma em chamar sua atenção. Era difícil identificar se era um gato doméstico perdido ou apenas um gato de rua bem cuidado. Ele tinha a pelagem branca e laranja um pouco suja de terra, além de não apresentar desnutrição nem sobrepeso. Ele era muito fofo para falar a verdade.

 

 

Só tinha uma coisa estranha, o gato não parava de miar e arranhar a árvore como se estivesse assustado ou pedindo ajuda.
Sendo honesto, Han Jisung sempre foi um fraco por coisas fofas, qualquer sorrisinho com olhos brilhantes podia manipular ele facilmente. Então quando o gato olhou para ele e começou a miar mais ainda, Jisung não pôde deixar de assumir o papel que qualquer ser humano decente e não muito inteligente faria e foi atrás do gato para salvá-lo.

 

 

Jisung só percebeu que talvez subir em cima de uma árvore velha para buscar um gato que poderia ser facilmente atraido com comida não fosse a melhor das ideias tarde demais. Ele já tinha chegado quase do outro lado da árvore e o gato não estava muito distante, ele continuava miando desesperado para a janela da casa da frente. Era uma altura considerável a dele para o chão que com uma queda pudesse causar muito mais do que alguns arranhões.

 

 

O jovem tomou uma respiração profunda para tentar recuperar a coragem. Ele já estava praticamente alcançando o gato, então de nada ia adiantar se arrepender agora. Se fosse morrer, que morresse pelo menos como um herói para os felinos.

 

 

— Gatinho, gatinho, vem cá — sussurrou, tentando atrair a atenção do gato — Deixa o titio Sung te pegar.

 

 

Por um momento, Jisung achou que tinha dado certo, o gato tinha parado de miar e olhou para ele, mas toda alegria de pobre dura pouco e o danado voltou a miar, e agora, arranhar a janela da frente, ignorando totalmente a presença dele.

 

 

O Han não pode deixar de se amaldiçoar, ele realmente deveria ter pensado melhor e atraído o animal com comida.

 

 

Se colocou em uma posição melhor, sentado com uma perna de cada lado do galho da árvore e bem mais próximo do gato. Ele só esperava que aquela árvore fosse segura o suficiente para aguentar seu peso.

 

 

— Vem, gatinho, titio Sung promete que só quer te ajudar...

 

 

O gato tinha parado de miar, ainda sem olha-lo, mas Jisung considerou isso aceitação o suficiente para tentar pegar ele.

 

 

Então se inclinou mais um pouco com movimentos suaves para não assustar o animal e...

 

 

PAH

 

 

Após isso, tudo aconteceu muito rápido.
Algo bateu com tudo em Jisung e o fez se desequilibrar, como consequência, o gato se assustou e pulou nele, ficando as garras para se salvar.

 

 

A dor fez o Han arregalar os olhos e gritar. E como se um anjo – muito atrasado por sinal – tivesse saído do céu justamente para salva-lo, uma mão meio calejada tentou o agarrar.

 

 

Tudo parecia acontecer em câmera lenta. O toque quase fantasma dos dedos da figura se esvaiam lentamente, não conseguindo ser a salvação de Jisung.

 

 

O ser tinha cabelos longos e uma expressão de pânico que talvez refletisse em seu próprio rosto, que ficava cada vez menor conforme ele caia.

 

 

A última coisa que Jisung lembra-se de ter ouvido antes de tudo virar um borrão escuro, foi o som de um grito abafado.

Chapter 2: Capítulo 2

Summary:

Após sofrer um acidente, Jisung conhece alguém um tanto quanto inconveniente.

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

— Quinze minutos, Jisung. Quinze minutos! — dizia a mulher aborrecida enquanto andava em círculos — Não tem nem um dia que nós chegamos. Como você conseguiu fazer isso?

 

Jisung não ousou abrir a boca, aquilo era uma cilada, não importa que resposta ele desse todas estariam erradas.

 

Sua mãe estava daquele jeito desde que recobrou a consciência. A indignação da mulher era evidente e nenhum pouco por menos. Ter que passar a tarde no hospital não era como nenhum dos dois esperava passar a mudança.

 

Finalmente o enfermeiro no fundo da sala pareceu se compadecer de Jisung e sugeriu que a mulher fosse conversar um pouco com os médicos enquanto ele terminava de conferir se estava tudo bem.

 

— Você parecia estar se divertindo me vendo sofrer — acusou Jisung.

 

— Você não tem idéia. — comentou risonho. — Sua mãe parecia estar bem preocupada.

 

— Ela está brava comigo, isso sim — lamentou já imaginando como seria a volta para casa.

 

— Talvez, você conhece ela mais do que eu — retrucou o enfermeiro. — Ela parecia mais indignada do que qualquer coisa.

 

Jisung preferiu não responder. Ainda sentia sua cabeça latejar pela pancada, mas aquela dor de cabeça ele não queria se preocupar.

 

— Mas vem cá, nem um dia, cara? — Jisung gemeu de irritação, aquele enfermeiro era muito intrometido.

 

— Me deixa. — O que o Han fez para se meter nisso?

 

— Não, agora é sério. — o enfermeiro devia achar aquela situação toda cômica, era óbvio que ele estava se divertindo com aquilo. — Me fala seu nome completo e idade.

 

— Minha mãe já não tinha respondido isso? — perguntou irritado.

 

— Já, mas eu ainda tenho que fazer essas perguntas para ver se você está realmente bem e conferir se as informações batem. — Ele duvidava muito se aquilo era realmente necessário, na opinião dele o enfermeiro estava apenas querendo se intrometer.

 

— Han Jisung. 17 anos.

 

O enfermeiro acenou, anotando as informações na prancheta.

 

— Vocês se mudaram recentemente para casa verde perto do mercadinho, né?

 

— Eu não sei se é perto de um mercadinho, mas a casa é verde sim — respondeu confuso — como você sabe disso?

 

— Eu não sei se você percebeu, mas aqui é uma cidade pequena, todo mundo sabe de tudo aqui, seja quem entra ou quem sai. — Jisung quase não resistiu a vontade de revirar os olhos com o sorriso do enfermeiro. — Você tem alguma condição médica? Tipo alergias, síndromes ou coisas do tipo.

 

— Eu sou autista. — Jisung suspirou internamente quando viu a reação do outro. Não que ele tivesse feito algo errado ou tivesse algum olhar de julgamento, apenas era cansativo ter que se explicar toda hora. — Transtorno do espectro autista, sabe? É uma deficiência que-

 

— Sim, sim, eu sei o que é — interrompeu apressado. Ele provavelmente tinha se sentido constrangido ou mal interpretado — Bem, na real eu não sei sei o que é, eu sei só o básico, nada muito afundo. Mas você não precisa me explicar não, deve ser chato.

 

— Talvez se fosse outra situação eu até discordaria, mas com essa dor de cabeça…

 

— Não é por nada não, mas pela pancada que você levou, vai ficar doendo por um tempo ainda. — Que ótimo! Não dá para melhorar. Pensou o Han. — Eu não sou responsável por essas coisas, mas talvez te recomendem algum remédio.

 

Toda aquela situação estava deixando-o cada vez mais irritado. Ele só queria ir para casa e se afundar em seus bichinhos de pelúcia até a dor ir embora e ignorar a vergonha que tinha passado e o estresse da última hora.

 

O Han encostou as costas e a cabeça na parede atrás da maca cansado. O único momento de "descanso", se é que se pode chamar assim, desde que acordou foi ter desmaiado. Seu dia estava um caos e não eram nem duas da tarde ainda.

 

Ele não sabia se culpava a figura que abriu a janela com tudo e o fez se desequilibrar, o gato que não parava de miar chamando por ajuda ou a própria impulsividade que não deixava ele pensar antes de fazer algo estupido.

 

Falando nisso, ele meio que queria saber o que tinha acontecido com o gato e a figura. Será que o bichinho tinha caído consigo e se machucado? Será que foi a figura que avisou alguém da queda? Será que ela ajudou o gato?

 

Muitas perguntas e poucas respostas.

 

— Vem cá — Jisung chamou. Mesmo que estivesse irritado e querendo só ficar quieto no canto, ele não ia conseguir tirar aqueles dois da cabeça tão cedo se não tivesse respostas.

 

— Eu já estou aqui — provocou.

 

— Você é sempre tão insuportável assim ou gostou de mim?

 

— É o meu jeitinho especial — sorriu convencido —, mas é sério, o que houve?

 

— Por acaso você sabe se tinha um gato e uma pessoa de cabelo loiro comigo quando eu caí?

 

A expressão confusa dele foi o suficiente para Jisung ter uma resposta.

 

— A pessoa me derruba e não tem a coragem de me ajudar — respondeu irritado.

 

— Você tem noção de que não está fazendo sentido nenhum, né? — Aparentemente ele tinha se cansado de ficar em pé e se sentou na maca do lado do Han com a postura exata de um C. — Me explica direito como você acabou nessa situação, vai que eu sei de algo.

 

Jisung duvidava muito que ele fosse realmente saber de algo, era mais provável que estivesse falando aquilo por pura curiosidade.  Mas o que ele ia perder tentando? Talvez a dignidade.

 

— Tem uma árvore que separa a minha casa com a vizinha — começou —, eu estava arrumando o quarto quando eu vi um gato preso em cima da árvore e miando sem parar e-

 

— E você, gênio, foi tentar pegar ele e acabou caindo?

 

— Você é bem atrevido para um enfermeiro. —  a cabeça de Jisung latejava e essa conversa não estava ajudando em nada com isso — E não foi minha culpa! Se aquela pessoa não tivesse aberto a janela eu não teria caído! Ela nem teve a decência de me ajudar!

 

— Primeiro, eu não sou enfermeiro, sou voluntário do hospital — falou pontuando com a mão — segundo, a única pessoa que mora naquela casa é a Sra.Hwang e ela está trabalhando.

 

— Não era uma senhora, parecia mais um adolescente da minha idade ou um pouco mais velho.

 

Apesar de tudo ter acontecido muito rápido, Jisung se lembrava da figura. Foi uma imagem marcante em sua memória. Ele lembra da sensação do toque fantasma quando a pessoa tentou segura-lo. O cabelo loiro marcante mal arrumado também era difícil de esquecer.

 

O voluntário o olhava com dúvida, como se tudo fosse apenas sua imaginação ou o efeito da pancada que o fizessem alucinar coisas.

 

Aquilo tudo não fazia sentido. Ele tinha visto a pessoa, a marca na testa da quina da janela ainda estava lá, não era sua imaginação inventando coisas.

 

— Eu vivi minha vida inteira e posso te garantir que ninguém além da Sra.Hwang mora naquela casa.

 

— Eu vi aquela pessoa! — Se Jisung estava irritado antes, agora ele estava fervendo de raiva. — Ela tinhas olhos castanhos escuros, eu tenho certeza do que eu vi.

 

— Tudo bem — Apesar de ter concordado, o jovem ainda parecia meio desconfiado da história toda. — De qualquer jeito, meu nome é Minho.

 

Por um momento os dois ficaram se encarando em silêncio, Jisung por estar cansado ainda pensando sobre a pessoa da janela, já Minho parecia analisar cada pedaço de si pensativo.

 

— Acho que já passou tempo suficiente para sua mãe se acalmar. — Minho levantou se espreguiçando.

 

Jisung não tinha reparado antes, mas Minho era muito bonito. Ele parecia pouco tempo mais velho que ele. Com cabelos ruivos curtos muito bem arrumados. E percebendo agora, usava roupas muito menos formais do que o uniforme de hospitais.

 

— Enfim, Jisung, né? — O Han assentiu. — Foi bom te conhecer, te vejo segunda na escola. Bye, bye.

 

— Até segun- Espera, o que?       

 


 

Jisung estava pensando demais. Realmente demais.

 

Os eventos das últimas horas não saíram da cabeça dele, ainda mais agora que ele era obrigado a ficar de repouso pelo resto do dia sem poder fazer muita coisa. Muitas coisas corriam soltas pela mente dele. Desde o estranho encontro com Minho, o jovem irritante voluntário que causava sentimentos mistos nele, até a suposta inexistência da figura que o derrubou da árvore.

 

Ok, ele tinha que admitir, era meio injusto colocar toda a culpa sobre a pessoa misteriosa. Se talvez ele tivesse parado um minuto para pensar e lutado contra a impulsividade isso não teria acontecido, mas as coisas são como são e ele é como é, por isso ele precisa pelo menos descontar um pouco da frustração em algo, ou no caso, em alguém, e se esse alguém no caso tivesse sido um ponto chave para a sua miséria, que assim seja.

 

Minho, na melhor das palavras, era estranho. Ele tinha um charme que chamava atenção, não só pela aparência, mas também pelo seu jeito - diga-se de passagem inconveniente -. Jisung não duvidava nada que o voluntário atraia olhares por onde quer que passasse, ele tinha algo que parecia atrair as pessoas. Mas se tinha algo que o Han tinha certeza sobre Minho é que, apesar de toda a confusão que ele parecia causar - sério, ele ainda não tinha entendido o negócio de segunda -, Minho era uma pessoa sincera, e meio que ele o admirava por isso.

 

Mas aí, nesse exato ponto, chegava o segundo obstáculo.

 

Se Minho era tão honesto assim, por que ele mentiria sobre a pessoa da casa ao lado?
Segundo ele, ninguém mais morava naquela casa além da tal Sra. Hwang que estava trabalhando no momento do incidente e teoricamente, Minho não tinha motivos para mentir para ele.

 

Jisung se sentia encarando um quebra-cabeça cheio de peças que não se encaixavam e algumas outras faltando. Nada fazia sentido.

 

Já fazia algumas horas que ele estava deitado, só olhando o quarto bagunçado, com caixas abertas, roupas e objetos jogados pelo chão e a luz de led que tinha sido deixada pela metade. Ele até poderia chamar a mãe dele para o ajudar a organizar as coisas, mesmo que reclamando, ela faria de bom grado, mas o mero pensamento de alguém mexendo nas coisas dele trazia um sentimento amargo de posse que ele não gostava.

 

Essa tal vida nova mal havia começado e já estava um caos. Ele mal podia imaginar como seriam os próximos dias.
Jisung suspirou cansado, pressionando as mãos nos olhos. Seria bom se tudo desaparecesse por só um minuto.

 

— Ji, posso entrar? — A voz de Hyejin se fez presente. O Han estava tão preso em pensamentos que quase pulou da cama.

 

— Pode sim. Você me assustou… — murmurou.

 

— Como meu esquilo está, hm? — Um fato interessante sobre Han Hyejin era que normalmente sua personalidade era energética e provocativa, não perdia a oportunidade de brincar com alguém, mas em momentos como esse ela reservava todo seu calor e preocupação para quem ela se importava, mesmo que às vezes fosse para as pessoas erradas…

 

— Cansado…

 

A mãe de Jisung nunca foi muito boa em palavras de conforto, mas era ótima em carinhos, então ele não reclamou nenhum pouco quando o quarto ficou em silêncio e ela começou a afagar seus cabelos. Ela provavelmente não tinha ideia do que dizer naquela situação, mas ele não se importava muito com isso, Jisung sabia que ela estava cuidando dele em sua própria forma e não seria falta de palavras que o fariam duvidar disso.

 

— Achei que você gostaria de saber que eu falei com a nossa vizinha hoje. — Hyejin riu levemente quando Jisung gemeu em frustração. O mais novo não podia acreditar na vergonha que ele tinha passado logo no primeiro dia deles lá. — Nós conversamos sobre o que aconteceu e ela pareceu bem surpresa quando eu contei o que você tinha dito.

 

— Ela deve achar que eu sou louco e tentei invadir a casa dela…

 

— Olha, não é exatamente isso…

 

— Viu só?!

 

— Você nem me deixou terminar, Jisung — falou exasperada. — O que aconteceu foi que ela não estava esperando a gente se mudar hoje e ficou preocupada da pancada ter feito você alucinar, então…

 

— Quantas vezes eu vou ter que repetir para vocês que eu não imaginei, alucinei ou que quer que vocês achem, ein? Eu vi alguém lá!

 

Os sinais eram claros, o estresse do dia estava se acumulando no garoto. Era perceptível desde a expressão frustrada até a inquietação dos pés se esfregando. Observar essas pequenas coisas era como ser um geólogo observando um vulcão prestes a entrar em erupção.

 

Já sabendo como aquilo iria parar se continuasse insistindo, Hyejin decidiu que era melhor desviar o assunto. Tudo o que o mais novo precisava agora era de descanso.

 

— Enfim, eu só vim te dizer que a nossa vizinha mandou um saquinho de chá para a dor de cabeça e dois pedaços de torta para te fazer sentir melhor — suspirou cansada.
Aquele havia sido um dia e tanto, os dois tinham que admitir, ou melhor, um dia turbulento de uma semana turbulenta.

 

Tanto a mãe quanto o filho estavam exaustos, eles só queriam viver a vida deles em paz e mesmo assim parecia que o universo não colabora, mandando cada vez mais obstáculos. Talvez estivesse sendo dramático, mas às vezes Jisung achava que eles só teriam um tão merecido descanso quando morressem.

 

O silêncio voltou a reinar no quarto. A pequena família ainda digerindo os acontecimentos dos últimos tempos, especialmente do último dia, para falar qualquer coisa, apenas aproveitando a companhia um do outro.

 

— Eu vou dormir, ainda temos as coisas da mudança para arrumar amanhã, então acho melhor a gente descansar — falou por fim, dando um beijo de despedida e saindo do quarto.

 

Aquilo tudo era tão frustrante.

 

Jisung sabia que deveria estar dormindo. Considerando a situação atual, a melhor coisa que ele poderia fazer era dormir, mas seu cérebro não parecia entender isso, trabalhando e trabalhando, voltando aos mesmos detalhes do dia, se concentrando especialmente na figura misteriosa.

 

  Nada fazia sentido.

 

Todas as pessoas apontavam que ele estava errado, falando que ele estava alucinando ou sonhando, tentavam convencê-lo de que não tinha ninguém naquela casa, mas ele sabia melhor, sabia que tinha alguém lá, só não sabia explicar como.

 

Jisung grunhiu de frustração.

 

Tinha que ter alguma solução, ele não ia aceitar isso tão fácil.

 

Talvez o Han devesse se distrair, procurar alguma coisa no celular para assistir e ver se conseguia pegar no sono…

 

O celular!

 

Uma ideia, talvez não tão boa, surgiu. Uma hora ou outra alguém ia abrir aquela janela, então se alguma alguma coisa estivesse gravando ia capturar a imagem de quem quer que fosse.

 

No melhor dos casos a verdade seria revelada e no pior ele capturaria alguma cena constrangedora que se arrependeria de ver.

 

Fosse o que fosse, pelo menos ele conseguiria dormir essa noite

 

Notes:

Oioi, espero que tenham gostado do capítulo de hoje! Vou estar tentando atualizar os capítulos frequentemente para quem está ansioso para essa história

 

Comentários, lidos e interações são muito bem-vindos!

 

Até o próximo capítulo!

Chapter 3: Capítulo 2

Chapter Text

Já era tarde da noite, as ruas estavam desertas. Naquela cidade pequena a maioria das pessoas estavam em sono profundo, então talvez para os desavisados que passeavam pela madrugada a tão misteriosa casa atraísse alguma atenção.

A casa azul e desbotada da tão conhecida e amada senhora Hwang causava burburinhos naquela pequena cidade. Luzes que se acendiam quando a casa estava vazia, barulhos de passos e até mesmo sombras nas janelas durante a calada da noite traziam um mistério que muitos céticos desacreditavam.

O acidente de mais cedo só foi mais uma faísca para os fofoqueiros e supersticiosos falarem sobre como aquela casa era assombrada, enquanto os mais céticos insistiam que aquilo não passava de uma coincidência e muita imaginação.

Seja o que fosse, ali, naquela casa azul, nada disso importava, afinal, não importava o quanto as pessoas falassem e comentassem nada disso atravessaria a soleira da porta. Em um único momento de liberdade, um ser protegido pelas sombras da noite surgia sem se importar com seus arredores, sabendo muito bem que a escuridão o protegeria.

Ninguém o veria, ninguém se importaria. Uma alma fadada a ser esquecida.

O que talvez esse alguém não esperasse, fosse um adolescente insistente e curioso demais para seu próprio bem quisesse ver o que todo mundo não via.

「❀」

Jisung raramente tinha sonhos e talvez fosse melhor assim, afinal não ter sonhos era melhor do que ter uma noite como essa em que ele acordava suado e ofegante de uma memória vívida que mais parecia um pesadelo.

Mesmo quando acordava o pesadelo não ia embora, várias memórias de situações que ele estava cansado de reviver vinham como uma enxurrada, não dando descanso para a mente cansada e já frágil de tudo aquilo.

Quando acordava assim a única coisa que o acalmava era abraçar Nico, o ursinho que replicava um teddy dwerg, e ficar se balançando até as memórias irem embora. De longe, aquele coelho de pelúcia era o seu favorito, mesmo que ele se recusasse em falar isso em voz alta para não magoar as outras pelúcias. Era só que o pelo, o formato e tudo em Nico era tão realista que Jisung não podia deixar de lembrar bons momentos.

Sem ter noção de quanto tempo tinha se passado, o Han não pode deixar de agradecer a pelúcia por finalmente deixar de respirar como um pug depois de uma corrida. Levou ainda mais um tempo para ele conseguir se situar e perceber onde e quando estava.

O Han suspirou fundo e num súbito pico de agonia e energia começou a arrancar a roupa suada jogando-a para o outro lado do quarto (o que não era muito inteligente visto que o quarto ainda estava uma bagunça por si só, mas isso era um problema para o Jisung de mais tarde, o de agora tinha outras preocupações).

Um cheiro delicioso do bolo favorito de Jisung (o único que Hyejin era capaz de fazer, ela nunca foi muito boa na cozinha) sendo assado dominou a sala. Apenas aquele cheiro tinha o poder de relaxar o corpo todo dele, então ele não pensou muito antes de descer correndo as escadas em direção à cozinha.

- Jisung, quantas vezes eu vou ter que te falar para usar roupas quando não estiver no seu quarto?

Foi a primeira coisa que o mais novo ouviu quando desceu aos tropeços para a cozinha. Hyejin estava com os cabelos castanhos presos em um coque meio desfeito lavando a bagunça que estava na pia com uma careta.

Jisung podia não ser muito bom com expressões, mas conhecia muito bem a mãe para saber o quanto ela odiava lavar a louça.

- Isso é bolo de prestígio no forno? - o Han ignorou totalmente o que a mulher disse, se voltando com interesse ao fogão. Mesmo que ele não pudesse ver, Hyejin revirou os olhos acostumada aos maneirismos do filho.

- Sim, mas não é para você, então tira o olho.

Só aí que Jisung conseguiu desviar o olhar do doce. Aquilo era definitivamente estranho. Para quem uma mulher solteira que tinha acabado de se mudar faria um bolo se não fosse para o seu único filho.

Hyejin deve ter notado a expressão confusa do Han porque logo abandonou o que estava fazendo (o que não deve ter sido muito difícil visto o amor que ela tinha pela louça) para encará-lo.

- Eu estou fazendo isso para a nossa vizinha, ela foi tão gentil depois do que aconteceu e eu quero manter uma boa relação entre nós. - Jisung não pode deixar de ficar feliz pela mãe, ela sempre foi uma pessoa sociável, mesmo que ele nunca tenha tido a oportunidade de presenciar isso, então era bom ver ela se libertando finalmente dessas amarras e buscando fazer novas amizades. - Você quer levar comigo?

O Han mais novo nem tinha percebido que estava perdido em pensamentos até ser arrancado de lá por uma ideia interessante.

- Quero! - A súbita animação causou um estranhamento, mas nada que ele não pudesse disfarçar - Só se você guardar um pedaço para mim.

- Eu posso pensar no seu caso se você colocar logo uma roupa para encontrar ela antes de sair para trabalhar.

Jisung não pensou muito antes de correr escada acima. Aquela era uma chance de ouro que ele não podia se dar ao luxo de perder. Talvez seu orgulho e teimosia estivessem falando mais alto, insistindo num mistério de algo que aconteceu em segundos, mas Jisung se conhecia suficientemente bem para saber que não conseguiria descansar em paz até ter uma resposta.

Numa mistura de pressa e euforia o Han quase deixou passar algo importante e se não fosse as roupas jogadas pelo quarto ele não teria visto o celular.

Ali poderia estar salvo alguma pista que pudesse comprovar ou dar uma direção para resolver essa situação.

A animação era tanta que ele mal se lembrava o porquê de toda aquela pressa.

Quase.

- Jisung, se você não vier logo eu vou sem você! Eu ainda tenho que trabalhar!

A voz de Hyejin pareceu criar um conflito que precisava de uma solução rápida.

Sem pensar muito, o celular foi posto de volta ao batente da janela. Talvez ele não conseguisse outra oportunidade de entrar naquela casa, mas podia muito bem olhar o celular depois.

「❀」

O ar gélido da manhã fazia as mãos de Jisung tremer, quase o fazendo derrubar o bolo algumas vezes a caminho da casa vizinha. O olhar de reprovação de Hyejin era o suficiente para ele saber que ela estava se arrependendo da decisão.

O Han mais novo não podia fazer nada além de dar de ombros, aquela era uma oportunidade única, ele tinha que seguir o plano.

A mulher deu duas leves batidas na porta e não demorou muito até que a porta fosse aberta.

No momento em que Jisung viu a tal da Sra.Hwang ele estava certo de que não tinha sido ela quem o derrubara da árvore. Ela era uma mulher de meia-idade de cabelos loiros com alguns fios brancos presos num coque, seu corpo era magro, baixo e levemente enrugado pela idade, a roupa dela combinava com o uniforme da própria mãe de Jisung, ela provavelmente também era enfermeira e estava prestes a sair de casa.

O olhar de surpresa da mulher foi rápido como um lampejo, o sorriso que ela abriu era doce e convidativo. Jisung tentou disfarçar seu olhar analítico espelhando o sorriso.

- Bom dia! - Hyejin falou dando um passo à frente. - Espero que não estejamos atrapalhando.

- Jamais, estou feliz em vê-los - A voz dela era aguda de uma forma que causava pontadas no ouvido do jovem, mas pelo menos o tom convidativo amenizava.

- Nós trouxemos esse bolo para você e-

- A gente pode entrar? - Jisung interrompeu já dando alguns passos a frente. Ele podia sentir o olhar de sua mãe queimando em suas costas, mas naquele momento isso não importava, o que importava era se ele conseguiria entrar ou não.

Um silêncio perdurou por um minuto inteiro, Sra.Hwang os encarava com um olhar totalmente em branco que Jisung não conseguia identificar o que era.

- Claro que sim - O Han mal conseguiu disfarçar o suspiro de alívio, uma nova determinação o enchendo. -, só não podemos demorar, tenho que ir ao trabalho.

A estrutura da casa da mulher era parecida com a dos Han, mas a diferença entre elas era gritante. Enquanto a de deles era uma bagunça desconexa, a dela era muito mais organizada e limpa, como se tivesse saído de um comercial de limpeza que em anos não via um grão de pó.

- Podem se sentar na bancada, vou pegar alguns pratos para comermos o bolo.

Tanto mãe quanto filho caminharam desajeitados e hesitantes em direção a bancada indicada. Jisung lentamente depositou o bolo em cima do balcão para se sentar, tentando absorver cada detalhe da casa tanto quanto possível.

O silêncio era a prova de quão mal Jisung tinha se preparado e em como ele tinha metido sua mãe tão desajeitada quanto ele em uma situação mais ainda.

- Você mora há muito tempo aqui? - O Han mais novo falou a primeira coisa que veio a cabeça, observando cada passo da mulher mais velha.

- Sendo honesta - falou contemplativa -, praticamente minha vida toda. Conheço cada canto dessa cidade e cada habitantes aqui.

- Você é enfermeira, não é? - Hyejin perguntou parecendo um pouco confusa com a sentença anterior. - Não lembro de ter visto faculdades de medicina por aqui, a escola por exemplo é especializada em música.

- Sim, isso é verdade - concordou cortando três pedaços de bolo. - Não tem qualquer faculdade por aqui, mas na cidade vizinha tem, foi lá que eu me graduei e comecei minha pós.

Até mesmo Jisung que não era muito bom com tons de voz conseguiu reconhecer o claro orgulho que a mulher sentia de sua carreira.

- Eu estava planejando fazer pós também, mas tive alguns imprevistos. - Jisung sabia muito bem quais eram os imprevisto que Hyejin falava. O comentário trouxe um gosto amargo.

- Eu também. - Sra.Hwang concordou. O silêncio recaiu novamente, só que dessa vez mais pesado. Cada um preso em seus próprios pensamentos e memórias. Chegava a ser sufocante.

- Mas e você, Jisung? O que planeja cursar? - A mulher mais velha parecia uma nova pessoa de apenas alguns segundos atrás, perguntando animada enquanto provava o bolo.

- Eu penso em cursar música. - O jovem esperava qualquer coisa vindo de uma pessoa mais velha quando comentava de seus planos, desdenha, reprovação, descaso ou qualquer outro sinônimo, mas o que ele não esperava era um sorriso animado e encorajador.

- Isso é ótimo! Muitos se mudam para estudar na nossa escola, ela é bem focada em música, então acho que você vai gostar!

A culpa começou a remoer Jisung, a mulher não era nada além de gentil e cá estava ele, usando ela e se aproveitando de sua história para sanar uma curiosidade infantil.

- Posso ir ao banheiro?

As mulheres pareceram surpresas com a rápida mudança de assunto, mas ele tinha que fazer o que veio para fazer ou desistiria, e com esse remorso Jisung preferia não morrer.

- Segundo andar, primeira porta a direita.

Algo na atmosfera pareceu mudar no cômodo, mas o Han não ficou tempo o suficiente para se dar ao trabalho de identificar o quê.

Sem demorar muito, Jisung olhou para as portas do corredor e tentou identificar qual era a que ficava de frente para seu quarto, se apressando logo que conseguiu.

O Han tentou abrir a porta, o que parecia estar dando certo nos primeiro segundos, mas uma força o contráriou. Confuso pela situação suspeita, ele forçou a porta ainda mais criando uma guerra contra quem quer que estivesse tentando fecha-la.

- Querido?

A respiração de Jisung engatou, ele não podia acreditar que tinha sido pego. Estando tão distraído em abrir a porta, mal percebeu o som de passos se aproximando. Pensa rápido.

- Desculpa, eu... eu estava tentando entrar no banheiro, mas a porta não abre.

- É a porta errada, meu bem. - Ela se aproximou abrindo facilmente a primeira porta do corredor. - Aqui.

- Obrigado, mas eu... eu acho melhor ir para casa, você e minha tem muito trabalho para fazer. - Sem esperar resposta, se virou descendo as escadas.

- Se você diz.

                            「❀」

Seu plano podia não ter dado tão certo quanto esperado, mas pelo menos agora ele tinha a certeza de que existia sim um mistério naquela casa.

Jisung nunca foi uma pessoa que acreditasse muito no paranormal, mas em situações como aquela ele não podia deixar de considerar a presença de alguma assombração.

Hyejin e a Hwang tinham ido juntas ao trabalho, o que deixou o jovem sozinho com seus pensamentos para analisar a situação.

Ele tinha considerado várias coisas, até mesmo invadir a casa, mas logo descartou sabendo que o que quer que estivesse atrás da porta não o deixaria entrar tão facilmente, além de ser totalmente suspeito.

O que restava agora era o celular, a chave que ele precisava, a prova para finalmente acreditarem nele.

Uma centelha de esperança queimava como carvão em brasa no peito de Jisung, que logo foi apagada com um balde de água fria.

O celular está descarregado.