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Pretty When You Cry — JayVik

Summary:

Onde Jayce era emotivo, com uma peculiaridade curiosa que o havia feito passar por poucas e boas com seus parceiros de cama: as lágrimas vinham fácil, bastava uma emoção muito intensa para o seu corpo externalizar através de lágrimas, e nisso estavam inclusos principalmente os momentos íntimos. Ninguém nunca soubera lidar, levando a uma série de encontros constrangedores e inúmeros possíveis relacionamentos fracassados. Já frustrado com as incontáveis tentativas mal-sucedidas de encontrar alguém que não se espantasse com o fato dele literalmente chorar de prazer, Jayce simplesmente parou de tentar, se fechou por completo na vida amorosa, tudo isso para evitar a fadiga de lidar com mais uma ocasião que se sentiria um completo desajustado quando a noite acabasse.

Ou

Onde Viktor se vê obrigado a dormir no apartamento de Jayce para se proteger de uma tempestade após meses lentamente construindo um relacionamento. O momento se desdobra com a primeira noite de envolvimento físico dos dois, e também na inevitável descoberta que Jayce tanto temia.

Ou ainda

Onde tal temido evento se transforma numa deliciosa reviravolta impremeditada, porém, definitivamente longe de ser indesejada.

Notes:

Chapter 1: Capítulo Um

Chapter Text

Jayce Talis era o tipo de homem o qual podia se atribuir uma infinidade de adjetivos.

Caso questionado a qualquer cidadão de Piltover, era quase certo escutar direto da boca do povo algo na linha do “gênio”, “visionário”, “engenhoso”, entre tantos outros.

Embora estivessem longe de equivocados a respeito daquelas afirmações, havia características em especial que somente os mais íntimos tinham o luxo de presenciar.

Jayce Talis era expressivo. Intenso. Completa e visceralmente emotivo.

Abraçava as próprias emoções como quem abraçava um amigo querido. Utilizava-as estampadas em seu rosto para quem quisesse ver, e até mesmo para quem não quisesse. Tinha dificuldade em esconder o que quer que estivesse pensando, pois suas expressões o entregavam.

Ele era expansivo demais, sentia demais. Sua risada e alegria eram do tipo que contagiava o ambiente e se manifestava nas pessoas ao seu redor sem que elas ao menos percebessem. Quando se sentia irado, o seu sangue borbulhava e subia à cabeça, tomando o controle de seu cérebro como um vírus letal. Sua tristeza? Era tão devastadora quanto um vendaval, saía arrastando e derrubando tudo que estivesse no caminho.

Não seria exagero afirmar que era um homem de extremos. Extremamente dedicado, extremamente leal, extremamente apaixonado por tudo o que fazia, 8 ou 80, tudo ou nada.

Por último, mas não menos importante, havia uma particularidade curiosa sobre a sua pessoa. As lágrimas vinham fácil. Bastava uma emoção muito intensa para o seu corpo se pôr a chorar. Era como se o sentimento fosse tão grandioso que não cabia no peito e o corpo sentia a necessidade de externalizar, e então brotava o pranto no canto dos olhos, descendo pelo rosto, pinicando e ardendo nos seus canais lacrimais.

Era assim desde criança. Se acabava em lágrimas nos concertos de música clássica que a sua mãe adorava levá-lo junto quando era pequeno e uma melodia agradava e muito os seus ouvidos, dava pulinhos e chorava de alegria e alívio quando algo que desejava com todo o seu ser dava certo, um beicinho triste despontava em seus lábios trêmulos toda vez que acabava brigando com alguém, e o choro lavava a sua alma junto com a raiva. Carregava um coração grande num corpo maior ainda, sem filtros, e ainda que fosse uma característica apreciada por muitos e que o tornava querido por aqueles a quem amava, havia uma situação particularmente pontual que tudo o que desejava era um pouquinho menos de intensidade, que praguejava aos quatro ventos por não ser abençoado com o mínimo de estoicismo, onde desatava um tipo de choro que ele odiava explicar.

No sexo.

Seu corpo era hipersensível, o que chegava a ser ridículo e adorável em medidas proporcionais. Se arrepiava com qualquer coisinha, bastava um beijo mais demorado no pescoço para tremer dos pés à cabeça, um aperto firme nos lugares certos arrancava os suspiros mais sôfregos de seus lábios. Essa parte? Os seus parceiros adoravam. Era perceptível, os sorrisos de canto e olhos escuros de desejo os delatava.

Até chegar a parte onde Jayce se entregava por inteiro e sentia tanto, mas tanto prazer que lágrimas trilhavam um caminho por suas bochechas, silenciosas e sorrateiras, cintilando como diamantes sob o luar, e soluços reverberavam em sua garganta. Não de dor, não de desconforto, e sim de prazer explícito, condensado e em sua forma mais crua possível.

Toda mísera vez que aquilo acontecia, era certo os minutos, horas, dias, semanas seguintes serem uma bola de neve de acontecimentos embaraçosos. Ninguém nunca soubera lidar.

Ele entendia os olhares preocupados, as perguntas sobre o seu bem estar, pois era a reação que qualquer um com o mínimo de bom senso e humanidade teria ao ver a pessoa com que estava transando se debulhar em lágrimas. O problema surgia quando as suas explicações e tentativas de assegurar que estava tudo bem não eram o suficiente, quando os olhares desconfiados e carregados de pena persistiam.

Na sua primeira vez, quando perdeu a virgindade com a primeira namorada, a menina havia ficado quieta e paralisada, branca como papel, e terminou o relacionamento poucos dias depois, com a justificativa de não conseguir lidar com aquilo. Por mais chateado e de coração partido que tivesse ficado, Talis estendeu.

Na universidade, achou que as pessoas tivessem a mente mais aberta e maturidade para conversar sobre as suas expectativas e vontades sinceras quanto à sexualidade, mas tudo o que tivera fora uma decepção atrás da outra.

Perdera a conta de quantos encontros casuais haviam sido um fiasco, com pessoas achando que ele estava com dor, mostrando-se desconfortáveis com o seu pranto e imediatamente ficando como o sertão em período de seca ou brochando. Fora outros casos, como os que saíam correndo de sua cama e não olhando para trás, em pânico. Outras vezes achava que estaria tudo bem, pois ficavam até o final, mas era evitado pessoalmente, as mensagens convidando para um segundo encontro nunca vinham, ou era bloqueado até pelos parentes distantes do dito cujo com quem se relacionava.

Mas o caso mais inacreditável que tivera, tão trágico que chegava a ser cômico, foi o de um rapaz que havia saído e dissera na sua cara, de boca cheia, que ele precisava de terapia.

Já frustrado com as incontáveis tentativas mal-sucedidas de encontrar alguém que o entendesse e não se espantasse com o fato de Jayce literalmente chorar de prazer, que não o evitasse depois como se ele carregasse a peste negra no corpo, ele simplesmente parou de tentar. Se fechou por completo, não procurando ativamente por ninguém, evitando ao máximo flertar e se fazendo de desentendido quando percebia alguém interessado por si, tudo isso para evitar a fadiga de lidar com mais uma ocasião que se sentiria um completo esquisito e desajustado quando a noite acabasse.

Até vir Viktor e fazer aquele plano ir por água abaixo.

Viktor, com seu sotaque carregado e voz rouca, língua afiada, mente extraordinária, humor ácido, sarcasmo incomparável, determinação feroz, presença inquietante, corpo esguio e magricelo, além de um par de olhos felinos e dourados que parecia vasculhar e estudar as profundezas de sua alma somente com um olhar de relance.

Alguém que o compreendia como ninguém, em todas as suas nuances, e o via por inteiro, de verdade, além da beleza, antes mesmo de se tornar o primeiro rosto a ser pintado no imaginário das pessoas quando Piltover era mencionada. Ele acompanhava o seu raciocínio como ninguém, finalizava as suas frases sem que precisasse pronunciá-las em voz alta, acolhia as suas emoções intensas e necessidade de contato físico, mesmo sendo reservado e com aquela impressão — errônea — de inacessível e frieza que o rodeava. O tipo de pessoa que ria de suas piadas tenebrosas de ruins, e contava uma ainda pior em resposta. 

Não era preciso dizer que Jayce se apaixonou, perdida e irremediavelmente.

E, para o seu absoluto desespero — ou resoluta felicidade —, era recíproco. Levaram semanas, meses, inferno, anos, para fazerem algo a respeito, como os dois idiotas que eram, dançando em volta do problema, construindo aquela tensão gostosa e alimentando com combustível o sentimento caloroso que os tomava quando estavam juntos, mas estava acontecendo. Os toques deliberadamente prolongados, olhares demorados, sorrisos reservados somente para o outro, beijos roubados em meio a conversas, trocados em silêncio, na privacidade no laboratório, eram a prova viva do relacionamento lindo e especial que desenvolviam.

Jayce tinha a ciência dolorosa de que não poderia adiar o inevitável para sempre, mas quis mesmo assim, desejou desesperadamente poder fazê-lo. Porque não queria perder Viktor, não quando ele já não mais significava só alguém passageiro em sua vida, só um mero parceiro de laboratório, e sim alguém querido, que ansiava e amava com toda a sinceridade e com cada partícula em seu ser que era capaz de amar. Porque não queria estragar tudo.

Entretanto, ele não esperava que o “inevitável” fosse chegar tão cedo.

Mas, acima de tudo, não esperava que tal evento tão temido talvez pudesse se desdobrar numa deliciosa reviravolta impremeditada, porém, definitivamente, longe de ser indesejada.

{......}

Era cerca de 08:30 PM quando aconteceu. Ambos os homens estavam se preparando para se dirigirem às suas respectivas residências, mesmo com o clima que estava começando a ficar feio do lado de fora. Nuvens cinzentas e negras, densas e carregadas de gotas pesadas de água, o céu pronto para desabar num temporal a qualquer instante. Trovões ressoavam a quilômetros dali, estrondosos e fazendo as paredes do laboratório estremecerem, fora os raios que iluminavam o ambiente em clarões súbitos, furiosos.

O piltovense lançava olhares de relance para a paisagem, ora desviando-os para a figura franzina de Viktor, que organizava os próprios pertences com a tranquilidade de alguém num dia de primavera em vez de um indivíduo prestes a enfrentar as ruas sinuosas e o saneamento duvidoso de Zaun.

— Você tem certeza que vai atravessar a ponte com um clima desses? — Jayce questionou assim, como quem não queria nada, quase soando despretensioso. Quase. A centelha de preocupação genuína em seu timbre era inconfundível.

Viktor devolveu um murmúrio preguiçoso em resposta, as órbitas cansadas se voltando para o céu nublado, a mão acenando em um gesto apaziguador, como quem dispensava o temor alheio.

— Não se preocupe, Jayce. É só uma tempestade, já enfrentei coisas piores antes.

A réplica de Jayce foi um risinho incrédulo, e o zaunita pôde jurar que viu um dos olhos do parceiro piscando.

— Você está pedindo para eu não me preocupar? Eu? — enfatizou o pronome, emitindo uma série de estalos reprovadores com a boca, o dedo indicador se movendo para um lado e para o outro em uma negativa — Não, não dá ‘pra deixar você andar por aí assim, Vik. Já já vai começar a cair um pé d’água.

Viktor apenas ergueu as sobrancelhas, curioso, com uma mirada que mal escondia o cansaço acumulado e impregnado em cada átomo de seu corpo, externalizado pelas bolsas roxas e profundas embaixo dos olhos.

— E o que você sugere, gênio? Que eu desça nadando até Zaun? — Seu tom soou seco, melódico, quase maldoso aos ouvidos de outrem. No entanto, Jayce sabia se tratar apenas do senso de humor do homem por quem estava apaixonado.

Por isso, ele não pôde evitar uma risadinha mal contida e um bufar divertido, revirando os olhos.

— Meu apartamento não fica muito longe daqui. Você pode passar a noite lá em casa, eu não me importo. — propôs com um quê de timidez, coçando a nuca distraidamente. — É melhor do que você sair por aí naquelas ruas escorregadias, com uma correnteza daquelas. Pode ser perigoso, já pensou se acontece alguma merda com você e eu não ‘tô lá ‘pra ajudar?

O homem mais velho o estudou com aquelas irises douradas e intensas, sustentando contato visual, uma curva despontando no canto dos lábios. Divertimento.

— Não há motivo para tanto drama. Não seria a primeira tempestade da minha vida.

— Poderia ser a última.

O cientista não conseguiu conter o riso, o som saindo abafado por trás da palma da mão.

— Perdão? — ergueu uma sobrancelha. — Estou começando a achar que você está tentando me matar ou jogar uma praga em cima de mim, Jayce. — provocou, tirando uma com a cara do outro, pelo simples prazer de vê-lo se embolar nas próprias palavras.

— Estou tentando evitar que você se mate. — Talis rebateu de imediato, mais envergonhado e teimoso do que de fato ofendido.

— Ou talvez só queira muito me levar ‘pra o seu apartamento. — a sugestão implícita de um flerte em suas palavras fez as bochechas alheias esquentarem como uma fornalha.

Jayce revirou os olhos de novo, exasperado, uma inalada engatando na garganta. Ele não sabia se ficava envergonhado pela maneira como aquele homem lhe desestabilizava ou irritado pela teimosia infinita. Talvez os dois.

— Muito bem, eu quero levar você ‘pro meu apartamento. — por fim, rendeu-se e decidiu jogar do jeito que Viktor queria — Satisfeito?

— Muito. — Futucou a própria bolsa, tirando de lá do fundo o casaco que deixava ali para aquele tipo de emergência, vestindo-o às pressas ao ouvir o céu ceder e as gotas de chuva caírem no concreto da rua, ruidosas e audivelmente grossas — Acho melhor irmos agora e apertarmos o passo. Quanto antes nos protegermos dessa tempestade, melhor.

Um trovão reverberou, fazendo o vidro das janelas do recinto tremer. Sobressaltado pelo rugido repentino, Talis prontamente concordou, e ambos seguiram porta afora.

O apartamento de Jayce de fato era perto, todavia, o chão úmido do caminho os forçava a pisar fundo, e quando chegaram, as pernas de Viktor doíam, a bengala escorregava da mão já vermelha e marcada pelo atrito excessivo, e ambos pareciam dois pintos molhados. Estavam encharcados, as roupas grudando na pele, gotas de chuva grossa salpicadas por todos os lugares possíveis, escorrendo pelos cabelos e pingando no chão, deixando o tapete do lado de fora um desastre enlameado.

Jayce abriu a porta e entrou, já procurando o interruptor da luz do hall de entrada, ao mesmo tempo tirando os sapatos e meias encharcados dos pés, deixando no canto da parede. Apontou para um varal improvisado a poucos passos da porta, um hábito que adquirira com a mãe desde que era criança, pois o usavam muito sempre que chegava aquela temporada de chuvas constantes na cidade.

— Vamos tirar as roupas molhadas e pendurar aqui mesmo. Se nós entrarmos assim, eu vou ter que tirar a água debaixo dos móveis pelo resto da semana.

Antes mesmo do zaunita formular alguma resposta, Talis já estava tirando a gravata, desabotoando o colete e a camisa social com a rapidez de alguém que tinha feito isso a vida inteira, e de fato tinha. O cientista não protestou, apenas deixou a bengala encostada no canto da parede e repetiu o ato, com as mãos e a mandíbula tremendo de frio.

O piltovense retirou as calças com um movimento desajeitado, tropeçando nas próprias pernas e andando até o varal para pendurar as roupas molhadas.

— Está com fome, Viktor? Sei que nós já jantamos, mas posso preparar alguma coisa ‘pra você comer, se quiser.

Virou-se para encarar o cientista, dando de cara com o dorso esguio e estreito desnudo. Admirou os ombros largos, as escápulas se movendo, as vértebras visíveis e proeminentes da coluna sob a pele pálida, as pintinhas que pintavam vários pontos do corpo alheio. Quase suspirou de paixão, achando cada centímetro de Viktor uma obra-prima.

— Não, Jayce, obrigado. Não estou com fome.

Ele ia murmurar algo em resposta, porém, as sentenças murcharam em suas cordas vocais ao vê-lo ficar de frente para si, a parte frontal do tronco agora totalmente exposta, as mãos trabalhando em remover o cinto das calças. Os olhos de Jayce se fixaram no peitoral magro do homem, inevitavelmente fitando as cicatrizes ali presentes. Antigas, desbotadas, perfeitas demais para serem acidentais. Não demorou para somar 2+2, sobretudo quando o conceito de transgeneridade era amplamente conhecido onde residia.

Seu olhar não era de choque, muito menos aversão ou decepção. Mais uma descoberta, como quem enxergava uma percepção até então desconhecida. Viktor, sempre atento e perceptivo aos detalhes, estava ciente do seu escrutínio.

— Isso o incomoda, Jayce?

A sua voz era serena, tão suave e controlada como de costume, mas havia a fagulha de algo mais refletindo em suas pupilas. Expectativa, incerteza, insegurança. Uma resignação silenciosa, como quem estava preparado para todo tipo de resposta.

Jayce deu um pulo no lugar, sobressaltado pela pergunta repentina rompendo o silêncio, o coração dando um pinote na caixa torácica. Ao se recuperar do susto, aproximou-se, firmando as palmas de suas mãos quentes nos braços frios e pegajosos pela chuva do inventor.

— Não… não, de jeito nenhum. Só fiquei um pouco surpreso, só isso. Você não precisa se preocupar, eu ainda me sinto atraído por você. Ainda te amo.

Ele mal se deu conta da confissão que escorregou de sua boca, suave, fluida como a chuva torrencial despencando lá fora, saindo com a mesma facilidade com que era respirar. Ao processar aquelas três palavras que acabara de pronunciar, já era tarde demais. Já havia falado, Viktor já o encarava com olhos arregalados e lábios entreabertos pelo choque.

— …Então você me ama, é? — o zaunita sorriu de canto, belo, presunçoso.

Ficou enrubescido, o rosto queimando tal qual as forjas com as quais tinha o costume de trabalhar, envergonhado. Gaguejou, balbuciou sílabas sem sentido, os dedos brincando nervosamente, descontando a tensão súbita que o invadira.

— E-Eu… foi sem querer, eu não pretendia dizer isso ainda, sei que é muito cedo. — justificou-se com uma desculpa meia boca, desejando cavar um buraco no chão e se enterrar, como um avestruz — Mas sim, Viktor. Eu… te amo.

A expressão beirando o deboche do cientista desfez-se, suavizando, um sorriso preguiçoso e terno brincando na boca, os olhos dourados ardendo com um brilho raro, que Jayce só via em ocasiões muito especiais. Era como uma criança que ganhara uma guloseima, genuíno e puro.

Viktor pegou a sua bengala outra vez, caminhando até o rapaz mais novo, embalando a mandíbula forte com os dedos longos e finos, acariciando com tanta gentileza que mais parecia estar tocando porcelana. Seus lábios rachados encontraram a maciez da boca bem desenhada e cheia de Jayce, se demorando num selinho saturado de ternura.

— Você é a pessoa mais doce e adorável que eu já conheci, sabia? — murmurou baixinho, apreciando os olhos grandes e brilhantes de seu amado, os contornos da boca ofegante, as sobrancelhas relaxadas numa expressão serena, as bochechas salpicadas de um vermelho vivo — Eu também amo você, Jayce. Muito.

Talis quase se engasgou com a própria saliva ao passo que Viktor se equilibrou e ficou na ponta dos pés, depositando um beijinho afetuoso no topo de sua cabeça. Abriu um sorriso de orelha a orelha, bobo e sincero, os olhos marejados pela onda de emoções que lhe invadia o peito. Devolveu o beijo, tanto na boca como na testa, tocando delicadamente o suporte de perna do parceiro.

— Você quer ajuda ‘pra desparafusar?

Em outra ocasião, em outro dia, o zaunita teria recusado, mas a verdade é que estava exausto, física e mentalmente, e aquele momento íntimo e caloroso entre os dois estava tão agradável que não conseguiu recusar.

— Sim, por favor. Eu agradeço.

Jayce assentiu, se voltando para a bolsa que carregava para o laboratório, procurando a chave de fenda reservada especificamente para aquele fim.

— Tem um banquinho aqui perto do varal. Você consegue tomar banho em pé, Vik? — pegou a ferramenta, arrastando o banco de madeira para perto de onde o outro estava — Caso tenha dificuldade, pode levar ele ‘pro banheiro ‘pra tomar banho sentado.

— Meu equilíbrio se torna deplorável e a minha perna fica dormente e dolorida depois de alguns minutos, prefiro tomar banho sentado ‘pra evitar acidentes. — embora não tenha dito com todas as letras, estava aceitando a oferta de levar o assento para debaixo do chuveiro.

— Hm. — anuiu, se agachando diante dele, soltando os parafusos com mãos hábeis e diligentes, guardando-os com cuidado e auxiliando na retirada das calças encharcadas e cheias de terra salpicada na bainha dos tornozelos.

Enquanto puxava o tecido para fora das pernas de Viktor, o cientista tremia. Não de frio, mas sim de nervosismo e um desejo irrefreável. Tentou olhar para longe, pensar em outra coisa, contudo, de nada adiantou. O homem que era seu sonho de consumo ainda estava ali, seminu em sua frente, todo exposto e vulnerável, com as pernas abertas, dolorosamente próximo, a meros centímetros de distância. Caso estendesse os dedos, poderia tocá-lo. Ele era simplesmente irresistível.

Estava ligeiramente ofegante, mordendo os lábios, corado até às orelhas. Pior do que isso, estava excitado, o desejo pulsando por baixo das artérias, borbulhando sob a tez bronzeada, circulando em suas veias. Apertou as coxas discretamente, tentando suprimir o próprio tesão, o que só serviu para lhe oferecer atrito e lhe fazer suspirar e gemer baixinho.

— Você está vermelho. — Viktor comentou, inócuo, ou quase isso, uma antítese com o brilho provocador em suas irises. Elas se voltaram para baixo, bem onde estava o volume bem marcado e indiscreto na cueca do piltovense — E duro.

Jayce manteve as pupilas fixas no chão, incapaz de fitá-lo nos olhos, um lamuriado lhe deixando os lábios, vergonha nítida em suas feições. Não percebeu que estava fazendo beicinho, nem que o inventor estava achando adorável.

— Desculpa, eu não queria. É só… você ‘tá aqui, quase pelado na minha frente, e eu quero você há tanto tempo, você é tão lindo… não consegui evitar.

— Ei. — envolveu o queixo alheio com gentileza, a voz mais suave, desprovida do tom sardônico de antes — Está tudo bem, não estou bravo. E…

Viktor abriu um pouco mais as pernas, revelando uma mancha úmida em sua cueca, mais escura que o resto do tecido, indicando ser mais recente, molhada não só pela chuva de antes. Trouxe os dedos grossos do mais novo até ali, incentivando-o a resvalar aquela região e sentir a sensação viscosa impregnada na roupa, a prova da própria excitação.

— Eu não estou numa situação muito diferente da sua.

Talis quase parou de respirar ali mesmo, outro gemido suave deixando os lábios, um suspiro lânguido varrendo os seus pulmões.

— Você acabou de mencionar tomar banho, não é, Jayce? Podemos tomar banho juntos. Economizaria água, tempo, e eu poderia… lhe ajudar com isso. — encarou a ereção coberta unicamente pela cueca preta do mais novo, então olhou os olhos castanhos novamente, seu polegar brincando com aquele lábio inferior avermelhado e macio. — Se você quiser fazer alguma coisa sexual hoje. O que me diz?

Ele beijou o polegar de Viktor num toque reverente, e por mais intrínseco de carinho que fosse, pareceu incrivelmente sedutor aos olhos do amado, que arfou, ficando com a garganta seca, o rosto pálido tingido de um rosa adorável.

— Sim. Por favor. — respondeu num tom quieto, suplicante.

O zaunita sorriu, sentindo algo se revirar da maneira mais deliciosa possível em seu ventre. A percepção inata de que adorava quando ele agia daquela maneira, adorável, manhoso, necessitado, submisso. Estendeu a mão para ele, se erguendo com o auxílio da bengala.

— Então vamos.

{......}

Já no banheiro, ao menos no início, de fato foi só tomar banho. Livrar-se dos resquícios de terra, poeira, graxa e suor na pele, e também aquecer-se do frio cortante da tempestade, pois Talis havia deixado a água quente, do jeito que sabia que Viktor preferia para aliviar as dores musculares, um aprendizado oriundo das incontáveis compressas que já fizera para ele nos anos de parceria.

Estava atrás dele, enquanto o zaunita se encontrava sentado no banco de madeira que colocou no banheiro, lavando a parte frontal do corpo sozinho enquanto Jayce se ensaboava e se enxaguava atrás, ocasionalmente respingando sabonete ou água no outro.

Quando estava quase terminando, esperando só Viktor terminar para lavar as partes íntimas e as costas apropriadamente, ofereceu-se:

— Posso lavar as suas costas e o seu cabelo, Vik?

— Claro. Obrigado.

— Não precisa. — sorriu, abaixando-se, sussurrando pertinho da orelha dele. — Eu só quero cuidar de você.

O homem mais velho mordeu o lábio e fechou os olhos, arrepiado. Entretanto, a excitação oscilou no instante em que as mãos grandes e mornas de Jayce espalharam o shampoo em seus cabelos, lhe derretendo por inteiro. Ele era gentil, lavando seu couro cabeludo com um cuidado que mais parecia uma massagem, arrancando um suspiro contente.

— Isso é tão bom. — confessou com um sorriso — Você é bom demais ‘pra mim, meu bem.

“Meu bem”. O piltovense se sentiu como manteiga derretendo numa frigideira, o coração quentinho e apertado. Não conseguiu responder, apenas beijou a têmpora alheia com devoção, enxaguando o cabelo castanho, tirando toda a espuma dos fios tão macios que mais pareciam seda. Em seguida, pegou o seu sabonete e espalhou bastante nos dedos, esfregando as costas estreitas, tanto para ensaboar como para ofertar alívio aos músculos doloridos.

Massageou toda a extensão da pele em sua frente, pressionando os ombros, desfazendo os nós dos músculos rijos, mandando toda a tensão embora.

— Ah… minha nossa, Jayce… — Viktor gemia num volume audível, emitindo barulhinhos agraciados e suspiros de alívio — Mmn…

Por mais involuntários e não propositais que fossem os sons, Jayce não conseguia evitar o calor que percorria a sua espinha, o latejar insistente no meio das pernas. Seu parceiro tinha a voz mais gostosa e sexy que já tivera o prazer de ouvir, e aqueles gemidos só comprovavam a sua opinião. Um som rouco escapou de sua boca, trêmulo e arfante, e sua ereção esbarrou levemente no ombro alheio. O zaunita estremeceu, lhe fitando por cima do ombro, os olhos dourados tremeluzindo ao vê-lo daquele jeito, duro e excitado por ele, para ele. O viu lamber os lábios finos e morder o inferior de leve, pronunciando:

— Jayce…

— Hm?

Viktor espalmou a mão em sua coxa, sentindo a firmeza de seus músculos, a fartura de suas pernas grossas.

— Posso te chupar?

Talis estremeceu, arquejando em silêncio, o pau se contraindo de tesão bem na frente do rosto do cientista. Como ele ainda perguntava, quando a resposta era tão óbvia?

— Sim, Vik. — Aquiesceu freneticamente, enredando os dedos compridos nos fios sedosos e castanhos, puxando-o para mais perto — Por favor.

Viktor prolongou o contato visual por longos segundos, seus dedos longos passeando por todo o comprimento do pênis do inventor, como se memorizasse cada centímetro, apreciando como pulsava, sentindo as veias salientes, descendo para acariciar os testículos sensíveis, tirando do outro um gemido angustiado.

— Não me provoca tanto, V… eu quero você, quero muito. Me toca, por favor.

— Calma, querido. — dedicou-lhe um sorriso tranquilizador, depositando um beijo terno na glande úmida de pré-gozo, observando como as pernas dele estremeciam em resposta — Eu vou cuidar de você. Só me deixa aproveitar o momento, quero sentir você. Cada pedacinho.

Sendo misericordioso, ele concedeu toques mais diretos, lambendo a fenda gotejante, coletando o sabor dele com a língua, envolvendo a cabeça com a boca e dando chupadas fortes, gemendo de prazer, mesmo sem ser tocado, pois sentia como ele se derramava em sua boca a cada movimento.

Sua boca se deslocou, chegando perto da base da ereção de Jayce, lambendo-a dali até a cabeça, então descendo outra vez, provocando as bolas uma de cada vez, chupando-as separadamente e em conjunto, deixando-o louco e segurando os seus fios com mais força.

Quando se deu por satisfeito, masturbou o comprimento lubrificado pela água e pelas lambidas anteriores, engolindo-o devagar, primeiro a ponta, depois deixando a saliva escorrer a fim de deslizar com mais facilidade, prosseguindo com o resto, devagar, sem nenhuma pressa, tanto porque queria desfrutar do momento quanto porque seu parceiro era grande, tanto no tamanho quanto na grossura. Ainda assim, não parou até o sentir preenchendo a sua boca por inteiro, friccionando sua garganta.

Relaxou a epiglote, tomando-o mais fundo, sentindo-o no fundo da garganta, o comprimento preenchendo sua cavidade bucal por completo, seus lábios envoltos ao redor da base, o nariz inspirando o calor da pele de Talis, o cheiro de água e sabonete inebriando seus sentidos. Ouviu-o gemer alto, manhoso, e quando olhou para cima, a expressão dele era adorável. Retorcida de prazer, os lábios mordidos impiedosamente.

— Meu Deus, Viktor… você é muito bom nisso. — os dedos acariciavam o maxilar alheio afavelmente, um contraste com a luxúria presente em seus olhos. — Não para, por favor, amor.

O apelido carinhoso faz Viktor ofegar, como se estivesse privado de oxigênio, seu coração ribombando como um tambor desenfreado no peito com a magnitude com que aquela simples palavrinha de quatro letras o afetou.

Ele fecha os olhos e respira fundo, se concentrando para não usar os dentes e continuar mantendo a garganta relaxada, movendo a cabeça num movimento ritmado e certeiro de vai e vem, imerso na sensação da ereção deslizando por seus lábios, da diferença entre a pele da glande macia e do resto do comprimento, em deleite com o quão cheio e completo estava a cada sucção hábil, extasiado pela oportunidade que era fazê-lo sentir prazer.

O seu próprio sexo pulsa entre as pernas, intocado, negligenciado, queimando com ânsia e desespero quando seus ouvidos captam a mudança na voz de Talis. Ele havia se tornado mais vocal, gemendo mais alto, com mais frequência, entoando uma sequência de ruídos agudos e arrastados conforme o orgasmo se aproximava.

— Nngh… V-Viktor… Não vou aguentar, sua boca é tão gostosa, você é… t-tão gostoso… — ele gagueja, fraco das pernas, os joelhos quase cedendo — E-Estou quase… eu vou gozar…

O piltovense o avisou, os dedos tentando puxá-lo para longe, afastá-lo para não gozar na boca dele, mas Viktor estava irredutível. Ele queria, precisava prová-lo, sentir o gosto dele inundar a sua garganta e impregnar em seu paladar.

Jayce se entregou ao desejo implícito estampado no comportamento do amado, relaxando e se deixando ser consumido pelo prazer, pelo calor daquela boca febril em torno de seu pau. Seu orgasmo tomou-o como uma vertigem, traduzindo-se num jorro derramado na boca de seu parceiro. O zaunita não parou de chupá-lo, engolindo cada gota do que lhe era oferecido como se fosse um presente sagrado, se afastando com um ruído estalado, a língua limpando delicadamente as gotas restantes de gozo da fenda da glande já hipersensível, dando um beijo carinhoso no final.

— Obrigado, Jayce. — o tom saíra empoeirado como um armário velho, rouco por ter a garganta abusada, embora não estivesse nem um pouco arrependido — Eu adorei dar prazer a você.

O homem mais novo riu baixinho, se apoiando nos joelhos bambos para dar um beijo casto nos lábios inchados do outro, sentindo vagamente o próprio gosto.

— Você foi incrível. Não sabia que seria tão bom nisso.

— Sou um homem de muitos talentos.

— E de muita modéstia. — retorquiu com um sorriso irônico.

— Certamente.

Jayce riu, dando um tapinha fraco no ombro ossudo.

— Besta.

Foi tudo o que disse, antes de beijá-lo outra vez. Contudo, dessa vez, havia a ausência de inocência. Sua língua lambeu a boca alheia e a explorou obstinadamente, com fome, sugando os lábios finos até ficarem inchados e vermelhos como uma cereja.

— Eu quero retribuir o favor antes de nós sairmos do banheiro. — Sua voz era tal como mel, um caráter rico e doce, uma mescla de volúpia e ternura — Você deixa?

Viktor deixou escapar um ofego vacilante, sobrecarregado, pego de surpresa. O clitóris formigou entre as coxas, ansioso para ser tocado.

— Deixo.

O efeito foi imediato, como se Talis estivesse sendo controlado por um feitiço. Os joelhos encontraram o chão molhado do banheiro, as mãos firmes separando os joelhos do zaunita, o expondo por inteiro para si. Seus olhos castanhos se demoraram sobre a visão que lhe era oferecida, se sentindo sortudo por ser ele ali, vendo-o assim, entregue por vontade própria.

Quis adorá-lo, dar a mesma atenção que lhe fora oferecida, sua boca se demorando em beijos sensuais pela parte interna das coxas magras de Viktor, ao passo que suas digitais resvalaram toda a extensão da perna normalmente sustentada pelo suporte, massageando os músculos retesados, aliviando os hematomas causados pela fricção excessiva do metal contra a pele facilmente machucada.

O cientista mais velho se viu desconcertado mediante a atenção gentil, desacostumado a ser tratado com tanto carinho.

— Você não precisa… — ciciou, incerto, quase ininteligível.

— Mas eu quero. — Jayce replicou com um sorriso sereno, fechando os olhos e sugando uma porção da pele da virilha do parceiro, tão próximo de onde ele mais queria ser tocado, sentindo o calor condensado irradiando do ventre dele.

O zaunita abriu mais as pernas, ouvindo a própria respiração pesada ressoar em seus ouvidos, e não seria exagero afirmar que quase desmaiou de prazer ao ter os dedos grossos de Talis roçando a fenda molhada entre seus grandes lábios, separando suas dobras e espalhando a lubrificação abundante pingando de sua buceta.

Sua vista chegou a escurecer no momento em que o tato se concentrou em seu clitóris, também encharcado. Tombou a cabeça para trás, gemendo sem pudor, o órgão responsivo e rígido latejando visivelmente.

— Caramba, você ‘tá mesmo excitado. — Jayce apontou, com fascínio e divertimento, o tom contente soando como um ronronar provocativo.

— Eu sei. — Viktor riu, o rosto e o colo róseos de vergonha e tesão — Fiquei morrendo de vontade de me tocar enquanto te chupava. — a confissão veio arrastada, do mesmo modo que a carícia nos cabelos curtos do inventor — Você é tão sensível que estava me deixando maluco.

Um “hm” alegre vibrou na garganta de Jayce, e os lábios carnudos beijaram o sexo molhado com devoção, desde a abertura da vagina até o clitóris sensível, se fechando em torno do pequeno comprimento da carne túrgida numa sucção intensa, saboreando o peso e a pulsação constante em sua língua ávida.

— Se você tivesse feito isso, eu teria gozado na hora. — disse ao se afastar minimamente, lambendo cada centímetro do emaranhado de nervos — E você gosta disso? Do quão sensível eu sou?

Viktor apoiou as pernas compridas nos ombros largos do parceiro, fechando-as em torno da cabeça dele, consequentemente o empurrando num aperto exigente contra a sua vulva.

— Gosto. — Quase pareceu sufocá-lo ali, pressionado entre as suas pernas e a sua buceta, com a boca enterrada em suas dobras molhadas, mal o dando oportunidade para respirar. Jayce não conseguia pensar numa forma mais gostosa e honrosa de morrer — Quero ver até onde essa sensibilidade toda vai.

Jayce foi tomado por uma pontada de ansiedade se revirando em seu estômago, e ali, todo o seu receio inicial quando o assunto era sexo pareceu cair em suas costas como um balde de água fria. Era sempre assim, primeiro começava com o apreço e com os elogios pelo quão sensível era, para depois vir o desconcerto quando as lágrimas brotavam em seus olhos.

Decidiu enterrar as preocupações e aquela angústia inquietante no fundo de sua mente, trancando-as a sete chaves e esvaziando os pensamentos, focando única e exclusivamente no trabalho em mãos e no maior desejo que ocupava o seu coração naquele exato segundo: dar prazer a Viktor, fazê-lo gozar.

Se embriagou com o gosto da lubrificação inundando sua boca, com o cheiro almiscarado somado à espuma do sabonete, gemendo baixinho enquanto o chupava com entusiasmo, a língua e os lábios trabalhando no clitóris insistentemente, lambendo, circulando, chupando, se orientando pelos sons desesperados e respiração descompassada do cientista.

Em poucos minutos, o zaunita empurrava os quadris em sua boca com urgência, aqueles dedos longos puxando o seu cabelo com tanta força e antecipação que dava nós em seus fios úmidos. Suas mãos grandes envolveram a circunferência das coxas finas perfeitamente, mantendo-se afastadas, bem aberto para ele, e isso só pareceu deixá-lo ainda mais receptivo e próximo do ápice.

— Ah, sim… bem assim, Jayce. Você é tão bom ‘pra mim, querido. — Diferente dele, Viktor conseguia articular as sentenças sem gaguejar ou dar pausas excessivas, porém, seu tom era agudo, agitado, como se estivesse com pressa — Só mais um pouco, estou quase lá. Me faz gozar, meu bem.

O desejo que se agita no cerne de Jayce tem um apetite voraz, se alastra por suas células com ferocidade. Ele crava os dedos na pele do parceiro, pressionando o clitóris em sua boca com sons molhados e estalados, sugando como um homem sedento, com força, e é o suficiente para Viktor agarrar o tampo do banco de madeira com todas as forças que lhe restam, descontando a tensão que domina o seu corpo, antes de relaxar e se desfazer em sua língua com tremores intensos e choramingos pesarosos.

Ele bebe e chupa cada vestígio do gozo do amado, distribuindo beijos pelo corpo trêmulo, até encontrar os lábios arfantes outra vez. O homem mais velho arqueja baixinho, retribuindo o contato preguiçosamente, seus polegares enxugando os olhos marejados que Talis até então nem havia se dado conta.

— Eu quem gozo assim e é você quem chora? — caçou com afeição, mantendo os dedos nas bochechas amorenadas.

O piltovense riu timidamente, fungando, a voz apresentando um quê de chorosa e embargada:

— Desculpa, só ‘tô meio emocionado. Eu queria ter você assim há tanto tempo que não consigo acreditar que realmente ‘tá acontecendo. — ofereceu um sorriso terno, que foi retribuído — Estou feliz por ter convidado você ‘pra passar a noite aqui.

Viktor meneou a cabeça, dispensando as desculpas, como quem dizia que não era necessário.

— Eu também, Jayce, eu também.

Jayce sentiu o coração palpitar com uma ternura descomedida, mal cabendo em seu corpo, praticamente vibrando ao seu redor como uma aura visível a olho nu. Junto com ela, vinha aquela vontade arrebatadora, o desejo de tocar e de ser tocado, de possuir e ser possuído.

— …Você quer continuar? — trouxe a proposta num sussurro acanhado, transparecendo o embaraço que sentia por ainda não estar satisfeito.

— Você quer?

— Só se você quiser.

Ele grunhiu, assentindo em desespero, não suportando mais esconder. Precisava daquele homem como um dependente químico precisava de sua droga.

— Por favor.

A curva nos lábios rachados e secos era agora carregada de malícia, pretensiosa, uma dualidade com a meiguice de outrora, trocando a faceta que assumia numa facilidade assombrosa.

— Muito bem. Como você me quer?

Jayce piscou duas, três vezes, confuso, o que fez o mais velho rir. Frases vagas não eram o seu forte, assim como sutileza e eufemismo não eram o de Viktor. Por fim, optou por utilizar a linguagem que ambos iriam entender.

— Quer que eu fique por cima ou por baixo, Jayce?

— Ah! — corou — Para ser sincero… tanto faz, não me importo. Eu só quero ser seu. — urgiu, sem medir a veemência que revestia suas sentenças — Pode escolher.

O modo, a escolha paradoxalmente cautelosa e espontânea de suas palavras, tudo aquilo agradou a Viktor intimamente, conversando com ele de maneira visceral. O agrado resplandecia no ouro líquido de seus olhos.

— Eu quero te foder. — a honestidade veio brutal, seca como um galho frágil. — Está tudo bem ‘pra você?

— Mais do que bem. — Talis assegurou, uma animação quase ridícula e infantil, mas sincera, se apossando de si. — Você pode terminar o banho e me esperar no quarto enquanto eu termino o meu e me limpo ‘pra você?

— Claro, meu doce. Sem problemas.

Assim, Jayce ajudou o parceiro a terminar de se lavar, o esperou se secar e pegar a bengala, se despedindo com um beijo, palavras doces e confissões de amor, se dirigindo à sua cama. Quando a porta se fechou, ele encarou o chuveirinho acoplado à parede do banheiro com determinação e mãos trêmulas, se despindo do suor que havia se acumulado, das paranoias rondando sua cabeça e do medo incessante que o acompanhava desde que começara a se envolver com Viktor.

Por pelo menos um instante, permitiu-se não pensar demais no que estava prestes a acontecer, e na reação de seu amado quando se deparasse com a verdade de que, sim, até mesmo — e principalmente — nos momentos íntimos, ele chorava.