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Camélia

Chapter 2: Camélia

Notes:

Olha quem chegou :p

Fiquei surpresa com a recepção de Camélia!

Fico muito feliz que tenham gostado.

Me desculpe se deixei passar algum erro.

PS: Cenas gráficas de menção e tentativa de agressão sexual, cautela ao ler.

Boa leitura e leiam as notas finais;

Chapter Text

O relógio do painel marcava 9h53 quando o carro preto deslizou pela estrada de cascalho e parou diante dos portões altos da mansão Bang. O ar da manhã ainda estava fresco e o sol refletido no metal cromado do veículo.

Recebemos um e-mail para visitar a mansão Bang e discutir outros detalhes do contrato no primeiro horário disponível do dia.

Felix engoliu em seco ao ver a quantidade de alfas armados circulando.

Foi impossível não se sentir intimidado.

— Chegamos, senhores. – Jungsu, o motorista olhou gentil pelo retrovisor.

Jisung esperava ansiosamente pela janela e soltou um suspiro leve. Hyunjin tomou a frente e abriu a porta do carro, sendo seguido por Seungmin e Felix.

— Certo...  Vamos lá.  — Seungmin murmurou ajeitando o suéter verde sobre a calça skinny preta.

Hyunjin passou as mãos no cabelo tentando disfarçar a tensão e lançou um olhar de desgosto ao ver os alfas olharem contemplativos para Felix que tentava puxar a saia até o joelho incomodado com os olhares descarados.

Odiava que seu amigo não pudesse usar as roupas que gostava devido à falta de respeito dos outros.

Jisung os sons formando um escudo protetor, Hyunjin ia na frente e ele atrás, deixando o mais novo entre os dois. Quase saltou quando a porta de Jungsu fechou em um estalo, o motorista piscou com um sorriso discreto.

- Deixe-me saber quando estiverem prontos para ir embora. – o alfa falou em um tom ameno, quase como se não quisesse assustá-los.

Sem responder, os quatro seguiram pela entrada de mármore. A imponência da mansão os fez hesitar por um segundo — o tamanho, o silêncio e o cheiro de flores frescas misturadas a madeira encerada.

Antes que pudesse bater na porta principal, ela foi aberta os fazendo pular levemente em susto.

-Bom dia, meu chamo Gaon. – o homem de expressão calma se apresentado – Sirvo a mansão Bang. – seus movimentos pensados ​​– Sejam bem-vindos, senhores. – ele moveu o braço em descer o interior da casa – O senhor Bang e os demais já os aguardam na sala de refeições. – ele anunciou.

O corredor parecia interminável, o som de seus passos ecoava. Ao abrir as portas altas, o aroma de comida quente os envolve. A mesa era longa, iluminada por um brilho de cristal.

Ao centro, Christopher — imponente, porém sereno — estava sentado. À sua volta, Minho, Jeongin e Changbin, além dos quatro seguranças principais, que comiam em silêncio.

- Sejam bem-vindos. – Christopher falou baixo – Sente-se, por favor. – ele indicou.

Não que você tenha vestidos de forma vulgar, longe disso. Mas Felix se sentiu estranhamente exposto ao ver o alfa o encarar desde seu par de tênis branco, a intensidade que seus olhos deslizaram por sua saia, percorrendo por sua blusa de botões até seu rosto.

- Onde, senhor? – Jisung quem falou olhando certo.

Seu ômega se agitou com a maneira que os olhos de Lee Minho fixaram em suas coxas em sua calça skinny.

— À mesa, é claro. -  Jeongin arqueou uma sobrancelha franzindo o cenho em seguida.

Trocaram olhares rápidos, silenciosos, um misto de dúvida e recebimento. Ainda assim, obedeceram, sentando-se em cadeiras próximas dos outros.

Nunca foi convidado para uma mesa de pessoas importantes.

Julgaram não havia nada por trás do pedido pois as seguranças estavam na mesa também.

— Espero que a comida seja do agrado de vocês. — Changbin falou animado enquanto comia uma porção de Kimchi – Senhorita Choi cozinha como uma deusa, já tentei suborna-la para minha própria casa, mas infelizmente ela ama o Chris hyung. – ele parecia chateado com esse fato.

Christopher bufou olhando com diversão.

- Eh...  Parece ótimo.  – Jisung transmitiu um pouco tenso.

Não consegui deixar de se sentir estranho com tanta casualidade.

Timidamente, Félix se serviu com um pouco de suco tentando não parecer rude diante da hospitalidade. Hyunjin escolheu algumas frutas, Seungmin partiu um pedaço de pão e Jisung optou por um pequeno pedaço de bolo.

Nunca havia visto uma mesa tão farta em diversidades.

— Nós os convidamos porque existem alguns detalhes pontuais do contrato que precisamos discutir. – Lee Minho explicou enquanto comia confortavelmente, seus olhos caíram sobre Jisung que ajeitou a postura o olhar atento.

- Sim? – Hyunjin estreitou os olhos.

— Podemos começar pela rotina de vocês. – Christopher falou calmo - precisamos de uma escala, para saber quando podemos —  e quando não podemos  — contar com os quatro. – o líder os encarou sério e sua expressão era puramente profissional.

Felix piscou surpreso relaxando os ombros, aliviado por ser algo realmente importante.

— Ah, isso...  Certo ... — Seungmin exalou — A nossa rotina é ajustada quatro vezes por ano... Posso enviar a programação depois, mas no total, são doze dias. – avisou já sabendo o cálculo de cabeça.

O som de talheres parou.

Os alfas à mesa se entreolharam, visivelmente confusos.

Até mesmo as seguranças surpreendentes.

— O que você quer dizer com  doze dias no ano ? – Jeongin arregala os olhos levemente.

— Cada um de nós tem uma rotina própria no ano.  -  Hyunjin deu de ombros, confundidamente nas frutas.

— O quê?! – Changbin franziu o cenho - Isso é certo? – ele parecia absolutamente abismado.

— Não é certo. —  Jisung respondeu com calma — Mas é o mais seguro. – olhou para a defensiva.

— O que quer dizer com isso?  -  Minho o chocado com desconfiança.

— Temos uma escala. – Hyunjin hesitou - A próxima rotina é do Felix, daqui a cinco meses e nós cuidamos dele pelos três dias, depois vem o Seungmin, o Jisung... e por último, eu. – explicado.

— Vocês tomam supressores por tanto tempo? - Jeongin apoiou o queixo na mão com um tom cético.

Felix assentiu lentamente.

— Não podemos correr o risco de termos dois de nós vulneráveis ​​ao mesmo tempo. – o loiro admitiu.

O silêncio que se seguiu foi pesado.

Até as seguranças pararam de comer.

O som do vento lá fora parece preencher o espaço.

— Não posso —  nem quero  — exijo que mudem isso. - Christopher soltou um longo suspiro ao se recostar na cadeira - Mas posso garantir que, trabalhando aqui, tenha o suporte necessário para que seus ciclos ocorram de forma normal. – ele prometeu.

— Podemos pensar sobre isso. — Felix respondeu com um leve sorriso.

Mas ficou óbvio que a resposta era,  não.

- Tenho uma pergunta aos senhores. - Seungmin extrai o copo de suco tentando manter a compostura.

— Sim? — Chan falou o olhando atento.

— Em relação à vestimenta… — Seungmin encolheu os ombros um pouco evasivo com recebimento de falar o que realmente queria.

- Ah... – Changbin deu um meio sorriso frustrado – Há um uniforme padrão. – o alfa olhou seriamente — Vocês não foram contratados para entreter alfas. – ele prometeu.

— E para o que fomos contratados, então? — Felix está inclinado a olhar com hesitação.

— precisamos de ômegas que não tenham medo de estar numa sala cheia de alfas...  Que não sejam facilmente intimidados e que sejam leais.  — Jeongin foi quem respondeu, com a serenidade cortante de quem fala uma verdade prática.

A frase caiu na mesa como uma instrução, sem ornamentos.

Os quatro se trocaram olhares — surpresa, dúvida e problema.

— Se me permitir, posso fazer um pedido? — Jisung murmurou parecendo preocupado de estar abusando do seu tipo.

– Claro. — Minho garantiu o olhar curiosamente.

— Vocês podem comunicar a Hongjoong sobre nossa decisão? — Jisung pediu sem esconder o leve tremor ao falar sobre o ex-chefe.

Os quatro líderes trocaram olhares de um entendimento desgostoso.

— Já resolvemos isso. — Christopher garantiu e o intervalo que banhou os ômegas foi quase palpável – Gostaria de apresentar nossas seguranças pessoais. – o líder aproveitou o momento – Esse é o meu braço direito, Kang Baekho. – o homem a sua direita curvou a cabeça em respeito e tudo que poderia notar foi a marca de acasalamento em seu pescoço que parecia recente – Esse é Mark Lee, segurança de Jeongin. – ele mencionou para o rapaz de cabelos pretos que também tinha uma marca, mas todos lembravam do alfa falar abertamente do seu companheiro então não os surpreendeu – Esse é Hyunwoo, homem de confiança de Changbin e Mingyu, segurança do Minho. – ele apontou para os dois últimos que apenas balançaram a cabeça os ignorando – Quero deixar avisado que qualquer necessidade, eles estão à disposição para ajudá-los. – o alfa líder olhou seriamente em suas soluções o deixando surpresos.

- Tudo bem. – Seungmin franziu o cenho parecendo surpreendentemente incerto.

— Haverá muitas reuniões. – Minho alertou - Pode haver situações em que alguém precise dormir na casa um do outro...  Organizaremos isso conforme a necessidade.  – seus olhos estreitos — Para o público, somos parceiros de negócios e, às vezes, amigáveis... Ninguém sabe que somos amigos ou que vencemos em conjunto da forma que fazemos. – a informação os deixou chocados - A maior parte do tempo, moramos com o Chris aqui e isso facilita a coordenação dos nossos negócios. – Nunca imaginei que o mundo acreditasse que aqueles homens fossem inimigos.

A ideia parecia ridiculamente absurda.

— Vocês não precisam hesitar em pedir ajuda ou sugerir qualquer comportamento errado vindo de qualquer pessoa...  Estamos aqui para observá-los . — Jeongin falou com calma analisando suas reações.

Jisung e Hyunjin pretendiam disfarçar a incredulidade enquanto Seungmin olhava claramente descrente com Felix parecendo tocado pelas palavras mesmo que não acreditasse nelas.

A ideia de alfas os proteger parecia utópico.

- Existem 5 regras em nossos territórios e elas são válidas para alfas, betas e ômegas. – Changbin avisou –  Primeira regra:  Traição não será tolerada.  – seus olhos brilharam friamente –  Segunda regra:  Nunca toque um beta, alfa ou ômega sem o consentimento, mesmo que ele esteja no cio.  – sua expressão se tornou sombria –  Terceira regra:  Não toleraremos nenhum tipo de abuso físico, verbal ou sexual contra ômegas, betas, mulheres ou crianças.  – ele alertou –  Quarta regra:  Tráfico sexual e de seres humanos não será tolerado sob nenhuma circunstância dentro de nosso território.  – sua íris se tornou amarelada –  Quinta regra:  Qualquer regra violada será punida com morte.  - as palavras finais foram feridas com uma calma que se tornou uma ameaça ainda mais nítida.

Um silêncio que parecia quase reverente caiu sobre a sala de refeições.

Tal severidade não era um exagero , era uma linha traçada em sangue moral.

Os ômegas trocaram olhares parecendo ter o mesmo tipo de sentimento sobre aquelas regras.

Hyunjin pensou que  estranhamente  parecia o paraíso dentro do inferno.

 

 

 

 

 

 

O silêncio da noite foi surpreendente e confortável.

Felix olhou um pouco animado enquanto se espreguiçava no sofá, seus olhos brilharam em relaxamento e felicidade.

— É tão bom, não ter que ir para a Halazia. – o loiro cantando com um sorriso deslumbrante.

— Isso é estranho. – Jisung murmurou se tocando no canto do sofá abraçando Seungmin.

— O que é estranho? – Hyunjin tirou os olhos da televisão e olhou curiosamente.

— Eu estou esquisito por pensar que estamos...  Com sorte?  – Jisung olhou hesitante quase envergonhado.

— Tipo? – Seungmin arqueou a sobrancelha confusa.

— Por estar num lugar onde é proibido nos machucar. – Jisung sussurrou – Não me leve a mal, eu sei que Seonghwa nos protegeu da melhor forma que podia, ainda assim eu estava com medo o tempo todo, com os homens de Hongjoong. – Encolheu os ombros lançando um olhar vulnerável – Eu sei que não deveria, mas não me sinto assim com os líderes...  Com medo.  – admitido – Não é esse tipo de medo. – explicado incerto.

— Isso não é estranho, Jiji. — Hyunjin falou gentilmente cruzando as pernas — É uma questão de lógica. – o mais velho olhou carinhosamente – Na verdade, eu me sinto exatamente assim. – sua admissão fez o amigo parecer aliviado. 

— Na verdade faz sentido... — Seungmin franziu o cenho parecendo pensativo — Mas ainda é irônico... O lugar mais perigoso do mundo é o único onde estamos realmente seguros. – seus lábios crisparam em um beicinho que beirava a indignação.

— Ironicamente poético. — Félix apoiou o queixo na mão com um meio sorriso — Aqui, se alguém tentar nos tocar sem permissão,  morre.  – seus olhos brilharam em esperança - Mas lá fora ninguém nem piscaria. – sua expressão se tornou sombria – Eles apenas esperavam uma oportunidade do Hwa vacilar. – seu tom foi assombrado.

Um silêncio breve caiu entre eles.

- Essa oportunidade nunca veio e agora estamos livres. – Hyunjin lembrou em um tom ameno tentando acalmá-lo.

Havia algo daquela verdade amarga —  o tipo de segurança que só existia cercada por ameaças.

— Pelo menos agora temos um salário digno e uma oportunidade de um bom futuro. – Jisung tentou sorrir afugentando os pensamentos ruins – E nossos novos chefes não deixam que alfas nos toquem contra nossas vontades. – sua expressão suavizou em emoção.

— Falando nisso, eu já enviei para Gaon a relação das bebidas e comidas para reunião de amanhã. — Seungmin mudou de assunto ajeitando a camiseta de botões — Contei as seguranças dos líderes também. – alertou.

— No total serão quantas pessoas? – Hyunjin tombou a cabeça para o lado.

— Dois alfas e um beta com três seguranças. — Felix respondeu se apoiando no encosto do sofá — Quatorze pessoas. – calculado.
— Bastante gente. – Jisung franziu o cenho.

— Joguei para mais. — Félix murmurou e deu de ombros se deitando novamente — É o que o senhor Bang pediu...  Disse que estão tentando fechar um grande negócio.  – seu olhar se tornou calculado.

— Um grande negócio. — Seungmin fez uma careta desgostosa — Mas fez bem em jogar para mais. – o mais novo olhou desdenhoso — Eles são ricos, podem pagar por garrafas extras. – debochou.

Jisung deu um risinho.

— Melhor sobrar do que faltar. — Hyunjin bufou irônico — Esses tipos de alfas bebem como se o álcool resolve todos os problemas. – ele estalou os lábios enojados.

— Ou como se não precisa mais nada para sentir. — Seungmin retrucou.

Trocaram olhares carregados de desdém.

- Pelo menos, não precisamos voltar para o Halazia. – Félix se contorceu em alegria – Eu mal sei o que fazer com tanto tempo livre. – seus olhos brilharam – Podemos fazer novas tatuagens. – sugerido.

— Nunca mais quero voltar lá. — Jisung estremeceu — E sobre as tatuagens, precisamos juntar dinheiro agora e evitar gastos. — falou de forma consciente — Primeiro vamos ver se isso realmente vai dar certo. — recebi um beicinho chateado em resposta.

— O que você está pensando em fazer? – Hyunjin ficou curioso.

— Um lobo, nas minhas costas. – Felix falou animado – Em homenagem ao meu ômega. – suas feições se tornaram quase infantis.

— Nas costas doem. — Jisung resmungou lembrando da sua própria tatuagem de camélia que fez em conjunto com seus amigos.

- Que tal outro piercing? – Seungmin sugeriu.

- Você tem tendências masoquistas. – Jisung piscou fazendo Felix e Hyunjin explodiram em gargalhadas.

— Ah, o quê? – Seungmin olhou descrente – Você tem piercing nos mamilos e no umbigo. – ele acusou.

— E prometi que jamais faria outro. – Jisung se defendeu – Doeu como uma cadela. – ele reclamou – Apenas admita que você gosta de dor. – estreitou os olhos fitando o mais novo que corou.

— Não seja idiota. — Seungmin parecia embaraçado – Eu e Jinnie podemos furar o umbigo agora. – olhou esperançoso.

— Minnie, já furamos a língua e os mamilos. – Hyunjin tentou fugir – Piercings realmente doem e a cicatrização é uma merda. – o mais velho bufou. 

— Nossa cicatrização é mais rápida que os de betas, em um mês já estava tudo ótimo. — o mais novo argumentou — Félix? – Seungmin olhou esperançoso.

- Meu umbigo e mamilo também já estão furados. – o loiro o lembrou.

- Língua? – Seungmin arriscou.

- Hum. – Félix pareceu considerar que isso foi suficiente para que o mais novo se iluminasse.

- Masoquistas. – Jisung murmurou.

Seungmin o empurro e mordeu seu pescoço levemente.

- Assim não, cachorrinho. – Jisung provocou – Eu gosto. – lambeu os lábios maliciosamente.

O mais novo transparente o rosto e arqueou a sobrancelha.

Seungmin se inclinou e beijou sua boca levemente.

- Estou feliz. – Seungmin falou contra a boca de Jisung – Nunca mais quero voltar ao Halazia. – aceitar aceitar vários selos no seu rosto.

— Mesmo assim, estaremos sempre em risco trabalhando para eles...  Os líderes.  — Hyunjin olhou gentilmente — Vamos chamar atenção, cedo ou tarde. – os lembrei.

— Você acha que alguém vai vir atrás da gente? - Félix virou o rosto pensativo.

— Não porque sejamos importantes. — Jisung respondeu incerto — Mas porque talvez queiram descobrir o que sabemos. – deu de ombros roçando o nariz no de Seungmin.

— O que sabemos não é nada demais. — Hyunjin franziu o cenho — Mas para quem vive de segredos, qualquer detalhe é uma arma. – ele suspirou exausto.

— Mesmo assim, é a única chance que temos. — Seungmin murmurou — Vamos juntar dinheiro e abrir nosso próprio negócio,  não vamos mais trabalhar para alfas.  – falou confiante.

- O importante é que estamos juntos...  Para sempre.  – Felix convidou apesar de tudo.

- Para sempre. – os três responderam.

Era uma promessa.

 

 

 

 

 

A propriedade Bang parecia mais agitada que o normal.

A luz do salão principal era baixa, filtrada por cortinas pesadas que amorteciam os ruídos do mundo lá fora. Um enorme brilho de cristal derramava pontos de luz sobre a mesa de reuniões, onde copos já posicionados e pastas abertas aguardavam assinaturas que ainda viriam. As portas estavam trancadas. Somente quem tinha autorização para entraria — e, naquela noite, ninguém além dos líderes e suas seguranças saberiam o que se conversaria ali dentro.

Hyunjin estava ansioso com o primeiro jantar que eles estavam organizando. Tudo teria que ser perfeito. Do lado de fora, as luzes dos jardins iluminavam suavemente a entrada, mas dentro, o clima era outro — abafado, íntimo e tenso.

Não tinha certeza do que esperar.

No corredor, Jisung, Hyunjin, Felix e Seungmin se organizaram com eficiência quase silenciosa. Tinham passado a manhã conferindo listas, dobrando tecidos e experimentando a combinação dos uniformes que foi sugerido: camisetas brancas de botão, saias na altura das coxas como opção para alguns, calças ou shorts para outros — Seungmin optou por shorts, por conforto e praticidade. Tênis brancos e pretos, várias peças de reserva no carrinho. A ideia era simples: algo decente, profissional e que transmitisse cuidado sem apelar. Eles conversavam baixo, ajustando barras e botões, trocando olhares animados; havia um brilho diferente nos rostos — uma animação contida por trás da seriedade da tarefa.

Parecia um trabalho do qual podíamos se orgulhar.

Usaram maquiagem leve após retirarem todos os piercings e cobrirem as tatuagens.

— Isso ficou bom. — Félix falou ajeitando a saia e girando levemente — Dá para respirar, parece decente e ainda assim elegante. – sente-se emocionado por não precisar agir de forma vulgar para atrair atenção.

— Me sinto bem comigo mesmo. — Hyunjin chamou a atenção no colarinho do suéter que falou por cima, como se não quisesse perder o conforto — E é melhor assim — discreto, mas com presença. – seu sorriso pode iluminar a noite.

Seungmin confirmou com um aceno, puxando a bandeja de bebidas. Contavam as garrafas uma última vez: destilados, vinhos, refrigerantes e misturadores. Prepararam alguns drinks pré-misturados, fatias de frutas, petiscos frios e pequenos canapés financeiramente comprados. Assim que a primeira bandeja foi coberta e a tampa erguida, respiraram fundo e abriram a porta da sala principal.

— Christopher Bang, seu bastardo! – uma voz se elevou divertida no momento que deram o primeiro passo para a sala de refeições.

A consequência foi imediata, Jisung saltou, Felix deu um passo para trás em susto, Seungmin e Hyunjin se colocaram à frente de forma protetora.

- Por que estou sendo ofendido, Woobin? – Christopher disse calmamente parecendo confuso e lançou um olhar de incentivo na direção dos ômegas.

Os olhares da mesa estavam todos sobre o alfa. 

Hyunjin tomou a frente e começou a servir.

— Você roubou os intocáveis ​​de Hongjoong? — Woobin riu provocador.

A risada circulada pela sala, trazida de uma mistura de diversão e provocação. Apenas duas pessoas não entenderam o comentário do alfa que olhou com uma profundidade quase infantil.

Jisung congelou por uma fração de segundo, o nome Hongjoong confundiu num arquivo de memórias desconfortáveis. Ele tomou consciência do homem que falou, mas não conseguiu; Halazia atraía muitos alfas e alguns rostos eram tão passageiros ali quanto às noites de festa. Lançou um olhar relâmpago para os outros — nenhum dos três parecia relevante o homem. Ainda assim, manteve uma postura profissional:  servir era servir.

Eles seguiram, rígidos e sem se abalar.

— Eu acho que  “roubar”  é uma palavra muito forte. — Christopher riu com uma calma cortante de quem usa as palavras como escudo — Prefiro pensar que eu sou mais divertido que o Hongjoong. – ele piscou amigavelmente.

- Divertido é uma forma de ver. — uma alfa provou olhando com desdém — Ou perigoso...  Depende do ponto de vista.  – suas palavras fizeram Changbin e Minho rirem enquanto Christopher revirava os olhos.

- Dahyun, não seja má. – Jeongin olhou desdenhoso.

- Intocáveis? – o único beta que estava na mesa olhou curiosamente enquanto arqueava a sobrancelha.

— Seris, Manis, Morvelle e Rosven. — Woobin nomeou cada olhar com desejo — Os ômegas do bordel do Hongjoong que não aceitam diversão. – o alfa olhou chateado.

Seungmin sentiu o estômago revirar.

O beta bufou como se o julgasse Woobin um idiota.

Hyunjin o serviu com uma rodada extra de petiscos e bebida apenas pelo seu olhar desprezo para o alfa que os tratava como mercadorias — e as expressões na mesa encontradas majoritariamente neutras e politicamente corretas.

- Eu gosto disso. – Dahyun olha para bebida servida por Felix – Homens são nojentos. – ela acrescentou com desdém — Sabe quantos alfas eu já vi comprar-los do Hongjoong? – seu tom foi seco e cheio de riqueza.

Seungmin teve a vontade quase instantânea de responder algo sarcástico —  como se pertencesse a alguém  — mas se conteve. Não era provedor da ocasião mesmo que quisesse um conflito aberto pela ousadia. Em vez disso, manteve uma máscara de cortesia que demorou anos para aperfeiçoar: olhos calmos e movimentos precisos. No entanto, uma observação o deixou inquieto; o ar se tornou mais denso, as palavras da alfa emparelhando como fumaça o fazendo lutar para continuar naturalmente normalmente.

— Halazia está sob minha jurisdição. — Christopher recostou na cadeira com um semblante calmo — Se isso acontecesse...  Hongjoong teria um grande problema comigo.  – havia uma ameaça clara em seu tom – Mas adoraria ouvir nomes, Dahyun. – ele garante com um sorriso sombrio.

Felix e Jisung trocaram um breve olhar.

— Ah, é? — a alfa riu abertamente — Só se você me convidar para assistir. — Dahyun piscou como um flerte.

A provocação caiu como faísca.

— Você é sempre mais que bem-vinda. — Christopher deu um sorriso.

A oferta tinha duplo sentido — amistosa e provocadora — e o salão explodiu em risos e olhares.

— Não me deixe fora da diversão. — Jeongin fez um beicinho dramático.

— Esse filhote. — o beta bufou, mas não passou despercebido o olhar carinhoso que ele lançou para o alfa mais novo.

— Qual é, Soobin hyung? — Jeongin fez um bico teatral com uma expressão infantil.

Isso fez todos na mesa sorrirem como se ele fosse uma criança arteira. Era uma estratégia antiga: provocar ternura para suavizar excessivamente. No canto oposto da mesa, Woobin pegou um copo feito da bandeja que Felix havia acabado de servir. 

— Ah, isso é bom. — o alfa olhou curioso para o copo — O que tem aqui neste drink? – a pergunta fez o loiro olhar surpreso.

— Não sei se devo contar meus segredos, senhor. — Félix piscou com falsa inocência.

O alfa que perguntara ficou meio hipnotizado, os olhos fixos no ômega como se a sua atitude pura fosse algo que quisesse corromper.

— Uh...  Eu gosto disso.  — o homem balbuciou seguindo Felix com o olhar.

- Eu quero experimentar. – Daehyun falou animada.

Hyunjin se mudou e serviu educadamente. A alfa levou o copo aos lábios, provada com a expressão se iluminando.

— Droga, se você me der a receita disso eu assino esse contrato agora. – Dahyun olhou empolgada.

Minho bufou, um som que continha diversão e tédio na mesma medida. Changbin, que observava do outro lado, desdenhou com ar de quem não se importa com promessas simples.
— Sabemos que você vai se apoiar de qualquer maneira. — Christopher provocou.

— Eu odeio vocês. — Dahyun resmungou fazendo um bico irritado, muito pouco convincente.

— Não, você não. — Jeongin respondeu com tristeza.

— Não sei por que eu ainda aguento vocês. – Soobin reclamou enquanto comia alguns petiscos – precisamos discutir as logísticas de entregas, prazos e rotas para os carregamentos. – sua voz se tornou séria.

— Tão chato. — Woobin bufou.

— precisamos garantir que as armas cheguem com discrição e pontualidade. – o beta falou secamente.

Seungmin trocou olhares rápidos com Jisung.

Hyunjin fez sua melhor expressão de quem não está ouvindo nada.

Felix não ousou fazer contato visual com ninguém.

— Tem algo que te preocupa, Soobin? – Minho estreitou os olhos.
— Confie na parceira de vocês. — o beta tamborilou os dedos na mesa parecendo incerto — Mas está ficando difícil enviar meus homens pela rota do sul...  Keum não está facilitando.  – sua hesitação era visível.

Changbin franziu a testa e se inclinou a assumir a responsabilidade que já era seu por direito.
— Já estou cuidando disso. — Changbin falou calmamente.

— Não é a primeira vez que ouço reclamações sobre Keum. – Minho cruzou os braços e dirigiu diretamente para Changbin com uma acusação velada.

— O bastardo está ficando arrogante. — Woobin olhou chateado.
— Não demore para resolver isso. — Christopher avisou.

— Perder janelas de passagem pode custar caro...  Você está sendo muito condescendente . – Minho estreitou os olhos — Resultados,  não desculpas.  — ele avisou.

Seungmin tentou reprimir o choque. Seus olhos correram pela mesa e encontraram, surpreendentemente, olhares amigáveis ​​— uma disfarce compartilhada por quem sabia jogar o jogo. Eles fingiam animosidade, tudo para provar a normalidade, legitimar negócios e esconder alianças.

O que para os de fora parecia convivência,  para eles era tática.

— Eu sei cuidar da minha área, hyung. — Changbin revirou os olhos lançando um olhar de falso desprezo para o Minho — Vou limpar a rota do sul. – prometeu.

— Estou curioso para saber o que Keum fez com vocês, Soobin? — Jeongin disse a Tom que buscava mais informações do que acusar.

— Está cobrando para usar os armazéns. — Soobin respirou fundo e abriu o jogo com cautela — E nas últimas cargas, vimos homens do Keita no deck. – o nome trouxe reações instantâneas.

A expressão de Changbin se tornou descrente, Christopher ficou sombriamente parado, Minho abriu a boca incrédulo e os olhos de Jeongin adquiriram alguns traços amarelados.

Hyunjin sabia que era melhor não saber quem é Keita.

Mas ficou curioso.

Continuaram trabalhando e fingindo que não estavam ouvindo nada.

— Você tem certeza disso? -Christopher Rosnou.

– Sim. — responderam os três presentes sem hesitar.

— Eu estava com recebimento de pergunta. – Dahyun admite – Eu mesmo vi Keita algumas vezes no deck, mas não sabia se era algum serviço. – um alfa olhou incerta.

— Eu tenho isso. — Changbin avisou — Vou resolver. – seu cheiro entregou sua escuta.

A reunião rapidamente se encaminhou para a parte prática. Papéis foram abertos, cláusulas discutidas em termos secos e financeiros. Os prazos foram estipulados: entregas em lotes bimestrais, rotas alternativas desenhadas pelo norte e pelo leste em caso de bloqueio no sul, pontos de encontro com equipes de cobertura e prazos de resposta para eventuais interferências. Havia também um sistema de códigos para avisos de risco — letras curtas transmitidas por mensageiros confiáveis ​​— e uma cláusula de compensação caso as cargas fossem perdidas: pagamento adiantado para reabastecimento imediato.

Woobin e Dahyun arrumaram a postura e ouviram com atenção; o tom de negócios substituiu qualquer sarcasmo restante. Dahyun, cuidadosa, fez perguntas sobre segurança das cargas e sobre quem manteria o controle das armas em terra firme. Changbin delineou uma equipe de confiança, homens prontos para interceptar e proteger, e prometeu ações rápidas contra Keum. Minho confirmou acordos com armazéns alternativos, contra pagamentos moderados, e Jeongin pediu cláusulas de sigilo mais rígidas — nada deveria vazar que ligasse suas casas às remessas. Assinaram, uma após a outra, as folhas com tinta preta, carimbos e selos discretos.

Quando os contratos foram passados ​​para assinatura final, um clima de tranquilidade percorreu a sala. As mãos que empunharam as canetas estavam seguras. Os papéis foram dobrados, guardados, e o som de uma caneta batendo na madeira foi o último som formal daquela noite. Os sorrisos retornaram, desta vez mais calmos.

— Tem certeza de que não vai me passar essa receita, gracinha? - Woobin olhou para Felix com um brilho de quem ainda queria, pousando o copo.

Todos sabiam que o alfa queria muito mais que uma bebida.

— Tenho certeza. — Felix não se intimidou — O senhor Bang pode não gostar que eu revele a receita de uma futura chantagem. – murmurou timidamente.

— Eu garanto que ele tem muitas formas de me convencer. — Woobin resmungou, mas o tom era de quem apreciava o jogo.

Christopher Riu satisfeito.

Os quatro ômegas trocaram olhares rápidos, já exaustos e ao mesmo tempo energizados: haviam sobrevivido à primeira noite em que o perigo e a promessa se cruzaram. Enquanto recolho as bandejas com cuidado, sabia que o trabalho não terminava ali — mas que, por ora, foi feito feito o que era preciso.

Não havia sido morto no processo.

E considerei isso um ótimo começo.

 

 

 

 

 

 

 

O crepitar das lâmpadas da sala de refeições ecoava baixo enquanto os últimos raios de luz do salão se apagavam. Os convidados já tinham partido há horas; a propriedade Bang, que instantes antes foi palco de risos, negócios abafados e copos tilintando, se mantinha agora num silêncio quase reverente.

Os líderes foram pensativos.

No entanto, para eles o trabalho nunca cessava: havia mesas a limpar, copos a empilhar, restos de canapés a instalar. Jisung, Hyunjin, Felix e Seungmin se moveram com a precisão de quem fez aquilo há tempo demais — dedos ágeis e rostos controlados —  fingindo que não estavam vendo e nem ouvindo absolutamente nada.

— Keita então? — Chris disse com a voz baixa, olhando para Changbin com algo que mais parecia preocupação do que curiosidade – Não gosto disso. – havia algo calculadomente estranho em seus olhos.

- Binnie, isso não é um bom sinal. – Minho alerta.

- Senhor, vou verificar pessoalmente o perímetro do deck. – Hyunwoo garantiu.

- Eu vou matar esse filho da puta. – Changbin rosnou de forma que Seungmin e Hyunjin saltaram levemente.

O tom foi tão sério e tão frio, que até o segundo ar pareceu gelar por um.

-Hyung. – Jeongin suspirou – Cautela. – o mais novo insistiu.

— Eu terei cautela... — Changbin sibilou com os dentes rangendo de ódio — Muita cautela enquanto arruma todos os seus dedos por sua ousadia e faço ele se arrepender de ter cruzado meu caminho. – seus olhos brilharam em um amarelo primitivo.

O silêncio se partiu como vidro.

Felix e Hyunjin estremeceram enquanto Jisung e Seungmin trocaram olhares vacilantes. Não por medo das palavras que ouviram — mas porque sabiam que Changbin não falava à toa. Sabiam do cada um ali era capaz depois de verem um homem ser torturado e morto sem hesitação, e a lembrança corroía o estômago de cada um. Felix, por instinto, fechou os olhos por um segundo com o corpo tenso. Era o tipo de promessa que não se cumpria apenas com retórica; Era um aviso real, eficaz e algo que não deixava dúvidas sobre o que ainda estaria por vir.

Jisung tinha quase certeza de que Minho podia ver o medo em sua postura, pois o alfa lançou um olhar moderado como se quisesse garantir que tudo estava bem.

Que ele não tinha o que se preocupar.

— Bom trabalho, esta noite, pessoal. — Christopher falou de repente olhando gentil — Excelente serviço. – ele elogiou.

— Sim, tudo foi ótimo. — Jeongin completou sorrindo de um jeito que o deixou diabolicamente fofo.

Hyunjin só conseguiu pensar que o mais novo o truqueia fácil com aquele sorriso gentil.

Mas ele sabia mais.

Sabia que Jeongin poderia ser tão cruel quanto aos mais velhos.

- Vocês realmente fizeram um bom trabalho. – Changbin especificamente.

- As bebidas e comidas foram ótimas e foi de excelente escolha o cardápio. – Minho recém-nascido.

Jisung e Seungmin trocaram olhares surpresos enquanto Hyunjin e Felix sentiram seus ômegas se agitando com os elogios. Se curvaram rapidamente e murmuraram um  “obrigado”  coletivo - sem entender direito se aquilo era cortesia ou uma valorização real do esforço de cada um.

Não estavam acostumados com esse tipo de validação e reconhecimento.

— O que tem nessa bebida? — Christopher perguntou curiosamente olhando admirado para o próprio copo.

Felix ficou surpreso enquanto seus amigos terminavam de ajeitar as bandejas vazias e recolheram os últimos guardanapos dobrados. Seungmin arqueou a sobrancelha levemente olhando na direção do loiro que deixou escapar um risinho contido se inclinando como se fosse revelar seu maior segredo.

- Não vou falar. – Felix retrucou, porém seu tom soava maliciosamente infantil e provocador.

Suas palavras fizeram as seguranças engasgarem por reflexo — Mingyu arregalou os olhos completamente perplexos com sua ousadia.

A expressão de Christopher ficou tão chocada que os quatro ômegas lutaram bravamente contra a explosão de risos. Félix não aguentou, cobriu a boca com a mão, tentando conter a gargalhada que escapou sem que conseguiusse se conter. Parecia que a inocência do gesto e a certeza da recusa desconcertaram o alfa, que não estava habituado a ser negado por ninguém.

- Eu contei. - Christopher insistiu arqueando uma sobrancelha e seus olhos brilharam em diversão e apreciação pela audácia do ômega.

— Não está no meu contrato, senhor. — Felix respondeu num tom que misturava desafio e polidez, empinando o nariz com humor, deu as costas e saiu da sala carregando as bandejas sem se intimidar.

Minho explodiu em gargalhadas enquanto Jeongin e Changbin olharam zumbiteiros para Christopher que abalaram o ômega o olhar descrente. O líder bufou levemente ao ver até as seguranças tentar conter o sorriso e manter a expressão apática.

Com isso, a limpeza terminou num ritmo mais leve. Bandejas foram empilhadas, mesas limpas, copos guardados. Os alfas conversavam entre si em tom baixo, trocando chá sobre horários, horários e remunerações, enquanto os ômegas corriam para os quartos dos funcionários para trocar de roupa — seu sob o uniforme não era uma opção e todos queriam se recompor antes de deixar a mansão.
— A próxima reunião será no final da semana. — Minho avisou seriamente encarando Jisung fixamente — Em minha casa...  Vai ser mais complicado.  – suas palavras o fizeram estremecer.

Trocaram olhares incertos.

— O que quer dizer com complicado? – Seungmin olhou para a defensiva.

— Haverá vários empresários. — Minho suspirou parecendo não estar feliz com aquilo — Algumas figuras importantes da cidade, vereadores e o secretário do prefeito ... precisamos de discrição e um serviço impecável.  – seus olhos reviraram.

Os quatro entenderam uma indireta.

Aquela era a transição do jogo para algo maior: se a primeira reunião testou lealdades e exibiu poder, a segunda envolveu interesses institucionais e dinheiro que movia a cidade. O risco cresceu —  e com ele a necessidade de perfeição logística.

Iriam ouvir coisas que não deveria saber.

— Você precisará de uma lista com a quantidade exata de pessoas. – Jisung respondeu sem se abalar – Se será servido o jantar, então precisamos saber se vamos em esquema buffet ou algo casual. – olhou com descaso e viu o sorriso do Minho.

Não iria demonstrar fraqueza.

- Algo casual. – Changbin respondeu secamente – Somos todos amigos. – o tom sarcástico não passou despercebido por ninguém.

Entenderam o recado.

Não teria amigos naquela reunião.

— Sábado? — Hyunjin disse já calculando mentalmente o número de travessas e a logística de cozinha.

– Sábado. — Jeongin acenou.

– Exato. — Christopher completou — Seis e meia para o serviço começar; às sete, os convidados ambos. – ele alerta.

Os quatro ômegas sentiram o peso das responsabilidades fundamentais sobre os ombros como uma capa. Era um passo mais perto da visibilidade — e um passo mais dentro do jogo que prometia segurança em troca de serviço.

 

 

 

 

 

Felix não sabia o que fazer com seus próprios sentimentos.

Durante três dias inteiros, a casa parecia outro mundo.
Nada de reuniões, nada de vozes alfas, nada de ordens sussurradas com cheiro de ameaça...  Nada de Halazia.  Só o som do vento entrando pelas janelas abertas, o cheiro doce de bolo no ar e as risadas que ecoavam sem medo.

Nunca houve tanto tempo ocioso desde que saiu do orfanato.

Foi o primeiro a acordar naquela manhã. Os cabelos desgrenhados, a blusa larga caindo de um ombro e os pés descalços andando pelo chão frio da cozinha. Ele bocejou alto, pegou uma frigideira e começou a procurar algo para fazer. Quando Jisung apareceu, sonolento e com uma camiseta de moletom que parecia engolir seu corpo, já estava cantando baixinho, inventando letras enquanto mexia na massa de panqueca.

Vê seu melhor amigo daquela forma, com piercing e tatuagens amostrais assim como ele, fez seu ômega se agitar em emoção.

Sem medo.

Livros.

— Isso é música nova? — Jisung disse se apoiando na bancada tentando ajeitar o cabelo emaranhado.

— É só uma música sobre liberdade. – brincou virando a panqueca com um movimento teatral — Sobre três dias em que ninguém manda na gente. – provocado.

— Então precisamos de um refrão — Hyunjin entrou com o rosto limpo e o humor leve — Algo tipo “ adeus Halazia, olá paraíso”?  — desdenhou abrindo a geladeira e pegando morangos.

Félix Rio Alto.
— Isso é horrível. – Seungmin apareceu por último ainda com um cobertor enrolado no corpo. — Mas é perfeito. — presentes felizes – Céus, eu não me lembro qual foi a última vez que dormi tanto. – ele cantando ronronando em satisfação — E sinto que posso dormir muito mais. — seu tom foi manhosamente sonolento.

A cozinha se enche de vozes e cheiros: morangos, café, massa quente. Riram, improvisaram versos e desafinaram juntos. Era assim quando podia respirar — cada gesto simples se tornava um ritual.

Nunca tiveram tempo livre.

- Sério, acho que esses três dias só comemos e dormimos. – Jisung falou abismado.

- Parece um sonho. – Hyunjin gemeu mordendo um pedaço de panqueca.

Todos concordaram.

- O que vamos fazer hoje? – Félix disse esperançoso.

- Podemos testar novas receitas. – Jisung sugeriu fazer o loiro se iluminar.

E foi o que aconteceu.

Depois do café, decidimos aproveitar a bagunça da cozinha e tentar fazer algo divertido. Tinham encontrado um velho livro de culinária entre os armários e resolveram tentar fazer doces que deixavam impossíveis: tortas de caramelo, bolos que desabavam no forno e biscoitos que ficaram duros demais. Jisung lia as instruções, Felix misturava os ingredientes, Hyunjin decorava e Seungmin era o crítico impiedoso.

— Isso aqui parece pedra. — Seungmin comentou conversando o biscoito na mesa – De quem você disse que era esse livro de receitas, Jiji? – Disse cético.

— Da minha vó...  Eu roubei antes de sair de casa.  – ele admitiu.

— Sua vó era uma péssima cozinheira. – Seungmin falou sem fazer todos engasgarem.
— É arte moderna, não entendeu? — Hyunjin respondeu com um sorriso debochado.
— Arte que quebra dente. — Jisung completou com um suspiro derrotado, e todos riram tanto que Felix teve que apoiar a testa na bancada.

Por alguns momentos, tudo parecia distante: o peso do Halazia, as memórias e o medo.

Ali, não lar que construíram o tempo passando diferente.

Durante a tarde, coloquei música na sala.

Hyunjin foi o primeiro a levantar, girando com a leveza de quem esqueceu por um instante tudo o que já precisou suportar. Felix o batida, rindo, tentando imitar os passos. Jisung se juntou depois, tropeçando de propósito só para fazê-los rir, e Seungmin, que fingia não querer participar, acabou sendo puxado pelo punho.

Dançaram até perder o fôlego.

Cantaram altos, desafinados e felizes.

Em algum ponto, a música ficou lenta, e eles continuaram ali, um encostado no outro,  só respirando.  Era raro ficar tão perto sem precisar se defender.

Havia algo silencioso entre eles — algo que não era amor romântico e nem desejo puro. Era uma necessidade antiga e humana, de se tocar e ser tocado sem medo.
Felix encostou a testa no ombro de Jisung. Hyunjin passou os dedos pelos cabelos de Seungmin, distraído e ninguém recuou.
Era tão calmo.

- Eu me sinto em paz. – Jisung suspirou beijando o ombro de Felix.

- Parece o paraíso. – Hyunjin admitiu – Não ter que viver para servir. – sua sussurrada foi cheia de palavras não ditas.

- Tendo um momento de lazer eu só consigo pensar na rotina caótica que vivemos por 5 anos. – Seungmin deixou um selar delicado na boca de Hyunjin – Passar madrugada no Halazia esperando o pior, chegar em casa e dormir o dia inteiro por esgotamento físico e mental, para acordar e repetir todo o processo. – falou desgostoso.

- Isso não é vida para ninguém. – Félix murmurou.

- Estar aqui, apenas relaxando com vocês é como um sonho. – Hyunjin se inclinou roçando o nariz no de Seungmin – Um sonho tão bom. – o encheu de beijinhos e prendeu o riso ao ver seu rosto tímido e ruborizado.

- Pare de provocar. – Seungmin reclamou.

Risonho, Félix se inclinou e beijou sua boca lentamente. Enroscou as mãos no cabelo do mais novo e aprofundou o beijo se deliciando pela forma que ele se derreteu sob seu toque.

Jisung suspirou quando Hyunjin o beijou com força.

Era apenas carência do momento.

O cio era algo que falava abertamente. Lidavam com a situação de forma cuidadosamente lógica. Nunca tinha feito nada entre si — não da forma que muitos imaginavam.  Da forma que alguns alfas pagariam para ver.  O que tinha era um pacto silencioso, uma escolha construída com amor e respeito.

Nos períodos de cio, eles ficavam juntos,  sempre.  Evitavam remédios fortes, evitavam ficar sozinhos e jamais recorriam a brinquedos ou estímulos que pudessem fazer com que a situação fosse resolvida.  Era regra.  Era uma maneira de autopreservação.

O cio em si, já era um inferno.

Haviam visto demais — ômegas que perdiam o controle, que se tornavam dependentes de um nó, que confundiam dor com necessidade. Eles tinham prometido nunca chegar lá.
Então, quando o cio se aproximava, eles apenas se cuidavam.
Se abraçavam, trocavam beijos lentos e ficavam juntos até o calor passar. Não houve pressa, nem vergonha ou recebimento. Era uma forma de se lembrar de que ainda eram donos de si.

O sol descia pintando lentamente a sala com uma luz dourada.

As sombras eram longas e o som das risadas se misturava ao farfalhar das cortinas.

Sabiam que aquele refúgio, os toques cheios de carinho e o afeto silencioso...

Era o que os mantinha inteiros.

 

 

 

 

 

 

O sábado começou de maneira calma com o sol aparecendo de maneira discreta. Jisung bocejou alto enquanto caminhava ao lado de Hyunjin entre os corredores do mercado. O mais velho estava de jaqueta e uma lista nas mãos olhando os valores dos produtos que colocavam na cesta.

Haviam deixado Felix e Seungmin dormindo e um bilhete na escrivaninha dizendo que tinham ido ao mercado.

Não queria que se assustassem ao acordar e os encontrasse.

— Olha o preço do macarrão. — Hyunjin falou indignado — Isso é um roubo. – bufou – Vamos logo que pela hora, daqui a pouco aqui vai estar cheio. – olhou ao redor.
— Você fala como se o mundo inteiro fosse comprar farinha às sete da manhã. – Jisung resmungou.
— Não aja como se você louco não estava para voltar para casa e dormir mais um pouco. – Hyunjin provocou.

Jisung fez beicinho sabendo que era verdade.

A reunião daquela noite foi marcada para as sete — uma das mais importantes até então — mas por enquanto, o dia era deles.
Tinham decidido assar um pouco: brownies, bolos e tortas.

Coisas simples, mas reconfortantes.

O mercado estava quase vazio quando chegou. O som distante das portas automáticas, o carrinho rangendo no piso brilhante, o frio leve vindo das garrafas refrigeradas. Hyunjin caminhou na frente, concentrado demais, analisando etiquetas como se estivesse em missão. Jisung, por outro lado, colocava coisas interrogadas no carrinho só para provocá-lo.

— Por que você escolheu três tipos de açúcar? – Hyunjin olhou incrédulo.
— Porque eu gosto de desafios. – Jisung Ronronou.
— E o que a calda de caramelo tem a ver com brownies? – o mais velho suspirou — Devíamos ter ido na loja de conveniência do senhor Choi, lá as coisas são mais baratas. — reclamou. 
Jisung acabou de lançar um olhar artístico rindo e recebeu um bufar exasperado, mas cheio de carinho.

O beta que atendeu no balcão sugeriu discretamente ao vê-los discutindo, mas eles não perceberam. Hyunjin tinha o hábito de balançar o pé enquanto esperava o troco, e Jisung, impaciente, já começava a mastigar um chiclete. Quando veio, o sol já estava mais forte, refletindo nas sacolas cheias.

Caminharam lado a lado, mas assim que colocaram os pés para fora do mercado, um homem entrou na frente dos dois.

Jisung deu um passo para trás.

— Ei...  Me desculpe.  - o tom fez os dois pararem de imediato – Desculpa o susto. – ele repetiu e sua voz era grave, mas estava tranquila.

O homem era alto, usava boné e máscara preta, as mãos enfiadas nos bolsos da jaqueta. Apesar da postura calma, havia algo estranho na forma como os olhos dele os observavam — um tipo de olhar intenso que os deixavam tensos.

Jisung e Hyunjin trocaram um olhar rápido, instintivamente ergueram os ombros, preparados para recuperar.
- Não podemos ajudar? – Hyunjin disse lançando um olhar por cima do ombro pronto para gritar as seguranças do mercado se fossem precisas.

O homem pareceu entender porque falou as mãos em rendição.

— Eu não queria incomodar ... Só queria perguntar uma coisa.  - ele coçou a nuca, parecendo envergonhado.

Hyunjin respirou fundo ou avaliando.

Notou a tatuagem discreta na mão do alfa — um escorpião desenhado em linhas finas, quase apagadas.

—Pode falar. — Jisung respondeu com cuidado.

O alfa hesitou, olhou em volta, como se tivesse estudado o ambiente.

— É que...  Vocês são ômegas, certo?  – ele se inclinou os deixando tensos.

Jisung franziu o cenho, mas respondeu com um aceno breve.

— Eu só preciso de uma indicação — o alfa olhou certo — Meu namorado está… hum, perto do cio. – seus olhos baixaram em timidez - E pediu pra eu comprar doces, mas disse para pegar os  “certos”.  – seu tom se tornou alarmado - Eu não faço ideia do que isso significa. – sua cabeça tombou para o lado - Existem doces certos? – disse com a voz exasperada.

A confissão saiu apressada e ele parecia genuinamente aflito.
Por um instante, Hyunjin e Jisung se entreolharam, o ar de tensão se desfazendo aos poucos.
— Uh…  Acho que ele quis dizer para você evitar os cítricos.  – Jisung respondeu gentilmente.
— Cítricos? – o desconhecido franziu o cenho.
— É. — Hyunjin deu de ombros — Frutas ácidas aumentam as cólicas durante o cio, então nada de limão, maracujá ou coisas assim. – alertou.

Os olhos do alfa se arregalaram.
— Eu não sabia que existia isso. — ele parecia genuinamente surpreso — E chocolate? É bom? – o pouco que consegui ver do seu rosto, mostrou o quanto estava pensativo.

— Chocolate é ótimo. — Jisung respondeu com um sorriso gentil — Doce de leite, bolos, coisas quentinhas e macias também ajudam o corpo a relaxar melhor. – o incentivou.

O alfa suspirou aliviado e deu um risinho.

— Vocês me salvaram. — ele olhou grato com um sorriso que quase dava pra ver mesmo sob a máscara — Eu não queria parecer um mau alfa que não entende do próprio parceiro. – o alfa resmungou envergonhado.

— É normal não saber de tudo. — Jisung deu de ombros — Só conversa com ele e tudo ficará bem. – falou gentilmente.

O homem assentiu visivelmente mais calmo.
— Até aí. — o desconhecido se curvou levemente — Alfas podem ser bem estúpidos, sabe? – ele cantarolou - Orgulho é um ponto fraco. – seu tom foi enigmático – E um alfa não deveria ter um ponto fraco. – sua voz é um pouco rude – agradeço a ajuda. – ele entrou no mercado os deixando na calçada.
Por um instante, Jisung e Hyunjin ficaram em silêncio, o vendo desaparecer entre as portas automáticas.

— Ok, isso foi muito estranho. — Jisung olhou surpreso.

– Sim. – Hyunjin franziu o cenho seguindo seu caminho ao lado do menor – Pelo menos ele parecia querer aprender e gostar seu ômega. – deu de ombros.

— Poucos fazem isso. – Jisung selecionados.

A volta para casa foi tranquila.

O vento batia leve, e as ruas começavam a se encher de gente. Quando chegou ao prédio, o porteiro Youngbin, um ômega de sorriso fácil, os cumprimentou do balcão.

— Trouxeram o mercado inteiro, pelo visto. — ele provocou.
— Quase. — Hyunjin respondeu rindo. — A gente vai cozinhar para se divertir. - confabuloso.

— Só não comecem a cantar ou colocar música alta. – Youngbin choromingou – Não quero permissão do Sejin novamente. – ele implorou.

— Sejin é um chato. – Jisung resmungou sobre o vizinho implicante que sempre reclamava de qualquer barulho.

– Sim. — Youngbin pegou e levou a mão a boca corando ao perceber o que falou.

Hyunjin e Jisung gargalharam acenando antes de subir as escadas.

Assim que abriram a porta deram de cara com Felix sonolento sentado no sofá olhando para o nada como se estivesse esperando sua alma voltar para o corpo. Hyunjin deu um risco e foi para a cozinha colocando as sacolas sobre uma bancada, e Jisung começou a descarregar os ingredientes com eficiência.

Seungmin estava igualmente com uma expressão de sono enquanto fazia um suco para o desjejum.

— Eu quero fazer brownie hoje. — Felix bocejou entrando na cozinha e se sentando à mesa.

— O que você quiser. – Hyunjin beijou seus cabelos carinhosamente ganhando um ronronar feliz.

— Algo diferente aconteceu hoje no mercado. – Jisung falou.

-O que? – Seungmin estreitou os olhos.

— Um alfa nos abordou perguntas sobre doces para o ômega dele que está no cio. – Hyunjin riu.

— Que tipo de doce comprar. – Jisung bufou – Parece que o ômega pediu para ele levar os doces certos e ele não entendeu e ficou com vergonha de perguntar. – explicado.
— É raro ver alguém assumir que não sabe de algo, ainda mais um alfa. – Seungmin olhou desdenhoso.
— Raro, bom. — Hyunjin respondeu separando os ingredientes do brownie — Será que um dia encontraremos uma alfa assim? – a pergunta fez os quatro trocarem olhares melancólicos e divertidos.

Não me considere.

Pensaram no jantar daquela noite.

— Não podemos ficar tendo esse tipo de ilusão. – Seungmin bufou – Não estamos em um conto de fadas. – olhou cético.

— Vamos nos contentar com essa calmaria que já é muito. – Hyunjin especificamente.

— Temos uns aos outros, tempo livre e brownies. – Jisung bocejou – O que mais pensamos querer? – provocado.

Os quatro trocaram risinhos e olhares cumplices.

E, por enquanto, tudo estava em paz.

 

 

 

 

 

 

A ar da cozinha estava quente, densa e cheia de cheiro doce —  o tipo de calor familiar que deixava seu ômega ronronando de conforto.

Felix abriu o forno com cuidado. 

Uma nuvem de vapor quente escapou quando ele retirou as bandejas, apoiando sobre o balcão de mármore. O aroma de chocolate, manteiga e pão fresco é fornecido imediatamente pelo ambiente.

— Parece bom. — murmurou orgulhoso enquanto Hyunjin espiava por cima do seu ombro.

— O cheiro está ótimo. — Hyunjin beijou sua bochecha — Jiji e a Minnie apagaram no sofá. – divertido falou – Devo acordar eles? – Disse baixo.

Felix negou com a cabeça.

— Ainda temos duas horas até a reunião. — o loiro levemente — Os deixe dormir mais um pouco. — pediu.

— Mas eles precisam fazer a maquiagem, cobrir as tatuagens e tirar os piercings. — Hyunjin olhou cético.

— Já tomamos banho e colocamos os bloqueadores,  vai da tempo.  — Félix deu de ombros.

Os dois espiaram pela bancada, Seungmin e Jisung estavam afundados nas almofadas, completamente apagados, os cabelos bagunçados e respiração calma. Felix deixou escapar um riso leve.
— Após que nem um terremoto consegue acordar esses dois. — Hyunjin provocou fazendo o menor olhar zombeteiro.

Felix manteve o olhar nos dois por um momento. Era raro vê-los assim, tranquilos, sem o peso do medo ou das obrigações. Naquela casa, nos raros momentos de descanso, pudemos fingir que eram apenas jovens comuns — não ômegas tentando sobreviver num mundo que esperava docilidade e obediência.

— Você quer comer antes de se arrumar? – Félix disse gentilmente.

— Essa é a parte mais chata. – Hyunjin esticou a língua expondo seu piercing.

Os piercings foram os primeiros a sair.

Nenhum deles os usou durante o trabalho; sabiam o quanto podiam chamar atenção de alfas. Era uma regra silenciosa entre eles. Todos tinham o mesmo segredo metálico —  no mamilo.  Jisung e Felix ainda escondiam as pequenas bolinhas no umbigo. Seungmin e Hyunjin, os de língua. Coisas que, entre elas, representavam apenas liberdade e escolha.

Cada um escolheu suas próprias tatuagens em um ímpeto de ousadia selvagem.

Ninguém poderia tirar isso deles.

Mas a coisa mais importante era a que compartilhamos: um ramo de camélia. Cada um tinha o desenho em uma parte diferente do corpo — Felix atrás da orelha, Hyunjin na clavícula, Seungmin no antebraço e Jisung na nuca.
Símbolo de lealdade.

De um laço inquebrável.
De que, mesmo que o mundo tentasse separá-los, permaneceriam unidos.

O som da campainha ecoou alto quebrando o momento.

— Ué... Quem é? — Felix piscou confuso.

— Com certeza o Youngbin. – Hyunjin revirou os olhos.

— Sejin é um pé no saco. — Félix olhou em entendimento — Mas a gente nem fez barulho dessa vez. — resmungou limpando as mãos no pano de prato — Se for ele reclamando, eu juro que vou xingá-lo. — avisou enquanto caminhava até a porta. —  Youngbinnie, nós nem fizemos barulho....

A frase morreu na garganta.

Félix parou.
Os olhos se arregalaram em choque.

O ficou pesado.
Hyunjin, notando o silêncio abrupto, se moveu devagar, mas parou ao ver o que havia do outro lado. 

Felix estava congelado. Piscou incrédulo ao ver os quatro líderes parados em sua porta sendo seguidos pelas suas quatro seguranças.

Christopher olhou para seu pescoço quase decepcionado ao ver o adesivo, como se desejasse o pegar desprevenido.

— S-Senhor Bang? — gaguejou vendo os olhos do alfa percorrerem seu corpo, então só lembrei que estava de cropped com seu piercing no umbigo a mostrar, e o início de sua tatuagem de rosa negra com um punhal no seu baixo ventre ficou visível.

Os olhos do alfa escureceram o fazendo tremer levemente.

Tudo o que consegui fazer  foi abrir espaço para eles entrarem.

Hyunjin deixou a boca cair aberta em choque, sentindo o rosto arder em vergonha ao ver o olhar de Jeongin deslizar por seu corpo - estava vestindo apenas uma camiseta larga que cobria muito mal suas coxas deixando amostra sua tatuagem na parte interna -  a máscara de kitsune envolta em atraentes que flutuavam em sua pele.

- Alfas são proibidos no prédio. – Hyunjin falou inutilmente.

- Bem, o ômega porteiro foi gentil em nos deixar conversar por um momento. – Christopher respondeu com um sorriso nada gentil.

Ficou com o feito de Youngbin que claramente foi intimidado e aterrorizado.

Se disse que estaria morto naquele momento e começou a pensar o que poderia ter feito de errado.

Felix comentou Changbin e Minho olhando fixamente para o sofá. Praguejou internamente. Seungmin estava apenas de shorts, podia ver a tatuagem de uma serpente rosa enrolada em flores nas suas costas e Jisung estava com um pijama de esquilo, podia ver o piercing em seu umbigo, sua bochecha amassada contra o peitoral do mais novo e podia ver claramente o início da constelação tatuada que pegava da lateral da sua coxa até sua cintura.
— Minnie, Jiji... — Hyunjin se moveu dos dois no sofá os balançando levemente — Temos visita. — chamou com a voz suave.

Jisung resmungou, se aninhando mais perto de Seungmin que apenas fez um som baixinho como um lamento sonolento.

— Minnie, Jiji...  Acordem... Temos visita. —  tentei novamente.

— Visita? — Jisung enviou sonolento e Seungmin afastado do corpo ainda de olhos fechados.

Hyunjin exalou quando os olhos de Changbin ficaram amarelos olhando descaradamente o piercing no mamilo de Seungmin.

O mais novo franziu o cenho farejando ao mesmo tempo que Jisung esbugalhou os olhos ao sentir o cheiro de carvalho e mel.

— Ah, o quê? Estamos atrasados? — Jisung praticamente saltou do sofá — O que está fazendo aqui? — ele disse alarmado — Alfas não podem entrar no prédio. — sua expressão se tornou chocada.

Seungmin entrou em estado de alerta, os dois tocaram no pescoço ao mesmo tempo e respiraram aliviados ao ver que estavam com adesivos de bloqueadores de cheiro.

— Desculpe sua invasão de privacidade. — Minho olhou Jisung de maneira tão intensa que sentiu seu ômega se agitar com a atenção — Mas garanto que não faríamos isso sem um bom motivo. — seu tom foi calmo.

— Aconteceu alguma coisa? — Seungmin deixou uma almofada protegendo o peitoral.

— Chegou à informação que um alfa abordou vocês dois na saída do mercado. - Christopher falou seriamente.

Hyunjin e Jisung engasgaram.

— Vocês estão nos seguindo? — Félix abriu a boca chocada.

— Seguindo não. — Jeongin transmissão de forma enigmática — Cuidando. - ele garantiu.

Os quatro olharam duvidosos.

— Era apenas um alfa pedindo informações de que tipo de doce comprar para seu ômega no cio. — Jisung murmurou.

— Se eu mostrar uma foto para vocês,  acha que pode reconhecê-lo?  — Jeongin disse calmamente.

— Ele estava de boné e máscara, não conseguiria descrevê-lo. — Hyunjin admite.

— Jagi, você consegue lembrar exatamente o que ele falou? — Minho disse para Jisung e as seguranças olharam quase ansiosamente.

Jisung odiou a forma como seu ômega se derreteu ao ser chamado de Jagi.

— Ele disse se éramos ômegas e falou que seu companheiro pediu para que comprasse doces para o cio, mas que deveria ser o certo e ele não sabia qual e estava com medo de parecer um mau alfa. — Jisung explicou sabendo que seu rosto estava ruborizado.

— Certo? — Changbin olhou confuso.

— Foi o que explicamos a ele... — Jisung murmurou secamente sabendo que nenhum deles poderia entender — Doces cítricos e com frutas, pioram as cólicas. – podia ver que ninguém tinha essa informação pela forma que surpreendes — Ele disse se chocolate era bom e dissemos que sim... Chocolate, doce de leite e bolos...  Essas coisas.  – olhei chateado vendo que eles eram divertidos com sua confiança.

Eles obviamente não precisam se preocupar com cuidados a nenhum ômega.

Inteligentes, mas desinteressados.

— Hum... Verdade. — Mark pareceu ponderar — Uma vez levei mousse de maracujá para o Hyuckie e ele me expulsou de quarto dizendo que eu não sabia de nada. — a segurança permitida. 

— Ele desviou ter jogado o mousse na sua cabeça. — Seungmin falou chateado fazendo a segurança olhar envergonhado.

— Só isso? — Christopher arqueou a sobrancelha.

— Ele agradeceu e disse que não queria parecer estúpido. — Hyunjin completou — A gente só falou para ele conversar com o ômega dele, nada mais. – parecia errado.

Changbin e Minho trocaram olhares parecendo reflexivos.

O silêncio se prolongou os deixando ansiosos.

— Foi só isso, boneca? Algum detalhe? Mais alguma coisa dita? — Jeongin disse se inclinando com um sorriso tênue.

Hyunjin piscou desconcertado pelo Tom.
— Bem... — Hyunjin murmurou desviando o olhar timidamente pelo apelido — Não sei se é relevante, mas ele disse que alfas podem ser estúpidos e que orgulho é um ponto fraco e que alfas não deveriam ter pontos fracos. — a atmosfera mudou no mesmo instante e ficou tensa ao ver os quatro alfas trocarem olhares irritados.
As seguranças bufaram parecendo descrentes.

- Uh? Isso é ruim? — Jisung disse com os olhos grandes e preocupados — Ele é ruim? – estremeceu ao pensar que estava em perigo.

— Existe algo que você lembre mais? — Changbin questionou com calma tombando a cabeça para o lado e olhando de forma cética.

— Oh... — Hyunjin piscou rápido como se algo tivesse acabado de ser descartado em sua mente. — Ele tinha uma tatuagem de escorpião na mão, entre o que parece e o indicador...  É tudo que lembro.  – prometeu.

O silêncio que se agita pareceu pesar sobre todos.

Christopher olhou na direção de Jeongin e piscou o fazendo revisar os olhos.

— Filho da puta ousado. — Changbin rosnou parecendo estranhamente divertido.

Félix deu um pequeno salto no lugar, o coração disparando com o som grave.

— Estamos em perigo? — Jisung murmurou olhando errado.

Não consigo decifrar o ambiente.

— Não, querido. — Minho respondeu com dúvidas, mas ele sabia o quanto o alfa poderia ser letal e ainda assim acreditou nele.

— Mas por hoje, por que não se trocam e vão conosco para a mansão? — Jeongin sugeriu se endireitando, as mãos nos bolsos da calça social e um olhar calculado.

— Uh...  Tudo bem.  — Seungmin hesitou olhando para os outros buscando aprovação silenciosa.

— Vocês podem sentar. — Jisung avisou se manifestou apressado indo em direção ao quarto e indicado para o sofá, mesmo sabendo que não caberiam oito alfas ali.

O gesto saiu mais por educação do que por lógica.

Seungmin e Hyunjin seguiriam.

Felix aproveitou o momento para escapar até a cozinha e retornou segundos depois com uma bandeja cheia de brownies, pedaços de torta e pequenos pães dourados. Puxou a mesa de centro e colocou tudo com cuidado, sorrindo tímido.

— Comam algo enquanto a gente se troca, não vamos demorar. — murmurou incentivando com uma voz suave, quase envergonhada.

Kang Baekho, que permaneceu próximo à parede, olhou primeiro para Felix, depois para Christopher, como quem pediu permissão para falar.

— Senhor, ah...  Não sei.  – a segurança estreitau os olhos.

— O senhor não gosta de brownies? Posso pegar outra coisa? — Felix piscou confuso.

— Ele acha que você pode me envenenar. — Christopher parecia divertido.

Felix engajou-se tão rápido que desenvolveu.

— As pessoas mantiveram a confiança de vocês? — Disse genuinamente alarmado.

Os líderes caíram na gargalhada, o som grave enchendo a sala.

— Você pode se surpreender, princesa. — Christopher respondeu, ainda rindo, e se recostou preguiçosamente no sofá.

Felix olhou para o brownie na bandeja, depois para ele.

— Eu devo comer um pedaço antes, como prova? — Disse certo.

Mingyu ao lado deu um risinho exasperado.

— Se tiver veneno, você pode saber onde morder para não morrer. – Hyunwoo olhou ameaçador, mas estranhamente seus olhos brilhavam em diversão.

— Verdade... — Felix arregalou os olhos vistos — Faz sentido. – ficou surpreso com a perspicácia ao mesmo que se perguntou quantas pessoas já desejavam fazer aquilo.

Se envergonhou com uma expressão divertida.

Queria se defender alegando que nunca esteve tão perto de pessoas perigosas, porém pensei que poderia ser ofensivo.

Não queria ser morto.

— Não tem veneno no meu brownie, senhor Bang, eu prometo. — afirmou com um ar quase solene, como se estivesse jurando fidelidade.

— E se você tivesse me contado, princesa? – Christopher se inclinou a encarar com um sorriso de canto.

Felix piscou algumas vezes, o rosto lentamente perdendo a verdade.

Olho para o chão.

— Então não coma. — murmurou perdendo a paciência — Bom que sobra mais. – não consegui conter o bico desgostoso e o tom ofendido.

Se virou de costas e consequências para o quarto.

Por um segundo, o silêncio caiu sobre a sala.

E então o som abafado de risadas.

Seu ômega quis voltar e rosnar indignado.

Mas sabia que para eles, iria parecer apenas um gato tentando ser um tigre.

A última coisa que viu foi uma expressão de choque e diversão das seguranças, mas se teve olhado para Christopher veria seus olhos escurecidos com a sombra de um sorriso no canto dos lábios e a mistura perigosa de curiosidade e fascínio.

 

 

 

 

 

 

 

A propriedade de Lee Minho se erguia ao longo, tão grande quanto a do próprio Christopher Bang, com colunas altas e janelas de vidro que refletiam como nuvens. Ao entrarem, o cheiro de madeira polida e flores frescas os envolve.

Nos quartos de hóspedes, cada um se trocou, guardando as roupas de viagem. Jisung revisou os últimos detalhes com Hyunjin, separando bebidas, sucos e pequenas garrafas de vinho. Felix arrumava os guardanapos e os talheres sobre uma longa mesa enquanto Seungmin ajeitava travessas e carrinhos de apoio. O som das conversas começava a se espalhar conforme os convidados chegavam.

Haviam saído as pressas depois de tirarem os piercings e cobrirem as tatuagens com maquiagem, ajustaram as roupas simples — discretas, o suficiente para passar despercebidos. Felix havia direcionado um olhar sarcástico e descrente ao ver as bandejas quase vazias subterrâneas que os alfas tinham se servidos de seus brownies, pões e tortas...  E aparentemente gostado.  Saíram do prédio lançando um longo olhar de desculpas a Youngbin que ainda estava paralisado em sua cadeira completamente intimidado pelos alfas. Seu porteiro os encarou como se estivesse indo para a morte iminente.

Não o juriam.

Se sentiam assim.

Não sabia exatamente o que estava acontecendo, apenas seguiram o fluxo até chegar à mansão do senhor Lee. Para Jisung a sensação era de estar preso em um sonho muito estranho, mas de fato, os líderes da máfia estavam em sua casa há duas horas e agora ele estava na posse de um deles.

Pensei que estava enlouquecendo.

Quando tudo estava pronto, a sala principal parecia um salão de jantar digno de uma noite diplomática. As seguranças permanentes de pé atentos, próximas às portas. A mesa longa acomodava os sublíderes e parceiros — seis alfas, três ômegas e duas betas, cada um com postura impecável e olhos observadores.

As vozes se misturavam em um burburinho leve e respeitoso. Garrafas tilintavam, copos se enchiam e o aroma das refeições quentes enchia o ar.

— Está maravilhoso, Minho. — uma alfa comentou educadamente, cortando um pedaço de carne com cuidado — Você sempre supera as expectativas. — ela cantando parecendo feliz.

– Concórdia. — um ômega respondeu animadamente — Essa marinada...  É outro nível.  — ele quase ronronou em satisfação.

— Meu restaurante favorito. — Minho respondeu satisfeito — Fico feliz que tenha gostado...  E pare de mim bajular, Jihyo... Tem conversado com a Seulgi?  — ele desdenhou para alfa que gargalhou — Nenhuma das duas vai me amarrar. – a mesa explodiu em risinhos — Mas o seu elogio eu aceito, Joochan. — o ômega corou dando uma risadinha tímida.

Jisung reprimiu a careta e a forma que seu ômega queria rosnar com o flerte.

— E o hospital, Sungjun? — uma beta se inclinou na mesa olhando na direção de um alfa — Soube que você se tornou diretor...  Parabéns.  — ela comentou curiosamente fazendo todos olharem na direção do homem.

— Obrigado, Seola. – o alfa suavizou o olhar para a beta — Trabalhos intensos. — o alfa de terno cinza acenou ajeitando os óculos se recostando na cadeira — Estamos contratando uma nova equipe cirúrgica...  Dois especialistas vieram de Busan, mas o processo de integração é lento.  — ele suspirou parecendo estar cansado — Ainda assim, as projeções são boas. — seu sorriso se tornou discreto.

— Ser diretor não parece fácil. — Changbin comentou, mas não parecia realmente interessado.

– Sim. — Sungjun assentiu — É um desafio, mas não posso reclamar...  Inclusive obrigado pela ajuda.  — o alfa olhou quase solene na direção de Changbin que apenas deu de ombros.

— Fale com ajuda, Chris...  Devo dizer que estou impressionado.  – a segunda beta da mesa olhou o líder com uma expressão de interesse e contentamento — Entregar o projeto antes do prazo...  Impressionante... Estou ansioso para fazermos mais negócios juntos.  — sua postura era tão elegante que fez Hyunjin se encolher levemente enquanto servia.

Seungmin e Felix trocaram olhares breves.

Começaram a perceber que já tinham ouvido a maioria desses nomes, conhecidos como figuras importantes da cidade.

ouviram boatos.

Sabiam segredos hediondos de alguns deles mesmo sem nunca ter visto.

Pessoas bêbadas falam demais.

Principalmente o que não se desvia.

Conversas obscuras, bêbados raivosos e frustrados...  Nada passando desesperado aos seus ouvidos dentro do Halazia.

— Fico feliz que tudo tenha dado certo, Meiqi. — Christopher respondeu calmo e diplomático como sempre — Você é mais que bem-vinda. — ele garantiu e a garota corou timidamente.

Felix travou contra a careta com a diversão nos olhos do alfa como se soubesse o efeito que causava nas pessoas.

— Trabalhar com vocês é sempre eficiente. — Seola deu de ombros enquanto erguia o copo para Hyunjin encher com mais bebida.

— Ah, e o prefeito Kang pediu para agradecer pessoalmente, senhor Lee. — Meiqi olhou para o Minho como se finalmente lembrasse de repassar o recado — Ele lamentou não poder comparecer hoje, é aniversário de casamento com seu ômega, e, bem, achou melhor não arriscar a paz doméstica. — ela brincou.

— Ele fez bem. — Minho traição — Mande meus cumprimentos a ambos. — seu tom educado a fez sorrir.

– Ei, Yeonkyu. — uma alfa chamou outro alfa do lado oposto da mesa o fazendo olhar curioso — É verdade o barco de que vai acasalar com a herdeira dos Oh? — sua pergunta fez metade da mesa engasgar e a outra gargalhar.

— Onde você ouviu isso, Jine? — ele fez careta — Eu acasalar? Só quando o Binnie sossegar. — Yeonkyu arqueou as sobrancelhas.

— Vai morrer solteiro, então. — Changbin bufou alto.

— Vamos envelhecer juntos, amigo. — Yeonkyu proporciona uma taça com um olhar provocador.

— Eu posso apostar em Eunseo e Jeongin, então? — um alfa riu apoiando o queixo na mão.

O ar pareceu mudar de tom por um segundo.

Hyunjin, que servia vinho nas taças, parou o movimento por um instante, olhando atentamente. Os olhares estavam em um ômega que corou imediatamente desviando o olhar.

— Qual é Dowoon hyung, pare de provocar a noona. — Jeongin reclamou.

— A noona não deixaria a promotoria para ser esposa troféu do pirralho. — Minho deu uma risadinha olhando debochado para o líder mais novo.

— Ei, hyung! — Jeongin fez beicinho fingindo ofensa — A noona me acha fofo. – o alfa piscou alegria na direção da ômega que ficou mais vermelha.

— Olha esse pirralho fofo. — um alfa olhou descrente.

— Eu sou fofo, Jaehyun hyung. — Jeongin fez beicinho.

— Você não é fofo. – um terceiro ômega bufou.

— Assim você quebra meu coração, Dain hyung. — Jeongin sorri nada ofendido.

— Não sejam bobos, Jeongin é um bebê. — Eunseo pigarreou, mas havia um carinho quase esperançoso em sua expressão.

Como se esperasse que o alfa dissesse que não importava com ela sendo mais velha.

— Até você, noona? — Jeongin fez uma careta fofa se inclinando na direção dela e deu um sorriso travesso.

Eunseo tossiu parecendo desconcertada.

Felix observou a cena enquanto servia um copo de suco a Dain.

Achou cruel — usar um ômega de prestígio por diversão política, o mesmo que em tom de brincadeira. Principalmente sendo óbvio para cada um ali, que havia algum sentimento da mulher pelo alfa mais novo.

Os convidados conversavam em toneladas contidas, risos ocasionais quebrando ou ar pesado de formalidade.
— Estou mais curioso para saber por que você marcou esse jantar, Lino. — Jihyo girou uma taça na mão o observando curiosamente com um meio sorriso.
— Não posso sentir falta dos velhos amigos? — Minho provocou com um brilho zombeteiro dançando em seus olhos escuros, seu tom leve que não enganava ninguém.

— Você e Changbin, na mesma mesa, sem se matar?  Não eu mesmo.  — Yeonkyu debochou cruzando os braços e balançando a cabeça — Aposto um jantar inteiro que um de vocês vai sair dessa sala ferida. – ele avisou fazendo todos rirem.

Changbin fingiu uma careta.

Seungmin ficou curioso. Foi impressionante ver o quanto as pessoas realmente acreditavam que Minho e Changbin eram rivais. Por fora, mantinham a encenação impecável — provocações, olhares de desprezo e respostas ácidas, mas para quem conhecia os bastidores, tudo não passando de uma dança calculada.

— Ei, é ele quem começa. — Changbin resmungou apontando para Minho com um garfo. — Sempre o dono da razão. – havia um desprezo em sua expressão.

Sabiam que era falso.

Assim como tudo ali.

Aquela mesa inteira parecia um grande teatro: alianças forjadas, sorrisos falsos e acordos invisíveis.

“Tudo aqui é uma mentira”  Félix pensou enquanto colocava mais um prato de sobre a mesa.

— Eu só comento fatos, Binnie. - Minho deu um sorriso torto falando seu nome com desdém — Se você incomoda, talvez deva compensar suas ações. — sua expressão se tornou fria.

— Não comecem. – Christopher anunciou fazendo os outros rirem.

Como se ele sempre fosse responsável por apaziguar as falsas brigas.

Changbin abriu a boca para retrucar, mas foi interrompido pelo som seco da porta se abrindo. De imediato, duas seguranças levaram a mão às armas com os músculos tensionados.

Minho franziu o cenho se virando devagar.

— Senhor, sinto muito. — Yora, a governanta entrou um pouco esbaforida —  Eu avisei que estavam em um jantar particular, mas...

— Olá senhor Lee. — a voz cortada a senhora de idade de forma rude. 

Jisung arregalou os olhos quando conheceu quem vinha logo atrás.
Um homem de terno escuro e postura imponente, seguido por uma mulher e três policiais uniformizados.

Chefe da polícia Lee Sangyeon.

Jisung olhou rapidamente para Seungmin.

Sangyeon aparecia algumas vezes no bordel para conversar com Hongjoong. Jisung sabia de coisas que não deveria saber e se encolheu evitando a situação saindo do controle.

Minho oferece imóvel, apenas se recostando na mesa com uma calma ensaiada.
O ar pareceu ficar mais denso.

O som de talheres cessou.
— Ei, Sangyeon, isso é um pouco rude, não acha? Invadir uma reunião sem convite? — Dowoon arqueou as sobrancelhas divertidas.

Felix se mexeu nervosamente evitando o caos.

Mas ninguém ali parecia realmente preocupado pela presença da polícia.

Pareciam todos se sentirem acima da lei.

Estranhamente, Hyunjin  teve a certeza de que estava.

— Tenho perguntas para o senhor Lee. — o chefe de polícia parou diante da mesa com as mãos cruzadas atrás das costas olhando friamente para o Minho.

— Acho que estou um pouco ocupado no momento, senhor chefe de polícia. — Minho inclinou a cabeça com um sorriso calmo, mesmo que o desdém em sua voz fosse quase palpável.

— Que pena. — Sangyeon extrai um canto da boca.

O silêncio que se acalmou foi desconfortável.

Minho suspirou, como se a presença do outro fosse um incômodo trivial. Atrás de Sangyeon, os policiais se alinharam, observando cada rosto ao redor da mesa.

— Atrapalho sua reunião importante? — Nayoung perguntou ao tom provocador — Qual é a pauta? Armas? Drogas? Prostitutas?– uma inspetora ômega da polícia desdenhou.

Jisung se sentiu estranhamente irritado.

Houve uma história horrível sobre aquela mulher. Meses atrás tinha um alfa específico e bêbado no Halazia furioso com ela.

A encarou dos pés a cabeça atentamente sentindo seu ômega rosnar com uma provocação.

— Não sei do que está falando, senhorita Kim. — Minho respondeu com uma lesão perigosa — Somos apenas velhos amigos se reencontrando. – ele piscou.

— Você é igual ao seu pai. — Sangyeon deu um passo à frente.

Por um instante, ou pareceu vibrar. O cheiro do Minho estava estável — neutro e controlado — mas seus olhos escureceram visivelmente. Changbin, sentado próximo, moveu uma taça sem beber. Alguns dos presentes estreitaram os olhos, enquanto outros observaram a cena com um toque de diversão cínica.

— Estou tentando decidir se isso foi um elogio ou uma ofensa. — Minho murmurou com a voz baixa, quase um ronronar.

— Onde você estava na noite de ontem? — Sangyeon apoiou as mãos na mesa se inclinando gradualmente.

— Eu preciso do meu advogado para responder? — Minho arqueou uma sobrancelha.

— Onde estava ontem, senhor Lee? — Sangyeon repetiu agora com a voz mais dura —  Não tenho tempo para a sua vida medíocre de mafioso e...

— O senhor está na lista de convidados? — Jisung disse sem conseguir se conter.

Todos se voltaram para ele, surpresos.

Felix parecia chocado, Hyunjin e Seungmin alarmados.

Jisung não conseguiu controlar o próprio ômega.

— O quê? — Sangyeon piscou confuso se virando para encará-lo.

O chefe de polícia o olhou dos pés a cabeça o confirmando.

— Eu perguntei se o senhor está na lista de convidados. — Jisung manteve o olhar firme.

Minho olhou divertido com um sorriso discreto adornando seus lábios.

O chefe da polícia o encarou cheio de desprezo.
— Prostitutas falam quando são autorizadas, não aprenderam sobre isso no Halazia? — Sangyeon disparou com o tom carregado de veneno.

O som coletivo de ofegos preencheu a sala.

O sorriso do Minho desapareceu completamente.
— Você entra na minha casa e ousa ofender o meu funcionário? — Minho se curvou ameaçadoramente e fúria cintilou em seus olhos.

Sangyeon o encarou, mas um arrepio percorreu até mesmo os alfas presentes. O cheiro de autoridade e ameaça se misturaram ao ar. Hyunjin ficou tenso e discretamente se posicionou ao lado de Jisung com os olhos faiscando de ódio.

Jisung se sentiu humilhado, mas não recuou.

— Senhor Lee. — Christopher olhou para o chefe da polícia com calma — Talvez devesse escolher as melhores palavras. – ele aconselhou.

—  Não preciso de lições de moral de um bando de...

— Cuidado com o que diz. — Minho anunciau — Porque o próximo que sai da sua boca pode ser o último dentro da minha propriedade. – alertou sem máscaras.

Jisung se sentiu alarmado no mesmo nível que tocado pela defesa.

—Kim Nayoung, certo? — Jisung pediu para evitar a situação.

A mulher contém o olhar, o batom vermelho elegante contrastando sua expressão de desprezo. Ela parecia imponente e autoritária. Ainda uma linda ômega que certamente faria os homens virarem a cabeça ao passar.
— Você não ouviu que prostitutas só quando falam são autorizadas? — Nayoung rosnou com voz compartilhada de desprezo.

Ela o sugeriu com nojo.

Como se Jisung fosse o pior tipo de escória.

Um silêncio gélido caiu sobre a mesa. Felix estremeceu, Hyunjin cerrou os punhos e Seungmin teve que segurar seu braço para o mais velho não atacar, mas Jisung apenas respirou fundo, como quem segurava o próprio instinto. Até mesmo as mulheres da mesa olharam com satisfação da ousadia.

— Ora... — Jisung falou baixo e suave — Eu só queria avisar que seu batom está borrado, senhorita. — deu de ombros um pouco cínico — Também gostaria de parabenizá-la. — adicionado com um breve curvar — Ouvi dizer que você foi a ômega promovida mais rápida na história da polícia. — Sangyeon o olhou confuso, sem entender o seu jogo e Nayoung manteve o queixo erguido — E, como uma ômega inteligente que sei que é... — ronronou — Deve saber que entrar na casa de alguém sem mandato, cobrando respostas e fazendo acusações, pode ser confundido com abuso de poder. — seu tom foi solene e quase educado demais, por isso soou como uma faca.

Ainda assim, Sangyeon não parecia abalado com sua ameaça de ser acusado de abuso policial.

— Você tem um mandato, senhor Lee? — Minho disse com a voz de ironia refinada.

— Você precisa de um? — Sangyeon descontou irritado.

— Talvez sim. — os olhos do Minho faiscaram — Afinal, meu funcionário foi ofendido na frente de várias pessoas. — foi a primeira vez que o chefe de polícia hesitou.

O silêncio voltou, pesado e opressivo.

Nayoung abaixo dos olhos, o rosto vermelho de raiva contido.

— Quando podemos conversar então, senhor Lee? — Sangyeon disse secamente tentando recuperar o controle.

— Posso ver um horário na minha agenda. — Minho respondeu com desdém — Entrerei em contato. — sua expressão se tornou de puro descaso — Yora, por gentileza, acompanhe o senhor Lee até a saída...  Ele não foi convidado para o jantar.  — desdenhou.

— Sim, senhor Lee. — a governanta acenou rapidamente, fazendo um gesto para os policiais.

Os agentes começaram a se mover, visivelmente desconfortáveis. Nayoung os sons, o olhar fixo à frente e o maxilar travado.

— Senhor Lee Sangyeon. — Jisung chamou e todos congelaram novamente.

— O que você quer? — o chefe da polícia olhou com desprezo.

Felix o olhou se questionou o que diabos ele estava fazendo.

— Veja uma marca de acasalamento no seu pescoço. — Jisung manteve o olhar sereno, mas havia algo cortante por trás da doçura — Explique ao seu ômega que uma mistura de vinagre, álcool e água morna irá ajudar. – deu um meio sorriso desdenhoso.

— O que você está falando, ômega? — Sangyeon rosnou irritado dando um passo à frente — Isso é algum tipo de ameaça ao meu companheiro? — o homem pareceu furioso e descrente da sua audácia.

Hipócrita .

— Claro que não, só estou tentando ajudar. — falou falsamente — Há uma mancha de batom vermelho na braguilha da sua calça. — ronronou fazendo uma onda de engasgos ecoar pela sala. 

Eunseo cobriu a boca horrorizada, Jihyo virou o rosto tentando esconder o sorriso. Até Minho pareceu desconcertado enquanto Christopher arqueou a sobrancelha parecendo curioso. Sangyeon ficou imóvel, o rosto completamente pálido. Os policiais desviaram os olhos, constrangidos. Nayoung pareceu parar de respirar. 

— Parabéns pela promoção, senhorita Kim. — falou com uma doçura debochada — Tenho certeza de que foi merecida...  E peço perdão, senhor Lee.  — olhou para o Minho — Vou garantir que eu tenha sua permissão para falar na próxima vez. — sua polidez é tão venenosa.

— A medalha de honra e benefícios extraordinários no seu uniforme é uma torta, senhor. — Seungmin completou friamente olhando para Sangyeon — talvez queira arrumar. — ele ronronou — Oh, desculpe falar sem permissão, senhor. — ironizou.

O cheiro que se deixou foi de pura raiva e humilhação.
Sangyeon não respondeu. 

Nayoung o som com um olhar furioso e envergonhado, e ambos deixaram a sala sob o olhar atento de todos.

A porta se fechou com um estalo seco.

Por um momento o silêncio reinou.

Então, Dowoon explodiu em gargalhadas.

— Puta merda! — Yeonkyu falou entre risos — Isso foi a melhor coisa que já vi! — o alfa parecia estar se divertindo.

— Não, jovem?! — Jaehyun assoviou incrédulo — Sério, isso é um escândalo. — ele balançou a cabeça em negação.

— Ela e o chefe da polícia...? — Eunseo levou a mão à boca chocada.

— Você tem um cachorrinho de briga, Lino. — Jihyo olhou fixamente em sua direção — Ele é adorável. — se sente mortificado com o interesse da alfa.

— Nem eu sabia disso. — Christopher olhou analíticamente enquanto bebia uma taça de vinho.

Os outros apoiaram rindo, comentando, especulando sobre escândalos e manchetes.

Apenas trocaram olhares tristes.

Voltaram a servir normalmente.

Porque perceberam que ninguém naquela mesa entendia de fato, a verdade cruel daquela noite.

 

 

 

 

 

 

A noite tinha se tornado um rastro de ecos.

O jantar havia terminado, os convidados se retiraram e restaram apenas as conversas baixas e o som da limpeza. O brilho dos copos sendo guardados refletia as luzes suaves da mansão, e o ar ainda carregava o peso do confronto de horas atrás.

Jisung recolha os pratos com movimentos meticulosos e a cabeça baixa. Hyunjin secava as taças de cristal com delicadeza e Seungmin alinhava os talheres em silêncio absoluto. Felix organizou a boneca na bandeja de prata com o maxilar travado.

— Nosso informante já tem notícias do alfa que procuramos? —Christopher disse a Baekho.

— Sim, senhor. — o guarda respondeu prontamente.

— Ele tem certeza de que é um dos homens do Keita. — Hyunwoo avisou.

— Ótimo. — Changbin cruzou os braços com os olhos faiscando.

— Eu falei que Sangyeon ia morder a isca e aparecer. — Minho desdenhou e os ômegas lutaram com a vontade de olhar descrente ao saber que era um plano para atrair o chefe de polícia.

Mas definitivamente não quero saber o porquê.

— Mas confesso que realmente não sabia sobre Nayoung. — Jeongin olhou curioso — Como você sabia disso, Jisung? — o alfa estreitau os olhos.

Até mesmo as seguranças olharam curiosos.

— O senhor se surpreende com tudo o que sabemos. — Hyunjin respondeu secamente — Alfas bêbados, estúpidos e que pensam com o pau falam demais. — olhei com desdém — E as paredes do Halazia têm muitos ouvidos. — crocantes os lábios.

O ar pareceu pesar.

Nenhum deles demonstrou surpresa.

— Senhor Lee, o informante chegou. — uma segurança apareceu na porta.

— Peça para DK trazê-lo. — Minho pediu em um quase rosnado.

A segurança acenou saindo com uma postura intimidada.

Enquanto isso, o som de refeições batendo e pratos sendo empilhados voltou a preencher o ambiente.

O clima era estranho.

Algo estava prestes a acontecer.

Poucos minutos depois, passos firmes ecoaram no corredor. A porta se abriu novamente com um clique seco. Um alfa alto entrou primeiro, seguido por outro —  o informante.

Foi o suficiente para Jisung paralisar. O prato escorregou de suas mãos caindo no chão se espatifando. Nenhum alfa esboçou evento surpreendente, apenas estreitamenteram os olhos. Recuou instintivamente um passo para trás com o coração disparando no peito.

Seu ômega se contorceu de medo e seu instinto de fuga e alerta veio à tona.

Felix, que estava ao lado, o vimos primeiro. O olhar do ômega se consertou no homem, e em questão de segundos seu ômega rugiu feroz, quase selvagem.

Ele agarrou a faca mais próxima.

— SEU MALDITO FILHO DA PUTA, EU VOU TE MATAR! — Félix rugiu avançando.

O informante empalideceu.

– Morvelle? — o alfa piscou atônito.

O som do nome pareceu acender uma fúria ainda maior em Felix. Mas antes que pudesse chegar até ele, um braço forte o agarrou pela cintura. Christopher o mantém com facilidade, o arrastando para trás sob olhares chocados.

Felix se debateu rosnando com a faca ainda tremenda em sua mão.

O alfa o colocou sentado na beirada da mesa o olhando curiosamente e com uma calma que o irritou mais.

—Princesa. — Christopher arqueou uma sobrancelha — Quer me dizer por que você quer matar o meu informante? — ele disse com um sorriso sombrio.

A voz do líder era tranquila, quase carinhosa, mas o peso por trás dela fez até os seguranças endireitarem a postura.

Felix respirou rápido com o peito subindo e descendo, as mãos trêmulas em volta da lâmina. Hyunjin e Seungmin se aproximaram instintivamente, ficando ao lado de Jisung, que ainda pareciam em choque olhando para o alfa e lutando para suas pernas não fraquejarem.

—  Senhor, eu…

Christopher estendeu a mão cortando a voz gaguejante do informante.

— Eu gostaria de ouvir o que o pequeno ômega tem a dizer, Taegon. — Christopher avisou sem tirar os olhos de Felix.

O tom foi uma ordem e o informante — Teagon — se calou de imediato olhando preocupado como se buscasse uma rota de fuga.

Félix ainda tremia, mas havia determinação em seu olhar.

— Senhor Bang… — Félix murmurou e sua voz estava mais grave do que nunca — Eu quero fazer um acordo com você. — as palavras pegaram todos os desprevenidos.

Os olhos do líder se encheram de surpresa.

— Um acordo? — Christopher repetiu em uma confusão de incredulidade e fascínio.

— Felix… — Hyunjin chamou em advertência sem esconder sua aflição.

Mas Felix não desviou o olhar.

O medo havia sumido, substituído por algo frio e decidido.

— Se você matar esse verme nojento,  eu farei o que você quiser.  — Felix falou cada palavra marcada pelo ódio.

A sala congelou.

Os olhos de Christopher brilharam em um amarelo profundo.

— Felix, não... — Jisung sussurrou angustiado.

— Não me diga não... — Felix tremeu com os olhos arregalados presos nos de Jisung como se buscassem uma autorização para respirar — Eu fui o primeiro a chegar lá. — confuso frustrado — Eu o vi primeiro. — seu olhar se tornou desesperado como se lembrasse de toda raiva e impotência — Ele rasgou as suas roupas. — contínuo com os lábios crocantes pelo ódio — Ele machucou seu corpo...  Ele estava em cima de você.  — rosnou vendo os olhos do Minho ficarem amarelos e a expressão de Jeongin e Changbin se tornarem sombrias — Se eu tivesse chegado um minuto mais tarde… — as palavras falharam e suas mãos tremeram visivelmente — Você estava drogado e machucado. — sua voz se tornou mais rouca e angustiada — Hongjoong e todos agiram como se fosse apenas um estorvo...  Mandaram o Minnie limpar o chão com o seu sangue... Me mandaram te tirar de lá como se nada tivesse acontecido... Mandaram o Jinnie voltar a servir as mesas e cobrir a parte... Te fizeram trabalhar no dia seguinte como se fosse só um acidente.  — olhou desolado — Não me peça, só não me peça … Por favor.  — implorou voltando seu olhar para Christopher que tinha um olhar duro e furioso — Ele machucou o Jiji…  Ele quase…  — sua voz corta — Eu farei o que você quiser. — prometeu ao líder sentindo seu corpo parecer uma peça de vidro prestes a se estilhaçar.

O cheiro se tornou selvagem.

Os líderes ficaram genuinamente irritados.

— Eu não trabalhei para o senhor ainda. — Taegon interrompeu — Foi um acidente...  Eu juro . — a voz do alfa tremeu.

— Vamos precisar conversar com Hongjoong sobre porque não fomos informados de um alfa quebrando nossas regras. — Changbin recostou-se na cadeira olhando de forma avaliativa.

Seu tom era prático como se fosse apenas um caso onde negócios e honra se cruzassem.

— Você tinha vários ômegas disponíveis, Taegon — Christopher balançou a cabeça com falsa decepção — E você drogou um ômega. — ele olhou o alfa como se fosse a mais pura escória.

Era E.

Taegon estremeceu visivelmente.

— Senhor, eu…

Christopher se afastou de Felix o deixando sentado em cima da mesa. Cada movimento dele prende os olhares na sala. A aura ao redor aumentou — uma presença que fazia com que até os seguranças olhassem intimidados.

— Eu queria fazer você sofrer um pouco. — Christopher se moveu com uma lentidão calculada, o som da frase era mais ameaçador que uma explicação — Mas o que você quer, princesa? — a pergunta veio de maneira calibrada e direta.

— Eu quero dormir à noite e saber que esse verme não existe mais. — Felix parecia furioso — Eu quero ter certeza de que ele nunca mais chegará perto do meu Jiji. — seu tom era feroz.

Christopher deu um sorriso em sua direção parecendo encantado com sua ferocidade.

— Senhor Bang, eu tenho informações — o alfa ofereceu desesperado — Posso entregar nomes, rotas, horários...  Eu posso...

— Informações que eu consigo de qualquer pessoa. — Christopher o curto e incisivo — Eu tenho um acordo muito mais vantajoso aqui. – seus olhos brilhavam em malícia enquanto se inclinava a cabeça para o lado examinando o informante como um predador avaliando a presa.

Taegon deu um passo para trás com os olhos arregalados, tentou correr, mas no momento que se moveu, o som seco do disparo ecoou.

Felix saltou na mesa levemente em susto.

Taegon coincidente, caindo de joelhos, mãos trêmulas buscando apoio. O som rasgou o ar, e o coração de Jisung disparou.

Minho quem atirou entre suas pernas.

Bem no seu pau.

— Uma regra tão simples... — a voz de Christopher soou baixa e fria, ele caminhou até o homem caído e o som de passos seus ecoavam firmes e ritmados — Ei, princesa,  olhe para mim.  — seu tom foi solicitado.

Félix observou.

O mundo pareceu suspenso por um instante.

Christopher olhou em apreciação quando Felix olhou o queixo e sua expressão se tornou dura.

Olhou sem temer.

O alfa sacou a arma e colocou contra a cabeça de Taegon. Ele arqueou a sobrancelha como se desafiasse Felix a desviar o olhar. O ômega sentiu suas mãos tremerem, mas não piscou ou desviou o olhar.

O encarou igualmente desafiador.

Christopher e atirou.

Hyunjin virou o rosto, se escondendo no ombro de Seungmin, que apenas fechou os olhos respirando com força.

E então silêncio.

O corpo tombou para o lado e ninguém parecia realmente visto, além dos ômegas.

Felix abaixou lentamente a faca que ainda segurava com as mãos trêmulas.

— Obrigado. — sua voz saiu suave em quase uma sugestão.

Christopher olhou como se o visse pela primeira vez —  realmente o visse.
Por um segundo, parecia realmente surpreso, mas o olhar logo se suavizou, curioso e quase respeitoso.

As seguranças continuavam imóveis com rostos impassíveis.

Jisung se mudou hesitante com as pernas trêmulas. 

Seguiu o bastante para se colocar entre as pernas de Felix, tocando seu rosto com cuidado.

— Estou seguro. — Jisung falou baixinho com voz firme e doce ao mesmo tempo — Obrigado por me proteger, meu amor. – agradecendo encostando a testa na do menor.

Felix piscou, o olhar vacilando e algo se corta dentro dele.

— Ele nunca mais vai te tocar. — Félix murmurou ainda sem soltar a faca.

— Não vai mais. — Jisung confirmou e inclinando a cabeça e deixando um beijo suave em seus lábios.

Felix finalmente abriu a mão soltando a faca enquanto Jisung beijava sua boca com selinhos gentis.

— Eu estou feliz... — Hyunjin choramingou contra o ombro de Seungmin — Eu acho que vou vomitar. — ele falou alarmado.

Alguns dos alfas bufaram e outros gargalharam em diversão.

Felix se atrasou um pouco inspirando fundo.

Quando o olhar inerente, encontrou Christopher o olhando de uma maneira que o fez estremecer.

Ele parecia faminto.

— Senhor Bang... — o loiro sussurrou — O senhor já sabe o que quer de mim? — ele parecia determinado.

Christopher de lado.

Era um sorriso perigoso, mas não cruel.

— Sim, princesa. — o tom dele foi quase gentil, o suficiente para deixar todos os ômegas em alerta.

Hyunjin e Seungmin trocaram olhares tensos.

— Por favor... — Jisung esperava ansiosamente — Não o machuque. – imploro.

— Nunca. — o líder inclinou a cabeça de forma solene — Você tem minha palavra, Jisung...  Felix não será tocado contra a vontade dele.  — Cristóvão garantiu.

Jisung piscou surpreso, tentando entender se havia sinceridade ali.

O alfa sustentou o olhar até que ele desviasse.

— Então...  O que o senhor quer?  — Felix respirou fundo sentindo uma onda de colapso.

Seus olhos se tornaram enigmáticos. 

— Que tal todos nós passaremos a noite aqui? — Christopher sugeriu com uma leveza que soava quase ameaçadora.

Minho apenas deu de ombros.

Felix franziu o cenho, confuso, tentando decifrar o que queria por trás da proposta. Hyunjin e Seungmin deixam igualmente hesitantes trocando olhares rápidos.

— Que tal, vocês levarão Hyunjin para cima? — Jeongin sugeriu com diversão — Ele parece meio pálido. — o alfa mais novo parecia tentar conter o riso.

Hyunjin virou furioso.

Mas a imagem do homem com a cabeça estourada o fez curvar pra frente em uma onda de prazer.

Os alfas fichaam em risos.

Christopher continuou calado observando Felix como se estudasse um tabuleiro antes do próximo movimento.

Havia algo por trás daquele convite — algo que ninguém ali compreendia totalmente.

Mas por agora, todos estavam cansados ​​demais para questionar.

 

 

 

 

 

— Você o quê? — Felix perguntou sem conseguir esconder o espanto.

Sentiu seu rosto arder e tinha certeza de que estava ruborizando vergonhosamente.

Christopher estava recostado na poltrona ao lado da cama, mangas dobradas, olhar tranquilo. Seu tom era o mesmo de quem pedia algo trivial, e talvez por isso pareça ainda mais desconcertante.

— Quero que durma aqui. — o alfa repetiu calmamente — Ao meu lado e sem bloqueios de cheiro. — havia um brilho predatório em seu olhar.

Felix piscou confuso.

Acho que você realmente não tinha ouvido direito.

— É isso que você quer em troca? — questionou descrente — Sentir o meu cheiro? — preciso perguntar novamente.

— E que durma ao meu lado. —Christopher Acenou.

Por um instante o silêncio parece encher todo o espaço.

Felix sentiu o acelerar o coração, as palavras se perdendo na garganta. Esperava qualquer outra coisa quando o alfa o chamou até o quarto e pediu para que levasse suas coisas pessoais —  uma exigência impossível.  Mas aquilo? Dormir ao lado de um alfa poderoso, sem barreiras, parecia mais íntimo do que qualquer contato físico.

— Sim, senhor. — respondeu encabulado — Eu achei que o senhor fosse querer tirar minha virgindade. — admitido espontaneamente, apenas para ficar mortificado por ter falado aquilo em voz alta.

Os olhos do alfa ficaram amarelos.

Christopher falou bruscamente e se curvou quase roçando o nariz no seu. Seu cheiro de café torrado se tornou espesso e sufocante.

 Os olhos dele fixaram-se nos seus.

— Quando você estiver no meu pau, princesa...  Vai ser porque implorou por isso.  — Christopher sussurrou baixo, rouco e sedutor.

Felix exalou envergonhado de como seu buraco vazou.

Reprimiu um gemido.

Sentiu o calor rastejar por seu pescoço e bochechas.

— E-Eu vou me trocar. — deu um passo para trás carregando sua bolsa em direção ao banheiro ansiosamente.

Félix entrou no banheiro e fechou a porta. Encostou as costas na madeira, tentando enganar o coração. O espelho reflete seu rosto colorido e o olhar confuso.  “Ele só quer que eu durma ao lado dele”,  repetiu mentalmente, mas a frase soava quase inacreditável.

Pegou o celular e abriu o grupo.

Matilha Ômega.

Felix:  Estou no banheiro agora. Ele pediu para eu dormir ao lado dele, sem bloqueios.

Jiji: O QUE?!

Minnie:  Isso é tudo que ele quer? Sentir seu cheiro?


Felix: E que eu durma ao lado dele.

Jinnie:  Puta merda… Não sei se estou aliviado ou chocado.


Jiji: Você acha que está seguro?

Félix:  Sim. Se ele quisesse que eu tocasse, já teria feito.


Minnie: Então ele está curioso. Sobre você.

Jinnie:  Todos estão. Alfas querem sempre o que não podem ter.


Félix: Preciso ir. Mas estou bem. Tentem descansar. Amo vocês.

Jiji:  Amo você também.
Minnie: Amo vocês.

Jinnie:  Amo vocês.

Guardou o celular, respirou fundo e encarou o espelho mais uma vez. Decidiu não pensar demais — apenas confie no próprio instinto. Retirei o adesivo bloqueador de cheiro, tomei um banho rápido, limpei o rosto, soltei os cabelos e coloquei a camiseta mais larga que trazia na mochila.
Colou seus piercings no mamilo e umbigo, tatuagem de ramo de camélias atrás da nossa amostra, mas a de rosa negra com um punhal em seu abdômen até sua virilha e o anjo caído em seu peito seriam cobertos pela camiseta.

Não sabia exatamente quanto tempo ficou lá dentro.

Mas preciso respirar fundo antes de abrir a porta.

Quando saiu, o cheiro de Christopher se misturou ao seu de forma quase palpável.

O quarto dos hóspedes era amplo, mas o ar parecia denso demais. Felix parou na porta, os dedos apertando o tecido da própria blusa em timidez. Christopher estava sentado na cama, encostado na cabeceira, vestindo apenas uma calça de moletom escura. O peito nu e o brilho amarelado nos olhos fez seu coração disparar.

Seu ômega arranhou a superfície com o quão gostoso o alfa parecia.

Desejou cair em seu colo.

Por um instante, o silêncio pareceu ter peso.

Felix respirou fundo — e se arrependeu. O cheiro do alfa era quente, forte e envolvente. Sentiu o estômago se contrair e a pele formigar.

— Você cheira a rosa negra. — Chan murmurou com a voz grave — Bem, eu deveria ter adivinhado. — suas narinas dilataram como se o aroma fosse um convite deixando óbvio que observaram minuciosamente o que poderia ver de sua tatuagem naquela tarde.

Felix abaixou o olhar tentando conter o rubor nas bochechas.

— Na verdade, não existem realmente rosas negras. — sussurrou num tom tímido.

— Eu sei. — havia diversão em sua voz— Elas nascem com uma pigmentação escura por causa do solo e do clima … São raras.  — transparência o rosto o encarando — Como você. — seu tom foi quase reverente.

Engoliu em seco tentando lutar contra a motivação.

Christopher estendeu a mão. O gesto era simples, mas carregado de algo que o fazia tremer. Felix não hesitou, permitindo que seus dedos tocassem os dele. O calor do toque o fez prender a respiração — e o alfa também pareceu surpreso por ele não recuar.

O mais velho o retirar de leve, sem forçar, apenas o guiando para a cama. Felix sentou-se devagar, sentindo o colchão afundar sob o peso dos dois.

Por um instante, ninguém falou nada.

Então Christopher o soltou para seus braços e se inclinou, apenas o suficiente para que o ar quente de sua respiração roçasse o pescoço de Felix. Quando sentiu seu nariz esfregar diretamente em sua glândula seu mundo girou.

-Alfa. — choramingou sentindo seu buraco escorrer e seu pau pulsar.

Tombou o pescoço lhe dando mais acesso.

Christopher rosnou lambendo sua glândula e deslizando até sua tatuagem de ramo de camélias.

Gemeu manhosamente.

— Alfa, por favor. — soluçou sentindo seu ômega rasgar a superfície.

Christopher se afastou bruscamente.

Olhou para seu rosto se contorcendo de tesão enquanto seu alfa lutava por controle.

— Você teve uma noite difícil. — sua voz sai quase embargada de desejo — Durma. — há uma advertência em seu tom.

Suspira, grato e confuso pelo mais velho ter mais autocontrole que ele.

Nunca esteve tão perto de um alfa daquela forma.

O som da sua voz parecia ecoar dentro dele, misturado àquela sensação contraditória de medo e calma. O toque firme na sua mão não era uma prisão — era um convite.

— Eu não sei se consigo dormir. — confessou tímido.

Christopher exalou um riso quase inaudível o virando para se aconchegar contra seu peitoral.

Como iria dormir com o alfa o segurando daquela forma e se sentindo molhado?

Lutou contra excitação.

— Durma princesa, você esta seguro aqui. — ele prometeu.

Felix não respondeu.

As palavras ficaram presas na garganta, junto com o resto da sua respiração. Se sentiu pequeno e protegido, e ao mesmo tempo, vulnerável demais.

Fechou os olhos e enfiou o rosto no seu pescoço. Roçou o nariz em sua glândula se embriagando no cheiro forte de café. Se deixou flutuar. Podia sentir seu corpo tenso como se estivesse sob tortura.

Pensou que não conseguiria dormir.

Mas o cheiro de Christopher o deixou bêbado de calmaria e paz.

Seu corpo relaxou e sua mente voou para longe.

Ronronou em apreciação.

Pela primeira vez em muito tempo, dormiu sem medo.

Jisung abriu os olhos sentindo uma onda de frustração.

Olhou o relógio na parede mostrando que ainda eram 2h32 da manhã.

A mansão estava silenciosa, envolto naquela penumbra confortável que vem depois de um dia exaustivo.

Ainda assim, não conseguia dormir.

Estava difícil se adaptar a ideia que agora podia dormir durante a noite.

Piscou devagar, os olhos se acostumando à escuridão do quarto. Hyunjin e Seungmin dormiam profundamente, os corpos enroscados em um abraço tranquilo. Um sorriso suave lhe escapou. Eram sempre assim — instintivamente próximos mesmo no sono.

Sem fazer barulho deslizou para fora da cama. Vestia apenas uma camiseta larga, que cobria o suficiente para deixá-lo confortável. O chão estava frio sob seus pés enquanto descia as escadas.

Sabia que não devia.

Sabia que havia seguranças pela mansão a espreita guardando o sono do seu chefe.

Sabia que eles podiam estar o observando naquele momento.

Mas o cansaço o esgotou em um nível que não conseguia se importar.

A cozinha estava mergulhada em meia-luz, a claridade suave da geladeira quebrando o breu. Abriu a porta, pegou o leite e o esquentou. Não conseguia ao menos temer pela própria vida, apenas se sentou no balcão, balançando as pernas enquanto observava o vapor subir do copo.

O cheiro veio antes do som — carvalho e mel — forte, marcante e inconfundível. 

Suspirou sem surpresa.

Minho apareceu na entrada da cozinha. O cabelo desgrenhado, a expressão neutra, mas os olhos sempre atentos. Vestia apenas uma camiseta preta e shorts, e o contraste da pele clara com o tecido escuro chamou mais atenção do que gostaria de admitir.

O Alfa também não pareceu surpreso ao vê-lo.

Arqueou a sobrancelha e foi em direção a própria geladeira.

— Você também não dorme? — perguntou sem erguer muito a voz soprando o leite quente.

— Não quando há ômegas vagando pela casa de madrugada. — Minho respondeu com leve ironia pegando uma jarra de suco.

O som do líquido enchendo o copo preencheu o breve silêncio entre eles.

Jisung o observou por cima da borda da caneca. Suas coxas grossas deixaram seu ômega inquieto, sentiu vontade morder e sentar nelas esfregando sua mancha. O alfa parecia calmo, mas havia algo nos olhos dele — uma curiosidade silenciosa, talvez.

Seu olhar caiu inevitavelmente sobre suas pernas observando a pele que deixou exposta, viu seu olhar se fixar na borboleta delicada na parte interna de sua coxa. A constelação que podia ver apenas o início subindo na lateral de sua perna até o ramo de camélia tatuado em sua nuca.

Se sentiu quente sob o olhar minucioso e faminto de cada parte que ele podia alcançar.

— Você gosta de borboletas. — Minho falou baixo – Bonita. — seus olhos se tornaram acesos ao bebericar um gole de suco.

— É porque você não viu a minha constelação inteira e nem meus piercings no mamilo. — respondeu desafiante.

A provocação pairou no ar, leve e perigosa.

O cheiro de Minho mudou — doce, excitante e provocante.

Os olhos do alfa brilharam em tons dourados por um breve instante antes que ele respirasse fundo, retomando o controle.

— Jagi… — a palavra soou carregada com um rosnado contido — Você é malvado. — havia um meio sorriso descrente em seus lábios.

Como se não acreditasse em sua ousadia.

— É bom não sentir medo. — falou secamente.

— Eu nunca tocaria em você contra sua vontade, Jisung — Minho o observou como se o decifrasse camada por camada, num tom que fez a pele do ômega arrepiar.

Jisung deu um meio sorriso e fixou o olhar no copo de leite.

— Eu acredito. — murmurou, mas havia algo na voz dele que parecia uma sombra de ironia.

— Então por que ainda parece desconfiado? — o alfa olhou curiosamente.

O ômega deu de ombros.

— Porque é estranho... — respondeu com sinceridade e subiu o olhar para encontrar o dele — Me sentir seguro com alguém que, se eu trair a confiança, não hesitaria em atirar na minha cabeça. — admitiu.

Por um segundo, os olhos de Minho brilharam com algo indefinível — surpresa, talvez um respeito silencioso. Depois, ele riu baixo, um som rouco que parecia vibrar entre eles.

Sua expressão se tornou estranhamente divertida.

— Justo. — ele murmurou encostando o copo no balcão — Mas, se serve de consolo, eu ficaria muito surpreso com sua traição e triste por matar um ômega tão lindo... Mas prometo que iria atirar com estilo. — sabia que ele estava brincando.

Ou talvez não.

Ainda assim, riu se sentindo divertido com as palavras.

— Isso não é exatamente reconfortante. — cantarolou.

— Então beba seu leite, ômega teimoso. — Minho respondeu bebeu o suco vagarosamente — Prometo que não vou atirar... Nem morder. — ele piscou provocante.

— Ainda bem. — lançou olhar faiscante — Porque acho que eu morderia de volta. — lambeu os lábios.

O alfa inclinou a cabeça o avaliando em silêncio, até que um sorriso discreto curvou seus lábios. Os traços amarelos em sua íris demoraram para sair e suas feições torceram em admiração.

Quase sorriu.

— Vou lembrar disso. — ele prometeu — Agora, me conte o que aconteceu com o Taegon. — a perguntou o pegou desprevenido.

Hesitou.

— Eu fui tolo. — admite — Havia pouco tempo que estávamos no halazia. — bebericou um pouco de leite se perdendo nas próprias lembranças — Nós tivemos sorte porque se não fosse por Hwa, Hongjoong não nos aceitaria sem prestar serviços sexuais... Todos iniciam assim. — encolheu os ombros e o alfa estreitou os olhos — Os clientes assíduos começaram a se tornar insistentes... Alfas tem mania de querer aquilo que não se pode ter e isso se torna um desafio. — falou sombriamente — Naquela noite Taegon pagou pela minha companhia na mesa e uma dança, eu tinha apenas que beber com ele e depois dançar... Eu ainda não tinha esperteza de entender que beber com um alfa, não era realmente beber e sim embebedá-lo e fingir que estou bebendo. — estremeceu com as lembranças — Depois tudo ficou vago... Quer dizer, eu lembro de beber, lembro de ir para o quarto, lembro de estar dançando e minha visão ficar embaçada... Sabia que havia algo errado, mas não conseguia me mover direito... — engoliu em seco um pouco assombrado — Há botões de alarme nas salas quando os ômegas se sentem inseguros... Não que se importem... — falou amargo — Mas Hongjoong não gosta que danifique suas mercadorias. — desdenha vendo a expressão de Minho se contorcer em fúria — Consegui acionar o botão da barra do pole, mas alfas estavam ocupados. — olhou com desdém pela incrível coincidência — Longe de mim pensar que justamente quando precisei de ajuda, nenhum segurança estava próximo ao alarme... Longe de mim, pensar que houve algum tipo de suborno e facilitação. — cerrou os punhos — Mas tínhamos uma regra que sempre que um de nós entrasse nos quartos privados para uma dança, ficaríamos no de olho no controle de alarme... Felix que viu acender o alarme do quarto que eu estava ... Ele foi o primeiro a me encontrar. — suspirou desolado — Eu lembro de Taegon subindo no palco quando eu cai... Eu tentei lutar... Me debater... Lembro dele rasgando minha roupa... Lembro do pau dele esfregando na minha bunda... Lembro dele dizendo que ia me rasgar. — se sentiu pequeno e indefeso — E depois apenas me lembro acordando em casa. — olhou desamparado.

Minho o olhou tão furioso parecendo descontrolado que apenas escutou o barulho do copo estilhaçando em suas mãos e em seguida o sangue escorrendo.

Olha abismado.

Por puro reflexo colocou o copo de leite sob o balcão e desceu apressado indo em sua direção.

Sem pensar nas consequências puxou seu braço e levou a pia.

Abriu a torneira deixando a água escorrer limpando o sangue.

— Senhor? — a voz fez o ômega virar surpreso.

Encontrou os olhos de Mingyu segurando uma arma.

O segurança arqueou a sobrancelha e viu uma centelha de surpresa em seu olhar. Ele encarou os dois e em seguida o copo quebrado no chão, para sua surpresa o guarda deu as costas e saiu andando.

Se sentiu tímido com o que ele poderia estar pensando.

— Eu deveria ter feito ele sofrer. — Minho rosnou furioso.

Soltou um suspiro cansado.

— Eu não deveria. — falou mais para si do que para o alfa.

— Não deveria o que? — o mais velho fixou os olhos nos seus.

Sem conseguir conter seu próprio ômega, Jisung deitou a cabeça em seu peitoral, enfiando o rosto em sua blusa.

— Me sentir seguro com seu cheiro. — sussurrou.

O cheiro de carvalho e mel se tornou turvo, ansioso e excitado.

Se sentiu levemente sufocado e perdido.

— Porra jagi, você vai me enlouquecer. — Minho rosnou.

Ergueu o rosto e o olhou intensamente.

Seu ômega arranhou a superfície querendo tocá-lo.

— Você esta apenas curioso como qualquer alfa quando vê um ômega intocado? — não conseguiu esconder sua insegurança olhando incerto.

— Por que eu iria querer alguém inexperiente na minha cama? — seu tom beirou a desdenhoso.

Se afastou bruscamente.

Desviou o olhar sentindo uma onda de humilhação.

O ignorou deliberadamente pegando o pano pendurado no suporte. Começou a juntar os cacos com um cuidado metódico. Podia sentir o olhar de Minho sobre ele. Seu cheiro estava forte, mas não conseguia decifrar os sentimentos do alfa. O odor de carvalho e mel apenas parecia uma mistura bagunçada de emoções.

Limpou em silêncio.

Propositalmente, embolou o pano e o jogou no lixo.

Pegou seu copo com leite já frio e o lavou deixando no escorredor.

— Me desculpe por invadir sua cozinha, senhor Lee. — falou suavemente — Tenha uma boa-noite. — se curvou e saiu sem olhar para trás.

Subiu as escadas lentamente.

Volta para o quarto e suspirou vendo Seungmin e Hyunjin ainda dormindo. Queria que Felix estivesse ali. Rastejou até a cama e se aconchegou nos braços dos dois.

Minho estava certo.

Estranhamente se sentiu triste pensando em todos os ômegas que o alfa poderia ter.

E ele não era uma opção.

Não poderia ser.

 

 

 

 

 

 

Felix despertou lentamente, o corpo pesado e aquecido, como se tivesse dormido envolto em um cobertor de fumaça e calor.

O ar parecia quente e o perfume forte ao redor — café torrado — o deixou entorpecido. Esfregou o nariz na fonte daquele cheiro viciante, um instinto quase inconsciente o guiando.

Seu corpo estava quente e sua calcinha de renda molhada.

Um ronronar suave escapou de sua garganta com o cheiro mais gostoso que já sentiu, e sem pensar, buscou o toque que o ancorava àquela sensação. A mão grande em sua cintura parecia firme e protetora.

A excitação nublou seus sentidos.

De forma inconsciente puxou a mão firme da sua cintura até seu mamilo duro erguendo sua camiseta. O cheiro de café se torna mais forte o deixando bêbado. Esfregou o dedo em seu piercing pressionando seu mamilo com força e gemeu manhosamente rebolando levemente se encaixando na coxa do seu alfa. Sabia que estava encharcando sua coxa, mas estava tão gostoso que não queria parar.

Paralisou.

Seu alfa?

Alfa?

Cheiro de café?

Arregalou os olhos quando lembranças da noite passada invadiram sua mente.

Se afastou bruscamente.

O ar fugiu dos pulmões.

Abriu os olhos de súbito e o mundo pareceu girar. O quarto iluminado pela luz suave da manhã, os lençóis amassados e ali, a poucos centímetros, o alfa o observava. Os olhos amarelos de Christopher o fitavam com calma, mas havia algo de predatório em sua imobilidade — um controle tão absoluto que quase o deixava mais vulnerável.

Felix percebeu que estava com a blusa erguida, revelando parte da pele e dos piercings em seu mamilo e umbigo que brilhavam discretamente sob a luz.

Suas tatuagens expostas.

Seu pau duro na calcinha de renda encharcada.

O calor subiu seu rosto de forma quase dolorosa.

— Me desculpe senhor Bang. — implorou exasperado — Me desculpe mesmo. — olhou horrorizado vendo que foi ele que estava se esfregando no alfa.

Viu um sorriso discreto adornar seus lábios.

— Eu não estou reclamando, princesa. — ele garante o olhando feroz.

— Eu o toquei sem sua permissão. — falou mortificado com a própria atitude — Eu realmente sinto muito... Nunca estive tão perto de um alfa e seu cheiro...

Parou envergonhado, sentindo o rosto arder.

— Meu cheiro...? — Christopher olhou sombriamente e pode ver a luxuria em seus olhos.

Desviou o olhar.

— Eu gosto do seu cheiro. — admitiu.

— Eu também gosto do seu cheiro, princesa. — sua voz saiu rouca como um rosnado.

Seu ômega se envaideceu com o elogio.

Sentiu a pele arrepiar, um calor novo subindo do estômago até o pescoço. Era estranho — e bonito. Um tipo de tensão que o fazia sentir vivo, mesmo sem entender o porquê.

— Já é de manhã. – mudou de assunto tentando escapar do próprio constrangimento — Eu deveria levantar? – pediu permissão.

Christopher sorriu parecendo divertido.

— Sim, fique à vontade para usar o banheiro primeiro. — seu tom foi calmo.

Mas podia ver o desejo em seus olhos.

Assentiu rapidamente, se levantando num salto e agarrou sua mochila. Os pés descalços tocaram o chão frio, e correu até o banheiro como se o ar do quarto fosse perigoso demais para permanecer respirando.

Tinha medo de se perder nos próprios instintos.

Na própria luxúria.

Fechou a porta atrás de si, se encostando nela.

O reflexo no espelho o fez prender a respiração — seu rosto corado, o cabelo bagunçado e os olhos ainda brilhando.

— Você está perdendo o juízo, Felix. — sussurrou para si mesmo passando a mão pelos cabelos.

Mas, no fundo, sentia algo diferente — um fio de curiosidade, uma faísca impossível de apagar.

Se lembrou da forma que Christopher.

Como alguém que o possuía.

Alguém que o enxergava.

E aquilo era ainda mais perigoso.

Hyunjin trocou olhares com Seungmin.

Jisung se encolheu levemente sentindo o olhar pesado de Minho sobre ele. Seungmin apenas serviu o café, cortou um pedaço de torta e começou a comer em silêncio. O clima era de aparente tranquilidade, mas ninguém ali se enganava — o ar estava cheio de significados não ditos.

O som de passos leves anunciou a chegada de alguém.

Felix entrou na sala de refeições ao lado de Christopher.

O murmúrio contido de cadeiras se ajustando e olhares cruzando o espaço foi quase audível. O alfa parecia relaxado, um pouco de presunçoso, um leve sorriso no canto dos lábios. Já Felix, em contraste, estava corado até a raiz do cabelo, a cabeça ligeiramente abaixada, tentando parecer natural.

Jisung arqueou a sobrancelha ao vê-lo já com bloqueadores de cheiro. Hyunjin encarou o loiro intensamente buscando algo em sua expressão, mas Felix suavizou o olhar e acenou garantindo silenciosamente que estava tudo bem.

— Senhor lee, estamos liberados após o desjejum? — Jisung perguntou baixo.

O alfa o olhou estranhamente.

— Um motorista levará vocês. — o mais velho avisou em um tom comedido.

— Enviamos nossos números pessoais a todos vocês. — Changbin avisou para a surpresa de todos — Não hesitem em nos ligar, caso notem algo errado. — ele alertou.

Felix olhou de relance para Jisung, que parecia processar aquelas palavras com cuidado. Seungmin franziu a testa, trocando outro olhar silencioso com Hyunjin.

Era estranho, aquela mistura de tensão e segurança.
Porque, mesmo que ninguém dissesse em voz alta, todos sabiam o que aquilo significava: eles agora estavam sendo protegidos.

Protegidos por homens como Christopher, Minho, Changbin e Jeongin — alfas que eram temidos e perigosos, mas que, por algum motivo, haviam decidido colocar seus nomes e reputações entre eles e o resto do mundo.

— Eh... Sim, senhor. — Seungmin balbuciou.

Não sabiam se estavam em perigo, mas certamente eram um alvo.

Sempre foram.

Mas pelo menos agora os alfas pensariam duas vezes antes de machucá-los.

 

 

 

 

 

 

O apartamento estava silencioso — um silêncio frágil, feito de respirações contidas e pensamentos pesados. As cortinas meio fechadas deixavam passar a luz fria da manhã.

Seungmin puxou Jisung para seus braços como se fosse seu urso de pelúcia pessoal.

Felix estava sentado no sofá, com as pernas cruzadas, os cabelos ainda um pouco bagunçados da noite anterior. Hyunjin o observava em silêncio, como se soubessem que ele precisava falar — e que qualquer interrupção poderia quebrar o fio de coragem que o mantinha inteiro.

— Eu preciso contar. — o loiro respirou fundo um pouco hesitante — Sobre ontem. — murmurou timidamente.

— Ele tentou algo? — Seungmin entrou em estado de alerta.

— Não! — Felix praticamente gritou — Senhor Bang foi um perfeito cavalheiro. — admitiu — Na verdade, acho que eu passei dos limites. — a confissão fez seus amigos olhares descrentes.

Os observou se entreolharem confusos.

Hyunjin foi o primeiro a acenar para que ele continuasse.

— Eu não sei o que deu em mim. — choramingou com as mãos inquietas no colo — Quando senhor Bang se deitou ao meu lado, o cheiro dele era tão… — procurou a palavra certa um pouco frustrado — Forte e quente... Cheirava a café e segurança... Eu nunca senti nada assim. — balbuciou envergonhado.

Jisung franziu o cenho, mas não disse nada.

Hyunjin cruzou os braços atento.

— Você cheira a vergonha. — Seungmin estreitou os olhos — Somos só nós, amor. — o lembrou suavemente.

Felix se derreteu.

— Ele esfregou o nariz na minha glândula e eu virei uma bagunça. — confessou com o rosto ardendo — Eu devia ter me afastado, mas não consegui... Deixei escapar que achei que ele pediria minha virgindade em troca. — se inclinou mordendo o lábio — Senhor Bang falou que o dia que eu estivesse em seu pau, seria porque implorei por isso e porra... Foi tão quente. — choramingou cobrindo o rosto com as mãos em timidez.

Seungmin engasgou.

Hyunjin corou abrindo a boca em descrença.

— Confiante ele. — Jisung desdenhou exasperado.

— Ele pode... Ele é gostoso pra caralho. — Felix gemeu.

— Lee Yongbok. — Seungmin olhou escandalizado.

— Puta merda. — Hyunjin bufou ao mesmo tempo.

Jisung explodiu em risinhos indignados.

— Foi como se meu corpo tivesse parado de me obedecer... Eu estava molhado, tremendo e ele fodidamente só estava esfregando o nariz no meu pescoço. — Felix rosnou mortificado com o próprio ômega.

— Felix… — Jisung começou preocupado.

— Quando ele percebeu que eu estava reagindo, só me segurou e disse que era para eu dormir. — murmurou cortando o amigo — Eu achei que não ia conseguir dormir, mas acho que meu ômega se sentiu seguro porque adormeci mais rápido que imaginei. — admitiu — Quando eu acordei foi pior ainda. — olhou desamparado.

— Pior? — Hyunjin guinchou.

— Dá para ser pior? — Seungmin olhou incrédulo.

— Bem... Eu estava adormecido, puxei a mão dele no meu mamilo e comecei a esfregar enquanto montava na sua coxa. — olhou incerto.

— Puta merda. — Jisung tampou a boca chocado.

— V-Você o quê? — Seungmin gaguejou.

— E ele não perdeu o controle? — Hyunjin olhou abismado.

Felix negou.

— Eu me desculpei muito, mas ele provocou dizendo que não se importava. — lançou um olhar sarcástico — Eu só consegui fugir, ir para o banheiro e fingir que nada aconteceu. — murmurou encabulado.

— E-Eu também tenho algo a confessar. — Jisung balbuciou recebendo olhares surpresos.

— O que? — Seungmin estreitou os olhos.

— Eu não consegui dormir e desci para beber um copo de leite morno. — admitiu.

— O-O que? — Felix olhou surpreso.

— Você saiu do quarto e foi até a cozinha do senhor Lee para beber leite quente? — Hyunjin olhou incrédulo.

Jisung sentiu as bochechas arderem.

— Ele apareceu, não é? — Seungmin suspirou exasperado — Você flertou com ele? — o mais novo o olhou como se pudesse ver sua alma.

Jisung abriu a boca, pronto para negar, mas depois fechou de novo e deu um sorriso sem graça.

— Talvez um pouco. — olhou tímido.

— Vocês dois estão completamente fora de si. — Hyunjin balançou a cabeça exasperado.

— Não é isso — Felix protestou, mas Seungmin levantou a mão o cortando.

— É exatamente isso. — a voz dele soou firme — Nós estamos num jogo perigoso, e vocês sabem... Esses alfas… — olhou de um para o outro — São diferentes, sim... Mas isso não os torna menos perigosos. — os lembrou com preocupação.

— Minnie, eu sei disso... Eu realmente sei. — Jisung prometeu em um tom suave — Nós nunca estivemos tão perto de alfas que respeitam nossos limites e eu me senti confortável e seguro de fazer isso. — confessou.

— É natural sentir carência. — Hyunjin falou em um tom cuidadoso — Mas precisamos ter cuidado... Não podemos fazer com que os inimigos deles se tornem os nossos e principalmente acabar em uma posição que eles percam o controle do próprio lobo. — ele avisou.

— Eu sei. — Jisung baixou o olhar um pouco culpado.

— Vamos nos controlar melhor. — Felix murmurou envergonhado.

— Sinto muito, ter que dizer isso. — Hyunjin olhou frustrado — Nós não deveríamos...

Jisung se inclinou beijando seus lábios delicadamente. Enroscou as mãos em seus cabelos e o beijou vagarosamente, roçando a língua na sua e mordiscando seu lábio.

— Não peça desculpas... Cuidamos um do outro. – murmurou contra a sua boca.

Hyunjin suspirou deixando um selinho carinhoso em seus lábios antes de se afastar.

— No fim das contas, é só o nossos ômegas carentes reagindo a cheiros bons demais e alfas respeitosos. — Seungmin falou sarcástico.

Mas nem ele acreditou nas próprias palavras.

— Quer testar essa teoria? — Felix ergueu o olhar e algo malicioso passou por seus olhos.

Antes que Seungmin respondesse, Felix o puxou pela camisa e o beijou. Foi um beijo quente, com língua, cheio de frustração e necessidade. Seungmin demorou dois segundos para ceder, mas acabou retribuindo — firme, profundo e como se quisesse tirar algo do mais novo.

Quando se separaram, os dois estavam ofegantes.

— É bom. — Felix murmurou com um sorrisinho.

— Mas é o suficiente? — Hyunjin retrucou.

Jisung observou com os olhos estreitos como se entendesse cada camada não dita daquela confusão.

— Não o suficiente. — foi Seungmin quem respondeu em quase um sussurro.

— Nunca é. — Felix riu baixo, sem humor.

Os quatro ficaram em silêncio por alguns segundos.

O som da notificação no celular quebrando o momento reflexivo.

Jisung levantou e foi até a bancada pegar o celular que estava carregando. 

— É um e-mail. — franziu o cenho — Nova reunião em dois dias, para apenas três pessoas. — ele avisou — Residência do senhor Bang e o motorista virá nos buscar. — suspirou cansado.

Trocaram olhares conhecedores.

Sabiam que estavam em um caminho sem volta.

 

 

 

 

 

O sol da tarde entrava preguiçoso pelas frestas da cortina, lançando faixas douradas sobre o chão de madeira do quarto. O ar cheirava a sabonete, creme corporal e aquele leve toque cítrico do hidratante de Jisung — o mesmo que Hyunjin sempre dizia que tinha cheiro de “verão caro”. Era uma das raras tardes livres que tinham e pela primeira vez em muito tempo, o clima era leve.

Ter tempo livre realmente fazia bem para saúde mental.

Jisung estava sentado na cama, as pernas cruzadas, espalhando o creme pelos braços. O som suave da pele sendo massageada se misturava à música baixa que tocava no fundo — algo instrumental e relaxante. Do outro lado do quarto, Hyunjin se olhava no espelho com uma faixa de cabelo prendendo a franja enquanto ele aplicava uma máscara facial com toda a concentração do mundo.

— Você parece uma blogueira. — Jisung desdenhou vendo o amigo admirar o próprio reflexo.

— E você parece um comercial de hidratante. — Hyunjin ergueu uma sobrancelha sem desviar o olhar do espelho.

— Ao menos eu brilho naturalmente. — Jisung retrucou arrogante exibindo o braço ainda úmido de creme.

Hyunjin bufou, mas não conteve um pequeno sorriso.

— Claro, claro. — o mais velho debochou — Brilha de nervoso quando vê Lee Minho, talvez. — provocou recebendo um olhar escandalizado.

— Idiota. — Jisung jogou a tampa do frasco de hidratante nele e Hyunjin desviou com gargalhando.

A porta se abriu, e Felix entrou com uma caixa de biscoitos nas mãos sendo seguido por Seungmin, que trazia duas garrafas de suco.

— Vocês estão prontos para nossa tarde de planejamento sério e adulto? — Felix perguntou animado se jogando na cama ao lado de Jisung.

— Sério e adulto? — Seungmin arqueou a sobrancelha — Com eles dois parecendo adolescentes num spa? — o mais novo olhou com falso desprezo.

Jisung mostrou o dedo do meio.

— Cuidar da pele é coisa de quem se ama. — Hyunjin respondeu aplicando o último toque da máscara com orgulho.

— Tá, senhor vaidade. — Felix riu — Senta logo, a gente precisa conversar sobre amanhã e sobre o que vem depois também. — seu tom foi polido.

Todos se ajeitaram.

Felix abriu a caixa de biscoitos e colocou no centro da cama, como se fosse um lanche de reunião.

O clima era caseiro e tranquilo.

— Então... — Jisung começou se ajeitando — Amanhã é a reunião e a gente sabe que é importante, mas hoje eu quero pensar em outra coisa... Quero falar sobre o futuro. — olhou esperançoso.

— O futuro? — Felix repetiu curioso.

— É. — Jisung sorriu de canto. — A gente sobreviveu até aqui, então acho que é hora de começar a pensar no que vem depois. — apontou sem hesitar.

— O que você precisar. — Seungmin acenou.

— É só que a gente tem salário agora, uma renda estável. — Jisung olhou emocionado — É mais do que já tivemos e dá para começar a guardar e finalmente conseguir conquistar nossas coisas sem precisar vender nossos corpos e nossas almas. — suspirou maravilhado.

— Nossa tão sonhada padaria! — Felix sorriu eufórico com os olhos brilhando.

Foi impossível não olhar suavemente para sua felicidade.

Todos se sentiam assim.

— Quer dizer… É só uma ideia. — Felix olhou apressado — Se alguém tiver mais alguma sugestão ou vontade, pode falar. — ele fez um beicinho exigente.

— É uma ótima ideia. — Hyunjin disse apoiando o queixo nas mãos — E já temos o confeiteiro mais habilidoso do grupo. — provocou o loiro o deixando tímido.

— Eu só gosto de fazer doces, não sou tão bom assim. — Felix corou imediatamente mexendo nas mangas da blusa.

— É sim! — Seungmin disse sem hesitar — Ninguém faz brownies como você. — ele garantiu.

— Ou os bolos que você inventa! Aquele de morango com cobertura de chocolate foi perfeito. — Jisung concordou com um aceno entusiasmado.

Felix riu envergonhado.

Seu ômega estava envaidecido com os elogios.

— Eu pensei em fazer um curso de confeitaria, na verdade. — o menor olhou cheio de esperança — Queria ter um diploma. — admitiu.

— Acho que deve fazer isso, será ótimo para nossa padaria e para você. — Hyunjin sorriu de forma sincera.

— Vocês acham mesmo? — Felix perguntou incerto.

— Claro — Seungmin respondeu convicto — E a gente pode se organizar e investir no seu curso, enquanto você estuda, nós vamos trabalhando na parte administrativa. — ele arqueou a sobrancelha — Precisamos começar de algum lugar e não só sonhar. — falou com firmeza. 

— Então vamos planejar. — Jisung bateu palmas empolgado — A loja de doces Felix’s... ou Sweet Bites? — provocou.

O loiro olhou descrente.

— Felix’s soa muito chique. — Hyunjin desdenhou rindo.

— Não quero meu nome na frente. — Felix fez careta — Somos um grupo. — seu beicinho os fizeram derreter.

— Mas tem que carregar o nome do mais bonito. — Jisung flertou o fazendo bufar.

— Então temos que colocar o meu nome. — Hyunjin sorriu sarcástico.

— Vocês são ridículos. — Seungmin explodiu em risinhos.

— Esqueçam o nome... Vamos falar das nossas funções. — Felix choramingou reprimindo o sorriso.

— Ok, funções — Hyunjin murmurou passando o olhar pelo grupo — Felix é o confeiteiro-chefe. — Eu e o Seungmin podemos cuidar das bebidas e dos lanches salgados. — o mais velho falou seriamente — Posso te ajudar com os doces, não sou tão ruim nisso. — encolheu os ombros.

— Eu sou melhor com sanduíches e salgados mesmo. — Seungmin admitiu — E o Jisung faz sucos e cafés incríveis. — os lembrou.

Felix olhou animado.

— Eu não sou bom na cozinha, vocês sabem. — Jisung franziu o cenho — Posso ficar responsável pelas bebidas, mas posso cuidar da parte administrativa — sugeriu convicto — Organização, finanças, fornecedores, essas coisas... Eu sou bom nisso. — prometeu.

— Perfeito. — Seungmin aprovou — Você sempre foi bom com números. — o mais novo concordou.

— A gente precisa fazer uma lista de compras, de equipamentos, ingredientes e utensílios… Mas principalmente fazer tudo isso sair do papel. — Felix falou confiante.

— E planejar o quanto podemos economizar por mês. — Seungmin completou — A gente divide o que sobrar do salário e começa um fundo conjunto. — sugeriu.

Eles ficaram ali, discutindo ideias, rabiscando números, desenhando esboços de cardápios e receitas. Hyunjin falava sobre os cafés gelados que queria testar, Seungmin sobre empadas e mini quiches. Felix sonhava com vitrines coloridas e cheiro de açúcar no ar. E Jisung, com um olhar sereno, sentia o peito se aquecer — pela primeira vez, não de medo, mas de expectativa.

— A gente vai conseguir. — Felix sussurrou.

— Vamos sim. — Jisung respondeu.

O sol começou a se pôr, tingindo o quarto de laranja e rosa. O ar ficou calmo, cheio de planos e sonhos. E enquanto riam, brincavam e anotavam metas improváveis, todos sentiram — com uma certeza silenciosa — que, pela primeira vez em muito tempo, havia algo esperando por eles além da sobrevivência.

Havia esperança.

Havia futuro.

 

 

 

 

 

Jisung olhou admirado.

A sala de reuniões estava elegantemente arrumada, iluminada por uma luz suave e cheia de aromas sutis de café e madeira. A mesa comprida, cercada por cadeiras de couro, abrigava um alfa e dois ômegas reunidos naquele início de tarde. A conversa era serena, pontuada por risadas ocasionais e o som dos copos sendo pousados sobre os porta copos de cristal.

Jeongin estava sentado à esquerda de Christopher olhando atentamente.

— Então, como eu disse antes, a área de Jeongin é perfeita para o projeto — o ômega explicou com a voz suave, mas firme. — Quero construir uma escola de artes lá... Um espaço seguro e criativo, voltado para jovens alfas, betas e ômegas. — sua postura era impecável, a expressão serena, porém seus olhos brilhavam com entusiasmo.

Felix notou como o alfa, Jaehyun olhava para o ômega parecendo deslumbrado com sua expressão animada.

Hyunjin, que servia bebidas ao lado de Seungmin e Jisung, trocou um olhar curioso com os dois.

A ideia soava diferente.

— A ideia é realmente excelente, Taeyong. — Changbin elogiou.

— Eu apreciei a ideia do projeto quando ele trouxe a mim. — Jaehyun olhou para o líder.

Seungmin viu um sorrisinho nos lábios de Christopher como se soubesse um segredo.

— Taeyong hyung quer garantir que seja um ambiente realmente seguro, principalmente para os ômegas. — o segundo ômega explicou atraindo atenções — As turmas seriam divididas. — ele explicou os fazendo olhar curiosos.

— Divididas como? — Jeongin olhou interessado.

— Por subgênero. — Taeyong estreitou os olhos — A ideia é que cada turma seja separada por períodos, principalmente para os pais se sentirem seguros em enviar seus filhos ômegas. — ele falou assertivo — É um projeto que pode mudar muito da nossa estrutura social se for bem-sucedido... Jungwoo teve uma ótima ideia. — falou suavemente.

Felix admirou sua confiança.

— Que ideia, Woo? — Minho encarou o ômega.

— Betas e ômegas estudariam em um período da manhã e tarde e alfas no período tarde e noite. — Jungwoo respondeu assertivo — Queremos que o início das aulas seja a partir das 8h ou 9h. — seus olhos se tornaram sombrios — A cidade não é segura para ômegas no primeiro horário da manhã e principalmente de noite. — falou com desprezo.

A expressão dos alfas se tornou sombrias.

Enquanto servia mais uma rodada de petiscos, Jisung reprimiu a vontade de dizer que nenhum horário era seguro para ômegas.

— Gosto da proposta. — Christopher apoiou o queixo na mão — Educação e arte são forças transformadoras e se podemos garantir segurança e inclusão, é ainda melhor. — ele acenou.

— A localização é boa, sim. — Jeongin cruzou os braços — A área tem espaço e o acesso é fácil. — ele ponderou — Não deve haver grandes problemas logísticos. — suas palavras fizeram Taeyong e Jungwoo trocarem sorrisos felizes com a aprovação.

— Vocês precisam de alguma ajuda financeira? — Changbin se inclinou olhando atentamente.

— Não isso. — Taeyong olhou gentil — Mas vamos precisar de ajuda com a equipe. — ele olhou preocupado.

— Funcionários de confiança como professores e coordenadores. — Jungwoo completou — Jaehyun hyung irá nos ajudar com a questão da construção do prédio, mas mais importante que isso, é garantir bons profissionais. — o ômega parecia preocupado com essa questão.

Seungmin ficou impressionado com a ideia.

— Podemos ajudar com isso. — Minho falou com sua voz firme e calma — Tenho contatos confiáveis e Changbin também pode supervisionar as contratações iniciais. — o alfa não deixou espaço para dúvidas.

— Contem comigo. — Changbin assentiu.

O clima na mesa se tornou tranquilo, quase amistoso.

Felix percebeu o quanto era raro ver os alfas rindo, relaxados, trocando ideias com ômegas sem a tensão habitual no ar. Percebeu que os quatro líderes pareciam à vontade e confortáveis com os três rapazes.

— Aliás, Jeongin… — Jaehyun começou em um tom provocador — Encontrei com com a Eunseo noona e o Taemin hyung que não parava de provocá-la por causa da “queda” dela por você. — o alfa arqueou a sobrancelha.

Todos à mesa riram.

Jeongin suspirou alto rolando os olhos.

— Ela apenas me acha fofo, não tem nada demais. — estranhamente o alfa mais novo pareceu desconfortável.

Hyunjin estreitou os olhos.

— Nem você acredita nisso. — Taeyong desdenhou com elegância.

Jungwoo ergueu o copo sorrindo para Seungmin depois de ser servido.

— Agora, Chris… — o ômega curvou encarando o líder com uma expressão desdenhosa — Vou ser obrigado a fazer uma fofoca. — Jungwoo lambeu os lábios.

Felix serviu mais uma bebida a Christopher tentando não parecer ansioso para ouvir a conversa.

— Você é um perigo. — o líder acusou — Tenho medo desse sorriso. — Christopher resmungou.

— Você vai ter mais medo do que eu tenho para te contar. — Jungwoo deu um risinho fazendo o alfa ajeitar a postura.

— Eu pensei que era um jantar tranquilo, Woo. — Christopher resmungou sombriamente.

— Eu me sinto na obrigação de te alertar. — a postura do ômega se torna séria e o alfa semicerrou os olhos esperando — Ouvir dizer que o senhor Minatozaki irá propor uma parceria a você em troca do acasalamento com a Sana. — Jungwoo avisou.

Minho e Jaehyun engasgaram.

Jeongin arqueou a sobrancelha parecendo abismado.

Changbin piscou atônito.

Pela primeira vez os ômegas viram Christopher perder a postura e olhar descrente. 

— Ele realmente odeia a filha. — Taeyong tomou um gole de bebida olhando amargamente.

Seungmin tentou disfarçar o olhar surpreso com o comentário mordaz.

Jisung franziu o cenho, mas continuou enchendo o copo de Minho e Jeongin.

Até os seguranças pareciam desconcertados.

Felix sentiu seu ômega se agitar e odiou o sentimento de ciúme.

— Bem, não é tão surpreendente. — Changbin toma um gole de bebida olhando com descaso.

— Sugiro que comece a pensar em uma resposta. — Jungwoo lançou um olhar divertido.

— Sana não vai aceitar acasalar por uma parceria. — Christopher falou convicto, mas havia um brilho sombrio e duvidoso em seus olhos.

— É você, Christopher. — Jaehyun bufou olhando incrédulo — Sana tem uma queda por você desde sempre. — o alfa olha divertido — Ela faria qualquer coisa para ter você. — ele o lembrou de forma sarcástica.

O alfa crispou os lábios parecendo chateado.

— Minatozaki só pode ter perdido a porra da mente. — Christopher rosnou.

Felix e Jisung trocaram olhares confusos.

Por que seria tão ruim acasalar com um deles?

— Os minatozaki são poderosos, você não vai querer ofendê-los. — Taeyong olhou interessado — Mesmo sendo nosso líder... Tome cuidado. — o ômega advertiu.

Christopher lançou um olhar cansado.

— Vou tomar cuidado. — ele garantiu — Vou deixar claro que estou lisonjeado. — seu tom soou sarcástico — Mas sempre fui claro com a certeza que não terei nenhum companheiro. — eles os lembrou irritado — Sana é querida por mim, mas não posso oferecer o que ela quer. — sua expressão é assertiva — Mas agradeço pelo alerta. — o alfa suspirou encarando Jungwoo — Certamente ser pego de surpresa com uma oferta dessas poderia me causar um grande desconforto. — a admissão fez todos olharem surpresos.

— De nada. — Jungwoo riu — Não quero te ver envolvido nisso e, francamente, acho que a Sana merece alguém melhor. — seu tom era leve, mas carregado de desdém.

Felix olhou ofendido por Christopher, mas o alfa apenas riu acenando.

— Sem dúvidas. — Minho fez uma careta — Só odiando muito o próprio filho para alguém desejar eles ao nosso lado. — as palavras fizeram os quatro ômegas hesitarem.

Ainda assim, Seungmin se forçou a se mover tentando fingir que não estava curioso sobre toda a conversa.

— Quem deseja que o próprio filho seja um eterno alvo dos nossos inimigos só pode ser um verdadeiro bastardo. — Jeongin olha com desprezo.

— Sana é muito doce e delicada para ser machucada porque seu pai é um maldito ambicioso. — Jaehyun acena.

Finalmente os meninos entendem.

Um companheiro era um ponto fraco que nenhum deles estava disposto a ter.

Sabia que o companheiro dos alfas seria um eterno alvo e nem podia imaginar as coisas horríveis que poderiam acontecer apenas para atingi-los.

Naquele mundo, amor era um risco.

E para alfas como Christopher, Minho, Changbin e Jeongin… Um risco que eles jamais se permitiriam correr.

A conversa retomou aos poucos, mas o ar havia mudado. As risadas agora vinham com peso, os olhares se tornaram mais atentos. Mesmo entre aliados, o perigo rondava — elegante, discreto e inevitável.

 

 

 

 

 

A casa estava silenciosa, exceto pelo barulho suave da chuva batendo nas janelas e o som abafado dos passos no chão de madeira. Haviam voltado há pouco da reunião, e embora o jantar tivesse sido agradável, o assunto sobre acasalamentos, política e alianças ainda pairava sobre suas mentes.

Felix se aconchegou no sofá enrolado em um coberto e se apoiando no encosto do sofá abraçando uma almofada. Pensou que esse horário estaria no Halazia e no quanto era bom estar livre. 

Exalou um suspiro pesado.

— Eu juro que nunca imaginei ouvir uma conversa assim. — Jisung falou de repente em um murmuro.

Seus olhos estavam fixos no teto.

Hyunjin sonolento ronronou esfregando o nariz no pescoço de Seungmin.

— Sobre o senhor Minatozaki querer sua filha acasalada com o senhor Bang? Ou sobre o fato de um alfa se recusar a ter um companheiro? — Felix perguntou tentando manter um tom leve, mas a inquietação era clara em sua voz.

— Sobre os dois. — Jisung respondeu — Mas principalmente sobre a parte de não querer um companheiro. — admitiu.

Seungmin, suspirou um pouco desinteressado enquanto acariciava os cabelos de Hyunjin.

— Eles têm consciência de que um companheiro é um ponto fraco. — o mais novo olhou como se não estivesse exatamente surpreso — Que quem se aproximar deles pode ser usado, ameaçado, ferido... Ou pior. — estremeceu com a ideia — É triste. — encolheu os ombros incerto.

Não sabia se qualquer um daqueles alfas poderia ser considerado dignos de pena.

— É mais que triste — Jisung murmurou se arrastando para debaixo do cobertor ao lado de Felix — É solitário. — suspirou.

O silêncio se espalhou espesso como a penumbra que cobria a sala.

Hyunjin piscou tentando espantar o sono e apoiou o queixo na mão pensativo.

— Eu não sei… — o mais velho lançou um olhar incerto — Parte de mim acha isso… Gentil... Altruísta, até. — falou sincero — Eles se afastam de quem poderiam amar para proteger essa pessoa. — desviou o olhar se perguntando se Kim Jeongin já amou alguém — Mas ao mesmo tempo, parece uma vida sem cor. — se sentiu um pouco bobo por falar aquilo.

— Você acha que é possível amar alguém e ainda assim não querer ter essa pessoa perto? — Felix o olhou de lado.

— Acho que sim. — Hyunjin respondeu sem hesitar. — Principalmente se o mundo em que você vive transforma tudo que é amor em fraqueza. — falou convicto.

— Eu entendo o que você quer dizer. — Jisung soltou um riso baixo, mas sem alegria — Depois de trabalhar tanto tempo no Halazia, nós vimos isso o tempo todo. — os lembrou se perdendo em pensamentos — No começo eu achava que os alfas que iam lá eram simplesmente cruéis... Mas com o tempo percebi que muitos deles estavam vazios. — olhou cheio de desgosto — Eles podiam ter tudo — dinheiro, poder, status ou um lindo ômega dedicado em casa — mas no fim do dia sempre voltavam pra um quarto pago, buscando algo que não encontravam porque nunca estão de fato, satisfeitos. — seu tom foi desdenhoso — Não é crueldade porque ser cruel é querer machucar alguém... Eles simplesmente não se importam. — sussurrou.

Suas palavras fizeram seus amigos se encolherem em amargura.

— Sabe o que é mais triste? — Felix olhou com desprezo — O prazer existe, claro e eles sabem como obtê-lo, mas quando o corpo se acostuma, quando o cheiro, o toque e o calor viram rotina… Tudo perde sentido. — falou chateado — Fica só o vazio e é por isso que ganhamos a fama que temos. — sibilou em chateação.

— Somos o desafio... O prêmio do alfa que nos conseguir. — Seungmin desdenhou.

— E o pior é que eles sabem disso, não é? — Hyunjin sorri triste.

— Sabem — Jisung confirmou — Mas continuam, porque é tudo o que têm. — inflou as bochechas.

— Vocês acham que eles têm escolha? — Seungmin perguntou se inclinando olhando curiosamente — Digo… Senhor Bang, Seo, Lee e Kim... Eles parecem tão certos do que fazem, mas e se não fosse escolha? E se essa vida tivesse sido imposta a eles desde o nascimento? — perguntou enigmático.

— Como assim? — Felix franziu o cenho.

— Pensa... — Seungmin respondeu gesticulando levemente — Você já ouviu algum deles falar sobre família? Sobre mãe, pai, irmãos? — recebeu olhares surpresos — Eu não. — afirmou — Nenhum deles menciona ninguém fora do grupo... É como se tivessem nascido já prontos para ocupar aquele lugar. — os três o encararam chocados por não terem pensado sobre aquilo.

— Único que falou sobre o pai foi do senhor Lee e mesmo não demonstrando, ele parecia incomodado. — Jisung lembrou.

— Agora que você falou… — Hyunjin murmurou. — Eu nunca vi nada pessoal neles... São sempre líderes, soldados, empresários, assassinos, mas nunca… Pessoas. — recebeu olhares de entendimento.

O silêncio se instalou novamente.

A chuva lá fora engrossava, tamborilando no telhado.

— Eu fico curioso às vezes — Felix se remexeu no sofá os dedos brincando com a barra do cobertor. — Sobre como eles se tornaram assim... Sobre o que perderam para virar o que são. — confessou.

— Curioso? — Hyunjin ergueu uma sobrancelha — Isso é perigoso, Lix. — ele avisou.

— Eu sei. — Felix sorriu de leve, mas sem alegria — É por isso mesmo que acho melhor não saber. — encostou a cabeça no encosto do sofá fixando os olhos no teto — Mas não ajam como se não estivessem curiosos sobre eles também. — fez um beicinho contrariado — Ainda assim, sei que quanto menos soubermos, melhor. — bufou — Porque se começarmos a entender demais… Talvez passemos a sentir demais também. — não escondeu o temor em sua voz.

— E sentir é perigoso. — Seungmin completou amargo.

— Para todos nós. — Jisung concordou.

— Eu só queria que o mundo fosse mais simples. — Hyunjin murmurou cansado deixando um beijinho no pescoço de Seungmin — Que as pessoas pudessem amar sem medo de serem usadas, que não precisássemos medir cada respiração, cada palavra... Que pudéssemos confiar em alguém. — fechou os olhos não querendo mais falar sobre aquilo.

— Talvez um dia — Felix passou a mão pelos cabelos de Jisung carinhosamente — Mas não agora. — sorriu triste.

A sala ficou mergulhada em um silêncio pesado.

— Eu tô exausto. — Felix bocejou — Amanhã temos que ir cedo na loja de conveniências, acabou o leite e algumas coisas. — ronronou abraçando mais forte Jisung que já estava praticamente adormecido.

— Eu posso ir. — Hyunjin avisou sonolento — Vamos dormir. — ordenou suave.

Seungmin ainda estava com o olhar distante, apenas agarrou Hyunjin mais forte se deliciando com seu cheiro de flor de cerejeira. O som da chuva embalou o cansaço deles, e aos poucos as respirações se tornaram lentas e ritmadas.

Felix fechou os olhos e tudo que ecoava em sua mente exausta era a expressão cética de Christopher que parecia desgostoso e irritado com a simples menção de uma companheira.

Mas antes que pudesse se aprofundar mais, o sono o venceu.

E, por algumas horas, todos eles esqueceram — o passado, o medo, a dor e o perigo.
Só havia o som da chuva, o calor compartilhado e o breve alívio de, pela primeira vez em muito tempo, se sentirem seguros.

 

 

 

 

 

 

O amanhecer ainda não havia colorido o céu.

As ruas estavam úmidas, cobertas por um brilho frio das lâmpadas amareladas que refletiam nas poças deixadas pela chuva da madrugada. O vento soprava leve, carregando o cheiro de terra molhada e café distante.

Seungmin e Hyunjin andavam lado a lado, os passos curtos e o som discreto dos tênis molhados na calçada. Haviam saído para comprar leite e alguns ingredientes para os testes da confeitaria.

Era cedo demais — seis da manhã, talvez um pouco mais.

Felix e Jisung ainda dormiam, deixaram um bilhete sobre a mesa avisando que haviam saído para caso um deles acordar, não se assustar.

— Acho que devíamos aproveitar e pegar manteiga também — Hyunjin murmurou com a voz baixa e rouca de sono.

— E farinha... — Seungmin completou ajeitando sua blusa de frio — Precisamos ver outra marca de achocolatado, Lix não gostou desse último que pegamos. — bocejou.

Estava frio e só queriam voltar para casa.

A loja de conveniência do senhor Choi ficava apenas à três quadras, mas as ruas estavam desertas pelo frio e o horário.

— Vamos pegar mais chá de camomila. — Hyunjin tremeu com uma rajada de vento — O do Jiji esta acabando e tem ajudado ele dormir melhor. – fez uma nota mental.

— Talvez devêssemos ver se tem maracujá. — Seungmin acenou — Eu vi que chá de camomila com maracujá ajuda muito no sono. — falou baixo.

Hyunjin olhou surpreso e suave ao saber que o mais novo estava pesquisando mais sobre coisas que ajude Jisung a dormir melhor.

— Nossos horários são muito bagunçados por causa do Halazia. — Hyunjin resmungou — Jiji sempre teve insônia, trabalhar de madrugada não era cansativo para ele. — bufou.

Eles conversaram devagar, num ritmo calmo, como se aquele instante fosse um respiro no meio da rotina confusa. O ar gelado queimava as bochechas, mas havia paz.

Até o som súbito de um passo os arrancar desse estado.

Foi rápido — um toque no ombro, forte demais, e o corpo de Hyunjin foi puxado para trás. Um grito engasgado escapou de sua garganta, e Seungmin reagiu por instinto, tentando afastar o homem que os abordou.

O desconhecido era grande, ombros largos e sua presença cruel.

O cheiro forte de alfa dominou o ar, espesso e agressivo, como fumaça.

O ar saiu dos pulmões de Seungmin com um baque surdo quando suas costas atingiram a parede. O Alfa, era apenas um vulto enorme e escuro contra a penumbra da rua mal iluminada no amanhecer nublado. Ele riu baixo, um som que era mais um rosnado do que uma risada.

— Que sorte a minha encontrar quem eu procurava. — ele cuspiu, o cheiro agressivo de seu feromônio dominante enchendo o ar, hostil e sufocante.

Hyunjin, tentou se soltar do aperto com os olhos arregalados de puro terror. Seungmin, porém, sentiu algo diferente. Não era coragem, era algo mais profundo, mais visceral. Era o instinto de proteger a sua matilha, o seu único aliado naquela escuridão.

— Fica longe dele! — Seungmin rosnou empurrando o alfa com toda força que tinha.

O alfa cambaleou surpreso.

Hyunjin gritou quando o braço do homem envolveu o pescoço de Seungmin, o puxando para trás. A luta foi breve, desesperada e brutal. Se debateu, seus cotovelos e punhos encontrando um torso duro como rocha. Era como lutar contra um muro de tijolos.

— HYUNJIN, CORRE! — Seungmin gritou para Hyunjin, sua voz tremeu, mas seu corpo estava tenso, pronto para lutar.

Hyunjin vacilou. Seus pés pareciam enraizados no chão, seus olhos vidrados no amigo tentando imobilizar um Alfa, uma cena impossível.

— Seungmin… eu…

— CORRE AGORA! — Seungmin rosnou, desta vez com uma ferocidade que não era totalmente sua. Era o som de um ômega encurralado, disposto a se tornar uma fera para proteger os seus.

O rosnado cortou o ar como uma faca, e finalmente quebrou o feitiço do medo que prendia Hyunjin. Ele deu um passo atrás, depois outro, seus olhos encontrando os de Seungmin por uma fração de segundo – um silêncio carregado de um milhão de promessas não ditas – e então ele se virou e correu. Correu como se o diabo estivesse no seu encalço, desaparecendo na primeira esquina.

Seungmin sabia.

Sabia no fundo da sua alma que Hyunjin não estava fugindo para se salvar.

Hyunjin estava correndo para buscar ajuda.

Mas não se importava de morrer desde que ele estivesse seguro.

E então, o mundo desabou.

O Alfa, furioso por ter sido contido, rugiu e se libertou com um movimento brutal, o arremessando para longe. O mundo havia se reduzido a uma névoa de adrenalina e o som ensurdecedor do seu próprio coração batendo contra as costelas. Sentiu sua cabeça atingir a parede, mas não se intimidou nem com o sangue escorrendo e nem com a visão turva.

Aproveitou que foi empurrado e correu.

Correu sem destino, suas pernas queimando, cada fôlego um gancho afiado em seus pulmões.

Enquanto corria, seus dedos trêmulos e suados puxaram o celular do bolso do jeans. Ele quase o deixou cair. Não podia parar. Não podia nem diminuir o passo. As ruas vazias era sua única aliada, mas também sua inimiga.

Ninguém o protegeria de um alfa enfurecido em seu encalço.

Ele deslizou a tela do celular, sem pensar, seus dedos encontraram o contato por pura memória muscular. A chamada tocou e apenas um toque ouviu o bip.

— Seungmin? — Changbin atendeu no primeiro toque.

— Changbin tem um alfa atrás de mim. — Seungmin fala alarmado.

— Mantenha o celular escondido. — ouviu seu rosnado furioso e um barulho — Estou aqui e vou até você. — ele promete.

Não desligou.

Não tinha ideia de onde estava.

Não sabia como Changbin o encontraria, mas acreditou nele.

Foi apenas o tempo de enfiar o celular no bolso e no momento que virou uma esquina. O mundo desfocou em uma sucessão de imagens fragmentadas e sensações brutas quando seu corpo, já exausto, foi jogado bruscamente no chão, o impacto roubando o pouco ar que lhe restava nos pulmões. Ele sentiu o puxão áspero, o rasgo de tecido, e então a pele nua e vulnerável da sua nuca exposta ao ar gelado. O adesivo supressor, sua última barreira simbólica, estava agora na mão suja do alfa.

O cheiro doce e ácido de seu próprio medo encheu o ar, um feromônio de pavor que só servia para excitar mais o predador. O Alfa forçou sua cabeça para o lado, os dedos se cravando em seu queixo e olhou profundamente em seus olhos.

— O famoso ômega intocado do Halazia. — o alfa cuspiu com um sorriso macabro, seu hálito quente e animal contra seu rosto.

Seungmin nunca o tinha visto antes.

Era um rosto comum, marcado pela violência, mas os olhos... Os olhos eram de uma ganância primitiva.

Se debateu furiosamente tentando se soltar.

Rosnou.

O empurrou.

Sentiu uma onda de desespero quando sua língua áspera e úmida lambeu uma faixa desde sua têmpora até o queixo, num gesto de posse nojento. Estremeceu, nojo e horror se misturando em seu sangue.

Ele o estava marcando com seu cheiro.

— O que Seo Changbin vai dizer quando eu te enviar bem fodido e morto para ele? — e então, o pior aconteceu.

A língua voltou, dessa vez para lamber diretamente a glândula pulsante em seu pescoço.

As lágrimas escorreram do seu rosto.

Se debateu em pânico.

Queria gritar, mas não conseguiu soltar nenhum ruido.

Se sentiu impotente, um brinquedo quebrado nas mãos de um monstro. Mas mesmo um brinquedo quebrado tem pontas afiadas. Com um último surto de fúria desesperada, ele lutou. Seu corpo se contorceu, seus punhos bateram contra qualquer parte do alfa que pudesse alcançar.

Os olhos do Alfa brilharam em um amarelo sinistro, a fera tomando completamente o controle.

Foi então que cuspiu.

Direto no rosto do alfa.

O homem rugiu, surpreso pela audácia. E antes que ele pudesse reagir, deu uma cabeçada com toda a força que tinha restante. O estalo do nariz do alfa quebrando foi um som profundamente satisfatório, mesmo em meio ao terror.

A resposta foi instantânea e brutal. Um tapa desferido com tanta força que sua cabeça girou para o lado, visões brancas explodindo em sua retina. O gosto de sangue encheu sua boca.

— Sua pequena prostituta, eu vou te foder até destruir seu corpo inútil. — o alfa rosnou em fúria pura, sua paciência esgotada.

E então, o mundo parou.

Um barulho ecoou o fazendo arregalar os olhos.

O Alfa grunhiu, uma expressão de surpresa estúpida congelando em seu rosto. Seu corpo, que momentos antes era uma montanha de violência sobre Seungmin, simplesmente cedeu, caindo pesadamente para o lado.

O maldito levou a mão nas costas grunhindo de dor.

Só então, na súbita e ensurdecedora quietude, Seungmin percebeu. Vários carros pretos, portas abertas, formavam um círculo silencioso ao redor. Homens vestidos de preto desciam, suas presenças imponentes e profissionais, armas visíveis.

E no centro desse caos controlado, caminhando lentamente, vindo da escuridão como uma extensão dela mesma, estava Changbin.

Cada passo seu era calculado, pesado, carregado de uma fúria tão gelada que fez o ar parecer congelado. Seus olhos, dois pontos amarelos incandescentes, não se desviaram do corpo do alfa por um segundo, antes de pousarem em Seungmin.

Tremendo incontrolavelmente, com o rosto marcado, o tronco exposto e o mundo desmoronado ao seu redor, só conseguia olhar para aquele homem que se aproximava. A promessa de vingança e segurança naquele olhar era a única coisa real em um mundo que havia virado de cabeça para baixo.

— Keum. — a voz de Changbin era baixa carregada de uma falsa decepção mortal — Eu realmente deveria ter te matado da última vez. — ele fez um sinal quase imperceptível com a cabeça — Leve ele, Hyunwoo. — avisou o seu segurança.

Enquanto os guardas se movimentavam, recolhendo o alfa choramingando de dor, Seungmin, ainda tremendo no chão, forçou o corpo a responder. Se levantou, pernas bambas, a visão turva.

— J-Jinnie... — engasgou com o pânico retornando em um fluxo avassalador — Preciso chegar até o Jinnie! — tropeçou pensando que poderia haver mais algum alfa atrás deles.

Antes que pudesse dar mais um passo trôpego, Changbin estava lá. Ele não correu, mas se moveu com uma velocidade assustadora, fechando a distância e o puxando para dentro de seus braços. O abraço não era suave; era firme, possessivo, um porto seguro de carne e osso.

— Hyunjin esta seguro. — Changbin sussurrou contra seu cabelo, sua voz um bálsamo na alma ferida do ômega — Jeongin está com ele... Eu prometo. — seu tom foi assertivo.

A tensão que mantinha Seungmin de pé se dissolveu instantaneamente. Suas pernas fraquejaram, mas Changbin estava lá, o segurando com facilidade, o impedindo de cair.

— Bom garoto. — Changbin murmurou com sua mão grande se enterrando nos seus cabelos sujos e bagunçados, num gesto instintivo de conforto e proteção.

Foi quando eles viram Hyunwoo e outro segurança arrastando o alfa, Keum, para longe. O nariz do homem estava uma ruína sangrenta, e seus olhos estavam arregalados de um terror que quase superava em muito o que ele havia incutido em Seungmin.

— Senhor Seo, por favor, eu posso explicar! — o alfa implorou, sua voz saindo em um guincho patético.

Um rosnado baixo e feroz saiu da garganta de Seungmin antes que ele pudesse pensar. A lembrança das palavras venenosas cortou como uma lâmina. Ele se virou para Changbin, seus olhos brilhando com lágrimas de raiva e humilhação.

Mas não as deixou cair.

— Ele falou que ia me enviar bem fodido e morto para você. — falou cheio de ódio e impotência.

Odiou como sua voz tremeu.

Foi como acender um pavio. O rugido que saiu de seu peito foi um som primitivo e ensurdecedor, uma explosão de fúria pura que fez todos os presentes, até os mais endurecidos, estremecerem.

O ar pareceu vibrar com a ameaça não dita.

Changbin se virou para Keum, e seu rosto era a própria imagem da vingança.

— Eu vou fazer você viver seus piores pesadelos. — Changbin prometeu — O mantenha vivo, Hyunwoo... Ele morre quando eu quiser. — alertou.

— Eu tenho isso, chefe. — Hyunwoo assentiu e seu rosto era uma máscara sombria.

Sem outra palavra, Changbin guiou Seungmin para dentro da parte de trás do carro preto, blindado. O interior era silencioso e luxuoso, um mundo à parte do caos lá fora.

— Prometa para mim que o Jinnie está seguro. — Seungmin implorou segurando a jaqueta de Changbin, seus olhos ansiosos vasculhando o rosto do alfa em busca de qualquer sinal de mentira.

— Ele está seguro, filhote. — a voz de Changbin suavizou consideravelmente. Ele tocou o rosto machucado de Seungmin, o polegar passando gentilmente sob seu olho — Eu prometo. — ele olhou em seus olhos.

Foi o que bastou.

Seungmin deixou sair um soluço e, finalmente, se permitiu desabar. Ele afundou o rosto na curva do pescoço de Changbin, seu corpo tremendo incontrolavelmente. Ofegou com o cheiro único do alfa – canela com uma pitada de açúcar – Picante e doce, incrivelmente confortável.

Era o cheiro do lar, da segurança e da proteção absoluta.

– Alfa. – respirou trêmulo, uma admissão de sua vulnerabilidade e de sua confiança.

– Você está seguro, filhote. – Changbin sussurrou seus lábios perto de sua orelha – Eu vou garantir que ele sofra... Você está bem agora, meu pequeno ômega feroz. – suas mãos desenhavam círculos calmantes em suas costas.

Enquanto o carro começava a se mover, os levando para longe do pesadelo, Seungmin permaneceu envolto no abraço de Changbin. Seu ômega, assustado e traumatizado, ainda se debatia internamente, mas uma verdade inegável se estabelecia em seu coração: ele estava a salvo.

Nas fortalezas de Changbin, ele estava protegido.

E pela primeira vez desde que aquele alfa o tocou, ele pôde respirar fundo, intoxicado pelo cheiro de canela que prometia que ninguém nunca mais o machucaria.

 

 

 

 

 

 

A porta do apartamento se abriu e uma onda de tensão e alívio inundou a sala.

 Christopher, Minho e Jeongin estavam de pé, posturas rígidas e rodeados por seguranças de expressões sombrias. No centro do turbilhão emocional, Hyunjin chorava inconsolável nos braços de Felix, seu corpo todo tremendo.

Assim que Seungmin cruzou a porta, os olhos de Hyunjin encontraram os dele.

— Minnie! — a voz do mais velho foi um sibilo de alívio e dor.

Seungmin não pensou, apenas correu para seus braços. Eles se colidiram, um abraço desesperado e apertado, como se um estivesse tentando se certificar de que o outro ainda estava inteiro.

— Me desculpa, me desculpa, me desculpa. — Hyunjin choramingou seu rosto enterrado no pescoço de Seungmin — Eu devia ter ficado, eu devia ter ajudado… Eu sou o mais velho... Eu devia ter te protegido...

— Não! — Seungmin rosnou segurando o rosto do melhor amigo entre suas mãos, o forçando a olhar para ele — Eu precisava que você estivesse seguro... Você fez certo... Você fez exatamente o que eu precisava que você fizesse... Eu nunca deixaria ele te machucar... Nunca... Era a mim que ele queria. — seus olhos eram intensos e cheios de uma verdade feroz.

Olhou assertivo mesmo que os olhos de Hyunjin estivessem banhados em culpa.

Se inclinou colando seus lábios.

Foi um selinho, um beijo desesperado e salgado de lágrimas, não de paixão, mas de promessa e sobrevivência. 

Seungmin encostou a testa na dele fechando os olhos.

— Obrigado por me proteger. — Hyunjin choramingou e seus dedos tocaram suavemente sua nuca.

— Para sempre. — Seungmin prometeu sua voz um sussurro rouco — Para sempre, Jinnie. — era o mínimo que podia fazer pelo mais velho que o manteve seguro desde que se conheceram.

Felix e Jisung se juntaram ao abraço, os quatro ômegas se entrelaçando em um grupo unido, um reduto de segurança em um mundo que havia tentado mais uma vez despedaçá-los. 

Felix tremia, e Jisung pressionou um beijo suave em sua bochecha, tentando passar uma calma que não sentia.

Os Alfas observavam, suas expressões anteriormente furiosas agora suavizadas por uma onda de respeito e admiração.

Foi então que Seungmin se soltou gentilmente do abraço. Se virou para os alfas e, para surpresa de todos, fez uma curvatura respeitosa, profunda e sincera.

— Obrigado por virem em meu socorro. — sua voz era clara, embora um pouco trêmula. — E por protegerem minha família. — recebeu olhares surpresos como se sua gratidão fosse algo surpreendente.

Mesmo abalado reconhecia que se não fosse por aqueles homens, seu corpo seria encontrado dilacerado em um beco qualquer.

Changbin adentrou o espaço silencioso, sua expressão séria.

— Seungmin. — o alfa se inclinou o olhando atentamente — O que exatamente o Keum te falou? — seu cheiro ainda beirava ao descontrole.

Engoliu seco, um lampejo de medo cruzando seus olhos com as lembranças antes que a determinação o substituísse.

— Ele pensa que você me quer. — olhou assombrado — Ele falou que eu era o intocado do Halazia... Ele perguntou o que diria quando eu me enviasse bem fodido e morto para você... — ouviu o guincho horrorizado de Hyunjin e Felix enquanto Jisung tremeu assustado — Como se me tocar… Me desgraçar… Fosse te atingir de alguma forma. — sussurrou.

Um rosnado baixo ecoou na sala, vindo de mais de um alfa.

Minho balançou a cabeça irritado.

Jeongin parecia querer socar algo.

Até mesmo Christopher que parecia mais controlado tinha traços amarelos em seus olhos.

— Você não tem que agradecer. — Minho olhou chateado — Na verdade vocês não teriam passado por isso se não fosse por nós. — sua expressão se contorceu em fúria.

— Você esta errado. — Jisung falou suave deixando todos surpresos — Aconteceu dessa vez ser alguém queria prejudicar o senhor Seo, mas podia ser um ex cliente do Halazia. — olhou com convicção — Mas agora temos pessoas que nos protegerá e isso é um alívio. — admitiu.

— Sim. — Felix concordou — Se fosse um alfa qualquer nos atacando e não tivesse vocês, quem iria nos proteger? — olhou amedrontado.

— Há leis no nosso território. — Christopher grunhiu apenas com a menção.

— Não é suficiente. — Hyunjin rosnou em resposta — Você nunca vai entender como é ser um ômega! — sua voz irrompeu carregada de fúria — Você pode ter regras, Senhor Bang, mas sempre existem alfas dispostos a quebrá-las... Alfas que conseguem se safar. — lutou contra o tremor em sua voz — E você pode matá-los depois... Mas isso nunca vai apagar o trauma de ser tocado contra a sua própria vontade... De ser tomado por alguém que sente prazer na humilhação de subjugar um ômega… Só porque acham que pode. — olhou com desprezo.

Os Alfas ficaram em silêncio.

Sabiam que a acusação de Hyunjin era pesada, mas verdadeira.

— Hyunjin...

— Alfas nunca precisam olhar duas vezes por cima do ombro... — Hyunjin continuou seu desabafo saindo em um fluxo assombrado — Se você for sequestrado, sabe que será torturado... — apontou para os quatro líderes — E sabe quais as chances de usarem abuso sexual para te torturarem? 1%. — desdenhou — Se um ômega for sequestrado… Será 100% de chance. — tentou conter o sarcasmo — É uma certeza, é a primeira coisa que fazem... Para nos quebrar, nos humilhar e machucar... Sempre. — olhou enojado.

Um silêncio angustiante caiu sobre a sala.

A realidade crua das palavras de Hyunjin ecoou nas paredes, pintando um quadro sombrio que nenhuma lei ou poder poderia completamente apagar. Felix se encolheu parecendo menor, enquanto Seungmin tremeu levemente no abraço apertado de Jisung.

— Sinto muito. — Jeongin falou suave com uma expressão compreensiva, mas seus olhos ainda estavam duros.

Como se aquilo fosse algo comum da sua realidade.

E naquele momento, não era apenas um pedido de desculpas por não ter evitado o ocorrido. Era um reconhecimento. Um pequeno, triste, mas crucial passo para entender o abismo de experiências que separava suas realidades.

O silêncio que se seguiu ao pedido de desculpas de Jeongin era pesado e carregado. A verdade nua e crua que despejou sobre todos parecia ter mudado o próprio ar do ambiente.

— "Sinto muito" não te fará entender. — Seungmin falou baixo e seus olhos percorreram os alfas, parando brevemente em Mark e Baekho, que estavam próximos um do outro. — Vocês dois têm marca de acasalamento. — a declaração foi um fato, sem julgamento — Todos vocês riram quando ficou óbvio que o chefe de polícia estava tendo um caso com Kim Nayoung... Mas vocês sabem o quão triste isso é? — a mudança de assunto os fizeram olhar confusos.

Era como quase apenas estivessem acreditando que estavam em colapso pelo trauma.

Mas eles não entenderiam.

Olhou como se toda emoção tivesse sido drenada de seu corpo.

— Sangyeon tem uma marca de acasalamento e isso significa que cada vez que o chefe da polícia toca aquela ômega, sua companheira está sentindo tudo. — Felix falou com rancor ao ver que nenhum deles entendeu o ponto — Cada beijo, cada carícia... Ela sente através do vínculo, como um eco da traição. — as alfas apenas olharam friamente como se nunca tivessem considerado essa perspectiva, mas que de fato, não se importavam. — Mas vocês não pensaram nisso, porque vocês não entendem o quão cruel pode ser um ômega... A dor que vai além do físico. — o loiro olhou exausto — Alfas sempre acham que podem fazer tudo, destruir, tomar e possuir como se não fossemos nada. — percebeu que não adiantaria falar muitas coisas.

Eles ouviam, mas nada iria mudar.

— E ainda assim... — Jisung franziu o cenho quase ofendido — É ridículo perceber que vocês são os alfas com quem mais nos sentimos seguros. — as palavras os fizeram olhar em uma mistura de choque e assombro — Porque vocês não entendem, e mesmo assim nós aceitamos migalhas de respeito e cuidado. — desviou o olhar um pouco frustrado com a situação e consigo mesmo.

Nenhum dos alfas soube o que dizer. O cheiro no ar – era o medo e angustia de Seungmin misturados com a raiva e crueldade dos líderes – era um acusação mais forte do que qualquer palavra.

Era o cheiro de sua falha em compreender.

— Eu preciso de um banho. — Seungmin sussurrou quebrando o silêncio — Aquele maldito lambeu meu pescoço. — seu corpo tremeu involuntariamente.

Changbin cerrou os punhos com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. A imagem era visceral e repugnante para todos.

— Eu acho que vocês deveriam passar o dia e pelo menos essa noite em minha casa. — Christopher falou de repente os fazendo paralisar.

Os ômegas engasgaram coletivamente.

Os outros alfas olharam para ele parecendo surpresos.

— O quê? — Jisung arregalou os olhos incrédulo.

— Nós não podemos. — Felix protestou nervoso olhando para os outros — Nossas coisas... Uh... Vocês são nossos chefes... — falou fracamente.

— Vocês não precisam se preocupar com isso. — Jeongin cortou com sua voz firme — Nós cuidaremos de tudo. — ele prometeu.

— Vocês acham que ainda estamos em perigo? — Hyunjin perguntou olhando um pouco temeroso.

— Não sabemos. — Minho foi sincero mesmo que seu rosto fosse sério — obviamente, alguém forneceu um barco de que vocês são...  Valiosos para nós...  E isso pode ter repercussões. — ele admitiu.

— Eu prefiro ter certeza do que estou falando. — Christopher os encarou fixamente — Deixe-me garantir que tudo esteja seguro e eu prometo que poderá voltar para casa em segurança. — ele garantiu.

Os whens trocaram olhares.

Era assustadora.

Era avassalador.

Mas a oferta de segurança, de proteção tangível em um mundo que havia acabado de provar o quão perigoso era, foi uma tábua de salvação.

— Tudo bem. — Jisung foi o primeiro a falar, seu rosto sério e decidido.

— Hyunjin, nós escutamos vocês. — Jeongin falou com sua voz estranhamente suave, mas cheia de verdade. — Nós realmente ouvimos. — ele prometeu.

Hyunjin olhou surpreso, mas um lampejo de esperança, frágil como vidro, acendeu em seus olhos. Seu ômega ronronou em apreciação pelo alfa ter prestado atenção verdadeira em suas palavras.

— precisamos arrumar nossas coisas. — Felix murmurou olhando ao redor do apartamento um pouco perdido.

Os quatro ômegas suspiraram quase em uníssono. Era um som de rendição, de exaustão, mas também de uma acessibilidade profunda. Eles trocaram outro olhar, este carregado de um entendimento silencioso. 

Não havia como voltar atrás. 

A vida que eles conheciam havia passado.

Eles estavam embarcando em um caminho sem volta.