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Love is a strong word ( for describe obsession and hate)

Summary:

Em 1985, a intensa e conturbada amizade entre Paul e John no colégio vira um jogo perigoso de obsessão e ciúmes com a chegada de Yoko. O que começa como uma competição adolescente por atenção se transforma em uma espiral sombria de manipulação e consequências devastadoras, o que para Paul, não é nada, já que contanto que ele tenha Lennon para si, é capaz de fazer tudo. Até mesmo pecar mortalmente contra a lei de Deus

Notes:

É minha primeira fic, talvez eu traduza pro inglês ou só apague de vergonha daqui a 6 meses

(See the end of the work for more notes.)

Chapter Text

O verão de 1985 em Liverpool era pesado, úmido e cheirava a gasolina velha e grama cortada. Dentro da sala de artes da escola, o calor era ainda mais opressivo, misturado com o cheiro agridoce de tinta acrílica e terebintina. A última aula da sexta-feira era um purgatório particular para John Lennon. Ele rabiscava desenhos agressivos e explicitos na margem do caderno – figuras distorcidas, rostos gritando, peitos, gente pelada e Margaret Thatcher sendo guilhotinada – Tudo em nanquim preto. Sua mente estava a milhas dali, longe daquela prisão de concreto e dos discursos monótonos sobre o Renascimento e os mecenas.

"Lennon! Pare de viajar e me diga: qual a influência religiosa em Botticelli?"

John ergueu os olhos para o professor, um homem de meia-idade com um suéter amarrotado mesmo no calor. Ele encarou a parede atrás do professor, onde um pôster de "Madonna" estava pendurado, lembrando-o menos da igreja e mais da vontade imensa de gritar um palavrão em alto e bom tom.

"E eu sei lá...pergunta a um padre", ele respondeu, soltando uma risada seca. Alguns colegas riram baixo. George, sentado ao seu lado, abanou a cabeça com um sorriso cansado.

Paul McCartney, sentado na fileira da frente, virou-se levemente. Seus olhos castanhos, geralmente cheios de uma curiosidade animada, estavam sérios. "John", sussurrou, num tom que era ao mesmo vez uma advertência e um acalanto. Um só sussurro dele carregava uma biblioteca de significados que só Paul conseguia articular.

John ignorou o professor e fixou o olhar em Paul. O garoto estava impecável, como sempre. Sua camisa pólo estava perfeitamente alinhada, seus cachos caíam de forma organizada sobre a testa, mesmo no calor. Paul era a antítese da bagunça que fervia dentro de John. E essa era uma das coisas que mais o irritava e, secretamente, mais o fascinava. Paul era um quadro impressionista – bonito à distância, mas uma confusão deliberada e emocionante de perto. John se sentia mais um graffiti numa parede suja.

O sinal final ecoou pelo corredor, um alívio agudo. John empacotou suas coisas com movimentos bruscos, sem cuidado.

"Espera, John!", Paul chamou, correndo para alcançá-lo enquanto John se dirigia aos armários. George e Ringo se juntaram a eles, formando o quartetinho habitual.

"Plano para o fim de semana?" Ringo perguntou, sua voz calma era um bálsamo para a energia caótica de John. "Meu primo conseguiu uma fita VHS de ''A vida de Brian''. Dá pra assistir lá em casa."

"Tá afim de vir, Paul?" George virou-se para o amigo, mas notou que o olhar de Paul estava fixo em John, estudando cada microexpressão em seu rosto.

John fechou o armário com um golpe seco. "Não vou poder. Tenho que... resolver umas coisas."

A atmosfera mudou. George e Ringo trocaram um olhar. "Coisas" com John nunca era algo simples como ajudar a avó ou lavar o carro. "Coisas" geralmente significada crises existenciais, discussões familiares ou problemas com Cynthia.

Paul mordeu o lábio inferior. "É a Cyn, não é?"

John não respondeu. Ele apenas começou a andar pelo corredor vazio, suas botas fazendo eco. Os outros três o seguiram, uma comitiva silenciosa. A luz do fim de tarde entrava pelos altos janelões do corredor, iluminando partículas de poeira que dançavam no ar como cinzas. Para Paul, aquele sempre fora o cenário de sua amizade: corredores infinitos, a cidade cinza lá fora, e John à frente, um líder relutante que eles seguiam por lealdade e por uma estranha certeza de que a vida com ele era mais interessante.

Eles saíram da escola e se dirigiram ao parque próximo, seu refúgio habitual. Sentaram-se no balanço e no escorregador, enquanto John acendia um cigarro, fumando com uma intensidade que ia além do vício.

"Ela terminou comigo", a voz de John saiu plana, como se ele estivesse relatando o resultado de um jogo de futebol em que não tinha interesse.

Ringo assobiou baixo. George baixou a cabeça.

Paul sentiu algo complexo e feio se agitando no seu peito. Era uma pontada de preocupação genuína, sim. Ele gostava da Cynthia, ela era boa para o John. Mas sob essa camada, uma sensação quente e proibida de... esperança? Alívio? A culpa veio imediatamente a seguir, amarga.

"Merda, John. Por quê?" George perguntou.

"Disse que eu sou emocionalmente indisponível. Que vivo numa fortaleza", John deu uma risada amarga, soprando a fumaça para o céu. "Ela leu num livro de bolso de autoajuda e decidiu que se encaixa perfeitamente em mim. Quem diria que Cynthia Powell se tornaria uma especialista em psicologia de banca de jornal."

"Mas você tá bem?" a pergunta de Paul saiu mais suave do que ele pretendia, quase um sussurro.

John finalmente olhou diretamente para ele. Seus olhos, da cor do âmbar, pareciam incendiar-se com a luz do entardecer. Havia uma vulnerabilidade crua lá que raramente era exposta. Paul sentiu o coração acelerar, batendo contra as costelas como um pássaro preso.

"Estou ótimo, McCartney. Livre como um passarinho. A revolução começa com a derrubada da monarquia, não é?" Ele deu outro trago. "Cynthia era minha rainha de algodão doce. Doce, mas derrete com a primeira chuvinha."

A analogia era tipicamente johnlennonesca: dramática, histórica e um pouco nonsense. Paul sorriu, incapaz de evitar.

"Bem, então é hora da República", Paul disse, tentando manter o tom leve. "Sem rainhas, só o povo."

"O povo é burro, Paul. Prefiro o caos." John jogou a ponta do cigarro no chão e esmagou-a com a bota.

George e Ringo ficaram em silêncio, percebendo que a conversa havia se tornado um dueto. Era sempre assim. John e Paul falavam em códigos, em metáforas, criavam um mundo particular no meio do parque. Os outros dois eram espectadores.

"Vamos dar uma volta", John propôs, se levantando. "Preciso me mexer."

George e Ringo decidiram ficar, inventando uma desculpa sobre encontrar outros amigos. Eles sabiam quando não eram necessários. Paul, quase por reflexo, se levantou e se juntou a John.

Caminharam em silêncio por um tempo, seguindo o caminho de terra que cortava o parque. O sol começava a se por, pintando o céu de laranja e roxo. A tensão entre eles era palpável, um fio elétrico esticado ao máximo.

"Ela tá certa, sabe", John disse, de repente, quebrando o silêncio. "A Cynthia. Essa coisa da fortaleza. Às vezes sinto que tô trancado dentro de mim mesmo. E todo mundo fica batendo na porta, tentando entrar, mas a chave se perdeu."

Paul parou de andar. "Não é assim, John."

"Como você sabe?" John parou também, virando-se para encarar Paul. O vento suave bagunçou seus cabelos.

"Porque eu vejo você", a resposta saiu de Paul antes que ele pudesse pensar. Foi tão honesto, tão cru, que fez o rosto de John suavizar por um segundo. "Não é uma fortaleza. É mais... um labirinto. Completamente confuso e cheio de becos sem saída. Mas não é trancado."

John olhou para ele, e pela primeira vez naquele dia, uma emoção real – além da raiva e do sarcasmo – cruzou seu rosto. Era algo parecido com admiração, com curiosidade.

"Um labirinto, hein? E você, o que você é, então? O fiel escudeiro que fica do lado de fora com uma lanterna?"

"Algo assim", Paul encolheu os ombros, o coração batendo loucamente. "Ou o cara que já se perdeu dentro do labirinto tantas vezes que já conhece o caminho."

Eles estavam muito perto agora. O cheiro de cigarro e da colônia barata de John enchia os sentidos de Paul. O mundo ao seu redor pareceu desfocar. O parque, o pôr do sol, os sons distantes da cidade – tudo desapareceu, restando apenas o espaço de alguns centímetros entre seus rostos.

John não disse nada. Ele apenas continuou olhando para Paul, seus olhos percorrendo cada detalhe do rosto do amigo, como se estivesse vendo algo novo. Algo interessante. Então, algo dentro dele pareceu ceder. A arrogância, a defesa, tudo desmoronou por um instante fugaz.

Ele se inclinou para frente.

Não foi um beijo de paixão, nem de amor. Foi algo mais estranho, mais experimental. Um toque rápido de lábios, seco e levemente trêmulo. Durou menos de um segundo. O calor do lábio de John contra o seu foi como um choque elétrico que percorreu todo o corpo de Paul, paralisando-o.

John se afastou tão rápido quanto se aproximou, seus olhos agora bem abertos, como se ele próprio não acreditasse no que tinha feito. Ele olhou para Paul, depois para o chão, e então deu meia-volta, retomando a caminhada num passo mais acelerado.

"Vem logo, Macca. Tá ficando escuro e eu não quero levar esporro da tia mimi em casa."

Paul ficou paralisado por um momento, os dedos tocando os próprios lábios, onde o fantasma do beijo ainda ardia. Sua mente, sempre tão rápida, estava em branco. Um turbilhão de emoções o atingiu: euforia, confusão, medo e uma centelha de triunfo.

Ele correu para alcançar John, seu passo agora leve, quase flutuante. O mundo não era mais cinza. Era dourado. A Revolução Francesa podia ter sido sangrenta e caótica, mas naquele momento, para Paul McCartney, parecia que a Bastilha de John Lennon finalmente tinha uma brecha. E ele estava disposto a entrar, não como um revolucionário violento, mas como um homem disposto a se perder para sempre naquele labirinto, se fosse preciso.

Ele não sabia, mas aquele beijo rápido e confuso não era o início de um romance. Era o bater de asas de uma borboleta, que daria inicio a consequências devastadoras.